a dinamica da personalidade de eco

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A DINÂMICA DA PERSONALIDADE DE ECO 1 por Renata Cunha Wenth. O que une de forma muito profunda Jung à Mitologia é o conceito de Inconsciente Coletivo e seu principal conteúdo: o Arquétipo.Inclusive um dos fatores que levou Jung ao conceito de inconsciente coletivo foram seus anos de estudo de mitologia, pela qual ele ficou completamente fascinado: ........estudei um amontoado de materiais mitológicos e gnósticos, pa- ra enfim chegar a uma desorientação total. Senti-me tão desamparado como outrora, na clínica, quando tentava compreender o sentido dos estados psicóticos. Tinha a impressão de estar num asilo de alienados imaginários e comecei a “tratar”todos esses centauros, ninfas, deuses e deusas,do livro de Creuzer, a analisá-los como se fossem meus doen- tes...” 2 ..... passei as minhas noites imerso na história dos símbolos,i.e., na mi- tologia e na arqueologia..........aqui se encontram fontes valiosas para a fundamentação filogenética da teoria da neurose...” 3 A partir do estudo de Mitologia Comparada, de Religião Comparada ( mitos e religiões sendo vistos como expressões espontâneas da psique humana), da observação de pacientes psicóticos ( Jung trabalhou em hospital psiquiátrico durante nove anos e o paciente psiquiátrico se caracteriza pela 1 O presente ensaio foi inicialmente realizado como um trabalho exigido pelo curso de Especialização em Psicologia Analítica da Puc-Pr, em junho de 1995. 2 JUNG,C.G.Memórias, Sonhos e Reflexões. p.145. 3 JUNG,C.G.Correspondência Completa Freud e Jung. p.310 1

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Mitologia e arquetipos no caso Eco.

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ESPECIALIZAO EM PSICOLOGIA

PAGE 14

A DINMICA DA PERSONALIDADE DE ECO

por Renata Cunha Wenth.

O que une de forma muito profunda Jung Mitologia o conceito de Inconsciente Coletivo e seu principal contedo: o Arqutipo.Inclusive um dos fatores que levou Jung ao conceito de inconsciente coletivo foram seus anos de estudo de mitologia, pela qual ele ficou completamente fascinado:

........estudei um amontoado de materiais mitolgicos e gnsticos, pa-

ra enfim chegar a uma desorientao total. Senti-me to desamparado

como outrora, na clnica, quando tentava compreender o sentido dos

estados psicticos. Tinha a impresso de estar num asilo de alienados

imaginrios e comecei a tratartodos esses centauros, ninfas, deuses e

deusas,do livro de Creuzer, a analis-los como se fossem meus doen-

tes...

..... passei as minhas noites imerso na histria dos smbolos,i.e., na mi-

tologia e na arqueologia..........aqui se encontram fontes valiosas para

a fundamentao filogentica da teoria da neurose...

A partir do estudo de Mitologia Comparada, de Religio Comparada ( mitos e religies sendo vistos como expresses espontneas da psique humana), da observao de pacientes psicticos ( Jung trabalhou em hospital psiquitrico durante nove anos e o paciente psiquitrico se caracteriza pela substituio do mundo da realidade pelo do inconsciente), olhando para seus prprios sonhos (expresso do inconsciente) e sonhos de seus pacientes normais, Jung conclui que as imagens produzidas espontaneamente pela psique em sonhos, fantasias e mitos, so semelhantes em sua forma e estruturao e a partir da postula a existncia de uma camada psquica igual a todos os homens, capaz de gerar imagens semelhantes, imagens tpicas de seres humanos.

Nossas opinies, pensamentos e convices so produtos de uma cama-

da psquica na qual se produzem os mitos. Esse estrato criador de mitos

funciona como nossos sonhos........As imagens produzidas pela psique -

podem ser altamente pessoais, mas o drama em nosso palco interior cos-

tuma ser uma encenao do drama humano geral. Os artistas e os sbios

sempre souberam disso. Nossos problemas particulares - nascimento, -

morte, relacionamentos, conflitos e a busca de significado - so proble-

mas humanos. Quem estiver passando por um deles tem chance de perce

ber que essa experincia uma verso de imagens grandiosas que simbo

lizam o modo como a humanidade sempre vivenciou esse problema. Jung

chamou de arqutipos essas imagens atemporais. So dinamismos que -

fornecem padres de comportamento, de emoo e de experincias pes-

soais que transcendem a histria pessoal.......Pode-se considerar os mitos

como sonhos coletivos e recorrentes da humanidade.

Devido a essa ligao imensa entre a Psicologia Analtica e a Mitologia sinto ser pos-

svel traarmos um paralelo entre a personalidade mtica de Eco e alguns conceitos bsicos

de Jung; ou olharmos para a dinmica do mito atravs de um olhar junguiano que por natureza tende a dar espao ao mito e ver a necessidade de compreendermos o mito at para que nos conheamos.

E o mito? O mito refaz a histria da origens, histria sagrada. Se das ori-

gens, universal. Quanto mais primitivo, mais de todos. Todos vimos nos-

sa imagem refletida em alguma superfcie lisa algum dia e ficamos pertur-

bados. Os contornos refletidos so os nossos? Vemos outro ou vemos a

ns mesmos? Por isso Narciso nos interessa, por isso que ele histri-

co.

Poderamos dizer o mesmo de ECO...quem no viveu um amor impossvel? Um amor

to centrado no outro que justo por isso no pode ser amor? Quem no apenas ecoou pala-

vras?Ficando sem identidade, ficando sem fala! Parafraseando Donaldo Schuler, podemos

dizer que Eco nos interessa, que historicamente psicolgica.

A forma mais natural de chegarmos ao mito de ECO talvez seja atravs do mito de -

Narciso, que foi o seu grande amor. H alguns autores junguianos que se dispuseram a falar

sobre o mito de Narciso e Eco, entre eles: Murray Stein ,Patricia Berry, e Nathan Schwartz

Salant; como suporte dentro da Mitologia Grega e ensaios, optei por Junito de Souza Bran-

do e Donaldo Schuler e como, em se tratando de Narciso e Eco, no poderia deixar de lado: Ovdio em As Metamorfoses.

A verso mais completa de Narciso foi a narrada por Ovdio.

A estria do jovem Narciso vem da antiguidade em vrias varia-

es. A principal , e a mais detalhada, aparece nas Metamorfoses

de Ovdio. Porm, em qualquer forma que aparea, esta uma

estria cujo principal tema o amor e a paixo frustrada. Perten-

ce s estrias de Eros, como uma das complicaes dentro das

complexidades do amor ertico.

Portanto,

* Narciso,Eco ( por Ovdio):

Tirsias, cuja grande fama se espalhara pelas cidades da Ania, dava respostas infalveis s pessoas que o consultavam. A primeira a experimentar a veracidade de suas palavras foi a cerlea Liriope, que outrora o Cefiso enlaara nas curvas de seu curso, e, uma vez presa, a violentara. Belssima, engravidou-se e deu luz um filho , j ento digno de ser amado pelas ninfas,a quem chamou Narciso. Consultando a seu respeito, se o menino viveria muito, se teria uma velhice prolongada, o adivinho respondeu: Se no se conhecer.Por muito tempo as palavras do ugure pareceram destitudas de sentido. Mostraram seu acerto a maneira com que se desenrolaram -

os acontecimentos, o modo como morreu Narciso e a estranheza de sua loucura.O filho de Cefiso tinha, ento, dezesseis anos, e podia ser tomado tanto por um menino como por um moo. Muitos jo

vens e muitas jovens o desejam, mas - tanta to rude soberba acompanhava suas formas delicadas -

nenhum jovem, nenhuma jovem o tocara. Quando olhava os trmulos veados apanhados nas redes, a

ninfa de voz sonora, que no responde pelo silncio a quem lhe fala, e nem fala em primeiro lugar, a

ressonante Eco, o viu. Eco tinha, ento, um corpo, no era voz apenas; no entanto, j era loquaz e usava da boca, como ainda hoje, para repetir a ltima de muitas palavras, como faz agora. Juno foi a

causadora, pois, quando tinha oportunidade, muitas vezes, de surpreender ninfas deitadas na montanha com seu Jpiter, a esperta Eco a detinha, conversando muito, enquanto as ninfas fugiam. -

Percebendo tal coisa, disse a filha de Saturno: Com essa lngua, que tanto me fez ser iludida, pouco

poders fazer e ters um uso brevssimo das palavras.E executa a ameaa: quando algum acaba de

falar, Eco s pode repetir o que ouviu.

Ento, quando ela viu Narciso andando sem destino pelos campos, e se apaixonou, seguiu-lhe os -

passos furtivamente; quanto mais o segue, mais se aquece ao calor da chama, do mesmo modo que o

inflamvel enxofre, com que se reveste a extremidade das tochas, se queima ao aproximar-se do fogo. Quantas vezes ela quis aproximar-se, com palavras carinhosas, e dirigir-lhe ternas splicas! -

Sua natureza a impede de falar em primeiro lugar. Permite-lhe, porm, e ela se dispe a isso, esperar os sons e devolver-lhe as prprias palavras.

Por acaso, o adolescente, separado do grupo fiel de seus companheiros, perguntara: Aqui no h -

algum? H algum, respondera Eco. Ele se admira, e olha em torno. Vem!, grita muito alto; -

Eco repete o convite. Ele olha para trs, e, no vendo ningum aproximar-se, pergunta: Por que fo-

ges de mim?E ouve as mesmas palavras que dissera. Insiste,e, iludido pela voz que responde sua,-

convida: Vem para junto de mim, unamo-nos!A nada Eco respondera com mais boa vontade: U

namo-nos!Ajunta o gesto palavra e, saindo da floresta, avana para abraar o desejado. Ele foge,

e diz, ao fugir: Afasta-te de mim, nada de abraos! Prefiro morrer, no me entrego a ti!Eco repetiu

somente: Me entrego a ti!

Desdenhada, esconde-se na floresta e protege com flores o rosto corado de vergonha,e, desde ento, vive naquelas grutas isoladas.Seu amor, no entanto, perseverante, e cresce com a amargura -

da recusa. As preocupaes incansveis consomem seu pobre corpo, a magreza lhe encolhe a pele, a

prpria essncia do corpo se evapora no ar. Sobrevivem, no entanto , a voz e os ossos. A voz persis-

te; os ossos, dizem, assumiram o aspecto de pedra. Assim, ela se esconde nas florestas, e no vista

nas montanhas. ouvida por todos; o som que ainda vive nela.

Assim Narciso decepcionara Eco e outras ninfas nascidas nas guas e nos montes, e, antes delas, -

outros jovens. Despeitado, um deles ergueu as mos para o cu, exclamando: Que ele ame, por sua

vez, e no possa possuir o objeto amado!disse. A deusa de Ramnonte atendeu a essa justa prece.

Havia uma fonte de gua muito pura, brilhante e prateada, da qual jamais haviam se aproximado os pastores nem as cabras que pastavam na montanha, nem qualquer outro gado, que jamais fora perturbada por qualquer ave, por qualquer animal selvagem, por qualquer ramo cado de uma rvore.Era rodeada pela grama, que chegava at junto da gua, e a floresta impedia que o sol esquen-

tasse o lugar. Ali, o adolescente, cansado pelo esforo da caa e pelo calor, estendeu-se no cho, a-

trado pelo aspecto do lugar e pela fonte. Mas, logo que procura saciar a sede, uma outra sede surge

dentro dele. Enquanto bebe, arrebatado pela imagem de sua beleza que v, apaixona-se por um reflexo sem substncia, toma por corpo o que no passa de uma sombra. Fica exttico diante de si -

mesmo, imvel, o rosto parado, como se fosse uma esttua de mrmore de Paros. Deitado no cho,-

contempla dois astros, seus olhos, os cabelos dignos de Baco e de Apolo, o rosto imberbe, o pesco-

o ebrneo, a linda boca e o rubor que cobre a ctis branca como a neve. Admira tudo, pelo que admirado ele prprio. Deseja a si mesmo, em sua ignorncia, e, louvando, a si mesmo que louva. -

Inspira a paixo que sente, e, ao mesmo tempo, acende e arde. Quantas vezes beijou em vo a gua enganosa! Quantas vezes, para abraar o pescoo que via, mergulhou os braos na gua, sem conseguir abraar-se! No sabe o que v; mas o que v o inflama, e o mesmo erro que ilude seus o-

lhos lhe excita o desejo. Crdulo, o que consegues com esses vos esforos? No existe o que procu-

ras. Afasta-te do que amas, e o vers desaparecer. Essa sombra que vs o reflexo de tua imagem. Nada por si mesma. Contigo, ela aparece e permanece; com tua partida desaparecer, se tiveres a coragem de partires.

Nem os cuidados com a alimentao nem com o repouso, todavia, podem afast-lo dali; estendido

na espessa relva, contempla, insacivel, a imagem mentirosa, e perde-se devido aos prprios olhos.Erguendo-se um pouco, estende os braos para a floresta que o cerca. Algum, floresta, sentiu mais cruelmente o amor?, pergunta. Vs os sabeis e, para muitos, fostes um oportuno refgio. Vs, cuja existncia atravessou tantos sculos, lembrais, durante todo esse longo tempo, de algum

que tenha sofrido assim? Estou apaixonado, e vejo, mas no posso alcanar o que vejo e me seduz; a

tal ponto erro como amante. E, para agravo de minha dor, no nos separa nem o mar imenso, nem a

distncia, nem montanhas, nem muralhas com portas fechadas, mas uma simples camada de gua. E-

le prprio aspira a ser possudo, pois cada vez que beijamos a gua cristalina, ele procura atingir com a sua a minha boca. Dir-se-ia que podes toc-la, to pequeno o obstculo que nos impede de

amarmo-nos. Sejas quem fores, vem! Por que me engans, jovem sem-par? Aonde vais quando te procuro? Certamente, no tenho uma aparncia ou uma idade para te fazer fugir. As ninfas tambm

me amaram. Em teu rosto amigo promete-mes no sei qual esperana, e quando te estendo os braos , estendes, por tua vez, os teus; quando sorrio, sorris; tambm muitas vezes vi correrem lgrimas dos teus olhos quando eu chorava; a uma inclinao de cabea, respondias da mesma manei

ra;e, tanto quanto posso adivinhar pelos movimentos de tua linda boca, dizes-me palavras que no -

chegam aos meus ouvidos. Somos o mesmo! No me iludo mais com a minha imagem. por mim que ardo de paixo e sinto e ateio ao mesmo tempo esse fogo. Que fazer? Ser rogado ou rogar? E o

que, de agora em diante, poderei rogar? O que desejo est comigo; a riqueza me faz pobre. Oh! se eu pudesse separar-me do meu prprio corpo! Desejo desusado em um amante, queria estar separado do que amo! E j o sofrimento abate o meu vigor, no me resta muito mais tempo a viver e

me extingo na flor da idade. A morte no me assusta, pois com a morte aliviarei o sofrimento. Para aquele que amo desejaria vivesse mais. Agora, exalaremos juntos o ltimo suspiro.

Disse, e, com a razo perturbada, voltou mesma contemplao. As lgrimas turvaram as guas e,

no lago agitado, a imagem se tornou indistinta. E, ao v-la desfazer-se, ele gritou: Para onde foges?

Fica, no me abandones, cruel, eu que te amo! Que me seja permitido olhar o que no posso tocar e

alimentar a minha triste loucura. Enquanto se lamenta, abre as vestes, desde o alto, e esmurra o pei-

to nu com as mos esculturais. Com as pancadas, o peito se tinge de vermelho, como acontece com as frutas, que, alvas em parte, em parte enrubescem, ou como, nos cachos variegados, a uva, ainda verde, se colore de prpura. Quando o viu, na gua cristalina de novo, no pde suportar por mais tempo, mas, como costumam se derreter a loura cera ao leve calor do fogo ou o orvalho matinal ao morno sol, assim, esgotado pelo amor, ele definha, e um fogo secreto o consome, pouco a pouco. A-

gora, sua ctis j no oferece a alvura misturada ao rubor; nem restam o vigor e o nimo que seduziam os seus olhos; nada resta do corpo que outrora Eco havia amado. Essa, ao ver tal coisa, em

bora ainda ressentida com o agravo, apiedou-se, e todas as vezes que o infortunado adolescente ex-

clamava Ai!, ela repetia Ai! Quando as mos lhe esmurram os braos, ela repetiu com sua voz o

rudo das pancadas. Foram as ltimas palavras de Narciso com os olhos postos naquela gua j to conhecida: Ah, querido em vo!, e o local devolve todas as palavras. E dizendo Adeus!, responde Eco Adeus! Ele repousa na verde relva a cabea fatigada, e a noite fechou-lhe os olhos cheios de admirao pelo dono. E mesmo depois de ter sido recebido no inferno, ainda se olhava na

gua do Estige. As niades, suas irms, choraram em altas vozes e depositaram os seus cabelos no tmulo do irmo; choraram as drades; Eco repete os seus lamentos, e elas j preparavam a pira, as tochas e o fretro. Em lugar do corpo, acharam uma flor dourada, rodeada de folhas brancas.

* Eco ( por Junito Brando):

... Eco uma ninfa dos bosques e das fontes, em torno da qual se organizou uma pletora de mitos

que visam explicar a origem do eco. Perseguida pelo lascivo P, a quem no amava, mas apaixonada por um Stiro, que a evitava, acabou sendo despedaada por pastores como punio afronta perpetrada contra seu protetor, o deus P. O grande amor de Eco, todavia, foi o mais belo dos efebos, Narciso. Eco o seguia aonde quer que se dirigisse o jovem filho da ninfa Lirope. Um dia, Narciso a viu e a repeliu to friamente, que Eco se isolou , fechando-se numa dolorosa solido.

Por fim, deixou de alimentar-se e definhou, transformando-se num rochedo, capaz to-somente de repetir os derradeiros sons do que se diz.......

* * *

O que podemos dizer da personalidade de Eco aps termos olhado to de perto para

sua estria? uma estria de amor SEM um final feliz? Um amor impossvel, incompleto. De acordo com Patrcia Berry, a beleza de Eco o sofrimento, a aflio, a tristeza; e neste

sentido fazem parte de emoes extremamente humanas:

... a beleza de Eco igualmente um sofrimento e uma certa passivi-

dade.Quer dizer, um sofrimento por algo alm das fronteiras -

de si-prprio ou do ego. Relaciona-se com o latim passio, e o -

Grego pathos.Esta paixo como um gosto ou um toque em tu-

do aquilo que mais pungente porque no real. Ou uma das mais

preciosas paixes devido dor de sua no-consumao. Nada no mi

to de Eco e de Narciso se realiza - no h um final feliz - pelo menos

num sentido comum. O foco do mito a paixo no-realizada ( Eco

por Narciso e Narciso por seu reflexo).[...]Na estria de Eco e Narciso

no h uma consumao no sentido comum. Mas h um tipo de consu

mao de si prprio na morte, a consumao do complexo dentro de si

prprio.

Realmente, ambos foram consumidos pelo fogo de suas prprias paixes, suas prprias paths, suas prprias patologias, seus prprios complexos, suas prprias dificuldades em se comunicarem consigo prprios e portanto, com o Outro:

A incomunicabilidade incendeia, mutila, destri. Narciso e Eco defi-

nham acometidos da mesma doena.

Narciso e Eco definem os limites do homem: a palavra no atravessa

a rocha, os reflexos congelam na imagem. Na rigidez, Narciso e Eco

traam smbolos da morte.

* * *

Aps termos conhecido o mito de Eco acredito poder iniciar um passeiopela personalidade de Eco, quais seriam suas caractersticas, suas dificuldades, suas doenas e suas belezas enfim, sua psicodinmica:

Para Murray Stein, Eco completamente Extrovertida , de forma extrema. Ou seja, sua energia estaria quase que completamente dirigida para o objeto externo ( no caso Narciso), ficando sem vida interior, sem comunicao consigo prpria que deveria ser feita pela introverso,que nela, no encontra energia. Stein ressalta a contribuio de Jung no sentido deste valorizar a introverso ( talvez excessiva em Narciso) como uma compensao para uma extroverso excessiva de nossa sociedade , compensao esta que teria como consequncia uma sade e objetividade do mundo interno, um maior equilbrio.

Porm, Eco no faz esse movimento e sim apaixona-se por seu oposto, o enclausurado em

si prprio: Narciso; projetando assim nele o que deveria em si desenvolver.

No nos esquecendo de que Eco torna-se uma extrovertida extrema por ecoar somente os

sons do mundo externo, fruto do castigo recebido de Hera.

O uso psicanaltico da figura de Narciso dirige ateno sua psicopato-

logia, tambm para o potencial patolgico da introverso. No que a ex

troverso tambm no possua uma possibilidade patolgica ( mania), co

mo foi exemplificado pela companheira de Narciso em Ovdio: a ninfa Eco:

uma extrovertida extrema, ela no possui vida interior prpria mas mera

mente ecoa os sons do mundo externo. Se esta ( a introverso) foi uma

das mais magnficas contribuies de Jung para indicar a sade e a objeti

vidade do mundo interno e esta conduzir a um balano contra nossa usual -

supervalorizao da extroverso[...].

Eco condenada a somente repetir sons externos pelo que fez Hera, ou seja, acabou tomando partido de Zeus nas eternas brigas pelo poder que acontecem entre este ca-

sal divino. Inclusive ela foi a escolhida por Zeus para distrair Hera at por ser uma jovem muito loquaz, de novo sua extroverso... A partir deste episdio no mito podemos visualizar vrias caractersticas de Eco:

- a inevitvel dependncia dos deuses: A ninfa poderia ter tomado o partido de Juno; preferiu, entretanto, o

de Jpiter e sofreu as consequncias. Se tivesse denunciado Jpiter, -

no teria tido sorte melhor.

Dois sistemas se opem: a monogamia e a poligamia...

- sua ligao com o arqutipo do pai: Mas devemos recordar as circustncias no mbito da qual ela foi reduzida

a um eco. Hera foi responsvel por isso, da mesma forma como havia ce-

gado Tirsias. E, em ambos os casos, havia um problema de poder em jo-

go, entre Hera e Zeus. Assim sendo, h , ao lado da forte constelao ma-

terna negativa, no contexto inconsciente de Narciso, um contexto similar

na condio de Eco.

Num certo sentido, Eco transforma-se numa espcie de irm, tudo, exce-

to me. Ela est a servio do Pai, alienada do arqutipo da me. Sua con

dio final como voz sem corpo caracterstica da alienao maternal e -

constitui uma razo pela qual seu eco ineficaz.

O conflito masculino-feminino, que tanto domina a etiologia de Narciso, -

domina igualmente a de Eco.

- a inconscincia de sua essncia feminina:

A partir do que vimos at o presente momento, Eco estaria inconsciente de sua essncia que feminina, talvez por isso no consiga encontrar-se no amor, j que no conhece a si prpria. Alm do fato de ecoaruma fala vazia, um eco que no faz sentido,ecoa o seu vazio.

Poderamos distinguir dois tipos de eco, aquele que nada diz e aquele que ressoa o mais profundo de nossas almas, aquele que bate fundo no peito. Acredito que para fazer sentido, a pessoa que esteja fazendo o eco precisa conhecer muito a si prpria e estar sintonizada no outro. Existe o ecoar como uma resposta oca ( a de Eco do mito) e o ecoar como um processo de reflexo emptica, que somente conseguimos quando estamos enraizados em ns mesmos a ponto de sentirmos como o outro nos toca. Eco,porm, estava

muito distante de si prpria, muito distante de seu corpo, muito distante da mulher em si mesma. Curioso pois as ninfas so divindades femininas, ligadas ao matriarcado:

... as ninfas seriam reminiscncias da era matrilinear, cuja divinda-

de primordial era a Terra-Me, enquanto a mulher seria a figura

religiosa central. Nesse caso, as ninfas, divindades secundrias, po

deriam ser consideradas uma extenso da prpria energia telrica,

a saber, divindades menores que representam Gia, a grande Me-

Terra em sua unio com a gua, elemento mido e fecundante. Tu

do leva a crer que sim, pois, da unio desses dois elementos,terra

e gua, surge a fora geradora que preside reproduo e fecun-

didade da natureza tanto animal quanto vegetal. Desse modo, as -

ninfas so a prpria Gia em suas mltiplas facetas, enquanto ma-

triz de todos os seres e coisas, enquanto grande deusa, cujas ener-

gias nunca se esgotam. Por tudo isso s podiam ser divindades fe- mininas da eterna juventude.

- Justo por sua ligao com o feminino por ser uma ninfa , esta passagem nos revela um lado seu a servio da fertilidade.

Enquanto Eco conversa com Hera na passagem de Ovdio, no pano

de fundo ocorre a fertilidade do amor-livre ( Zeus fazendo amor com

as ninfas). As palavras de Eco encobrem coisas, escondem coisas da

conscincia de Hera, torna possvel atividades por baixo daquilo que

esperado, da ordem manifesta. Ento palavras, palavras de Eco,

tornam possveis ao mesmo tempo uma certa fertilidade oculta.[...].

Dentro das palavras, por trs das palavras, Zeus est sempre fazendo

amor com as ninfas.Enquanto se fala,coisas frteis, procriativas,

ecoantes tambm esto ocorrendo por trs dos panos.

Realmente , a maior parte dos descendentes de Zeus e consequentemente formadores da mitologia no so filhos de Zeus com Hera!

Acredito que por trs da ordem( aqui simbolizada por Hera), por trs da conscincia, daquilo que claro e estabelecido existe tambm um mundo muito frtil, podemos ento falar do prprio inconsciente: que nos fala atravs de uma fala aparentemente sem sentido, porm sedutora, frtil se buscarmos o seu pano de fundo. Antes de ter sido punida por Hera

talvez a fala de Eco, apesar de aparentemente vazia, estivesse a servio at de relaxar um

pouco Hera , tir-la de sua possessividade com relao a Zeus que no possibilitava a ela um maior autoconhecimento.

No nos esqueamos que, como ninfa, Eco possui uma ligao com o mundo das guas, um dos grandes smbolos do inconsciente e tida , a gua, como um relaxante por natureza.Realmente, o contato com o inconsciente acaba por desfazer conceitos rgidos e estreitos da conscincia, nos tornando mais vontade conosco.

Porm , Eco foi punida. Punida na fala.

Juno, quando ofendida , mutila. Feriu Baco na razo; Tirsias, na

viso; Eco, na fala.

Teria ento ficado Eco:descentrada,dependente, somente responsiva e mmica? Eco agride uma divindade central. Punio: o descentramento.

A sentena condena Eco a viver margem de quaisquer falan-

tes. Na desventura de Eco no se espelham todos os que vi-

vem margem de instncias centrais, condenados a ser eco de

palavras ouvidas?

H pouco havamos falado sobre este descentramento, quando falvamos sobre o fato de Eco ser uma moa muito distante de sua essncia . como se Eco houvesse sofrido uma perda da alma, ou seja, um rompimento do relacionamento com a prpria vida psquica individual.

Eco comete uma hybris, at porque as ninfas so divindades secundrias da mitologia, no habitam o Olimpo e Eco indiretamente confronta Hera, que a divindade por excelncia.

De certa forma, a punio de Hera a faz lembrar, e sempre, do quo secundria , do quo dependente . A maldio de Juno revela uma das qualidades da ninfa, a de ser

dependente. Vivendo em montes, vales, fontes e bosques, as nin-

fas acompanham entes como sombra ou como eco. A Eco s -

consentido falar como eco, som sujeito a outros sons. Ao deter

os passos de Juno, Eco incorre na insolncia de ousar erguer-se

da situao de objeto a sujeito.

Eco somente responde aos sons externos, no pode dizer nada daquilo que deseja, que

sente,precisa que o outro comece; tornando-se ento uma imitadora?! Mas, chama-me a

ateno o fato de que ela seleciona algumas frases que sinto caberem bem ao seu propsi

to de mostrar a Narciso o quanto ela o ama...

Ser que nossas repeties ( todos temos palavras que so recorrentemente utilizadas) no so tentativas de nossa alma de se expressar, de se fazer visvel?!)

... em nosso comportamento dirio, todos ns repetimos. Vira e mexe

contamos as mesmas histrias. Todos temos certas frases que no con

seguimos parar de dizer. E estas repeties so completamente embara-

osas, porque elas mostram nossa falta de originalidade. Ningum -

quer ser um Eco. Mas o que isso que no tomamos cuidado para

no repetir? H algum investimento profundo em nossas repeties -

algum amor por elas? H alguma beleza nelas? O decorar - repetio leva ao corao, vem do corao - profundamente arraiga-

do.

Aquilo que amamos, aquilo que desejamos, conta algo sobre ns mes-

mos. At nossos maneirismos, nossas perspicazes frases, nossas singu

laridades verbais e comportamentais esto contando. Entende o que

quero dizer? Repito como se fosse crucial saber, ser conhecido por

mim mesmo. Repeties so buscas por Narciso, por auto-reflexo.

Talvez a belezado eco esteja justamente nesta possibilidade de auto-reflexo, de tanto

repetir e ao olharmos para esta repetio algo descobriremos de ns ou dos outros. Para a Psicologia isso torna-se extremamente importante, prestar ateno s repeties e aos ecos:

Em psicoterapia importante notar o que ecoa e como. Algumas coi-

sas ecoam vazias (como nas peas de Pinter), algumas coisas ecoam

muito cheias ( como um pesado poema simblico), algumas coisas

ecoam mais rasas do que grandes ( como melodrama), e algumas

coisas no ecoam nada - como jarges, ditos ou interpretaes.

(Eu tenho o sentimento como funo inferior, um complexo

materno, um complexo edpico.Sim, e da?)

Uma das melhores formas de mostrarmos ao outro como ele , talvez seja ecoando seus gestos. Uma das melhores formas de nos conhecermos prestar ateno em como os -

outros nos ecoam.

Nos ecos de Narciso em Eco podemos pensar no somente em mmica vazia, at porque as falas apaixonadas so sempre as mesmas e alm disso as pessoas que convivem acabam por ficarem parecidas. No podemos fixar a imitao em seu sentido negativo,j que atravs da imitao podemos desenvolver aspectos nossos que se no fossem despertados pela imitao talvez nunca tomassem forma. No podemos negar o fato de que o meio tambm oferece instrumentos para que nos moldemos.

- Eco ficando com problemas na fala, fica com problemas de Identidade. Atravs da linguagem expressamos quem somos, podemos nos diferenciar, podemos nos defender, podemos amar. E, atravs da linguagem podemos nos conhecer, ao falar organizamos nossos pensamentos, isso, Eco no podia.

Identidade prpria implica em uma entidade distinta do meio e

de outras pessoas. Isto implica numa essencial mesmice, ser -

nico, ter uma unidade interna, personalidade..... Eco no -

prpria ou algum, nem ela separada do meio. ( Ela necessita

do meio para falar).

Inclusive podemos pensar que ela acaba por ficar misturada com o meio, j que somente pode falar atravs dele. Est envolvida com tudo, em seu castigo no pode escolher ( a caracterstica de termos uma identidade a capacidade de escolher) o que ir repetir, ecoar tudo. Este um aspecto que a maioria dos comentadores , a no ser Patricia Berry, no falam: o que dizer de seu envolvimento com PAN (tudo)? Eco acaba estando envolvida com tudo, P tudo, tido como o deus do Todo.. P a deseja, Tudo deseja Eco. E no assim em nossas vidas? Tudo deseja ser reconhecido, ter a garantia de ter sido , se no compreendido, no mnimo ouvido.

Pan deseja Eco. Podemos dizer que tudo que desejvel, tudo que

deseja, deseja um eco. Dentro do desejo, dentro da paixo de Pan,

h a paixo por Eco.

A autora continua nos levando a pensar que o fato de Eco ter rejeitado P tem a ver com o fato de que nem tudo por ser ecoado, no podemos ser empticos o tempo todo, no podemos ser psicolgicos o tempo todo e em todos os lugares.Por isso Eco busca Narciso,o

exagero do singular, do fechado em si prprio.

- Donaldo Schuler diz : A rima obrigatria no foi a maior desgraa de Eco. Pior do que -

isso foi conhecer Narciso.

Acredito que no poderia deixar de ser diferente, a busca do que lhe falta e, pelo que vimos, a busca daquilo que lhe possibilita ser ela : um eco. Somente podemos ecoar as singularidades das pessoas.

Obviamente, no deixemos de lado as dificuldades de Eco: Seria ela narcisista? ... bate no que pleno. O pleno, por sua prpria natureza, degrada.

Ante o pleno, o no-pleno perde a estabilidade. Eco, no podendo

avanar at o pleno, regride. A leso fsica, j presente na mutila-

o da fala, agrava-se at a imobilidade completa, a rigidez da ro-

cha. ........ A rocha ergue-se como eco petrificado da plenitude nar

csica.

Narciso pleno,pelo menos, tenta mostrar que , no quer se envolver com ningum;

sabiamente Donaldo Schuler coloca que o pleno, por sua natureza, degrada. Realmente o -

pleno, o equilbrio esttico s pode ser a degradao, inclusive em fsica um sistema que no estabelece trocas com o meio externo ( sistema entrpico) um sistema em degradao! Mas um sistema aberto demais, que nada conserva de si prprio, que o caso de Eco, um sistema catico; nada pode conter, muito instvel. Realmente, Eco fica to narcsica quanto Narciso, no aguentou ouvir o no por no ter estrutura interna, por depender do outro:

Narcsico o auto-aniquilamento motivado pela recusa. Eco e Narciso definham do mesmo mal.

- Eco acaba ficando dotada de um monlogo exterior e Narciso de um monlogo interior, falando apenas consigo prprio, assim como as intenes da fala de Eco s ela as conhece!

Podemos pensar que Eco e Narciso so complicaes , complementaes de uma mesma

situao humana, de um mesmo arqutipo: no podemos falar de dilogo externo sem falar

em dilogo interno; no podemos falar de extroverso sem falar de introverso; no podemos falar de identidade prpria sem falar de relacionamento com o meio, de identidade relacional.

Penso precisarmos de todos esses movimentos na busca da transformao de ns em ns mesmose de outras pessoas - no deve ser toa que este mito aparece no livro de Ovdio chamado : As Metamorfoses. Ele fala de metamorfoses, transformaes.

E, para sairmos da rigidez ,que oposta metamorfose, precisamos nos conhecer e isso s pode ocorrer se houver uma dose de Narciso: olharmos para dentro de ns mesmos, mantermos singularidades E uma dose de Eco: um certo distanciamento de ns mesmos, o eco s ocorre com uma certa distncia, uma necessidade de outras pessoas.

Alm disso, Narciso possui corpo,e segundo o mito no um corpo qualquer.Ele desejado por todos... Eco, no. No deveramos aprender a observar a beleza daquilo que invisvel aos olhos?

Como resistir seduo de Narciso? Talvez somente com uma dose Eco. A questo que ela somente Eco e no uma dose.

- Donaldo Schuler coloca: Recusada por Narciso, Eco resseca. No caminho secura

da pedra, ela perde o carter de auxiliar da fecundidade.

Ser? Talvez tenha aberto espao para ser mais fecunda em si prpria caso sofra uma transformao.

Este um mito que fala de metamorfoses, tanto de Narciso que aps a morte transforma-se em flor ,quanto de Eco que se transforma em pedra. Ento, teramos que olhar um pouco

mais de perto o simbolismo da pedra:

.....tem-se no mito um caso de imobilizao: segundo se viu, Eco foi trans-

formada em pedra. A hermenutica concernente imobilizao da jovem -

ninfa grega pode ser concentrada no smbolo da regresso e da passividade,

que no representam necessariamente um estado permanente, mas algo que

pode ser passageiro, precursor de uma transformao...... Acrescente-se -

por fim, que a impermanncia da transformao em pedra baseia-se no fato

de que a pedra e o homem exprimem um duplo movimento de subida e des-

cida. O homem nasce de Deus e a Ele regressa; a pedra bruta desce do cu

e, transmutada, a ele retorna.

Na tradio, a pedra ocupa um lugar de qualidade. Existe entre a alma e a

pedra uma relao estreita...A pedra tambm um smbolo da terra me...

est viva e d vida...... certas lendas crists inclusive dizem que Cristo nas

ce de uma delas. Sem dvida h que se relacionar este smbolo com a trans- formao das pedras em po da qual fala o Evangelho.......no h dvida -

que a pedra filosofal do simbolismo alqumico seja o instrumento da regene rao.

A pedra sendo ento um smbolo da transformao nos conduz a pensar numa passagem de Eco para algo mais fecundo.

H muito mais que se falar, que se aprofundar. Ao longo desta reflexo acerca da din-

mica da personalidade de Eco tentei fazer juz ao tema e mostrar vrios movimentos de sua

personalidade e tambm a minha viso de personalidade que no uma viso esttica, estamos em constantes transformaes e devemos estar a servio delas.

Eco sempre me faz pensar em amor impossvel , quantos amores impossveis nos mostram os mitos ,as histrias e a prpria vida.Talvez a resposta esteja na prpria palavra impossvel, so amores que no existem em nossa realidade humana, por isso seus protagonistas no podem ficar juntos:

Assim a vivncia do amor impossvel - uma luz fulgurante.

Por isso no pode durar.Mas tampouco pode ser impedida

de brilhar, de iluminar - nem que seja por um momento -

nossas vidas.

* * *

- REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS:BERRY, Patricia. Echo and Beauty. Spring - An Annual of Archetypal Psychology and Jungian Thought. New York,1980.

BRANDO, Junito de Souza .Dicionrio Mtico-Etimolgico.Vol. I e II .R.J.: Vozes,1991.

Mitologia Grega.. Vol.II .R.J.: Vozes,1987.

CHEVALIER, Jean;GHEERBRANT, Alain .Dicionrio de los Smbolos. Barcelona:Editoral Herder,1986.

FREUD,Sigmund ; JUNG,C.G. Correspondncia Completa .RJ:Editora Imago,1976.

JUNG, C.G. Memrias, Sonhos e Reflexes. RJ:Editora Nova Fronteira.

OVIDIO. As Metamorfoses . Ediouro,1983.

SAMUELS,Andrew; SHORTER,Bani;PLAUT,Fred. Dicionrio Crtico de Anlise Junguiana . RJ: Editora Imago,1988.

SCHULER,Donaldo. Narciso Errante. RJ:Editora Vozes,1994.

SCHWARTZ-SALANT, Nathan. Narcisismo e Transformao de Carter. SP:Editora Cultrix,1988.

SEABRA, Zelita . O Mito do Amor Impossvel . Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analtica. So Paulo, (6).1988.

STEIN, Murray . Narcissus. Spring - An Annual of Arquetypal Psychology and Jungian

Thought. New York,1976 .

WHITMONT, Edward C. O Retorno da Deusa. SP: Summus Editorial,1991.

O presente ensaio foi inicialmente realizado como um trabalho exigido pelo curso de Especializao em Psicologia Analtica da Puc-Pr, em junho de 1995.

JUNG,C.G.Memrias, Sonhos e Reflexes.p.145.

JUNG,C.G.Correspondncia Completa Freud e Jung.p.310

WHITMONT,E. O Retorno da Deusa.p.47.

SCHULER,Donald. Narciso Errante.p.13.

op.cit.p.14.

STEIN,Murray. Narcissus. p.33.

(traduo livre ): The tale of the youth Narcissus comes down from antiquity in several variations. The principal, and the most detailed, account appears in Ovids Metamorphoses; it is this one that we will be

considering most closely. In whatever form it appears, however, it is a story whose main theme is love

and frustated passion. It belongs to the tales of Eros, as one of the complications within the complexities

of erotic love.

BERRY,Patricia. Echo and Beauty.p.58.

(traduo livre): Echos beauty is equally a suffering and a certain passivity. That is to say, it is a suffering of something beyond ones self-identified bounds or ego. Its related to the latin passio, the Greek pathos.

This passion is like a taste or touch all the more poignant because it isnt actual. Or a passion all the more precious because of the pain of its nonconsumation. Nothing in the myth of Echo and Narcissus gets fulfilled theres no happy end - at least not in any ordinary sense. The focus of the myth is in on unfulfilled passion ( Echo for Narcissus and Narcissus for his reflection)[...] In the tale of Echo and Narcissus there is no consummation in any ordinary sense. But there is a kind of self- consummation in death, a consummation of the complex within itself.

SCHULER,Donaldo. Narciso Errante. p.44.

STEIN,Murray. Narcissus. p.44.

(traduo livre): The psychoanalitycal usage of the Narcissus figure directs attention to his psychopatology, also to the potencial pathology of introversion. Not that extraversion does not also have a pathological ( manic) possibility, as exemplified for instance by Ovidian companion to Narcissus, the nymph Echo: an extreme extravert, she has no inner life of her own but merely echoes back the sounds of the external world.If it was one of Jungs proudest contributions to indicate wealth and objectivity of the inner world and to throuw this into the balance against our usual over-valuation of the extraverted approach to reality[....].

SCHULER,Donaldo. Narciso Errante. p.39.

SCHWARTZ-SALANT, Nathan. Narciso e Transformao de Carter.p.113.

BRANDO, Junito. Dicionrio Mtico Etimolgico. p.172.

BERRY, Patricia. Echo and Beauty. p.51.

(traduo livre): While Echo talks with Hera in the Ovid passage, a free-love fertility occurs in the background (Zeus making love with the nymphs). Echos words cover things, hide things from Hera awareness, making possible activities beneath the expected, manifested order. So words, Echos words, make possible at the same time a certain covert fertility.[...]Within words, behind words, Zeus is always making love with the nymphs. As one talks, fertile, procreative, echoing things are also occurring in the background.

SCHULER, Donaldo. Narciso Errante. p.39.

op.cit.p.41.

SAMUELS,Andrew;SHORTER,Bani; PLAUT, Fred. Dicionrio Crtico de Anlise Junguiana. p.144.

SCHULER, Donaldo. Narciso Errante. p.41.

(N.t.): Decorar em ingls learn by heart, aprender pelo corao.

BERRY,Patricia. Echo and Beauty. p.53.

(traduo livre): [...] in everyday behavior, we all repeat. We tell the same stories over and over. We all have certain phrases that we cant seem to stop saying. And these repetitions are fairly embarrassing, because they show our lack of originality. No one wants to be an Echo. But how is it that we dont take better care not to repeat? Have we some deep investment in our repetitions some love for them? Is there a beauty there? To learn by heart repetion goes to heart, comes from a heart is deep-seated.[...] What we love,what we long for, tells us something of ourselves. Even our mannerisms, our cute phrases, our verbal and behavioral oddities are telling. You know what I mean? I repeat as though crucial to know, to be known to myself. Repetitions are longings for Narcissus, for self-reflection.

op.cit.p.54.

(traduo livre): In psychotherapy it is important to notice what echoes how. Some things echo empty(like a Pinter play),some things echo overfull ( leke a heavily symbolic poem), some things echo flat then big (like melodrama), and some things echo not at all like jargon, say, or interpretation. (I have an inferior feeling function, a mother complex, an Oedipal complex. Well, so what?).

op.cit.p.49.

(traduo livre): Self-identity implies an entity distinct from surroundings and other persons. It implies an essential sameness, oneness,internal unity, of personality.[...] Echo is not selfsame or one; nor is she separate from her surroundings.(She needs surroundings in order to speak).

op.cit.p.50.

(traduo livre): Pan desires Echo. One could say that all thats desirous, this everything that desires, desires

echoing. Within desire, within Pans passion, is a passion for Echo.

SCHULER,Donaldo. Narciso Errante. p.42.

op.cit.p.42.

op.cit.p.43.

op.cit.p.43.

BRANDO,Junito. Dicionrio Mtico-Etimolgico. p.302.

CHEVALIER; GHEERBRANT. Dicionrio de los Simbolos. P.827 a 829.

SEABRA, Zelita. O Mito do Amor Impossvel. p.145.