a ditadura militar - cortez editora · em sua vida política, joão goulart foi ministro do...

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Sumário

Ao leitor ............................................................................... 9

Introdução: Momentos da República brasileira ............ 11

1. Castelo Branco: contra a lei, defendendo a democracia ................................................................. 21

2. Costa e Silva: viva a Constituição, abaixo a Constituição ................................................................... 49

3. Garrastazu Médici e os milagres da República ....... 65

4. Ernesto Geisel: a abertura política para principiantes .................................................................. 85

5. João Baptista Figueiredo: da força da democracia à democracia da força ............................ 107

Palavras finais: Para o povo brasileiro, o que restou da ditadura inacabada ..................................... 141

Cronologia ........................................................................... 145

Sugestões de leitura ......................................................... 147

Sobre o autor ..................................................................... 152

22 EVALDO VIEIRA

Mazzilli logo se apressou em opinar sobre a posse de Goulart, assegurando que os chefes das Forças Ar-madas, com base na segurança nacional, não queriam o regresso ao Brasil do vice-presidente João Goulart. Ele chegou, portanto, à presidência da República através da pressão exercida por certos deputados e senadores, pelo apoio sindical de São Paulo, pela manifestação da Igreja Católica em Porto Alegre e em São Paulo e pela mobilização dirigida pelo governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola. Outros pronunciamentos vieram em seu favor, como o de Juscelino Kubitschek e o de Carvalho Pinto, na época governador do Estado de São Paulo. Goulart, afirmando sua confiança nas Forças Armadas brasileiras, acabou encontrando sustentação militar no III Exército.

Em sua vida política, João Goulart foi ministro do Trabalho do segundo governo getulista e vice-presi-dente de Juscelino Kubitschek, pondo-se sempre como um discípulo de Getúlio Vargas, proclamando plena obediência à sua carta-testamento. Como Vargas, Goulart se apresentava como um líder democrático, identificado com os trabalhadores, para quem defendia melhores salários.

Em 1961, o Congresso Nacional tornara-se centro de decisões, capaz de fabricar recurso constitucional para a crise da renúncia de Jânio Quadros. De um lado, Jango admitia ser um soldado do Congresso, acatando suas deliberações. De outro lado, os ministros da Marinha, da

A DITADURA MILITAR: 1964–1985 23

Guerra e da Aeronáutica aceitavam publicamente a von-tade do Congresso Nacional, desde que ele promulgasse uma emenda constitucional instituindo o sistema parla-mentar de governo no Brasil. Com tal emenda parlamen-tarista, as Forças Armadas garantiam o desembarque de João Goulart em Brasília, capital da República.

No governo Kubitschek, o serviço de inteligência ganhou tamanho e qualidade. Em 1927 se organizou o Conselho de Defesa Nacional visando à repressão po-lítica interna, mas só com o governo JK se concretizou o Serviço Federal de Informação e Contrainformação (SFICI), idealizado pelo presidente general Eurico Gas-par Dutra, em 1946. O SFICI deu origem posteriormen-te ao SNI (Serviço Nacional de Informação).

Na administração de Juscelino Kubitschek, funcio-nários brasileiros foram conhecer e treinar nos órgãos de informações dos Estados Unidos da América. Muitos desses funcionários brasileiros ocuparam altos cargos na ditadura de 1964, como o coronel Ednardo D’Ávila Mello, coronel Golbery do Couto e Silva e o tenente-co-ronel João Baptista Figueiredo.

Jango Goulart aceitou constrangidamente o sistema parlamentar de governo, propondo-se a agir de acordo com o primeiro-ministro, criando um ministério basea-do em alianças partidárias. Ao mesmo tempo, esclarecia que uma de suas primeiras medidas seria propor ple-biscito referente ao parlamentarismo, visando saber o que o povo achava dele.