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Federação das Indústrias do Estado do Ceará Unidade de Economia e Estatística A ECONOMIA DO BRASIL NA ÚLTIMA DÉCADA E AS POSSIBILIDADES PARA O PRÓXIMO LUSTRO* Pedro Jorge Ramos Vianna FORTALEZA, SETEMBRO 2014

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Unidade de Economia e Estatística

A ECONOMIA DO BRASIL NA ÚLTIMA DÉCADA E AS POSSIBILIDADES PARA O PRÓXIMO LUSTRO*

Pedro Jorge Ramos Vianna

FORTALEZA, SETEMBRO 2014

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Unidade de Economia e Estatística

Pedro Jorge Ramos Vianna

CONTEÚDO

0. INTRODUÇÃO 1. AS COMPLEXIDADES ENVOLVIDAS EM UMA ANÁLISE

ECONÔMICA 2. O QUE MEDIR COMO INDICADOR DE

COMPORTAMENTO MACROECONÔMICO 3. AS POLÍTICAS, PLANOS E PROGRAMAS DO

GOVERNO FEDERAL NA DÉCADA 2004-2013 3.1. O governo Lula da Silva 3.2. O governo Dilma Rousseff (2011-2013)

4. ALGUNS ASPECTOS DA ECONOMIA MUNDIAL E SEUS EFEITOS SOBRE O BRASIL

5. O DESEMPENHO DA ECONOMIA BRASILEIRA NA ÚLTIMA DÉCADA

5.1. A estabilidade do sistema econômico brasileiro

5.2. O desempenho da economia brasileira no período 2004 – 2013

6. SITUAÇÃO SÓCIO-POLÍTICO-ECONÔMICA DO BRASIL EM 2013

7. AS PERSPECTIVAS PARA O PRÓXIMO LUSTRO ANEXOS ANEXO 1- RESUMO DAS POLÍTICAS SOCIOECONÔMICAS

DO GOVERNO LULA ANEXO 2- MEDIDAS ADOTADAS PELO GOVERNO

BRASILEIRO PARA CONTROLAR A VALORIZAÇÃO DO REAL

ANEXO 3- INTERRELAÇÕES ENTRE PARÂMETROS DE

POLÍTICAS ECONÔMICAS

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0. INTRODUÇÃO

Analisar qualquer sistema econômico, em qualquer que seja o período, sempre envolve uma tarefa não só difícil, mas que exige certa dose de juízo de valor por parte do analista. Este é o grande drama do economista: evitar ao máximo que suas concepções filosóficas interfiram na análise da realidade que o cerca. Por outro lado, qualquer sistema econômico envolve uma quantidade enorme de relações entre os agentes econômicos e, às vezes, as políticas adotadas não necessariamente levam aos resultados logicamente esperados, justamente por causa do comportamento não “racional” desses agentes ou por erros do governo ao adotar políticas de resultados divergentes. No presente trabalho tenta-se ser o mais didático possível. Para tanto se divide o trabalho em sete tópicos.

1. As Complexidades envolvidas em uma análise econômica;

2. O que medir como indicador de comportamento macroeconômico;

3. As políticas econômicas do governo federal;

4. Alguns aspectos da economia mundial;

5. O desempenho da economia brasileira na última década;

6. O estado d’arte em 2013;

7. As perspectivas para o próximo lustro.

Os dois primeiros tópicos são dirigidos aos leitores que se interessam em conhecer um pouco mais como funciona um sistema econômico, qualquer que seja o país. Quem só se interessa por resultados pode ir direto para o terceiro tópico. A presente análise se restringe ao estudo da economia brasileira ao longo da década 2004-2013. Não se faz aqui qualquer comentário sobre a economia cearense por dois motivos: o primeiro é que a equipe de inteligência do INDI já faz esse trabalho e o segundo é porque são as mudanças na economia brasileira que determinam com maior

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intensidade as mudanças na economia estadual, exceto, talvez, o fenômeno da seca.

1. AS COMPLEXIDADES ENVOLVIDAS EM UMA ANÁLISE

ECONÔMICA

Apenas para se ter uma ideia das complexas relações existentes em um sistema econômico apresenta-se o Gráfico 1, voltado para a análise de um processo inflacionário, onde alguns fluxos são retratados. Ele representa o contexto como as políticas do governo (aqui consideradas apenas cinco) podem influenciar o comportamento dos preços. Note-se que está incluída aí a correção monetária. Isto se dá porque este gráfico foi usado no livro INFLAÇÃO (Vianna, 2003), onde foi discutido todo o processo inflacionário brasileiro nas décadas dos anos oitentas e noventas do século passado.

GRÁFICO 1 O CAMINHO DO AUMENTO DE PREÇOS

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Fonte: Vianna, P.J.R.; Inflação. Editora Manole. São Paulo, 2003. Para chamar a atenção sobre a possibilidade de se complicar um pouco mais qualquer análise econômica, mostro o Quadro 1, onde são apresentadas as diversas políticas econômicas à disposição do Governo Federal e seus inúmeros instrumentos. A diferença aqui é que a política financeira foi incorporada à política monetária. Como se pode ver existem pelo menos 24 instrumentos de política econômica, com as mais diversas possibilidades de aplicações simultâneas. Desta forma, as possibilidades de uso sobem à casa dos milhões. Somente para se ter uma noção da complexidade envolvida, pode-se fazer o seguinte exercício: e se o governo quiser usar, ao mesmo tempo, sete políticas diferentes, quantas combinações poderiam ser feitas? “Apenas” 346.104 combinações.

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QUADRO 1 AS POLÍTICAS ECONÔMICAS E SEUS INSTRUMENTOS

POLÍTICAS INSTRUMENTOS

MONETÁRIA TAXA DE REDESCONTO TAXA DE DEPÓSITO COMPULSÓRIO MERCADO ABERTO (OVER) CONTROLE DOS EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS EMISSÃO DE MOEDA TAXA DE JUROS SUBSÍDIOS CREDITÍCIOS CONFISCO DE ATIVOS FINANCEIROS

FISCAL GASTOS DO GOVERNO (ORÇAMENTO: SUPERAVIT OU DEFICIT) TARIFAS DOS SERVIÇOS PÚBLICOS ALÍQUOTAS DOS IMPOSTOS CRIAÇÃO/EXTINÇÃO DE TRIBUTOS TARIFA ADUANEIRA INCENTIVOS FISCAIS

POLÍTICA PARA O SETOR EXTERNO

POLÍTICA CAMBIAL POLÍTICA TARIFÁRIA POLÍTICA DE PROMOÇÃO ÀS EXPORTAÇÕES POLÍTICA DE CONTROLE QUANTITATIVO DAS EXPORTAÇÕES E/OU IMPORTAÇÕES

POLÍTICA SALARIAL SALÁRIO MÍNIMO SAZONALIDADE DA VARIAÇÃO SALARIAL SALÁRIOS DOS SERVIDORES PÚBLICOS

POLÍTICA DE CONTROLE DE PREÇOS

SAZONALIDADE DA VARIAÇÃO DIFERENCIAÇÃO DE PRODUTOS PREÇOS-MÍNIMOS

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No Quadro 2, logo abaixo, se apresenta os possíveis resultados sobre vários parâmetros/variáveis econômicos, quando são tomadas alguma ou algumas políticas econômicas que fazem variar os preços internos, a taxa interna de juros, a taxa cambial e o salário mínimo. Também se mostra os efeitos da variação de duas variáveis muito importantes para a economia brasileira: a taxa de juros internacional e os preços internacionais, as quais podem sintetizar os efeitos de políticas externas sobre o comércio internacional e sobre o movimento internacional do capital. Talvez seja interessante mostrar que existem duas equações fundamentais em um sistema econômico monetizado: a equação da medida do PIB (equação da renda nacional) e a equação da teoria quantitativa da moeda. Pode-se escrever tais equações como: _ Y = C(YD) + I(r , Y) + G + [X – M(Y)] MV = PY Desta forma para se medir o PIB deve-se medir o consumo privado (C), o investimento privado (I) , os gastos mais os investimentos do governo (G) , as exportações (X) e as importações (M) de bens e serviços. Em termos monetários para se conhecer o volume de dinheiro que move a economia (M), tem-se que definir M, conhecer os preços (P) e conhecer o PIB (Y). Portanto, deve-se ter em mente que existem as seguintes inter-relações:

a) se C aumenta, o PIB aumenta; se C diminui, o PIB diminui; b) se I aumenta, o PIB aumenta; se I diminui, o PIB diminui; c) Se G aumenta, o PIB aumenta, se G diminui, o PIB diminui; d) Se X aumenta, o PIB aumenta, se X diminui, o PIB diminui; e) Se M aumenta, o PIB diminui, se M diminui, o PIB aumenta.

É claro que na prática será preciso conhecer inúmeras outras variáveis, uma infinidade de parâmetros e o comportamento dos agentes econômicos. Mas este não é o escopo deste trabalho.

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QUADRO 2 VARIAÇÕES POSSÍVEIS EM ALGUMAS VARIÁVEIS ECONÔMICAS, DADAS DETERMINADAS VARIAÇÕES NOS

PREÇOS (PARÂMETROS)

Mudanças nos Preços/ Parâmetros

Possíveis Variações nas Variáveis

Com-sumo

C

Inves-timento

I

Deman da por Traba- lho

Nd

Ofer- ta de Traba lho

Ns

Deman- da por Moeda

Md

Deman- da por Títulos

H

Oferta de Títulos

J

Impor-tação

Z

Expor- tacão

E

PIB

Y

Preço

p

Taxa de Juros

r

p ↑ ↓ ↓

↓ ↓ ↓ ↑ - - ↓ - ↑

r ↑ ↓ ↓ - ↑

-

↓ ↑ ↓ ↑ ↑ ↓ ↑ -

π ↑ ↓ ↓

-

-

- - - ↓ ↑ ↓↑ ↓ ↑ -

i ↑ - ↓ -

--

↓ ↓ - ↑ ↑ ↓ ↑ ↑

ω ↑ ↑ ↓ ↑

- ↑ ↑ - - ↑ - ↑ ↑ - ↑

p* ↑ - -

-

-

- - - ↓ ↑ ↓ ↑ ↑ -

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Onde: p = preço interno r = taxa de juros interna π = taxa de câmbio i = taxa de juros internacional ω = salário no país p* = preço internacional ↑ - indica aumento, subida

↓ - indica diminuição, queda - - indica manutenção, estabilidade No Quadro 2, apresenta-se um exercício de como as variações em alguns parâmetros podem influenciar as variáveis que compõem o PIB e,desta forma, influenciar esta última variável. Pelo exposto fica evidenciada a complexidade de se analisar as conseqüências de uma simples política econômica. E as previsões serão muito difíceis de ser feitas se as políticas adotadas produzirem resultados divergentes. Analisando com mais detalhe as informações do Quadro 2 é possível inferir que algumas políticas podem levar a resultados convergentes e que outras podem levar a resultados divergentes. Desta forma, se o governo adotar políticas que levem ao aumento dos preços (tarifas) controlados e aumento da taxa de juros, o resultado sobre o PIB deve ser convergente, com viés para queda. Mas se o Governo adotar política de aumento de salário com política de aumento da taxa de juros, o resultado deve ser divergente, uma com tendência altista e a outra com tendência para baixo. Neste trabalho, tenta-se mostrar as políticas que foram tomadas pelo Governo Federal e como se comportou a economia brasileira ao longo da década passada. É importante salientar que o papel de qualquer governo sempre se consubstancia com a adoção de políticas, planos, programas, projetos e ações. Esquematicamente, tem-se:

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POLÍTICA PLANO PROGRAMA PROJETO AÇÕES No que se segue limita-se o trabalho somente à análise das políticas econômicas, haja vista que são delas que tudo o mais deriva. Além do mais não se pode dizer que os governos após 2003 tenham adotado a planificação econômica no Brasil, como norma de gestão pública.

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2. O QUE MEDIR COMO INDICADOR DE COMPORTAMENTO MACROECONÔMICO

Apesar do que foi escrito anteriormente, existem algumas relações que são fundamentais para que se possa entender o estado d’arte da economia (no caso, brasileira) na atualidade. Antes de começar a análise da situação socioeconômica do Brasil vale chamar a atenção para alguns postulados importantes. A situação em qualquer época de um sistema econômico de uma região específica é fruto de quatro determinantes fundamentais: a) os fatores físicos – aqueles determinados pela natureza; b) os fatores históricos – aqueles determinados pelos acontecimentos históricos; c) os fatores aleatórios – fatos que ocorrem em outros sistemas e influenciam indiretamente o sistema econômico local. Aqui o comportamento da economia mundial tem grande importância para a economia brasileira; e d) os fatores institucionais – aqueles provenientes dos arranjos institucionais existentes na região. No presente trabalho vou concentra-se a análise no terceiro e no último postulado, tendo em vista que os dois primeiros já foram analisados (Vianna, 1992) e não são necessários para o presente estudo, tendo em vista que não se pretende aqui explicar o porquê do atual estágio de desenvolvimento da economia brasileira. Hoje, tomam-se estes fatores como dados estanques. A dinâmica da economia é fruto principalmente dos fatores institucionais. Naturalmente os fatores institucionais são compostos por milhares de arranjos institucionais existentes na sociedade. E o papel do Governo enquanto ente econômico (promotor e regulador) talvez seja o mais importante fator institucional existente na economia brasileira. O escopo deste trabalho é, portanto, analisar o papel do ente “governo” através de seus inúmeros instrumentos de política econômica que têm papel preponderante para a situação atual de equilíbrio do sistema econômico e do desempenho do sistema econômico ao longo da série histórica que será aqui analisada.

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Há de se ter em mente que para a análise de qualquer sistema econômico pode-se fazê-la dentro de dois substratos: O primeiro é que para se analisar um sistema econômico de um país, podem-se escolher os aspectos envolvidos com a estabilidade econômica. O segundo é que se pode trabalhar com a análise centrada nos parâmetros/variáveis que de uma forma ou de outra permitem conhecer o comportamento do sistema econômico como um todo ao longo do tempo. Para o primeiro caso pode-se trabalhar com uma “cross section” da economia. No segundo, deve-se trabalhar com os aspectos associados ao crescimento/desenvolvimento econômico, e aí devemos trabalhar com séries históricas. No presente estudo far-se-á as duas abordagens. Para começar esta análise trabalha-se com o aspecto da “estabilidade econômica”. 2.1. As Variáveis/Parâmetros que medem a Estabilidade do

Sistema Econômico Dentro deste enfoque, o caminho utilizado é analisar os chamados fundamentos da economia, para se ver o problema da “estabilidade” da economia brasileira. Depois será introduzida a análise sobre o comportamento de algumas variáveis ao longo da última década. Por fundamentos da economia os economistas definem um conjunto de situações cujas repercussões podem ser positivas ou negativas para o País. Tais situações são:

Equilíbrio no Balanço de Pagamentos em Transações

Correntes; Existência de Superávit Primário (ou do Superávit

Nominal) Taxa de Inflação Controlada Emissão de Moeda Controlada Taxa de Câmbio Estável (ou Taxa Cambial de

Paridade?)

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Percentual da Dívida Líquida em relação ao PIB abaixo de 50,0%.

2.2. O que medir no substrato do comportamento do sistema econômico ao longo do tempo.

Para efetuar a análise do comportamento da economia brasileira ao longo do período 2004-2013, utiliza-se as estatísticas sobre as variáveis abaixo listadas, incluindo aqui as variáveis já mencionadas no item 2.1: PIB PIB per capita População PEA PIA VTI Exportações Balanço de Pagamento em Transações Correntes Balanço de Pagamentos Geral Salário Mínimo Taxa de Juros (SELIC) Taxa de Câmbio LIBOR PRIME IGP-DI Variação Nominal do M1 Dívida Líquida do Governo Federal Resultado Nominal do Governo Central

Note-se que aqui já são incluídas variáveis que não dependem do sistema econômico local, mas que têm influência em tal sistema, como, por exemplo, as taxas de juros internacionais, LIBOR e Prime. Mas como foi mencionado anteriormente são os fatores institucionais, e dentre estes, a existência e ações do ente “governo” através de suas políticas, planos, programas, projetos e ações, as principais causas do comportamento do sistema econômico. No próximo item apresenta-se as políticas do Governo Lula da Silva (2003-2010) e do governo Dilma Rousseff (2011-2013), portanto, dentro da década 2004-2013.

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3. AS POLÍTICAS DO GOVERNO FEDERAL NA DÉCADA 2004-2013.

Como já foi dito no Capítulo 2, a situação em qualquer época de um sistema econômico de uma região específica é fruto de quatro determinantes fundamentais: a) os fatores físicos; b) os fatores históricos; c) os fatores aleatórios; d) os fatores institucionais. Como os fatores “a” e “b” não são necessários para o presente estudo, e tendo em vista que não se pretende aqui explicar o porquê do atual estágio de desenvolvimento da economia brasileira, trabalhar-se-á apenas com os fatores institucionais.

3.1. O governo Lula da Silva

3.1.1. O Governo de Lula da Silva - Preliminares O documento mais importante do governo que se iniciava, na verdade foi apresentado à população brasileira (e principalmente aos investidores internacionais) bem antes de o candidato ganhar a eleição. Foi a conhecida CARTA AO POVO BRASILEIRO (Lula, 2002) publicada em 22 de junho de 2002. De fato, em tal documento ficava muito claro que não haveria mudanças drásticas na política econômica, principalmente no que diz respeito aos compromissos externos, conforme expresso em tal documento: “Premissa dessa transição será naturalmente o respeito aos contratos e obrigações do país.” Em outro parágrafo se lê: “Esse é o melhor caminho para que os contratos sejam honrados e o país recupere...” E, ainda, “As mudanças que forem necessárias serão feitas democraticamente, dentro dos marcos institucionais”. Esta posição foi reforçada internacionalmente quando em 10 de dezembro de 2002, no Clube de Imprensa dos Estados Unidos, em

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Washington, em seu discurso, dizia o novo Presidente: “... meu governo vai se pautar pela responsabilidade fiscal, pelo combate à inflação e pelo respeito aos contratos e acordos... estejam certos de que todas as instituições e empresas responsáveis encontrarão no Brasil um ambiente seguro e estável para investir” (Apud, Mattei e Magalhães, 2002, pág. 135). Ou seja, nada de rupturas, nada de calotes. Tudo seria feito dentro da velha ortodoxia. Desta forma, o primeiro ano do Governo Lula primou pela continuidade da política econômica adotada pelo governo anterior. Assim, não se pode negar, conforme assinalam os Profs. Corazza e Ferrari Filho, que [...]a política econômica do Governo Lula da

Silva não somente implementou medidas diferentes das esperadas e sinalizadas na campanha eleitoral de 2002, como se tornou muito mais ortodoxa, em termos fiscal e monetário, em relação à época do Governo Fernando Henrique Cardoso. [ ....] parece não haver mais dúvidas de que a política econômica do Governo Lula reproduz as características essenciais da política econômica do Governo Fernando Henrique Cardoso, carregadas de uma dose maior de ortodoxia. (Corazza e Ferrari Filho, 2004, pág. 245),

Na realidade, pelas ações das autoridades monetárias da época, o Ministro da Fazenda, Antônio Palocci e o Presidente do Banco Central, Henrique Meirelles (deputado federal e ex-presidente do Bank Boston), fica evidente que a política econômica do Governo Lula não foi somente uma continuidade como também uma tentativa de aprofundar o uso de mecanismos ortodoxos oriundos da filosofia macroeconômica neoliberal, que era defendida não só pelas principais instituições internacionais Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial (BIRD), como pela Federação dos Bancos Brasileiros (FEBRABAN). Portanto, sem sombra de dúvida, a política econômica do primeiro ano do Governo Lula foi uma simples continuidade do governo anterior.

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Para aqueles que esperavam mudanças radicais na condução da política econômica, o Ministro Palocci deu a seguinte explicação: “O Governo não pode fazer um ‘cavalo-de-pau’ em transatlântico em movimento” (Apud, Mattei e Magalhães, 2002,pág. 139). Ou seja, nada de rupturas. Vale aqui chamar a atenção que a orientação econômica do primeiro Governo Lula, e não só no primeiro ano de governo, estava sob total responsabilidade do Ministro da Fazenda e do Presidente do Banco Central. Note-se que ao dar independência ao Banco Central, o Presidente da República perdeu poder na condução da política monetária brasileira. De qualquer forma, a condução da política econômica dentro desse contexto teve como resultado quase imediato a diminuição do chamado risco Brasil e os fluxos comerciais e financeiros passaram a ter maior afluxo. Além desse fato, outro aspecto que determinou a mudança no desempenho da economia brasileira se deveu a fatores externos que nada diziam respeito à condução interna da política econômica. Este fenômeno foi o processo de expansão das duas maiores economias do mundo: os Estados Unidos e a China, principalmente desta última. Com o crescimento dessas economias a demanda mundial por bens agroindustriais passou a crescer, determinando o aumento da quantidade exportada e o aumento dos preços das commodities. Este fato muito beneficiou o Brasil. Portanto, se houve sucesso no primeiro Governo Lula, este sucesso se deveu fundamentalmente a dois fatores: manutenção da política ortodoxa do governo anterior e o comportamento ascendente da economia internacional. Por outro lado, é importante salientar que no primeiro ano de Governo, o Presidente Lula lançou as bases de sua política social. De fato, naquele ano, já em fevereiro, foi lançado o PROGRAMA FOME ZERO. Programa

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este que prometia a erradicação da fome em quatro anos e reduzir a subnutrição até 2015. Também em 2003 o Governo Lula lançou o PROGRAMA PRIMEIRO EMPREGO, cujo objetivo era permitir o emprego de 260 mil jovens por ano. Seu modus operandi era dar vantagens a empresas que oferecessem vagas a jovens de 16 a 24 anos. Tanto o PROGRAMA FOME ZERO como o PROGRAMA PRIMEIRO EMPREGO fracassaram. Assim, o primeiro, em 2004, foi substituído pelo PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA, uma adaptação e ampliação do PROGRAMA BOLSA ESCOLA do Governo Fernando Henrique Cardoso. E o segundo foi extinto em 2006. Após esta pequena digressão sobre o primeiro ano do primeiro Governo Lula (2003), volta-se a atenção para o período 2004-2013, foco maior de interesse do presente estudo. Mas para efeito de análise, e como já mencionado, dividir-se-á o período em 2004-2010 (período no Governo Lula) e 2011-2013 (período Dilma). 3.1.2. O Governo Lula no período 2004-2010 Durante sua campanha, Lula da Silva proclamou que faria diversas reformas estruturais, tais como: a) reforma tributária; b) reforma do judiciário; c) reforma previdenciária; d) reforma trabalhista; e) independência do Banco Central e, f) reforma agrária. Dessas reformas, em 2004, o Congresso Nacional, através da aprovação da Emenda Constitucional Nº 45, de 30/12/2014, promoveu o que passou a ser chamada de reforma do judiciário. O ponto focal dessa Reforma foi a criação do CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL, um Conselho com poder “corretivo”. No seu segundo ano de Governo, Lula da Silva continuou a dar os contornos de sua política social. Para tanto, editou o PROGRAMA BOLSA ATLETA (Lei Nº 10.891, de 09/07/2004) e o PROGRAMA UNIVERSIDADE PARA TODOS – ProUni (MPv Nº 213, de 10/09/2004) regulamentados pela Lei Nº 11.096, de 13/01/2005. O segundo é considerado o maior programa de bolsas de estudo do País.

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Por outro lado, a política macroeconômica do Governo Lula da Silva neste segundo ano de governo continuou baseada no tripé: estabelecimento de metas de inflação (austeridade monetária); busca de um elevado superávit primário e política de câmbio flutuante. Ou seja, a mais pura política ortodoxa. No que diz respeito à política anti-inflacionária, a meta de inflação foi de 5,5%. Com taxa de tolerância de 2,5%. A inflação naquele ano, medida pela variação do IPCA foi de 6,60%, portanto dentro da faixa superior, mas acima da taxa de referência (4,5%). Quanto à obtenção de superávit primário, este foi obtido haja vista que passou de R$ 66.173 milhões, em 2003, para R$ 81.120 milhões, em 2004. Desta forma houve um aumento de R$ 15.0 bilhões em apenas um ano. A situação financeira internacional com já mencionado anteriormente, fez com que o superávit no balanço de transações correntes saísse de US$ 4,177 milhões em 2003 para US$ 11,711 milhões, em 2004. Deve-se chamar a atenção para o caso das políticas econômicas para o setor industrial. A primeira política lançada pelo Governo Federal foi a “Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior”, que ficou conhecida pelo nome de PITCE, através da qual foi viabilizado um conjunto diferenciado de instrumentos que são de responsabilidade de diferentes agências do setor público, inclusive estaduais e municipais. (Ver anexo 1). Mas é importante observar que o Governo Lula da Silva nunca se baseou em um plano de desenvolvimento de longo prazo. Isto se deu primeiro porque as autoridades monetárias do primeiro mandato sempre primaram pelo uso de políticas ortodoxas de combate à inflação. Somente no segundo mandato, quando mudou o Ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central é que houve uma pequena alteração de direcionamento no enfoque da política econômica do Governo.

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Para se ter uma ideia sobre a condução da política econômica no Governo Lula da Silva apresenta-se no Anexo 1 a relação dos políticas/pacotes editadas durante seu Governo.

3.2. O governo Dilma Rousseff (2011-2013)

Já foi mencionado que o Presidente Lula da Silva em seu primeiro mandato até a saída do Ministro da Fazenda Antônio Palocci se caracterizou por seguir a política ortodoxa de controle da inflação do governo Fernando Henrique Cardoso, mudando este direcionamento para uma visão mais desenvolvimentista quando da ascensão ao cargo de ministro da fazenda do economista Guido Mantega. O governo Dilma Rousseff, por seu turno, continuou com o mesmo ministro da fazenda e é uma cópia do governo Lula da Silva. Entretanto, em 04 de julho de 2011, somente após seis meses de governo, foram dadas a público as Diretrizes do Governo, onde foram listadas 13 diretrizes, envolvendo os seguintes temas: 1.Expandir e fortalecer a democracia política, econômica e socialmente 2.Crescer mais, com expansão do emprego e da renda, com equilíbrio macroeconômico, sem vulnerabilidade externa e desigualdades regionais. 3.Dar seguimento a um projeto nacional de desenvolvimento que assegure grande e sustentável transformação produtiva do Brasil. Desenvolvimento sustentável. 5.Erradicar a pobreza absoluta e prosseguir reduzindo as desigualdades. Promover a igualdade, com garantia de futuro para os setores discriminados na sociedade. 6.O Governo de Dilma será de todos os brasileiros e brasileiras e dará atenção especial aos trabalhadores.

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7.Garantir educação para igualdade social, a cidadania e o desenvolvimento. 8.Transformar o Brasil em potência científica e tecnológica. 9.Universalizar a Saúde e garantir a qualidade do atendimento do SUS. 10.Prover as cidades de habitação, saneamento, transporte e propiciar vida digna e segura aos brasileiros. 11.Valorizar a cultura nacional, dialogar com outras culturas, democratizar os bens culturais e favorecer a democratização da comunicação. 12.Garantir a segurança dos cidadãos e combater o crime organizado. 13.Defender a soberania nacional. Por uma presença ativa e altiva do Brasil no mundo. Este rol de “intenções gerais” não produziu qualquer plano de desenvolvimento econômico. Isto pode ser mostrado nos Quadros 3 e 4, abaixo, onde se apresenta as políticas, planos, programas, projetos e ações do governo Dilma Rousseff. Como se pode notar, este Governo tem se caracterizado pela adoção, na realidade, de inúmeros “pacotes”, abrangendo os mais variados assuntos, mas sem uma linha mestra de política econômica. O resultado dessa pulverização de medidas é o baixo crescimento da economia nacional. Como o desempenho da economia brasileira é fruto dos fatores institucionais e dos fatores aleatórios (aqui entendidos como o comportamento do sistema econômico mundial) foi elaborado o Item 4, a seguir, para que se possa entender como tais fatores influenciaram a economia brasileira.

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QUADRO 3 RESUMO DAS POLÍTICAS, PLANOS E PROGRAMAS DO GOVERNO DILMA ROUSSEFF

2011 - 2012

POLÍTICAS PLANOS PROGRAMAS

POLÍTICAS DE EMPREGO, TRABALHO E RENDA

PLANO BRASIL MAIOR PROGRAMA NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DO TURISMO

POLÍTICAS DE CRÉDITO, GARANTIA E SEGUROS PARA A AGRICULTURA FAMILIAR

PLANO NACIONAL SOBRE MUDANÇA DO CLIMA

PROGRAMA DE FOMENTO ÀS ATIVIDADES PRODUTIVAS RURAIS

POLÍTICAS PARA AS MULHERES RURAIS

PLANO DE RECURSOS HÍDRICOS DE BACIAS HIDROGRÁFICAS

PROGRAMA TERRITÓRIOS DA CIDADANIA

POLÍTICA INTERNACIONAL PARA A AGRICULTURA FAMILIAR E REFORMA AGRÁRIA

PLANO BRASIL SEM MISÉRIA PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DE TERRITÓRIOS RURAIS

POLÍTICA NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL

PROGRAMA ARCA DAS LETRAS

POLÍTICA NACIONAL SOBRE MUDANÇA DO CLIMA

PROGRAMA NACIONAL DE CRÉDITO FUNDIÁRIO (PNCF)

POLÍTICAS DE PROTEÇÃO SOCIAL E SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL

PROGRAMA TERRA LEGAL

POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA ONCOLÓGICA

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DO SETOR DE ÁGUAS – INTERÁGUAS

POLÍTICAS DE ALOCAÇÃO, DESENVOLVIMENTO E

PROGRAMA DE CONTROLE DA POLUIÇÃO DO AR POR VEÍCULOS

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DEMOCRATIZAÇÃO DAS RELAÇÕES DE TRABALHO DOS PROFISSIONAIS

AUTOMOTORES (PROCONVE)

POLÍTICAS AFIRMATIVAS (sic) PROGRAMA NUCLEAR DA MARINHA

POLÍTICA PARA EMPRESAS DE PEQUENO E MÉDIO PORTE

PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA

PROGRAMA DE ERRADICAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL

POLÍTICA NACIONAL DE HABITAÇÃO PROGRAMA DE AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS

POLÍTICA NACIONAL DE MOBILIDADE URBANA

PROGRAMA DE PROTEÇÃO A CRIANÇAS E ADOLESCENTES AMEAÇADOS DE MORTE (PPCAAM)

POLÍTICA EXTERNA PROGRAMA SEGUNDO TEMPO

POLÍTICA EXTERNA E PARTICIPAÇÃO CIDADÃ

PROGRAMA ESPORTE E LAZER DA CIDADE

PROGRAMA LUZ PARA TODOS

PROGRAMA GOVERNO ELETRÔNICO

PROGRAMA DE INCENTIVO ÀS FONTES ALTERNATIVAS (PROINFA)

PROMINP

PROGRAMA NACIONAL DE BANDA LARGA (PNBL)

PROGRAMA NACIONAL DE EDUCAÇÃO FISCAL

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QUADRO 4 RESUMO DAS POLÍTICAS, PLANOS E PROGRAMAS DO GOVERNO DILMA ROUSSEFF

2013

DATA MEDIDAS

08/03/2013 Desoneração total de tributos federais dos produtos da cesta básica. Renúncia fiscal de R$5,5 bilhões.

14/03/2013 Lançamento do “INOVA EMPRESA”, com linha especial de crédito subsidiado da ordem de R$39,9 bilhões para financiar investimentos de seis setores específicos, em inovação. Criação da EMBRAPII e criação do “Observatório de Inovação”.

05/04/2013 Edição de MP incluindo 14 novos setores no “INOVA EMPRESA”, além da desoneração para a Construção Civil. Renúncia Fiscal de R$5,4 bilhões.

23/04/2013 Redução de 5,6% para 1,0% da alíquota do PIS/COFINS para fabricantes de matérias primas para a indústria química. Renúncia Fiscal de R$1,1 bilhão.

23/04/2013 Redução para 0,0% da alíquota do PIS/COFINS para os fabricantes de etanol e mantêm o crédito presumido das usinas com o fisco. Renúncia Fiscal de R$1,0 bilhão em 2013. Redução dos juros do BNDES, de 8,5% para 5,5,% para linha de créditos voltada para a renovação de canaviais.

08/06/2013 Reforço de caixa para a VALEC e para o BNDES, para aumentar o crédito e os investimentos em infraestrutura.

18/06/2013 Edição de novo marco regulatório da mineração, para aumentar arrecadação e esti- mular os investimentos no setor

16/07/2013 PACOTE de R$3,0 bilhões para melhorar as contas das prefeituras.

13/08/2013 PACOTE de concessões de rodovias e ferrovias, integra um programa de leilões de infraestrutura, estimado em cerca de R$ 500,0 bilhões em investimentos até 2017.

30/09/2013 Alteração das regras do FGTS, ampliação do teto de contrapartida dos investimentos do PAC (PAC 2) e do Minha Casa, Minha Vida, para aumentar os investimentos no setor.

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4. ALGUNS ASPECTOS DA ECONOMIA MUNDIAL E SEUS EFEITOS SOBRE A ECONOMIA DO BRASIL

Conforme já foi chamada a atenção sobre alguns aspectos do sistema econômico mundial logo no início do governo Lula da Silva que possibilitaram ao Brasil importantes ganhos no combate à crise econômica por que passava o País, é interessante conhecer quais os caminhos de interação entre os dois sistemas, brasileiro e mundial. Naturalmente a relação entre o Brasil e o resto do mundo se dá em duas frentes: o mercado físico e o mercado financeiro. No mercado físico as variáveis cruciais são exportação e importação. Naturalmente os preços internacionais jogam aqui um papel crucial. No mercado financeiro a variável chave é a taxa de juros (nacional e internacional) Permeando esses dois mercados há a taxa cambial. Portanto, é importante salientar o papel que o Saldo do Balanço de Transações Correntes,

[X – M(Y)], desempenha para o comportamento da economia brasileira. Há de se entender que embora o Brasil não seja um “partner” muito significante no comércio internacional, haja vista que só participa de 1,2% (para o ano de 2013) das exportações mundiais, o setor externo (tanto o mercado físico como o mercado financeiro) é muito importante para a nossa economia interna. De fato, em 2013, o setor exportador representou algo em torno de 12,56% do PIB nacional (World Bank, 2012). Assim, as exportações que cresceram 150,35% na década analisada tiveram papel importante, principalmente nos dois primeiros anos do Governo Lula da Silva, haja vista que possibilitou cobrir o saldo sempre

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negativo do balanço de serviços e, assim, determinando saldo positivo do balanço de pagamentos de transações correntes. Por outro lado, as importações, a par de suprir o mercado interno de bens que o País não produz, têm sido usadas para “mascarar” a inflação, haja vista que quando o governo mantém o real sobrevalorizado os preços dos bens internacionais se tornam mais “baratos” no mercado interno em comparação com aqueles que vigeriam caso a taxa cambial fosse de paridade. No caso dos preços, os economistas admitem que há uma forte correlação entre os preços internacionais e os preços internos. A ideia é que a relação abaixo seja verdadeira

PI = πPE Onde PI = preço interno π = taxa cambial PE = preço externo Para se ter uma noção do comportamento da economia mundial durante a década dos anos de 2004-2013 apresenta-se a Tabela 1, a seguir, a qual contem os valores dos PIBs e das Exportações para o mundo e para o Brasil. Por outro lado, para se compreender melhor o papel do mercado financeiro internacional, talvez seja interessante conhecer os dados do Balanço de Pagamentos Geral do Brasil no período 2003-2013. Isto é feito na Tabela 2, a seguir.

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TABELA 1 MUNDO E BRASIL

PIB E EXPORTAÇÕES 2002-2013

US$ bilhões correntes

ANOS

MUNDO BRASIL

PIB EXPORTAÇÃO PIB EXPORTAÇÃO

2002 34,000 8,143 510 73

2003 38,151 9,453 534 85

2004 42,393 11,448 664 109

2005 46,468 13,000 882 133

2006 50,334 14,984 1,089 156

2007 56,695 17,409 1,367 183

2008 62,169 19,870 1,654 226

2009 58,884 16,003 1,620 178

2010 64,548 19,066 2,143 233

2011 71,449 22,563 2,477 294

2012 72,905 22,863 2,249 283

2013 74,900 23,559 2,246 282

Fonte: World Bank Databank (em World Development Indicators). Washington, 2012.

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TABELA 2 BRASIL

RESULTADO DO BALANÇO DE PAGAMENTOS 2003-2013

US$ milhões

ANOS

BALANÇO DE

TRANSA ÇÕES

CORRENTES

CONTA DE CAPITAL E FINANCEIRA

SUPERAVIT OU DEFICIT

NO BP

RESERVAS INTERNACIO

NAIS

DÍVIDA EXTERNA

TOTAL

Investimentos Estrangeiros

Saldo

Direto

Cartei

ra

Outros

investimen tos

2003 4,063 10,144 5,129 (2,196) 5,543 8,496 49,296 214,930

2004 11,711 18,166 (3,996) (8,741) (7,330) 2,244 52,935 201,374

2005 13,985 15,066 6,655 (22,486) (9,464) 4,319 53,799 169,450

2006 13,621 18,782 9,051 23,491 15,982 30,569 85,839 172,589

2007 1,551 34,585 48,104 31,683 89,086 87,484 180,334 193,219

2008 (28,192) 45,058 (767) 8,143 29,352 2,969 206,806 198,340

2009 (24,302) 25,949 46,159 14,076 71,301 46,651 239,054 198,192

2010 (47,323) 48,506 67,795 41,415 99,716 49,101 288,575 256,804

2011 (52,473) 66,660 18,453 46,809 112,380 58,637 352,012 298,204

2012* (54,249) 65,272 16,534 19,549 70,010 18,900 373,147 312,899

2013* (81,374) 64,045 34,742 19,652 73,778 (5,926) 358,808 312,021

Fonte: FGV, CE, vol.68, Nº 05, maio 2014

*Dados preliminares.

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Tendo em vista que ocorreu um fato muito marcante para a economia mundial e que teve consequências para a maioria dos países desenvolvidos, e também para o Brasil, vale mencionar a chamada crise financeira internacional de setembro de 2008. Como se pode ver pelos dados das Tabelas 1 e 2, a crise de 2008 teve reflexos sobre o Brasil em dois segmentos distintos: as exportações que apresentaram queda em 2009 e no Saldo da Conta de Capitais. Entretanto, o Brasil embora não tenha saído ileso da crise, saiu com menos traumas que outros países, principalmente alguns países europeus como Grécia, Itália e Portugal. Mas também saiu-se melhor que os Estados Unidos, a Alemanha, o Reino Unido, a França, por exemplo. Para tanto, o governo brasileiro adotou uma série de medidas para fortalecer o mercado interno, o que minorou os efeitos deletérios da crise. No Quadro 5, a seguir, apresenta-se o rol de políticas adotadas pelo governo Lula da Silva, após a crise de 2008. .

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QUADRO 5 AS POLÍTICAS BRASILEIRAS NO PÓS-CRISE DE SETEMBRO

DE 2008

POLÍTICAS

MONETÁRIAS

POLÍTICAS FISCAIS

POLÍTICA DE GASTOS POLÍTICA TRIBUTÁRIA

Redução nas reservas compulsórias

Expansão dos investimentos do PAC

Diminuição da Alíquota do IOF

Redução da TBJ Programa Minha Casa Minha Vida: R$ 28 bilhões em subsídios, 60 bilhões em investimentos

Redução do IRPJ

Reservas para Financiar as Exportações

Plano Safra: R$ 12,0 bilhões

Redução temporária do IPI – veículos

Repasse de R$100 bilhões do Tesouro para o BNDES

Redução temporária do IPI – linha branca

Aumento do volume nas linhas de crédito dos bancos oficiais

Redução temporária do IPI ´- material de construção

Queda das taxas de juros nos créditos dos bancos oficiais

Alíquota zero do COFINS sobre Motos

Alíquota zero dos PIS/COFINS sobre Trigo, Farinha e Pãozinho

Desoneração do IPI sobre Bens de Capital

Agora as peças do “quebra cabeça” estão à mesa. Resta usá-las para explicar como as políticas adotadas pelo governo federal no período 2004-2013 influenciaram o desempenho da economia brasileira.

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5.O DESEMPENHO DA ECONOMIA BRASILEIRA NA DÉCADA 2004-2013

Conforme explicado anteriormente, apresenta-se os resultados do sistema econômico brasileiro sob os dois aspectos fundamentais: a estabilidade e o desempenho ao longo do tempo.

5.1. A estabilidade do sistema econômico brasileiro Conforme se viu anteriormente, quando se analisa o problema da estabilidade do sistema econômico, o enfoque central é analisar os chamados fundamentos da economia. Assim,se analise as variáveis que compõem tais fundamentos

A) EQUILÍBRIO NO BALANÇO DE PAGAMENTOS EM

TRANSAÇÕES CORRENTES

Como se pode verificar pelos dados da Tabela 3, a situação do Balanço de Pagamento de Transações Correntes no começo da década estudada era bastante confortável, haja vista que o Brasil apresentava, em 2004, um saldo positivo de US$ 11.7 bilhões. Mas a partir de 2008 ela não é mais uma situação confortável, porque o saldo negativo começou a ser a tônica. Em 2013, tal saldo já ascendia a US$ 81.3 bilhões. Portanto, o saldo negativo já se prolonga há 6 anos e – mais preocupante – com viés ascendente. É importante frisar, entretanto, que o comportamento do Balanço de Pagamentos em Transações Correntes a partir de 2008 é fruto, em parte, da crise internacional de setembro daquele ano. Note-se que o balanço comercial (exportações menos importações) apresentou a partir daí valores menores que os verificados em 2007.

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TABELA 3 BRASIL

BALANÇO DE PAGAMENTOS EM CONTA CORRENTE 2004-2013

US$ Milhões

ANOS

BALANÇO COMERCIAL

BALANÇO DE SERVIÇOS

TRANSFEREÊNCIAS UNILATERAIS

BALANÇO DE PAGAMENTOS EM TRANSAÇÕES CORRENTES

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

2011* 2012 * 2013*

33,640 44,758 46,086 40,028 24,967 25,273 20,147 29,792 19,394

2,555

(25,198) (34,276) (37,121) (42,510)

(57,252) (52,929) (70,257) (85,251) (76,490)

(126,234)

3,268 3,558 4,306 4,029 4,224 3,338 2,788 2,984 2,846 3,364

11,710 13,985 13,621 1,551

(28,182) (24,302) (47,323) (52,473) (54,249) (81,374)

Fonte: FGV, Conjuntura Econômica, vol.68, nº 05, maio 2014 *dados preliminares

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B) O SUPERAVIT PRIMÁRIO

No que se refere à Existência de Superávit Primário, as estatísticas da Tabela 4, a seguir, mostram que quando considerado em seu aspecto puramente fiscal, o Governo Federal apresenta sempre saldos positivos. Em 2004 o saldo foi de R$ 49,3 bilhões, atingindo R$ 88,3 bilhões em 2012. Em 2013 os resultados publicados pelo Banco Central vão somente até agosto. Entretanto, quando se considera o pagamento dos juros nominais, obtendo-se aí o resultado nominal do governo central, o comportamento é completamente diferente. Daquele superávit anual passa-se a déficits anuais. Em 2004 tal déficit foi de R$ 27,3 bilhões, atingindo, em 2012, a soma de R$ 125,6 bilhões. Em 2013 (dados somente até agosto) este saldo negativo já alcançava R$ 210,4 bilhões. Embora apresentando comportamento oscilante, com subidas e descidas, a tendência é, claramente, com viés ascendente

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TABELA 4 BRASIL

RESUILTADOS PRIMÁRIO E NOMINAL DO GOVERNO FEDERAL 2004-2013

R$ milhões

ANOS

Variáveis/parâmetros

RESULTADO PRIMÁRIO GOVERNO CENTRAL

JUROS NOMINAIS RESULTADO NOMINAL DO

GOVERNO CENTRAL

PIB NOMINAL

RNGC/PIB %

2004 49.341 (79.419) (27.033) 1.941.498 1,39

2005 52.673 (129.025) (73.284) 2.147.239 3,41

2006 48.748 (125.827) (74.475) 2.369.484 3,14

2007 57.650 (119.046) (59.607) 2.661.344 2,24

2008 71.438 (96.199) (24.891) 3.032.203 0,82

2009 39.436 (149.806) (107.363) 3.239.404 3,31

2010 79.047 (124.509) (45.785) 3.770.085 1,21

2011 93.228 (236.673) (143.445) 4.143.013 3,46

2012 88.262 (213.863) (125.601) 4.402.537 2,85

2013* 38.427 (248.856) (210.429) .... ....

Fonte – Banco Central *até agosto

.

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C) A INFLAÇÃO “CIVILIZADA”

Como a terceira variável considerada como fundamento da economia é a taxa de “inflação civilizada”, deve-se discutir este aspecto. Há de se considerar que existem vários indicadores para se conhecer a medida da inflação. Aqui foram usados dois índices: o Índice Geral de Preço – Disponibilidade Interna (IGP-DI) e o Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA). O primeiro é calculado pela Fundação Getúlio Vargas e o segundo pela Fundação IBGE. A ideia é ter índice referente à produção e índice referente ao consumo Na Tabela 5, abaixo, apresenta-se as estatísticas para esses dois índices. Como se pode ver, o comportamento do IGP-DI foi de decrescimento de 9,40% em 2004, atingindo 5,52% em 2013. O IGP-DI nessa década oscila em torno de 5,9% ao ano. No caso do IPCA, o comportamento é análogo, haja vista que, também, apresenta comportamento descendente, oscilando em torno de 5,45% ao ano.

TABELA 5 BRASIL

VARIAÇÃO DO IGP-DI 2004-2013

ANOS VARIAÇÃO DO IPCA

VARIAÇÃO DO IGP-DI

2004 6,27 9,40

2005 5,76 5,97

2006 3,26 1,73

2007 4,09 5,08

2008 6,57 11,23

2009 5,04 1,79

2010 5,11 5,58

2011 6,60 5,00

2012 6,20 8,10

2013 5,56 5,52

Fonte: FGV, Conjuntura Econômica, vol. 68, nº 05, maio 2014. .

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D) A EMISSÃO DE MOEDA

O quarto ponto escolhido pelos economistas para compor o conjunto chamado fundamentos da economia é o controle da emissão de moeda. Por que isso é importante? Porque a emissão de moeda pode ser um instrumento de financiamento do déficit público. E quando isso ocorre o processo inflacionário é instalado imediatamente! Na Tabela 6, mostra-se como se comportou a política monetária deste País no último decênio. A emissão de moeda está controlada quando o crescimento dos meios de pagamento (M1) não significa emissão de moeda para financiar os gastos públicos. Neste caso, seu crescimento deve ser compatível com a variação do índice geral de preços que é usado para medir a inflação. Em outras palavras,

Δ%M1 = Δ%P

Para o Brasil, no período analisado, esta igualdade não se verifica. Os dados da Tabela 6 atestam esta afirmativa. Note-se que enquanto o IGP-DI apresentou variação acumulada no período da ordem de 77,43%, o M1 aumentou em 169,52%. Como se pode verificar, o M1 cresceu duas vezes mais que o crescimento do IGP-DI. Mas se sabe que o M1 engloba o Papel Moeda em Poder do Público, que por sua vez engloba o Papel Moeda em Circulação, o qual é fruto da emissão de moeda. Isto é, tem-se que M1 = PMPP + Depósitos a Vista nos Bancos Comerciais Ora, tanto o PMPP quanto o DVBB estão intimamente relacionadas com o dinheiro em circulação, seja moeda impressa (papel moeda), seja moeda cunhada (as famosas “moedinhas”), portanto, umbilicalmente ligadas à moeda emitida. Assim, este aumento se deve em parte à emissão de moeda.

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Desta forma, tem-se

Δ%M1 > Δ%P

TABELA 6

BRASIL A EMISSÃO DE MOEDA NO BRASIL

2004-2013 R$ Milhões

ANOS

VARIÁVEIS

M1 M2 M3 M4

2004 127.946 493.497 988.622 1.109.519

2005 144.778 582.464 1.166.502 1.312.399

2006 174.345 661.500 1.377.704 1.558.613

2007 231.430 781.280 1.617.618 1.884.847

2008 223.440 1.072.986 1.908.187 2.242.126

2009 250.234 1.157.424 2.206.320 2.604.911

2010 280.141 1.360.654 2.548.005 3.038.760

2011 285.377 1.617.480 3.030.280 3.550.253

2012 324.483 1.764.049 3.518.467 4.103.137

2013* 344.843 1.957.179 3.824.225 4.459.365

Variação no Período 169,52% 296,59% 286,82% 301,92%

Variação do IGP-DI no Período

77,43%

Fonte – Banco Central do Brasil. Séries Estatísticas. www.bacen.gov.br. *Dados preliminares. Esta situação é uma evidência inconteste que o governo federal usou a emissão de moeda como um instrumento para financiamento do déficit em seu resultado nominal. Portanto, o governo central durante a década analisada tem usado o que a história mostra ser a tônica da economia política no Brasil: o endividamento interno e externo e a emissão de moeda para cobrir seus déficits operacionais.

E) A TAXA DE CÂMBIO

O quinto ponto a ser considerado é a estabilidade da taxa de câmbio. Aqui um grande problema se nos apresenta. De que taxa de câmbio se está falando? Esta variável/parâmetro pode ser definida de várias

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maneiras. Mas é muito comum se falar em taxa de câmbio de paridade. Conceito fácil de explicar, porém muito difícil de calcular. Quando a Taxa de Câmbio é Livre, portanto determinada pelo mercado, então ela será estável se seu valor orbitar em torno de um valor específico. As oscilações são fruto da interação entre oferta e demanda, mas o valor de equilíbrio é estável. No que diz respeito ao Brasil, não se tem uma taxa de câmbio livre. Na verdade temos uma taxa de câmbio flutuante (controlada), com o Governo intervindo no mercado sempre que acha conveniente. Todavia, mesmo tendo em vista que de há muito não tem ocorrido maxidesvalorização, não se pode dizer que a taxa cambial no Brasil é estável. Também aqui, considerando a inflação mundial igual a zero, deveria ocorrer a igualdade

Δ%TC = Δ%P

Na Tabela 7, a seguir, apresenta-se o valor da sobrevalorização do real para todos os anos da série. Mas o que chama a atenção é o comportamento ascendente desta variável. Há de se entender que, no Brasil, a tônica da política cambial é manter a moeda nacional sobrevalorizada. Isto é, a sobrevalorização da moeda nacional não é de agora. Aqui só se analisa um período de dez anos, mas na realidade, esta é a norma da política cambial brasileira desde 1947 (Vianna, 2011). Os períodos de subvalorização são muito raros ao longo desses 66 anos. Em 2013, taxa de câmbio oficial (fim de ano) foi de 2,3455, enquanto, ela deveria ser de 10,2166 (esta é a estimativa para a taxa cambial de paridade). Desta forma, apresentando uma sobrevalorização de 335,58%. Portanto,

Δ%TC < Δ%P

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TABELA 7 BRASIL

ÍNDICE DE VALORIZAÇÃO DA MOEDA NACIONAL 2004 – 2013

US$ Milhões

ANOS TAXA DE

CÂMBIO OFICIAL

VALOR EM

31/12

TAXA

CAMBIAL

DE

PARIDADE

ÍNDICE DE

VALORIZAÇÃO DA

MOEDA NACIONAL

(%)

2004 2,9259 3,6194 23,70

2005 2,4352 3,4195 40,42

2006 2,1761 3,3915 55,85

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2,9479

1,8346

1,9976

1,7601

1,6750

2,0778

2,3455

3,8368

4,3206

3,9704

9,3459

9,0195

9,6919

10,2166

30,15

135,51

98,76

430,99

438,48

366,45

335,58

Fontes: 1) WHOLESALE PRICE: 1948-1996: Statistical Yearbook; Financieras Internacionales. FMI. Vários anos.

2) IPA - DI: 1948-1970: Statistical Yearbook, United Nations. Vários anos; 1971-1996: Conjuntura Econômica (FGV), Vols. 31, 32, 33, 43, 45, 48, 50 e 51. 1997 – 2007: BACEN. Boletins. Vários anos.

3) TAXA DE CÂMBIO OFICIAL: FGV, Conjuntura Econômica, vol. 68, maio 2014.

4)TAXA CAMBIAL DE PARIDADE: 1948, Estima por DONALD HUDDLE, em “Balanço de Pagamentos e Controle de Câmbio no Brasil. Eficácia, Bem-estar e Desenvolvimento Econômico”, em RBE, Vol. 18, Nº 2, junho 1964. 1997-2010: BACEN. Boletins. Vários anos.

5) PRODUCER PRICE INDEX-COMMODITIES. 2004-2014: Bureau of Labor Statistics. US Government. 2014

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F) A RELAÇÃO DÍVIDA PÚBLICA/PIB

Finalmente tem-se o percentual da dívida líquida em relação ao PIB abaixo de 50,0% como o último fator determinante da situação boa ou ruim do sistema econômico do país.

Assim, se deve conhecer o quanto representa do PIB o estoque de dívida pública, bruta e líquida. Para tanto, apresenta-se a Tabela 8, abaixo, onde estão discriminadas estas três variáveis, ano a ano, para o período 2004 a 2013. No que diz respeito à relação dívida/PIB, a situação do Brasil é bastante confortável, se estudada dentro dos parâmetros internacionais, haja vista que em 2012 (não há dados para o PIB de 2013), a relação dívida líquida/PIB era de 35,93%.

TABELA 8 BRASIL

A RELAÇÃO DÍVIDA BRUTA, DÍVIDA LÍQUIDA E PIB 2004 – 2013

R$ Milhões

ANOS

VARIÁVEIS

DÍVIDA BRUTA

A

DÍVIDA LÍQUIDA

B

PIB C

A/C %

B/C %

2004 1.331.761 961.136 1.941.498 68,6 49,5

2005 1.453.608 1,010.241 2.147.239 67,7 47,0

2006 1.556.476 1.091.255 2.369.484 72,5 46,0

2007 1.714.436 1.181.418 2.661.344 64,4 44,4

2008 1.740.888 1.175.203 3.032.203 57,41 38,76

2009 1.973.424 1.378.129 3.239.404 60,92 42,54

2010* 2.011.522 1.495.285 3.770.085 53,35 39,66

2011 2.243.604 1.536.154 4.143.013 54,15 37,08

2012 2.583.946 1.581.281 4.402.537 58,69 35,93

2013* 2.747.997 1.660.187 ... ... ...

Fonte: Banco Central do Brasil. FGV, Conjuntura Econômica, vol. 68, nº 05, maio 2014

*Dado não disponível para o PIB

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De fato, analisando-se a relação dívida pública/PIB para diversos países, verifica-se que existem vários deles que apresentam relação acima dos mil por cento, como é o caso da Irlanda, cuja relação é 1.382,0%. Até mesmo países desenvolvidos mostram relação dívida pública/PIB bem maior que aquela apresentada pelo Brasil. É o caso da Alemanha e Inglaterra, por exemplo, cujas relações em 2010, foram de 185,1% e 413,3%, respectivamente. No Brasil, naquele ano, a relação era de 39,6%. O Jornal Valor em sua edição de 22/07/2014, publicou que a dívida total da China já chega a 250% do PIB. Do que foi exposto, que conclusões podem ser tiradas? Estão os fundamentos da economia em consonância com os preceitos de uma economia equilibrada? 5.1.1. As conclusões sobre a estabilidade do sistema

econômico brasileiro

A) O BALANÇO DE PAGAMENTO EM CONTA CORRENTE

Esta variável mostra tendência a apresentar valores negativos, o que impõe a entrada de divisas no País. Para resolver este problema só há duas soluções: ou sacar contra as reservas internacionais ou utilizar a chamada “poupança externa”. Esta poupança externa pode ser captada de duas maneiras: entrada no País de investimentos físicos ou via entrada de recursos no mercado financeiro. A primeira situação é muito boa para o País, mesmo que seja via compra de ativos físicos brasileiros (admitindo que quem vende um ativo aplica o recurso obtido em outro novo ativo, também no Brasil). A segunda opção representa aumento da dívida da chamada “ciranda financeira”. Esta última possibilidade é muito ruim, pois exige que os títulos nacionais paguem cada vez mais, juros mais elevados. Há de se ter em mente que como o real está sobrevalorizado, o que é um desincentivo para a entrada de divisas para financiamento, isto implica em que se mantenha a taxa de juros em níveis elevados para compensar o “desincentivo” da sobrevalorização da moeda nacional.

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Aqui há uma correlação perfeita entre taxa de câmbio desalinhada e taxa de juros elevada. Para este item, a conclusão é que O Balanço de Pagamentos em Conta Corrente não está em equilíbrio!

B) O SUPERAVIT PRIMÁRIO

Quanto a esta variável vê-se que ela tem se mostrado crescente, mas em contra partida, o resultado nominal também tem se mostrado crescente (obviamente com sinal trocado). Este último com viés altista mais acentuado que o superávit primário. Para esta situação, qual solução pode ser encontrada? Veja-se que esta situação deixa o Governo em uma camisa de força. Para continuar a manter o nível de gastos, tem que se endividar cada vez mais. E aí tem que subir a taxa de juros de seus títulos, pois pela lei da oferta e da procura, com o excesso de oferta tem que apresentar mais atrativos para os investidores, qual seja, por exemplo, o aumento dos rendimentos dos títulos. Assim, a política de aumento da taxa de juros não é mais uma política contra o aumento da inflação, mas uma política fiscal para fechar o “caixa” do Governo. Para complicar, agora existem duas situações que pressionam a taxa de juros para cima: o déficit do balanço em transações corrente e o resultado nominal do governo central (RNGC). Alegar que a política de aumento da taxa de juros é uma política anti-inflacionária é um engodo do Governo Federal. Ao contrário, aumentar a taxa de juros é contribuir para o aumento da inflação. Este é o grande imbróglio do governo brasileiro. Os defensores desse estado de coisas costumam argumentar que a relação RNGC/PIB no Brasil é muito baixa, bem menor que em outros países como, por exemplo, os Estados Unidos. Mas acontece que aquele país não paga as taxas de juros exorbitantes que o Brasil paga. Assim, lá, não há pressão inflacionária em sua economia.

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Pode-se concluir que o Governo não tem trabalhado a contento para resolver este desequilíbrio!

C) O COMPORTAMENTO DA INFLAÇÃO

A inflação durante a década analisada apresenta tendência altista. De fato, no período em foco apenas em duas ocasiões a variação efetiva do IGP-DI esteve abaixo do limite inferior estabelecido para a meta inflacionária. É importante salientar que apesar do comportamento declinante, os percentuais estão quase sempre acima do limite inferior da “meta inflacionária” estabelecida pelo Comitê de Política Monetária (COPOM) (4,50%), e em alguns anos ultrapassando (caso do IGP-DI) o limite superior de tal meta que é de 6,50%. Desta forma, a política anti-inflacionária do Governo não tem sido capaz de afastar o espectro da inflação no País!

D) A EMISSÃO DE MOEDA

É importante observar que pelos dados da FGV (Conjuntura Econômica, 2014) tanto o papel moeda em poder do público como os depósitos à vista cresceram no período estudado. Desta forma não se pode dizer que o aumento do M1 não foi consequência da emissão de moeda. Assim, não resta dúvida de que durante o período analisado a emissão de moeda tem apresentado movimento ascendente (tomando-se a variação do M1 como parâmetro) bem superior à variação do IGP-DI. Portanto, apresentando tendência inflacionária. Conclui-se que não há equilíbrio na política monetária brasileira!

E) O VALOR DA TAXA CAMBIAL

A tônica da política cambial brasileira se consubstancia como uma situação, a cada ano, de sobrevalorização do real.

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Aqui se deve ter em mente que o preocupante é que esta prática tem muito a ver com duas outras políticas: o combate à inflação e o incentivo à industrialização.

No que diz respeito ao combate a inflação, a sobrevalorização da

moeda nacional barateia artificialmente as importações. Não é a toa que hoje o mercado brasileiro está abarrotado das quinquilharias chinesas. Então isto mascara a inflação.

No que diz respeito ao efeito da sobrevalorização do real sobre o setor

industrial, tem-se duas vertentes: de um lado, ao baratear a importação de máquinas e equipamentos esse fato pode beneficiar o setor industrial. Por outro lado, ao baratear a importação de produtos já fabricados no País, esse fato contribui para diminuir a demanda por produtos nacionais e, assim, inibir a produção.

Dado que o governo brasileiro usa a taxa de juros para combater a

inflação e a sobrevalorização do real implica no aumento dessa taxa de juros, há um desincentivo à industrialização.

Temos aqui três consequências da sobrevalorização do real:

i) inibe a exportação; ii) inibe a entrada de recursos externos para investimentos de risco; iii) pressiona a taxa interna de juros para o alto, o que inibe a ação dos investidores nacionais. Somados estes fatos não é absurdo argumentar que a sobrevalorização do real está contribuindo para a desindustrialização do País. Por outro lado, as informações das Tabelas 5 e 7 permitem visualizar o desequilíbrio existente entre o comportamento dos preços e o comportamento da taxa nominal de câmbio. A variação daqueles tem sido decrescente; desta última, crescente. Portanto, a Política Cambial do governo brasileiro está contribuindo para a “desindustrialização” do País e, parece, não está contribuindo para debelar o processo inflacionário.

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E) A RELAÇÃO DÍVIDA PÚBLICA/PIB

Como Já foi explicitado anteriormente, o superávit primário continua apresentando valores positivos e a relação dívida líquida do setor público/PIB apresenta uma situação confortável. Por que, então, critica-se tanto o problema da dívida pública no Brasil? O problema aqui é o serviço da dívida. O que o governo despende com o pagamento de juros se torna um grande problema tendo em vista que o governo não tem capacidade de honrar este compromisso sem sacrificar a rubrica investimento. Em outras palavras, ao tirar recursos do orçamento para honrar o serviço da dívida, o governo fica sem recursos para investir em infraestrutura, em educação, em saúde, etc. Isto é que explica o famoso “pibinho” Portanto, o estoque da dívida se torna muito preocupante pelo serviço da dívida que o governo é obrigado a pagar todos os anos. Em 2012, este valor atingiu R$ 213,8 bilhões. Naturalmente, esta é uma sangria muito grande na capacidade de investimento do setor público brasileiro. Desta forma, a dívida pública, pelo volume de gastos que está envolvido no pagamento do “serviço da dívida”, é um gargalo para o desenvolvimento do Brasil! Portanto, vale aqui repetir a pergunta: está a economia brasileira dentro dos preceitos de uma economia equilibrada? As estatísticas analisadas não deixam dúvidas sobre a resposta: NÃO! Em resumo, dentro do que foi apresentado, pode-se chegar às seguintes conclusões:

a) O Balanço de Pagamentos em Conta Corrente não está em equilíbrio!

b) O Governo não tem trabalhado a contento para resolver o desequilíbrio no resultado nominal do governo central!

c) A política anti-inflacionária do Governo não tem sido capaz de

afastar o espectro da inflação no País!

d) Não há equilíbrio na política monetária brasileira!

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e) A Política Cambial do Governo brasileiro está contribuindo para a “desindustrialização” do País e, parece, não está contribuindo para debelar o processo inflacionário.

f) A dívida pública, pelo volume de gastos que está envolvido no

pagamento do “serviço da dívida”, é um gargalo para o

desenvolvimento do Brasil!

Portanto, dentro do substrato da estabilidade do sistema econômico brasileiro, se visto sob a ótica dos fundamentos da economia a conclusão que se pode chegar é que tal estabilidade não existe. Para se ter uma visão mais geral do comportamento da economia brasileira tomando o conceito de fundamentos da economia, durante a década 2004-2013, vale mostrar as seguintes estatísticas. (Ver Tabela 9)

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TABELA 9 BRASIL

AS VARIÁVEIS APRESENTADAS 2004-2013

ANOS

VARIAÇÃO NAS VARIÁVEIS/PARÂMETROS (%)

INFLAÇÃO

PIB

NOMINAL

PIB

REAL

SBPC/C

SUPERAVIT PRIMÁRIO

RESULTADO NOMINAL

DO GOVERNO CENTRAL

TAXA CAMBIAL

IGP-DI

IPCA

NOMINAL

DE PARIDADE

2004 9,40 6,27 ... 5,7 .... .... ..... ..... .....

2005 5,97 5,76 10,60 3,2 19,43 6,75 171,09 (16,77) (5,52)

2006 1,73 3,26 10,35 4,0 (2,60) (7,45) (6,06) (10,64) (0,82)

2007 5,08 4,09 12,32 6,1 (88,61) 18,26 (19,96) 35,47 13,13

2008 11,23 6,57 6,83 5,2 (171,70) 23,92 (58,24) (37,77) 12,61

2009 1,79 5,04 16,36 (0,3) 0,50 (44,80) 331,33 8,88 (8,11)

2010 5,58 5,11 16,38 7,5 94,13 100,44 (57,35) (11,89) 135,39

2011 5,00 6,60 9,89 2,7 10,88 17,94 213,30 (4,83) (3,49)

2012 8,10 6,20 6,26 0,9 3.38 5,33 (12,44) 24,05 7,45

2013 5,52 5,56 ..... 49,66 .... ..... 12,88 5,41

Fonte: Elaboração própria, a partir das Tabelas 1 a 6. FGV-C.E., vol. 68, nº 05, maio 2014.

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5.2. O desempenho da economia brasileira no período 2004 - 2013

Para efetuar a análise do comportamento da economia brasileira ao longo do período 2004-2013, se vai utilizar as estatísticas sobre as seguintes variáveis, incluindo aqui as variáveis já discutidas anteriormente: PIB PIB per capita População PEA PIA VTI Exportações Balanço de Pagamento em Transações Correntes Balanço de Pagamentos Geral Salário Mínimo Taxa de Juros (SELIC) Taxa de Câmbio LIBOR PRIME IGP-DI Variação Nominal do M1 Dívida Líquida do Governo Federal Resultado Nominal do Governo Central

Para se ter uma visão completa do comportamento das variáveis econômicas que têm impacto relevante no desempenho do sistema econômico, foi construída a Tabela 10, apresentada a seguir.

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TABELA 10 BRASIL

COMPORTAMENTO DE ALGUMAS VARIÁVEIS SOCIOECONÔMICAS IMPORTANTES 2004-2013

BRASIL

INDICADORES 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

PIB - Preços correntes (Milhões de Reais) 1.941.498 2.147.239 2.369.483 2.661.344 3.032.203 3.239.404 3.770.084 4.143.013 4.402.537* ....

PIB (per capta - R$) 10.720 11.709 12.769 14.183 15.992 16.918 19.509 21.252 22.362* ...

População Total (Mil pessoas) 181.690 183.880 186.023 188.031 189.951 191.792 190.755 195.243 196.877 ...

População Economicamente Ativa (Mil pessoas) 21.525 21.693 22.139 22.535 22.934 23.148 23.611 23.898 24.295 ...

População em idade ativa (Mil pessoas)** 37.664 38.345 38.945 39.619 40.252 40.847 41.364 41.883 42.379 ...

Valor Transformação Industrial (Mil Reais) 480.373.659 507.627.824 551.820.001 601.325.124 724.312.132 676.161.804 832.937.936 936.813.699 ... ...

Exportações (US$ FOB – milhões) 96,677 118,529 137.807 160,649 197,942 152,742 201,915 256,039 242,578 242,033

Balanço de pagamentos em C/C (US$ milhões) 11,711 13,985 13.621 1,551 (28,192) (24,302) (47,323) (52,473) (54,249) (81,374)

Balanço de pagamento total (US$ milhões) 2,244 4,319 30.569 87,484 2,969 46,651 49,101 58,637 18,900 (5,926)

Salário mínimo (R$1,00) 300 350 380 415 465 510 540 545 622 678

Taxa SELIC (% ao ano) 17,75 18,00 13,25 13,25 11,25 12,75 10,75 11,00 7,25 10,00

LIBOR (% ao ano) 1,79 3,76 5,27 5,25 3,05 1,12 0,52 0,78 0,51 0,35

PRIME RATE (% ao ano) ... ... ... 8,00 4,88 3,25 3,25 3,25 3,25 3,25

IGP-DI (variação %) 9,40 5,97 1,73 5,08 11,23 1,79 5,58 5,00 8,10 5,52

Taxa de Câmbio Oficial 2,93 2,44 2,18 2,95 1,83 2,00 1,76 1,68 2,08 2,35

Variação Anual do M1 (%) .... 13,15 20,42 32,74 (3,45) 11,99 11,95 1,87 13.70 6,27

Resultado Nominal do Gov. Central (R$ milhões) (79.419) (129.025) (125.827) (119.046) (96.199) (149.806) (124.509) (236.673) (213.863) (248.856)

Dívida Líquida do Gov. Federal (R$ milhões) 961.136 1.010.241 1.091.255 1.181.418 1.175.203 1.378.129 1.495.285 1.536.154 1,581.281 1.660.187

Fontes: IBGE; Banco Central; FGV - Conjuntura Econômica, vol. 68, Nº 05, maio 2014

*Fonte FGV; **Com base na Pesquisa Mensal de Emprego – Vários anos.

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Infelizmente não há, ainda, estatísticas definitivas para as variáveis, tais como: PIB , PIB per capita, PEA, PIA, VTI, por exemplo, no que diz respeito ao ano de 2013. De qualquer forma, as estatísticas apresentadas dão uma visão de como se comportou a economia brasileira no decênio 2004-2013. 5.2.1. Os resultados do governo Lula da Silva Para separar o desempenho do Governo Lula da Silva, em termos de economia, do Governo Dilma Rousseff apresenta-se o desempenho, das variáveis antes referidas no intervalo 2004-2010. Isto é feito na Tabela 11, abaixo.

TABELA 11 BRASIL

TAXAS DE CRESCIMENTO NAS VARIÁVEIS/PARÂMETROS 2004 - 2010

VARIÁVEIS/INDICADORES

VARIAÇÃO NO PERÍODO

(%)

PIB - Preços correntes (Milhões de Reais) 94,18

PIB (per capta - R$) 81,99

População Total (Mil pessoas) 4,99

População Economicamente Ativa (Mil pessoas) 9,69

População em idade ativa (Mil pessoas)** 9,82

Valor Transformação Industrial (Mil Reais) 73,39

Exportações (US$ FOB – milhões) 108,86

Balanço de pagamentos em C/C (US$ milhões) (504,09)

Balanço de pagamento total (US$ milhões) 2.188,00

Salário mínimo (R$1,00) 80,00

Taxa SELIC (% ao ano) (39,44)

LIBOR (% ao ano) (70,95)

PRIME RATE (% ao ano)* ...

IGP-DI (variação %) (40,64)

Taxa de Câmbio Oficial (39,93)

Variação Anual do M1 (%) ...

Resultado Nominal do Governo Central (R$ milhões) 56,77

Dívida Líquida do Governo Federal (R$ milhões) 55,68

Fonte – A partir dos dados da Tabela 10

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Como se pode verificar (todas as variações estão em termos nominais), o PIB brasileiro (medido em reais) no período 2004-2010 variou 94,18%, enquanto o PIB per capita (também medido em reais), no mesmo período, variou 81,99%. Estes resultados refletiriam, portanto, uma taxa de crescimento média anual em torno de 9,94% e 8,93%, respectivamente. O que sem dúvida são taxas bastante expressivas. Para se ter uma visão pictórica da evolução do PIB neste período analisado apresenta-se o Gráfico 2, a seguir.

GRÁFICO 2 BRASIL

EVOLUÇÃO DO PIB NOMINAL DO BRASIL 2004-2013

Fonte: A partir de informações do IBGE Desta forma, pode-se dizer que em termos do crescimento do PIB e do PIB per capita, o Governo Lula da Silva foi um sucesso. O problema é como esse crescimento se deu e como ele foi financiado. Em outras palavras, qual o seu legado para o Governo Dilma? E a população, quanto variou? No mesmo período do PIB, esta variou em 4,99%, um crescimento médio anual da ordem de 0,70%. Enquanto a População Economicamente Ativa (PEA) e a População em Idade Ativa (PIA) variaram anualmente ao derredor de 1,33%.

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No que diz respeito ao comportamento do VTI, verifica-se que o mesmo não acompanhou o crescimento do PIB, haja vista que apresentou um crescimento médio anual da ordem de 8,22%. Este fato já é um sintoma da “desindustrialização” que vem ocorrendo no País. O comportamento da variável “exportações” talvez seja o maior sucesso do Governo Lula da Silva naquilo que diz respeito ao sistema econômico. De fato, apresentando um crescimento médio de 11,09% ao ano, esta variável é responsável, em parte, pela taxa de crescimento do PIB. Entretanto, sucesso maior seria se o balanço de transações correntes tivesse apresentado comportamento parecido. Mas, que nada, esta variável apresentou alta taxa de crescimento, mas em sentido inverso: média de queda anual por volta de 29,30%. Este comportamento, necessariamente, tem que ser corroborado pela variação positiva do conta de capitais autônomos, a menos que se queira sacar contra as reservas internacionais. Isto significa que o Governo Lula da Silva se utilizou de maneira constante da chamada absorção de poupança externa, haja vista que o saldo do balanço de pagamentos do Brasil, no período 2004-2010, cresceu, em média, 11,84% ao ano. Ver Tabela 12.

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TABELA 12 BRASIL

VARIAÇÕES MÉDIAS ANUAIS NAS VARIÁVEIS/PARÂMETROS 2004 - 2010

VARIÁVEIS/INDICADORES

VARIAÇÃO ANUAL(%)

PIB - Preços correntes (Milhões de Reais) 9,94

PIB (per capta - R$) 8,93

População Total (Mil pessoas) 0,70

População Economicamente Ativa (Mil pessoas) 1,33

População em idade ativa (Mil pessoas)** 1,35

Valor Transformação Industrial (Mil Reais) 8,22

Exportações (US$ FOB – milhões) 11,09

Balanço de pagamentos em C/C (US$ milhões) (29,30)

Balanço de pagamento total (US$ milhões) 11,84

Salário mínimo (R$1,00) 8,76

Taxa SELIC (% ao ano)* 13,85

LIBOR (% ao ano)* 2,97

PRIME RATE (% ao ano)* ...

IGP-DI (variação %)* 5,83

Taxa de Câmbio Oficial 4,92

Variação Anual do M1 (%) .....

Resultado Nominal do Governo Central (R$ milhões) 6,63

Dívida Líquida do Governo Federal (R$ milhões) 6,53

Fonte – Dados das Tabelas 8 , 9 e 10. *valor médio anual O problema aqui é saber qual o destino dessas divisas, se para investimento de risco ou se para robustecer a ciranda financeira. Na Tabela 13, a seguir, apresentam-se os dados para a rubrica “ingressos de investimentos estrangeiros no Brasil” para o período 2003 - 2013.

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TABELA 13 BRASIL

INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS NA CONTA FINANCEIRA DO BALANÇO DE PAGAMENTOS

2003 - 2013 US$ milhões

ANOS

Investimen-tos Diretos

Investimen-tos em

Carteira

Outros investimen-

tos

TOTAL

2003 10,144 5,129 (6,86) 15,266

2004 18,146 (3,996) (8,721) 5,429

2005 15,066 6,655 (22,486) (765)

2006 18,822 9,076 24,486 52,384

2007 34,585 48,104 31,683 114,372

2008 45,058 (7,67) 8,149 53,199

2009 25,949 46,159 14,076 86,184

2010 48,506 67,795 41,543 130,377

2011 66,660 18,453 46,810 131,923

2012 65,272 16,534 19,549 101,355

2013 63,996 34,664 19,669 118,329

Fonte: BACEN, www.bcb.gov.br/série histórica do balanço de pagamentos

Como se pode verificar, as estatísticas apresentadas pelo Banco Central do Brasil (BACEN, 2014) mostram claramente que nos anos de 2006, 2007, 2009 e 2010, os valores captados para o setor financeira superaram os valores captados como “investimentos diretos”. Portanto, em quase a metade dos anos da série aqui estudada, o Brasil se utilizou da “ciranda financeira” para financiar os déficits no “balanço de pagamento das transações correntes”, e, consequentemente aumentar o volume das “reservas internacionais”. Esta prática foi usada à exaustão nos governos anteriores ao Governo Lula da Silva. Como já foi dito, tal prática põe em risco a estabilidade do sistema econômico brasileiro em um futuro não muito remoto.

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Complementando esta análise, mostra-se no Gráfico 3, abaixo, o comportamento do Balanço de Pagamentos de Transações Correntes e o Balanço de Pagamentos Geral. Como se pode ver, o BPC/C apresenta comportamento decrescente desde 2005 e – o que é mais importante - com dinâmica bastante acentuada. O BP Geral apresenta comportamento errático, mas com tendência declinante

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GRÁFICO 3 BRASIL

BALANÇA DE PAGAMENTOS TOTAL E CONTA CORRENTE 2004-2013

Fonte: A partir de informações do MDIC

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Corroborando sua política social de distribuição de “bolsas”, o Governo Lula da Silva promoveu o crescimento do salário mínimo anual, na média, acima da inflação. Veja-se que enquanto o IGP-DI se manteve, em média, ao derredor de 5,83% por ano, o salário mínimo variava em 8,76%. Por outro lado, a taxa cambial oficial variou, na média, apenas 4,92%, fato que corrobora a sobrevalorização do real em todo o período do Governo Lula da Silva. Quanto ao comportamento do Governo enquanto ente econômico, se verifica que o crescimento do resultado nominal do governo central (que envolve o financiamento de todos os gastos do governo, inclusive o pagamento de juros da dívida) sempre apresentou saldos negativos que variaram continuamente para maior a uma taxa média de 6,63% ao ano. Finalmente, quanto ao comportamento da dívida líquida do governo federal , acompanhando o crescimento dos déficits nas suas contas, a variação média nesta rubrica foi de 6,53% ao ano. Pelo Gráfico 4, mostrado abaixo, pode-se constatar visualmente o comportamento ascensional dessa variável. No que diz respeito ao comportamento da Taxa SELIC, pode-se ver pelo Gráfico 5, que no Governo Lula da Silva, ela foi sempre decrescente.

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GRÁFICO 4 DÍVIDA LÍQUIDA DO SETOR PÚBLICO BRASILEIRO

2004-2013 R$ Milhões

Fonte: A partir de informações do BACEN

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GRÁFICO 5

COMPORTAMENTO DA TAXA SELIC 2004-2013

Fonte: A partir das inmformações do BACEN

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ESTES FORAM OS RESULTADOS MAIS EXPRESSIVOS DO GOVERNO LUIS INÁCIO LULA DA SILVA! 5.2.2. Os resultados do governo Dilma Rousseff Pode-se agora analisar o comportamento dessas mesmas variáveis no período 2011-2013, período do ainda vigente Governo Dilma Rousseff. Isto é feito na Tabela 14, descrita a seguir.

TABELA 14 BRASIL

TAXAS DE CRESCIMENTO NAS VARIÁVEIS/PARÂMETROS 2011 - 2013

VARIÁVEIS/INDICADORES

VARIAÇÃO NO

PERÍODO (%)

PIB - Preços correntes (Milhões de Reais) 16,78

PIB (per capta - R$)* 14,57

População Total (Mil pessoas)* 3,21

População Economicamente Ativa (Mil pessoas)* 2,90

População em idade ativa (Mil pessoas)* 2,45

Valor Transformação Industrial (Mil Reais) ,,,

Exportações (US$ FOB – milhões) 19,87

Balanço de pagamentos em C/C (US$ milhões) 71,95

Balanço de pagamento total (US$ milhões) (120,69)

Salário mínimo (R$1,00) 25,56

Taxa SELIC (% ao ano) (6,98)

LIBOR (% ao ano) (32,69)

PRIME RATE (% ao ano)* 0,00

IGP-DI (variação %) (1,08)

Taxa de Câmbio Oficial 33,52

Variação Anual do M1 (%) (47,53)

Resultado Nominal do Governo Central (R$ milhões) 99,87

Dívida Líquida do Governo Federal (R$ milhões) 11,03

Fonte – Dados extraídos da Tabela 10 *Período 2010-2012

Como se pode verificar o comportamento das variáveis analisadas durante o Governo Dilma Rousseff, difere em muito daquilo que

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aconteceu no Governo Lula da Silva. E diferença para pior. Veja-se a Tabela 15 para se corroborar tal afirmativa.

TABELA 15 BRASIL

VARIAÇÕES MÉDIAS ANUAIS NAS VARIÁVEIS/PARÂMETROS 2011 - 2013

VARIÁVEIS/INDICADORES

VARIAÇÃO ANUAL(%)

PIB - Preços correntes (Milhões de Reais) 5,31

PIB (per capta - R$) 4,64

População Total (Mil pessoas) 1,06

População Economicamente Ativa (Mil pessoas) 0,96

População em idade ativa (Mil pessoas)** 0,81

Valor Transformação Industrial (Mil Reais) ...

Exportações (US$ FOB – milhões) 6,23

Balanço de pagamentos em C/C (US$ milhões) (19,80)

Balanço de pagamento total (US$ milhões) (30,20)

Salário mínimo (R$1,00) 7,88

Taxa SELIC (% ao ano)* 9,41

LIBOR (% ao ano)* 0,55

PRIME RATE (% ao ano)* 3,25

IGP-DI (variação %)* 6,21

Taxa de Câmbio Oficial 2,04

Variação Anual do M1 (%) 13,84

Resultado Nominal do Governo Central (R$ milhões) 25,96

Dívida Líquida do Governo Federal (R$ milhões) 3,55

Fonte – Dados das Tabelas 8 , 9 e 11. *valor médio anual Dadas as estatísticas das Tabelas 14 e 15, pode-se facilmente verificar a veracidade da afirmação acima. De fato, se se analisar as variáveis que dependem da ação que o Estado exerce no sistema econômico, pode-se ver que o Governo Dilma Rousseff teve desempenho inferior ao do governo anterior. De fato, olhando-se para as variáveis que dizem respeito ao PIB, verifica-se que o crescimento médio anual foi bem menor que aquele verificado no período 2004-2010. Enquanto naquele período o crescimento anual do PIB nominal variou em torno de 8,94%, no governo atual este crescimento foi de 5,31%. E a diferença do

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crescimento anual médio do PIB per capita apresentou uma diferença em pontos percentuais de 4,29. Em outras palavras, em termos de PIB (e PIB per capita) o comportamento dessa variável foi praticamente a metade daquele apresentado no Governo Lula da Silva. Infelizmente não se tem dados sobre o VTI para 2012. Assim, a comparação entre os dois governos fica prejudicada. No que diz respeito às exportações, o resultado neste segundo governo também foi bastante inferior ao que aconteceu no primeiro governo analisado: aqui, a diferença foi de 4,86 pontos percentuais. No que concerne ao balanço de pagamentos em conta corrente, o comportamento da variação média anual dessa variável no governo Lula da Silva foi pior que aquele verificado no governo atual: a variação média anual do primeiro período foi de 29,30% (negativamente), enquanto no segundo período tal percentual foi de 19,80% (também negativamente). Mas, quanto ao balanço de pagamentos geral, o governo Dilma Rousseff apresentou comportamento bem inferior ao primeiro governo, haja vista que passou de comportamento ascendente positivamente, para um comportamento não só descendente, mas negativo. Quanto ao pagamento do fator trabalho, verifica-se ao longo de toda a década movimento ascendente em termos reais, apresentando taxa de crescimento de 126,00%. Entretanto no governo Dilma Rousseff o ganho médio real do SM (7,88%) foi menor que aquele obtido no governo Lula da Silva (8,76%). Entretanto, o pagamento do fator capital (a taxa de juros) apresenta comportamento descendente, saindo de uma taxa de 17,75% em 2004, para 10,00%, em 2013. Quanto a este parâmetro, o Governo Dilma Rousseff apresentou comportamento mais concernente com a busca por crescimento econômico que o governo anterior, haja vista que a SELIC (média) ficou em 9,41%, enquanto no governo precedente ela girou ao derredor de 13,85%.

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O grande problema aqui é que a taxa SELIC é uma taxa básica e não a remuneração do capital, haja vista que no Brasil a taxa de juros cobrada pelo sistema bancário é, pelo menos, dez vezes este percentual. Deve-se chamar a atenção que a prime e a LIBOR também são taxas básicas para o mercado americano e para o mercado londrino, respectivamente, mas diferentemente da SELIC não atinge patamares tão elevados. É importante enfatizar a grande diferença entre a SELIC e as taxas de juros no mercado internacional. Este é um dos pontos focais para o baixo desempenho da economia brasileira.

No quesito inflação vale mencionar o comportamento do IGP-DI aqui tomado como a medida do processo inflacionário. Este parâmetro apresenta ao longo da década comportamento errático, mas com viés declinante quando se toma toda a década. No governo Dilma a inflação média é maior que a verificada no governo Lula da Silva.

Finalmente, tem-se o comportamento do preço da moeda nacional, a taxa de câmbio. Como já foi mostrado anteriormente este parâmetro tem a característica de sempre deixar o real sobrevalorizado – e o que é pior – com defasagens enormes em relação à taxa de paridade.

A comparação governo Dilma/governo Lula mostra que o real está mais sobrevalorizado agora que no governo anterior.

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6. SITUAÇÃO SÓCIO-POLÍTICO-ECONÔMICA DO BRASIL EM 2013 6.1. Preliminares Tendo descrito e analisado as diversas políticas adotadas pelo governo federal ao longo da década 2004-2013, como a economia brasileira se apresenta no último ano da série estudada? Em termos de política socioeconômica o comportamento do governo federal apresenta hoje, os seguintes aspectos: a) uma política monetária ortodoxa; b) uma política de crescimento econômico via investimento em infraestrutura; c) uma política social/desenvolvimentista; d) uma política social que se caracteriza pela distribuição de recursos públicos entre a população de baixíssima renda; e) uma política de edição de “pacotes” econômicos setoriais. No que se refere à política monetária ortodoxa o governo Dilma Rousseff continua a adotar as seguintes políticas econômicas: i) manutenção da taxa de câmbio com o real sobrevalorizado para mascarar a inflação; ii) combate à inflação via manipulação da SELIC; iii) déficit crescente no resultado nominal do governo central; iv) absorção cada vez maior da “poupança externa”. No que diz respeito à política desenvolvimentista, a característica básica é o PROGRAMA DE ACELERAÇÃO DO CRESCIMENTO (PAC 1 e 2). Quanto ao que se denomina de “política social/desenvolvimentista” ela se consubstancia pela implantação dos Programas: i) Programa Minha Casa, Minha Vida; ii) Plano Setorial de Qualificação e Inserção Profissional (PlanSeQ – Bolsa Família) – Próximo Passo; iii) Luz para Todos e, iv) Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA). De grande importância dentro desse rol de instrumentos utilizados pelo governo federal, há o programa social de distribuição de

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renda: o Programa Bolsa Família, secundado pelo Programa Benefício de Prestação Continuada (BPC). Finalmente, tem-se a herança dos diversos governos pós-governo militar: a edição de pacotes setoriais (Vianna, 2010) Somente em 2013, o governo Dilma Rousseff lançou 10 (dez) pacotes com os mais diversos objetivos. Esses “pacotes” envolveram política fiscal, como a autorização de desoneração tributária; política monetária, via política creditícia e política voltada para o investimento em infraestrutura. Nos Anexos 1 e 2 estão listados todos as Políticas, Planos e Programas adotados pelos governos da União neste período 2004-2013. Pode-se agora, então, estabelecer o “retrato” da economia brasileira em 2013, conforme a descrição que se segue. 6.2. Resultados da Economia Brasileira em 2013 Apesar de todos esses “pacotes” a resposta da economia brasileira tem sido decepcionante. Tanto que os prognósticos para o crescimento do PIB em 2014 é de se ter mais um “pibinho”. Em termos de PIB as estimativas é que em 2013 se atinja a marca de US$ 2,304 bilhões. Dentre os países do BRICS, o Brasil é a segunda maior economia e em termos mundial somos a 7ª nação. O PIB per capita do Brasil possivelmente estará ao derredor dos US$ 11,725.85 em 2013. Aqui a colocação mundial do Brasil varia entre 61ª a 64ª posição, conforme dados do FMI (2013) e da CIA World Factbook (2013). O Resultado Primário do Governo, em 2013, conforme estimativas, deve chegar ao derredor de R$ 40,0 bilhões. Aqui a rubrica que foi mais sacrificada foi a de investimento. De fato, o grande programa de investimento foi (e é) o PROGRAMA DE ACELERAÇÃO DO CRESCIMENTO - PAC, instituído pelo

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Decreto Nº 6.025, de 22/01/2007 e lançado oficialmente no dia 28 do mesmo mês. Este Programa, idealizado para o período 2007-2010, previa investimentos da ordem de R$ 503,9 bilhões, dos quais somente R$67,8 bilhões vinham do Tesouro Nacional. O restante, R$ 219,20 bilhões eram investimentos das empresas federais, principalmente da Petrobrás e R$ 216,90 eram de investimentos privados. É evidente que um programa que tem 43,04% dos seus recursos provenientes de fontes não controladas pelo governo, é mais uma peça de retórica que um programa de política econômica consistente. No governo Dilma Rousseff foi dada continuidade a este programa de investimentos, com a edição do chamado PAC 2. Para este Programa foram previstos R$ 1,59 trilhão para o período 2010-2014. Infelizmente os dados sobre o sucesso do Programa são divergentes. Enquanto o Comitê Gestor do PAC 2 em seu 10º Balanço (27/06/2014) assevera que 95,5% das ações previstas foram efetuadas e 84,8% dos recursos foram alocados, a Revista Veja e a ONG Contas Abertas publicam que somente 12,0% das obras foram concluídas; que 34,8% estão em execução e 53,3% não saíram do papel. Para complicar, os dados do Portal da Transparência mostram que a situação é bem pior que aquela mostrada pela Revista Veja e pela ONG Contas Abertas. Os dados do próprio Governo são mostrados na Tabela 16, abaixo. Uma visão pictórica da insignificância dos valores realmente pagos neste Programa do Governo, é apresentada no Gráfico 6, logo a seguir. Pode-se ver, portanto, que o tão falado investimento do governo federal via PAC está muito aquém daquilo que é propalado. No Gráfico 6, a seguir mostra-se o descompasso entre consumo e investimento, com este último apresentando comportamento descendente.

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TABELA 16 BRASIL

CONTABILIDADE DOS PACs 1 E 2 R$ bilhões

ANOS PAC 1 PAC 2

2007 VALOR ORÇADO

VALOR EMPREGADO

VALOR PAGO

VALOR ORÇADO

VALOR EMPREGADO

VALOR PAGO

2007 3,5 1,9 .... .... ....

2008 5,6 4,0 .... .... ....

2009 403,8 9,7 4,8 .... .... ....

2010 619,0 15,6 8,9 .... .... ....

2011 .... .... .... 204,4 8,6 12,2

2012 .... .... .... 472,4 16,4 18,6

2013 .... .... .... 773,4 21,3 22,7

2014* .... .... .... 871,4 21,8 27,8

Fonte: PAC 1 - Portal da Transparência; PAC 2 – 10º Balanço do PAC 2 *Data de Referência 23/06/3014

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GRÁFICO 6

BRASIL DESEQUILÍBRIO ENTRE CONSUMO E INVESTIMENTO

Fonte: CNI – Apresentação Economia Brasileira - 2012

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O Gráfico 6 mostra duas variáveis importantíssimas para o crescimento do PIB como foi visto anteriormente. O aumento dessas variáveis aumenta o PIB. Depois da crise de 2008 foi o consumo (mercado interno) dos brasileiros que permitiu o crescimento do PIB. Mas este “modelo” não pode ser mais usado porque o brasileiro se endividou muito. Assim, é no investimento que se pode pensar. Mas, com o comportamento mostrado acima, o que esperar? No Gráfico 7 seguinte mostra-se os valores realmente pagos dentro das rubricas dos PAC 1 e 2.

GRÁFICO 7 BRASIL

PAC 1 E PAC 2 VALORES PAGOS

Fonte: 10° Balanço do PAC 2 – Comitê Gestor – 27 de junho de 2014

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A parte este problema de informação, volte-se a atenção para as contas do governo federal. Assim, registre-se que o Resultado Nominal do Governo Central contabilizou um valor negativo da ordem de R$ 249,0 bilhões. Este resultado é devido ao pagamento do serviço da dívida pública. Em 2013, somente a dívida mobiliária federal interna já atingia R$ 2,028.126 milhões. Por outro lado, a dívida externa atingiu o valor de US$312.0 bilhões. Portanto, a dívida bruta total do governo federal atingia valores em torno de R$ 2,7 trilhões. O Gráfico 8, a seguir, mostra o comportamento ao longo dos últimos doze anos do pagamento dos juros da dívida pública.

GRÁFICO 8

BRASIL EVOLUÇÃO DO PAGAMENTO DOS JUROS DA DÍVIDA

PÚBLICA 2002-2013

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No que diz respeito ao setor externo da economia brasileira, verifica-se que em 2013 o valor das exportações atingiu US$ 242,178 milhões, enquanto as importações chegaram a US$ 239,625, o que resulta em um Saldo do Balanço Comercial de, apenas, US$ 2,551 milhões. Mas, o Saldo do Balanço em Transações Correntes atingiu o valor negativo de US$ 81.4 bilhões. Poe outro lado, o Saldo do Balanço de Pagamentos Geral foi negativo, no valor aproximado de US$ 6.0 bilhões. Na Tabela 17, abaixo, se mostra os números para a economia brasileira em 2013.

TABELA 17

BRASIL SITUAÇÃO DAS VARIÁVEIS SOCIOECONÔMICAS MAIS

IMPORTANTES 2013

VARIÁVEIS/INDICADORES VALORES

PIB - Preços correntes (Milhões de Reais) ....

PIB (per capta - R$) ...

População Total (Mil pessoas) ...

População Economicamente Ativa (Mil pessoas) ...

População em idade ativa (Mil pessoas)** ...

Valor Transformação Industrial (Mil Reais) ...

Exportações (US$ FOB – milhões) 242,033

Importações (US FOB – milhões 239,625

Balanço de pagamentos em C/C (US$ milhões) (81,374)

Balanço de pagamento total (US$ milhões) (5,926)

Salário mínimo (R$1,00) 678

Taxa SELIC (% ao ano)* 10,00

LIBOR (% ao ano)* 0,35

PRIME RATE (% ao ano)* 3,25

IGP-DI (variação %)* 5,52

Taxa de Câmbio Oficial 2,35

Variação Anual do M1 (%) 6,27

Resultado Nominal do Governo Central (R$ milhões) (248.856)

Dívida Líquida do Governo Federal (R$ milhões) 1.660.187

Fonte – Dados das Tabelas 10 e Conjuntura Econômica, vol. 68, Nº 06, junho 2014. *Valor médio anual

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7. AS PERSPECTIVAS PARA O PRÓXIMO LUSTRO

7.1. As Bases Estão Postas

Se o exercício de se analisar um sistema econômico envolve uma complexidade às vezes insuperável, o que dizer de se fazer “prognósticos” sobre o futuro. A mais famosa técnica econômica para se conhecer o que acontecerá depois de uma ação qualquer é o famoso “coeteris paribus” . Ou seja. “se tudo o mais permanecer constante”, então o que aconteceu no passado se repetirá no futuro. No Brasil, mesmo o “coeteris paribus” não acontecendo, as políticas econômicas se repetem com muita frequência. Dentre estas, as mais famosas são: a) Política de preços “administrados”; b) Existência constante de deficits nas contas públicas; c) Financiamento do déficit público via emissão de moeda (desde quando o Brasil se diz nação); d) Utilização da sobrevalorização da moeda nacional (desde 1944, quando se passou a ter estatísticas sobre a taxa cambial) e) Financiamento do saldo negativo do balanço de pagamentos via captação de poupança externa (desde o governo militar); f) Forte dependência da economia brasileira aos “humores” da economia mundial. Será que essas políticas se repetirão no próximo lustro? O primeiro item que se nos apresenta de grande importância é o problema dos preços administrados e, consequentemente o problema da inflação. Todos sabem que existem em qualquer sistema econômico quatro preços fundamentais: o preço do capital, o preço da mão de obra, o preço da moeda nacional e o preço dos bens (índice geral de preços). Com exceção do último, o Governo brasileiro controla

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diretamente os três primeiros. Mas, indiretamente, também tem enorme influência sobre o último. O preço do capital é a taxa de juros. O Governo Federal controla a SELIC e a TJLP, as duas taxas básicas de juros no Brasil. O preço da mão de obra é o salário, cujo expoente maior é o salário mínimo. Anualmente, o Governo determina qual será tal salário a vigorar durante o ano. O preço da moeda nacional é a Taxa de Câmbio. Embora as Autoridades Monetárias sempre digam que a taxa de câmbio no Brasil flutua livremente, o Banco Central controla esta taxa, intervindo no mercado sempre que algo compromete tal mercado. Portanto, ela é um parâmetro controlado pelo BACEN. É a famosa “dirty floating”. Finalmente, como o Governo da União interfere no índice geral de preços (para o produtor ou para o consumidor)?. O Governo não controla diretamente este índice (ou índices). Mas, indiretamente ele controla dez preços muito importantes para o cálculo da inflação. São eles: Produtos Derivados de Petróleo, Energia Elétrica Residencial, Serviços Telefônicos, Planos de Saúde, Produtos Farmacêuticos, Metrôs, Ônibus Interestadual, Correio, Barco e Gás Veicular. Desta forma, até o índice de preços geral para o consumidor é “administrado” pelo Governo Central. Esta é uma prática danosa para a economia porque prejudica a estabilidade do sistema econômico, haja vista que os preços não são determinados pelo mercado, ficando à mercê dos “humores” de um só ente econômico, o Governo.

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O segundo item arrolado acima foi: “Existência constante de deficits nas contas públicas”. Isto significa dizer que o Governo gasta mais do que arrecada. Este fenômeno quase sempre induz a uma alta carga tributária. Esta política também é prejudicial ao equilíbrio do sistema econômico por dois motivos: a) o Governo gasta mal, o que influi no sistema produtivo; e, b) reduz a poupança privada e, assim, interfere na alocação ótima de recursos para o sistema produtivo. O terceiro ponto aqui levantado foi “Financiamento do déficit via emissão de moeda”. Esta prática não é nova. Na verdade é uma prática dos governos desde que a primeira moeda foi cunhada. No Brasil, então, nem se fala. Mas esta também é uma prática danosa para o sistema econômico porque sempre induz à inflação e porque ela induz ao excesso de consumo, via queda na taxa de juros e aumento do crédito. Principalmente, crédito à pessoa física. O quarto ponto nominado “Utilização da sobrevalorização da moeda nacional” é um problema que envolve o combate à inflação. Os governos brasileiros de há muito usam a moeda nacional sobrevalorizada como política para “mascarar” a inflação. Esta prática é recorrente na economia brasileira. Nas décadas dos anos quarentas e cinquentas do século passado, a sobrevalorização da moeda nacional visava baratear a importação de máquinas e equipamentos. Esta política foi fundamental para a industrialização brasileira. No período de 1947 – 2013, a moeda nacional só esteve subvalorizada em 1958, 1983. 1985 e 2002 (ver Vianna, 2011). Mas se esta prática pode beneficiar as importações de máquinas e equipamentos, ela também estimula a importação de bens de consumo e desestimula a entrada de investimentos estrangeiros. Desta forma, não se deve adotar esta política como norma, porque ela interfere na alocação ótima de recursos na economia

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No que concerne ao quinto item “Financiamento do saldo negativo do balanço de pagamentos via captação de poupança externa” ,é importante compreender que esta política, embora recorrente na vida econômica do Brasil, está em posição diametralmente oposta à política de sobrevalorização da moeda nacional, haja vista que aquela é uma medida desestimulante desta. Para contrapor esta dicotomia, o Governo brasileiro se utiliza das altas taxas de juros para atrair os investidores. O problema é que os atraídos são os investidores financeiros, aqueles que promovem a chamada “ciranda financeira”, porque os investidores diretos visam à taxa de retorno dos investimentos físicos. Para estes investidores, as taxas altas de juros são um “preço sombra” para as taxas de retorno, o que os pode inibir a efetuar esses investimentos físicos e direcionar seus recursos para a “ciranda financeira”. Vale aqui lembrar um fato histórico que muito afetou a economia brasileira nas décadas dos anos sessentas, setentas e oitentas do século passado. Tal fato foi a prática extensiva de se usar a “poupança externa” para financiar o crescimento da economia. Naquela época as Autoridades Monetárias brasileiras defendiam esta prática como a necessidade de fechar o que era chamado de “Hiato dos Recursos Reais”, que basicamente significava cobrir os déficits do balanço de pagamentos em transações correntes. Mas o problema é que a grande liquidez internacional e a prática de taxas de juros baixas (mas flutuantes) levou a que muitos países se endividassem acima do “necessário”. No Brasil isto significou se endividar muito mais que o necessário para cobrir o “hiato” antes mencionado. (Vianna, 1979). E o resultado disso? Somente como exemplo vale lembrar que o Brasil, que havia se endividado a taxas de juros variáveis ao derredor dos 4,0% ao ano, nas décadas de 1960 e 1970, por problemas financeiros dos Estados Unidos teve sua dívida, na década dos oitentas, elevada a níveis estratosféricos porque aquele País elevou a taxa “prime” para 21,0%. Isto determinou o surgimento da chamada “década perdida”.

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Finalmente tem-se o sexto “condicionante” da economia brasileira a “Forte dependência da economia brasileira aos ‘humores’ da economia mundial”. Por ser, tradicionalmente, uma economia exportadora de “commodities” e captadora de recursos externos, o nosso desenvolvimento está sempre atrelado ao que acontece com a eco- nomia internacional. Somente para relembrar um pouco de história este fato vem desde os tempos do Brasil-colônia. De fato, a nossa cultura canavieira tomou impulso quando uma revolta de escravos no Haiti determinou a brusca queda da produção de açúcar naquele País. Por outro lado, a nossa produção algodoeira cresceu substancialmente quando da Guerra da Secessão nos Estados Unidos. À época, produção de algodão, base da economia sulista, caiu drasticamente. Assim, os exemplos são inúmeros da existência de tal correlação. Mais recentemente, os primeiros anos de recuperação da economia brasileira com o advento do Governo Lula da Silva se deveu grandemente ao aumento dos preços das “commodities” no mercado internacional. Os seis fatos citados acima foram os aspectos de políticas econômicas mais relevantes, entende-se, que aconteceram no Brasil na década 2004-2013. Analisadas as circunstâncias do sistema econômico brasileiro e internacional que podem influenciar a economia brasileira, pode-se agora fazer algumas inferências sobre o futuro de nossa economia para o próximo lustro. Resta, portanto, tentar vislumbrar que rumos se devem tomar para que a economia brasileira volte ao equilíbrio e ao caminho do desenvolvimento sustentável. Entretanto, dado que o desempenho de qualquer sistema econômico é um mótus perpetuum mostra-se, a seguir, as previsões para 2014 sugeridas por pesquisadores do Instituto

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Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV, 2014). Isto é feito na Tabela 18.

TABELA 18 BRASIL

COMPORTAMENTO ECONÔMICO 2013-2014

VARIÁVEIS – variação percentual 2013 2014*

PIB 2,5 1,6

OFERTA

Agropecuária 7.0 3,5

Indústria 1,7 -0,1

Extrativa -2.2 1,4

Transformação 2,7 -0,5

Construção 1,6 -1,3

Energia 2,9 2,9

Serviços 2.2 1,8

DEMANDA

Consumo Privado 2,6 1,7

Consumo da Administração Pública 2,0 2,5

Investimento (FBKF) 5,2 -2,0

Exportações 2,5 0,2

Importações 8,3 -1,3

Fonte – Solange Monteiro; “Ajuste Gradual”. FGV , C.E. Vol. 68, Nº 7, julho 2014.

7.2. O que nos Espera

O que pode acontecer com a economia brasileira nos próximos 5 anos é uma incógnita. E a grande incógnita é o resultado das eleições de outubro próximo. Se a candidata Dilma Rousseff for reeleita e os “conselhos comunitários” forem implantados, então estar-se-á correndo o sério risco de se ter uma “sovietização” da economia brasileira. Por outro lado, se outro candidato for eleito, terá o PT maioria no congresso nacional? Se a resposta for positiva, dificilmente o governo eleito terá condições de governar. Este é um dilema crucial para o futuro do Brasil.

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Portanto, as alternativas mais positivas, seriam:

A) A Presidente será reeleita e não haverá a “sovietização” da economia brasileira.

B) Outro candidato é eleito e o PT não obtém maioria no

Congresso. Dentro de qualquer destes dois contextos, o novo governo brasileiro se defrontará com a necessidade de realizar substancial ajuste da política econômica logo no primeiro ano de governo. Aqui ele se defrontará com um verdadeiro “desafio de Sofia”: a escolha entre tomada de medidas radicais (drásticas) ou tomada de medidas graduais.

CONTEXTO “A”

Dentro do contexto “A”, não se deve esperar mudanças drásticas na política econômica, mesmo havendo mudanças no Ministério da Fazenda e na Presidência do Banco Central. O governo deverá tentar aumentar o volume de investimentos, mas dificilmente cortará gastos correntes, pois o empreguismo é uma das políticas do PT. O crescimento do PIB continuará a ter o caráter de “pibinho”. Ou seja, o Brasil deverá crescer, ao ano, ao derredor dos 2,0% nos próximos cinco anos. Deve-se chamar a atenção que em um trabalho da Empresa de Pesquisa Energética-EPE, do Ministério de Minas e Energia, dado a lume neste mês de agosto, (EPE/MME, 2014) são apresentadas projeções para o crescimento do Brasil diferentes das aqui estabelecidas. De fato, as projeções do IEA ali registradas, são as seguintes: a) para o período 2010-2015, crescimento médio anual de 3,6%; para o período 2010-2020, crescimento de 3,8%; e, c) para o período 2010-2035, crescimento médio anual de 3,6%. Dentro deste contexto, as projeções da PWC-Price Water House & Coopers, também mostradas no trabalho da EPE, apontam para os seguintes números: a) PIB (PPP US$ de 2011) em 2011 igual a US$ 2.31 trilhões; b) PIB (PPP US$ de 2011) em 2030 igual a US$

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4.69 trilhões; e, c) PIB (PPP US$ de 2011) em 2050 igual a US$ 8.83 trilhões. Estas projeções determinariam um crescimento no período 2011-2030 de 103,03% nesses 19 anos. O que representaria um crescimento anual em torno de 3,79%. CONTEXTO “B” Por outro lado, dentro do contexto “B”, o governo terá liberdade para implantar as mudanças de ajuste na política econômica. Dado o atual contexto político-partidário do Brasil, e dada a organização política atual da população brasileira, não se deve esperar mudanças radicais de imediato. A expectativa é que se tenham mudanças graduais ao longo de todo o período governamental. De qualquer forma, as mudanças devem ser feitas para que o Brasil retorne ao caminho do equilíbrio de seu sistema econômico, e volte ao caminho do crescimento. Mas que mudanças serão estas? A) O PROBLEMA DOS PREÇOS CONTROLADOS Sabe-se, hoje, que a política de controle tarifário da energia elétrica, embutiu o erro de se tentar “esconder” a inflação barateando, artificialmente (por decreto/resolução), o preço desse insumo. Sabe-se, ainda, que o controle dos preços dos combustíveis, também para mascarar a inflação, tem causado enormes prejuízos à Petrobrás, o que, além disso, tem influenciado no desequilíbrio do balanço de pagamentos. O problema aqui é que a Petrobrás vende petróleo cru (baixo valor agregado) e importa óleo diesel e gasolina (alto valor agregado) e há subsídio para o consumidor. A estimativa é que os reajustes nestes dois preços ocorrera no máximo até 2015.

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Por outro lado, os aumentos do salário mínimo acima da inflação têm diminuído o poder de concorrência das indústrias brasileiras frente aos produtos chineses, país que não tem uma política salarial para seus operários como a que se tem aqui no Brasil. É claro que não se pode ser contra o aumento do poder aquisitivo da classe trabalhadora, mas deve-se ter em mente que não se pode pagar bem, quando não há mercado para seu produto. Talvez conceder aumentos mantendo o valor real do salário, mas garantindo emprego, seja mais socialmente justificável que dar aumentos acima da inflação, mas com um processo de “desindustrialização” em curso. É interessante observar o que foi mencionado por Belluzzo (2014) que os investimentos internos americanos deverão fluir para o Mississipi, “região de baixos salários e parcos direitos dos trabalhadores”. De qualquer forma, este é um dos mais sérios imbróglios a ser enfrentado pelo novo governo. B) O PROBLEMA DO DÉFICIT NAS CONTAS PÚBLICAS A solução deste problema só pode ocorrer se tomadas duas medidas. Ambas impopulares: a) redução das despesas correntes do Governo Federal; b) renegociação da dívida pública com os bancos nacionais para reduzir o “spread” pago pelo Governo. A primeira política pode ser tomada até indiretamente. Mesmo que a LOA estabeleça os valores das rubricas, elas não necessariamente devem ser honradas. O Brasil deve passar por um momento parecido com que estão passando Portugal, Espanha e Grécia, países cujos governos adotaram políticas sociais sem poder, à base do endividamento e, agora, estão tentando reestabelecer a realidade. No Gráfico 9 a seguir, mostra-se o comportamento da carga tributária no Brasil no período 1947-2012.

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Este encargo tributário sobre a população é um dos empecilhos para um maior crescimento da indústria brasileira e, consequentemente, da economia nacional.

GRÁFICO 9 BRASIL

COMPORTAMENTO DA CARGA TRIBUTÁRIA

Fonte: INDI/FIEC

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Por outro lado, o Governo Federal nunca cumpre in totum o que foi aprovado para a rubrica “investimentos”. Esta prática deve ser abandonada. Os investimentos devem ser cumpridos à risca. Principalmente os investimentos em educação e saúde. Ainda há de se ter em mente que a infraestrutura física é ainda a principal parcela do “custo Brasil”. Assim, ela deve ser contemplada com recursos capazes de minorar a situação caótica em que se encontram alguns equipamentos dentro dessa rubrica. C) O PROBLEMA DA EMISSÃO DE MOEDA PARA FINANCIAR O DÉFICIT PÚBLICO Este é um problema de fácil solução. Como quem dá a ordem para a emissão de moeda é o Conselho Monetário Nacional, cujo braço operacional é o Banco Central do Brasil, que não tem total independência, será suficiente que o Congresso Nacional não referende qualquer emissão de moeda a não ser o volume necessário de reposição das moedas inservíveis. D) O PROBLEMA DA SOBREVALORIZAÇÃO DO REAL Esta política deve ser abandonada (ou pelo menos minorada) fazendo-se pequenas desvalorizações do Real até que a taxa cambial esteja ao derredor da taxa cambial de paridade. Esta política beneficiará o setor exportador e prejudicará o setor importador. Mas para este último é possível utilizar-se de taxas cambiais diferenciadas como, aliás, já foi feito no Brasil (Vianna, 1981). Por outro lado, uma política de subvalorização do real beneficiará a entrada de recursos via captação de poupança externa o que pode ajudar na diminuição do valor da taxa de juros no País. E) O PROBLEMA DA CAPTAÇÃO DE POUPANÇA EXTERNA PARA FINANCIAR OS DÉBITOS DO BALANÇO DE PAGAMENTOS

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É importante compreender que esta política, embora recorrente na vida econômica do Brasil, está em posição diametralmente oposta à política de sobrevalorização da moeda nacional, haja vista que aquela é uma medida desestimulante desta. Para contrapor esta dicotomia, o Governo brasileiro se utiliza das altas taxas de juros para atrair os investidores. O problema é que os atraídos são os investidores financeiros, aqueles que promovem a chamada “ciranda financeira”, haja vista que os investidores diretos visam à taxa de retorno dos investimentos físicos. Dentro deste contexto têm-se alguns senões: a) primeiro o problema da relação déficit no balanço de pagamentos versus o estoque de reservas internacionais; b) o segundo, o problema da dívida interna e, c) o problema da dívida externa. Quanto ao primeiro “senão”, chama-se aqui a atenção para uma regra básica no comércio internacional: um país deve manter como reserva internacional, no mínimo, o valor de três meses de importação. Atualmente, o Brasil importa anualmente algo em torno de US$ 240.0 bilhões. Assim três meses de importação resultariam em US$ 60.0 bilhões. Desta forma, as reservas internacionais mantidas pelo Brasil (em 2013, eram de US$ 358.8 bilhões) são mais que suficientes para manter a liquidez das contas externas. Por outro lado, manter esse volume de reservas causa prejuízo ao Brasil, pois a taxa que o País recebe pelos empréstimos de tais recursos é bem menor que as taxas mais spreads que ela paga por seus débitos no exterior. Desta forma, usar parte dessas reservas para diminuir a dívida e, portanto, o volume de recursos pagos pela mesma é de bom alvitre. Mesmo que o Brasil quisesse, para maior segurança, ter reservas para cobrir seis meses de importação (US$ 120.0 bilhões), ele poderia dispor de US$239.0 bilhões para financiar o saldo negativo do balanço de pagamentos de transações correntes (em 2013 foi de US$81.0 bilhões) por, pelo menos quatro anos a partir de agora. O outro “senão” é o problema da dívida interna. Sabe-se hoje que o Governo do Presidente Lula da Silva cometeu um grave erro de “ufanismo exagerado” ao querer se tornar “credor” em lugar de “devedor” do FMI. Como o Brasil não tinha dinheiro

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para pagar esta dívida, o governo as vendeu aos bancos privados. Assim, o Brasil passou a dever a essas instituições. O problema é que deixou de pagar juros ao FMI na base de 4,0% a.a. para uma taxa ao derredor dos 19.0%. É por isso que a dívida interna do setor público federal atinge hoje a estratosférica soma de R$2.7 trilhões. Quanto ao terceiro “senão”, tem-se o problema da dívida externa. Apesar do ufanismo do Presidente Lula da Silva, o volume (em 2013 já atingia US$ 312.0 bilhões).desta dívida já está se tornando preocupante. Se não por seu volume, pela sangria de anual de recursos do Tesouro Este fato está levando o Brasil a pagar taxas de risco bem maiores que os “spreads” pagos por países como o Chile, Colômbia, México, e Peru (Oyamada, 2014). Portanto, equacionar o pagamento dos serviços dessas duas dívidas se afigura como ponto central de uma política econômica voltada para o equilíbrio das contas públicas e a retomada do poder de investimento do governo federal. F) O PROBLEMA DA DEPENDÊNCIA DA ECONOMIA BRASILEIRA AOS “HUMORES” DA ECONOMIA IN TERNACIONAL Para discutir este tema, analisa-se, em termos gerais, a situação da economia global, aqui considerada três grandes blocos de influência: a) a economia americana; b) a economia européia; e, c) a economia do BRICS. Há de se ter em mente que destes blocos é a economia americana aquela que maior influência tem na economia brasileira. A história tem mostrado que a economia dos Estados Unidos, pelo menos desde 1944, tem influenciado não só a economia brasileira, mas toda a economia mundial. Primeiro, porque desde aquele ano, o dólar passou a ser a “moeda internacional”; depois porque a economia americana passou a ser o maior mercado consumidor do mundo; terceiro, por ser o maior captador de poupança externa do mundo; e, quarto por ter se

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tornado o maior investidor externo do universo. Portanto, tudo o que, em termos de economia, acontece naquele País, se reflete em toda a economia mundial. Em particular, no caso do Brasil, ela foi até bem pouco tempo o maior mercado consumidor dos bens exportados pelo País e a maior supridora da famosa “poupança externa” utilizada pelo Brasil. Por outro lado, os preços das “commodities” são determinados em grande parte pela Bolsa de Mercadorias de Chicago e as taxas de juros no mundo todo são influenciadas pela política do FED ( Federal Reserve System), através do FOMC (Federal Open Market Commitee). Mas também o United States Department of the Treasury tem sua parcela de envolvimento nesta história, haja vista que é tal Departamento que promove a emissão de moeda naquele País. Ora, em qualquer país do mundo a emissão de moeda, a inflação e a taxa de juros estão umbilicalmente unidas. Desta forma, o FED e o Governo dos Estados Unidos têm o poder de influenciar o comportamento da economia brasileira. Queira-se ou não. Portanto, a pergunta que cabe aqui é, e como está se comportando a economia americana neste momento? Neste ano de 2014 verifica-se a ocorrência de dois fenômenos naquele País: a recuperação da economia e a possibilidade do FED aumentar a prime. Estes fatos têm dois efeitos diretos sobre a economia brasileira: um possível aumento das exportações e uma queda no volume de capitais americanos investidos no Brasil. De fato, no que diz respeito à economia americana, as análises dos especialistas mostram que está havendo recuperação da economia, embora modesta, a ponto de se imaginar que o FED já está preparando uma nova política de taxas de juros, com viés altista. Este viés é negado pelas autoridades do FED. No que diz respeito à recuperação da indústria americana tem-se que “a tendência de padronização das tecnologias de produção e a

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crescente influência das cadeias globais de valor na localização industrial reduzem os graus de liberdade de políticas públicas e privadas de estímulo à industria no Brasil” (Arbache, 1914). Veja-se, ainda, que o saldo comercial do Brasil com os EUA está se deteriorando. Em 2005 o saldo comercial bilateral de produtos industrializados foi de US$ 5.0 bilhões em favor do Brasil. Em 2013, já aconteceu um déficit de US$ 20,0 bilhões. A previsão de Jorge Arbache (1914) é que a tendência é piorar. Mas aqui há um problema mais sério. Ainda de acordo com Arbache, “a densidade industrial e a produtividade do trabalhador industrial americano são, respectivamente, 11 e 5 vezes maiores que as do Brasil”. Portanto, se o Governo brasileiro quer reverter este quadro de “desindustrialização”, tem que adotar políticas voltadas para o desenvolvimento do setor industrial, não com “pacotes” esporádicos e casuais, mas com a adoção de um verdadeiro plano de desenvolvimento industrial. O segundo ponto a se discutir é a possibilidade ou não de a Europa sair da crise que ainda persiste. De acordo com as informações veiculadas, algumas economias ainda estão profundamente mergulhadas na crise, como Portugal, Espanha e Grécia, secundados pela Turquia, Irlanda e Itália. Mesmo a economia mais forte do Bloco, a economia alemã, não está de todo recuperada da crise de 2008 e tem sofrido as conseqüências de ser o sustentáculo da área do Euro. E quanto ao BRICS, o que se espera? Embora a principal economia deste bloco econômico tenha perdido parte do seu dinamismo dos últimos anos, a China continua a crescer bem acima de todas as nações do mundo.

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Entretanto, as perspectivas mostram que a antiga performance daquele País não se repetirá até 2040, conforme as projeções da Empresa Exxon (reproduzidas no trabalho da EPE) e cujo resumo para os BRICS (exceto Brasil e África do Sul) se reproduz na Tabela 19, a seguir.

TABELA 19 PREVISSÕES DE CRESCCIMENTO PARA PARTE DOS BRISCS

%

PAÍSES PERÍODOS

2010-2025 2025-2040 2010-2040

RÚSSIA 3,6 2,8 3,2

CHINA 6,8 4,3 5,6

INDIA 6,3 4,9 5,6

Fonte: Adaptado de EPE, Série Estudos Econômicos – Nota Técnica Nº 12/14, Cenário Econômico 2050. Rio de Janeiro, Agosto 2014. Portanto, não há perspectivas de maiores crises para este Bloco, excetuando a posição do Brasil? A resposta não é tão simples. O FMI vê fragilidade na China que está com déficit fiscal de 10,0% do PIB (Lamucci, 2014). De acordo com esse autor, o FMI assegura que:

“O padrão de crescimento da China desde a crise financeira global não é sustentável e tem resultado em vulnerabilidades crescentes, especialmente no mercado imobiliário.”(Lamucci, 2014).

Desta forma, as preocupações do economista William White que serão abordadas logo abaixo, não parecem de todo infundadas. Mas, a criação de um Banco de Desenvolvimento para o BRICS, com capital inicial de US$50.0 bilhões dá uma idéia da disposição do Bloco em empreender uma política de sustentação econômica dos países membros.

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De qualquer forma uma grande incógnita persiste sobre todo o sistema mundial. Dado que os países desenvolvidos não tomaram as medidas que verdadeiramente poderiam minimizar os riscos de uma nova crise financeira (Vianna, 2014), há reais perspectivas de um novo fenômeno da espécie do que ocorreu em 2008 acontecer mais cedo do que se espera. Esta é, por exemplo, a visão de .William White, ex-economista-chefe do Banco de Compensações Internacionais, o conhecido BIS (Valor, 19-21/07/2014), quando argumenta que existem várias “bolhas” dentro de alguns sistemas monetários, de importantes economias. De fato, para ele existem as seguintes “bolhas” prontas para explodir: a) política monetária ultra expansionista adotada nos países desenvolvidos; b) mercado de ações em níveis recordes de alta; c) bônus livres de risco estão em níveis recordes de baixa; d) custo de fazer hedge ou cobertura está em recorde de baixa. Estas possíveis “bolhas” podem determinar uma nova crise internacional no entender de Mr. White ( 2014). O recente caso do Banco Espírito Santo, de Portugal, que teve de ser socorrido pelo Banco Central daquele País parece confirmar os temores de Mr. White. É importante lembrar que o Banco Central Europeu deverá divulgar, ainda este ano, suas avaliações sobre as demonstrações de resultados dos maiores bancos do Bloco. Em 2016 normas mais rígidas sobre o “socorro interno” a bancos endividados serão promulgadas. Este fato pode diminuir a voracidade dos bancos em se endividar. Analisadas as circunstâncias do sistema econômico brasileiro e internacional que podem influenciar a economia nacional, pode-se agora fazer mais algumas inferências sobre o futuro de nossa economia para o próximo lustro. Como se pode verificar, pelo que mostra o Gráfico 10, a seguir, a taxa de crescimento da população brasileira tem apresentado percentuais cada vez menores, o que determinará queda na PIA e na PEA brasileiras.

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GRÁFICO 10 BRASIL

TAXAS DE CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO

2,06%

1,98%

2,86%

1,50%

2,34%

3,17%2,90%

2,51%

1,77%1,61%1,18%1,07%

0,51%

Fonte: INDI/FIEC. “Indústria Viva. Produzindo o Futuro.

A consequência deste fenômeno é que a pirâmide da população brasileira sofrerá drástica modificação nas próximas cinco décadas, conforme é mostrado no Gráfico 11, a seguir.

GRÁFICO 11 BRASIL

VARIAÇÕES NA PIRÂMIDE DA POPULAÇÃO BRASILEIRA 2013 , 2040 , 2060

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Fonte: FIEC/INDI. “Indústria Viva. Produzindo o Futuro. Para um melhor entendimento deste problema, reproduz-se aqui Quadro apresentado pela equipe de inteligência do INDI/FIEC (INDI/FIEC, 2014) sobre a queda da participação da população para o crescimento do PIB, dados três cenários de desempenho desta última variável. (Ver Quadro 6). . Como se pode observar para uma taxa de crescimento do PIB cada vez maior, menor será a contribuição da população para tal desempenho. Para um melhor entendimento deste problema, reproduz-se aqui Quadro apresentado pela equipe de inteligência do INDI/FIEC (INDI/FIEC, 2014) sobre a queda da participação da população para o crescimento do PIB, dados três cenários de desempenho desta última variável. (Ver Quadro 6). . Como se pode observar para uma taxa de crescimento do PIB cada vez maior, menor será a contribuição da população para tal desempenho. Como se pode verificar, pelo que mostra o Gráfico 10, a seguir, a taxa de crescimento da população brasileira tem apresentado percentuais cada vez menores, o que determinará queda na PIA e na PEA brasileiras.

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QUADRO 6 BRASIL

CRESCIMENTO ECONÔMICO versus MUDANÇAS DEMOGRÁFICAS E PRODUTIVIDADE PERÍODO

VARIÁVEIS

CRESCIMENTO ANUAL DO PIB (CENÁRIOS)

POPULAÇÃO (POP)

OCUPAÇÃO POP/PEA)

ATIVIDADE (PEA/PIA)

PARTICIPAÇÃO (PIA/POP)

CONTRIBUIÇÃO DAS MUDANÇAS DEMOGRÁFICAS

CONTRIBUI- ÇÃO DA PRODUTIVIDADE

2010 a 2020

2,3% 31,0% 3,0% < 1,0% 22,0% 56,0% 44,0%

2010 a 2020

3,3% 21,0% 2,0% < 1,0% 15,0% 39,0% 61,0%

2010 a 2020

4,3% 16,0% 2,0% < 1,0% 11,0% 30,0% 70,0%

Fonte: Adaptado de FIEC/INDI; “Indústria Viva. Produzindo o Futuro. Fortaleza, 2014.

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Considerações Finais Dentro do que foi discutido, vale finalizar esta análise com as seguintes recomendações. A) Cortar os gastos em conta corrente e aumentar os gastos com investimentos. Se cumpridas as promessas de campanha dos candidatos, o grande beneficiário da nova política será o setor “educação”. Neste caso, ao fim do período, o Brasil estará em situação bem melhor que agora. B) Para o Brasil crescer mais fortemente, o Governo deverá renegociar as condições da dívida interna e da dívida externa para que haja maiores recursos para o investimento.

C) Não será possível manter os reajustes do Salário Mínimo muito acima da inflação. Aqui, um ponto percentual acima do índice inflacionário já será de bom tamanho. D) Por outro lado, será fundamental a desoneração da folha de pagamentos para todo o setor industrial. A política de beneficiar determinados setores sempre será uma política discriminatória que não se justifica, mesmo considerando a grande importância de setores específicos, como o automobilístico, por exemplo.

Essa desoneração da mão de obra deve ser secundada pela diminuição da carga tributária, que no Brasil é muito elevada como se viu anteriormente.

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Entretanto, não é só a carga tributária que é um condicionante do crescimento do setor industrial. Para dar maior competitividade à indústria, três fatores devem ser atacados: a) educação tecnológica e educação profissional; b) absorção de tecnologia; c) política de incentivo às exportações. E) No que diz respeito à educação tecnológica é de fundamental importância a criação por parte do governo de instituições de ensino voltadas para a formação de tecnólogos e para a formação de mão de obra qualificada, dirigidas principalmente para os setores de alta tecnologia. Desta forma é imprescindível que os setores portadores de futuro sejam estudados e sejam oferecidas condições para os seus desenvolvimentos. F) Da mesma forma, a qualificação de mão de obra deve ser orientada para aqueles setores que exijam tal formação. Portanto, deve haver um plano de desenvolvimento voltado explicitamente para essa capacitação. G) Também deverá haver um plano para apoio às empresas que tenham projetos de absorção de tecnologia, tipo isenção de parte dos impostos, quando a empresa apresentar projetos com estes objetivos. A FINEP, o CNPq e as Fundações de Pesquisas Estaduais devem trabalhar em conjunto, voltados para objetivos comuns. O governo federal deverá promover, por exemplo, uma política de cessão de técnicos e cientistas de seus quadros para atuação junto à indústria, por períodos determinados e com objetivos específicos. H) Quanto à política de promoção das exportações, a mais geral é procurar trabalhar com taxas de câmbio o mais próximo possível da

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taxa de paridade, com tendência para a subvalorização do real. Mas, políticas específicas devem ser adotadas, como o apoio à participação em feiras internacionais, à desburocratização dos caminhos para exportar, à difusão internacional dos produtos brasileiros, etc. I) A política creditícia deverá ser reformulada para permitir que empresas que só têm capital intangível possam ter acesso ao crédito. Aqui uma política de aceitação de “debêntures conversíveis e não-conversíveis”, ou a participação na “patente” da descoberta, se for o caso, como garantia do empréstimo, por parte dos bancos oficiais, deverá ser implementada para dar suporte aos empreendimentos de criação ou absorção de novas tecnologias, portanto, com risco de fracasso.

J) Há de se ter em mente,. ainda, e como foi visto anteriormente, além dos problemas puramente econômicos acima nominados, o Brasil apresenta um sério problema no que diz respeito ao crescimento da população. Como se pode ver, os problemas da economia brasileira são muitos – e variados. Isto exigirá do próximo governo, seja quem for, um compromisso com mudanças fundamentais no sistema econômico brasileiro, como: a) Mudança na Política Fiscal; b) Mudança na Política Monetária; c) Mudança na Política Salarial; d) Mudança na Política Educacional; e) Mudança na Política Cambial; f) Mudança na Política de Infraestrutura. Naturalmente, os instrumentos dessas políticas a serem reformulados são aqueles que foram objeto de análise neste trabalho. Mas acima de tudo, o governo deve elaborar um plano de desenvolvimento socioeconômico sustentável, que não seja apenas um “plano de governo”. Mas um verdadeiro plano de estado.

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FGV; Conjuntura Econômica, vol. 68, nº 5, maio 2014 FGV/IBRE ; Comjuntura Econômica. , vol. 68, nº 7, julho 2014

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LULA DA SILVA, L. I.; “Carta ao Povo Brasileiro” Jornal o Estado de São Paulo, 22/06/2012. MATTEI, L e MAGALHÃES, L.F.; “A Política Econômica Durante o Governo Lula (2003-2010): Cenários, Resultados e Perspectivas”. Em Nunca antes na História desse País....? Um Balanço das Políticas do Governo Lula.

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VIANNA, P.J.R.; “Análise dos Efeitos das Políticas de Comércio Exterior do Brasil sobre o Setor Externo Nordestino: 1948-1975”. Revista Econômica do Nordeste, vol.12, nº 2, abril/junho 1981, págs. 305-393. Fortaleza, 1981. VIANNA, P.J.R.; “O Setor Público na Economia Nordestina. Mitos e Realidade e sua Contribuição para o Bem-Estar”. Tese de Professor Titular para o DTE/FEAAC/UFC. Fortaleza, 1992. VIANNA, P.J.R.; “A Era dos “Pacotes” Está Voltando?” , Carta Econômica Ano 3, Nº 4, abril 2010. www.sfiec/indi.org.br VIANNA, P.J.R.; “Os Desafios Econômicos da Presidente

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ANEXOS

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ANEXO 1

RESUMO DAS POLÍTICAS, PLANOS E PROGRAMAS DO GOVERNO LULA

Na era PT, os primeiro “pacotes” já começaram a surgir em 2003. No Governo Lula, por exemplo, foram editadas as seguintes políticas/pacotes socioeconômicos:

Programa Nacional de Estímulo ao Primeiro Emprego para Jovens – PNPE - A Lei 10.748/2003 criou o Programa Nacional de

Estímulo ao Primeiro Emprego para os Jovens - PNPE, sendo posteriormente alterada pela Lei 10.940/2004 e regulamentada pelo Decreto 5.199/2004.

Programa Emergencial e Excepcional de Apoio às Concessionárias de Serviços Públicos de Distribuição de Energia Elétrica - lançado em 11/11/2003

Programa de Universalização do Acesso e Uso da Energia Elétrica – “LUZ PARA TODOS” - lançado em 28/11/2003

Programa Bolsa Atleta (Lei Nº 10.891, de 09/07/2004) Programa Universidade para Todos - ProUni (MPv Nº 213,

de 10/09/2004) regulamentados pela Lei Nº 11.096, de 13/01/2005.

Programa Especial de Habitação Popular - lançado em 11/02/2004 Programa de Modernização do Parque Industrial Nacional –

MODERMAQ - lançado em 07/12/2004

Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior – PITCE, lançada em 31 de março de 2004.

Política Industrial – criação da ABDI - Lei nº 11.080, de 30/12/2004 Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel - lançado em

3/01/2005 Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado – PNMPO

- lançado em 25/04/2005

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Programa de Inclusão Digital - lançado em 21/11/2005 (Lei Nº11.196, a chamada LEI DO BEM);

Regime Especial de Tributação para a Plataforma de Exportação de Serviços de Tecnologia da Informação - REPES - lançado em 21/11/2005 (Lei Nº11.196, a chamada LEI DO BEM)

Regime Especial de Aquisição de Bens de Capital para Empresas Exportadoras – RECAP - lançado em 21/11/2005 (Lei Nº11.196, a chamada LEI DO BEM)

Lei Geral das Microempresas – Lei Complementar Nº 123, de 14/12/2006;

Programa de Aceleração do Crescimento – PCA - Lançado em 28/01/2007, com orçamento de R$503,9 bilhões, para o período 2007-2010.

Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores – PADIS - Lei Nº 11.484, de 31/05/2007);

Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Equipamentos para TV Digital – PATVO - Lei Nº 11.484, de 31/05/2007);

Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infraestrutura – REIDE – Lei Nº 11.488. de 17/06/2007

Política Nacional de Desenvolvimento Regional – PNDR – Decreto nº 6.047, de 22/02/2007

Política de Desenvolvimento Produtivo - PDP – Lançado pela MP 428, de 12/05/2008 (Lei nº 11.774/2008) ; MP 429, de 12/05/2008 (Lei nº 11.786/2008)

Programa Minha Casa, Minha vida - Lei nº 11.977, DE 07/06/2009 Medidas de Incentivo à Competitividade – 14 medidas anunciadas

pelo Ministro Guido Mantega em 05/05/2010

Para completar a relação das políticas/pacotes instituídos pelo Governo Luta da Silva, apresenta-se no Quadro A 1.1, abaixo, a relação das medidas adotadas pelo Governo com o objetivo de amortecer os efeitos da crise internacional que se iniciou em setembro de 2008.

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QUADRO A 1.1 AS POLÍTICAS BRASILEIRAS NO PÓS-CRISE DE SETEMBRO

DE 2008

POLÍTICAS

MONETÁRIAS

POLÍTICAS FISCAIS

POLÍTICA DE GASTOS

POLÍTICA TRIBUTÁRIA

Redução nas reservas compulsórias

Expansão dos investimentos do PAC

Diminuição da Alíquota do IOF

Redução da TBJ Programa Minha Casa Minha Vida: R$ 28 bilhões em subsídios, 60 bilhões em investimentos

Redução do IRPJ

Reservas para Financiar as Exportações

Plano Safra: R$ 12,0 bilhões

Redução temporária do IPI – veículos

Repasse de R$100 bilhões do Tesouro para o BNDES

Redução temporária do IPI – linha branca

Aumento do volume nas linhas de crédito dos bancos oficiais

Redução temporária do IPI ´- material de construção

Queda das taxas de juros nos créditos dos bancos oficiais

Alíquota zero do COFINS sobre Motos

Alíquota zero dos PIS/COFINS sobre Trigo, Farinha e Pãozinho

Desoneração do IPI sobre Bens de Capital

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ANEXO 2

MEDIDAS ADOTADAS PELO GOVERNO BRASILEIRO PARA CONTROLAR A VALORIZAÇÃO DO REAL

1. 12 03 2008

Criação de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) de 1,5% sobre aplicações estrangeiras em investimento de renda fixa e em títulos do Tesouro Nacional. Esse tributo não será aplicado nas demais operações estrangeiras em Bolsas de Valores. Fim do Imposto sobre as Operações Financeiras (IOF) sobre as exportações, o que representa hoje uma arrecadação de R$ 2,2 bilhões ao ano.

Supressão da cobertura cambial sobre as exportações. Até agora, os exportadores tinham que ingressar com 60% do valor do que era exportado em dólar no país. Com a mudança, poderão deixar 100% das receitas com exportações para pagar obrigações em dólar no exterior. É uma medida que ajuda a reduzir os custos das empresas.

2. 04.10.2010

Elevação do IOF nas operações de entrada de investimentos estrangeiros em renda fixa no Brasil, de 2% para 4%.

3. 21.10.2010

Aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), de 4% para 6%, sobre os investimentos estrangeiros em renda fixa no país

4. 11 01 2011

O Tesouro foi autorizado a comprar e vender dólar nos mercados futuros, usando o dinheiro do Fundo Soberano do Brasil, uma poupança do governo em reais.

Na lista de possibilidades, está novo aumento do IOF para o investidor estrangeiro.

Já se discute um corte acima de R$ 40 bilhões no Orçamento, montante considerado alto por parte da equipe. O desenho final das medidas depende da aprovação de Dilma Rousseff, que quer um bloqueio realista, evitando liberações futuras.

Com o corte de gastos, o juro, que atrai capital externo, pode subir menos, o que evitaria maior alta do real.

5. 26 01 2011

A instituição fará leilões para comprar dólares em operações a termo, ou seja, aquelas em que a moeda é entregue em data futura, a ser definida no leilão.

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Nessas operações, empresas costumam vender aos bancos recursos que receberão posteriormente, por exemplo, em captação externa ou lançamento de ações. Assim, o risco de trazer o dinheiro para o país é diluído.

Também foi anunciado que o governo Dilma Rousseff vai ampliar as barreiras comerciais para proteger as contas externas e a indústria.

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ANEXO 3 MAIS UM EXERCÍCIO DE ANÁLISE DE POLÍTICA

ECONÔMICA

INTERRELAÇÕES ENTRE PARÂMETROS DE POLÍTICAS ECONÔMICAS

Apresenta-se a seguir o Quadro A.3.1 como mais um exercício de análise das conseqüências de adoção de políticas econômicas por parte do governo.

Aqui a idéia é mostrar que existem várias inter-relações entre a existência da moeda, a existência do orçamento, a existência de política de formação de preços, as regras do jogo e as técnicas sociais.

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QUADRO A 3.1 INTERRELAÇÕES ENTRE PARÂMETROS DE POLÍTICAS ECONÔMICAS

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Assim, apenas como mais um exercício didático, apresento, no Quadro acima, as diversas inter-relações existentes entre os parâmetros econômicos. Veja-se que neste Quadro são explicitadas as inter-relações entre moeda , orçamento, formação de preços, regras do jogo e técnica social. Tomando-se a indexação dos salários, por exemplo, pode-se ver que: esta leva ao aumento dos preços da oferta de bens, que por sua vez pressiona a inflação, a qual pode exigir a senhoriagem (emissão de moeda), que tem efeitos (provavelmente diminuição) sobre o déficit do governo, o qual pode influenciar (provável diminuição) o volume da dívida interna. .