a educação nos artigos de jornal durante o estado novo...

482
Áurea Adão (dir.) A Educação nos artigos de jornal durante o Estado Novo (1945-1969) Um repertório cronológico, temático e onomástico

Upload: vuongtuyen

Post on 10-Dec-2018

219 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

urea Ado(dir.)

A Educao nos artigos de jornal durante o Estado Novo (1945-1969)Um repertrio cronolgico, temtico e onomstico

Ficha Tcnica

Autoria / Coordenao .................. urea Ado

Edio ............................................. Instituto de Educao

da Universidade de Lisboa

1. edio ....................................... Maio de 2012

Coleo ................................................. Estudos e Ensaios

Composio e arranjo grfico ................... Maria Marques

Disponvel em ................................ www.ie.ul.pt

Copyright ........................................ Instituto de Educao

da Universidade de Lisboa

ISBN ................................................ 978-989-96999-3-9

Esta edio financiada por Fundos Nacionais atravs da FCT - Fundao para a Cincia e a Tecnologia no mbito do Projeto Estratgico Unidade de Investigao e Desenvolvimento em Educao e Formao PEst-OE/CED/4107/2011.

Apresentao

por Justino de Magalhes ................. 5

Introduo

por urea Ado .................. 11

ndice cronolgico ........... 41

ndice temtico ............. 412

ndice onomstico ........ 456

Apresentao, por Justino de Magalhes

A Educao nos artigos de jornaldurante o Estado Novo (1945-1969) 5

Convida-me urea Ado a que registe, a ttulo de apresentao, uns breves co-

mentrios sobre A Educao nos artigos de jornal durante o Estado Novo (1945-

-1969). Um repertrio cronolgico, temtico e onomstico, obra resultante de um

demorado projeto investigativo, levado a cabo por uma equipe alargada, que coorde-

nou e cuja publicao assume agora com inteira responsabilidade. Esta publicao

integra uma coleo cientfica em formato ebook, criada pelo Instituto de Educao

da Universidade de Lisboa, de cuja Unidade de Investigao aquela investigadora

membro como Colaboradora permanente.

O Repertrio em publicao retoma a linha editorial desenvolvida, entre ns, por

Antnio Nvoa, coordenando e dando estampa Repertrios e Catlogos fundamen-

tais para o conhecimento histrico e para a investigao sobre a realidade portugue-

sa, de que se destacam a Imprensa Pedaggica, os Educadores Portugueses, os

Liceus de Portugal. O Repertrio da Imprensa peridica que agora se publica, ain-

da que sem uma perspetiva de exausto e recaindo sobre um perodo relativamen-

te curto, muito significativo e representativo da Educao no Estado Novo, entre

1945 e 1969. Incide sobre 9 peridicos, seletivamente escolhidos e publicados com

regularidade durante o perodo em observao, com exceo de A Capital apenas

publicado em 1968 e 1969 e da interrupo de publicao de O Jornal do Fundo,

durante 6 meses, no ano de 1965.

Da anlise sumria do livro, designadamente a partir da introduo e dos qua-

dros elaborados pela autora, permito-me relevar algumas ideias fundamentais para

a utilizao deste Repertrio. Decorrendo a observao sobre um perodo de vign-

cia do Estado Novo, caracterizado por uma forte componente de regimentalizao

da educao e particularmente da escola, a imprensa peridica, particularmente

no que respeita educao, revela-se um espelho da realidade, nas suas diversas

facetas e muito especificamente da relao entre o Estado e a Sociedade. Neste

quadro, um primeiro comentrio reporta representao da educao por parte

da imprensa peridica. Para conhecer esta dimenso, os textos registados foram

distribudos por 11 categorias (Quadro n. 1), vindo a ressaltar trs modalidades

de registo: artigos de opinio, notcia, reportagem. Em quarto lugar vem a catego-

ria estudos. Assim pois, a imprensa peridica constri trs temporalidades para a

Apresentao, por Justino de Magalhes

urea Ado6

educao: a projetiva, desejada, imaginria, mais ou menos possvel, assinalada

pelos artigos de opinio; o tempo do acontecimento, a atualidade, assinalado pela

notcia; o tempo passado, relatado de forma crtica e iluminativa, correspondendo

reportagem. A orientao prospetiva, visando uma perspetiva crtica e influencia-

dora da mudana, acentua-se com a relevncia atribuda aos estudos, categoria

que vem em quarto lugar.

Um segundo comentrio que ressalta como corolrio daquele, reporta ao estatuto

da educao. Se a principal frequncia de textos se refere a artigos de opinio assi-

nados, ainda que alguns sob pseudnimo para iludir a Censura, tal sintoma de uma

grande instabilidade e porventura descontentamento sobre a realidade educativa. O

iderio, ou iderios para a mudana, saem corroborados pelo facto de se constatar

uma desvalorizao da reportagem e pelo cultivo da expectativa, em torno da notcia.

Com efeito, trs dos peridicos privilegiaram a notcia, mas destes o caso mais no-

trio Repblica, que, sendo assumidamente contrrio situao, tomou a notcia

como fator de legitimao e pretexto para o comentrio crtico. A notcia foi tambm

privilegiada pelo Dirio de Notcias com alcance nacional e por O Comrcio do Porto

que pela sua geografia reporta a uma regio demarcada, o Porto e o seu hinterland.

Significativamente, no Novidades, peridico com maior nmero de textos so-

bre educao, assumidamente conservador e porta-voz oficioso do regime e do es-

tablishment, que a ordem daquelas temporalidades corresponde hierarquia dos

parciais resultantes das respetivas grandezas acumuladas em cada dos itens obser-

vados, a saber: artigos de opinio, notcias, reportagens, estudos. Diferentemente o

Dirio de Lisboa valorizou antes de tudo os estudos, vindo os artigos de opinio em

terceiro lugar aps as notcias. Assumindo uma funo alternativa e de contestao

poltica do regime, o peridico Repblica, que fez da educao uma rubrica temtica,

apoiou-se na notcia e logo aps no estudo, para legitimar a sua aco.

O Sculo foi o peridico com mais editoriais sobre a educao, enquanto o Dirio

de Notcias primou pelo descomprometimento, centrando-se no noticioso, no artigo de

opinio e na reportagem. Apesar de o Novidades ter mantido uma certa regularidade,

a importncia da educao foi crescente, tendo o Dirio de Lisboa mais que duplicado

os textos na dcada de sessenta e tendo A Capital feito da educao um tema central

nos dois anos observados (1968 e 1969). Alis, quer o Sculo, quer o Dirio de Lisboa

fizeram multiplicar as publicaes nos dois anos crticos: o de 1962 (greve da acade-

mia) e o de 1968 (Maio de 68 e repercusso na academia portuguesa).

A Educao nos artigos de jornaldurante o Estado Novo (1945-1969) 7

Com base nestes dois comentrios, ficam asseguradas a representatividade e a

validade deste Repertrio para o conhecimento e a investigao sobre a educao,

no ps-Guerra, cobrindo perodos de grande impacto como desde logo o ps-Guerra,

a implementao de Planos de Fomento e Desenvolvimento para o Mediterrneo,

a universalizao da obrigatoriedade da escola primria, a criao do ciclo prepa-

ratrio, a expanso da educao secundria liceal, tcnica e profissional. Tambm

as questes universitrias mereceram um tratamento e uma ateno especficas,

por parte da imprensa peridica. Previne a autora que desperdiou mais de 5 000

registos, por incidirem sobre regularidades, rotinas e continuidades do quotidiano o

que pode, apesar de tudo, constituir um alerta para os investigadores. No obstante

aquilo que foi coletado, num total de 15 345 registos, dando cobertura a 36 temas

diferentes, extremamente vlido pelo que este Repertrio vem justificar as procla-

maes, frequentemente retomadas, por entre outros historiadores, Marc Ferro, Eric

Hobsbawm e, entre ns, Jos Manuel Tengarrinha, de que no ser possvel fazer a

histria contempornea, nomeadamente a do sculo XX, sem recurso imprensa pe-

ridica. Acresce que a autora preparou de forma criteriosa trs ndices (cronolgico,

temtico, autores), cuja utilizao facilita a tarefa do investigador, permitindo uma

rpida consulta discriminada e um cruzamento de informao.

muito honroso para mim ficar associado a esta publicao e poder manifestar

publicamente o apreo pelo trabalho coordenado e publicado por urea Ado, que

constitui um contributo fundamental para o esclarecimento histrico de um perodo

do passado recente, to marcante para a histria portuguesa e europeia. Espero que

a divulgao e a utilizao deste precioso instrumento de trabalho faam jus ao valor

cientfico do mesmo.

Lisboa, Dezembro de 2011

Justino Magalhes

Apresentao

por Justino de Magalhes ......................... 7

Introduo

por urea Ado ............... 13

ndice cronolgico ........... 43

ndice temtico ............. 414

ndice onomstico ........ 458

Introduo, por urea Ado

A Educao nos artigos de jornaldurante o Estado Novo (1945-1969) 11

A imprensa peridica constitui uma fonte necessria para o estudo da histria

contempornea nos seus diversos domnios; nela se exprime, directa ou indirecta-

mente, a opinio pblica no sentido de opinio publicada. E foi igualmente, at

difuso alargada de outros meios de comunicao de massas (televiso, internet),

o principal instrumento de formao dessa mesma opinio pblica. No entanto, na

atualidade continua a ocupar uma funo de grande destaque, pois, para alm do

alcance direto que mantm, muitos dos seus contedos so divulgados atravs de

outros media.

Os historiadores P. Albert e F. Terrou, autores da obra Histoire de la presse, consi-

deram os jornais como os arquivos do quotidiano1, () a fonte mais completa, e na

sua diversidade, a mais objectiva da histria geral (1985, p. 4). Ou antes, dissemos

ns, um campo especfico da histria que contribui para uma melhor utilizao dos

jornais enquanto testemunhas desse quotidiano.

Durante o Estado Novo, a imprensa, nacional e regional, revestia uma importn-

cia significativa na (in)formao dos diferentes tipos de leitores, no s nos centros

urbanos como tambm nas outras regies da chamada provncia. Esse poder j era

reconhecido por Marcello Caetano, em 1947, numa festa de confraternizao dos

trabalhadores do Dirio da Manh: A misso da imprensa orientar a opinio p-

blica e no deixar-se conduzir por ela2. Alguns anos mais tarde, na Assembleia Na-

cional, lembrando a alta misso social atribuda aos peridicos, o deputado Joo

Amaral afirmava:

O grande jornal, o jornal de grande extenso, hoje inegavelmente o instrumen-

to de comando espiritual que mais deve interessar aos dirigentes de uma socie-

dade poltica; h que estar atento ao modo como utilizado, aos objectivos que

visa, ao critrio que hierarquiza esses objectivos, s iniciativas e s carncias

que se revelam na valorizao de arma to poderosa3.

1. Itlico dos autores.2. Dirio da Manh, 8 de Abril de 1947.3. Sesso de 27 de Fevereiro de 1953. Dirio das Sesses, Lisboa, 209, 28 de Fevereiro, 734.

Introduo, por urea Ado

urea Ado12

Em 1959, o jornalista de O Comrcio do Porto, Jaime Ferreira, afirmava que a sua

profisso tinha como finalidade escrever, dia a dia, pginas que sirvam de alicerce

aos futuros historiadores (p. 13). E, no final da dcada de 1960, quando se alas-

trava a contestao estudantil e dos jovens professores, o ministro da Educao Na-

cional, Jos Hermano Saraiva, considerava a imprensa como um dos instrumentos

basilares de formao da juventude4.

Os jornais tinham a funo de difusores de programas de ao governamentais,

decises oficiais provocadas por acontecimentos especficos, textos propagandsti-

cos, e, ainda que de modo muito limitado, veiculavam ideias e representaes relati-

vas Educao por meio de comentrios, exposies e estudos. No entanto, devido

censura, havia determinados problemas que no podiam ser debatidos. Deles, ou

se conservam apenas declaraes oficiais que transmitem uma nica verso, ou

ficaram artigos de opinio no assinados. Num e noutro casos, uma leitura com-

parativa mais atenta revela que se trata somente de textos provenientes dos meios

governamentais.

No nosso entender, recolher e trabalhar de forma sistemtica os artigos de dife-

rentes jornais contribuir para melhor compreender fases de evoluo da Educao

ou aspectos particulares dessa evoluo, como poder sugerir pistas para novos

trabalhos e novas reflexes. Foi esse o princpio orientador que esteve na base do

Repertrio cronolgico, temtico e onomstico que aqui apresentamos. Mais espe-

cificamente, no que se refere histria da Educao do regime do Estado Novo, este

material constitui um corpus documental de grande importncia: ora contm uma

linha de continuidade sobre alguns assuntos; ora insere diferentes sensibilidades de

opinio, sobre alguns outros; ora, por fim, reporta-se ao nico documento informativo

encontrado sobre determinado acontecimento.

Devido ausncia de um jornalismo especializado, os autores dos artigos sobre

Educao eram sobretudo docentes dos ensinos primrio e secundrio, professores

universitrios, escritores e outros intelectuais conhecidos publicamente por apoian-

tes ou por oposicionistas ao Regime. Encontrmos os que se responsabilizavam pu-

blicamente, assinando os seus artigos, outros que o faziam, utilizando pseudnimos,

mas eram muitos os trabalhos no assinados. Alguns articulistas aparecem como

colaboradores em mais de um jornal.

4. Dirio da Manh, 30 de Agosto de 1969.

A Educao nos artigos de jornaldurante o Estado Novo (1945-1969) 13

Havia, contudo, professores e cientistas que, no se sujeitando ao arbtrio dos

censores, em geral, vistos como pessoas sem conhecimentos suficientes e fiis cum-

pridores das orientaes governamentais, no se dispunham a informar a opinio

pblica acerca de assuntos em que eram reconhecidamente especialistas. Assim o

esclareceu Francisco Pereira de Moura, em 1967, durante um debate sobre o esta-

tuto da Imprensa:

Ora, eu sei de pessoas que no escrevem para a Imprensa, no trazem a sua

contribuio para ajudar a formar a opinio pblica, pura e simplesmente por-

que conhecem tristes experincias de mutilao de artigos e trabalhos srios e

bem intencionados (Moura et al., 1967, p. 44).

Afirmao esta que, na mesma ocasio, teve a confirmao do ento director-

-adjunto do Dirio de Lisboa, Mrio Neves:

Ora, eu posso acrescentar alguma coisa, em resultado do meu conhecimento

directo dos problemas. Na verdade, muito difcil conseguir a colaborao de

bons especialistas nos jornais portugueses. A dificuldade provm, em primeiro

lugar, do facto de a maioria das pessoas que o poderiam fazer no estarem

dispostas a sujeitar-se a qualquer restrio, como bem compreensvel. Tm as

suas ideias, estariam dispostas a apresent-las, mas em perfeita correspondn-

cia com o seu pensamento (Moura et al., 1967, p. 47).

No obstante todos os condicionalismos oficialmente impostos, os jornais conse-

guiram transmitir ideias, atitudes, contextos e aces que se iam registando relativa-

mente s polticas e sistemas educativos nacionais e estrangeiros.

urea Ado14

1. O Repertrio

A ideia que presidiu elaborao do repertrio A Educao na imprensa peridi-

ca portuguesa (1945-1969)5 consistiu em colocar disposio dos investigadores

instrumentos de trabalho que venham preencher, na nossa perspetiva, uma lacuna

para quem queira estudar as questes de Educao durante um perodo significativo

do Estado Novo o que decorreu entre o final da Segunda Guerra Mundial e o incio

do marcelismo6.

Sob a direco do CODES (Gabinete de Estudos e Projectos de Desenvolvimento

Econmico) e com o apoio da Fundao Calouste Gulbenkian, em 1967, foi realizado

um estudo sobre a populao estudantil e a imprensa, concluindo-se ento que os

jornais mais lidos pelos universitrios eram o Dirio de Notcias (41,2 %), o Dirio Po-

pular (36 %), o Dirio de Lisboa (34,4 %) e o Primeiro de Janeiro (27,4 %), mas, para

os estudantes a partir do segundo ano da licenciatura, o Dirio de Lisboa tornava-se

o segundo dirio de maior expanso. Os menos lidos eram A Voz (2,5 %) e o Dirio da

Manh (1,2 %)7. Face a estes resultados e ausncia de outras informaes que pu-

dessem servir de base segura para a definio da amostra a trabalhar, a elaborao

do nosso Repertrio obedeceu a critrios lgicos e pragmticos de funcionalidade, que

obrigaram a uma seleo de jornais mediante o nmero ainda significativo de ttulos

existentes. Alm de pretendermos diversific-los segundo as tendncias redatoriais e

as diferentes sensibilidades poltico-ideolgicas que, malgrado a aco da Censura,

nunca deixaram de se afirmar ainda que, muitas vezes, de um modo dissimulado, tive-

mos igualmente em ateno o respetivo pblico leitor e a cobertura nacional e regional.

Seguindo estes pressupostos, foram trabalhados os dois principais dirios com

sede em Lisboa e com maior expanso pela provncia, Dirio de Notcias e O Sculo.

5. O trabalho de recolha do material foi realizado no mbito das atividades de investigao do Observatrio de Polticas de Educao e de Contextos Educativos da Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias, sendo o respetivo projeto subsidiado pela Fundao para a Cincia e a Tecnologia e pela Fundao Calouste Gulbenkian. No entanto, o trabalho de preparao final desta obra e de elaborao da sua introduo realizou-se em 2011, inserido no programa de atividades do Grupo de Investigao e Ensino de Histria da Educao do Instituto de Educao da Universidade de Lisboa. A 1. fase do Projeto teve a durao de 30 meses e iniciou-se em Maro de 2001. Sob a coordenao de urea Ado e contando com a colaborao de Srgio Campos Matos relativamente direo de seminrios sobre a histria do Estado Novo e definio de alguns temas, a equipa foi constituda por: Daniel Rosa, Jos Carlos Cruz, Maria Jos Remdios e Ral Mendes. Contou com a colaborao de: Ana Bela Morais, Cristvo Santos, Helena Neves, Isabel Monteiro, Karla Pinho, Ricardo Caetano e Sandra Barata. A compilao da obra do professor M. Calvet de Magalhes constitua a 2. parte do Projeto, sob a responsabilidade de Maria Manuel Calvet Ricardo.6. Serviu j de instrumento de trabalho nos seguintes estudos: Ricardo, 2002; Ado & Matos, 2003; Remdios, 2003; Ado, 2005; Ado & Remdios, 2008; Ado & Remdios, 2009.7. Jornalismo. Boletim do Sindicato Nacional dos Jornalistas, (3), Agosto 1967, 19-20.

A Educao nos artigos de jornaldurante o Estado Novo (1945-1969) 15

Dos vespertinos, com distribuio muito mais reduzida devido ao seu carcter urba-

no, selecionmos o Dirio de Lisboa, o Repblica e, a partir do seu reaparecimento

em 1968, A Capital. Como jornais marcadamente pr-governamentais, trabalhmos

o Dirio da Manh e o Novidades. Pensando numa maior abrangncia informativa

regional, alargmos a pesquisa a O Comrcio do Porto e Jornal do Fundo.

No seu conjunto, estes peridicos condensam toda uma informao dispersa e

esquecida, em milhares e milhares de pginas publicadas. Informao que no se

encontra, em muitos casos, em outras fontes habitualmente usadas pelo historiador

(documentao de arquivo, anurios e outras publicaes oficiais, Dirio da Assem-

bleia Nacional e da Cmara Corporativa, estudos publicados, e outros). Alm disso,

muitas vezes, no fcil localizar uma notcia especfica nesse imenso caudal infor-

mativo (e desinformativo) da imprensa do Estado Novo.

Quanto periodizao escolhida, particularmente no que se refere Educao,

o perodo de 1945 a 1969 insere-se nas terceiras e quartas fases definidas por N-

voa (1996) relativamente organizao das polticas educativas portuguesas (1947-

1960; 1960-1974). Registam-se ento alteraes e acontecimentos internacionais

de grande alcance e, a nvel nacional, so promulgadas reformas profundas que

procuram corresponder a ruturas significativas (ensino liceal, ensino tcnico), as-

siste-se a amplas crises estudantis (1962, 1969), vivem-se situaes pretensamente

de mudana (interveno da OCDE, planeamento educativo, maior investimento na

Educao, alargamento da escolaridade obrigatria, introduo da Telescola em lo-

calidades rurais).

Em 1945, Portugal possua ainda uma fraca escolarizao, um baixo investimento

na Educao e, consequentemente, uma alta taxa de analfabetismo cerca de 45%

da populao maior de 7 anos. Com o final da Guerra, d-se incio ao debate sobre a

necessidade de reformas estruturais no sistema educativo portugus8, o qual se es-

tende imprensa, com a publicao de artigos e notcias sobre os efeitos ideolgicos

nas polticas educativas do ps-guerra9. Finalmente, a 18 de novembro realizam-se

eleies para a Assembleia Nacional tendo alguns jornais aproveitado o perodo para

8. Por exemplo: Oliveira, A. Correia de A., A reforma dos liceus Questes preliminares, Novidades, 7 de janeiro; Urge que se faa o arejamento da nossa Academia e que se reforme o nosso ensino dizem-nos os estudantes democratas que esto reivindicando liberdade e justia, Repblica, 23 de outubro; O ensino tcnico e o seu desenvolvimento, Dirio de Notcias, 5 de novembro.9. Por exemplo: A Universidade Catlica de Lovaina no teve que fazer depuraes no seu elenco professoral, Novidades, 23 de outubro; Barros, Joo de, Educao ps-guerra, Dirio de Lisboa, 5 de maro; Kayser, Jacques, Depois de cinco anos de resistncia. O problema do ensino em Frana, Repblica, 23 de agosto; Silva, J. Serras e, Pedagogia germnica, O Comrcio do Porto, 11 de outubro.

urea Ado16

expor mais desenvolvidamente a necessidade de uma reforma de todo o sistema

educativo ao mesmo tempo que destacadas personalidades oposicionistas ao Re-

gime procuram neles fazer ouvir as suas opinies. No primeiro caso, destaca-se o

Repblica que publica um conjunto de entrevistas10 e, no segundo, o Dirio de Lisboa

que, auscultando a opinio de Antnio Srgio11, provoca a reao do Dirio da Ma-

nh, porta-voz da Unio Nacional12.

Por outro lado, a mudana de governantes em 1968 no trouxe de imediato,

no mbito da poltica educativa Estado novista, alteraes significativas. no ano

seguinte que se registam acontecimentos que pretendem pr em causa o sistema

educativo vigente os estudantes portugueses vivem uma grave crise acadmi-

ca, desencadeia-se um movimento reivindicativo dos professores provisrios, so

publicados estudos crticos importantes sobre o ensino superior. o ano em que

o ciclo preparatrio do ensino secundrio se expande com consequncias no seu

funcionamento, nos espaos a ele reservados, no estatuto dos seus professores.

O Gabinete de Estudos e Aco Educativa desenvolve uma considervel activida-

de respeitante ao planeamento regional da Educao. Em maio, realiza-se o 3.

Congresso da Oposio Democrtica e a 26 de outubro tm lugar eleies para a

Assembleia Nacional, acontecimentos que vo originar, na medida em que a Cen-

sura o permite, um conjunto de artigos de opinio, entrevistas e mesas redondas

tratando especialmente da democratizao do ensino e que provocam outros textos

de defesa do regime13.

10. Por exemplo: A democracia o melhor sistema de governo at hoje inventado pelos homens afirma o Dr. Nicodemos Pereira, numa notvel entrevista que nos concedeu, 6 de novembro; A juventude ama o que belo. E a democracia bela afirma o Dr. Manuel Campos Lima, 7 de novembro; O Prof. Bento de Jesus Caraa em resposta s entrevistas do sr. Presidente do Conselho (), 16 de novembro; A instruo do povo. preciso modernizar o ensino normal, restaurar o ensino infantil e reformar o ensino primrio. Afirma Repblica o ilustre professor Cardoso Jnior, 29 de novembro.11. O momento poltico. Os democratas portugueses tm ideias precisas sobre os problemas administrativos da nao afirmou-nos hoje Antnio Srgio, 12 de outubro.12. Gulfeiras, Joo de, O sr. Antnio Srgio ainda no comeou a reformar as suas ideias apesar de entender que h muito que reformar no nosso Pas, 19 de outubro; idem, Novas falas do sr. Antnio Srgio, 3 de novembro. 13. Relativamente ao Congresso, por exemplo: Fernandes, Rogrio, II Congresso Republicano A batalha socialista pela democratizao do ensino tem de inserir-se na estratgia global emergente da conjuntura histrica que o Pas atravessa, Repblica, 17 de maio; A expanso do ensino e a valorizao do professorado so objectivos fundamentais da poltica do Governo disse aos professores primrios o Presidente do Conselho, Novidades, 10 de junho. No perodo eleitoral, por exemplo: Deixou de existir em Portugal o analfabetismo na idade escolar afirmou em Vila Nova de Famalico o Ministro da Educao Nacional, Dirio da Manh, 21 de setembro; Simes, J. Santos, Opinies livres. Questes prioritrias num plano de reforma de ensino em Portugal A Capital, 30 de setembro; Bases de uma poltica democrtica de educao e cultura propostas pela C.E.U.D., Dirio de Lisboa, 19 de outubro; O ensino em Portugal debatido num Colquio da C.D.E. de Lisboa, Repblica, 19 de outubro.

A Educao nos artigos de jornaldurante o Estado Novo (1945-1969) 17

2. A ao da Censura14

O perodo de 1945 a 1969 corresponde a um tempo em que se publica um n-

mero considervel de peridicos de Educao e Ensino. Mas, se considerarmos a

imprensa peridica no seu todo, logo notamos uma quebra significativa, relativamen-

te ao decnio de 1930, de novos ttulos que iniciaram a sua publicao (, 1990,

p. 442). O nmero dos que foram ento fundados , em mdia anual, mais baixo do

que aquele que vai do incio da I Repblica aos anos da Ditadura Militar. Regista-se

uma diminuio do aparecimento de novos peridicos mas, em contrapartida, uma

maior estabilidade editorial (Nvoa, 1993, pp. XXXIX-XL).

Estas tendncias no so alheias aos condicionalismos polticos do regime autori-

trio e conservador de Salazar partido nico, polcia poltica, ausncia de liberdade

de expresso, censura prvia, endoutrinao sistemtica da juventude , aproximan-

do-se, em diversos aspectos, dos programas totalitrios da Itlia de Mussolini e do

III Reich de Hitler.

A Censura foi introduzida pouco depois do pronunciamento de 28 de Maio de

1926 que instaurou a Ditadura Militar, pondo termo curta experincia da I Repbli-

ca. Desde essa data (24 de Junho), os peridicos eram obrigados a mencionar Este

nmero foi visado pela Comisso de Censura. E, ao invs do que sucedera durante

alguns anos da vigncia da I Repblica, em que os cortes introduzidos davam lugar

a colunas em branco (o que permitia ao leitor ter uma noo da atividade censora),

na Ditadura Militar e, depois, no longo perodo do Estado Novo tal no se verificava.

A Constituio da Repblica portuguesa de 1933 no mencionava explicitamente

o termo Censura, mas referia a inteno de impedir preventiva ou repressivamente a

perverso da opinio pblica na sua funo de fora social (art. 8.). Mltiplos diplo-

mas regulamentaram a ao desta instituio que to profundas consequncias teve

na cultura portuguesa da poca. Um dos mais relevantes foi o de 11 de abril desse

mesmo ano de 1933, que estabelecia que as comisses de censura ficavam sob a

tutela do Ministro do Interior por meio da Comisso de Censura de Lisboa (art. 6.). Se-

gundo esse Decreto-Lei, a Censura tinha o propsito de impedir a perverso da opinio

pblica na sua funo de fora social, defendendo-a de todos os factores que a de-

sorientem contra a verdade, a justia, a moral, a boa administrao e o bem comum15.

14. Captulo da autoria de Srgio Campos Matos.15. Decreto-Lei n. 22 469, 11 de abril de 1933.

urea Ado18

As suas consequncias depressa se fizeram sentir. A mais evidente traduziu-se

na proibio de numerosas revistas culturais, como Cultura (1929-31), O Globo (no-

vembro 1933), O Diabo (1933-40), Sol Nascente (1937-40), entre muitas outras,

algumas delas mortas nascena (Azevedo, 1999, pp. 94-99). Com base num re-

latrio oficial da responsabilidade do Secretariado de Propaganda Nacional (SPN),

verifica-se que o nmero de peridicos de provncia conotados com a Oposio teria

baixado, entre 1933 e 1934, de 81 para 56 (menos 25 %), enquanto os situacionis-

tas teriam crescido de 101 para 148, ou seja, mais 47 % (idem, pp. 169-170). Em

1945, outra fonte oficial j s referia a existncia, em todo o pas, de nove peridicos

hostis ou eventualmente hostis ao Estado Novo (Barreto, 1999, p. 277), ou seja,

apenas 3,4 % do total de publicaes (262). No entanto, no ano crtico de 1961, em

entrevista ao jornal brasileiro O Globo, Salazar afirmava: Mas, em rigor no temos

censura aqui. Os jornais circulam tal como so redigidos ou impressos, sem altera-

o de uma linha. Existe uma Comisso de Censura, que, todavia, praticamente no

tem que fazer (citado in Azevedo, 1999, p. 341). Poder-se-ia pensar que o Presiden-

te do Conselho ironizava perante uma pergunta incmoda do jornalista brasileiro

Alves Pinheiro.

Na verdade, Salazar estava bem consciente do efeito devastador da censura:

O Governo conseguiu disciplinar a Imprensa, torn-la um elemento construtivo e

no uma fora deletria, demolidora. Hoje os nossos jornalistas no precisam de

censura, porque actuam apenas nos termos da lei, mas segundo uma tica de

comedimento, de equilbrio, como convm ao interesse nacional (idem, ibidem).

Sublinhe-se, alis, que um diploma datado de 1944 colocava a controversa insti-

tuio da Censura na dependncia direta do chefe do Governo (e, j no, do Minist-

rio do Interior, como at essa data): Salazar nomeava o secretrio do SNI16 e com ele

despachava17. Como se esta medida no fosse suficiente, em outubro de 1962 (ano

da crise acadmica e j da guerra em Angola, recorde-se), o Presidente do Conselho

insistiria que a) Os Servios de Censura dependem exclusivamente da Presidncia

do Conselho e no recebem ordens de qualquer outro departamento de Estado (...) d)

Em caso de dvida, mesmo no eliminada pela consulta aos Ministrios acima refe-

16. Secretariado Nacional de Informao, que substitua o extinto SPN.17. Decreto-Lei n. 33 545, 23 de fevereiro de 1944.

A Educao nos artigos de jornaldurante o Estado Novo (1945-1969) 19

ridos [Ultramar e Negcios Estrangeiros], deve a mesma ser submetida apreciao

do Ministro Adjunto da Presidncia ou ao Presidente do Conselho18. As instrues

dirigidas aos censores eram inequvocas: sem prejuzo de consultas prvias dirigidas

queles Ministrios, a sua atividade dependia diretamente do chefe do Governo.

Devemos assinalar ainda o carter preventivo das instrues que o regime for-

necia aos servios censrios. Exemplo disso uma Circular de 24 de janeiro desse

mesmo ano de 1962, que estatua pormenorizadamente as referncias noticiosas a

atividades estudantis que deviam ser censuradas: devia eliminar-se todo o contedo

poltico ou social e em especial as que sejam contrrias ao acatamento devido ao

Governo, s autoridades pblicas, ao professorado, e bem assim as que preconi-

zem perturbaes de ordem pblica ou incitem indisciplina. Suprimiam-se ainda

notcias relativas a greves, manifestaes ou prises de estudantes por motivos

poltico-sociais. E, nas aluses a julgamentos judiciais, eliminava-se a referncia a

estudantes (Azevedo, 1999, pp. 447-448).

Podemos perguntar: seria a Censura sempre eficaz? Obviamente que no. Por um

lado, devido ignorncia de muitos dos censores, no raro, ex-militares na reserva

ou reformados com a patente de majores ou coronis. Por outro, devido subti-

leza e inteligncia dos jornalistas que aprenderam toda uma linguagem cifrada

e, at mesmo, o recurso a comentrios reprovativos de certos acontecimentos que

desagradavam ao regime. Exemplo desse expediente -nos dado por Mrio Ventura.

Para noticiar manifestaes de estudantes em Lisboa, nos anos 60 (algumas delas

violentas), dizia ele, s o conseguamos sob formas muito sibilinas, como esta: es-

tudantes desordeiros tentaram manifestar-se na Baixa, obrigando a polcia a intervir

pela fora (Ventura, 1999, p. 366). Deste modo, os leitores interessados na notcia

procurariam obter, por outros meios, mais informaes. Mas, como reconhece este

antigo jornalista e escritor, para o leitor comum a notcia no passava daquilo que

referia; e, julga ele, que a simples adjetivao envolvia uma tomada de posio.

Relativamente ao peridico Via Latina, rgo da Associao Acadmica da Uni-

versidade de Coimbra, lembra Jos Carlos de Vasconcelos que a Censura chegava a

eliminar metade ou mais das suas pginas, embora os redatores procurassem evitar

inserir textos directamente polticos. Diz ele: A censura cortava notcias sobre acti-

vidades universitrias e associativas, artigos ou textos sobre o movimento estudantil

18. Despacho do Presidente do Conselho, 20 de outubro.

urea Ado20

(qualquer referncia desejada democratizao do ensino, designadamente do

acesso s universidades, era proibida), os problemas pedaggicos, a cultura, em

especial o cinema e o teatro, o prprio desporto, etc. (Vasconcelos, 1999, p. 476).

Aquele jornal acabaria por ser retirado do mercado e proibido, por ter publicado toda

uma primeira pgina sobre o I Encontro Nacional de Estudantes.

Para os ltimos anos da dcada de 1960 e primeiros da seguinte, poder-se-ia

pensar que o Governo de Marcelo Caetano se traduziu numa outra poltica de infor-

mao. No incio, a Censura que passou a designar-se por Exame prvio com a

adoo da Lei de Imprensa de 1971, a nica desde 1926 parece ter afrouxado

a estreiteza da sua atuao, correspondendo assim, em parte, s expectativas de

abertura poltica do regime. O novo Presidente do Conselho exprimiu repetidamente

uma inteno favorvel sua futura abolio. Mas, em seu entender, a conjuntura

da guerra em frica obrigava sua manuteno por um perodo indeterminado de

transio (Barreto, 1999, p. 282).

As disposies de 15 de novembro de 1968 extinguiram o SNI, transitando os

servios de Censura para a responsabilidade da Secretaria de Estado da Informa-

o, deixando assim de estar na dependncia direta do chefe do Governo. Mas os

pormenores em que entrava aquele diploma19 indiciavam a tnica na continuidade

de critrios e de mtodos. Entre outros pontos, chamava-se a ateno dos censores

para tudo quanto ponha em causa problemas ligados a reivindicaes de salrios e

reivindicaes acadmicas, sobretudo quando formulados em termos demaggicos

ou de subverso; deviam suspender-se em regra inquritos e entrevistas a profes-

sores e estudantes at tomada de posio mais conveniente (Portugal, 1981, p.

215). Por outras palavras, na atividade censria privilegiava-se o setor mais ligado

Educao, onde a influncia das oposies ao Estado Novo era mais forte no s nos

meios estudantis mas tambm no seio da classe docente e em muitos intelectuais e

alguns cientistas.

Esto ainda por estudar em profundidade as transformaes que ocorreram na

imprensa peridica durante o marcelismo, em que indiscutivelmente surgem novi-

dades. Mas de admitir que, no essencial, a situao no tenha mudado substan-

cialmente: isto , continuou a no haver liberdade de expresso. Para isso apontam

os testemunhos de jornalistas que trabalharam na poca. H numerosos exemplos

19. Assinado por Csar Moreira Baptista, subsecretrio da Presidncia do Conselho.

A Educao nos artigos de jornaldurante o Estado Novo (1945-1969) 21

bem elucidativos da atuao do lpis azul. Um deles foi a proibio no jornal regio-

nal Notcias da Amadora, de 10 de agosto de 1968 (uma semana depois da queda

de Salazar que o incapacitaria de continuar em funes como Presidente do Con-

selho), de uma srie de entrevistas de rua subordinadas pergunta Acha que os

exames so necessrios?20. O artigo foi integralmente cortado, decerto atendendo

inteno expressa do jornalista annimo de discutir o tema (que na poca era mui-

to abordado por professores e outros pedagogos) e s posies crticas expressas

por alguns dos entrevistados. Outro exemplo do mesmo peridico, foi a proibio

de uma entrevista ao escritor Jos Cardoso Pires, conduzida por Fernando Dacosta,

em Junho de 1969. Entre vrias outras questes, Cardoso Pires falava da estreiteza

do pblico leitor e responsabilizava os meios de comunicao social, os liceus e

as universidades pela distncia entre os escritores e o pblico. Chegava mesmo a

afirmar: Uma das razes fundamentais do desinteresse das camadas jovens pela

literatura que nos liceus e nas faculdades ela administrada sempre numa base

negativa, paralisante21.

Importar, pois, ter sempre em conta as condies extremamente difceis em que

a informao e a reflexo sobre temas de Educao se desenvolveram em Portugal

no perodo em causa. E considerar, em termos comparativos, o modo como esses

temas eram tratados por rgos de imprensa e jornalistas de quadrantes ideolgicos

muito diversos.

20. Reprter de rua. Acha que os exames so necessrios?. Notcias da Amadora. Inditos do Arquivo da Censura (1958-1974), (1474), 31 de janeiro de 2002, 8-9 (deveria ter sido publicado no n. 366, de 10 de agosto de 1968).21. A mulher em Portugal evoluiu mais do que o homem. Idem, (1463), 25 de outubro de 2001, 10 (deveria ter sido publicada no n. 410, de 28 de junho de 1969).

urea Ado22

3. Classificao dos textos referenciados

De acordo com bibliografia produzida sobre a Imprensa, existem dois grandes ti-

pos de gneros jornalsticos: os que servem para dar a conhecer os factos e os que

do a conhecer as ideias. Adaptando esta diviso principal nossa experincia de

investigadores e ao objetivo de proporcionar um melhor aproveitamento da consul-

ta do Repertrio, classificmos os diferentes textos em artigos de opinio, estudos,

editoriais, reportagens, notcias, discursos, entrevistas, biografias, legislao, publi-

caes e mesas redondas (ver Quadro n. 1).

O artigo de opinio, singular ou em srie sob o mesmo ttulo, assinado ou no,

reveste um estilo literrio livre e, muitas vezes, opinativo. Tem como objetivo o estu-

do e/ou o esclarecimento de um tema/problema que, num determinado momento,

tenha podido despertar o interesse do grupo de leitores ligados essencialmente s

questes educativas e, at mesmo, o grande pblico, procurando provocar discusso

e reflexo, ainda que veladas (Fontcuberta, 1999, p. 83).

Os artigos de opinio constituem a percentagem mais elevada de textos selecio-

nados (35,4 %) sendo o jornal Novidades o que maior nmero contempla devido

publicao do seu suplemento semanal Aco Escolar, seguido dos Dirio de Lisboa

e Repblica. Pelo contrrio, O Sculo apenas insere o correspondente a 1,7 % do

total desses artigos. Os temas abordados so muito diversificados, com destaque

para os problemas levantados por ocasio dos exames nacionais, as alteraes a

planos curriculares, as questes relacionadas com o estatuto socioprofissional dos

docentes, os problemas do ensino superior, aspectos de determinados sistemas edu-

cativos estrangeiros, ou seja, abordagens que a Censura ia permitindo.

O estudo corresponde a um trabalho mais aprofundado (geralmente, da autoria

de especialista na matria ou algum a ela ligado profissionalmente), com dimen-

ses reduzidas, sobre um tema educativo nacional ou estrangeiro, ento atual, que

requeresse um conhecimento mais aprofundado. Pelas caractersticas prprias da

imprensa diria e regional, este gnero abrange apenas 9,2 % de todos os textos.

So os Dirio de Lisboa (32,6 %) e Repblica (27,5 %) que os publicam em maior

nmero.

Classificmos como editorial, um texto de opinio publicado geralmente na pri-

meira pgina, breve, claro e incisivo, assinado, ou no, por um elemento da Direco

editorial e que exprime as posies do jornal perante um ou mais factos da atualida-

A Educao nos artigos de jornaldurante o Estado Novo (1945-1969) 23

de. Relativamente s questes de Educao, so pouco habituais, correspondendo

a 3,6 % do total. O Sculo que se ocupa mais deste gnero (54,2 %), aproveitando

questes do momento. Em contrapartida, o seu parceiro das manhs, o Dirio de

Notcias, parco neste tipo de abordagem (2,0 %), tal como o regional Jornal do

Fundo (2,0 %). Do dirio nortenho O Comrcio do Porto apenas recolhemos quatro

editoriais (0,7 %).

A reportagem, de acordo com Fontcuberta (1999), consiste no relato de factos

actuais que no so estritamente notcia (embora s vezes o possam ser), e procura

contar o essencial desses factos e das suas circunstncias explicativas (p. 82). No

abandonando completamente esta definio, classificmos neste gnero os textos

que oferecem mais informao do que a notcia, nos quais se incluem pequenos

extratos de discursos. No Repertrio, a reportagem ocupa o terceiro lugar na ordem

dos gneros definidos e corresponde a cerca de 15,4 % de todos os textos. So O

Sculo (24,2 %), Novidades (23,4 %) e Dirio da Manh (23,2 %) que publicam mais

este gnero. Em contrapartida, o Repblica o dirio que menos discursos transcre-

ve (2,2 %).

Consideramos estes textos de grande utilidade para o investigador pois, com eles,

podero ser reconstitudas (no todo ou em parte) intervenes de governantes e de

outras personalidades. Se algumas se encontram compiladas, outras tm apenas o

seu registo na imprensa. Citamos como exemplo, a possibilidade de recuperao do

discurso do ministro da Educao Nacional, Pires de Lima, aquando da tomada de

posse do Director-Geral interino do Ensino Liceal (Dr. Francisco Prieto), a 27 de junho

de 1947, a partir de artigos publicados nos Dirio da Manh e Novidades (Ado &

Remdios, 2008, p. 52).

A notcia consiste num texto de pequena dimenso, descritivo, tendo como fina-

lidade a comunicao de algo acontecido ou divulgado. No regime do Estado Novo,

competia ao Governo e, muito especialmente Censura, indicar diariamente o que

seria a notcia, difundida pela Agncia Informativa, procurando-se impedir a divulga-

o de informaes recolhidas pelo prprio jornal. No entanto, encontrmos notcias

do chamado jornalismo de proximidade que nos fornecem dados e pistas de traba-

lho muito teis. Na maior parte dos casos, as notcias sobre Educao no estavam

inseridas na primeira pgina e eram introduzidas por ttulos sugestivos. Trata-se do

segundo gnero por ns contemplado, correspondendo a 30,1 % do total dos textos

e que podero servir de pistas para o tratamento de temas educativos at hoje des-

urea Ado24

prezados (por exemplo: os questionrios sobre coeducao, em 1947; a criao de

uma Comisso para estudo do ensino superior, em 1969).

Na categoria de discurso, inclumos intervenes de teor proclamativo, laudatrio

e propagandstico totalmente transcritas, ou em parte(s). Neste gnero, destacam-se

discursos governamentais proferidos por ocasio de visitas, reunies de trabalho,

inauguraes, recepes, abertura de anos lectivos. Classificmos ainda neste gne-

ro conferncias proferidas. Contudo, respeitantes Educao, constituem os textos

menos inseridos na imprensa trabalhada, ao longo de todo o perodo considerado

(54 = 0,4 %). De O Comrcio do Porto e Jornal do Fundo no retirmos nenhum e

do Dirio de Notcias, apenas a mensagem de Ano Novo do Comissrio Nacional da

Mocidade Portuguesa.

A entrevista perdeu importncia depois da criao da Censura e, por isso, era

pouco frequente nos jornais, correspondendo no Repertrio a 2,3 % dos textos. A sua

maior utilizao estava reservada para ocasies eleitorais ou de grande polmica.

So os Dirio de Lisboa e Repblica quem recorre mais vezes a este gnero jornals-

tico para tratar em srie de um ou outro tema de atualidade. O jornal A Capital cons-

titui uma exceo, tendo publicado nos dois primeiros anos do seu reaparecimento

(1968, 1969) 66 entrevistas de um total geral de 358, tratando os mais diversos

temas e ouvindo especialistas de diversas reas das Cincias da Educao.

A legislao engloba sobretudo normativos governamentais, como notas oficio-

sas, comunicados ministeriais, pareceres, etc., transcritos na ntegra ou por extratos,

numa percentagem de 2,1 %. Durante o Estado Novo, era obrigao de toda a im-

prensa publicar estas informaes pelo que no havia possibilidade de serem con-

frontadas com outras verses do ocorrido, limitando-se alguns jornais a acrescentar

um pequeno comentrio ou adotar um ttulo mais significativo. Devido ao seu conte-

do, em geral, selecionmos apenas um texto para cada normativo, optando somente

pela sua repetio sempre que contemple alguma informao adicional.

Os outros gneros biografia, publicaes, mesa redonda so em nmero

muito limitado, no ultrapassando 1,5 %. Colocmos como biografia o texto que

fornece informao sobre professores, pedagogos estrangeiros e outras pessoas

ligadas Educao, desde notcias contendo elementos biogrficos por ocasio

de falecimento, de homenagem ou de jubilao at estudos mais desenvolvidos

preparados especificamente para serem publicados na imprensa. do jornal Rep-

blica que maior nmero inserimos; pelo contrrio, o Dirio de Notcias e O Sculo

A Educao nos artigos de jornaldurante o Estado Novo (1945-1969) 25

no esto contemplados. Sob a classificao publicaes apresentamos toda a

informao sobre obras e estudos editados tratando de questes educativas. Os

Dirio de Lisboa, Novidades e Repblica so os peridicos que alguma informao

oferecem sobre este gnero. Finalmente, a primeira mesa redonda que localiz-

mos encontra-se no Repblica em 196322. Somente dois anos depois, prximo da

realizao de eleies para a Assembleia Nacional, o Dirio de Lisboa tem possi-

bilidade de organizar uma mesa redonda sobre investigao cientfica23. Ser este

mesmo jornal que publica outras duas, em 196824. No ano seguinte, prximo de

novas eleies, o vespertino A Capital publica sete mesas redondas sobre temas

constantes dos programas eleitorais da Oposio.

Quadro n. 1

Gnero dos textos selecionados

(entre 1945 e 1969, nos diferentes jornais)2526

Textos, gneros C25 CP DL DM DN JF N R S Subtotal

Artigo de opinio 375 596 965 203 228 325 1753 902 90 5 437

Notcia 76 126 1120 427 292 61 590 1389 531 4 612

Reportagem 77 80 161 548 198 120 553 53 574 2364

Estudo 145 71 460 37 24 28 225 388 31 1409

Editorial 1 4 87 52 11 11 53 31 296 546

Entrevista 66 1 94 37 14 12 17 107 10 358

Legislao 31 11 83 56 33 2 38 25 45 324

Biografia 2 1 11 1 1 20 94 130

Publicaes 5 6 20 4 3 38 12 1 89

Discurso 2 14 13 1 13 7 4 54

Mesa redonda 7 4 1 12

Subtotal 787 896 329 1378 801 563 3300 3009 1582 15 345

22. Os estudantes de Pinhel acham que s a existncia de um liceu e escolas tcnicas oficiais podero valorizar o nvel cultural dos habitantes (), Repblica, 21 de setembro de 1953.23. A investigao gentica, Dirio de Lisboa, 26 de outubro de 1965.24. Problemas da medicina jovem. Os recm-licenciados de 1968 socorrem-se de expedientes, enquanto no aberto o concurso (), Dirio de Lisboa, 14 de novembro de 1968; Sem reforma de mentalidade no possvel a reforma universitria, idem, 2 de dezembro de 1968.25. A partir de 1968.26. As siglas correspondem a: C, A Capital; CP, O Comrcio do Porto; DL, Dirio de Lisboa; DM, Dirio da Ma-nh; DN, Dirio de Notcias; JF, Jornal do Fundo; N, Novidades; R, Repblica; S, O Sculo.

urea Ado26

4. Caracterizao dos jornais pesquisados

Num trabalho desta natureza, parece-nos oportuno caracterizar resumidamente

cada um dos peridicos selecionados e, em especial, no que diz respeito s temti-

cas de Educao (ver Quadro n. 1). Comecemos pelos dirios da manh. O Dirio de

Notcias, editado em formato grande, era lder nas tiragens, com expanso por todo

o Portugal continental. Segundo Correia & Baptista (2007, p. 75), na sua redao,

nomeadamente em lugares de responsabilidade, dominavam jornalistas apoiantes

ou pelo menos no opositores activos do regime, o que ajudava a, sem conflitos in-

ternos, fazer do jornal um rgo oficioso do Estado Novo. Tambm Urbano Tavares

Rodrigues informa: Quando estive no Dirio de Notcias, o jornal era associado ao

regime e ramos obrigados a escrever coisas contra a nossa sensibilidade ou contra

o nosso pensamento27. A sua estrutura apresentava-se com uma certa estabilidade,

com um nmero de pginas oscilando entre 12 e 16 e com rubricas e pginas es-

peciais regulares no respectivo dia de sada, ainda que a sua localizao no fosse

sempre a mesma. Relativamente aos textos sobre Educao, privilegiava as notcias,

os artigos de opinio e as reportagens que correspondem a 36,5%, 28,5% e 24,7%

do seu conjunto. Nele se publicaram poucos estudos (24) assim como entrevistas

(24) e editoriais (11). Como tambm parece no se ter ocupado com biografias nem

a divulgao de publicaes da especialidade e apenas referencimos um discurso.

O Sculo era o matutino com mais noticirio da provncia, graas a uma ampla

rede de correspondentes; autointitulava-se como o jornal de maior circulao nacio-

nal. Tal como o Dirio de Notcias, era editado em formato grande, as suas edies

oscilavam entre as 12 e as 16 pginas, quase metade preenchida com publicidade.

Quanto distribuio dos assuntos, apenas eram fixas a 1. pgina (editorial e temas

considerados mais importantes) e a 12. (publicidade); o contedo das outras varia-

va, no tendo as diversas seces uma pgina certa de publicao. Ao nvel das to-

madas de posio editoriais, identificava-se com o Governo nas questes essenciais.

O seu director, Guilherme Pereira da Rosa, em 1968, declarava:

Quanto informao, nenhuma dificuldade: em jornais informativos, a notcia

deve ser verdica, cuidadosamente elaborada e autntica. Quanto aos comen-

trios, sou dos que defendem o princpio de que devem ser harmoniosos e no

27. Parte de entrevista transcrita in Correia & Baptista, 2007, p. 75.

A Educao nos artigos de jornaldurante o Estado Novo (1945-1969) 27

contraditrios e traduzir as ideias, o pensamento directivo do jornal. Esclareo

que nO Sculo, ainda me reservo o direito de recusar aqueles escritos, mesmo

assinados, que vo contra os ditames da minha conscincia28.

Em finais da dcada de 1960, publica regularmente a rubrica temtica Enrino,

onde noticia bolsas de estudo, concursos para professores e outras informaes re-

lacionadas com o quotidiano escolar. Para alm das reportagens (24,3%) e notcias

(11,5%), privilegia os editoriais para tratar de questes educativas do momento; dos

546 referenciados em todos os peridicos, 296 pertencem a este madutino. Pelo

contrrio, dos artigos de opinio recolhidos, o menor nmero por ele publicado

(1,7%) e sobre temas que suscitaram alguma polmica na imprensa, como sejam os

exames e as reformas de planos curricularres. So poucos os estudos encontrados

1,9 % do total dos seus textos) assim como as entrevistas (10) e os discursos (4).

Quanto aos vespertinos, foram eles que introduziram alteraes a nvel jornalsti-

co com outra apresentao grfica e a insero de suplementos temticos.

O Dirio de Lisboa, criado em 1921, constituiu o primeiro vespertino portugus

publicado em formato tablide. O nmero de pginas variava conforme os dias, mas

as rubricas dirias saam regularmente nos mesmos locais. Embora tenha sofrido

vrias crises internas e algumas remodelaes, na sua longa existncia de 70 anos,

procurou manter-se fiel sua herana republicana, () Tentou ser um jornal inde-

pendente e descomprometido com o poder poltico e econmico dentro dos limites,

() Alm de ter sempre mantido uma direco editorial de pendor democrtico (Cor-

reia & Baptista, 2007, p. 162).

O prestgio do jornal provinha, em grande medida, do seu grupo de colaboradores

externos, figuras conhecidas em reas diversas desde o desporto literatura e

educao, que constituam referncias para o leitor mais escolarizado, nomeada-

mente o que exercia profisses liberais. o seu ltimo diretor, Antnio Pedro Ruella

Ramos, quem o confirma:

Os leitores no eram necessariamente de esquerda ou comunistas. Eram pesso-

as da mdia burguesia, cultos, engenheiros, advogados, mdicos, professores,

se calhar at eram relativamente conservadores mas gostavam da independn-

cia do DL porque sabiam que era praticamente o nico dirio que no estava

28. Discurso proferido na abertura solene do I Curso de Jornalismo e publicado na Vida Mundial, 29 de novembro de 1968.

urea Ado28

comprometido com o regime. No era um jornal de oposio literal porque quem

fazia isso estava preso. Mas tambm no tinha compromissos com o regime29.

Por outro lado, conforme nos d conta a investigao do CODES atrs referida, so

tambm seus leitores os estudantes universitrios com um certo grau de politizao

que se situavam na oposio ao regime do Estado Novo ou, pelo menos, no se mos-

travam seus defensores. Por isso, era reconhecidamente um jornal mais intelectual,

com suplementos culturais e outros, como o Juvenil, onde se publicam artigos e no-

tcias sobre temas escolares e educativos. Porm, no tinha um suplemento voltado

para a Educao, inserindo apenas rubricas temticas, Dirio Escolar, Vida Universi-

tria, Ensino, preenchidas com notcias breves de assuntos do quotidiano escolar, e

tambm Eduquemos o nosso Filho, onde eram publicados curtos artigos de opinio.

Nas suas pginas, desde 1945, sobre Educao escreveram regularmente destaca-

das figuras democrticas, como os Professores Vieira de Almeida, Eduardo Rogado

Dias, Rui Grcio, Emlio Braga e tantos outros.

Procurava informar os seus leitores sobre acontecimentos educativos nacionais

e internacionais, na medida em que a Censura lho permitia, publicando no s um

nmero muito elevado de notcias (24,4 % do total selecionado) como de artigos de

opinio e de estudos (17,8 e 32,6 %, respetivamente). Privilegia igualmente a entre-

vista, cujo nmero corresponde a cerca de um quarto da sua totalidade. Ainda que

em nmero pouco significativo, contempla a biografia (11), o discurso (14) e a infor-

mao sobre publicaes da especialidade (20).

O vespertino Repblica, editado igualmente em formato tablide, era considerado

o rgo da oposio republicana e democrtica. Com fraqussima penetrao junto

do grande pblico, dependia das assinaturas, de meia dzia de fregueses leais,

como esclarece um dos seus ltimos diretores, Norberto Lopes30. Constitua objeto

privilegiado da Censura. Parece no ter tido um papel significativo no movimento

de renovao do jornalismo, comparando com os outros vespertinos. Nos incios da

dcada de 1960, no ultrapassava a dzia dos jornalistas, ou seja, metade do Dirio

Popular e do Dirio de Lisboa e, no final dessa mesma dcada, baixava para menos

de uma dezena, ou seja, cerca de quatro vezes menos do que aqueles dois vesperti-

nos (Cabrera, 2006, p. 147).

29. Parte de uma entrevista in Correia & Baptista, 2007, p. 163.30. Cf. entrevista referida in Correia & Baptista, 2007, p. 81.

A Educao nos artigos de jornaldurante o Estado Novo (1945-1969) 29

No entanto, destaca-se ao nvel da publicao de textos sobre Educao e dos

seus colaboradores nesta rea, como Fernando Piteira Santos, J. Dias Agudo, Maria

Amlia Borges, e outros. Na dcada de 1940 publica uma rubrica temtica intitulada

Pelas Escolas e, nas dcadas seguintes, Ensino, Vida Universitria, Vida Acadmi-

ca, com pequenas notcias sobre o quotidiano escolar semelhana do Dirio de

Lisboa. Tal como este, privilegia as notcias nacionais e internacionais, correspon-

dentes a 46,2% dos seus textos selecionados, os artigos de opinio e os estudos

(respetivamente 16,6 e 27,5% da totalidade dos gneros). Um nmero significativo

de editoriais publicado (31), constitui o jornal que mais entrevistas apresenta (107

em 358 consideradas) assim como biografias (94 em 130). No entanto, assuntos do

quotidiano escolar estavam ausentes ou apenas mereciam uma pequena notcia e

somente localizmos uma mesa redonda, em 196331.

O jornal A Capital reapareceu a 21 de fevereiro de 1968 sendo, por isso, obje-

to da nossa investigao durante apenas dois anos. Igualmente vespertino, foi seu

primeiro diretor Norberto Lopes e diretor-adjunto Mrio Neves, que tinham sado do

Dirio de Lisboa, em litgio. Procurou, por isso, ser inovador e congregou os melhores

colaboradores de formao universitria e especializada. Daniel Ricardo, um dos

seus mais jovens jornalistas nesta primeira fase, informa:

Surgiu como um jornal da oposio e, como todas as publicaes que, na altu-

ra, eram de reviralho, os primeiros nmeros venderam imenso, e as primeiras

tiragens foram enormes. S que, pouco a pouco, foram decaindo () no incio

vendia seguramente mais de 50 00032.

Nos seus dois primeiros anos, destaca-se ao nvel da publicao de textos so-

bre Educao, nomeadamente estudos (10,3 % do total referenciado) e artigos de

opinio (6,9 %). Publica com mais frequncia entrevistas sobre temas atuais com

destaque para os problemas existentes no ensino universitrio, ou seja, 18,4 % da

totalidade dos textos inseridos neste gnero e 59,5 % relativamente a 1968 e 1969.

Como anteriormente j referimos, em 1969, publica sete mesas redondas das doze

que localizmos em todos os jornais.

31. Os estudantes de Pinhel acham que s a existncia de um liceu e escolas tcnicas oficiais podero valorizar o nvel cultural dos habitantes (), em 21 de setembro. 32. Cf. entrevista referida in Correia & Baptista, 2007, p. 197.

urea Ado30

O Dirio da Manh era o rgo oficial da Unio Nacional, o nico partido poltico

autorizado e, por isso, tambm o porta-voz do Regime. Com pouca influncia social,

no que respeita Educao, privilegia as notcias, a reportagem (39,8 % dos seus

textos) e os artigos de opinio (14,7 %). Publica um nmero significativo de editoriais

(52), de estudos (37) e de entrevistas (37).

O Novidades era o rgo oficioso da Igreja catlica, com contactos estreitos com o

Patriarcado e mostrando-se apoiante do regime. Segundo Guilherme Sampaio, este

dirio correspondia na prtica a um jornal catlico nacional que se propunha orien-

tar a conscincia pblica luz da Doutrina Catlica33.

Relativamente aos temas sobre Educao, o nico jornal a publicar semanalmen-

te um suplemento, Aco Escolar34, dedicado aos temas relacionados com o ensino

primrio e a educao da criana. Maria Jos Remdios que estudou as questes de

Educao inseridas neste jornal, entre 1945 e 1950, referindo-se ao suplemento, con-

sidera que a oferta de um conjunto de quatro pginas semanais, passveis de serem

coleccionadas, no pode ser vista alheada do processo de introduo, pelo Estado

Novo, de um conjunto de mecanismos instrumentais da valorizao da ruralidade e da

educao, especialmente, a de nvel primrio (2003, p. 13). Alm das notcias, arti-

gos de opinio e estudos inseridos no suplemento em nmero muito significativo, este

dirio publica tambm editoriais sobre temas educativos (9,7 % do total referenciado),

entrevistas (17) e biografias sobretudo de pedagogos estrangeiros (20).

Finalmente, trabalhmos dois jornais de abrangncia geogrfica mais reduzida.

O Comrcio do Porto, criado em 1854, constitui um repositrio inalienvel da

histria narrativa da cidade do Porto e da regio Norte, perspectivando as interac-

es diacrnicas entre o ncleo urbano e todo esse vasto hinterland mais ou menos

rural35. Em meados da dcada de 1960, comea a publicar semanalmente a pgina

Ensino que ser reintitulada Educao a partir de Outubro de 1969, sob a responsa-

bilidade do professor do ensino secundrio Ral Gomes. Por isso, dele recolhemos

um nmero significativo de artigos de opinio (66,5 % dos seus textos) e de estudos

(7,9 %). Em contrapartida, no perodo estudado apenas selecionmos quatro edito-

riais, uma entrevista e uma biografia.

33. http://www.agencia.ecclesia.pt/cgi-bin/noticia.pl?id=75689. Consultado a 16 de agosto de 2011. 34. O jornal, no seu n. 399, de 18 de dezembro de 1945 (p. 1) sob o ttulo Mais um ano, traa uma resenha histrica deste suplemento.35. http://arquivo.cm-gaia.pt/creators/13983/. Consultado a 17 de agosto de 2011.

http://www.agencia.ecclesia.pt/cgi-bin/noticia.pl?id=75689http://arquivo.cm-gaia.pt/creators/13983/

A Educao nos artigos de jornaldurante o Estado Novo (1945-1969) 31

O semanrio Jornal do Fundo foi fundado em 1946 por Antnio Paulouro com

o objetivo de se ocupar de problemas locais. A sua expanso ultrapassou a rea

geogrfica tornando-se um dos jornais regionais de maior dimenso e capacidade

de interveno (Palla, 1990, p. 216), devido qualidade dos seus colaboradores e

independncia com que procura analisar os problemas da regio. Durante o regi-

me do Estado Novo, foi alvo de uma vigilncia apertada pela Polcia poltica, tendo

estado seis meses suspenso em 1965 (23 de maio-28 de novembro) a pretexto da

publicao de uma notcia, na edio de 19 de maio, sobre o Cinquentenrio do

Seminrio do Fundo em que se recordava simplesmente a data e se publicava o

programa das comemoraes, notcia que no tinha sido apresentada aos censores

de Castelo Branco. Embora esta tenha sido a justificao oficial, a medida repressiva

foi desencadeada devido a uma outra notcia inserida, naquela mesma data, no novo

suplemento literrio Argumentos, dirigido por Alexandre Pinheiro Torres:

Nesse suplemento, que no voltou a publicar-se novamente, saiu uma notcia, a

pginas 5, a duas colunas, a negro, com fotos e o ttulo: ISABEL DA NBREGA,

LUANDINO VIEIRA E ARMANDO CASTRO obtiveram, respectivamente, o Prmio

Camilo Castelo Branco (Romance), Grande Prmio de Novela e Grande Prmio

de Ensaio (Azevedo, 1999, p. 448).

suspenso, juntou-se um elevado aumento da cauo e a obrigatoriedade de

apresentao das provas em Lisboa, medidas muito gravosas para o jornal em ter-

mos de despesas e de tempo.

No que respeita Educao, este peridico contou com colaboradores destaca-

dos que escreviam igualmente nas colunas de outros jornais, nomeadamente no

Dirio de Lisboa, privilegiando por isso os artigos de opinio (57,7 % dos textos dele

recolhidos). Dele recolhemos, igualmente, um nmero significativo de reportagens

e de informaes sobre acontecimentos e necessidades regionais (respetivamente,

21,3 e 10,8 %). No deixou, porm, de publicar alguns estudos e entrevistas focando

temas regionais e tambm nacionais.

urea Ado32

5. Os ndices

A elaborao dos trs ndices que compem o Repertrio36 obedeceu a critrios de

trabalho que partiram sobretudo da nossa experincia de investigadores e do objec-

tivo dos dados fornecidos serem facilitadores de futuras investigaes.

O ndice cronolgico constitui o principal instrumento de trabalho pois inclui a

referncia completa de cada texto selecionado. Dado o volume de informao en-

contrada, tommos algumas decises limitando o corpus documental a publicar. No

total, constam 15.345 referncias, ou seja, o correspondente a 74,8 % de todo o

material recolhido.

Quadro n. 2

Distribuio dos textos por jornais e anos

Anos C CP DL DM DN JF N R S Subtotal1945 18 69 28 16 123 126 64 4441946 53 38 32 24 14 120 87 50 4181947 69 58 49 25 12 154 141 48 5561948 20 26 32 29 6 113 104 65 3951949 7 28 47 28 32 113 49 32 3361950 26 27 26 26 29 142 62 48 3861951 22 46 30 23 24 143 53 41 3821952 20 29 24 26 26 149 178 43 4951953 24 37 39 24 30 148 55 57 4141954 22 36 35 12 21 115 61 52 3541955 15 43 60 24 12 117 62 61 3941956 27 45 180 17 40 104 196 63 6721957 23 46 67 15 21 100 185 63 5201958 24 61 62 9 23 123 237 57 5961959 18 48 52 12 23 103 221 49 5261960 13 35 32 13 22 209 253 49 6261961 17 38 24 4 15 123 108 33 3621962 20 420 41 52 40 216 139 144 10721963 35 312 34 42 34 106 115 87 7651964 27 329 37 30 35 111 98 88 7551965 29 294 37 32 14 142 99 42 6891966 18 278 157 47 23 188 75 45 8311967 42 265 86 21 17 125 110 45 7111968 433 149 309 99 111 30 113 90 162 14961969 354 158 112 68 139 20 100 105 94 1150

Subtotal 787 896 3029 1378 801 563 3300 3009 1582 15 345

36. A consistncia de dados relativamente preparao dos trs ndices, como resultado dum trabalho de anlise e programao informtica, pertence a Jlio Sequeira Cosme que, a ttulo gratuito, se disponibilizou para tamanha tarefa.

A Educao nos artigos de jornaldurante o Estado Novo (1945-1969) 33

Inclumos todos os artigos de opinio, estudos, editoriais e entrevistas que fo-

ram localizados. Quanto a notcias, aproveitmos as que contemplam: extratos de

discursos, notas oficiosas, circulares, dados biogrficos e homenagens relativos a

professores e outras pessoas com ligao Educao, ensino no estrangeiro, insti-

tuies educativas, comemoraes e confraternizaes, intervenes na Assembleia

Nacional e outros debates, dados estatsticos originais, informaes regionais/lo-

cais, obras publicadas, assuntos pouco divulgados.

Apesar da Censura, cada jornal tinha em ateno o seu pblico leitor. Por isso, a

notcia no era divulgada da mesma maneira por todos os jornais; quando percebe-

mos que as abordagens so diferentes, optmos pela publicao repetida da mes-

ma notcia porque consideramos que elas se completam na maior parte dos casos,

quando so apresentadas sob ttulo que comporta uma inteno ideolgica ou um

comentrio implcito. Selecionmos tambm as que esto publicadas na primeira

pgina, as que envolvem mais de uma coluna e as que tm autor identificado.

No inserimos 5 179 textos referentes repetio de noticirio idntico, trans-

crio de leis de fcil acesso e de pontos de exame, curtas informaes sobre dou-

toramentos honoris causa, jubilaes, concursos de professores e calendarizaes

de: abertura dos anos lectivos, comemoraes e confraternizaes, actividades de

organizaes nomeadamente a Mocidade Portuguesa, deslocaes de governantes,

inaugurao de espaos escolares, incio e decurso das pocas de exames, reali-

zao de conferncias e cursos, visitas de professores e de estudantes nacionais e

estrangeiros.

Pelo Quadro n. 2 e relativamente a todo o espao temporal pesquisado, podemos

verificar que so os Dirio de Lisboa e Repblica que mais se ocuparam das ques-

tes de Educao (19,7 e 19,6 %, respectivamente), juntando-se-lhes o Novidades

que publicava semanalmente, como j foi dito, um suplemento especfico de quatro

pginas o que contribua para um maior nmero de referncias (21,5 %).

a partir do incio da dcada de 1960 que os jornais trabalhados privilegiam

mais frequentemente temas sobre a Educao: entre 1960-1969, seleccionmos 8

457 textos (55,1 % do total). Se analisarmos por anos, encontramos em 1962 maior

nmero tendo para isso contribudo significativamente o jornal O Sculo do qual reco-

lhemos um conjunto de notcias ocupando-se dos acontecimentos sucessivos da cri-

se acadmica. tambm a partir desse ano que o Dirio de Lisboa comea a prestar

urea Ado34

maior ateno aos temas educativos. No entanto, como j atrs referimos, o jornal

A Capital que, nos dois ltimos anos no nosso Repertrio, inclui na sua agenda diria

29,7 % do total dos textos considerados.

Sobre os procedimentos adotados registar-se-o naturalmente opinies e perspe-

tivas diferentes. Temos conscincia da existncia de lacunas nos dados recolhidos,

que julgamos inevitveis num trabalho com esta natureza, desenvolvido por uma

equipa ampla e diversificada37. No que respeita apresentao dos textos, adotmos

uma uniformizao de escrita: letras maisculas apenas em alguns casos; introdu-

o de um ou outro sinal de pontuao para melhor compreenso do texto. Quando

se trata de ttulo extenso, omitimos algumas palavras com a devida indicao do

corte efetuado.

A elaborao do ndice temtico obedeceu a critrios de funcionalidade inserindo

322 temas que se prendem necessariamente com a histria da educao que se faz

nos dias de hoje mas correspondendo igualmente a conceitos do perodo definido;

alguns dos textos seleccionados foram classificados com um ou mais. A par de te-

mas envolvendo um nmero significativo de referncias, inclumos tambm outros

apenas com uma ou duas referncias, cujo tratamento julgamos inovador para a

poca, como por exemplo, sobre o arquivo escolar, o ensino da Cincia Poltica e da

Sociologia, a educao multicultural, e tantos outros.

As questes relacionadas com o sistema educativo, quer portugus quer de ou-

tros pases, ocupam o primeiro lugar, com o correspondente a 18,4 % do total de

referncias, seguidas de textos que se tratam de instituies educativas e do ensino

regional (10,5 %) e do pessoal docente, desde o seu estatuto ao seu associativismo

(7,0 %). Numa poca em que se registaram, pelo menos, duas importantes crises

acadmicas, as referncias aos estudantes e sua situao ocupam o stimo lugar

nesta nossa classificao (3,9 %).

Face a estes dados, acreditamos que este ndice constituir um til instrumento

de trabalho para o investigador que se ocupe do estudo da Educao no perodo do

Estado Novo.

37. No decurso da pesquisa, realizaram-se diversas reunies destinadas formao dos membros da equipa que desenvolviam esse trabalho e foram convidados historiadores para falar sobre o Estado Novo.

A Educao nos artigos de jornaldurante o Estado Novo (1945-1969) 35

Quadro n. 3

Distribuio dos temas principais

Temas 1945-1959 1960-1969 Total

Sistema educativo 1 630 2 325 3 955

Estabelecimentos de ensino 930 1 330 2 260

Pessoal docente 611 898 1 509

Educao comparada 556 783 1 339

Organizao curricular 510 656 1 166

Poltica educativa 249 658 907

Alunos, estudantes, jovens 375 471 846

Analfabetismo/alfabetizao 601 147 748

Ensino-aprendizagem, processo 392 347 739

Educao e ideologia 389 288 677

A Educao 261 311 572

Administrao e direo escolares 185 379 564

Educadores portugueses 374 177 551

Ao social escolar 216 286 502

Escolaridade obrigatria 114 375 489

Avaliao escolar 213 274 487

Construes/Espaos escolares 219 265 484

Colnias, educao/ensino 91 365 456

Escola e comunidade 189 197 386

Ensino distncia 17 299 316

Igreja e educao 191 92 283

Tempos livres, ocupao 124 130 254

Cincias da Educao 120 120 240

Educao feminina 118 120 238

A criana 112 124 236

Ensino privado 92 89 181

Ensino militar 82 83 165

Democratizao do ensino 46 118 164

Formao pessoal e social 110 44 154

Equipamento/material escolar 59 91 150

Investigao cientfica 51 78 129

Educao especial 43 84 127

Educao intelectual, moral, fsica 95 26 121

Educao artstica 31 65 96

Regime de ensino 41 35 76

Filantropia e educao 34 20 54

Subtotal 9 471 12 150 21 621

urea Ado36

Quanto ao ndice de autores, trata-se de um terceiro instrumento de trabalho

com dimenses mais reduzidas. Inclui os nomes de todos aqueles que assinam os

textos, de participantes em mesas redondas e das pessoas entrevistadas, ainda que

estas no constem na respectiva referncia. Sempre que possvel, apresentamos o

nome completo dos autores. Decerto, pela fora da Censura, alguns dos textos so

assinados com uma simples abreviatura que, em muitos casos, no conseguimos

identificar, ou com um pseudnimo, como por exemplo, DArtagnan, Incognitus, So-

lus, e outros.

Deste ndice constam nomes destacados na sua poca, quer no meio acadmi-

co (J. Serras e Silva, Delfim Santos), quer como pedagogos (Joo de Barros, Rui

Grcio), quer como escritores (Jos Rgio, Matilde Rosa Arajo) ou, ainda, como

polticos intervenientes (Flausino Torres, Vasco da Gama Fernandes), cujos artigos

se mantm, em muitos casos, desconhecidos38. A partir deste Repertrio podero,

pois, ser coligidos esses trabalhos e dar a conhecer o pensamento dos seus autores

relativamente a temas que poderiam, por vezes, ser polmicos39.

Parece-nos, assim, justificada a vantagem em preparar um conjunto de instru-

mentos que facilite a pesquisa, tornando as fontes mais acessveis.

Face aos condicionalismos polticos do regime do Estado Novo, so os textos dos

jornais que nos conduzem para o estudo do comportamento das diversas sensibili-

dades de opinio, que correspondem por vezes a um primeiro documento que sirva

de ponto de partida para a preparao de um projeto de investigao ou para um

breve estudo.

Com os trs ndices aqui inseridos, pretendemos dar a conhecer um nmero maior

de temas relacionados com a(s) poltica(s) educativa(s) do perodo trabalhado, procu-

rando simultaneamente que esse novo conhecimento sirva de estmulo para futuras

investigaes e indagaes.

Torna-se, pois, necessrio explorar as virtualidades desta abordagem serial no

que tem de uniformidade/conformidade e, paralelamente, tambm de divergncia.

Essa explorao temporal e temtica ir, certamente, proporcionar uma reviso de

pontos de vista e de contedos. Porm, no cabe aqui faz-lo, mas sim, proporcionar

os elementos para trabalhos futuros.

38. Foi a partir deste nosso Projeto que Rogrio Fernandes pde publicar (2004) dois artigos de Joo de Barros (Joo de Barros, 1946. Educador pela paz. Revista Lusfona de Educao, Lisboa, 3, 147-149).39. Por exemplo, compilmos alguns artigos publicados por Jos Salvado Sampaio (2006).

A Educao nos artigos de jornaldurante o Estado Novo (1945-1969) 37

Referncias bibliogrficas

Ado, A. & Matos, S. C. (2003). A imprensa peridica: memria da Educao. In A. Teodoro (Coord.), Histrias (re)construdas. (pp. 59-77). So Paulo: Cortez Editora.

Ado, A. (2005). Fontes para a histria das polticas educativas e da renovao pedaggica no Portugal contemporneo. In E. Candeias (Coord.), V. Encontro Ibrico de Histria da Educao. Renovao pedaggica. (pp. 465-485). Castelo Branco: Alma Azul.

Ado, A. & Remdios, M. J. (2008). Memria para a frente, e o resto lotaria dos exames. A reforma do ensino liceal em 1947. Revista Lusfona de Histria da Educao, Lisboa, 12, 41-64.

Ado, A. & Remdios, M. J. (2009). O alargamento da escolaridade obrigatria para as meninas portuguesas (1960), uma medida legislativa envergonhada: sua representao nos jornais. Revista HISTEDBR On-line, Campinas, 36, 3-13.

Albert, P. & Terrou, F. (1985). Histoire de la presse. Paris: Presses Universitaires de France.

Azevedo, C. (1999). A censura de Salazar e Marcelo Caetano. Imprensa, teatro, cinema, televiso, radiodifuso, livro. Lisboa: Editorial Caminho.

Barreto, J. (1999). Censura. In A. Barreto & M. F. Mnica (Coord.), Dicionrio de Histria de Portugal. Suplemento. (Vol. VII, pp. 275-284). Porto: Livraria Figueirinhas.

Cabrera, A. (2006). Marcello Caetano: poder e imprensa. Lisboa: Livros Horizonte.

Correia, F. & Baptista, C. (2007). Jornalistas: do ofcio profisso. Mudanas no jornalismo portugus (1956-1968). Lisboa: Editorial Caminho.

Ferreira, J. (1959). Elogio do Dr. Norberto Lopes feito pelo jornalista Jaime Ferreira. Gazeta Literria, Porto, 5.

Fontcuberta, M. (1999). A notcia. Pistas para compreender o mundo. Lisboa: Editorial Notcias.

Moura, F. P. et al. (1968). O estatuto da Imprensa. Debate. Lisboa: Prelo Editora.

Nvoa, A. (Dir.) (1993). A imprensa de educao e ensino. Repertrio analtico (sculos XIX e XX). Lisboa: Instituto de Inovao Educacional.

Nvoa, A. (1996). Educao nacional. In F. Rosas & J. M. B. Brito (Dir.), Dicionrio de Histria do Estado Novo. (Vol. I, pp. 286-288). Lisboa: Crculo de Leitores.

, J. R. (1990). Salazarismo e cultura. In J. Serro & A. H. O. Marques (Dir.), Nova Histria de Portugal. (Vol. XII, pp. 391-454). Lisboa: Ed. Presena.

Palla, M. A. (1990). A renovao da imprensa, apesar da censura. In A. Reis (Dir.), Portugal contemporneo. (Vol. V, pp. 207-220). Lisboa: Publicaes Alfa.

Portugal. Comisso do Livro Negro sobre o Regime Fascista (1981). A poltica de informao no regime fascista. (2. ed., 1. vol.). Lisboa: Presidncia do Conselho de Ministros.

Remdios, M. J. (2003). O jornal catlico Novidades: sentido(s) do educar. Revista Brasileira de Histria da Educao, Campinas-SP, 6, Juho/Dezembro, 9-27.

Ricardo, M. M. C. (2002). A construo de uma identidade profissional dos professores no perodo da ditadura em Portugal O papel da imprensa e das publicaes ilegais. Comunicao apresentada no IV Congresso Luso-Brasileiro de Histria da Educao. Porto Alegre. Abril.

Sampaio, J. S. (2006). Temas de Educao. Subsdios para a anlise crtica da expanso escolar (no Portugal dos anos 60 e 70 do sculo XX). Lisboa: Edies Lusfonas.

Vasconcelos, J. C. (1999). Memria(s) do nojo e da indignao. In C. Azevedo, A censura de Salazar e Marcelo Caetano. Imprensa, teatro, cinema, televiso, radiodifuso, livro. (pp. 473-488). Lisboa: Editorial Caminho.

Ventura, M. (1999). Os jornalistas, os jornais da poca e a censura. In C. Azevedo, A censura de Salazar e Marcelo Caetano. Imprensa, teatro, cinema, televiso, radiodifuso, livro. (pp. 363-374). Lisboa: Editorial Caminho.

Praia das Mas, Outubro de 2011 urea Ado

Apresentao

por Justino de Magalhes ......................... 5

Introduo

por urea Ado ...................... 11

ndice cronolgico ........ 41

ndice temtico ............. 412

ndice onomstico ........ 456

ndice cronolgico

1945 ......................... 41

1946 ......................... 53

1947 ......................... 62

1948 ......................... 75

1949 ......................... 84

1950 ......................... 92

1951 ......................... 101

1952 ......................... 110

1953 ......................... 121

1954 ......................... 131

1955 ......................... 140

1956 ......................... 150

1957 ......................... 167

1958 ......................... 181

1959 ......................... 197

1960 ......................... 210

1961 ......................... 226

1962 ......................... 235

1963 ......................... 260

1964 ......................... 277

1965 ......................... 294

1966 ......................... 310

1967 ......................... 330

1968 ......................... 347

1969 ......................... 382

A Educao nos artigos de jornaldurante o Estado Novo (1945-1969) 41

1945ndice cronolgico: 19451 03-01-45, Simes, Joo Gas-

par, A poesia e o ensino (art. opinio), DL, 9

2 03-01-45, A mocidade saber construir olhos no futuro (dis-curso), DM, 1, 2

3 03-01-45, Leal, Antnio, Ilu-ses sobre a pureza dos m-todos sintticos e analticos (art. opinio), N, 1, 2/S

4 03-01-45, Oliveira, A. Correia de A., A reforma dos liceus Questes preliminares (art. opinio), N, 1, 6

5 03-01-45, Mensagem mo-cidade portuguesa (discurso), N, 4

6 03-01-45, Vai ser realidade o Jardim Universitrio de Belas--Artes criado por Guilherme Felipe (notcia), R, 4

7 03-01-45, Cunha Jnior, Jos Nabais da, O velho tema da proteco infncia (art. opi-nio), R, 5

8 04-01-45, Barros, Joo de, Analfabetismo (art. opinio), DL, 1

9 04-01-45, Danielle, Cantinho das raparigas (art. opinio), R, 3

10 04-01-45, Conselhos s mes A instruo da crian-a (art. opinio), R, 3

11 05-01-45, Educao e ensi-no (estudo), CP, 4

12 06-01-45, Silva, J. Serras e, O mestre-escola educador (art. opinio), N, 1, 4

13 07-01-45, U.P., Todos os ves-tgios da educao nazi sero eliminados (notcia), DL, 4

14 07-01-45, Oliveira, A. Correia de A., A reforma dos liceus Questes preliminares (art. opinio), N, 1

15 07-01-45, U.P., Todos os ves-tgios do sistema de educao do nacional-socialismo sero eli-minados, diz a Voz do Governo Militar Aliado (notcia), R, 4

16 08-01-45, Rodrigues, Manuel L., A preocupao ortogrfica dos portugueses (art. opi-nio), DN, 1, 2

17 08-01-45, Passos, Verglio, Educao chinesa (estudo), R, 3

18 09-01-45, Paixo, Braga, Es-tatstica da educao (art. opinio), DM, 1, 6

19 09-01-45, A criana na escola e na famlia (art. opinio), N, 1, 4/S

20 09-01-45, Anjo, Csar, O es-tudo da histria (art. opinio), R, 1

21 13-01-45, Barros, Joo de, Narcisismos (art. opinio), DL, 1

22 13-01-45, Silva, J. Serras e, Educao moral na escola (art. opinio), N, 1

23 14-01-45, Baltazar, Ligeirs-simo comentrio sobre a ju-ventude. Mais e melhor. Mais at serem todos; melhor at serem um por Portugal! (art. opinio), DM, 3, 4

24 14-01-45, O Grande Teatro del Mundo ser apresentado amanh e na tera-feira pelo Teatro dos Estudantes da Uni-versidade de Coimbra (entre-vista), R, 4

25 16-01-45, J.M.A., O problema das escolas catlicas na Ingla-terra (art. opinio), N, 1

26 17-01-45, Literatura e educa-o (editorial), N, 1/S

27 18-01-45, Lima, Dinah Santos, A voz da mulher Mulher e profisses (art. opinio), R, 7

28 18-01-45, A Escola Colonial que foi fundada h 39 anos tem prestado ao pas assinala-dos servios (notcia), S, 1

29 20-01-45, Silva, J. Serras e, Economia de tempo na esco-la (art. opinio), N, 1

30 22-01-45, Ao abandonar o en-sino a professora D. Helena Ro-que Gameiro Leito de Barros foi homenageada pelas suas antigas alunas (notcia), DN, 4

31 22-01-45, Antigas alunas ho-menageiam a sua dedicada professora sr. D. Helena Ro-que Gameiro Leito de Barros (notcia), S, 1, 3

32 23-01-45, memria de An-tnio Figueirinhas (art. opi-nio), N, 1

33 23-01-45, A Universidade Ca-tlica de Lovaina no teve que fazer depuraes no seu elen-co professoral (notcia), N, 6

34 24-01-45, Representao ao sr. Ministro da Educao (no-tcia), N, 1

35 24-01-45, A recente reforma escolar primria em Espanha (art. opinio), N, 3

36 24-01-45, Anjo, Csar, O en-sino da Histria (art. opinio), R, 1

37 25-01-45, Faria, Dutra, A Mo-cidade Portuguesa imperial e slida (art. opinio), DM, 1, 3

38 25-01-45, Oliveira, A. Correia de A., A reforma dos liceus Questes preliminares (art. opinio), N, 1

39 26-01-45, Silva, Jos da, O problema do ensino (estudo), R, 3

40 26-01-45, A Escola do Magis-trio Primrio de vora ser transformada numa escola modelo (notcia), S, 1

41 27-01-45, As novas comis-ses da Junta Nacional de Educao tomaram ontem posse (notcia), CP, 5

42 27-01-45, Baltazar, O proble-ma da educao fsica visto por um leigo (art. opinio), DM, 1, 4

43 27-01-45, Silva, J. Serras e, O trabalho pessoal (art. opi-nio), N, 1

urea Ado42

44 28-01-45, Pimentel, Fernando Alberto, Um amigo da infn-cia (estudo), R, 3

45 30-01-45, A originalidade de D. Bosco como educador (art. opinio), N, 1/S

46 31-01-45, Na Escola Colonial presidiu cerimnia de distri-buio de prmios aos alunos mais distintos o sr. Subsecre-trio de Estado das Colnias (reportagem), S, 1, 2

47 01-02-45, Silva, Jorge Ferrei-ra e, Ambiente escolar. Sua aco no desenvolvimento da criana (estudo), R, 1

48 02-02-45, Um jardim-escola vai ser construdo em Tomar (notcia), DN, 2

49 02-02-45, Oliveira, A. Correia de A., A reforma dos liceus Questes preliminares (art. opinio), N, 1

50 02-02-45, Que passe cate-goria de provincial o Liceu de Heitor Pinto o pedido de uma comisso da Covilh ao sr. Mi-nistro da Educao (notcia), S, 1

51 03-02-45, Torres, Pinheiro, A obra educadora de Dom Bos-co (estudo), CP, 1

52 03-02-45, Bernardes, Arman-do, Educao e os seus fins. A Escola Nova. Ligeiras consi-deraes chamando a aten-o para o problema (art. opi-nio), DN, 1, 2

53 03-02-45, Silva, J. Serras e, Como valorizar a escola (art. opinio), N, 1

54 03-02-45, Veloso, Maria de Lourdes Rocha, A educao musical (art. opinio), N, 5

55 03-02-45, Pelos universit-rios de todo o mundo (not-cia), N, 6

56 03-02-45, A zona de Barlaven-to do Algarve deseja que seja elevado a provincial o Liceu Municipal Infante de Sagres, em Portimo (notcia), S, 1

57 05-02-45, Figueiredo, Palma de, Temas de educao fsi-ca (art. opinio), N, 3

58 05-02-45, Faleceu ontem o Prof. Dr. Pedro Jos da Cunha (notcia), N, 3

59 06-02-45, Confisses de San-to Agostinho Prevenes aos pais e aos educadores (estu-do), N, 1/S

60 06-02-45, As nossas escolas precisam de se compenetrar da sua grave misso de pre-parar homens para a aco colonial afirmou o sr. Prof. Dr. Marcello Caetano no acto de posse de dois altos funcion-rios do seu Ministrio (reporta-gem), S, 1, 4

61 09-02-45, Rodrigues, J. Cas-tro, A velha Tuna Acadmi-ca de Lisboa despede-se em Maio (notcia), DL, 11

62 09-02-45, Em prol da educa-o infantil (notcia), R, 3

63 10-02-45, Faria, Dutra, Efici-ncia da Mocidade (art. opi-nio), DM, 1, 3

64 10-02-45, Silva, J. Serras e, Para valorizar a escola (art. opinio), N, 1

65 10-02-45, Casimiro, Augusto, Rcita de estudantes (art. opinio), R, 1, 4

66 11-02-45, Novas descobertas da biologia educacional (estu-do), R, 3

67 12-02-45, Oliveira, A. Correia de A., A reforma dos liceus Questes preliminares (art. opinio), N, 1, 4

68 14-02-45, Anjo, Csar, Inicia-tiva particular (art. opinio), R, 1

69 16-02-45, Oliveira, A. Correia de A., Professores agregados dos liceus (art. opinio), N, 1

70 17-02-45, Educao nacio-nal. Lugares vagos em escolas do ensino primrio (notcia), CP, 5

71 17-02-45, Escola (editorial), DM, 1, 6

72 17-02-45, Silva, J. Serras e, A escola e o exame (art. opi-nio), N, 1

73 19-02-45, Casimiro, Augusto, A guerra e as crianas (art. opinio), R, 1

74 21-02-45, A Cidade do futu-ro (editorial), DL, 1

75 21-02-45, Vai ser criada uma Escola do Magistrio Primrio no Algarve Assim o prometeu o sr. Ministro da Educao (notcia), S, 1

76 23-02-45, Ramos, Joo de Deus, Em prol da educao infantil A vida de um apsto-lo (art. opinio), CP, 1

77 24-02-45, Lucena, Armando de, Iniciativas da Mocidade Portuguesa Os sales de educao esttica (art. opi-nio), DN, 1

78 24-02-45, Silva, J. Serras e, Na escola nem s instruo (art. opinio), N, 1

79 26-02-45, Problemas de instruo Os directores e proprietrios dos colgios par-ticulares fizeram hoje diversos pedidos ao sr. Ministro da Educao Nacional (notcia), DL, 7

80 26-02-45, Ensino secund-rio (notcia), R, 1

81 27-02-45, O sr. Ministro da Educao Nacional recebeu ontem os directores e proprie-trios dos colgios particula-res (notcia), CP, 5

82 27-