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A EDUCAÇÃO INTERCULTURAL POR MEIO DE JOGOS, DANÇAS E LUTAS
ÉTNICAS NA FORMAÇÃO CONTINUADA INTERDISCIPLINAR DOS
PROFESSORES.
Maria Lucia Takasse 1
Giuliano de Assis Pimentel 2
RESUMO
O povo brasileiro abriga distintas etnias devido aos imigrantes de diferentes países e as
migrações internas, que os coloca em contato com uma grande variedade de características culturais.
Estas diferenças estão presentes também na escola, a convivência com essas diversidades culturais
promovem entre os educadores uma discussão de como diversificar as maneiras de ensino e
aprendizagem a fim de adaptar as particularidades próprias de cada educando, oportunizando assim
o aprendizado e valorizando e respeitando as diferenças de cada indivíduo. A intenção é alcançar as
dimensões reflexiva e participativa com a pesquisa-ação. O mote deste projeto foi trabalhar com a
formação continuada de professores priorizando como tema as diferenças culturais do povo brasileiro
que se manifestam nas formas, de danças, jogos e lutas e outras maneiras de expressão. Assim
sendo proporcionar aos alunos e aos professores as oportunidade de conhecimento e valorização
das suas origens como brasileiros e como atores de grupos culturais específicos. Por meio deste
convívio escolar, possibilitou a todos os participantes novos saberes e vivências que contribuíram
para o inter e multiculturalismo entre os educados, educadores e a sociedade.
Palavras–chave: Educação Intercultural, escolas, etnias, cultura corporal.
1. INTRODUÇÃO
O presente artigo origina-se de uma ampla proposta de formação continuada
de professores e de melhoria de qualidade da educação nas escolas públicas no
Estado do Paraná, por meio do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE,
1 Professora PDE- Educação Física da Rede Pública Estadual Paranaense de Ensino.
[email protected] 2 Professor Doutor Orientador- Educação Física da Universidade Estadual de Maringá.
realizado de modo articulado entre a Secretaria do Estado da Educação – SEED e
as Universidades Públicas Paranaense, que neste caso específico conta com a
participação da Universidade Estadual de Maringá – UEM.
No país onde há uma grande distinção racial, como o Brasil, observa-se uma
lacuna nos programas escolares relacionados ao estudo da pluralidade cultural. São
essas diferenças culturais - étnicas, de gênero, orientação sexual, religiosas, entre
outras que se manifestam em todas as suas cores, sons, ritos, saberes, sabores,
crenças e outros modos de expressão. As questões colocadas são múltiplas,
visibilizadas, principalmente, pelos movimentos sociais, que denunciam injustiças,
desigualdades e discriminações; reivindicando igualdade de acesso a bens e
serviços e reconhecimento político e cultural.
Portanto, presenciar a indiferença, a discriminação, o preconceito, a injustiça
e os rótulos são quase que comum nas escolas, em relação a alunos que não
seguem o padrão idealizado pela escola tradicional. Isso deveria causar indignação,
pois a escola é um lugar privilegiado para ensinar e aprender o respeito pelo
próximo.
Na educação também se explicitam cada vez com maior força e desafiam
visões e práticas profundamente arraigadas no cotidiano escolar. A cultura escolar
dominante em nossas instituições educativas, construída fundamentalmente a partir
da matriz político-social e epistemológica da modernidade, prioriza o comum, o
uniforme, o homogêneo, considerados como elementos constitutivos do universal.
Nesta ótica, vivemos em um mundo onde a globalização toma conta de nossas
vidas, atentamos para um crescimento da padronização e uniformização
sociocultural.
O tema Pluralidade Cultural oferece e aos alunos e aos professores a
oportunidade de conhecer melhor suas origens, como brasileiro e como participante
de grupos culturais específicos. Ao valorizar as diversas culturas presentes no Brasil,
propicia ao aluno a compreensão de seu próprio valor, promovendo sua autoestima
como ser humano pleno de dignidade, com isso contribuir na sua formação de
autodefesas contra expectativas indevidas que lhe poderiam ser prejudiciais. Por
meio do convívio escolar, no qual se valorize seus conhecimentos e suas vivências
que cooperam para que se apure sua percepção de injustiças e manifestações de
preconceito e discriminação que recaiam sobre si mesmo, ou que venha a
testemunhar e para que desenvolva atitudes de repúdio a essas práticas (BRASIL,
1998).
Essa autopercepção, mais elaborada, coopera para o fortalecimento da
autoestima, abrindo-se assim para o diálogo com o outro, para o trabalho de
composição de memórias, identidades e projetos coletivos de sua família, de seu
grupo étnico, de seu bairro, de sua turma, de sua cidade, de seu estado, de sua
região, de seu país. No entanto, sabe-se que alguns grupos não possuem as
mesmas oportunidades que os outros. Essas desigualdades de oportunidades se
manifestam em todas as esferas da sociedade.
Com criação das leis 10.639/03 e 11645/08, na qual altera a Lei das Diretrizes
e Bases da Educação Nacional (LDB), tornando obrigatória a inserção do currículo
oficial da rede de ensino “História e Cultura afro-brasileira e Indígena” de maneira
positiva. Além de uma compreensão da historicidade do próprio estado, e do
conhecimento científico produzido que determinou essa obrigatoriedade de estudo
das culturas Afro brasileiro e Indígena, em escolas não indígenas; Deste modo à
produção dos conhecimentos das etnias, são fundamentais.
A partir da problemática, os objetivos deste estudo foram: Contribuir com a formação
dos professores para o reconhecimento da diversidade cultural, utilizando subsídios
teóricos da Pedagogia Históricos Críticos, para proporcionar um trabalho voltado a
uma escola intercultural, contextualizar as multietnias (africana, oriental, indígena e
europeia) existente na realidade escolar. Neste sentido abordaremos, sem
preconceito, apresentado em seu contexto Histórico as multiétnicas sendo africano,
oriental, europeu, indígena. A análise evita o enfoque em apenas um grupo
específico, pois uma das metas foi a desmistificação de que há culturas inferiores.
Desse modo ocorreu simultaneamente um estudo sobre a estrutura familiar,
econômica e social desses povos e a quebra de paradigmas. O desafio foi trabalhar
com a formação de professores que por ser intercultural, no sentido de
entendimento, envolvimento, participação e de reconhecimento da diversidade em
nossa escola.
De acordo com Moreira e Candau (2003), construir um currículo baseado no
multiculturalismo requer que os professores adquiram novas posturas, saberes,
conteúdos e estratégia de ensino. Isso significa abrir espaço para a diversidade à
diferença e o cruzamento de culturas
Escolhemos os conteúdos de forma diversificada, propomos projetos
interdisciplinares em consideração a realidade cultural com diferentes grupos étnicos
e culturais, vivenciando as diferentes manifestações, por meio de danças, jogos e
lutas sendo elas multiétnicas (africana, indígena, oriental e europeu), que compõe o
Brasil.
2. METODOLOGIA
Este trabalho define-se como pesquisa-ação ou de intervenção. É um tipo de
pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita
associação com uma ação ou com a resolução de um problema, na qual os
participantes e o pesquisador estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo,
tendo como objetivo de estabelecer um diálogo entre pesquisador e pesquisado
(THIOLLENT, 1997).
Desse modo, ela é vista como principal contribuição para a dinâmica de
tomada de decisão no processo de ação planejada e é esse aspecto de participação
e ação que é valorizado. Pesquisa-ação é uma modalidade de coletiva e é por meio
dela que pesquisados e pesquisadores em procedimentos conjuntos de ações visam
melhorar uma situação, desenvolvendo estratégias de ação planejada com base em
conhecimentos científicos, com a intencionalidade de mudanças e a possibilidade de
estabelecer uma cultura de investigação e reflexão, buscando, assim, uma
transformação da realidade pesquisada.
A realização deste projeto foi no Colégio Estadual Anibal Kuhry Ensino
fundamental e Médio, no município de Iretama. Participaram doze professores
estaduais e municipais de diversas áreas (português, inglês, educação física,
geografia, história, arte, pedagogia, ciências), isto é, interdisciplinar.
Com intuito contemplar estudos e estratégias que visam melhorar as práticas
pedagógicas no Ensino da educação intercultural, relacionando o conteúdo danças,
jogos e lutas e o elemento articulador intercultural, bem como a consciência crítica
do professor e aluno. Foram trabalhados sete módulos, em uma Unidade Didática,
nas quais as etnias se fizeram presente desde a história de sua criação, cada uma
das manifestações reflete um momento de determinada cultura.
MODULO I
Tema: Projeto de Intervenção
Reunião e apresentação do projeto de intervenção para a comunidade escolar, no
Colégio Estadual Anibal Khury, início do ano letivo de 2012.
MODULO II
Tema: Culturas Brasileiras
Contextualizar as multietnias, sendo africana, europeia, oriental e indígena.
Apresentação do projeto para os professores de várias disciplinas. Após a
apreciação do projeto, iniciou-se o debate com a turma a partir da seguinte questão:
Você tem parentes de outras etnias? Em seguida, embasado nas respostas dadas
da entrevista dos professores foi feito um debate com o tema: A influência das
multietnias em nossa vida.
MODULO III
Tema: Educação Intercultural.
Foi discutido em grupos e analisado, juntamente com os professores, para
melhor entendermos que a escola intercultural está aberta à diversidade e ao
respeito, assim sendo, busca o desenvolvimento de todas as culturas, nelas
coexistem na transmissão da pluralidade de culturas para construir uma cultura em
comum e saber que estamos neste país com toda essa diversidade.
MODULO IV
Tema: Dança na Escola.
Refletir sobre a dança no ambiente escolar a partir de seus fundamentos
histórico-culturais nas etnias africanas, japonesa, indígenas e europeias.
Para identificar as danças dos diversos grupos étnicos, foi realizada uma
investigação por meio de um questionário a fim de averiguar o conhecimento dos
professores, sobre as “danças étnicas”. Percebe-se que a maioria dos professores
já conheciam as danças dos orixás e a cigana, mas não conheciam a dança
japonesa (bom odori) e nem a indígena (dança do tamanduá).
A atividade teórica sobre danças foi apresentada aos professores por meio de
slides e vídeos. Com ênfase a importância da dança e suas etnias. Em seguida
foram apresentadas explicações sobre o desenvolvimento que a dança possibilita ao
ser como um todo, de forma integral, mostrando o beneficio que ela propicia ao
físico e ao intelecto; as possibilidades de superação dos limites e das diferenças
culturais e que pode ser realizada por qualquer pessoa.
MODULO V
Tema: Circuito de jogos de tabuleiros multiétnicos.
Incentivar o estudo de jogos multiétnicos, nas diversas disciplinas sendo
interdisciplinares. Contextualizar os diversos grupos étnicos, por meio de jogos de
tabuleiros. Foi organizado um circuito de jogos intercultural, onde todos os
professores participaram.
MODULO VI
Tema: lutas na escola.
Iniciou-se com um debate de acordo com as seguintes perguntas. Vocês
conhecem esses tipos de lutas: como Huka Huka, Sumo, Esgrima e Capoeira? Qual
a sua origem?
Foi relatado, um breve histórico das lutas citadas, utilizando imagens e textos
como recursos didáticos.
Vivência das lutas com o grupo de trabalho. Para esta oficina, os professores
foram divididos em quatro grupos: capoeira, Huka Huka, Sumo e Esgrima, porem
respeitando o limite físico e o conhecimento teórico de cada participante. Cada
grupo apresentou a luta para os colegas que ressaltaram a importância dessas lutas
em nossa cultura e também reconhecendo a influência delas no nosso dia a dia.
MODULO VII
Tema: Festival das Multetinias
Analisar se ao término do projeto de Intervenção foi possível aos docentes
envolvidos realizar ações reflexivas de uma educação intercultural no contexto
escolar. Programamos reuniões com os envolvidos para que fossem traçadas
estratégias de superação para e organização do Festival das Multietnias.
3. RESULTADOS E INTERPRETAÇÃO.
3.1 – A análise se deu em cinco momentos, o primeiro momento deste projeto de
intervenção, foi contextualizar os diversos grupos étnicos da Cultura Brasileira,
sendo africana, indígena, oriental e europeia.
Foi feito um debate com o público alvo de acordo com a seguinte pergunta:
Você tem parentes de outras etnias?
A seguir foi distribuído um questionário entre os participantes, não sendo
necessária a identificação pelo nome e sim pela cor. Em seguida foi analisado o
resultado, o qual 90% se identificaram, com a cor branca mesmo sendo mestiços.
Com este resultado colocou-se em debate os critérios utilizados para definir, cor ou
raça de um brasileiro, primeiramente foi debatido por que na sociedade brasileira é
tão usual levar em consideração a cor da pele, enquanto nos americanos considera-
se mais relevante a origem familiar. Em seguida algumas reflexões foram realizadas
sobre como são consideradas e difundidas as formas de classificações de uma
pessoa negra ou preta. O negro seria a pessoa que se declara parda e preta, todos
os professores do debate concordaram com a afirmação.
O manual do recenseador do censo demográfico de 2000 do IBGE não é
muito esclarecedor quando se refere à cor branca e preta, mas explica um pouco
quanto às classificações, isto é, diz que os pardos são aqueles que têm
miscigenação: mulato, caboclo, cafuzo, mameluco ou mestiço. Portanto, são pardos
os filhos de indivíduos brancos com pretos, afro descendente; filho de uma pessoa
branca com uma indígena; filho de uma pessoa branca com amarelo; filho de uma
pessoa amarela com indígena.
Concluiu-se então, que pardas são todas as pessoas mestiças nascidas de
relacionamentos entre etnias diferentes. Observou-se também que é um erro
classificar como negros todos os indivíduos que auto se declaram parda, já que
existem muitos pardos no Brasil que não tem nenhuma descendência africana.
Henry Giroux nos ensina que:
Os discursos pós-coloniais representam um espaço para reteorizar, localizar
e tratar das possibilidades de uma nova política baseada na construção de novas identidades, zonas de diferença cultural e formas de comunicação ética, que permitam aos trabalhadores culturais e aos educadores transformar as linguagens, as práticas sociais e as histórias que são parte da herança colonial (GIROUX, 1999, p. 40).
Para superarmos o euro centrismo, os preconceitos e atitudes discriminatórias
por meio da educação precisamos também contar com a educação escolar, um local
de luta contra a hegemonia cultural de grupos sociais dominante, local de expressão
cultural. Tornar as culturas populares componentes dos currículos oficiais,
considerando-as formas de conhecimento múltiplas e abertas a participação dos
indígenas, negros, orientais e ciganos. Respeitar as diferenças é expandir o
potencial da vida humana e as possibilidades democráticas (GIROUX, 1999).
Eis o que diz Praxedes sobre o eurocentrismo.
A educação livre do eurocentrismo é aquela em que as culturas das populações de todas as regiões do mundo não são vistas como das primitivas, atrasadas, exóticas, ignorantes e inferiores (PRAXEDES, 2010. p.52).
Na pratica, o que temos é uma igualdade formal, e não uma igualdade de
fato, o preconceito racial ainda é um tabu, um tema que quase sempre é evitado no
meio ao debate das questões sociais.
No entanto, o processo de instauração de uma nova mentalidade e de novos desenhos institucionais que apontem para o respeito e a diversidades será longo, exigirá ações multidimensionais, Finalmente, vale descartar que o racismo presente no cotidiano escolar de ser enfrentado pedagogicamente, de forma que possibilite um diálogo inter e intracultural na construção de processos educativos com as camadas populares ou setores subalternizados da sociedade. Essas indicações apontam para a necessidade cultural humana, sua plasticidade e riqueza (PEPE; SANTANA, 2005, p.7-8)
Em toda a Sociedade os grupos étnicos transmitem a seus membros uma
grande variedade de ideias, hábitos e comportamentos. O ambiente de
aprendizagem por onde passa o individuo dentro de seu grupo étnico, dita os
conceitos e pré-concepções, que acabam se tornando preconceitos ao longo da vida
desses indivíduos, pautando seu comportamento com relação ao seu próprio grupo
e os outros grupos com valores diferentes. Durante a discussão sobre o tema o
professor M.L.T.S., argumentou, “dependendo do grupo étnico ao qual o indivíduo
pertence, essas ideias, hábitos e comportamentos acabam por se tornarem atitudes
racista a outros grupos étnicos, estas atitudes que prejudicam o relacionamento
entre as pessoas e coíbem sua participação na sociedade como individuo
pertencente, essas ideias, hábitos e comportamentos”.
Racismo. Estrutura de poder baseado na ideologia da existência de raças superior ou inferior. Pode evidenciar-se na forma legal institucional e da prática social. No Brasil, não existe leis segregacionista, nem conflitos públicos de violência racial, todavia, encoberto pelo mito da democracia racial o racismo promove a exclusão sistemática dos negros da educação, cultura, mercado de trabalho e os meios de comunicação (ROCHA, 2006, p.28).
3.2- No segundo momento foram identificadas as danças dos diversos grupos
étnicos, na comunidade escolar, a partir de seus fundamentos históricos e culturais
nas etnias, africana, japonesa, indígena, e europeia. O objetivo foi incentivar um
estudo interdisciplinar da dança étnica, nas distintas disciplinas.
A dança na escola não deve ser vista como a arte do espetáculo e sim como
educação por meio da arte. Para sedimentar este trabalho foi apresentado às quatro
danças: Bom Odori, dança do tamanduá, dança cigana e dança dos orixás. Após a
apresentação das danças, foi desenvolvido um debate entre os professores, os
quais apresentaram o seu conhecimento sobre a dança, com isso, compartilharam
seus saberes com os colegas, o que foi muito benéfico para o grupo de trabalho.
Nesta etapa, estudamos e analisamos um pouco da história da dança estabelecendo
então, um comparativo entre as danças japonesa, europeia, indígena e africana e
tendo a oportunidade de vivenciar essas etnias por meio da dança. A ação foi
dançar, no qual foram realizados, vários tipos de expressões entre elas as corporais,
faciais, em algumas danças como nas tradicionais. Para este momento, foram
convidados três palestrantes, a professora Neide Rodrigues, especialista e
mestrando na cultura africana, Dalila Maldonado, “peruana”, naturalizada brasileira,
que mostrou para nós alguns passos de Salsa dança que pode considerada parte de
sua cultura. E a terceira convidada Daieli Flores que fez uma pesquisa na tribo dos
Kaingang e nos contou a sua experiência.
3.3- No terceiro momento foi organizado um circuito de jogos lúdicos de tabuleiros
multiétnicos, com o objetivo de incentivar o estudo de jogos lúdicos multiétnicos nas
diversas disciplinas, sempre com caráter interdisciplinar. Também contextualizar os
diversos grupos étnicos, no qual o professor participante do projeto organizou um
circuito de jogos lúdicos intercultural. Proporcionou para formação de professores
diferentes vivências, novos desafios para vencer as dificuldades.
Os jogos apresentados para formação de professores, muitos deles, não
tinham a informação, histórica dos jogos, com isso foi necessário, contextualizar
todos os jogos: Mancala – Africano, Pong Hau Ki – China, Men`s Morris – Inglaterra,
jogo do Prato – Nativos Americanos, Shisima – Quênia, Tsoro Yematsuta –
Zimbábue, Dara – Nigéria. Os professores passaram em todas as estações, em que
as etnias se faz presente desde a história de sua criação, cada uma das
manifestações refletiu um momento de determinada cultura. No final houve um
debate e posteriormente os professores comentaram que aprenderam de maneira
divertida. Alguns professores verbalizaram que iram colocar em prática nas
disciplinas de educação física, matemática, arte e história.
3.4- No quarto momento, o tema abordado, foi às lutas, com o objetivo de promover
as diferentes manifestações das lutas nos diversos grupos étnicos.
Cada grupo apresentou uma luta, entre elas Huka Huka, Sumo, Esgrima ou
Capoeira, para os colegas e ressaltaram a sua importância na nossa cultura e
também de reconhecer a sua influência no nosso dia a dia. Esta ação foi com o
intuito de refletir, discutir sobre o conhecimento ético-moral das lutas e relevância
educacional.
Grande parte dos professores participantes concordou que as Lutas devem
fazer parte do contexto escolar, pois se constituem das mais variadas formas de
conhecimento da cultura humana, historicamente produzido e repleto de
simbologias, por isso é preciso valorizar o conhecimento, pois ele permite identificar
valores culturais, conforme tempo e o lugar onde as lutas são praticadas. Tantos as
lutas ocidentais como os orientais surgiram da necessidade social, em um dado
contexto histórico, influenciados por fatores econômicos, político e culturais.
Conforme analisa (CORDEIRO, 1999) no contexto histórico feudal japonês, marcado
pela tirania dos latifúndios, a luta entre camponeses e samurais , quando defendiam
os senhores da terra diferentes, envolvia golpes de morte. Os camponeses, que
precisavam se defender de samurais armados com espadas desenvolveram uma
prática corporal coletiva o jiu-jitsu. Tendo uma prática corporal genuinamente
brasileira, a capoeira, foi criada pelos escravos como forma de luta par conquistar a
sua liberdade. Atualmente, é considerado um misto de dança, jogo, luta, arte e
folclore (FALCÃO, 2003).
As possibilidades de trabalhar com lutas na escola são a partir dos jogos de oposição, podendo ser em duplas, trios ou até em grupos. O objetivo é vencer o companheiro de maneira lúdica, respeitando o seu colega e principalmente respeitar as regras. Além dos jogos de oposição, pode-se propor pesquisa, seminários. Com a disciplina da educação física, juntamente com a demais disciplina, com seus próprios conteúdos ampliar as referencias dos estudantes no que diz respeito aos conhecimentos, em especial a cultura corporal (DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÂO BÀSICA, p.68, 69).
3.5- O quinto momento, os professores responderam a seguinte pergunta: Ao
término deste projeto de Intervenção será possível aos docentes envolvidos realizar
ações reflexivas de uma educação intercultural?
Falar da educação intercultural no contexto escolar etnicamente heterogêneo
implica falar da situação das minorias da escola, nos obstáculos aos seus direitos de
igualdade de oportunidades educativas. Compreender as diferenças é o primeiro
passo para optar uma educação intercultural. Os professores acreditam que tratam
todos os seus alunos com respeito, sem fazer distinção; contudo a realidade mostra
que, nem sempre os docentes optam pelas práticas que respondem
verdadeiramente as necessidades e interesses individuais de cada educando.
Oferecer a mesma proposta educativa a alunos culturalmente distintos significa
contribuir com a exclusão de muito deles. Assim, os alunos da minoria que terão que
se adaptar à cultura da maioria, portanto a igualdade de oportunidades será apenas
teórica.
Segundo Fernandes (2002), a escola não está adaptada à cultura cigana: não
conhece essa cultura, não há texto, nem livros que possam dar a conhecer quer aos
alunos ciganos, quer aos alunos não ciganos, sua história, a sua cultura. De fato
existe um racismo oculto que não se vê, mas é sentido pela minoria étnica, o que
contribui para a sua abstenção e ou para o insucesso escolar. O sistema educativo
constitui-se como uma identidade neutra e indiferente as variáveis classes, gênero,
raça, etnia. Desta forma, as minorias étnicas que não pertencem ao grupo cultural
dominante estão em desvantagem afetando a sua autoestima. Consequentemente,
criam-se as condições ideais para cultivar o insucesso escolar (CARDOSO, 2001).
Contudo as atividades físicas desportivas constituem um recurso educativo
importante no combate à exclusão e ao abandono escolar, de jovens de minoria
étnicas ou com dificuldade de integração na comunidade escolar.
Por outro lado os jogos, danças, lutas e atividades lúdicas, precisam contemplar
uma educação intercultural, isso porque permite a aquisição e melhora o rendimento
escolar, também como meio de transmissão e de desenvolvimento cultural. Assim
teria a oportunidade de conhecer, por exemplo, um pouco da história e da cultura de
outros países. Os princípios culturais, as festividades, e essas não podem nem
devem ser ignoradas. Estes devem ser considerados, numa intervenção pedagógica
apropriada à interculturalidade, (CARDOSO, 2010).
Análise do projeto de Intervenção: Foi possível aos docentes envolvidos
realizar ações reflexivas de uma educação intercultural no contexto escolar?
Para a sua execução foram utilizados os seguintes expedientes:
- Seleção de recursos bibliográficos a respeito do conhecimento da cultura corporal
histórico-crítica.
- Seleção dos recursos bibliográficos a respeito da educação intercultural no
contexto escolar.
- Seleção de recursos bibliográficos sobre jogos, danças, lutas das etnias indígenas,
africanas, orientais e europeias.
- Reunião com os envolvidos a fim de discutir a prática pedagógica, a proposta das
Diretrizes Curriculares da Educação Básica e a metodologia de trabalho a partir da
prática pedagógica da cultura corporal histórico-crítica.
- Reunião com os envolvidos com a finalidade de conhecer a filosofia de trabalho
proposta pela educação intercultural no contexto escolar.
O resultado deste projeto foi a organização do I Festival das Etnias, com a
participação de quatro escolas estaduais (Colégio Anibal Khury, Colégio José
Sarmento, Colégio Napoleão Sobrinho, Colégio General Carneiro) e três escolas
municipais (Escola Maria de Lourdes, Escola Santa Rosa e Projeto Contra Turno)
em parceria com a Secretaria de Educação da cidade de Iretama. Participaram
neste festival, cerca de 200 alunos, todos tiveram a oportunidade de vivenciar os
diferentes tipos de culturas. Verificou que é possível realizar uma intervenção por
meio da educação no esporte e na arte.
Ao termino do projeto de intervenção, foi possível aos docentes envolvidos
realizar ações reflexivas de uma educação intercultural no contexto escolar.
CONSIDERAÇÔES FINAIS
Espera-se com a vivência desse projeto, a partir dos jogos, danças e lutas,
nos quais as etnias se faz presente desde a história de sua criação, pois cada uma
das manifestações reflete um momento de determinada cultura. Nesse caso as
várias atividades que foram realizadas nessa temática, sendo a mais simples delas
foi vivenciar as diferentes manifestações da cultura corporal. Outra atividade foi a
experimentação de danças típicas dos diversos grupos étnicos que compõe o Brasil,
demonstrando assim a riqueza e a diversidade de expressões existentes. O mesmo
se aplica ás lutas e aos jogos, que ainda conseguem manter as suas raízes ligadas
às regiões de origem, o que também possibilitou o conhecimento dos docentes e
discentes da diversidade cultural, a capoeira Brasil- África, judô-karete-Ásia, Huka
Huka-Xingu etc.
Entretanto, não basta apenas vivenciar estas diferentes manifestações
culturais, é preciso praticar, questionar e discutir as raízes condicionamentos
históricos. Buscando ancorar socialmente a questão, ou seja, explicar as origens e
construções de determinado conceito.
Enfim, considerando a importância da temática o autor sugere que a mesma
seja incluída no Projeto Político Pedagógico das escolas que participaram do projeto
e leve sempre em consideração a realidade cultural da comunidade no qual a escola
se encontra.
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escolar. Belo Horizonte: Mazza, 2006.
SANTOS, Luis Silva. Capoeira: Expressão de Identidade e Educa na supção. In:
LARA, Larrissa Michele (org). Abordagens Sócio culturais em Educação Física.
Maringá: EDUEM, 2010. p.113p186.
THILLOENT, M. Metodologia de pesquisa-ação. 3. ed. São Paulo: Cortez: Editores
Associados, 1986.
ZASLAVSKY, Claudia. Jogos e atividades matemáticas do mundo inteiro. Porto
Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.
APÊNDICE: Roteiro de Orientações.
ORGANIZAÇÃO: PROFESSORA MARIA LUCIA TAKASSE
ROTEIRO DE ORIENTAÇÕES
1. Denominação: FESTIVAL DAS ETNIAS
2. Objetivo Geral
Analisar o conhecimento da cultura corporal, produzido nas etnias africanas,
indígenas, orientais e europeus por meio do desenvolvimento desses saberes na
realidade escolar de Iretama, Paraná.
2.1 – Objetivos Específicos
a) Desenvolver junto aos professores do ensino básico o reconhecimento da
diversidade cultural, utilizando subsídios teóricos da Pedagogia Históricos Crítico,
para proporcionar um trabalho voltado a uma escola intercultural.
b) Contextualizar as multietnias (africana, oriental, indígena, europeia) na realidade
escolar.
c) Promover as diferentes manifestações culturais as danças dos diversos grupos
étnicos (africano, indígena, oriental e europeia) que compõe o Brasil.
d) Organizar o festival das Etnias: “africano, indígena, europeu e oriental”, como
ação multidisciplinar da educação intercultural.
1. Orientações
As inscrições estarão abertas às escolas municipais e estaduais do
município de Iretama;
O festival será realizado no dia 22 de Novembro de 2013, culminando
com as comemorações inerentes à Semana da Consciência Negra;
O Festival das Etnias é parte do trabalho desenvolvido no PDE –
Programa de Desenvolvimento Educacional, cujo trabalho teve como
abordagem o tema Educação Intercultural;
A abertura e demais apresentações serão realizadas no Ginásio de
Esportes do Município, com início às 19h30 minutos;
Poderão ser apresentadas até 3 (três) danças envolvendo as diversas
etnias que compõem as diversas raças; devendo envolver a cultura
europeia, indígena e asiática.
Para as escolas que farão três apresentações, uma das danças
obrigatória, deverá envolver a temática afro;
Para as escolas municipais que farão apenas uma apresentação,
poderão optar pela dança afro ou outra etnia;
Para cada dança a escola deverá organizar um pequeno roteiro de
esclarecimento ao público, onde deverá especificar sobre a cultura da
etnia a ser contemplada na apresentação;
Não haverá premiações. Cada escola participante receberá um troféu e
todos os integrantes dos grupos de dança será fornecido um certificado
de participação no festival.