a educação no brasil império

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    Histria da Educao, ASPHE/FaE/UFPel, Pelotas, v. 13, n. 28 p. 105-133, Maio/Ago 2009.Disponvel em: http//fae.ufpel.edu.br/asphe

    A EDUCAO NO BRASIL IMPRIO:ANLISE DA ORGANIZAO DA INSTRUONA PROVNCIA DE MINAS GERAIS (1850-1889)

    Renata Fernandes Maia de AndradeCarlos Henrique de Carvalho

    ResumoEste texto se prope a discutir as polticas para a instruo naProvncia de Minas Gerais, entre 1850 a 1889. Para isso utilizamoscomo principal fonte de pesquisa a legislao educacional produzida

    no perodo recortado. atravs deste manancial que identificamos asconcepes de educao do governo mineiro na segunda metade dosculo XIX. Tais documentos foram fundamentais para acompreenso de importantes facetas das polticas provinciais para ainstruo, tais como profisso docente e s escolas normais; aorganizao administrativa; a instruo pblica e particular dentreoutras apontadas e discutidas ao longo trabalho.

    Palavras-chave: Instruo; Sculo XIX; Minas Gerais, Legislao.

    THE EDUCATION IN BRAZIL S MONARCHY:ANALYSIS OF THE INSTRUCTION ORGANIZATIONIN THE PROVINCE OF MINAS GERAIS (1850-1889)

    AbstractThis text intends to analyze the politics of public instruction in theProvince of Minas Gerais among 1850 to 1889. For that we used asmain research source the educational legislation produced in the cutout period. It is through this spring that we identified the educationconceptions and the mining government's civilization in the secondhalf of the century XIX.Such documents form fundamental for the understanding ofimportant facets of the provincial politics for the instruction, such asto the educational profession and the normal schools; theadministrative organization; the public and private instructionamong another pointed and discussed to the long work.

    Keywords: Instruction; Century XIX; Minas Gerais; Legislation.

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    LA EDUCACIN EN BRASIL IMPRIO: ANLISISDE LA ORGANIZACIN DE LA INSTRUCCIN

    EN LA PROVNCIA DE MINAS GERAIS (1850-1889).Resumen

    Este texto se propone discutir las polticas para la instruccin en LaProvncia de Minas Gerais, entre 1850 y 1889. Para eso utilizamoscomo principal fuente de pesquisa la legislacin educacionalproduzida en el perodo recortado. Es atravs de este manancial queidentificamos las concepciones de educacin del gobierno minero enla segunda mitad del siglo XIX. Tales documentos fueronfundamentales para la comprensin de importantes faces de laspolticas provinciales para la instruccin, tales como la profesindocente y las escuelas normales; la organizacin administrativa; lainstruccin pblica y particular entre otras apuntadas y discutidas a

    lo largo del trabajo.Palabras-clave: Instruccin; Siglo XIX; Minas Gerais, Legislacin.

    LDUCATION AU BRSIL EMPIRE: ANALYSEDE LORGANISATION DE LINSTRUCTION

    DANS LA PROVINCE DE MINAS GERAIS (1850-1889)RsumCe texte discute les politiques pour linstruction dans la province deMinas Gerais entre 1850 et 1889. Pour ce faire on utilise como

    source premire de recherche lensemble des lois concernantlducation produites dans cette priode. On y identifie lesconceptions dducation du gouvernement de Minas Gerais dans laseconde moiti du XIXme sicle. Ces documents ont tfondamentaux pous la comprhension daspects importants despolitiques provinciales pour linstruction, tels que le mtier deprofesseur, les coles normales, lorganisation administrative,linstruction publique et prive entre autres.

    Mots-Cls: Instruction; XIXmesicle; Minas Gerais; Lgislation.

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    Introduo

    Este texto se prope analisar alguns aspectos da polticaeducacional mineira na segunda metade do sculo XIX. Aorecorrermos ao tema da histria das polticas pblicas ligadas educao, o fazemos tendo em vista a centralidade da ao polticano campo da instruo naquele momento na ento Provncia deMinas Gerais. Esta centralidade, dada educao, pode seraquilatada pelo volume do marco legal produzido para, pelo menos

    em termos legais, expandir o processo de escolarizao naProvncia mineira.

    Nessa perspectiva, o objetivo da nossa abordagem incidesobre o processo de escolarizao na Provncia de Minas Gerais, apartir das aes do Governo mineiro. O desenvolvimentoeducacional da regio constitui-se no objeto privilegiado desteestudo. Portanto, somente as iniciativas do Governo de MinasGerais sero trazidas cena nesse artigo.

    , pois, nossa inteno apresentar a situao daeducao em Minas Gerais, entre 1850 a 1889, buscandocompreender as propostas que nortearam a organizao escolar naProvncia mineira e quais eram os recursos financeiros utilizadospara a manuteno das escolas, bem como que tipo de indivduo sepretendia por meio da educao.

    Vale ressaltar que no podemos analisar adequadamente

    a poltica educacional se partirmos apenas das intenes expressaspela legislao ou declaradas pelas autoridades nos documentosoficiais, principalmente nos relatrios dos Presidentes deProvncia. Geralmente, essas declaraes deixam transparecercerta autonomia do setor educacional, o que no corresponde realidade. Assim, importante identificar as lacunas existentesentre o que estava estabelecido pelo marco com a real situaoeducacional mineira, isto , as contradies relativas aos objetivos

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    proclamados e as reais intenes dos responsveis pela conduopoltica da Provncia.

    O Brasil a partir de 1822 se constitua em um pas

    recm independente que buscava e necessitava estruturar-se. AProclamao da Independncia significou o rompimento com oantigo regime e a instaurao de uma nova ordem administrativa,jurdica e institucional.

    Dentre os vrios meios que possibilitaram essaestruturao estava a instruo pblica, considerada uma peanodal na construo do Estado nacional e de um povo civilizado.

    Nesse sentido [...] necessrio compreender aescolarizao como um momento/uma forma deproduo do prprio Estado moderno e no apenas comouma forma de atuao deste mesmo Estado.1

    O perodo Imperial se constitui como um momento deintensos debates sobre a necessidade de escolarizao da populaolivre. O Brasil do sculo XIX marcado pela busca do

    ordenamento legal e pelos investimentos financeiros no campoeducativo, mobilizando dirigentes provinciais e da capital doImprio.

    1 Legislao

    A partir do Ato Adicional de 1834, as Provncias

    tiveram a permisso de legislar sobre a instruo. Neste sentido apartir de 1835 iniciou-se as primeiras medidas legislativas sobre ainstruo nas Provncias.

    1 FARIA FILHO, L. M. de. O Processo de Escolarizao em Minas Gerais:Questes Terico-metodolgicas e Perspectivas de Anlise. In.: Histria e

    Historiografia da Educao no Brasil.VEIGA, C., FONSECA, T. N. de L. e.

    (orgs.). Belo Horizonte: Autntica, 2003b. p. 80.

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    [...] a partir de 1835 e ao longo de todo o Imprio, asAssemblias Provinciais e os presidentes das provnciasfizeram publicar um numero significativo de textos legais,levando-nos a acreditar que a normatizao legal

    constitui-se numa das principais formas de intervenodo Estado no servio da instruo.2

    A partir de ento, Minas Gerais, inicia, via legislao, odesenvolvimento da instruo pblica na Provncia. Assim como omovimento ocorrido no restante das Provncias que compunham oimprio, os governantes mineiros interessados na escolarizao dapopulao livre foram produzindo o lugar da escola na sociedadeatravs dos discursos e aes legislativas. A escola assumiu oencargo de ensinar a ler, escrever, contar, regras de civilidade,moralidade e religio. Os princpios polticos e morais eramensinados durante as lies de leitura e escrita, sendo os escritosreligiosos e a Constituio Poltica do Brasil os textos privilegiadosna escola.

    Dotar a Provncia de novas leis de instruo no

    significou apenas o estabelecimento de uma poltica educacionalem Minas Gerais, significou, sobretudo, constituir um arcabouotcnico e burocrtico para administrar este setor do serviopblico. Os rgos estatais criados se transformaram emestruturas de poder e a principal referncia sobre os saberes arespeito da instruo.

    No perodo estudado, encontramos diversasreestruturaes do sistema escolar atravs das leis, regulamentos e

    portarias para a instruo. A legislao era o mecanismo que davaorganicidade aos diversos nveis de ensino, mas era, sobretudo,capaz de regulamentar e normatizar questes ligadas a contedos,mtodos e material didtico, chegando at mesmo a regulamentaro cotidiano escolar, os horrios e a diviso do tempo. Essa

    2FARIA FILHO, L. M. de. Instruo Elementar no sculo XIX. In: LOPES,E. M. T., FARIA FILHO, L. M. de, VEIGA, C. G. (orgs.). 500 Anos de

    Educao no Brasil.Belo Horizonte: Autntica, 2003a. p. 137.

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    legislao tambm foi responsvel por implantar uma rede defiscalizao que buscava garantir o controle e avaliao das escolas.

    Privilegiaremos a lei como fonte documental, ao enfoc-

    la em suas mltiplas dimenses, concebendo-a no apenas como aexpresso e imposio dos setores dominantes, mas tambm comoum espao privilegiado para pens-la como ordenadora de novasprticas sociais. Essa perspectiva abre a possibilidade de relacionar,no campo educativo e via legislao, o fazer pedaggico que vaidesde a criao de rgos especficos para a fiscalizao escolar atas prticas escolares desenvolvidas. de suma importnciaconfrontar e relacionar as leis no contexto em que foramproduzidas, pois mantm permanente dilogo com as mltiplasdimenses do cenrio mineiro. Tal entendimento possibilita situarhistoricamente o papel da legislao, bem como os sujeitos nelaenvolvidos.

    Os estudos sobre a Histria da Educao Brasileira dosculo XIX demonstram que no perodo Imperial, vrias provnciasdebatiam a respeito da necessidade de escolarizar a populao. As

    atividades legislativas das Assemblias Provinciais foram intensasna busca do ordenamento legal da instruo. As leis e decretosprovinciais que, por exemplo, tornavam obrigatria a freqnciadas crianas as escolas e dos professores as escolas normais,evidenciam uma relativa preocupao dos dirigentes mineiros coma escolarizao da Provncia. De igual modo, preciso destacar oslimites enfrentados por aqueles que procuravam levar a educao maioria da populao livre. Os limites esto relacionados a

    sociedade escravista daquele contexto e as dificuldades financeiraspara investimento de recursos na instruo pblica.

    No levantamento da legislao, em Minas Gerais,observamos tipos especficos de leis. Identificamos osregulamentos, as portarias, e a lei propriamente dita entre outrosatos legislativos. Os primeiros, de acordo com Bueno3no so leis,

    3BUENO, J. A. P.Direito Pblico Brasileiro e Anlise da Constituio do Imprio.

    Braslia: Senado Federal, 1978.

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    mas atos administrativos do poder executivo que estabelecemdetalhes e meios convenientes para que as leis tenham efetivaexecuo. As portarias, por sua vez, so instrues acerca da

    aplicao de leis ou regulamentos, so recomendaes de cartergeral. E, por fim, as leis que eram discutidas e aprovadas pelaAssemblia Provincial a partir de um projeto do poder executivo, equando aprovadas, sancionadas e publicadas pelo Presidente daProvncia.

    Em todo o perodo o carter poltico de interveno legalbaseava-se em um aspecto fundamental: a de que a lei serianecessria para que as instituies governamentais interviessemsobre a populao com o objetivo de civiliz-la, preparando-a paracontribuir com o progresso da nao. Outra caracterstica dalegislao, nesse perodo, a conotao pedaggica da lei. Essano era produzida para garantir direitos, mas sim moldar ocarter, ordenar as relaes sociais e civilizar o povo.

    Nesse contexto, produzir uma legislao escolar era umdos meios de se construir e estruturar o Estado, bem como o meio

    de ao do governo nesse ramo do servio pblico. SegundoLuciano Mendes de Faria Filho4, a lei, ao mesmo tempo,construa e desconstrua significados sociais, ou seja, transformavae resignificava concepes como escola e professor.Concomitantemente, a legislao estabelecia e delimitava novasidentidades profissionais, rgos e cargos especficos, expressandoo que deveria ser um profissional da educao.

    Na segunda metade do sculo XIX Minas Gerais

    marcada por uma intensa preocupao de reformular a legislao.Diversos regulamentos, leis, portarias e resolues buscavam criarum marco jurdico para o processo de escolarizao na Provncia.

    4FARIA FILHO, L. M. de. A Legislao Escolar como Fonte para a Histriada Educao: Uma tentativa de Interpretao. In: VIDAL, D. G. GONDRA, J.G., FARIA FILHO, L. M. de, DUARTE, R. H. Educao, Modernidade e

    Civilizao: Fontes e Perspectivas de Anlise. Belo Horizonte: Autntica, 1998.

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    Segundo Faria Filho5entre 1835 a 1889 foram produzidos quase500 textos legais. Ainda segundo o mesmo autor:

    Produzir a legislao e defender as reformas do servio dainstruo foram, e so, fundamentalmente, as maneirasde produzir o fenmeno educativo escolar comocomponente das polticas do Estado. So formas,tambm, de buscar prever e controlar a escolarizao apartir dos saberes dominados pelos gestores dos benspblicos.6

    A legislao escolar funcionava como meio de se trazer

    progressos futuros, isto , solucionaria os problemas do presentepara que assim, se alcanasse um futuro civilizado. Esse momentoscio-poltico da histria brasileira e, em particular a mineira, marcada pela idia de que atravs da lei e da instruo sesolucionaria os vrios empecilhos que dificultavam o progresso e odesenvolvimento do pas. Na anlise das fontes, percebe-se que apoltica educacional mineira no pretendia apenas dotar aProvncia de novas leis de instruo objetivava, sobretudo,

    estruturar todo um aparato tcnico e burocrtico para lidar comeste setor do servio pblico.

    Atravs da legislao, percebemos que a polticaeducacional refletia as mudanas ocorridas no cargo da presidnciada provncia. Quase todos os presidentes provinciais ao assumiremo cargo publicavam novas leis para a instruo.

    Pelo quadro a abaixo possvel perceber, em umprimeiro momento, um vasto nmero de leis, regulamentos eportarias publicadas no perodo estudado. De igual modo, notamosque a rotatividade no cargo presidencial era intensa, pois de acordo

    5FARIA FILHO, Luciano Mendes de. O Processo de Escolarizao em MinasGerais:Questes Terico-metodolgicas e Perspectivas de Anlise. In: VEIGA,C. G., FONSECA, T. N. de L. (orgs.).Historia e Historiografia da Educao no

    Brasil. Belo Horizonte: Autntica, 2003.

    6Idem. Ibidem. p. 82.

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    com o ano da publicao da legislao percebemos que a mdia depermanncia no cargo era de 1 ano. Com esses dados ainda possvel inferir que outros presidentes ocuparam os cargos no

    intervalo dos anos. Dos 15 presidentes identificados nas fontes,13 publicaram Regulamentos sobre a instruo. Da mesma forma,quase todos publicaram Leis para a educao. medida que novospresidentes assumiam o cargo, novas Leis e Regulamentos foramaprovados. Essa incessante legislao favorecia a heterogeneidade ainstruo na Provncia, bem como dificultava a suaimplementao. A seguir demonstraremos essa legislao.

    Quadro 1 - Leis e Regulamentos para a instruo aprovados pelosPresidentes de Provncia entre 1850-1889

    PresidentesLeis, Regulamentos ePortarias

    Ano

    Jos Ricardo de S Rego Lei n. 516 10 de setembro de 1851Jos Lopes da Silva Viana(vice-prsidente)

    Lei n. 624 08 de maio de 1853

    Regulamento n. 27 04 de janeiro de 1854Regulamento n. 28 10 de janeiro de 1854

    Regulamento n. 33 15 de janeiro de 1855Portaria 18 de janeiro de 1854Portaria 21 de janeiro de 1854Portarias 27 de janeiro de 1854Portaria 21 de fevereiro de 1854Portaria 31 de maro de 1854Portaria 21 de julho de 1854Portaria 10 de agosto de 1854Portaria 09 de fevereiro de 1855

    Francisco Diogo Pereirade Vasconcelos

    Portaria 05 de maio de 1855Portaria n. 40, 41,42, 43 e 44

    27 de julho de 1857

    Portaria n. 47 11 de agosto de 1857Portaria n. 48 17 de agosto de 1857Portaria n. 51, 52, 53e 54

    12 de setembro 1857

    Portaria n. 55 14 de setembro de 1857Portaria n. 59 28 de setembro de 1857

    Herculano Ferreira Pena

    Portaria n 63 e 64 09 de outubro de 1857

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    PresidentesLeis, Regulamentos ePortarias

    Ano

    Portaria n. 65 24 de outubro de 1857Portaria n. 67 06 de novembro de 1857Portaria n. 68 20 de novembro de 1857Portaria n. 70 21 de novembro de 1857Portaria n. 71 14 de dezembro de 1857Regulamento n. 41 16 de maio de 1857Portaria n. 37 21 de junho de 1858Portaria n. 64 17 de setembro de 1858Portaria n. 74 27 de outubro de 1858Portaria n. 89 e 92 17 de dezembro de 1858

    Carlos Carneiro Campos

    Regulamento n. 44 03 de abril de 1859Lei n. 1.064 04 de outubro de 1860Vicente Pires da MotaRegulamento n. 49 04 de outubro de 1860

    Jos da Costa Machado eSousa

    Regulamento n. 56 10 de maio de 1867

    Jos Maria Corra de S eBenevides

    Lei n. 1.618 02 de novembro de 1869

    Lei n. 1.769 04 de abril de 1871Antonio Luiz Affonso deCarvalho Regulamento n. 60 26 de abril de 1871

    Joaquim Pires MachadoPortela Regulamento n. 62 11 de abril de 1872

    Regulamento n. 65 14 de agosto de 1872Joaquim Floriano deGodi Lei n. 1892 17 de julho de 1872Pedro Vicente de Azevedo Lei n. 2.166 20 de novembro de 1875

    Lei n. 2.228 14 de junho de 1876Regulamento n. 75 16 de setembro de 1876Baro Vila da BarraRegulamento n. 77 03 de novembro de 1876Regulamento n. 84 21 de maro de 1879Manoel Jos Gomes

    Rebello Horta Lei n. 2.543 06 de dezembro de 1879Lei n. 2.634 07 de janeiro de 1880Regulamento n. 88 13 de janeiro de 1880

    Joaquim Jos deSantAnna

    Regulamento n. 90 18 de novembro de 1880Regulamento n. 96 07 de dezembro de 1881Joo Florentino Meira de

    Vasconcelos Regulamento n. 93 29 de julho de 1881Regulamento n. 98 20 de abril de 1883Lei n. 3.118 18 de outubro de 1883

    Antonio GonalvesChaves

    Regulamento n. 100 19 de junho de 1883Fonte: Fonte: ARQUIVO PBLICO MINEIRO (APM). Colees de Leis,Resolues e Regulamentos da Provncia de Minas Gerais (1835-1889). 55 vols.

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    Estrutura Administrativa

    O movimento de configurao da instruo em Minas

    Gerais, entre os anos cinqenta e oitenta, esteve atrelado a umadiscusso que ocorria em todo o Imprio, isto , tornar o Brasilum pas moderno e civilizado. Nos discursos, a educao foiconsiderada um dos meios mais importantes para que tal objetivofosse alcanado.

    Ao se propugnar em favor de uma outra organizaopara a instruo, observa-se tambm, a necessidadede estruturaradministrativamente o governo para que assim, o mesmo pudesseatuar mais de perto sobre essa esfera do servio pblico. Fazemosesta afirmativa, pois no trabalho com as fontes percebemos que aestrutura administrativa por vezes reestruturada. A legislaodescreve todo o aparato que daria suporte a administrao efiscalizao da instruo.

    Durante o perodo estudado, identificamos que alegislao descreve de forma minuciosa todo o aparato burocrtico

    e fiscal ao qual a instruo e seus agentes estavam subordinados.rgos, secretarias, reparties e hierarquias foram criadas paraatuar junto a educao. A seguir, demonstraremos essa estrutura.

    Quadro 2 - Leis e Regulamentosque estruturam administrativamente a instruo

    Leis e/ouRegulamentos

    Estruturaadministrativa

    Presidente emexerccio

    Regulamento n. 28 de

    10 de janeiro de 1854

    Diretoria Geral da

    Instruo Pblica

    Francisco Diogo Pereira

    de VasconcelosRegulamento n. 44 de03 de abril de 1859

    Agncia Geral daInstruo Pblica

    Carlos Carneiro Campos

    Regulamento n. 56 de10 de maio de 1867

    Diretoria Geral daInstruo Pblica

    Jos da Costa Machado eSousa

    Regulamento n. 60 de26 de abril de 1871

    Inspetoria Geral daInstruo Pblica

    Antonio Luiz Affonsode Carvalho

    Fonte: ARQUIVO PBLICO MINEIRO (APM). Colees de Leis,Resolues e Regulamentos da Provncia de Minas Gerais (1835-1889). 55 vols.

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    Devido limitao do espao no podemos demonstrartoda a estrutura hierrquica criada a partir da estruturao dorgo especfico para a instruo, pois essa perpassava desde o

    Presidente da Provncia at os responsveis por fiscalizarmensalmente as escolas. Mas, importante destacar que todos osfuncionrios que estavam subordinados a essa estrutura tambmeram alterados. Assim, todas as vezes que se alterava essa estruturaadministrativa, toda a hierarquia fiscal e burocrtica tambm sealterava ora aumentava-se o nmero de funcionrios e ora osdiminuindo. Por outro lado, se analisarmos os perodos defuncionamento desses rgos, perceberemos que foram longos,portanto, o Presidente era alterado, mas os agentes daadministrao permaneciam e davam continuidade aos trabalhos.

    Comparando os Quadros I e II percebemos que noforam todas as Leis e Regulamentos publicados que enfatizavam aestrutura administrativa. Ela por vezes mantida por presidentesde Provncia tal como Antnio Gonalves Chaves que noRegulamento n. 100 de 19 de junho de 1883 determina que a

    Inspetoria Geral da Instruo Pblica continue a ser o rgoresponsvel pela administrao e fiscalizao do ensino pblico eparticular. Mas, o que notamos com essas alteraes ummovimento de centralizao e descentralizao administrativa, poisem Regulamentos como o de n. 44 de 1859 a estrutura criadadescentraliza as funes da Agncia Geral da Instruo Pblicacriando diversas ramificaes para a estrutura burocrtica e fiscal.Por outro lado, o Regulamento n. 56 de 10 de maio de 1867

    cria apenas um responsvel por fiscalizar as escolas: os Delegados.7

    7Aos Delegados competia visitar as escolas pblicas pelo menos uma vez ao ms,impedir o funcionamento de escolas particulares ilegais, fazer executar atravs dos

    professores as leis e regulamentos da Provncia, entre outras atribuies.

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    2 Recursos Financeiros

    O recurso financeiro para a manuteno das escolas

    pblicas , por vezes, pouco debatido. Interessante observar que naliteratura h, por vezes, um desconhecimento quando se trata doinvestimento na educao no sculo XIX. Comumenteencontramos afirmaes que no havia financiamentos por partedo Governo na instruo. Na legislao especfica para ainstruo, essa questo quase no abordada. Mas, se recorrermosas leis que determinavam as receitas e despesas da Provncia, bemcomo aos poucos trabalhos como o de Diva Couto Gontijo Munizpublicado em 2002 nos Anais do I Congresso de Pesquisa eEnsino de Histria da Educao poderemos realizar algumascontribuies sobre esse aspecto.

    Quadro 3 - Despesa com a instruo entre 1850-1889

    AnoDespesa com ainstruo Pblica

    Despesa total daProvncia

    %

    1850 94:200$000 474:908$000 19.84

    1855 153:271$000 795:285$000 19.271860 201:000$000 1.200:000$000 16.751865 245:800$000 1.133:363$000 21.691870 518:000$000 1.685:303$000 30.741875 648:0000$000 2.573:000$000 25.181880 700:000$000 2.800:000$000 25.001885 1.026:523$000 3.302:240$000 31.91888 1.032:000$000 3.474:000$000 29.71Fonte: Fonte: ARQUIVO PBLICO MINEIRO (APM). Colees de Leis,

    Resolues e Regulamentos da Provncia de Minas Gerais (1835-1889). 55 volse MUNIZ, D. do C. G. Construindo diferenas: a escolarizao de meninos emeninas nas minas oitocentistas (1834-1889). In.: LOPES, A. A. B.,GONALVES, I. A., FARIA FILHO, L. M. de, XAVIER, M. do C. (orgs.).Histria da Educao e Minas Gerais. Belo Horizonte: FHCL/FUMEC, 2002.p. 304.

    Observam-se no quadro que as leis oramentrias entre1850 a 1889 despendem significativos valores para a manuteno

    das escolas. Demonstra esse aspecto o ano de 1885 onde a despesa

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    com a instruo consome 31.9% das despesas provinciais, seusvalores so inferiores apenas aos montantes destinados a seguranae obras pblicas. No entanto, mesmo abarcando grande

    porcentagem da receita provincial, esses valores ainda continuavamaqum das necessidades da Provncia em termos de atendimento demanda escolar.

    O primeiro texto legal a mencionar os recursosfinanceiros para a instruo no perodo de nossa pesquisa, refere-seao Regulamento n. 41 de 16 de maio de 1857. Em seus artigosaborda o que at ento no havia sido mencionado: o aluguel dascasas em que se davam as aulas. O artigo 22 determina que osprofessores recebam dos cofres provinciais quotas pr-definidas attulo de aluguel de casas, quando no houvesse em suaslocalidades prdios pblicos que abrigassem as aulas. Vejamos oque diz o artigo:

    Ao professores de Instruco primria percebero doCofre Provincial a Titulo de aluguel de casas para asaulas nos lugares, onde no houver edifcios pblicos, em

    que posso ser estabelecidas, a quantia que for fixada peloDirector Geral com approvao do Presidente,rescindindo-se os contractos de locao que tem sidofeitos por conta da Fazenda [...].8

    Nos locais onde j existiam contratos de aluguisfirmados, mas que os valores fossem maiores do que osdeterminados pelo Diretor Geral9 e aprovados pelo Presidente,seriam rescindidos. O valor dos aluguis era entregue aos

    8 ARQUIVO PBLICO MINEIRO (APM). Colees de Leis, Resolues eRegulamentos da Provncia de Minas Gerais (1835-1889). 55 vols.Regulamento n. 41 de 16 de maio de 1857.

    9O cargo d Diretor Geral da Instruo Pblica foi criado pelo Regulamento n.28 de 10 de janeiro de 1854. Era subordinado apenas ao Presidente da Provnciae se correspondia entre o Presidente, os Diretores dos Crculos e Diretores de

    estabelecimentos de instruo primria e secundria.

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    professores no momento do recebimento dos salrios. A leipermitia ainda que os mestres habitassem a mesma casa queserviria de escola, no entanto, deveriam reservar os cmodos

    necessrios para as aulas, perante aprovao dos Visitadores10e doDiretor do Crculo Literrio11. Com o quadro descrito acima elevando-se em considerao que as casas utilizadas para as aulassomente poderiam ser escolhidas a partir de um determinado valor,o local no seria escolhido por ser adequado a abrigar as crianas,o material didtico, os utenslios e os mveis, mas sim a partir dovalor do aluguel. Portarias que foram baixadas entre 1854 e 1855trazem tabelas com os salrios dos diretores dos liceus, professorese empregados da instruo pblica. No entanto, no foi possvelidentificar de onde viriam esses recursos.

    Os pagamentos dos salrios dos professores eramrealizados trimestralmente e baseado nos mapas de freqncia dosalunos que deveriam ser preenchidos e entregues comocondicionante para o recebimento dos ordenados. Caso osprofessores no preenchessem os mapas de acordo com as

    determinaes legais, ficariam sem receber. Para que isso noocorresse, segundo Luciano Mendes de Faria Filho, muitosprofessores lanavam nos mapas apenas o nmero mnimo exigidode alunos, mesmo estes no fossem freqentes s aulas, pois

    [...] tanto os inspetores e outras autoridades queriamimpor a legalidade nos atos dos professores, quanto estes

    10

    E cada parquia havia um Visitador nomeado pelo Presidente da Provncia esob proposta do Diretor Geral. A ele incumbia visitar as aulas de sua parquiasemanalmente, autorizar o pagamentos dos ordenados dos professores, averiguaros procedimentos dos professores, alugar casas para as aulas, inventariar osutenslios e objetos das escolas de sua parquia e conferir o julgamento dosprofessores.

    11Cargo criado pelo Regulamento n. 28 de 10 de janeiro de 1854. Haveria emcada Crculo Literrio em Diretor de Crculo, nomeados pelo Presidente daProvncia, sendo eles o centro de toda a correspondncia entre os Professores, os

    Visitadores do seu Crculo e o Diretor Geral.

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    utilizavam dos artifcios da lei para obter benefcios.Aqui, a burla e o cumprimento da lei no se distinguem.Exemplo claro disso so os relatrios de freqnciaproduzidos pelos professores. Produzidos em

    cumprimento s determinaes legais, aos mapas oulivros de freqncia esto vinculados, por sua vez, aospagamentos dos professores. Ao longo do sculo XIX, orecebimento do salrio estava condicionado apresentao de um determinado nmero de alunosfreqentes. A conseqncia disso que nenhum professorconfessava, atravs de seus mapas, uma freqncia menordo que aquela exigida por lei.12

    A compra de utenslios e objetos necessrios ao ensino,como mesas e cadeiras variava de acordo com cada legislao. NoRegulamento n.44 de 1859, por exemplo, seriam compradospelos professores, Visitadores, pais de famlia e demais membrosresidentes no local da escola. Isso pode explicar, de certa forma, acarncia de materiais bsicos ao ensino dos alunos, uma vez que osprprios moradores e professores deveriam mobiliar a escola comos materiais necessrios. O artigo 126 define:

    Estes utensis sero obtidos por meio de subscripopromovida pelos mesmos Professores e Visitadores entreos Paes-de-familia e outros interessados residentes dentroou junto das sobreditas povoaes.13

    Diante das dificuldades financeiras o Regulamento n.84 de 21 de maro de 1879 cria as caixas escolares. Seu objetivo

    12FARIA FILHO, L. M. de. A Legislao Escolar como Fonte para a Histriada Educao: Uma Tentativa de Interpretao. In.: VIDAL, D. G., GONDRA,

    J. G., FARIA FILHO, L. M. de, DUARTE, R. H. Educao, Modernidade eCivilizao: Fontes e Perspectivas de Anlise. Belo Horizonte: Autntica, 1998.p. 117.

    13ARQUIVO PBLICO MINEIRO (APM). Colees de Leis, Resolues eRegulamentos da Provncia de Minas Gerais (1835-1889). 55 vols.Regulamento n. 44 de 03 de abril 1859. Microfilme. Caixa n. 2 (1852-1860)

    flash 8.

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    era o depsito de valores vindos das multas, donativos e as quotasdos oramentos provincial e municipal para a aquisio demateriais e utenslios necessrios ao ensino de meninos pobres. Os

    conselhos paroquiais14 administrariam o dinheiro recolhido. Nasescolas haveria uma caixa econmica onde se guardaria a quantiarecebida pelos alunos de seus pais ou responsveis.

    3 Instruo Primria e Secundria

    A instruo primria e secundria abordada por quase

    todos as Leis e Regulamentos do Governo mineiro. Neles buscava-se regulamentar as disciplinas, seus contedos, chegando atmesmo a regulamentar o cotidiano escolar, os horrios e a divisodo tempo.

    As primeiras medidas legais da dcada de 1850 nomencionam a instruo primria. Apenas em uma portaria de 31de maro de 1854 que as disciplinas a serem lecionadas aparecem.Seriam elas:

    1 gro - Leitura, escripta, aritmtica, comprehedendosomente as autro operaes sobre os nmeros inteiros,cathecismo romano e regras de civilidade.15

    Um aspecto interessante presente no programa adisciplina Regras de Civilidade. Esse seria o momento destinado aincutir nos alunos os padres de comportamento considerados

    14 Os Conselhos Paroquiais foram criados pelo Regulamento n. 62 de 11 deabril de 1872 Eram compostos pelos Inspetores Paroquiais, o Proco, 1 Juiz dePaz e dois pais de famlia. Se reuniriam uma vez em cada trimestre e seriamresponsveis por auxiliar na fiscalizao das escolas.

    15ARQUIVO PBLICO MINEIRO (APM). Colees de Leis, Resolues eRegulamentos da Provncia de Minas Gerais (1835-1889). 55 vols. Portaria de

    31 de Maro de 1854. Microfilme. Caixa n. 2 ((1852-1860), flash 3.

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    necessrios e convenientes. Porm, no explicita com clareza qualo contedo a ser transmitido.

    A obrigatoriedade do ensino primrio determinada

    desde a primeira lei para a instruo de Minas Gerais publicada em1835. No perodo do nosso estudo essa obrigatoriedade mantida,bem como as punies para os pais ou responsveis que noenviassem seus filhos para a escola.

    Fato instigante, no que tange a legislao, se refere spoucas alteraes realizadas na instruo primria e secundria. Asdisciplinas que compunham os currculos do ensino primrio, porexemplo, so praticamente as mesmas desde 1835, isto , aprendera ler, escrever, contar, aritmtica e instruo moral e religiosa. Emalguns regulamentos foram includos preceitos de civilidade ehigiene, sistema mtrico, desenho linear e msica.

    A instruo primria sofre poucas alteraes nosRegulamentos aprovados no perodo estudado. As disciplinas que ocompunham quase no se alteram e o ensino deixa de existir emdois graus para apenas um. O Regulamento de n. 56 de 10 de

    maio de 1867, por exemplo, reestrutura a diviso da instruopblica na Provncia em: primria, primria superior e secundria.Outro exemplo a lei n. 1769 de 04 de abril de 1871 que dividea escola primria em trs classes. Para cada uma o vencimento dosprofessores seria diferenciado, bem como as exigncias para galgaras classes superiores. Na lei no so especificadas as disciplinasnem como e porque ficariam assim divididas.

    Nas dcadas de 1870 e 1880 surgem, na legislao, as

    escolas primrias para adultos e escolas em cadeias. Nas primeiras,jovens acima de 15 anos poderiam freqent-las, desde quetivessem que trabalhar junto com seus pais. Segundo os Relatriosde Provncia as aulas eram pouco freqentadas e mantidas porassociaes locais.

    Na segunda metade do sculo XIX a instruosecundria estruturada pelo Regulamento n. 27 de 04 dejaneiro de 1854. Nele cria-se um Liceu na capital provincial(Liceu Mineiro) onde se reuniriam as aulas secundrias avulsas.

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    A instruo secundria segue a mesma linha dainstruo primria. Poucas alteraes foram realizadas, no quetange ao currculo. A maior nfase dada pela legislao estava na

    criao e supresso dos liceus e externatos. Assim, osRegulamentos e Leis dedicam maior ateno reunio das aulasavulsas nos estabelecimentos ento criados. As alteraes vistas nalegislao dizem respeito ao tempo do curso e na incluso dedisciplinas como o italiano e o alemo. Mas, um aspectointeressante entre os Regulamentos diz respeito formao dosindivduos pelo ensino secundrio. O curso ensinava disciplinasmais tericas do que tcnicas, no os preparandoprofissionalmente. Assim, segundo Jos Murilo de Carvalho16, oservio pblico se tornou fonte de empregos, uma vez que osindivduos formados dentro desses parmetros teriamoportunidades de trabalho somente no servio pblico.

    4 Mtodos de Ensino

    Os mtodos de ensino so abordados por poucas Leis eRegulamentos em Minas Gerais. A partir de 1850 identificamosessa abordagem nas na Lei n. 1.064 de 1860, Regulamento n.56 de 1867 e Regulamento n. 62 de 1872. Em cada um dessesmomentos determina-se um mtodo a ser adotado. A Lei afirmavaque deveria ser utilizada a mescla dos mtodos simultneo, misto eindividual. Nota-se que no se explicita uma metodologia a ser

    adotada, abrindo a possibilidade para que o professor utilizasse oque melhor lhe conviesse. O Regulamento n. 56 de 1857determina a adoo somente do mtodo simultneo, maspossibilita sua alterao quando as realidades locais necessitassem.Por fim, o Regulamento n. 62 de 1872 determina a adoo do

    16CARVALHO, J. M. de. A Construo da Ordem/Teatro de Sombras. Rio de

    Janeiro: Civilizao Brasileira, 2003.

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    mtodo misto tambm permitindo a adoo de outros quandonecessrio.

    De acordo com Marcilaine Soares Incio [et al.]17 Os

    discursos pedaggicos, deste contexto, se detinham principalmentepela questo do mtodo de ensino, pois este conferia ao processode ensino e aprendizagem mais eficcia e eficincia. No entanto,na segunda metade do sculo XIX a adoo de uma metodologiade ensino no unnime e nem preocupava sobremaneira oslegisladores e os Presidentes de Provncia haja vista que em apenastrs momentos esse aspecto abordado. A partir disso,entendemos que os mtodos de ensino apresentavam-se comopropostas de organizao escolar e que diante da imposio deorganizarem suas aulas por esses mtodos, os professorespossivelmente remanejaram esses saberes pedaggicos, buscandoadapt-los as condies que possuam.

    5 Escolas Particulares

    As escolas particulares eram para o governo mineiro umaincgnita. Os Relatrios dos Presidentes de Provncia enfatizam ogrande nmero de escolas particulares existentes em Minas Gerais.No entanto, as de maior vulto sempre recebiam quantias razoveisde financiamento em troca de receberem determinado nmero dealunos pobres. No ano financeiro de 1857-1858, por exemplo, foigasto 1:740$000 com auxlio de diversas escolas particulares da

    Provncia. Diante dessas questes, a legislao buscouregulamentar o exerccio dessas escolas, bem como as formas decontrol-las. Assim, o primeiro Regulamento da dcada de 1850determinava que:

    17INCIO, M. S., ROSA, W. M., SALES, Z. E. S. de, FARIA FILHO, L.M. de. Escola, Poltica e Cultura: A Instruo Elementar nos Anos Iniciais do

    Imprio Brasileiro. Belo Horizonte: Argvmentvem, 2006.

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    Art. 27 Nenhum Collegio particular de Instrucoprimaria, secundaria, ou superior ser estabelecido, semlicena do Presidente da Provncia, precedendoinformao do Director Geral.18

    As escolas particulares somente poderiam ser abertasaps receberem licena do governo. J os Colgios que recebiamverbas do governo receberiam alunos pobres escolhidos peloPresidente da Provncia. Essa medida era de certa forma, um meiode tentar controlar o as escolas particulares, pois atravs daslicenas poderia-se controlar o nmero de escolas, bem como seu

    funcionamento, o nmero de matrcula e freqncia.No que tange ao ensino privado, um aspecto interessantechamou-nos a ateno. O Regulamento n. 44 de 1859 permitiaabrir escolas em colnias estrangeiras, todavia, era necessrio umaautorizao do Presidente da Provncia.

    No obstante, no centro duma populao colonialestrangeira, homogenea e compacta, poder o Presidenteda Provncia permittir que um ou mais individuos nocatholicos, mas nas devidas condies, estabeleo edirijo cadeiras ou collegios que hajo de ser frequentadossomente por educandos pertencentes familias, cujacrena religiosa distinta da Catholica e entretantopodero ser ahi admittidos como educandos externos,individuos catholicos que j tiveram maioridade legal,contanto que no se proponho frequentar aulas, cujamateria tiver mais ou menos proxima connexo com asquestes religiosas. Os collegios que acharem-se nestas

    condies no podero ser de modo algumsubvencionados.19

    18ARQUIVO PBLICO MINEIRO (APM). Colees de Leis, Resolues eRegulamentos da Provncia de Minas Gerais (1835-1889). 55 vols.Regulamento n. 28 de 10 de janeiro de 1854. Microfilme. Caixa n. 2 (1852-1860), flash 3.

    19

    ARQUIVO PBLICO MINEIRO (APM). Colees de Leis, Resolues eRegulamentos da Provncia de Minas Gerais (1835-1889). 55 vols.

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    No entanto, no decorrer do perodo estudado teremosmomento em que as medidas de controle foram ampliadas e emoutros foram flexibilizadas. A lei n. 1.618 de 02 de novembro de

    1869, por exemplo, possibilita a abertura de escolas privadas semprvia licena. Por sua vez, outros Regulamentos descrevemdiversas exigncias para se criar uma escola particular. Esse outro momento que se demonstra um processo de centralizao edescentralizao do governo, pois em alguns momentos buscou-secontrolar a ampliao da instruo particular na Provncia e emoutros, determinava-se a livre abertura de escolas privadas.

    6 Magistrio

    As fontes de pesquisa nos ajudaram a compreender aproduo do discurso sobre a necessidade de formar professorespara atuar na instruo. O modelo de professor forjado pela leideveria dominar os conhecimentos exigidos pela lei, ter uma moralexemplar, mas, sobretudo, freqentar a escola normal. Nomomento em que se exige a freqncia a essa instituio, ela passaa ser considerada o espao legtimo da produo e transmisso deum saber mais racionalizado e cientfico, que direcionava asprticas educativas. No interior das escolas normais se difundiriamos conhecimentos especificados nas Leis e nos Regulamentos, bemcomo dos mtodos de ensino capazes de ordenar o espao escolar.

    Segundo Walquria Miranda Rosa na segunda metade do

    sculo XIX, a escola normal passa a ser considerada o local detransmisso de um saber pedaggico que buscava racionalizar elegitimar as prticas educativas.

    Esta instituio teve uma grande importncia para ainstruo elementar no sculo XIX, sendo considerada

    Regulamento n. 44 de 03 de abril 1859. Microfilme. Caixa n. 2 (1852-1860)

    flash 8.

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    como o local de transmisso de um saber pedaggico quefoi sendo construdo na confluncia de diversos discursos.Foi o espao legitimado de produo e circulao de umsaber pedaggico que tentava racionalizar as prticas

    educativas, tendo como papel principal a formao dossujeitos que seriam autorizados a formarem as novasgeraes, atravs de transmisso de mtodos de ensino.Esse espao produziu aquilo que estamos chamando demodelo de professor e, ao mesmo tempo, desqualificou osmestres de primeiras letras.20

    Pela legislao foram criadas em Minas Gerais vrias

    escolas normais. Abaixo elaboramos um quadro que demonstraesse processo.

    Quadro 4 - Escolas Normais criadas por Leis e Regulamentos em MinasGerais entre 1850-1889

    Lei e/ou Regulamento Escola Normal

    Regulamento n. 44 de 1859Nas localidades onde houvesse mais de umaescola primria do 2 grau uma delas seriaconsiderada escola normal.

    Regulamento n. 62 de 1872 Cria uma escola normal em Ouro Preto emais duas em localidades a serem definidas.

    Regulamento n 84 de 1879

    Cria uma escola normal na cidade de MontesClaros e Paracatu, bem como define alocalidade das escolas criadas peloRegulamento n. 62 de 1872: Campanha eDiamantina.

    Lei n. 2783 de 1881 Cria a escola normal de UberabaLei n. 2794 de 1881 Cria a escola normal de SabarRegulamento n. 100 de 1883 Cria a escola normal de Juiz de ForaLei n. 3116 de 1883 Cria a escola de So Joo Del ReiFonte: ARQUIVO PBLICO MINEIRO (APM). Colees de Leis,Resolues e Regulamentos da Provncia de Minas Gerais (1835-1889). 55 vols.

    20ROSA, W. M. Representaes da Profisso Docente em Minas Gerais (1825-1852). In: GOUVA, M. C. S. de, VAGO, T. M. Histrias da Educao:

    Histrias de Escolarizao. Belo Horizonte, 2004. p. 21.

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    Por lei foram criadas ao todo 9 escolas normais. bemverdade que muitas delas no conseguiram manter-se emfuncionamento, mas representam um esforo em favor da

    melhoria qualitativa do ensino. De igual modo, as ampliaesdessas instituies, progressivamente, legitimam o papel dasescolas normais na formao dos professores e significar nodecorrer desse perodo a descentralizao no projeto de qualificaodocente.

    A legislao no focaliza somente a formaoprofissional dos professores, mas tambm havia a preocupao emexigir e regulamentar o comportamento e as formas de condutados professores. As exigncias para se tornar professor sofrepequenas alteraes durante o perodo estudado, tal como a idademnima para se exercer o magistrio. Porm, algumas questes sosempre reforadas: ser catlico, conduta moral exemplar, ser livre eno ter cometido crimes.

    Outro aspecto identificado na legislao refere-se ainsero da mulher no magistrio. No entanto, alm das

    exigncias descritas acima, a conduta moral das mulheres reforada. No caso das professoras, essa questo enfatizada, jque elas lecionariam para as meninas e seria uma das refernciaspara a boa conduta das garotas.

    7 Escolas Profissionalizantes

    Uma questo que nos chamou a ateno na legislaomineira nas dcadas de 1870 e 1880 se refere instruoprofissional. A partir de 1875 inicia-se a aprovao de Leis eRegulamentos que buscam estruturar a educao profissional emMinas Gerais. Por lei, foram criadas quatro Escolas Agrcolas, trsInstitutos de Menores Artfices e um Liceu de Artes e Ofcios. Aototal 8 instituies eram destinadas a ensinar habilidades comomarceneiro, ferreiro e agricultura. Durante o perodo estudado,

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    vrios Regulamentos foram publicados visando regulamentar ofuncionamento dessas instituies.

    De acordo com Joo Antonio de Paula e Fernando

    Saraiva21 Minas Gerais era a Provncia que mais concentravacativos no Brasil, e ao mesmo tempo, esta populao escrava erasempre inferior ao conjunto da populao livre. Isso, de certaforma, pode explicar a inteno de se criar escolas que pudessempreparar os livres e pobres e ex-escravos para o mercado detrabalho livre aps o fim da escravido.

    Nesse sentido, para inserir tanto o livre pobre quanto osex-escravos, era necessrio educ-los. Reivindicaes por ensinoprofissionalizante e escolas agrcolas podem ser compreendidasdentro dessa perspectiva. Educar e treinar o trabalhador nacional eo liberto poderia tornar possvel a incorporao dos mesmos aomercado de trabalho livre.

    Outro aspecto, tambm de responsabilidade das escolasprofissionalizantes, seria a transformao da percepo dos ex-escravos e do elemento nacional, acerca do trabalho, j que estes

    at ento, foram mantidos margem das atividades realizadas naProvncia e grande parte dos trabalhos era realizada pelos cativos.Dessa forma, tornou-se necessrio faz-los abandonar aagricultura de subsistncia e ingressar no trabalho disciplinado eorganizado das grandes plantaes, bem como nos serviosnecessrios Provncia.

    A instruo poderia incutir nos futuros trabalhadores oapreo ao trabalho. Com essa perspectiva Andr Simo corrobora:

    Os ingnuos e demais homens livres deveriam ser recuperados para

    21PAULA, J. A. de. Razes da Modernidade em Minas Gerais. Belo Horizonte:Autntica, 2000. SARAIVA, L. F. Estrutura de Terras e Transio doTrabalho em um Grande Centro Cafeeiro, Juiz de Fora 1870-1900.Anais do XSeminrio sobre a Economia Mineira. Belo Horizonte: CEDEPLAR/UFMG,

    2002.

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    Histria da Educao, ASPHE/FaE/UFPel, Pelotas, v. 13, n. 28 p. 105-133, Maio/Ago 2009.Disponvel em: http//fae.ufpel.edu.br/asphe

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    uma vida digna, uma vida de trabalho, por meio da educao.22Ainstruo era um dos instrumentos transformadores da populaopobre em relao ao trabalho e, para que isso acontecesse, as

    crianas e os homens deveriam ser educados dentro dessespressupostos: homens educados para o trabalho. No caso dasescolas agrcolas, a instruo tinha por objetivo tornar regular ofornecimento de mo-de-obra para o trabalho exigido na lavoura.J os Institutos de Menores Artfices e o Liceu de Artes e Ofciosformariam trabalhadores que produziriam as mercadoriasnecessrias ao consumo local, tal como o pedreiro na construocivil e o ferreiro na produo de utenslios usados na lavoura. Emsuma, o objetivo da instruo profissionalizante era tornar oshomens livres pobres e ex-escravos em homens teis Provncia.

    Consideraes Finais

    Ao longo da segunda metade do sculo XIX configurou-se na educao mineira um perodo caracterizado pela tentativa deorganizar e ampliar a instruo populao branca e livre. Pelalegislao buscou-se organizar uma estrutura educacional naProvncia.

    Ao se propugnar em favor de uma outra organizaopara a instruo, observa-se tambm, a necessidadede estruturaradministrativamente o governo para que assim, o mesmo pudesseatuar mais de perto sobre essa esfera do servio pblico. No

    perodo recortado para a pesquisa identificamos que a legislaodescreve, de forma minuciosa, todo o aparato burocrtico e fiscalao qual a educao e seus agentes estavam subordinados. rgos,secretarias e funcionrios so criados e reinventados para atuarjunto instruo.

    22SIMO, A. L. Minas Gerais e o Congresso Agrcola de 1878: Demandas,Temores e Percepes dos Produtores Rurais Mineiros. Anais do XI Seminrio

    sobre Economia Mineira. Belo Horizonte: CEDEPLAR/UFMG, 2004. p. 20.

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    Fato instigante, no que tange a legislao, se refere spoucas alteraes realizadas na instruo primria e secundria.Em alguns regulamentos foram includos preceitos de civilidade e

    higiene, sistema mtrico, desenho linear e msica. No perodo deestudo identificamos que as alteraes realizadas pela legislao sereferiam diviso da instruo primria em 1 e 2 graus.

    As fontes de pesquisa nos ajudaram a compreender aproduo do discurso sobre a necessidade de formar professorespara atuar na instruo pblica. A partir da nova organizao, osprofessores que pretendessem exercer o magistrio pblico eparticular, deveriam adquirir os conhecimentos estabelecidos pelalei e dominar os mtodos de ensino adotados na Provncia. Masdeveriam, sobretudo, freqentar a escola normal. Na segundametade do sculo XIX, a escola normal passa a considerada o localde transmisso de um saber pedaggico que buscava racionalizar elegitimar as prticas educativas.

    Fato interessante identificado na legislao mineira nasdcadas de 1870 e 1880 se refere instruo profissional. A partir

    de 1875 inicia-se a aprovao de leis e regulamentos que buscamestruturar a educao profissional em Minas Gerais. Nas dcadasfinais do Imprio, a maior nfase dada s escolasprofissionalizantes, tendo em vista a transio do trabalhoescravo para o trabalho livre. Mas, acreditamos que a preocupaomaior no era com a populao em si, mas sim com os rumos quea economia mineira iria seguir com essas transformaes, bemcomo um meio de se conseguir uma fora de trabalho

    qualificada, permanente e assdua.

    Fontes

    ARQUIVO PBLICO MINEIRO (APM). Colees de Leis,Resolues e Regulamentos da Provncia de Minas Gerais (1835-1889). 55 vols.

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    Renata Fernandes Maia de Andrade.Mestre em Educao peloPrograma de Ps-Graduao em Educao da UniversidadeFederal de Uberlndia.

    Carlos Henrique de Carvalho. Doutor em Histria pelaUniversidade de So Paulo (USP) e Professor da Faculdade deEducao e do Programa de Ps-Graduao em Educao daUniversidade Federal de Uberlndia (UFU).

    Data de recebimento: 10/10/2008Data de aceite:20/02/2009