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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
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A DOCÊNCIA EM GEOGRAFIA E A(S) IDENTIDADE(S) EM CONSTRUÇÃO
SUZANA RIBEIRO LIMA OLIVEIRA1
Resumo Esperamos com este texto, promover uma reflexão acerca da construção da(s) identidade(s) docente(s) em Geografia, a partir de entrevistas narrativas com professores do ensino superior discutindo elementos direcionadores da prática docente. Nessa perspectiva, definir os campos do pensamento e de intervenção dos docentes, revela uma decisão ético-política e uma posição ideológica a respeito do papel que o docente pretende realizar na sociedade. Partindo desse entendimento, considerando a decisão profissional, qual tem sido o caminho percorrido e a trajetória de formação de formadores de profissionais em Geografia? Como o professor tem dialogado com os elementos influenciadores de sua profissão a partir da escolha e trajetória profissional? Para responder tais questionamentos, escolhemos coletar dados em quatro instituições de ensino superior sendo elas: a UFG: o IESA e o CAJ, a UFU e a UEG. Palavras-Chave: Geografia, ensino, identidade(s) docente(s). Abstract We hope to this text, promote a reflection on the construction of the (s) identity (s) of teacher (s) in Geography, from narrative interviews with higher education teachers discussing elements of teaching practice. From this perspective, defining the fields of thought and intervention of teachers reveals an ethical-political decision and an ideological position regarding the role that the teacher intends to accomplish in society. Based on this understanding, considering the professional decision, what has been the path taken and the trajectory of formation of formers professionals in Geography? As the teacher has dialogued with the influencers elements of his profession starting from of professional trajectory? To answer such questions, we chose to collect data in four higher education institutions being they: the UFG: the IESA and the CAJ, the UFU and the UEG. Key-words: Geography, teaching, identity(s) teacher(s). 1- Introdução
Vivemos em um período de transformações constantes, as informações que
antes eram tidas como essenciais para a tomada de decisões, na atualidade não
1 Doutoranda no programa de pós-graduação em Geografia da UFG-IESA e professora assistente na
UFG-CAJ. Contato: [email protected]
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são suficientes, é necessário questionar sua veracidade e saber o que fazer com
elas.
Nesse sentido, o ensino que antes privilegiava a transmissão da informação
em um momento onde ela era escassa e suficiente, necessita de uma postura
diferenciada para a contemporaneidade. Sabemos que o ensino tradicional atendia a
demanda de um período denominado “lento”, mas na atualidade com a inserção
tecnológica e a informação em tempo real, é essencial não apenas saber que ela
existe, é necessário conhecer a quem a informação está privilegiando, quem é o
mensageiro, a que e a quem ela está a serviço.
Ao ensino é estabelecido o desafio de não apenas informar, mas construir o
conhecimento. Assim, pensar a docência no ensino superior e como tem se
construído a(s) identidade(s) docente(s), torna-se uma tarefa também essencial,
considerando que os docentes que atuam nesses estabelecimentos foram formados
nesse formato tradicional, e precisam compreender que a sua atuação não pode
limitar-se apenas a informação pela informação, mas a significação contextualizada
dessa informação para a articulação e compreensão dos acontecimentos mundiais.
Em meio a uma avalanche de informações e dimensões identitárias é que se
constroem a(s) identidade(s), compreender as dimensões que tem contribuído para
a construção da(s) identidade(s) docente(s), nos possibilita refletir sobre alguns
aspectos que direcionam o trabalho docente em alguns estabelecimentos de ensino
superior.
Para o presente trabalho que é parte de uma pesquisa intitulada “Formadores
de profissionais em Geografia e identidade(s) docente(s), do Programa de Pesquisa
e Pós Graduação em Geografia da UFG/IESA, sob a orientação da professora Dra.
Lana de Souza Cavalcanti, elencamos uma das dimensões que compõe a(s)
identidade(s) docente(s) de professores formadores de profissionais em Geografia
(bacharelado e licenciatura) para analise, sendo ela: a trajetória pessoal, com o
objetivo de compreender se tal dimensão contribui para a escolha profissional e
influencia o direcionamento do trabalho docente nos estabelecimentos de ensino
superior onde foi desenvolvida a pesquisa.
Os sujeitos participantes são os formadores de profissionais em Geografia de
quatro instituições com cursos criados há mais de quinze anos, consolidados e com
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características distintas: dois institutos, um deles situado em uma capital brasileira,
um campus, e uma universidade estadual, sendo elas: Universidade Federal de
Goiás – IESA; Universidade Federal de Uberlândia; Universidade Federal de Goiás –
CAJ; Universidade Estadual de Goiás – Unidade Anápolis.
A orientação teórico-metodológica que melhor atende às exigências do
presente trabalho é a pesquisa qualitativa, que se refere ao estudo da vida dos
sujeitos sociais, compreendendo análise dos comportamentos e sentimentos, de
emoções, de crenças, de expectativas e de práticas sociais cotidianas, pessoais ou
coletivas. Pessôa (2012) afirma que a pesquisa qualitativa envolve processos de
interação humana, com todos os seus humores, temores, com toda intromissão da
subjetividade de sujeitos em interação.
Para a coleta dos dados, escolhemos as entrevistas narrativas, sua relevância
na pesquisa qualitativa baseiam-se na contribuição para a compreensão das
estruturas processuais dos cursos de vida ou trajetórias dos sujeitos pesquisados
(SCHUTZE, 2011). Para Weller e Zardo (2013, p. 3) o ato de rememorar e a
narração da experiência vivenciada de forma sequencial permitem acessar as
perspectivas particulares de sujeitos de forma natural.
Com a utilização desse norte de contextualização, observa-se que as
dimensões que envolvem a construção da(s) identidade(s) docente(s) são
permeadas por tensões. Desta forma, o presente trabalho nos possibilita a reflexão
de uma das dimensões identitárias, a trajetória pessoal, que acreditamos ser
essencial para a escolha profissional influenciando diretamente no trabalho docente.
2- Discussão
A trajetória pessoal é uma das dimensões que consideramos essenciais para
a construção identitária, os seres humanos não separam sentimentos, emoções e
experiências, sejam elas empíricas ou relacionadas ao conhecimento científico em
seu percurso pessoal e profissional. Assim, a(s) identidade(s) são construídas e
consolidadas continuamente.
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2.1- Identidade(s) em construção
A concepção de identidade possui diferentes abordagens, sociológicas,
psicológicas, filosóficas, dentre outras. Consideraremos, conforme Hall (2009, p.109), a identidade cultural, que está constantemente em um processo de mudança e transformação. Segundo o autor, esse conceito,
[...] tem a ver, com a questão da utilização dos recursos da história, da linguagem e da cultura para a produção não daquilo no qual nos tornamos. Tem a ver não tanto com as questões “quem nós somos” ou “de onde nós viemos”, mas muito mais com as questões “quem nós podemos nos tornar”, “como nós temos sido representados” e “como essa representação afeta a forma como nós podemos representar a nós próprios”.
Ao considerar a identidade um processo contínuo de mudanças e/ou adaptações, observa-se que os indivíduos podem construir sua identidade para viver e conviver em diferentes grupos. Assim, para pertencer a determinado grupo, alguns critérios e/ou categorias tornam-se essenciais, o indivíduo deverá buscá-las para atingir os objetivos comuns do grupo. Mas não pode deixar de considerar que os grupos sociais estão continuamente em transformação e os indivíduos também estarão em constante mudança. Nesse sentido, Bakhtin (2006, p. 139) afirma que,
A sociedade em transformação alarga-se para integrar o ser em transformação. Nada pode permanecer estável nesse processo. É por isso que a significação2, elemento abstrato igual a si mesmo, é absorvida pelo tema3, e dilacerada por suas contradições vivas, para retornar enfim sob a forma de uma nova significação com uma estabilidade e uma identidade igualmente provisória.
Bauman (2005, p. 55), por sua vez, afirma que a construção da identidade na contemporaneidade, “é guiada pela lógica da racionalidade do objetivo (descobrir o quão atraentes são os objetivos que podem ser atingidos com os meios que se possui)”. Para o referido autor nem sempre foi assim, durante um grande período da modernidade, a identidade possuía um caminho claro e cristalizado a seguir. A libertação da identidade como tarefa e objetivo de todo um trabalho de vida passa a ter liberdade nova, alicerçada em uma tripla confiança “em si mesmo, nos outros, na sociedade” (BAUMAN, 2005, p.57). Para o referido autor, passamos de uma fase “sólida” para a fase “fluida”.
Ainda sobre o conceito de identidade, Woodward (2009, p.55) argumenta que “as posições que assumimos e com as quais nos identificamos constituem nossas identidades”. Entretanto, para a referida autora, “vivemos nossa subjetividade em um
2 “Significação é um aparato técnico para a realização do tema” (BAKHTIN, 2006, p. 132).
3 “Tema é uma reação da consciência em devir ao ser em devir” (BAKHTIN, 2006, p. 132).
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contexto social no qual a linguagem e a cultura dão significado à experiência que temos de nós mesmos e no qual nós adotamos a identidade".
A “subjetividade sugere a compreensão que temos sobre nosso eu, envolve os pensamentos e as emoções conscientes e inconscientes que constituem nossas concepções sobre “quem nós somos”, envolve nossos sentimentos e pensamentos mais pessoais” (WOODWARD, 2009, p. 55). Assim, observa-se que o afetivo e o intelectual são indissociáveis.
Ao analisar elementos da subjetividade, poderemos compreender o processo de produção da identidade de determinados grupos, explorando os sentimentos que estão envolvidos para o investimento em posições específicas de identidade, o que influenciará diretamente na ação individual do sujeito pertencente ao grupo.
2.2- A docência em Geografia no ensino superior
Para Nóvoa (1995), a história da docência, desde que se firmou como
atividade principal, nos séculos XVI e XVII, e diríamos que até a atualidade, tem sido
entrecortada por uma relação ambígua entre os professores e o saber. O corpo de
conhecimento e de técnicas concernentes ao trabalho docente, quase sempre foram
produzidos no exterior do mundo dos professores, por teóricos e especialista, ao
mesmo tempo que o conjunto de normas e de valores também têm advindo de
âmbitos distintos, como a igreja, o Estado. Para esse autor, definir os campos do
pensamento e de intervenção dos professores, revela uma decisão ética-política a
respeito do papel que o ensino e a educação em geral desempenham na sociedade.
Isso indica que os professores, no seu coletivo, somente poderão galgar
patamares de maior emancipação, autonomia e desenvolvimento em seu trabalho,
se forem conquistadas as reais condições para que eles venham a participar e a
intervir em todas as dimensões relacionadas ao ensino considerado em sua
complexidade e abrangência. Pode-se, então, argumentar que o trabalho docente
precisa alcançar os espaços dos sistemas social, educativo escolar e do ensino
superior, por meio da participação dos professores nas mais variadas instâncias, e
em especial, nas de construção de conhecimento, a fim de que a teoria e a prática
possam de fato conformar a práxis norteadora da docência, entendida como a
síntese entre o pensar e o fazer docente.
Tal necessidade traz desdobramentos e consequências, os quais atingem
diretamente a formação de professores. A reconfiguração do rol teórico-prático da
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docência passa a requerer uma formação mais completa e eticamente
comprometida com a sociedade. Fica o ponto a refletirmos, como formar
profissionais capazes de buscarem e obter o preparo necessário para a execução de
seu trabalho, com relativa autonomia intelectual e prática que lhe é devida, esse tem
sido, nos dias de hoje, muitas vezes, controvertido, contraditório e pouco
consensual.
Na atualidade, existem diversas perspectivas de compreensão da docência,
elaboradas com base em estudos e pesquisas que se apóiam em uma
fundamentação, tanto teórico-epistemológicas, quanto prática. A formação docente
hoje sugere que em sua prática de ensinar inclua a discussão de novos temas, que
são desafios para todas as disciplinas, dentre eles o multicultiralismo, cognitivismo,
movimentos sociais, violência, drogas, globalização, inclusão, interdisciplinaridade,
multidisciplinaridade, dentre outros. A pluralidade de saberes para Cavalcanti (2012)
perpassa os espaços educativos e constituem novos conhecimentos no cenário da
formação docente devido a sua inserção cultural, e social do cotidiano e não podem
ser ignoradas.
“O mundo de hoje exige, de fato, novas formas de preparação para se viver e
para trabalhar” (CAVALCANTI, 2006, p. 104).
A dimensão pedagógica na formação do profissional da Geografia deve ter:
“Uma postura de compreender o mundo mudando constantemente e o papel do homem nesse processo e permitir que a formação do geógrafo não pense apenas no conteúdo a ensinar, mas ensino-o a aprender, a buscar as verdades e as informações, tratando-o como um cidadão que ao buscar a sua formação seja capaz de entender o papel que poderá desempenhar na sociedade como um agente de transformação.”(CALLAI, 2003, p. 28).
Com base nessa perspectiva, alguns princípios podem ser referência, dentre
eles Cavalcanti (2006, p.105) destaca: Princípio de uma formação profissional
crítica; Formação contínua e autoformação; Indissociabilidade entre pesquisa e
ensino; Integração teoria e prática; Formação e profissionalização crítica;
Conhecimento integrado e interdisciplinar;
Tanto o bacharel quanto o licenciado devem ter conhecimento e apropriação
dos referenciais teóricos fundamentais, o domínio do método da ciência com que
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trabalha e a possibilidade de saber escolher as técnicas como estratégias
operacionais adequadas.
E é essencial que compreenda o sentido social do seu uso (Callai, 2003).
3- Metodologia
Foram utilizadas entrevistas narrativas para a coleta e intepretação dos
dados, que seguem um esquema autogerador com três principais características:
Textura detalhada – o narrador fornece detalhes de acontecimentos; Fixação da
relevância – o narrador relata sobre acontecimentos que são relevantes de acordo
com sua perspectiva de mundo; Fechamento da Gestalt - a narrativa deve ser
analisada em sua totalidade (JOVCHELOVITCH e BAUER, 2002).
Como dito anteriormente, a unidade de análise utilizada são os formadores de
profissionais em Geografia de quatro instituições com cursos criados há mais de
quinze anos, consolidados e com características distintas: Duas Universidades
Federais, uma delas situada em uma capital, um campus, e uma universidade
estadual, sendo elas: Universidade Federal de Goiás – IESA; Universidade Federal
de Uberlândia; Universidade Federal de Goiás – CAJ; Universidade Estadual de
Goiás – Unidade Anápolis.
Primeiramente foram elaborados instrumentos para o contato com os
coordenadores de cada uma das quatro instituições (termo de anuência) e em
seguida, a pesquisa foi submetida ao comitê de ética. Após a aprovação os demais
instrumentos, foram sendo construídos, na sequência a carta aos diretores e
coordenadores solicitando a indicação dos profissionais que atendiam a alguns
critérios que foram elencados com base em categorias essenciais à atuação docente
que são: Ser atuante e envolvido nas atividades da instituição; Ser assíduo e
comprometido; Não possuir problemas administrativos com a instituição; Ter bons
resultados de aprendizagem e bom relacionamento com os alunos; Desenvolver um
trabalho docente planejado;
Cada uma das quatro instituições enviaram as indicações, no entanto,
considerando o número de professores que enquadram nos critérios, foi necessário
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escolher aleatoriamente. Os professores foram contatados e no instante que
concordaram em participar, as entrevistas narrativas foram sendo feitas.
Para a realização das entrevistas narrativas, foi elaborado um roteiro, no
primeiro momento com base na metodologia utilizada: Narrativa sem interrupção –
com tópico inicial indutor: Fale sobre sua trajetória de formação profissional
ressaltando qual o momento que resolveu ser professor(a). Nesse momento, o(a)
entrevistado(a) falou sobre a sua trajetória de formação pessoal e profissional
realçando o momento que resolveu ser professor(a), tendo duração em média entre
trinta a quarenta minutos, não sendo determinado, cada entrevistado tinha a
liberdade para falar o tempo que precisasse.
As entrevistas foram gravadas e a entrevistadora não interveio em nenhum
instante para não influenciar nas respostas dos entrevistados. Assim, obtivemos
nove entrevistas narrativas que serão detalhadas a seguir.
4- Resultados
Para apreender os fundamentos que constituem a construção do
conhecimento profissional em Geografia, buscamos, nas narrativas de professores,
compreender como eles fizeram a escolha profissional na docência universitária em
Geografia, como o professor dialoga com os elementos influenciadores de sua
profissão. Para Nóvoa (1995) é impossível compreender a questão da identidade
dos professores sem inseri-la imediatamente na história dos próprios atores, de suas
ações, projetos e desenvolvimento profissional.
Conforme sugerido pela entrevista narrativa, o primeiro momento, que é a
parte da narrativa sem interrupção, foi utilizado para o direcionamento da fala uma
pergunta sugerindo o comentário sobre sua trajetória de formação pessoal e
profissional indicando o momento que resolveu ser professor e professor do ensino
superior perpassando sua trajetória pessoal.
É interessante ressaltar que os professores que concordaram em participar da
entrevista, todos se mostraram muito à vontade. Alguns levantaram questões da
infância, outros apenas do instante da escolha profissional identificando aspectos
que contribuíram para a construção da sua identidade docente.
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Faço uma pequena e importante caracterização no quadro 1 de cada um dos
professores, lembrando que todos são do ensino superior, trabalham no curso de
Geografia e com a formação de profissionais em Geografia:
Identificação Tempo de magistério superior em anos
Regime de trabalho Área de atuação
ANA 5 anos DE Disciplinas Pedagógicas
IVO 16 anos DE Disciplinas Específicas
ARI 7 anos DE Disciplinas Específicas
IGOR 8 anos DE Disciplinas Específicas e Pedagógicas
DORA 16 anos DE Disciplinas Específicas
ELEN 12 anos DE Disciplinas Específicas e Pedagógicas
ALDA 12 anos DE Disciplinas Pedagógicas
IVAN 9 anos DE Disciplinas Específicas
MARA 10 anos DE Disciplinas Específicas
Quadro 1: Caracterização dos docentes participantes da pesquisa Fonte: Pesquisa de campo, 2015. Elaborado pela autora.
4.2 Sobre as narrativas
Os professores ao comentarem sobre suas trajetórias de vida foram
identificando momentos especiais que os direcionaram para a atuação docente.
Momentos que cada um caracteriza conforme suas vivências e que de certa forma
os diferencia de outros docentes. Um dos pontos observados e que foram
recorrentes nas respostas, foi que cada um apresentou como direcionador de seu
trabalho: a preocupação com o aluno, com a aprendizagem e como esse aluno pode
despertar para uma leitura de mundo.
Tanto os professores das disciplinas específicas como das pedagógicas se
preocupam em como ensinar, a prática pedagógica em sala é constantemente
repensada. É interessante ressaltar que alguns professores das disciplinas
específicas, participantes da pesquisa, tem uma preocupação com a prática em sala
de aula.
Como dito anteriormente, os professores entrevistados não foram escolhidos
aleatoriamente, foram estabelecido critérios, o coordenador dos cursos por meio de
um documento específico fez a indicação dos nomes. Lembrando que as
características solicitadas eram: ser atuante e envolvido nas atividades da
instituição; ser assíduo e comprometido; não possuir problemas administrativos com
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a instituição; ter bons resultados de aprendizagem e bom relacionamento com os
alunos; desenvolver um trabalho docente planejado e bem organizado.
Cada um dos entrevistados, naturalmente, possui uma trajetória de vida
diferenciada. Alguns referiram à família, o lugar ou as condições financeiras, como
ponto importante para sua escolha profissional. As experiências de cada um, os
diferencia dos demais, assim, não é possível fazer generalizações, sendo que as
experiências pessoais, para a maioria, direcionaram de forma casual suas escolhas.
É interessante que ao realizar as entrevistas narrativas, observei que todos
fizeram licenciatura e a maioria licenciatura e bacharelado. Quanto à escolha pela
profissão docente foram observadas três categorias influenciadoras que marcaram a
fala dos docentes, que são: inserção no mercado de trabalho (cinco professores),
aproximação da prática social e inserção profissional (três professores), afinidade
com a disciplina (uma professora).
Conhecer os elementos específicos da profissão com a licenciatura permitiu,
a maioria, atuar de forma diferenciada, preocupando-se constantemente com a
prática docente, com o aluno e com a disciplina que trabalham. No entanto, os
professores que trabalham com as disciplinas pedagógicas são os que valorizam
com maior evidência tais conhecimentos, alguns que atuam com as disciplinas
específicas consideram que os conteúdos são essenciais e que precisam saber
como ensinar, mas não participaram depois da graduação de cursos na área
pedagógica. Duas professoras afirmaram que em sua prática inclui leituras
constantes sobre os referenciais teóricos pedagógicos.
Assim, observamos que os professores que atendem aos critérios mínimos
desejáveis a uma atuação docente, todos tiveram formação em licenciatura,
lembramos que a indicação seguiu critérios já mencionados, como a lista de
indicação excedeu a quantidade que iríamos entrevistar, foram escolhidos
aleatoriamente a partir dessa indicação. Nesse sentido, concluímos que os docentes
que tem conhecimentos pedagógicos, preocupam com a aprendizagem significativa
de seus alunos.
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5- Considerações finais
Buscar uma formação que dê conta da construção e reconstrução dos
conhecimentos fundamentais, de seu significado social levando em conta o contexto
que irão atuar é um dos desafios à formação de profissionais em Geografia.
Certamente, na formação inicial sempre precisa de profissionais que se
envolvam em suas temáticas, que sejam inovadores, críticos e criativos,
considerando que as mudanças são constantes. Cabe aos professores universitários
refletirem sobre as alternativas que contribuem sistematicamente para a construção
do conhecimento significativo, com vista à formação cidadã.
As alternativas que podem contribuir sistematicamente para a construção do
conhecimento significativo, só serão possíveis mediante a aquisição mínima de
conhecimentos pedagógicos. Esse é o resultado que chegamos até o momento com
a presente pesquisa. Não é possível mediar a construção do conhecimento sobre
determinado conteúdo apenas conhecendo profundamente os conhecimentos
específicos, esses são muito importantes também, mas é essencial saber como
fazer com que esses conteúdos possam ser significativos para os alunos. Como eles
poderão utilizar esses conteúdos para conhecer e intervir no mundo em que vivem.
Assim, espera-se com a presente pesquisa, que os elementos analisados
que compõem a construção da(s) identidade(s) de professor(es) formador(es) de
profissionais em Geografia, possibilite a reflexão quanto a construção do
conhecimento emancipatório, crítico e criativo dos atuais e futuros profissionais em
Geografia.
6- Referências
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