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A economia do Brasil nos tempos do Barão
Paulo Roberto de Almeida
Diplomata, professor.
(www.pralmeida.org; [email protected])
A economia política do Brasil na época do Barão
Como se apresentava a economia brasileira na época do Barão do Rio Branco,
ou seja, grosso modo, a partir da última década do século XIX e na primeira do século
XX? O Brasil era essencialmente agrícola, mas basicamente atrasado, com 65% de
analfabetos em 1900 (taxa que ainda iria progredir para 70% em 1920), sendo a maior
parte deles rurícolas, entregues a uma agricultura primitiva. Os investimentos
estrangeiros contribuíam para ampliar a base produtiva nacional, mas a tomada de
recursos no exterior pelo governo central e pelas unidades subnacionais tinha, em boa
parte das vezes, objetivos não produtivos. Numa escala comparativa de bem-estar, o
Brasil de um século atrás situava-se na média dos latino-americanos, à exceção da
Argentina, bem mais rica; os brasileiros tinham uma renda per capita pouco abaixo de
800 dólares (de 1990), em contraste com os mais de 5 mil dólares dos americanos e
cerca de 3.700 dólares dos argentinos (Maddison, 1995; 2001).
A diplomacia estava voltada para a defesa do grande produto nacional de
exportação: era uma “diplomacia do café”, da promoção e da defesa desse produto
nos mercados externos, o que significava a defesa dos interesses financeiros nacionais
e os de sua classe dominante; era o café que garantia a solvência externa do Brasil e o
exibicionismo de suas elites. Os diplomatas monitoravam as cotações dos Brazilian
bonds na City, o centro nervoso, por excelência, do crédito internacional do Brasil.
Pode-se tentar ver um pouco mais de perto a conformação estrutural da
economia nacional, algumas de suas transformações na caótica transição republicana
e suas relações econômicas internacionais, para se fazer uma ideia do Brasil
econômico com o qual trabalhava o Barão do Rio Branco, em sua gestão prática à
frente do Ministério das Relações Exteriores. Três aspectos podem ser retidos neste
ensaio de síntese: a economia, em si, ou seja, a base produtiva, com suas
características agroexportadoras; os grandes intercâmbios com o exterior, numa fase
em que o coeficiente de abertura externa ainda era moderadamente elevado,
comparativamente aos padrões observados ao longo do século XX; e, por fim, os
fluxos relativos às finanças internacionais, elemento crucial da vida nacional e
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aspecto que sempre limitou as possibilidades de desenvolvimento econômico e social,
pelo apelo constante que o Brasil necessitava fazer a capitais e know-how
estrangeiros, em função da falta de recursos próprios e, sobretudo, de capital humano.
O que era a economia brasileira, na transição para o século XX?
Quando Rio Branco assumiu o ministério da Rua Larga a economia brasileira
estava em meio a uma lenta recuperação, após uma década inteira de experimentos
“republicanos” na política econômica, duas catastróficas revoltas militares internas,
uma guerra desastrosa no sertão da Bahia, uma volatilidade mais do que anormal na
frente cambial e um Funding Loan humilhante para os brios nacionais, já que
comprometendo as rendas das alfândegas do Rio de Janeiro, segundo os termos da
renegociação da dívida feita em meados de 1898, entre o presidente eleito Campos
Salles e os “banqueiros do Brasil”, os Rothschild.
O governo provisório começou tentando liberar o “espírito associativo e
empreendedor” dos poucos capitalistas nacionais e autorizou maiores emissões
bancárias e de ações do que recomendaria a prudência dos estadistas do Império,
excessivamente conservadores para o gosto econômico-jacobino dos novos donos do
poder. O resultado foi o chamado “encilhamento”, uma desvalorização ainda maior da
moeda, pressões inflacionistas insuportáveis e a inevitável ameaça de default,
conjurada pelo acordo financeiro de 1898: toda a primeira década republicana foi um
laboratório de experimentos econômicos, como bem estudado em trabalhos de
Gustavo Franco (1983; 1989). Seguiram-se os anos de ajuste recessivo patrocinados
por Joaquim Murtinho, até que a economia começou lentamente a se recuperar no
início do novo século; foi quando o Barão assumiu.
Não se fizeram novas grandes economias – tanto que se decidiu reequipar a
Marinha com três novos barcos de guerra –, embora a situação do crédito e das contas
públicas continuasse delicada; mas teve início um longo processo – talvez ainda não
de todo encerrado, ou até renovado, hoje – de intervenção do Estado na economia,
com o recurso habitual ao protecionismo tarifário e o apoio à indústria nacional por
uma série de mecanismos que foram sendo aperfeiçoados ao longo do século XX. O
Estado brasileiro, como evidenciado na obra de Steven Topik (1987), assumiu um
papel de defensor e de promotor da atividade econômica nacional, como poucas vezes
se assistiu em países exportadores de matérias primas, como o Brasil. E o Brasil era,
basicamente, um exportador de algumas poucas matérias primas agrícolas: na última
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década do século XIX, oito produtos agrícolas eram responsáveis por 95,6% do total
exportado, dos quais o café (64%) e a borracha (16%) eram os principais, sendo os
15% restantes tomados pelo açúcar (5,6%), algodão e couros (2,5% cada um), fumo e
mate (Schlittler, 1953: 8).
A larga autonomia concedida a estados e municípios pela Constituição de
1891 autorizou-os a recorrerem ao canal das emissões externas, o que foi usado e
abusado extensivamente, resultando num festival de contratação de empréstimos
externos, com aumento vertiginoso do endividamento geral. Uma “lei do similar
nacional”, aprovada nos tempos do Barão, ratificou o que já era uma realidade aferida
por pesquisa de terreno: um levantamento do Centro Industrial do Brasil, efetuado em
1907, a pedido do governo federal, “constatou que a maior parte do consumo aparente
de vários produtos manufaturados de uso corrente no País já era atendida pela
produção nacional” (Versiani-Suzigan, 1990: 5).
O novo ativismo estatal em apoio à economia nacional combinou-se,
obviamente, ao interesse próprio dos principais atores econômicos do país naquela
fase, os exportadores de café, que não deixaram de explorar a possibilidade de
mobilizar o apoio governamental cada vez que as necessidades se fizeram sentir. Isso
se traduziu em diferentes medidas de valorização do café, a única palavra
genuinamente brasileira que foi anglicizada no seguimento das operações de retenção
de estoques excedentários pela via de financiamentos externos.
A principal crítica dos tribunos republicanos à política econômica do período
monárquico se resumia a uma simples frase: “O Império é o déficit!”. A República
continuou com essa prática em proporções nunca antes vistas no país, até que o rigor
de Salles e Murtinho, entre 1898 e 1902, reverteu, mas apenas temporariamente, a
prodigalidade orçamentária. As condições de financiamento interno eram mais do que
precárias e o recurso ao endividamento externo continuou errático em determinadas
conjunturas do cenário internacional (na crise do Barings na Argentina, no início da
República, por exemplo), para voltar de forma exacerbada nos demais anos.
O apelo a recursos privados foi necessariamente contido no quadriênio Salles-
Murtinho – et pour cause: Funding Loan oblige –, já que o empréstimo de
consolidação de 10 milhões de libras esterlinas dos Rothschild exigia o recolhimento
de valor equivalente em mil-réis; mas a prática deflacionária durou apenas até 1905,
registrando-se, depois, novos aumentos do meio circulante. No plano das dívidas
“pouco soberanas”, os estados e municípios aumentaram em dez vezes sua exposição
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externa, entre 1900 e 1912, que passou, globalmente, de 5 a 50 milhões de libras, o
que representava quase dois quintos da dívida externa federal (Dean, 1989: 222).
Em qualquer hipótese, o caráter cíclico da economia cafeeira determinava os
altos e baixos da economia real, do câmbio e das importações, com severos impactos
fiscais (Leff, 1991; Baer, 1996). A economia como um todo era notoriamente
modesta, para um país das dimensões e com os recursos do Brasil; uma estreita faixa
do litoral abrigava um “arquipélago” de pequenas indústrias, como não deixou de
notar um visitante francês do começo do século (Denis, 1909: 69). Na verdade, o
Brasil não possuía um mercado nacional integrado e os preços variavam bastante de
uma região a outra. Os portos eram extremamente precários e mesmo uma capital
como o Rio de Janeiro ainda lutava contra surtos de febre amarela e outras endemias
típicas de um país tropical que pretendia se fazer civilizado.
A política fiscal era tosca, tanto mais caótica que a Constituição tinha
garantido larga autonomia aos Estados. À União cabiam as receitas de importação
(ademais das taxas de correios e telégrafos e alguns serviços seletivos, ou taxas de
selo), mas os estados coletavam impostos sobre as exportações, sobre os imóveis
rurais e urbanos, sobre transmissão e propriedade e sobre indústrias e profissões. O
mesmo visitante francês registrava que os direitos de exportação constituíam a
principal fonte de receitas da maioria dos estados (Denis, 1909: 56). Esse dispositivo
constitucional beneficiava São Paulo, mas deixava na penúria os estados que não
tinham produtos de exportação; esses, então, recorriam à imposição de tributos sobre
“importações” de outros estados, uma evidente barreira comercial.
O caráter primitivo das políticas econômicas refletia a ausência de mercado
interno no Brasil, e especialmente de um mercado de créditos e de mão-de-obra
especializada, situação que começou a ser atenuada com a imigração europeia.
Durante algum tempo, logo ao início da República, o Barão atuou, justamente, como
“comissário de imigração”, entre o consulado em Liverpool e o primeiro caso de
limites. As tendências escravocratas dos fazendeiros de café, mesmo em face de
agricultores europeus, cuja imigração tinha sido subsidiada em grande medida pelo
estado de São Paulo, resultavam em reclamações de cônsules a seus governos: o da
Itália chegou a proibir, em 1902, a emigração subsidiada para o Brasil. A situação não
era melhor para os japoneses, o que apenas refletia o caráter predatório de uma elite
que, mesmo tendo no café sua principal riqueza, não hesitava em exportar sacos e
mais sacos do produto, contendo pedras, gravetos e outros resíduos.
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O protecionismo dominante, a ausência de poupança e a consequente penúria
de capitais tornavam o Brasil, ao início do século XX, um país extremamente caro do
ponto de vista dos bens correntes, como relatam diversos viajantes: juros na faixa de
10%, ou mesmo superiores a 12%, eram comuns, e os consumidores se sujeitavam a
pagar preços extorsivos devido à ausência quase completa de concorrência (Denis,
1909: 71). Quando se observam outras características da economia brasileira e de suas
políticas econômicas, a um século de distância, tem-se por vezes a impressão de que o
país descreveu uma parábola quase perfeita: exportações agrícolas, orçamentos
deficitários, juros altos, indecisões cambiais, protecionismo comercial, país caro...
Quais eram os grandes intercâmbios externos?
“O Brasil é o café e o café é o Brasil”: assim se dizia desde o Segundo Império
e durante toda a velha República. A partir de modestas exportações de 60 mil
toneladas anuais na terceira década do século XIX, o Brasil passou a vender ao
exterior quase 900 mil toneladas, um ano antes de Rio Branco assumir o MRE.
Mesmo vendendo um produto de baixa qualidade, as plantações de café do Brasil
ainda representavam, no final dos anos 1920, 2,1 bilhões de árvores de um total
mundial de 3,2 bilhões de árvores. Os preços flutuavam ao sabor dos imponderáveis
da oferta: geralmente ficaram em torno de 15 centavos de dólar por libra-peso, mas a
volatilidade era a regra, com efeitos sobre a paridade cambial: o governo sempre
pretendeu fixar uma taxa de câmbio favorável aos exportadores, mas as variáveis do
mercado eram mais poderosas do que os desejos dos decisores políticos.
Na época do Barão, as exportações de borracha ainda se encontravam num
pico extremamente prometedor, para despencar, catastrófica e irremediavelmente, a
partir de 1913, quando a concorrência da “hevea brasiliensis” da Malásia finalmente
se apresentou nos mercados. Os ganhos da borracha foram extraordinários: de um
modesto valor de 182 libras esterlinas a tonelada, em 1870, a borracha chegou a
alcançar 512 libras em 1911, reforçando as receitas em divisas dos exportadores e as
rendas fiscais da União, uma vez que o Acre ficou sendo um território federal: em três
anos de exportação de borracha se pagou a indenização à Bolívia (Denis, 1909: 53).
O açúcar ainda chegou a experimentar breve retomada na oferta externa, em
função de esforços de modernização da indústria moageira no final do Império, mas a
concorrência dos produtores mais eficientes do Caribe ou da variante de beterraba na
Europa, acrescida das políticas subvencionistas e protecionistas nos principais países
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consumidores, contribuíram para a estagnação e até o recuo das exportações do
principal produto da era colonial. Poucos outros produtos primários completavam a
pauta exportadora, nenhum deles com dinamismo suficiente para impulsionar um
vigoroso crescimento interno.
A política econômica e, de fato, toda a diplomacia econômica de um Brasil
agroexportador que, exceção feita aos anos de bonança associados à borracha, tinha
sido reduzido basicamente a um exportador de café, poderiam ser resumidas num
único conceito, avassalador: valorização. Em uma conferência internacional do café,
realizada em Nova York, em 1902, os delegados brasileiros tentaram montar um
cartel para o controle das exportações, mas a proposta não foi adiante, inclusive
porque o governo, por falta de autorização legislativa, deixou de convocar, como
esperado, nova reunião dos exportadores em São Paulo (Bueno, 2003: 76). Os
parlamentares, que eram também produtores de café, se perguntavam provavelmente
quem iria, finalmente, arcar com os custos da retenção dos estoques.
Mas mesmo a política de valorização, febrilmente defendida pelos estados
produtores e exportadores de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, não podia
impedir a extrema volatilidade cambial, inclusive por razões que não tinham muito a
ver com o curso do café nos mercados mundiais: a razão principal eram as emissões
de moeda papel, sempre a cargo do governo federal. Esse movimento ocorria
paralelamente à reorganização bancária, com o reagrupamento e a criação de novas
instituições, entre elas os bancos que mais tarde dariam origem ao (quarto, ou quinto)
Banco do Brasil, mais um sinal do intervencionismo governamental.
No momento da queda do Império, por exemplo, o câmbio ainda se eleva a 27
3/16 pence por mil-réis, com uma massa circulante de papel moeda equivalente a 174
milhões (ou contos) de réis. Com as emissões sucessivas da República, a baixa do
câmbio se acentua, passando a 12 pence, em média, na primeira metade da década, e a
menos de 10, na segunda metade. Em 1898 e no primeiro trimestre de 1899, o câmbio
atingiu seu ponto mais baixo, entre 7 e 6 pence por mil-réis, e as emissões tinham se
elevado a 785 milhões de réis. Para cobrir as obrigações, o Tesouro fazia novas
emissões, o que agravava os problemas dos déficits e do câmbio. Ainda que não se
possa traçar uma relação de causalidade entre esses aumentos do meio circulante e os
movimentos baixistas do câmbio – para os quais interferiam outras variáveis
independentes, entre as quais a oferta de capitais internacionais e, sobretudo, o curso
do café nas bolsas de mercadorias – é evidente que a expansão da oferta de moeda no
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mercado doméstico gerava uma maior procura por cambiais, tanto mais importantes
que a oferta de insumos e produtos acabados, no Brasil, sempre foi insuficiente.
O Funding Loan de 1898 inverteu a situação, ao custo do recolhimento do
meio circulante e sua destruição: em abril de 1908, cerca de 145 milhões de réis, um
quinto da massa total, já tinham sido incinerados, o que permitiu elevar o câmbio a 16
pence. A política de valorização, pelo seu aspecto de retenção de estoques, contribuiu
para acentuar a tendência. A intervenção levada a cabo numa “indústria” relevante
como a do café, inclusive pelos valores envolvidos na operação, constituiu uma
novidade mundial em matéria de economia política (Delfim Netto, 1976). O
intervencionismo do Brasil, que era, na verdade, conduzido pelos três maiores estados
da federação, não deixou de se deparar com reações muito negativas na Europa e nos
Estados Unidos, onde a política foi tomada pelo que ela era: uma especulação em
detrimento dos consumidores, em favor de produtores monopolistas.
No plano diplomático, o serviço exterior foi chamado a negociar com os
países consumidores a redução dos direitos alfandegários, a estimular o consumo por
meio da propaganda oficial, a combater o uso da chicória e outros acréscimos ao café
puro, a denunciar as falsificações ou, ainda, tentar, na Inglaterra e no Extremo
Oriente, substituir o chá pela valorosa bebida nacional. No plano interno também se
cuidava de estimular o consumo, iniciativa similar ao registrado na França, em
diversas épocas, em relação ao seu vinho. Curiosamente, pouco se falava da melhoria
da qualidade do produto, e de seu tratamento para a exportação, como começavam a
fazer concorrentes vizinhos – como a Colômbia – que não esperava poder bater o
Brasil pela quantidade.
O outro grande conceito prevalecente na política econômica era o do
protecionismo, aplicado sistematicamente tanto por razões defensivas e de promoção
da indústria nacional – que no entanto era basicamente importadora de todos os seus
insumos – quanto por motivos fiscais, compreensivelmente bem mais poderosos que
quaisquer outros. O mesmo visitante francês dos tempos do Barão era obrigado a
reconhecer que “la douane fédérale est aujourd’hui une puissance” (Denis, 1909: 67).
O protecionismo instintivo, a tendência a insular a indústria nacional da
concorrência estrangeira não promovia apenas os interesses restritos dos poucos
industriais nacionais, e os defendia das ameaças vindas, nessa época, das primeiras
potências industriais: ele também reduzia o coeficiente de abertura externa da
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economia, isolando o Brasil das pressões competitivas externas e diminuindo o peso
das exportações sobre o PIB: assim, mesmo mais do que duplicando o valor das
exportações entre o final do Império e o período imediatamente anterior à Primeira
Guerra, o Brasil conheceu, na verdade, uma redução da participação das exportações
no PIB, de aproximadamente 12% na fase anterior, para menos de 10% em 1913
(tendência que continuará se acentuando na República, durante praticamente 80 anos).
Mesmo que certa literatura histórica pretenda que os EUA sempre praticaram
protecionismo extensivo, e que a famosa “tarifa Hamiltoniana” esteve na base da
industrialização daquele país, o fato é que o Brasil foi, no fundo e na forma, bem mais
protecionista do que os EUA e do que quaisquer outros países ao longo do século XIX
e nas primeiras três décadas do século XX. A única ressalva que se poderia fazer era
que, desde o início do Império, e até praticamente a Segunda Guerra Mundial, as
tarifas exorbitantes sobre o comércio exterior (nos dois sentidos), tinham funções
basicamente fiscais, mais do que defensivas, o que igualmente era o caso, diga-se de
passagem, dos EUA, onde o imposto sobre o comércio exterior também constituía
uma das poucas fontes de receita atribuídas pela Constituição à União.
A última tarifa do Império era de tipo móvel, ou seja, procurava acompanhar a
variação do câmbio. Rui Barbosa, logo ao início de 1890, efetuou a introdução da
quota-ouro, o que significava que uma parte do imposto aduaneiro era paga em moeda
forte: originalmente fixada em 2%, essa fração subiu para 10% em 1898, para 25%
em 1900, para 35% em 1905, até finalmente alcançar 60% em 1922, o que reflete, em
grande medida, os impulsos inflacionários do período. Ainda em 1890, o mesmo Rui
Barbosa preside a nova reforma tarifária: ela se aplica a cerca de 1.100 itens da pauta,
a maior parte a taxas fixas, com aplicação de tarifa adicional ad valorem a 89 itens; o
nível mais elevado ad valorem era fixado em 60% (Almeida, 2011).
Rodrigues Alves, ministro da Fazenda entre 1894 e 1896 – antes, portanto, de
se tornar presidente e chefe de Rio Branco – efetuou nova reforma tarifária em abril
de 1896, num sentido altamente protecionista: foi feita a supressão do adicional, mas
houve a definição de duas pautas, uma geral e outra mínima, para utilização de acordo
com conveniências da política comercial; o nível mais elevado ad valorem foi fixado
em 84%. Bernardino de Campos, que o sucedeu, opera novas mudanças na pauta, com
redução em certos itens e aumento considerável em outros; o nível mais elevado ad
valorem passa então a ser de 200%; constatando-se que as receitas diminuíam, em
lugar de aumentar, o mesmo ministro – em mais outra contribuição pioneira do Brasil
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à teoria econômica universal, desta feita antecipando em mais de 70 anos a famosa
curva de Laffer – decidiu revisar para baixo a tarifa anterior, via redução de vários
itens, com vistas, obviamente, a fazer crescer os recolhimentos das alfândegas,
absolutamente necessários à sobrevivência do Estado (ou seja, da União).
Finalmente, Joaquim Murtinho implementa, em 1900, uma nova tarifa que
elevou bastante os direitos de importação; os objetivos eram essencialmente fiscais e
muito pouco motivados por preocupações protecionistas; foi revista a aplicação da
tarifa ad valorem a 114 itens (sobre 1.070), sendo 100% o nível mais elevado;
preservou-se também a dupla pauta, ou seja, a aplicação da tarifa mínima ao
tratamento de favor e da tarifa em dobro como arma de represália comercial, como era
hábito em outros paladinos do protecionismo comercial, como a França, por exemplo.
Essa foi a tarifa que, com pequenas mudanças, foi mantida durante toda a gestão de
Rio Branco à frente do Itamaraty, enquanto na Fazenda se sucediam cinco ministros.
O protecionismo do Brasil evidencia-se na tabela abaixo, construída a partir de
dados compilados pelos economistas Michael Clemens e Jeffrey Williamson (2001),
que se dedicaram a comparar o grau de proteção efetiva existente em diversos países,
mediante a “montagem” de uma alíquota tarifária média a partir do montante total das
taxas de importação como fração do valor global das importações.
Tarifas Aduaneiras Comparadas, 1890-1913 (Média tarifária a partir de receitas de importações sobre o valor total das importações)
Ano G.-B. EUA Alemanha França Japão Argentina Brasil
1890 4,8 26,6 8,8 8,0 5,4 33.4 39,4
1893 4,9 23,6 8,5 11,2 3,5 28,9 24,2
1896 4,8 20,7 10,1 10,7 2,6 23,9 35,4
1897 4,8 22,1 9,4 10,8 2,4 25,7 41,0
1900 4,6 27,0 8,1 8,8 5,8 26,5 30,1
1903 6,4 26,9 8,5 8,4 5,2 24,9 38,9
1905 6,4 25,1 8.8 8,6 7,0 23.9 49,3
1907 5,1 23,4 7,4 8,2 9,5 23,0 44,6
1910 4,5 21,0 7,4 8,2 7,8 21,6 41,9
1913 4,4 17,7 6,3 9,2 10,1 20,8 34,2
Fonte: Clemens-Williamson, 2001.
Não resta dúvida de que, se houve um país que exibiu “tarifas Hamiltonianas”
ao longo de toda a sua história, esse país foi claramente o Brasil, ainda que os motivos
fossem alegadamente fiscalistas, mais do que para atender aos instintos protecionistas.
De fato, no período aqui coberto – última década do século XIX e primeira do XX – o
peso dos impostos de importação no total das receitas públicas variou entre 47% e
58%, segundo um estudioso da questão (Silva, 1969: 225; 1983).
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No plano da geografia comercial, o Brasil já tinha passado da esfera inglesa
para a americana, responsável pela metade da absorção do café exportado. Até
meados do século XIX, a Grã-Bretanha ainda era dominante nos dois fluxos
comerciais: fornecia mais da metade das importações brasileiras e absorvia perto de
um terço das vendas externas, mas aqui seguida de perto pelos EUA, que a ultrapassa
logo mais à frente, pois se tornam os destinatários de 43% das exportações do Brasil
ao início da gestão Rio Branco (quase tudo café, obviamente). A Alemanha também
passou a se destacar em diversas frentes dos intercâmbios externos e, crescentemente,
nos investimentos diretos, ao lado da França e de alguns outros europeus.
Na região, as únicas trocas relevantes eram feitas com a Argentina, de quem o
Brasil comprava trigo e exportava alguns poucos produtos primários (como a erva
mate, mas com uma demanda modesta), ainda assim por intermédio de comerciantes
ingleses. No conjunto, o comércio exterior do Brasil estava bastante concentrado em
um número restrito de mercados: entre 1903 e 1914, mais de 80% das exportações se
dirigiam a apenas cinco países (EUA, Grã-Bretanha, Alemanha, França e Argentina),
enquanto proporção quase similar das importações provinha de apenas seis países,
acrescentando-se Portugal à lista acima (Buescu, 1974: 161-164).
Quão dependente era o Brasil do financiamento internacional?
Se o Império era o déficit, a salvação eram os banqueiros ingleses. A
República não mudou a situação, talvez a tenha mesmo agravado, pela anarquia
financeira criada pela nova liberdade concedida aos estados e municípios de se
endividarem no exterior mesmo sem o aval da União. Os Rothschild foram
confirmados como os agentes financeiros exclusivos do Brasil no exterior, mesmo se
uma delegação do Tesouro, instalada em Londres desde o último terço do século XIX,
permitia preparar os frequentes lançamentos de bônus, em substituição ao trabalho
meramente cosmético dos ministros da legação diplomática, alguns dos quais – como
Penedo, por exemplo – tinham enriquecido com as generosas comissões oferecidas
pelos mesmos banqueiros que lucravam já de partida, com os spreads antecipados que
recolhiam por cada título emitido.
Os trabalhos abundantes e minuciosos de Marcelo de Paiva Abreu (2006;
2002) sobre a contabilidade política do financiamento externo do Império e da
República velha nos dispensam de penetrar na descrição e na explicação da caótica
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arquitetura financeira construída antes de 1930, quando se interrompem, durante 15
anos, todos os fluxos de dinheiro novo em direção ao Brasil (e a todos os demais
tomadores periféricos). Antes da Primeira Guerra, e depois, nos anos 1920, o Brasil
pode ter sido um dos campeões das comissões bancárias pagas aos banqueiros da City
pelas suas numerosas emissões no mercado londrino, da mesma forma como, mais de
meio século depois, o país fez a alegria de vários “loiros de olhos azuis” de Wall
Street, nos anos da euforia de petrodólares abundantes, reciclados nas principais
praças financeiras a partir das importações pagas por dependentes como ele próprio.
Os dados relativos a balanço de pagamentos, no Brasil monárquico e no início
da República são bastante precários e sujeitos a caução, entre outros motivos porque
as contas relativas a serviços são extremamente carentes de números fiáveis. Sabe-se,
por exemplo, que a partir de meados do século XIX, com a expansão contínua das
exportações de café – e de mais algumas culturas, como por exemplo as vendas
externas de algodão durante a guerra civil americana, sem mencionar o boom da
borracha, que teve início no último quinto do século –, a balança comercial tendeu a
tornar-se estruturalmente superavitária.
Em princípio, os saldos comerciais positivos eram suficientes para cobrir parte
da balança de serviços, sempre deficitária, bem como os juros e as comissões da
dívida externa, mas diversas outras rubricas – como transportes internacionais, por
exemplo – podiam permanecer a descoberto, bem como as próprias amortizações dos
empréstimos anteriores, se por acaso os preços das commodities declinassem
abruptamente. Nesse caso, o Tesouro era acionado para negociar novas emissões
externas, invariavelmente feitas pela delegacia em Londres com os banqueiros oficiais
do governo, os Rothschild. Novas praças financeiras se firmam entre o final do século
XIX e o início do XX, e os tomadores da República – União, estados e municípios –
passam então a diversificar suas emissões.
As tomadas de empréstimos no exterior eram, em todo caso, regulares e
constantes, mas em perfis e montantes variados, em função das necessidades de caixa
do Tesouro para cumprir com suas obrigações externas, estas sempre regulares,
constantes e crescentes, como revelam os dados de juros, comissões e amortizações
pagos aos banqueiros supridores do financiamento externo. A tabela abaixo (que
retoma os dados apenas de maneira parcial) dá uma ideia da magnitude de algumas
operações, embora não informe sobre o destino final dessas emissões – em diversos
casos voltadas para investimentos reais, mas em vários deles, em especial os de maior
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volume, destinadas a cobrir déficits em divisas – e, sobretudo, não esclarece quanto às
dimensões e virtual anarquia no nebuloso terreno das emissões dos estados e
municípios, que tantos problemas iriam causar às autoridades federais a partir da
moratória inevitável declarada em 1931.
Endividamento Externo do Brasil, 1889-1914 (em mil libras esterlinas) Empréstimos Serviços Externos
Anos Desconto Entradas Saldo em
Entradas por tipo efetivas Juros Comissões Amortizações Circulação
1889 19.837 1.984 17.853 911 89 18.101 31.104
1893 3.170 853 2.317 1.448 16 403 33.487
1895 7.442 1.117 6.325 1.405 18 554 39.817
1896 1.000 - 1.000 1.902 22 615 40.203
1897 2.000 60 1.940 1.874 34 1.743 40.461
1899 2.908 - - 359 15 1.196 42.020
1900 2.869 - - 444 9 707 44.182
1901 16.031 396 14.219 1.297 15 217 59.996
1903 8.500 640 7.852 2.829 32 420 68.269
1904 2.062 327 1.735 2.967 33 465 69.866
1905 8.814 946 7.817 3.168 36 657 78.023
1906 10.290 1.129 9.161 4.148 41 658 87.656
1908 23.750 2.487 21.263 8.235 49 3.397 111.599
1910 18.200 2.695 15.505 6.415 58 3.625 128.260
1911 9.900 1.203 8.697 6.899 60 5.976 132.184
1913 19.620 487 19.133 7.529 67 6.913 144.233
1914 18.702 - 18.702 7.449 57 1.948 160.987
Fonte: IBGE, Estatísticas Históricas do Brasil (1987), p. 541-542.
A última operação do Império – justamente um empréstimo de consolidação,
aprovado pelo parlamento já na República – foi toda ela consumida na amortização
dos empréstimos feitos em 1865, 1871, 1875 e 1886, numa conversão que, na
verdade, reduziu ligeiramente o endividamento total, a essa altura em torno de 31
milhões de libras esterlinas. De 1890 a 1892 não ocorreram novas entradas, em
função inclusive dos debates constitucionais e da crise política então vivida no país, e
que culminou com a substituição de Deodoro por Floriano. Em 1893, o que se teve,
mais precisamente, foi uma operação da Estrada de Ferro de Minas Gerais, na verdade
destinada à compra de armas pelo governo, em função das revoltas ocorridas no sul
do país e no levante da Armada, em plena capital da República; 1894 foi novamente
um ano sem novas operações externas, embora, em todos os anos, as remessas a título
de juros, comissões e amortizações continuassem constantes e ligeiramente
ascendentes.
13
Em face das necessidades da Marinha, seriamente prejudicada pela revolta
conduzida pelo Almirante Custódio de Melo, e depois por Saldanha da Gama, entre
1893 e 1895, o governo realiza, nesse último ano, nova operação de mais de sete
milhões de libras (do tipo 85, ou seja, com 15% de deságio imediato), para cobrir
gastos com o fornecimento de material ao corpo naval. As duas operações que
antecederam o Funding Loan de 1898, respectivamente em 1896 e 1897, foram
emergenciais, de curto prazo (um e dois anos), destinadas unicamente a cobrir déficits
incontornáveis, até que o governo conseguisse negociar novo empréstimo de
consolidação, o que foi feito justamente pelo presidente eleito Campos Salles
(Palazzo, 1999). O ingresso efetivo dos recursos só deu dois anos depois, após
cumpridos todos os trâmites internos, inclusive para assegurar que as receitas das
alfândegas do Rio de Janeiro estivessem realmente comprometidas com as garantias.
A “era do Barão” foi de relativa tranquilidade na abertura de novos créditos
externos para o governo, inclusive de novas consolidações de empréstimos anteriores,
todos eles negociados através da delegacia do Tesouro em Londres. Mas junto com a
“normalização” do crédito externo para a União tem início uma onda de lançamentos
em diversas praças estrangeiras por parte de diversos estados e mesmo de cidades,
geralmente capitais, num crescendo que só conhece uma interrupção, ainda assim
temporária, durante a guerra, para novamente se intensificar nos anos 1920, até o
desastre total, em 1930, a partir de quando o Brasil deixa de receber um centavo
sequer de financiamento bancário externo durante 15 anos seguidos (1942; 1946).
Em contraponto à instabilidade da primeira década republicana, que assistiu a
uma dezena de ministros se sucedendo na Fazenda, Rio Branco só teve a tratar,
praticamente, com dois ministros dessa pasta, que o acompanharam ao longo de sua
“década diplomática”: José Leopoldo de Bulhões Jardim (este por duas vezes, no
início e quase ao final de sua gestão no MRE) e David Moretzohn Campista,
frequentemente citado em despachos e outros expedientes do ministério.
A preocupação maior da elite brasileira (e dos diplomatas servindo no Rio de
Janeiro) era a volatilidade cambial, independentemente da tendência histórica à
desvalorização, que na verdade seguia o recurso às emissões irresponsáveis. Apenas
para se ter uma ideia da amplitude da baixa cambial, registre-se que na década
anterior à proclamação da República – ou seja, na última década do Império – o
câmbio oscilou em torno de 22 pence por mil-réis; já na segunda década da República
14
– ou seja, nos tempos do Barão ministro – o câmbio esteve pouco acima de 13 pence
por mil-réis (Ferreira, 1965: 88), uma desvalorização considerável, mas explicável em
função do caos da primeira década republicana e do esgotamento de quase todas as
possibilidades de financiamento, depois da crise do Barings na Argentina, das guerras
civis no Brasil e do conflito de Canudos, situação apenas amainada depois do Funding
Loan (mas que começaria a fazer efeito, justamente, apenas dois ou três anos depois).
A confusa operação da valorização do café tampouco ajudou a restabelecer a
credibilidade financeira da República, embora não a tenha agravado.
Embora as oscilações do meio circulante possam ser, em parte, responsáveis
pela deterioração cambial, o fato é que os preços do café têm muito a ver com a
degringolada do valor externo do mil-réis. Abstraindo-se o comportamento errático a
cada safra, sempre num movimento de gangorra, mas tendente ao excesso de oferta, o
fato é que os preços do café tenderam a oscilar para baixo, et pour cause: observando-
se o valor médio do principal produto brasileiro de exportação nas duas décadas aqui
consideradas, tem-se que a saca de 60 kg caiu de um média decenal de 63 mil-réis (ou
2,52 libras esterlinas), entre 1891 e 1900, para apenas 32 mil-réis (ou 1,87 libras) no
período que vai de 1901 a 1910 (IBGE, 1987: 91). Não apenas as oscilações
periódicas, mas também o declínio dos preços do produto, devem ter desestimulado
de vez, no Barão, o sonho de retirar-se um dia para uma aposentadoria bem merecida
em alguma “fazendola de café” do interior de São Paulo.
A “agenda econômica” do Barão: a economia política da diplomacia brasileira
O Barão esteve, de fato, ativo na vida diplomática brasileira apenas nos
últimos vinte anos de sua vida, já que os 20 ou 30 anos anteriores podem ser
considerados como de “preparação” ou de “construção” – no sentido de Bildung, ou
formação – ao que ele faria depois, como responsável, parcial ou integral, pelos temas
mais relevantes das relações exteriores do Brasil: as fronteiras, certo, mas também o
relacionamento hemisférico e internacional, nos seus diversos componentes. Ter
acompanhado o pai em missões no Prata, ter estudado as campanhas militares, e o
grande conflito na região, ter penetrado nos mais minuciosos detalhes de nossa
cartografia colonial constituíram, por assim dizer, os tijolos sobre os quais ele iria
construir um dos mais sólidos legados diplomáticos – senão o maior – de nossa
história, alcançando o status, como frequentemente registrado, de único diplomata que
pode ser considerado um founding father e um herói da pátria.
15
Dá-se por estabelecido que os temas principais dos quais ocupou-se o Barão
eram essencialmente políticos, alguns até com consonância militar, como era a
custosa corrida armamentista naval com a Argentina, na qual a economia entrava mais
pelo lado orçamentário, do que pelo lado da política econômica externa. Mas qual era
o contexto econômico, brasileiro e internacional, no qual atuou o Barão? Em que
medida as condições estruturais da economia brasileira ditaram-lhe os limites de sua
ação diplomática e com qual grau de autonomia ele pode atuar a despeito da
precariedade da base econômica nacional e da escassez de meios materiais, sobretudo
financeiros, ou de “excedentes de poder”, como se costuma frequentemente lembrar
quando se invoca a pequena capacidade de atuação externa do Brasil?
Desse ponto de vista, existe uma nítida diferença entre os primeiros dez anos
da atuação “diplomática” – ou seja, pós-consular – do Barão, que o viram se ocupar
de questões de limites, com uma chefia de legação ao final, e os dez anos que se
seguiram, quando ele recolheu, finalmente, as glórias que lhe cabiam e continuou
imprimindo sua marca indelével na condução da diplomacia como um todo. Muito do
que ele fez, inclusive quanto aos gastos, se deu em função da estabilização conduzida
pela dupla Campos Salles-Joaquim Murtinho, da confiança que tinham nele não só o
presidente da República, mas a quase totalidade da opinião pública, e também porque
ele sempre foi um grande conhecedor – e manipulador? – da imprensa, exercendo sua
pluma com maestria nos dois lados do balcão (se assim se pode falar de seu trabalho
mais discreto de articulista e de “alimentador” de matérias favoráveis nos jornais).
Na passagem para a República, o Brasil era um país em meio aos “tremores”
da transição do escravismo para o trabalho assalariado, quando as elites agrárias ainda
pretendiam que os imigrantes trazidos para as fazendas de café para substituir os
escravos dispensados os obsequiassem com uma obediência servil próxima da
submissão destes últimos. Coincidentemente, o Barão começou no serviço
diplomático da República como Superintendente geral do Serviço de Imigração para o
Brasil na Europa, voltando depois ao Consulado em Liverpool, até ser chamado para a
questão de Palmas. Logo depois ele foi igualmente convocado para o assunto do
Oiapoque, e nisso se passaram quase dez anos de “vida diplomática” (que, a rigor,
toma uma feição “clássica” apenas na designação para a legação em Berlim).
No plano das políticas econômicas, a primeira década foi suficientemente
confusa, errática e turbulenta para que a segunda aparecesse como relativamente
16
tranquila, ou pelo menos isenta de catástrofes inflacionárias ou cambiais. Mesmo com
as exportações de café crescendo, absoluta e relativamente, na pauta brasileira e nos
mercados internacionais, a participação do Brasil no comércio mundial permaneceu
modesta, tanto quanto continua sendo um século depois (ou seja, na faixa de 1% dos
intercâmbios globais, com um aspecto de parábola qualitativa pela sua composição).
Rio Branco, como quase todos os outros tribunos da República – aos quais seria um
exagero chamar de estadistas – se atinha à política de valorização do café, como
política de governo; mas em face da montanha russa que era a situação dos mercados
e dos preços, como da própria produção brasileira, é provável que tenha desistido, no
curso de seu longo mandato, de seu antigo projeto de “aposentadoria cafeeira” com
vistas a se dedicar apenas a seus livros de história.
Em outra vertente, a importância do Brasil como absorvedor regular de
capitais estrangeiros – tanto de investimentos diretos como de fluxos puramente
financeiros – era proporcionalmente maior, como continuou sendo, com grandes
intervalos em função de crises (externas ou internas) desde então. O Brasil não
chegava a igualar a escala da Argentina na atração qualitativa de capitais, mas
também foi capaz mobilizar grandes volumes financeiros – e, mais importante, de
know-how, majoritariamente inglês, nessa época – para os empreendimentos de
infraestrutura que se incorporavam ao cenário nacional sob o regime das parcerias
público-privadas (com juros garantidos, geralmente de 6%), que foi o predominante
no final do Império e no começo da República. Entre o início da República, em 1890,
e 1913, o estoque dos investimentos diretos britânicos no Brasil salta de 68,6 milhões
de libras esterlinas para 224 milhões, em face dos 357 milhões aplicados pelos
britânicos na vizinha Argentina (Chevalier, 1993: 133). No total, em 1913, o Brasil
concentrava 30% do investimento estrangeiro aplicado na América Latina, e 5,4% do
total mundial desses ativos (Franco, 1989: 12).
Ao final do período do Barão, a geografia do capital estrangeiro na estrutura
dos investimentos diretos se tinha diversificado bastante: capitalistas franceses,
alemães, belgas e norte-americanos aumentam significativamente seus aportes, tanto
em termos de fluxos como de estoque, o que também se explica pela ausência de
inadimplências – o Império jamais deixou de honrar seus compromissos, mesmo a
custa de renegociações penosas – ou de insolvências, que eram resolvidas, justamente,
com empréstimos de consolidação. Cem anos atrás, o spread brasileiro podia ser
17
elevado em função dos riscos normalmente associados a países periféricos
agroexportadores, mas não em função de moratórias unilaterais, como ocorreu
diversas vezes a partir da Segunda República (ou como foi o caso, aos tempos do
Barão, com a Venezuela, relembrada pelos seus “dissabores” com os credores).
No plano da política comercial, e a despeito de ter conhecido a Inglaterra nos
seus velhos tempos liberais – ou seja, antes que ela voltasse a aderir ao princípio das
tarifas protetoras, já em pleno século XX –, o Barão conformou-se inteiramente às
tendências de sua época e aos instintos acirradamente protecionistas das elites
políticas e econômicas brasileiras. Nada indica que ele discordasse, no fundo ou na
forma, das orientações gerais do governo em matéria de acordos comerciais ou de
preferências tarifárias, chegando até a demonstrar uma preocupação excessiva com a
estrita reciprocidade que ele considerava que o Brasil deveria exigir da Argentina, no
caso concreto das exportações de café e das importações de trigo (ou de farinhas),
recusando-se, em consequência, a conceder ao país platino as mesmas vantagens que
o Brasil concedia aos EUA.
Rio Branco escudava-se nas pífias compras de café brasileiro pelo vizinho,
para negar-lhe concessões que só poderiam beneficiar o próprio Brasil; em 1906 e
1907, por exemplo, as importações argentinas do café brasileiro, de um total global de
15 milhões de sacas de 60 kg exportadas pelo Brasil, se situaram entre 160 e 180 mil
sacas, em face das mais de 5,2 milhões de sacas que iam para os EUA, quase 3
milhões nos casos da Alemanha e da França, e mesmo 1,5 milhões para a pequena
Bélgica. No cômputo geral, as relações de comércio com a Argentina foram sempre
desequilibradas, durante todo o mandato do Barão: na média, embora crescentes,
ambos os fluxos, as importações (mais de 13% do valor total, em 1901)
representavam o dobro das exportações brasileiras (apenas 2% do total, naquele
mesmo ano); as vendas argentinas eram de 2 milhões de libras, em 1902, contra
apenas 1 milhão em compras; o “desequilíbrio comercial” alcançou, em 1912, 4,7
milhões de libras nas exportações argentinas para o Brasil, contra apenas 2,9 milhões,
de vendas brasileiras ao país platino (IBGE, 1987: 526). Durante toda a República
Velha, e mesmo durante a depressão dos anos 1930, não houve um único ano em que
as exportações brasileiras conseguissem alcançar sequer 2/3 das vendas argentinas ao
Brasil; isso talvez explique a negativa do Barão, e de muitos outros responsáveis, de
18
sequer examinar a hipótese de um acordo comercial de liberalização recíproca entre
os dois países; independentemente dos humores, se temia uma piora no intercâmbio.
Rio Branco talvez considerasse – como certos mercantilistas contemporâneos
– que o único comércio bilateral aceitável era aquele estritamente equilibrado, quando
não inteiramente favorável ao Brasil. Com efeito, como não deixou de notar o
ministro francês no Brasil à época do Barão, o barão d’Anthouard, “[u]n des facteurs
essentiels de la politique extérieure brésilienne est un attachement inébranlable au
protectionnisme. Il dérive de cette idée que le Brésil, à l’exemple des États-Unis, doit
avant tout créer sa propre industrie nationale e lui réserver son marché intérieur. En
même temps l’élévation des tarifs pourvoit à une nécessité fiscale, les droits
d’importation étant la principale source de revenus du budget” (1911).
Esse aspecto da orientação do Barão com respeito à relação comercial com a
Argentina – a exigência de uma estrita reciprocidade bilateral para o intercâmbio de
mútuos favores, e de um comércio equilibrado entre as partes, no limite favorável ao
Brasil – mereceria ser aprofundado num estudo sobre o seu pensamento econômico,
com vistas a determinar o que dele permanece, ainda, na memória coletiva do
Itamaraty e em seus exercícios práticos de política comercial internacional. Esse
bilateralismo das trocas, se possível favoráveis ao Brasil, pode estar na base do
“instinto de barganha” que permeia a diplomacia comercial. Junto com o controle de
capitais, a preocupação com o estrangulamento cambial, derivado de saldos
comerciais insuficientes para cobrir o déficit crônico da balança de serviços, sempre
constituiu o pesadelo de todos os ministros de finanças, o que também impeliu
gerações de diplomatas a se digladiarem nos foros comerciais em prol do direito do
Brasil de controlar (e até coibir) importações.
O Brasil exibe o mesmo comportamento estacionário em termos de políticas
comerciais defensivas desde meados do século XIX – alimentadas inclusive por uma
classe empresarial adepta, ainda que de forma não consciente, de List e de Manoïlesco
–, posturas apenas interrompidas, muito fugazmente, por pequenos impulsos de
abertura, mas que logo são revertidos, tão pronto o déficit comercial se projeta nas
transações correntes e desperta velhos temores, secularmente vividos no país desde o
nascimento da nação independente.
Aparentemente, Rio Branco nunca aderiu a David Ricardo, ou sequer a John
Stuart Mill, bem conhecido no seu tempo, já que o Principles of Political Economy
(1848) teve diversas edições ao longo da segunda metade do século XIX. Tampouco
19
se encontram reflexos, nos escritos do Barão, ou referências em seus muitos discursos
e comentários práticos, ao “sistema americano de economia” ou aos protecionistas
europeus, embora ele fosse amigo de Paul Leroy-Beaulieu, economista francês liberal
(cunhado do ministro Michel Chevalier, que concluiu o tratado de livre comércio com
a Grã-Bretanha, em 1860), mas totalmente favorável ao colonialismo e, logicamente,
portanto, aceitando o exclusivismo comercial das metrópoles.
Provavelmente, como tantas outras personalidades brasileiras da passagem do
século, Rio Branco apenas se rendia ao Zeitgeist em matéria de políticas comerciais,
cujas tendências, naquele fin-de-siècle, foram de um nítido retour en force do
protecionismo, a começar pela França e pela Alemanha, com recrudescimento nos
EUA e em outros países. Numa era de acordos bilaterais de comércio contendo uma
modalidade restrita, condicional e limitada da cláusula de nação-mais-favorecida,
muitos países passam a adotar duas tarifas: uma “de favor”, para eventuais acordos
comerciais, outra “normal” para todos os demais casos; foi o que ocorreu então no
Brasil, o que também correspondia, mais do que a necessidades prementes, a velhas
reações mercantilistas, parte da herança mental portuguesa de suas elites.
O culto que sempre se rendeu ao Barão no Itamaraty, com um acatamento
quase religioso de suas principais posições em política externa, pode ter contribuído,
neste caso, para atrasar significativamente um exercício de integração econômica com
a Argentina, ou pelo menos de liberalização comercial recíproca, propostas que Hélio
Jaguaribe defendia pioneiramente desde o início dos anos 1950, mas que só puderam
começar a ser seguidas, de fato, em meados dos anos 1980, depois que os dois países
emergiram de seus períodos ditatoriais militares. É certo que, na primeira metade do
século XX, as principais determinações em matéria de política comercial incumbiam
quase que exclusivamente ao ministério da Fazenda – uma vez que o Itamaraty só
adquiriu preeminência nessa área a partir da implantação de um sistema multilateral
de comércio, no pós-Segunda Guerra, com a introdução do Gatt –, mas o Barão teria,
de imediato, um peso decisivo em toda e qualquer decisão de liberalização comercial
bilateral, caso ele estivesse realmente convencido de seus bons efeitos para a
economia brasileira. Aparentemente, este não era o caso; e nunca o foi, depois...
No plano financeiro, tendo vivido na Europa durante boa parte de sua vida –
entre dois grandes centros financeiros, por sinal – Rio Branco tinha uma ideia precisa
do “valor das coisas”, tanto que resolveu “pagar”, literalmente, e de forma bastante
20
generosa, a compra do Acre, tanto na fase preliminar – quando se dispõe a indenizar,
imediatamente, o Bolivian Syndicate – quanto, justamente, na fase conclusiva de um
difícil acordo, cujos termos e magnitude receberiam críticas de vários setores da
opinião pública e parlamentar, inclusive daquele que tinha sido convocado pelo
próprio presidente como negociador do processo, o advogado e amigo Rui Barbosa.
Em todo caso, os 35 mil contos “gastos” na compra do Acre reverteram em
ganhos apreciáveis para o governo federal nos anos seguintes. É verdade que, no final
da década, a construção da Madeira-Mamoré, entregue ao investidor-símbolo da era
dos “barões ladrões”, o americano Percival Farquhar, delongava-se em atrasos, e em
gastos ampliados em relação ao originalmente projetado, o que suscitou reclamações
dos bolivianos; mas neste, como em outros assuntos de relevância primordial para o
Brasil, o Barão considerava que a política internacional da nação não podia cingir-se a
limites orçamentários muito estritos. Diferente era o caso das canhoneiras que tinham
sido encomendados aos estaleiros britânicos: as limitações financeiras eram,
obviamente, preocupações reais, tanto quanto a inútil competição militar com a
Argentina e o sentido propriamente geopolítico, do Barão, de que os dois países não
podiam reproduzir na América do Sul, ainda mais por motivos pífios, o grau de
animosidade e de frágeis equilíbrios que subsistia na Europa das grandes potências.
Ainda assim Rio Branco sustentou a continuidade do programa de rearmamento
naval, em andamento desde 1906; a bem da verdade, registre-se que ele tinha plena
consciência do entorno estratégico, e teria preferido, em lugar de três dreadnoughts,
maior número de barcos de menor porte; mas não convinha voltar atrás, sob pressão
argentina, para não perder a face e dar um motivo de razão aos adversários aparentes.
Na competição com a Argentina pelo prestígio internacional e, de certo modo,
pela “audiência hemisférica” – na verdade, por uma relação especial com os EUA,
nação com a qual se buscava uma aliança informal, ou “não-escrita”, na expressão de
Burns (1966) – o Barão tinha consciência de que os argentinos estavam bem a frente
do Brasil em termos de riqueza e de disponibilidade de recursos, podendo se permitir
exercícios de exibicionismo explícito. Em 1909, por exemplo, quando a competição
com a Argentina prosseguia a todo vapor, a distância de prosperidade material entre
os dois países atingiu, provavelmente, seu ponto mais extremo, num tempo em que a
Argentina superava vários países europeus em renda per capita, para se aproximar
decisivamente dos níveis dos EUA, já então o país mais rico do mundo nesse quesito.
21
Segundo cálculos uniformizados pelo economista historiador Angus Maddison
(2001), a renda dos brasileiros não alcançava 15% da dos americanos – 776 dólares
(atualizados), contra mais de 5 mil para os americanos – ao passo que a Argentina
chegava ao máximo de seu esplendor econômico, com uma renda per capita de 3.700
dólares, ou 73% da renda dos americanos (cinco vezes superior à do Brasil). A
distância em termos de renda per capita do Brasil em relação aos EUA ainda se
agravou no início da Primeira Guerra (Maddison, 2009), para declinar lentamente
depois disso, mas nunca chegou a ultrapassar um terço dos níveis americanos, por
acaso a mesma proporção a que foram reduzidos, atualmente, os argentinos, depois de
mais de 80 anos de declínio regular e constante a partir de uma das mais privilegiadas
posições, em termos de bem-estar, nas Américas (e no mundo).
Em todo caso, a concepção grandiosa que o Barão se fazia da (e para a)
política externa do Brasil não guardava qualquer timidez quando se tratava de
solicitar novos e maiores recursos do orçamento, inclusive para a modernização do
próprio ministério, até então muito acanhado; tanto é assim que ficou famosa a frase
atribuída a seus críticos, em relação às manifestações de gastança do seu titular em
casa própria, se é possível dizer: “Haja dinheiro, Senhor Barão!”.
Releve-se, no entanto, que a tão propalada voracidade orçamentária do
Itamaraty aos tempos do Barão não sustenta o teste empírico: observando-se as
despesas da União com os ministérios mais relevantes – sendo que o da Justiça
encaixa-se perfeitamente na tendência geral – verifica-se que o aumento das despesas
nominais inscritas no orçamento governamental, de 1902 a 1912, não supera o da
Marinha, sendo apenas 2,8 superior àquele do início da década transcorrida, o que não
leva em consideração, entre outros fatores, a erosão inflacionária que deve ter
ocorrido no período (ver tabelas dos gastos ministeriais no apêndice estatístico). Elas
eram, acima de tudo, extremamente modestas, no confronto com outros órgãos do
executivo; durante o Império, aliás, gastava-se mais com a intendência do palácio
imperial do que com toda a diplomacia; desde então, essas despesas sempre foram
consistentemente inferiores aos gastos da presidência da República (Almeida, 2005).
Incidentalmente, a decisão do Barão de abrigar no Brasil não apenas a
Terceira Conferência Internacional Americana, em 1906, mas diversas outras reuniões
internacionais – entre elas, congressos científicos, antes e depois disso – obrigava o
ministério e todo o governo a sustentarem enormes gastos preliminares de construção
de locais, bem como, durante e depois, todo o cerimonial ao estilo europeu que o
22
Barão se obrigava a manter. Nada de inédito neste aspecto, tampouco; como já foi
dito várias vezes, em diversas épocas, não existe nenhuma política externa ambiciosa
que seja barata, o que a experiência recente ainda confirma.
Isso, o Brasil já sabe; mas talvez já esteja em tempo de proclamar, por
analogia, que não existe nenhuma educação de qualidade que seja barata. O corpo
diplomático é, provavelmente, o estamento mais educado (e o mais “destacado”) da
nação; é pena que, como nos tempos do Império e durante grande parte da República,
o resto da nação não tenha direito, ainda, à mesma excelência educacional...
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Paulo Roberto de Almeida
Paris, 2 de Abril de 2012