a dinamica microeconomica

13
Rev. FAE, Curitiba, v.4, n.2, p.23-35, maio/ago. 2001 23 A DINÂMICA MICROECONÔMICA: Uma Rediscussão *Economista, Mestre e Doutorando em Engenharia de Produção pela Univer- sidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Professor da FAE Business School. E-mail: [email protected] **Economista, Mestre em História Econômica pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Doutoranda em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Professora da FAE Business School. E-mail: [email protected]. RESUMO Este artigo propõe-se a discutir a dinâmica microeconômica sob o enfoque da tomada de decisões da firma em ambientes econômicos incertos. A controvérsia encontra-se nas diferenças entre a realidade econômica, de ambientes incertos e dinâmicos, e os pressupostos teóricos da microeconomia neoclássica. O artigo não teve a preocupação de solucionar a controvérsia, mas de apontá-la como crucial para a compreensão do atual momento econômico. Por isso, como primeira alternativa, estruturaram-se as definições que moldam a tomada de decisão (ambiente, estratégia, capacitação, racionalidade e incerteza) e apresentou-se, a partir do conceito de incerteza relativa, um modelo probabilístico que vincula opções de estratégias e decisões com diferentes ambientes econômicos. Palavras-chave: dinâmica microeconômica; tomada de decisão; incerteza. ABSTRACT The proposal of this article is to discuss the microeconomic dynamic under the focus of decision-making of the firm in an uncertain economic environment. The controversy lies in the differences among the economic reality, uncertain and dynamic environment, and the theoretical hypothesis of the neoclassical microeconomics. The article is not intended to solve such controversy, but to outline it as crucial for the understanding of the current economical moment. Thus, as first alternative, the definitions that shape the decision making process (environment, strategy, capabilities, rationality and uncertainty) are settle down, and based on the concept of relative uncertainty, a model of probability that links options of strategies and decisions with different economic environment are shown. Key words: microeconomics dynamic; decision making; uncertainty. Christian Luiz da Silva* Maria Anita dos Anjos**

Upload: guilherme-s-rosa

Post on 18-Dec-2015

220 views

Category:

Documents


3 download

DESCRIPTION

artigo

TRANSCRIPT

  • Rev. FAE, Curitiba, v.4, n.2, p.23-35, maio/ago. 2001 23

    A DINMICA MICROECONMICA: Uma Rediscusso

    *Economista, Mestre e Doutorandoem Engenharia de Produo pela Univer-sidade Federal de Santa Catarina (UFSC).Professor da FAE Business School.E-mail: [email protected]

    **Economista, Mestre em HistriaEconmica pela Universidade Federal doParan (UFPR), Doutoranda em Engenhariade Produo pela Universidade Federal deSanta Catarina (UFSC). Professora da FAEBusiness School.E-mail: [email protected].

    RESUMO

    Este artigo prope-se a discutir a dinmica microeconmica sob o enfoqueda tomada de decises da firma em ambientes econmicos incertos. Acontrovrsia encontra-se nas diferenas entre a realidade econmica, deambientes incertos e dinmicos, e os pressupostos tericos damicroeconomia neoclssica. O artigo no teve a preocupao de solucionara controvrsia, mas de apont-la como crucial para a compreenso doatual momento econmico. Por isso, como primeira alternativa,estruturaram-se as definies que moldam a tomada de deciso (ambiente,estratgia, capacitao, racionalidade e incerteza) e apresentou-se, a partirdo conceito de incerteza relativa, um modelo probabilstico que vinculaopes de estratgias e decises com diferentes ambientes econmicos.Palavras-chave: dinmica microeconmica; tomada de deciso; incerteza.

    ABSTRACT

    The proposal of this article is to discuss the microeconomic dynamicunder the focus of decision-making of the firm in an uncertain economicenvironment. The controversy lies in the differences among the economicreality, uncertain and dynamic environment, and the theoretical hypothesisof the neoclassical microeconomics. The article is not intended to solvesuch controversy, but to outline it as crucial for the understanding of thecurrent economical moment. Thus, as first alternative, the definitionsthat shape the decision making process (environment, strategy, capabilities,rationality and uncertainty) are settle down, and based on the concept ofrelative uncertainty, a model of probability that links options of strategiesand decisions with different economic environment are shown.Key words: microeconomics dynamic; decision making; uncertainty.

    Christian Luiz da Silva*Maria Anita dos Anjos**

  • 24

    INTRODUO

    A anlise microeconmica convencionalpressupe o equilbrio de mercado e a construo deum homem econmico, que age racionalmente,sempre de forma a otimizar sua funo utilidade.Trata-se de um mundo hipottico criado para tentarexplicar o sistema econmico, partindo, porm, defunes que tornaram o homem econmicodesprovido de fraquezas e interdependncias que seusprprios criadores no possuam.

    Conforme afirma LISBOA (1998), muitas soas crticas ao pensamento neoclssico, porm remotasou inexistentes so as alternativas de explicaes paraas relaes econmicas e comportamento dosagentes. Adiciona-se ao debate a argumentao deque o pensamento neoclssico assegura consistnciametodolgica compreenso do sistema econmico,embora acredite-se que sua construo terica sejaanacrnica, pois no acompanhou as evoluesverificadas no ambiente econmico, como a maiorconcentrao do capital, a rapidez do fluxo deinformaes, a flexibilizao do processo de produoe a alterao da noo de espao econmico. Taisfatores contriburam para ampliar a complexidade eas incertezas do ambiente, refletindo, sobremaneira,nas estratgias de concorrncia capitalista.

    Com este trabalho, pretende-se, mantendo origor terico e metodolgico, avanar no debate sobrea elaborao de alternativas de interpretao daestrutura do sistema econmico atual. Busca-se aquirediscutir os elementos que conformam a base tericado pensamento neoclssico mediante a interpretaoe anlise do atual estgio econmico, considerando-se a tomada de deciso como elemento fundamentalda dinmica microeconmica, estando relacionadacom o ambiente concorrencial e com as estratgias ecapacitaes da firma.

    importante frisar que a construo de umarcabouo terico um trabalho dialtico, rduo ecumulativo, pois depende de vrias interpretaes eanlises das inter-relaes entre os agentes econ-micos e do prprio comportamento destes.

    Nesta abordagem, inicialmente ser tratado oambiente concorrencial, a fim de conceituar e discutiro local de validao do capitalismo. Na seqncia, servisto o papel da estratgia e das capacitaes na tomadade deciso pela firma nesse ambiente concorrencial

    teorizado. A discusso do processo de tomada dedeciso desemboca na avaliao da racionalidadeeconmica em um ambiente de incerteza. Essaincerteza, elemento diferencial do ambiente teorizadono pensamento neoclssico e da conjuntura atual, sero objeto de anlise no item seguinte. Com base em taiselementos (ambiente, estratgia, capacitao eexpectativas/incertezas), ilustra-se a presente anlisecom a apresentao de um modelo de anlise datomada de decises, partindo da definio de padresconcorrenciais e das incertezas no ambiente.

    1 AMBIENTE CONCORRENCIAL

    A anlise do processo de tomada de decisesda firma, em mercados oligopolistas, recai,necessariamente, na discusso do ambiente em queela se insere, pois a maneira como a firma realiza aleitura deste ambiente, e de seus concorrentes,condiciona o processo de tomada de decises. Depen-dendo do vis analtico, o ambiente econmico em queocorre o processo de tomada de decises pode serconsiderado como uma varivel endgena, na medidaem que uma deciso da firma poder resultar emmudanas no ambiente em que atua, ou como umavarivel exgena, na medida em que o ambiente condicionado pelo processo histrico e cultural. Essasvariveis esto fora do controle da firma.

    O ambiente concorrencial o local de validaodas decises empresariais, da valorizao ou no docapital. A tomada de deciso de uma firma servalidada e confirmada como fator de sucesso somentenesse ambiente concorrencial, que por sua vezdepende do momento em que ocorre a tomada dedeciso, das circunstncias existentes dos agentes queso afetados, ou daqueles para o qual se direcionamas decises, e, finalmente, da sua validao nomercado dentro de um aspecto institucional, legal esocial. No ambiente concorrencial, os aspectospolticos, institucionais, legais e sociais se somam scaractersticas especficas do mercado.

    Esse ambiente, definido como concorrencial, constitudo historicamente,validando o presente eproporcionando uma base para a formao daexpectativa quanto ao futuro. Os agentes econmicos,as leis, os padres ticos e culturais, enfim a sociedadeno se constituem do presente, mas da sua base hist-rica e das suas crenas quanto ao presente e ao futuro.

  • 25Rev. FAE, Curitiba, v.4, n.2, p.25-35, maio/ago. 2001

    A anlise do ambiente concorrencial deve iniciar-se pela compreenso das foras que delineiam acompetitividade no mercado. Como o mercado umlocal onde ocorre a concorrncia de um determinadosetor ou segmento, deve-se primeiro definir acompetitividade para ento conceber a sua base deanlise. Esse delineamento ocorre pela existncia dealgumas foras que moldam a competitividade dosetor. COUTINHO e FERRAZ (1994) estruturarama anlise da competitividade definindo trs grupos defatores: sistmicos, estruturais e internos. Os fatoressistmicos so aqueles que afetam a competitividadeda firma, porm no controlveis por ela. Nesse grupodestacam-se: polticas econmicas, instituies legais,questes culturais e sociais. Os fatores estruturais soespecficos do mercado, podendo ou no sercontrolados pela firma, dependendo da suacapacidade de influncia no mercado. A determinaodos fatores estruturais compreende a anlise do tipode estrutura de mercado e as caractersticas que aconformam, como: escala de produo, barreiras entrada e forma de determinao da lucratividade.Por fim, os fatores internos so os nicos inteiramentecontrolveis pela firma, por estarem relacionados sua forma de gesto (estratgia, administrao derecursos humanos, gesto e tecnologia, etc.).

    Para POSSAS (1999, p.136), muitos so oselementos do ambiente que influenciam o processocompetitivo. So mutveis, s vezes at efmeros,reforando a feio eminentemente histrica doprocesso competitivo. A autora tentou conceituar oambiente definindo os elementos que o constituem. Soeles: os elementos econmicos da estrutura de mercado;alguns elementos da situao macroeconmica; osfatores poltico-jurdico-institucionais; o meio ambientenatural; os elementos de carter social; e os aspectosligados aos costumes e cultura. Na classificao deCOUTINHO e FERRAZ (1994), a estrutura demercado seria um fator estrutural da competitividade eos demais itens seriam fatores sistmicos dacompetitividade, pois no so controlveis pela firma ese relacionam ao ambiente econmico e social em queest inserida.

    A anlise de um mercado exige a definio deseus elementos constitutivos ou fatores, a fim desistematizar a avaliao do ambiente concorrencial emque as firmas esto inseridas. Essa tarefa no simples,visto que o ambiente complexo e os fatores de

    competitividade so dinmicos. Todavia, a compreen-so passa, necessariamente, pela leitura desse ambiente,segundo um foco de anlise das formas de competitivi-dade definidas em cada mercado. Essa particularizaoda anlise torna-se fundamental tendo em vista adinamicidade e a diversidade dos fatores de competitivi-dade de cada mercado.

    O empresrio busca compreender esse ambientepara direcionar as suas decises. A deciso empresarialno uniforme, pois a leitura da realidade, enquantoprocesso histrico e cultural, e as condies decompetitividade de cada firma so diferentes. O sucessoempresarial passa pela capacidade do empresrio deinterpretar esse ambiente, com suas expectativas eincertezas inerentes ao processo concorrencial,objetivando a sobrevivncia momentnea e/ ou o lucroeconmico. Esse direcionamento a estratgiaempresarial, e a obteno do lucro econmicoestabelece a razo de existncia da firma.

    2 ESTRATGIAS E CAPACITAESDA FIRMA

    MINTZBERG, AHLSTRAND e LAMPEL(2000) definem estratgia como um conjunto de cincoconceitos:

    a) a estratgia um plano que indica umadireo, um guia ou um curso de ao para ofuturo;

    b) a estratgia um padro, que uma funoda consistncia em comportamento ao longodo tempo;

    c) a estratgia uma posio ou localizao dedeterminados produtos em determinadosmercados;

    d) a estratgia uma perspectiva, ou seja, amaneira fundamental de uma organizaofazer as coisas;

    e) a estratgia uma manobra especfica paraenganar um concorrente.

    Considera-se que muito difcil definir a estra-tgia com fundamentos to abrangentes e complemen-tares, tendo cada um sua importncia maior emdiferentes mercados.

    Situando a estratgia no tempo, vincula-se seuconceito ao passado, ao presente e ao futuro. Opassado a histria dos resultados decorrentes deaes tomadas e da sua interao no ambiente

  • 26

    concorrencial. O presente passa a ser o resultado deinteraes existentes no momento a partir deestratgias passadas e direcionamentos para o futuro.O futuro ser determinado pela habilidade em percebera situao presente, dentro da histria construda, eprogramar a capacitao dos recursos, por meio docontrole e da aprendizagem da organizao,condicionando a estrutura na forma planejada para apossvel obteno do sucesso empresarial. O passado,o presente e o futuro alinham-se na definio daestratgia da empresa, fazendo com que esta resulteda capacidade do empresrio de perceber oscontextos passado e futuro. O empresrio situa-seentre um passado que o capacita empreendedo-ramente e um futuro de oportunidades de mercado,associado a um conhecimento da organizao e doambiente em que ela est inserida, tornando o passadopresente na projeo do futuro.

    Nesse contexto, o empresrio traduz emestratgia a sua perspectiva de novos nichos demercado e oportunidades, lanando mo de umaestratgia deliberada, para parametrizar o caminhoque a empresa deseja seguir, e de uma estratgiaemergente, para avaliar os atalhos que surgem comas mutaes econmicas.

    Destarte, a estratgia competitiva definida aquicomo a capacidade de estabelecer formas de aesplanejadas e deliberadas a partir da compreenso doobjetivo e das caractersticas da empresa, aliada flexibilidade em compreender o ambiente e a suaestrutura de mercado para identificar novas aes quepermitam a consecuo dos principais objetivosempresariais: a realizao do lucro e a sobrevivnciano mercado. A estratgia competitiva no umconceito estanque; ela se altera e se molda no sistemaeconmico, variando de empresa para empresa, nacriao de nichos de mercado explorados e mantidospela organizao.

    As estratgias direcionadas para sobrevivnciaou lucratividade das firmas so diferenciadas pelaforma que cada firma avalia o ambiente em que sealinha. CASTRO et al. (1996, p.139) resumem aimportncia da estratgia dizendo que

    so as estratgias competitivas utilizadas pelas firmasem seu processo de enfrentamento no mercado, ouseja, como conquistam e/ou mantm suas posiescompetitivas e, principalmente, como constroem erenovam seus potenciais competitivos ao longo dotempo, que passam a ocupar um lugar de destaque

    na formulao do discurso econmico. Na basedestas estratgias, a existncia de diferentes capaci-taes, graus de competncia e objetivos ocupamuma posio fundamental para a explicao dosfenmenos econmicos.

    A estratgia reflete a participao da empresano mercado, pois define os meios pelos quais aorganizao pretende se diferenciar dos concorrentesno mercado. A estratgia se torna um ngulo diferentede competitividade, em que a caracterstica daempresa no mercado fundamentada pela realizaoda sua estratgia. Dessa forma, a estratgiacompetitiva ocupa papel importante e decisivo nosucesso da empresa, por construir ou renovar os seuspotenciais competitivos.

    Cada firma tem a sua prpria estratgia, alavan-cada pelas suas capacitaes e as suas competncias.A capacitao da firma aqui entendida como umconceito absoluto, significando suas habilidades paraproduzir um produto. A competncia considera ashabilidades como algo relativo, pois ser determinadaa partir de um padro de produo de mercado.

    A capacitao tecnolgica um conjunto dehabilidades que permite processos produtivosadequados e melhorias internas empresa, sendo umelemento importante na determinao do nvel decompetitividade de uma firma no mercado. Nesseaspecto, a capacitao algo singular, pois noambiente da firma que se tornam possveis o incentivoe o desenvolvimento de habilidades que possibilitamum diferencial na firma. No cotidiano da firma, asoluo de certos problemas do processo produtivoresulta em respostas criativas emergentes do cho defbrica, que so incorporadas curva de aprendizagem,transformando rotinas e mudando a capacitao dafirma. Assim sendo, a importncia das mudanas quenascem no interior das firmas e hoje, no raro, noptio das fbricas obriga a ter em conta mais umaquesto omitida pela microeconomia convencional(CASTRO et al., 1996, p.13).

    Na literatura econmica, considera-se que acapacitao tecnolgica da firma pode ser avaliada apartir de uma abordagem funcional. Para FURTADO(1994, p.10-12), as formas de capacitaotecnolgica ao nvel da firma so:

    a) capacitao em produo no processo e noproduto;

    b) capacitao do projeto;

  • 27Rev. FAE, Curitiba, v.4, n.2, p.27-35, maio/ago. 2001

    c) capacitao em pesquisa e desenvolvimento;d) capacitao em recursos humanos.A capacitao, vista pela composio de tais

    nveis, conclusiva na avaliao das habilidadesinternas. O conhecimento de tais habilidades da firma elemento bsico na definio de uma estratgia demercado, ou seja, na tomada de decises, seja decurto, seja de longo prazo. O domnio da capacitaotecnolgica, somado aos demais condicionantes decompetitividade, poder resultar em decisesotimizadoras que sero validadas pelo mercado.

    Nesse posicionamento, o controle que a firmadetm sobre sua capacitao tecnolgica, sendopossvel determinar aes a partir de uma posturaracional. O conceito tradicional de racionalidadeeconmica resulta em posturas metodolgicas quelimitam o grau de compreenso de uma realidadeeconmica, pois tais posturas sustentam alicercestericos que excluem diferentes aspectos queinterferem na ao da firma no processo de atuaono mercado.

    3 RACIONALIDADE ECONMICA:Apresentando a Controvrsia

    A racionalidade econmica que fundamenta todoo pensamento neoclssico parte de uma abstrao,ou seja, da concepo do homem econmico. Talfigura abstrata apresenta trs caractersticascomportamentais: em primeiro lugar, o perfeitoconhecimento e controle de toda a realidade que ocerca; em segundo lugar, os resultados da sua decisoso considerados otimizadores em relao aos seusobjetivos; em terceiro lugar, suas decises soatemporais. A partir dessa base, desenvolveu-se umarcabouo terico-metodolgico para explicar ofuncionamento do sistema econmico. Assim, osagentes participantes do sistema, com o perfeitoconhecimento da realidade econmica, agiriamvisando a maximizar seus interesses. Nesse enfoque,as principais variveis que interferem nas decises dafirma so conhecidas e controladas, portantoexgenas ao processo decisrio; em razo disso, asfirmas tenderiam a maximizar seus lucros.

    ANDRADE (1998, p.12) discute o homemeconmico por meio da racionalidade em economiaargumentando que

    a questo da racionalidade individual est ligada emeconomia consistncia das decises dos diferentesagentes. Estes so tomados como tendo os mesmosprincpios de comportamento para um mundo quetodos vm da mesma maneira. Desta forma, oseconomistas habituaram-se a impor restries aosagentes, nos seus comportamentos, que somutuamente consistentes. Assim se obtm solues,para os problemas levantados, que so elegantes. Asimples alterao do ambiente de deciso dos agentes,que devem fazer as suas escolhas, levar a aumentarde forma imensa as possveis solues. A alterao aoquadro simplificado em que o economista se moveleva de imediato complexidade. E esta ltima crescente. (...) os economistas criam agentes que secomportavam nos seus modelos com conhecimentosque os seus criadores no possuam e que procuravamobter atravs desses modelos.

    Esses agentes criados precisam de umambiente restrito que no considere qualquer varivelde conotao dinmica, pois, caso contrrio,compromete-se o equilbrio esttico inerente racionalidade econmica. Esse equilbrio esttico um pressuposto bsico do modelo neoclssico e osacontecimentos no previstos so consideradosexgenos. As variveis exgenas determinam anatureza do equilbrio e independem da histria.

    As decises econmicas apresentam risco paraas firmas. Na teoria neoclssica, pressupe-se que oacmulo de informao permite o aprendizado,viabilizado pela estabilidade do sistema, conformandoa tendncia de minimizao do risco. Essaaprendizagem permite a gerao de expectativasracionais em relao ao comportamento futuro, demodo que seja possvel, partindo da situao presente,prever o comportamento dos agentes econmicos.Enquanto este estado de confiana for mantido emrelao ao futuro, os agentes econmicos teriam umcomportamento convencional. Esse entendimento um elemento-chave na teoria keynesiana para a anliseda tomada de decises a mdio e longo prazos.

    KEYNES (1982, p.124) justifica que asexpectativas so racionais pela incapacidade de selidar com o incerto. Para o autor, na tomada dedeciso, os agentes tendem a priorizar os fatos quemerecem confiana, mesmo que possam ser menossignificativos do que a incerteza que paira no ambienteeconmico. Isso faz com que os fatos atuais sejampreponderantes na formao das expectativas delongo prazo. Se as expectativas se efetivarem nofuturo, a situao de equilbrio garantida. ParaCHICK (1993, p.24),

  • 28

    ... torna-se claro que as expectativas desempenham umimportante papel na determinao do equilbrio: quandoas expectativas so frustadas h um desejo de mudana.Onde esse desejo se combina com o poder de efetuarmudanas, temos desequilbrio. (...) portanto, oequilbrio, que, como o perodo ou o prazo, umconstructo intelectual, definido com referncia srestries impostas para analisar a atividade.

    Embora nas expectativas racionais esteja includoo tempo, mantm-se o pressuposto de que as suasdecises partem de fatos conhecidos e que tendem otimizao. A incerteza desconsiderada por ser vistacomo elemento exgeno que permeia o sistemamodulado pela teoria neoclssica.

    Como nesse ambiente econmico todas asvariveis so conhecidas e perfeitamente controladas,no existem incertezas, considerando que na base,inclusive, encontram-se premissas atemporais.

    No entanto, a crtica maior metodologianeoclssica, baseada em grande parte na concepoda racionalidade econmica, est em que nem todasas informaes so conhecidas, tampouco disponveisno momento da tomada de deciso. A tomada dedeciso uma atitude racional, embora limitada. Asvariveis envolvidas na tomada de deciso so diversase mudam no tempo. A questo atemporal perde valorquando se considera que os agentes econmicosformam suas expectativas a partir da situao atualpara projetar o futuro.

    Em Keynes, o conhecimento da situao atual dado e de factvel compreenso para o agenteeconmico. Todavia, a complexidade dos fatores quepermeiam o ambiente da tomada de decises no de fcil compreenso para o agente econmico, emvirtude da quantidade de variveis que afetam oambiente e, conseqentemente, o processo decisrio.O homem econmico capaz de dominar arealidade em que se encontra somente pela limitaodesse ambiente constitudo. Essa limitao torna oambiente criado irreal e livre de incertezas. As firmasno esto inseridas nesse ambiente fictcio, mas emum sistema econmico permeado pela incerteza,

    sendo que o nico fator controlvel pela firma noprocesso decisrio a sua capacitao tecnolgica.

    O ambiente mutvel pela prpria tomada dedeciso da firma e pela interdependncia dos atoreseconmicos, que podem afetar no s a sua capaci-tao e competncia como o prprio meio em queest inserida. Esse ambiente construdo histori-camente e sofre mudanas imprevisveis, resultandoem fonte de incertezas. Alm disso, a interdependnciaentre os agentes resulta em incerteza quanto sexpectativas, pois o conhecimento incompleto impedeque os agentes possam, por meio de clculos proba-bilsticos, prever comportamentos futuros.

    Assim sendo, havendo incerteza, as expectativasestariam amparadas apenas em crenas subjetivas earbitrrias, logo, irracionais. As expectativas seriamirracionais, ainda que os agentes no o fossem, (...)sendo impossvel prever e teorizar as decises dosagentes e, por conseguinte, o comportamento dosistema econmico (SILVA, 1999, p. 62).

    O equilbrio uma hiptese neoclssica, genricae apriorstica, conceito que ignora as especificidadeshistricas do objeto estudado. POSSAS (1987a,p.23) afirma que

    o nus da prova de que situaes de equilbrio sonormais e podem representar adequadamente ofuncionamento de uma economia de mercado devecaber a quem emprega essa noo mas nunca comopressuposto, e sim como resultado de uma anlise que,para ser adequada ao objeto, no pode deixar de serdinmica, no sentido (...) de incorporar o carteranrquico (no regulado) das decises dos agenteseconmicos e sua dependncia, no tempo, das aesdos demais agentes e das expectativas frente a elas.

    Assim, uma anlise de funcionamento daeconomia capitalista, em particular dos seus agentes,deve ser dinmica, rejeitando hipteses quedeterminam o objeto de estudo, distanciando deelementos organicamente responsveis pelo seumovimento. A grande questo terico-metodolgicaque se apresenta como dar conta de tal problemade pesquisa sem cair nas armadilhas neoclssicas esem perder o rigor cientfico.

  • 29Rev. FAE, Curitiba, v.4, n.2, p.29-35, maio/ago. 2001

    4 A DINAMICIDADE DACONCORRNCIA: Discutindo aIncerteza

    A anlise dinmica, que incorpora o tempo nosseus conceitos (tempo este entendido como o tempode mudanas), abandona a idia de equilbrio, poistal situao no se apresenta nesta abordagem.

    POSSAS (1987a, p.23) corrobora esta idiaafirmando que

    toda anlise do funcionamento real de uma economiacapitalista deve ser necessariamente dinmica eabandonar qualquer presuno genrica de equilbrio:de passagem, a noo de equilbrio dinmico serevela contraditria em seus termos. Na medida,portanto, em que a esttica se confunda com a anlisede condies de equilbrio, ela deve ser excluda, porirrelevante, do mbito da teoria econmica.

    Na abordagem dinmica de sistemas complexos,em que agentes podem apresentar comportamentosirracionais, a imprevisibilidade deve ser incorporadacomo pressuposto, sendo o futuro desconhecidopelos agentes e a natureza dos processos econmicosindeterminada. Dar conta metodologicamente de talquesto tem sido um desafio para a teoria econmica,que tenta se afastar de hipteses restritivas e incluirum maior grau de generalizao e realismo.

    A discusso deve privilegiar os elementos quetornam o sistema econmico dinmico, retomando-se o papel da firma, que age e reage s transformaesnos padres de competitividade do mercado em queparticipa. Adicionalmente, o mercado se compe devrias organizaes e os fenmenos dele decorrentesso funes das estratgias adotadas pelos agenteseconmicos que o estruturam. A discusso da tomadade deciso, fundamentada na estratgia empresarial,passa a ser elemento-chave para compreender como asfirmas lidam com os processos dinmicos da economia.

    A estratgia competitiva, nesse ambiente,significa a capacidade e a forma que cada firma en-contra para descobrir o seu nicho de mercado. Osucesso estratgico da firma depende da capacidadede reconhecer o momento em que se encontra e saberidentificar as caractersticas do ambiente concorren-cial. Essa capacidade deve ser desenvolvida todosos dias, pois o sistema econmico dinmico, o tempode resposta das empresas curto e as incertezas somuitas, fazendo com que as estratgias emergentessejam to fundamentais quanto as deliberadas paraestabelecer os rumos da empresa.

    Conhecer os fatores que moldam a situaocompetitiva permite s organizaes identificar melhoros seus nichos de mercado e as ameaas e oportuni-dades neles estabelecidas.

    A estratgia um processo que une pensamentoe ao em um determinado tempo, fundamentado nasexperincias passadas, no que acontece no presentee no que se espera para o futuro. Nesse momento dacriao da firma, ainda no se vem claramente osresultados, apenas se projeta onde se quer chegarmediante a estratgia desenvolvida; portanto est-sesubmerso em um ambiente de incertezas.

    Essa noo de tempo foi inserida na teoriaeconmica principalmente por Keynes, que contribuiusobremaneira em teorias sobre expectativas paraanlise econmica, afirmando que o futuro toimportante para as decises tomadas quanto opresente, justamente porque grande parte das aespresentes orientada para o futuro. O autor mostraque a importncia do passado sobre o futuro dadapela memria do sistema econmico, e que a influnciado futuro sobre o presente est fundamentada nasexpectativas formadas pelos agentes econmicos. Aesse respeito CASTRO et al. (1996, p.122) trazem aseguinte contribuio:

    os eventos futuros so fundamentais para asdecises empresariais no presente porque elas criamelos rgidos via dvidas, especificidade de ativos edurabilidade de capital fixo entre o capital e os pero-dos de produo subseqentes, elos cuja alteraoacarreta altos custos de transao. As aes ou deci-ses presentes so, portanto, parcialmente limitadaspelas conseqncias de aes passadas e (...) pelaimpossibilidade de antecipar (...) seu desdobramentono futuro.

    Diante dessa impossibilidade de antecipar ofuturo, a incerteza surge como um elemento naturalna ao econmica e nas expectativas empresariais,sendo elemento central da tomada de decises.Contudo, a tomada de decises se utiliza de mtodospara amenizar o vazio terico de sustentao de umadeciso empresarial. Uma das formas mais usuais aprpria probabilidade de ocorrncia de determinadoscenrios, definindo pontos fortes e fracos e estabele-cendo riscos associados a essas possibilidades. Aprobabilidade parte de um impulso dado peloempresrio, pelas suas expectativas e pelo seu estadode compreenso ou viso do ambiente.

  • 30

    Trabalhar com probabilidades para reduzir asincertezas atribuir riscos aos cenrios previstos.Entretanto, uma previso no uma ao cientfica,pode estar fundamentada no passado e nas expectativasdo futuro, mas ainda depender daquele que a estprevendo, bem como de seu estado emocional comrelao deciso. Muitas vezes as decises j estotomadas mesmo antes de se conhecerem os riscos,fazendo com que o empresrio tenha um viso muitootimista do negcio, projetando baixos riscos, haja vistaseu estado de esprito e sua expectativa.

    A probabilidade parte de premissas que estorelacionadas com uma subjetividade inerente queleque as est tomando. O grau de confiana doempresrio no negcio influencia, sobremaneira, adeciso que ser tomada pelo impacto desta confianana elaborao dos cenrios e na construo dasprobabilidades e riscos do projeto associados spremissas atribudas. Para tomar a deciso, e elaborara estratgia da empresa, troca-se o desconhecido ouincerto por convenes fundamentadas em probabi-lidades e premissas que podem sofrer radicaistransformaes conforme o andamento do negcio.

    A forma de lidar com as incertezas, prevendo emontando cenrios, uma das principais expli-caespara a existncia de estratgias to diferen-ciadasna prtica, pois dependem da maneira como oempresrio ou estrategista est vislumbrando aquelemercado e momento econmico, futuro ou presente,e tambm do modo como ele interpreta o passadona formao de seu grau de confiana no futuro.Destarte, as estratgias so formas de interpre-taodo ambiente, estabelecendo premissas, conhe-cendo-se os tempos relacionados, que levam a visualizaesde caminhos diferentes para cada organizao.Corroborando essa afirmao, CASTRO et al. (1996,p.128) dizem que o conceito de incerteza, reduzido(e confundido) na teoria neoclssica com riscoprobabilstico, fundamental para a compreenso eincorporao da diversidade interfirma (e de suasdistintas estratgias competitivas) aos estatutostericos da cincia econmica.

    5 UM MODELO DE ANLISEDINMICA: Primeira Aproximao

    A empresa atua a partir de uma racionalidaderelativa, portanto limitada, pois as informaesconhecidas permitem uma nfima compreenso darealidade. A empresa controla e determina suascapacitaes tecnolgicas que devem tender aopadro de competitividade vigente setorialmente. Acapacitao tecnolgica o primeiro determinante noestabelecimento de uma estratgia.

    O padro competitivo dominante no mercadopode ser alterado pela estratgia definida pelaempresa, assim como pode ser alterado pelasestratgias adotadas pelos concorrentes ou por fatoreshistricos e culturais. Nesse processo, as estruturassofrem contnua transformao, como resultado dasdistintas estratgias adotadas pelas empresas, e trazemum elemento de elevada incerteza.

    Tais estruturas no so dadas, na realidade comona teoria, mas modificadas constantemente (emborade forma descontnua) por foras competitivas, emgeral endgenas, decorrentes de estratgiasempresariais voltadas concorrncia e inovao,embora estas ltimas sejam condicionadas pelasestruturas previamente existentes. Em sntese, aconfigurao e a evoluo das indstrias e mercadosdevem ser entendidas luz da interao dinmica entreas estruturas industrial e de mercado e as estratgiasempresariais (POSSAS, citado por CASTRO et al., 1996,p.87-88)

    A complexidade da tomada de decises,conforme discutido, apresenta como elemento deter-minante a capacitao tecnolgica, que pode resultarem uma diversidade de solues, necessariamente nomaximizadoras mas que permitem uma multiplicidadede estratgias decisrias. Essa multiplicidade neces-sria na medida em que o ambiente apresenta um altograu de incerteza.

    A anlise do ambiente, que complexa, pelosmotivos j mencionados, passa pela definio de duasticas de compreenso dessa realidade. A primeiratrata da definio do padro de competitividade. Essepadro histrico e se transforma dinamicamente como ambiente por meio da interdependncia dos agenteseconmicos. A segunda trata da incerteza, que inerente ao ambiente. A dificuldade de se modelar a

  • 31Rev. FAE, Curitiba, v.4, n.2, p.31-35, maio/ago. 2001

    incerteza intrnseca ao seu conceito, ou seja, tenta-se modelar o que no existe e aquilo que no se temidia que ir existir.

    5.1 Definio do Padro Concorrencial

    Antes de definir o padro de concorrncia, vlidoretomar a discusso sobre o significado da concor-rncia, processo pelo qual se pretende estabelecer umpadro. A concorrncia pode ser caracterizada peloprocesso de disputa pelo qual as empresas passam,incluindo todas as foras de concorrncia na disputade mercado. POSSAS (1999, p.18) diz que a concor-rncia vista como um processo de seleo econmicaque visa obteno de valor, caracterizando-a comoum processo de luta por apropriao de poder decompra e garantia de espao de valorizao do capital(1999, p.34). O autor (1987b, p.163) entende aconcorrncia como um processo de defrontao(enfrentamento) dos vrios capitais, isto , das unidadesde poder de valorizao e de expanso econmicas quea propriedade do capital em funo confere. STEINDL,citado por POSSAS (1987b, p.159),

    no entende o conceito de concorrncia como restritos formas exteriores em que se apresenta em preos,produtos, vendas, etc. mas ao processo fundamentalque, assentado na prpria natureza da economiacapitalista, capaz de gerar o movimento incessanteem que se realiza a acumulao de capital semalcanar qualquer equilbrio que conforma etransforma a estrutura de mercados.

    Nesse corpo terico, a concorrncia umprocesso intrnseco ao capitalismo, na luta e seleodas empresas por maior competitividade. Comoenfatiza Steindl, esse processo um movimentoincessante, que no termina.

    POSSAS (1999, p.31) afirma que a concorrncia um processo sem trmino, contnuo e sem trguas,possibilitando a todo momento o surgimento de novosconcorrentes e cuja definio dos sobreviventes nosistema econmico depender das melhoresestratgias. Esse processo sem fim, que representa aluta pela sobrevivncia e incentiva a inovao comoforma de operacionalizar estratgias, que seconforma no conceito de concorrncia.

    A prpria noo de monoplio representa somenteessa vontade das empresas de obter vantagenscompetitivas suficientes para se tornarem mais atrativas

    que as outras. O monoplio no se dissocia daconcorrncia, mas pode ser visto justamente como oobjetivo das empresas no processo de competio, afim de que possam deter algum poder de negociaoque lhes garanta a sobrevivncia e os lucros. POSSAS(1999, p.40) afirma que a perspectiva do lucro domonoplio que incentiva a inovao. E esta, ao geraraquela, torna-se a forma mais eficaz de concorrncia.Dessa forma, a busca de maior vantagem competitivapode ser entendida como a busca por esse lucro domonoplio, tornando-o parte integrante do capitalismo,pois criado pelo prprio processo de concorrncia.Portanto, a concorrncia um processo intrnseco aosistema capitalista, independentemente do tipo declassificao de estrutura de mercado que se faa, atporque ela prpria um dos motivos de mudanas nosmercados e, portanto, da dinmica capitalista.

    Essas novas formas de obteno e realizaode vantagens competitivas tm efeito sobre o mercadoe fazem com que tudo se modifique, inclusive as estra-tgias das empresas. Nesse ponto, resgata-se a impor-tncia para a empresa de reconhecer o momento demudana e perceber os novos caminhos, mediante umaleitura mais apropriada das suas estratgias emergentespara redefinir o futuro das estratgias que serorealizadas para ocupar os novos espaos no mercado.

    A estratgia necessria para reconhecer oambiente depende da percepo da firma sobre omercado e a forma como ela deseja conquistar o seuespao. Isso torna forte a relao entre a estratgia dafirma e o que se denomina o padro de concorrncia.Segundo KUPFER (1991, p.19),

    em cada espao de competio (mercado ou indstria,regio ou nao) vigoraria um padro de concorrnciadefinido como um conjunto de formas de concorrnciaque se revelam dominantes. O universo de formaspossveis de concorrncia engloba preo, qualidade,habilidade de servir o mercado, esforo de venda,diferenciao de produto, etc. O padro deconcorrncia seria, portanto, um vetor particular quecontm uma ou mais dessas formas, resultante dainterao das foras concorrenciais presentes noespao de competio (as caractersticas estruturais eas condutas praticadas pelas firmas que nele atuam).

    Um padro um modelo ou uma diretriz bsicaseguida pela mdia dos elementos pertencentes a umuniverso analisado. Nesse caso, os elementos so asfirmas e o direcionamento so as estratgias tomadaspara conquistar e se manter no mercado. Esse padro

  • 32

    se baseia nos elementos que caracterizam a concor-rncia, como preo, qualidade, diferenciao doproduto ou outros pontos j citados na discussosobre os tipos de vantagens competitivas. Ao estabe-lecer o padro de concorrncia, est-se apresentandoos principais tipos de vantagens competitivas que asfirmas utilizam para concorrer. Portanto, define-se queem determinado mercado as firmas concorrem, porexemplo, por preo e que, dessa forma, buscam obtera vantagem de menor custo. O vetor explicativodaquele mercado seria o baixo custo. Com a compre-enso desse vetor, pode-se buscar a compreensodaquele mercado.

    Ao definir o padro de concorrncia, comoexplicitou Kupfer, parte-se do princpio de que asestratgias das firmas so muito semelhantes dentrode um mercado, capazes de estabelecer um padro,que se cria de forma endgena e cujas estruturas nose modificam. Entretanto, o processo concorrencialno se traduz pelo equilbrio, mas justamente pelodesequilbrio provocado pela incessante movimen-tao dos agentes econmicos na sua busca por novosespaos econmicos.

    Para POSSAS (1987b, p.162),

    o comportamento da firma afeta o mercado, na mesmamedida em que por este afetado e em boa partedeterminado, o que exige, em particular se o enfoque dinmico, a opo por uma das duas alternativastericas (estrutura de mercado ou teoria das firmas) ea conseqente recusa de uma soluo que recorra aplicao da clusula ceteris paribus.

    A concorrncia a congruncia do compor-tamento da firma e do mercado, e isso se altera namesma medida em que novas estratgias ou novosprodutos surgem, dentre outros fatores que alterem ocomportamento do mercado.

    O padro de concorrncia deve ser entendidono como a composio dos vetores que delineiam aestratgia da firma, mas como a composio dinmicadessas estratgias de concorrncia dentro da estruturade mercado. POSSAS (1987b, p.164) faz umcompndio dessa anlise dinmica afirmando:

    A anlise da concorrncia deve percorrer as mediaesque permitam passar ao plano das estruturas demercado, para a captar suas especificidades; poisestas se definem exatamente a partir dos ramos deatividade capitalista que possuem uma determinadaindividualidade em termos das caractersticasdistintivas do processo competitivo. Este ltimo

    engloba, tipicamente, certo nmero de elementosbsicos que comporiam o quadro de um determinadopadro de concorrncia para caracterizar as estruturasde mercado. Estendendo este conceito um pouco almdos limites originalmente traados por STEINDL, possvel redefini-lo com base nos seguintes elementos:a insero das empresas ou suas unidades deproduo na estrutura produtiva, o que envolve desdeos requerimentos tecnolgicos utilizao dosprodutos; e as estratgias de concorrncia, abarcandoas polticas de expanso das empresas lderes, emtodos os nveis tecnolgico, financeiro e as polticasde adaptao e recriao dos mercados. A conjunodestes elementos, a um tempo estruturais e dedeciso das empresas (...), configura um complexode atributos da estrutura de mercado e da estratgiadas empresas lderes que nela se inserem, refletindo-se no seu funcionamento corrente e dinmico.

    Para POSSAS (1987b, p.167), a compreensodo mercado estaria completa se estivesse inter-relacionada com o funcionamento macroeconmico.Assim, volta-se a introduzir o conceito decompetitividade como a composio dos fatoresinternos, estruturais e sistmicos, apresentadosanteriormente. Isso significa que a compreensodinmica das estruturas de mercados tambm deveser fundamentada pelos fatores internos (estratgiasde concorrncia), estruturais (insero das firmas naestrutura produtiva) e sistmicos (inter-relao como funcionamento macroeconmico). A estrutura demercado passa pela compreenso da competitividadedo setor, caracterizando a questo dinmica pelacomposio de vrios fatores que evoluem e confor-mam as relaes entre os agentes econmicos em umprocesso concorrencial.

    A compreenso da competitividade setorial e daestrutura de mercado vigente pode se dar a partir daanlise e compreenso de alguns elementos econ-micos, considerados essenciais para este feito, mas,por outro lado, reconhecem-se as dificuldades deexpressar toda essa dinmica em um nico estudomercadolgico, pela infinidade de fatores que podemalterar a sua conformao e direcionamento, dentrode uma perspectiva de processo concorrencial.

    Embora a anlise do padro concorrencial sejafundamental, no se eliminam as incertezas, dado queas variveis no so imutveis. A compreenso doambiente de incerteza ilustrada a seguir com aapresentao de um modelo desenvolvido porSIMONSEN (1994) para tratar desse contexto incerto,mas que faz parte das expectativas do empresrio,amparadas, como j mencionado, nas crenassubjetivas e arbitrrias, portanto, irracionais.

  • 33Rev. FAE, Curitiba, v.4, n.2, p.33-35, maio/ago. 2001

    5.2 Um Modelo de Anlise Microdinmicaem Ambientes com Incerteza

    Em um ambiente que apresenta elevada incerteza,relativa ou absoluta, os agentes se comportam a partirde respostas probabilsticas, pois so influenciadospelo seu estado subjetivo de conhecimento ou pordefinies de possibilidades incontveis. A diversidadede meios que os agentes podem contar para seaproximar da realidade evolui com a multiplicidadede estratgias que vo sendo implementadas e que seaproximam das solues desejadas.

    Em uma aproximao probabilstica, a incertezaser trabalhada a partir do modelo de minimax,conforme apresentado por SIMONSEN (1994,p.399). Na incerteza relativa, o agente capaz deassociar a cada evento um probabilidade mnima euma probabilidade mxima, desconhecendo nesteintervalo o ponto em que se localiza a probabilidade verdadeira do evento. Neste caso, a probabilidadeverdadeira pode ser considerada aquela que permitecom maior segurana a definio de uma estratgia aser implementada.

    Designando:R = w conjunto dos possveis estados da

    naturezaC = X conjunto das estratgias situado no

    intervalo [A, B].O ganho a ser obtido pelo agente uma funo

    R (X, w), dependendo da estratgia X que escolhere do estado da natureza que a sorte determinar. Ocritrio do maximin a forma convencional de resolvero problema. Para cada estratgia X, o agente avaliao ganho mnimo garantido, isto , o correspondenteao pior estado possvel da natureza, tendo em vista afixao de X.

    F (X) = min R (X, w)

    Cabe ao agente escolher uma estratgia quemaximize F(X). O nmero de estratgias e de estadosda natureza precisam ser finitos para que o problemase resolva por um algoritmo matricial imediato.

    As linhas indicam as estratgias, as colunas, ospossveis estados da natureza e o elemento genricoafI, o ganho do agente se ele optar pela estratgia f eocorrer o estado da natureza I. O mnimo mf doselementos de cada linha indica o ganho que, na piordas hipteses, a estratgia f proporciona ao agente.O critrio de maximin escolhe a estratgia com o maiormf possvel. No exemplo numrico acima, a segundaestratgia a nica estratgia de maximin.

    As estratgias so definidas tendo em vista ascaractersticas internas firma. O que precisa serdeterminado o denominado estado da naturezano modelo apresentado, que, dentro do enfoqueanaltico desenvolvido, o ambiente econmico,sendo esta uma questo complexa, pois caber firma definir qual elemento ocasionar maior impactosobre os resultados esperados: a estratgia dasconcorrentes ou os fatores histricos e culturais. Umadas alternativas que surge a firma trabalhar comdiferentes cenrios, em que a varivel selecionada serdistinta, de forma que seja possvel, com anlisecombinatria, ter elementos decisrios.

    Apesar da simplicidade do instrumento, o rele-vante a escolha das variveis exgenas, integrantesdo ambiente econmico, que, nas anlises combina-trias, definem rotinas de conhecimento da realidade.

    O modelo tambm pressupe que a firma tenhaum conhecimento da indstria em que se insere, poisa incerteza permanece e as variveis selecionadas emum intervalo de tempo podero ser irrelevantes comas mudanas que possam estar ocorrendo no ambien-te, em razo das estratgias das firmas concorrentesque, por hiptese, podem estar alterando o padrode competitividade.

    QUADRO 1 - SIMULAO DO MODELO MAXIMIN E ANLISE MICRODINMICA

    ESTADO DA NATUREZAESTRATGIA

    X1 8 3 10 5 3X2 4 6 9 8 4X3 9 9 7 2 2X4 6 3 0 3 0X5 10 10 10 -2 -2

    I II III IV

    GANHO MNIMOGARANTIDO

  • 34

    CONSIDERAES FINAIS

    A motivao principal em questionar ospostulamentos neoclssicos surge da prementenecessidade de entender, com maior grau decientificidade, as profundas transformaes verificadasno ambiente econmico, em particular, o brasileiro.

    Acredita-se que esta discusso fundamentalneste momento histrico, em que o avano de novasmetodologias em outras cincias demonstra a urgnciade a Cincia Econmica incorporar, sem perder seurigor, consideraes e propostas que possam garantira modernizao de teorias e mtodos analticos.

    O objetivo de questionar os pressupostos quebalizam o pensamento neoclssico foi o de apontar oslimites da teoria para explicar novos elementos, fruto daevoluo histrica, que emergiram no desenvolvimentocapitalista e que provocaram (e provocam) profundasperturbaes no sistema econmico.

    Ainda inexiste um consenso sobre como, nosmarcos metodolgicos neoclssicos, seria possvelresponder s novas problemticas do universoempresarial. Contudo, a discusso s est iniciando,e quanto maior a reflexo e o questionamento dosbalizamentos explicativos existentes maior ser apossibilidade do surgimento de pistas para oavano do conhecimento.

    REFERNCIAS

    ANDRADE, Joo Sousa. Algumas observaes sobre a metodologia da economia. In: CONGRESSO DOSECONOMISTAS DA LNGUA PORTUGUESA, 3., 1998, Macau. Anais... Macau: [s. n.], 1998.BUENO, Newton Paulo. A utilizao dos mtodos da teoria da complexidade em histria econmica. In: CONGRESSOBRASILEIRO DE HISTRIA, 3., 1999, Curitiba. Anais Curitiba: UFPR, 1999. 1 CD-ROM.

    CANUTO, Otaviano. Mudana tcnica e concorrncia: um arcabouo evolucionista. Campinas: UNICAMP/IE, 1992.(Texto para discusso; 6)

    CASTRO, Antnio Barros; POSSAS, Mrio Luiz; PROENA, Adriano (Org.). Estratgias empresarias na indstriabrasileira: discutindo mudanas. Rio de Janeiro: Forense Universitria, 1996.

    CHICK, Victoria. Macroeconomia aps Keynes: um reexame da Teoria Geral. Rio de Janeiro: Forense Universitria, 1993.COUTINHO, Luciano; FERRAZ, Joo Carlos. Estudo da competitividade da indstria brasileira. 3. ed. Campinas: Papirus:Editora da Unicamp, 1995.

    FURTADO, Andr. Capacitao tecnolgica, competitividade e poltica industrial: uma abordagem setorial por empresaslderes. Braslia: IPEA, 1994. (Texto para discusso; 348).

    GODELIER, Maurice. Racionalidade e irracionalidade na economia. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, [19--].

    GRASSI, Robson Antnio. A conceituao dos determinantes sistmicos da competitividade: uma contribuio a partir domodelo keynesiano de escolha de ativos. In: ENCONTRO NACIONAL DE ECONOMIA POLTICA, 4., 1999, Porto Alegre.Anais Porto Alegre: UFRGS, 1999. 1 CD-ROM.

    GUEDES, Francisco G. Economia e complexidade: as metamorfoses da cincia a crtica da razo econmica. Lisboa: Globo, 1999.

    KUPFER, David. Padres de concorrncia e competitividade. Rio de Janeiro: IEI-UFRJ, 1991. (Texto para discusso; 265).

    LIMA, Gilberto Tadeu; SICS, Joo; PAULA, Luiz Fernando de (Org.). Macroeconomia moderna: Keynes e a economiacomtempornea. Rio de Janeiro: Campus, 1999.

    LISBOA, Marcos de B. A misria da crtica heterodoxa segunda parte: mtodo e equilbrio da tradio neoclssica.Revista de Economia Contempornea, Rio de Janeiro, n. 7, jan./jul. 1998.

  • 35Rev. FAE, Curitiba, v.4, n.2, p.35-35, maio/ago. 2001

    MINTZBERG, Henry; AHLSTRAND, Bruce; LAMPEL, Joseph. Safri de estratgia: um roteiro pela selva doplanejamento estratgico. Porto Alegre: Bookman, 2000.

    POSSAS, Mrio L. A dinmica da economia capitalista: uma abordagem terica. So Paulo: Brasiliense, 1987a.POSSAS, Mrio Luiz. Estruturas de mercado em oligoplio. So Paulo: Hucitec, 1987b.POSSAS, Mrio Luiz. Dinmica e concorrncia capitalista: uma interpretao a partir de MARX. So Paulo: Hucitec, 1989.POSSAS, Mrio Luiz. A cheia do mainstream: comentrios sobre os rumos da Cincia Econmica. Rio de Janeiro: UFRJ/IEI, 1995. (Texto para discusso; 327).POSSAS, Silvia. Concorrncia e competitividade: notas sobre estratgia e dinmica seletiva na economia capitalista. SoPaulo: Hucitec, 1999.SILVA, Antnio Carlos Macedo e. Macroeconomia sem equilbrio. Rio de Janeiro: Vozes, 1999.SIMONSEN, Mrio H. Ensaios analticos. Rio de Janeiro: FGV,1994.STEINDL, Josef. Pequeno e grande capital. So Paulo: Hucitec, 1990.STRACHMAN, Eduardo. Os fundamentos da teoria neoclssica: uma apresentao crtica. In: ENCONTRO NACIONALDE ECONOMIA POLTICA, 4., 1999, Porto Alegre. Anais Porto Alegre: UFRGS, 1999. 1 CD-ROM.