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1 A democracia em debate: juristas baianos e a resistência ao regime varguista (1930-1945) Diego Rafael Ambrosini Unifesp – Guarulhos [email protected] RESUMO Entre 1930 e 1945, durante o período em que Getúlio Vargas esteve à frente do governo do país, e em especial sob o regime ditatorial do Estado Novo, instaurado em 1937, o pensamento político autoritário pareceu dominar completamente o horizonte da política brasileira. Apesar da força e abrangência por ele assumidas nessa quadra de nossa história, outras compreensões da política, de caráter mais democrático, não estiveram de todo ausentes à época. O presente trabalho se propõe a investigar e conhecer mais a fundo as noções de democracia elaboradas por um grupo de intelectuais (principalmente juristas) baianos por esses anos, através da extensa produção intelectual que eles deixaram registrada em duas revistas acadêmicas que circularam naquelas décadas: a Revista da Faculdade de Direito da Bahia, e a Revista Fórum, editada pelo Instituto dos Advogados da Bahia. Palavras-chave: História das Idéias Políticas; Democracia; Anos 1930 e 1940; Juristas; Revistas Acadêmicas. Introdução A década e meia que vai de 1930 a 1945 certamente foi um dos momentos históricos mais convulsionados do século XX do ponto de vista político, com os princípios da democracia liberal, tão difundidos ao longo da chamada belle époque, sendo duramente criticados e questionados em quase todo o mundo ocidental, tanto à direita como à esquerda. Na Europa, o período assistiu à ascensão dos totalitarismos nazi-fascistas e soviético, enquanto que, no Brasil, o regime formalmente liberal vigente ao longo da Primeira República foi derrubado pelo golpe de Estado que levou Getúlio Vargas ao poder em outubro de 1930 e que preparou o terreno para a instalação de uma

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A democracia em debate: juristas baianos e a resistência ao regime varguista

(1930-1945)

Diego Rafael Ambrosini

Unifesp – Guarulhos

[email protected] RESUMO

Entre 1930 e 1945, durante o período em que Getúlio Vargas esteve à frente do governo

do país, e em especial sob o regime ditatorial do Estado Novo, instaurado em 1937, o

pensamento político autoritário pareceu dominar completamente o horizonte da política

brasileira. Apesar da força e abrangência por ele assumidas nessa quadra de nossa

história, outras compreensões da política, de caráter mais democrático, não estiveram de

todo ausentes à época. O presente trabalho se propõe a investigar e conhecer mais a

fundo as noções de democracia elaboradas por um grupo de intelectuais (principalmente

juristas) baianos por esses anos, através da extensa produção intelectual que eles

deixaram registrada em duas revistas acadêmicas que circularam naquelas décadas: a

Revista da Faculdade de Direito da Bahia, e a Revista Fórum, editada pelo Instituto dos

Advogados da Bahia.

Palavras-chave: História das Idéias Políticas; Democracia; Anos 1930 e 1940; Juristas;

Revistas Acadêmicas.

Introdução

A década e meia que vai de 1930 a 1945 certamente foi um dos momentos

históricos mais convulsionados do século XX do ponto de vista político, com os

princípios da democracia liberal, tão difundidos ao longo da chamada belle époque,

sendo duramente criticados e questionados em quase todo o mundo ocidental, tanto à

direita como à esquerda. Na Europa, o período assistiu à ascensão dos totalitarismos

nazi-fascistas e soviético, enquanto que, no Brasil, o regime formalmente liberal vigente

ao longo da Primeira República foi derrubado pelo golpe de Estado que levou Getúlio

Vargas ao poder em outubro de 1930 e que preparou o terreno para a instalação de uma

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ditadura plena com a decretação do Estado Novo, em 1937 (ver, dentre outros: Fausto

1982; Skidmore 2000).

O ideário autoritário que orientou o governo Vargas no período ganhou um

arcabouço teórico através das reflexões de intelectuais como Francisco Campos,

Azevedo Amaral ou Oliveira Vianna, que, criticando o “espírito idealista” da

Constituição de 1891 – baseado em uma amálgama de democratismo francês,

liberalismo inglês e federalismo norte-americano – buscaram imaginar novas maneiras

de organizar o Estado brasileiro (defendendo uma maior centralização do poder), e

novas formas para a representação política (com a representação profissional e o

corporativismo).

A noção de Estado autoritário da época já foi bem explorada pela literatura

especializada (duas das interpretações mais influentes estão em: Lamounier 1977 e

Santos 1978), mas ainda se sabe relativamente pouco sobre os “perdedores” do jogo

político daqueles anos, que defendiam de algum modo, mais ou menos enfaticamente, a

democracia como regime ou modelo de organização do Estado. Skidmore, por

exemplo, contenta-se em comentar que os “constitucionalistas liberais emudeceram”

após a decretação do Estado Novo (Skidmore 2000, p. 53). A bem da verdade, cumpre

notar que a defesa da democracia é algo bastante incomum em nossa literatura política,

historicamente polarizada por vertentes de caráter “liberal-oligárquico” ou “autoritário-

modernizador”, ambas em geral mais preocupadas em estabelecer críticas ou controles à

democracia enquanto sistema político do que em aceitá-la e assumi-la em seus

fundamentos primeiros1.

Apesar de difícil, não é impossível encontrar discursos democráticos na história

do pensamento político e social brasileiro. E sua raridade não deve implicar que eles

permaneçam pouco conhecidos ou estudados. Pelo contrário: uma das principais tarefas

da pesquisa no campo da história das idéias políticas consiste justamente em desvelar a

existência de discursos ou projetos historicamente “perdedores” ou pouco difundidos,

1 Lamounier (2005, p. 15) observa que a democracia, na historiografia política brasileira, quase sempre esteve submetida a um ceticismo mal-disfarçado, que ele chama de “discurso pirrônico”: “desde seus primórdios, no século 19, a democracia representativa [no Brasil] foi questionada por políticos, intelectuais e jornalistas, que a viam como uma superestrutura importada, idéia fora do lugar, fruto do idealismo utópico da elite dirigente ou, pior que isso, cínico instrumento de dominação a serviço da classe latifundiária. Sutil e moderado em Machado de Assis e Sérgio Buarque de Holanda, caudaloso e violento em João Francisco Lisboa, Oliveira Vianna e tantos outros, o ‘discurso pirrônico’ permeia ainda hoje tanto a linguagem intelectual quanto a popular, podendo sem dúvida ser considerado como um dos traços mais importantes de nossa cultura política”.

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pois isso ajuda a “desnaturalizar” interpretações históricas que muitas vezes assumimos

como definitivas.

Durante a pesquisa que resultou em minha tese de doutorado explorei os textos

do jurista e político baiano Nestor Duarte, autor de um dos livros incluídos no cânone

dos “clássicos de interpretação do Brasil” da década de 1930 (Duarte 1939), e pude

constatar o quanto esse intelectual construiu uma visão consistente da democracia, ainda

que ela pouco tenha encontrado eco no pensamento dos ocupantes do poder de então.

Mas essa defesa da democracia não era exclusividade de Duarte, em meio aos

intelectuais baianos (especialmente juristas2) que atuavam por essa época. Ao longo das

décadas de 1930 e 1940, quando o país se encontrava sob um regime político de

exceção, o conceito de democracia foi intensamente debatido por autores como o

próprio Duarte, Orlando Gomes, Jayme Junqueira Ayres, Aloísio de Carvalho Filho,

Nelson de Souza Sampaio e outros, quase sempre escorado em uma retórica dos direitos

do cidadão, típica do liberalismo clássico. Além de alguns livros e discursos esparsos, a

maior parte das discussões sobre a democracia no período foi publicada em dois

periódicos acadêmicos então editados em Salvador, ambos com edições anuais e

eventuais números extras: a Revista da Faculdade de Direito da Bahia e a Revista

Fórum, órgão vinculado ao Instituto dos Advogados da Bahia.

Esse tipo de revista acadêmica, como se sabe, muitas vezes funciona como um

espaço de sociabilidade para uma determinada geração de autores, e por isso permite

mapear a dinâmica de articulação dos grupos e redes de intelectuais, reunidos em um

fórum por eles legitimados para a discussão e a propagação de idéias e para propostas

de intervenção na sociedade (cf. Sirinelli 1996a e Gomes 1999)3. Desse modo, a partir

da análise desses corpus documentais torna-se possível reconstruir o processo de

constituição de um debate intelectual, no interior do qual se travam polêmicas e se

estabelecem identidades individuais e coletivas em torno de conceitos políticos

importantes – como sem dúvida era, nesse momento, o de democracia, que questionava

a forma de Estado então vigente.

2 Sobre o papel da Faculdade Livre de Direito da Bahia na formação e socialização intelectual e política das elites e setores médios baianos nesse período, v. Sampaio (1992) e Silva (2000). 3 Um exemplo flagrante de como funcionava a sociabilidade intelectual entre os membros do grupo analisado, nas páginas desses periódicos, pode ser encontrado no grande número de resenhas escritas por alguns dos autores para criticar livros publicados por outros membros do grupo ou por outros intelectuais importantes do período (Baleeiro 1940 e 1941; Gomes 1941b; Lima 1941 e 1942; Sampaio 1941b e 1942b; Ferreira 1943).

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Os textos deixados pelos autores do passado são os dados empíricos por

excelência com que trabalha o historiador do pensamento político. Mas, para

compreender devidamente os textos políticos como sendo, ao mesmo tempo,

ferramentas de reflexão e de ação, é necessário transcendê-los e buscar reconstruir e

descrever também os contextos histórico, social e lingüístico nos quais esses textos

foram escritos, ainda que o foco deva se dirigir para o estabelecimento de “um contexto

de sentidos, e não um contexto de causas” (Skinner 1975 e 1969; Pocock 2003). Assim,

relacionando textos e contextos, torna-se possível investigar os usos que cada autor faz

dos conceitos ou vocabulários políticos disponíveis no momento em que ele escreve,

assim como a escolha dos modos mais adequados de argumentar ou de construir uma

explicação para as questões às quais ele tenta oferecer respostas.

Ao mesmo tempo, é preciso ter em mente a observação de Reinhart Koselleck

acerca de como os “conceitos sociais e políticos [...] são sempre polissêmicos”, pois são

“vocábulos nos quais se concentra uma multiplicidade de significados” (Koselleck

2006, p. 108 e 109). Nesse sentido, não se deve buscar encontrar a melhor ou mais

adequada definição de um determinado conceito, mas sim, como bem ensina Karl

Mannheim, compreender que é justamente na frouxidão ou instabilidade dos termos

políticos que reside a sua riqueza: “palavras jamais significam a mesma coisa quando

utilizadas por diferentes grupos [...] e leves variações de sentido nos fornecem as

melhores pistas para as diferentes tendências de pensamento numa comunidade”

(Mannheim 1986, p. 81).

Por fim, creio ser importante acrescentar ainda algumas palavras a respeito de

duas noções metodológicas centrais para o presente trabalho: a noção de “geração

intelectual” e a de “autores menores”.

O que significa afirmar que um determinado grupo de autores conforma uma

“geração intelectual”? A referência básica, aqui, continua a ser a de Karl Mannheim,

que observa que a geração pressupõe “uma modalidade específica da vivência e do

pensamento, uma modalidade específica de intervenção no processo histórico”

(Mannheim 1993, p. 209). Sirinelli, por outro lado, compara as gerações a uma peça da

“engrenagem do tempo”, mas chama a atenção, porém, para a circunstância de que elas

tanto podem ser um dado factual, biológico e cultural, como também uma construção do

próprio historiador em sua tarefa de organizar, rotular e classificar seu objeto de estudo

(Sirinelli 1996b).

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No caso específico da geração aqui estudada, e de sua relação com o tema da

democracia e da liberdade política, parece-nos significativo o autorretrato

memorialístico pintado por Jayme Junqueira Ayres na elegia que escreveu após o

falecimento de seu contemporâneo Nestor Duarte, em 1970: “foram duas gerações de

políticos nascidos na Bahia as últimas que, nesse país, amaram apaixonada e

confiantemente a liberdade – a de Nestor [Duarte] e a que a antecedeu. Os homens que

vieram depois, quando fora do poder, desdenharam do ideal de liberdade e sorriram

dela, como de cousa ultrapassada; assumindo, entretanto, o poder, passaram

imediatamente a temê-la. A temê-la e a persegui-la” (Ayres 1971). Que geração é essa

que se pretende como grande apoiadora da liberdade política entre nós? Até que ponto

esse autorretrato é fidedigno? São perguntas como essas que pretendemos responder ao

longo dessa pesquisa.

Quanto à noção de “autores menores”, a ponderação que se coloca diz respeito à

validade de se estudar o trabalho de escritores que estão muito longe de figurar em

qualquer cânone do pensamento político brasileiro (exceção feita, talvez, a Nestor

Duarte). Qual seria o possível ganho decorrente de uma operação como essa? Pocock

(2003) salienta a importância de percorrer as obras de autores pouco conhecidos para

ajudar a mapear os contornos de uma linguagem política específica. São esses autores

que, rotinizando o uso de determinados termos ou expressões, fazem circular esses

conceitos, transportando-os desde o pensamento sistematizado dos grandes “clássicos”

para o discurso mais prosaico do senso comum sócio-político. Nesse sentido, a leitura

em conjunto dos textos publicados pelo grupo de intelectuais baianos aqui estudados

pode contribuir para adensar a compreensão sobre os usos que o conceito de democracia

assumiu em meio ao vocabulário político corrente no contexto histórico e político de

resistência à ditadura do Estado Novo. Em um segundo momento da pesquisa, seria

interessante confrontar esses achados com uma busca análoga em outros periódicos

acadêmicos importantes da época, como as Revistas das faculdades de Direito de São

Paulo, Rio de Janeiro e Recife, ou mesmo em Cultura Política, a revista de idéias

editada pelo governo varguista.

A presente pesquisa, vinculada ao meu estágio de pós-doutoramento junto ao

curso de Ciências Sociais da Unifesp / Guarulhos, ainda se encontra em andamento. Nas

páginas seguintes, reuni apenas um levantamento muito superficial da utilização do

conceito de democracia por alguns dos autores pertencentes a essa geração intelectual.

Salvo o caso de Nestor Duarte, cujas ponderações sobre a democracia eu já pude

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trabalhar com mais profundidade em minha tese de doutorado, o material que se segue

ainda está praticamente em estado bruto, carecendo de maior maturação. De todo modo,

trata-se de uma fotografia do estado atual da pesquisa.

Nestor Duarte: a democracia como pedagogia política e o problema do Estado

forte

Advogado e professor da Faculdade de Direito da Bahia, romancista, político

(deputado estadual e federal em várias legislaturas), sempre ligado a plataformas tão

polêmicas quanto progressistas, como a reforma agrária, o anti-clericalismo e o

divórcio, o autor de A Ordem Privada e a Organização Política Nacional aferra-se à

democracia como único regime político capaz de promover a superação do quadro de

predomínio do privatismo descrito ao longo de seu ensaio.

O “Estado Democrático”, crê Duarte, embora minado por “todas as deformações

e negações de nossa realidade política”, ainda seria, dentre as “formas estatais, aquela

de poder educacional mais vivo e direto para interessar uma população, tão alheia e

indiferente como a nossa, nos acontecimentos políticos e problemas de uma nação”. E,

complementando o raciocínio, acrescenta ainda, pouco depois: “a democracia, entre nós,

deveria ter sido buscada e defendida para atender ao sentido moral de um regime que,

ainda que não lograsse integral aplicação imediata, valesse como processo ou sistema

para chegar-se [...] à educação política de nossa gente” (Duarte 1966, p. 107).

Desse modo, temos que, para Duarte, a democracia deveria funcionar

essencialmente como um processo de pedagogia política, com vistas a superar as

condicionantes negativas impostas pela força e persistência da Ordem Privada na

formação histórica da sociedade e do Estado brasileiros. Ademais, trata-se também de

um processo estendido no tempo, possivelmente demorado, como podemos depreender

da seguinte passagem de seu ensaio: “as instituições nascem de um longo processo

histórico [...] são processos do tempo, sob a regularidade de certos fenômenos sociais.

Cada instituição tem uma história social e, tanto como elas, as políticas são produtos

históricos demorados” (idem, p. 116).

É interessante contrastar a decidida peroração democrática de Duarte com o

tratamento vacilante dedicado à democracia por um autor como Sérgio Buarque de

Holanda, que em passagem célebre declara que “a democracia, no Brasil, foi sempre um

lamentável mal-entendido” (Holanda, 1995, p. 160). Nesse ponto, cabe notar que a

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releitura da primeira edição de Raízes do Brasil proposta recentemente por Leopoldo

Waizbort relativiza o posto de um dos grandes avatares da democracia brasileira há

muito reservado para Sérgio Buarque no cânone de nosso pensamento político

(Waizbort, 2011). E é justamente com a primeira edição de Raízes, escrita em 1936, que

Duarte dialoga em seu livro, publicado em 1939.

Senão, vejamos: Duarte inicia seu comentário fazendo referência ao tratamento

que Buarque dispensa ao “predomínio quase exclusivo”, na conformação da sociedade

brasileira, “dos sentimentos próprios à comunidade doméstica, naturalmente

particularista e antipolítica”, e ao fenômeno da “invasão do público pelo privado, do

Estado pela Família”. Esta é uma interpretação da qual Duarte não discorda, de modo

algum, muito pelo contrário. Contudo, ele logo se apressa em acrescentar sua

estupefação perante o fato de que, “para o autor de Raízes do Brasil, porém, tamanha

circunstância só explica o que chama de ‘a nossa adaptação difícil ao princípio do

Estado democrático’”. Ora, diz Duarte, “para nós, ao contrário, um problema de

tamanha profundidade e com tal poder de repercussão, não se pode restringir a tão

poucas conseqüências e efeitos. Ele atinge a questão mesma do Estado e não essa ou

aquela forma de organização estatal”, uma vez que, perante a aludida “realidade do

Brasil, o papel do Estado não é refletir e conservar tal ou qual ambiência, mas assumir a

função de reformar, criar, educar um povo” (Duarte, 1966, p. 121-122). Feitas as

contas, conclui o autor:

“Não é pelo Estado democrático que nós explicamos a nossa adaptação difícil a um princípio político. É, entretanto, a demora ou dificuldade de adaptação ou redução da comunidade brasileira ao elo e princípio políticos, que explica as incompatibilidades de um Estado, democrático ou não, que esteja a sofrer a luta da diferenciação política” (idem, p. 122).

Mas não é apenas com relação a Sérgio Buarque que Duarte se coloca em

contraposição quando elabora sua defesa da democracia como método preferencial de

organização política. O antagonismo é muito maior, como não poderia deixar de ser,

com o Estado “centralizado, unitário, capaz de impôr-se a todo o país pelo prestígio

fascinante de uma grande missão nacional”, tal como definido por Oliveira Vianna

(Oliveira Vianna, 1938, p. 365). Se o Estado pretendido por Duarte possui a capacidade

de “educar” o povo, não o faz por ser “forte”, nem “centralizado” e nem muito menos

por ser “autoritário”, mas apenas quando incorpora em seu funcionamento os

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procedimentos democráticos e quando fomenta o florescimento de um “espírito”

público que possa vir a suplantar a organização privatista até então prevalecente no país.

Desde que historicamente, no Brasil, quase não existiu Estado além do governo,

e uma vez que a tarefa de construir esse Estado qua “coisa pública” ficou quase sempre

nas mãos do próprio governo, instaurou-se assim uma lógica perversa em que, sendo

quase sempre “fraco para tarefa tamanha, ele [o governo] pede, por isso mesmo, mais

força, mais centralização e mais autoridade, para alcançar por golpes o que será antes

resultado de lentos processos e da ação ininterrupta sob programas demorados”. Daí

decorre que “a nossa concepção de governo forte” seja forçosamente “a própria noção

do governo de força, do governo pessoal”. E, assim, temos que “à falta de uma

abstração impessoal do que seja governo, acabamos por admitir como regular a

anormalidade de um Estado que é só o governante, de uma ação governamental que é só

o poder pessoal do chefe do governo” (idem, p. 118-119).

Quando temos, portanto, “um Estado fraco a nutrir-se da violência dos governos

chamados fortes”, tal como no período de Vargas, fica transparente a nossa

incapacidade em alcançar uma verdadeira “organização política nacional”. A “própria

violência” desse governo, acrescenta Duarte, “é um dos aspectos de sua falibilidade”,

pois o “apelo à força ou a outros recursos de ação direta e elementar denuncia a carência

de um espírito público em que a instituição política pudesse apoiar-se e ganhar, por sua

vez, outra ascendência no sentimento, no ideal coletivo” (idem, p. 124). No fundo, o

que se conclui de seu raciocínio é que um Estado que se resuma a instalar um poder

exacerbado nas mãos do chefe de governo, como defendiam os pensadores autoritários

da época, mostra-se patentemente incapaz de superar a organização “privatista” que a

Ordem Privada impôs historicamente à sociedade brasileira desde a colônia.

Em sua Oração de Paraninfo proferida em dezembro de 1938, em plena

vigência do Estado Novo, Duarte diferencia dois tipos de Estado (o autoritário e o

democrático) conforme se busque ancorar a autoridade estatal sobre uma “disciplina por

subordinação” ou sobre uma “disciplina por coordenação”. Nesse discurso, direcionado

aos bacharéis formandos daquele ano, o autor, primeiramente, define a si mesmo como

um “provocador de debates”, que entende ser sua maior função, enquanto professor,

afastar seus alunos “daquele desgraçado espírito de espionagem do pensamento, a olhar

à direita e à esquerda, que é, antes de tudo, o horror à própria inteligência” e, desse

modo, fazê-los “abandonar os ídolos de uma verdade comprometida pela verdade

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desinteressada” (Duarte 1939b, p. 22-23)4. O que se segue, depois disso, é um

verdadeiro libelo em defesa da democracia como o único regime político que “encerra a

justificação fundamental da liberdade política”, por possibilitar a seus cidadãos “ter a

coragem de negar e admitir livremente”, conforme a sua consciência (idem, p. 29).

Na construção de seu argumento, Duarte lança mão dos dois conceitos de

disciplina a que já nos referimos. O primeiro deles, “disciplina por subordinação”, é

próprio dos Estados autoritários, pois resume o conceito de disciplina a um

“constrangimento”, a uma “contenção”, ou a um “ato de punho fechado, a descer contra

alguém, na energia que submete”. Nesses regimes políticos, a autoridade do Estado se

processa através de “uma relação de violência correspondendo a um espírito de

conformidade, que a legitima e justifica” e por isso, nesses casos, “disciplina é

subordinação, ordem é submissão” (idem, p. 24). E esse, continua Duarte, é “o sentido

essencial dos totalitarismos contemporâneos [dos anos 1930]”, pois “se ordem é silêncio

e conformidade, nenhuma é mais perfeita do que a ordem gerada pela violência”.

Os seres humanos, porém, adverte nosso autor, são “animais nobremente

imperfeitos para a conformidade e os silêncios opressos”, animais feitos de

“movimento, verbo e autonomia” (idem, p. 25). Partindo desse pressuposto, assim como

do entendimento de que “nenhuma sociedade pode ser contra o homem, como nenhuma

ordem pode ser estabelecida contra a sua dignidade eminente [...] independente desse ou

daquele tempo e espaço”, Duarte advoga então pela necessidade de buscar uma

“disciplina por coordenação” para fundar efetivamente um Estado no sentido

democrático. Afirma ele, então:

“tanto mais legítima é uma ordem quanto menor for a relação de violência em que se estriba. E só é menor a violência, se maior a extensão do princípio de coordenação. [... a disciplina por coordenação] é uma ordem, mas uma ordem na liberdade. [...] uma ordem com um mínimo de choques e conflitos, o que vale ser uma ordem com o mínimo de força [...] um mínimo de energia e de vigilância” (idem, p. 26)

Para provar seu ponto, Duarte lança mão da mesma argumentação que utilizou

na parte final de seu A Ordem Privada. Segundo o entendimento do autor, todo regime

que se apóia em uma supressão da liberdade precisa, para fazer valer a sua autoridade

subordinadora, instituir “um Estado-Polícia, que resume toda a atenção e toda a energia

4 A parte principal desse discurso foi também publicada no primeiro número da Revista Seiva, de janeiro de 1939. A Revista Seiva era um periódico editado pelo PCB na Bahia entre 1939 e 1943.

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do Poder Público”. E assim, todo Estado autoritário será, inevitavelmente, “um Estado

de desesperada vigilância”, pois, dado que “de si mesmo é fraco”, ele “sente a

necessidade de ser violento” para justificar o seu domínio. Desse modo, conclui, o

problema “do Estado forte é um problema de conciliação com a liberdade” (idem, p. 26-

27).

Nelson de Souza Sampaio: aforismos democráticos

Nelson de Souza Sampaio, outro dos juristas dessa geração intelectual, publicou

em 1941 um pequeno livro chamado As Idéias-Força da Democracia. Nas páginas

finais dessa obra, Sampaio elabora, na forma de quase-aforismos, uma síntese dos

principais fundamentos em que ele acredita que a democracia enquanto sistema político

deveria se apoiar. Vejamos alguns desses princípios:

“A idéia nuclear da concepção democrática é o pressuposto ético que condena a utilização de qualquer indivíduo humano como simples instrumento ou meio para os fins de outros indivíduos e grupos” (Sampaio 1941a, p. 187) “[A democracia] implica o direito de todos os indivíduos a participar na formação da vontade coletiva e na organização do Estado” (idem, p. 187) “O princípio majoritário é insuficiente para definir a democracia moderna. A democracia sendo hostil a toda organização de castas, e a qualquer forma de escravização, repele hoje o absolutismo da maioria, como repeliu, outrora, o absolutismo do monarca ou duma oligarquia. Já não se pode compreender mais, por conseguinte, democracia sem direitos da minoria” (idem, p. 188) “Um inventário mínimo desses direitos individuais deve incluir: os direitos à vida, à honra, à educação, ao trabalho e ao fruto do seu trabalho; à inviolabilidade do domicílio e da correspondência; direito de só ser punido nos casos previstos pela lei e segundo as formas por ela traçadas, assegurando-se a mais ampla defesa dos acusados; direito às liberdades públicas (liberdade de palavra falada e escrita, liberdade de reunião e associação, direito a participar, com a amplitude acima mencionada, na organização política e administrativa do Estado)” (idem, p. 188-190) “A democracia veda ao Estado a violação desse círculo de direitos porque eles representam, de uma parte, características essenciais da personalidade humana, e, de outra parte, conquistas da civilização – e ao Estado não se pode permitir o direito de despojar o homem dos

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seus atributos supremos, nem fazer recuar o curso da evolução moral da humanidade. Sempre que a conduta do Estado desrespeitar tais direitos, ela está sendo anti-democrática, ilegítima e a condenável” (idem, p. 190) “Nessa conceituação de democracia foi incorporado, ou associado intimamente com ela, o conceito de liberalismo (sem envolver necessariamente o liberalismo econômico). A forma única de democracia, que concebemos, é, pois, a democracia liberal, que é também o conceito que se vai fixando naturalmente, como uma expressão das tendências da época, na compreensão corrente, sentindo-se dificuldade em admitir democracia sem a existência das liberdades individuais. Essa associação dos dois conceitos tem ainda o mérito de evitar uma exploração ou um emprego abusivo da expressão ‘democracia’” (idem, p. 191) “Numa tábua de preferências democráticas encontramos como posições capitais: a prevalência da razão sobre o arbítrio; da persuasão sobre a violência; da tolerância sobre o dogma; do Direito sobre o Estado; da igualdade sobre o privilégio; da liberdade sobre o autoritarismo” (idem, p. 191).

Jayme Junqueira Ayres: os descrentes da democracia

Também em 1941, na Revista da Faculdade de Direito da Bahia, Jayme

Junqueira Ayres publicou dois artigos em que trata do tema da democracia:

“Contradição de Métodos e Unidade de Fim Democrático no Direito Civil

Contemporâneo” e “Censuras ao Pendor dos Juristas para as Instituições

Democráticas”. Este último, do qual vamos tratar aqui, vale sobretudo pelo exame de

algumas das “censuras” que a democracia sofria à época. Ayres exclui de sua análise as

“censuras” vindas da parte de fascistas e comunistas, preferindo concentrar-se sobre as

críticas originárias de “elementos ou correntes anti-democráticas que vivem dentro da

própria democracia” (Ayres 1941b, p. 105).

Eu gostaria de destacar aqui os comentários que o autor faz a um grupo de

críticas em especial. Trata-se das censuras feitas à democracia por aqueles que dela

“descreram por interesse”. Essa corrente de descrentes da democracia, que agem

“inspirado[s] pelo medo” é formada por homens que “estavam certos de que só a

extrema direita podia combater e vencer o comunismo, em cuja barbaria eles só

enxergam unilateralmente a ameaça a seus privilégios [...] à propriedade e aos bens que

desfrutam” (idem, p. 111).

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Esses descrentes acusam a democracia “de não ser bastante forte, bastante ágil

ou, numa palavra mais sincera, bastante sanguinária, para lhes conservar suas

prerrogativas”. E, continua o autor: “o férreo e vigilante regime policial dos regimes

totalitários os encanta profundamente” e apoiariam quaisquer “governos fortes” desde

que “inspirados no interesse de suas classes” e incumbidos em manter “a ordem, a

preciosa ordem sem a qual não se podem receber dividendos de títulos ou exercer

profissões reverenciadas ou lucrativas” (idem, p. 112). Por fim, para não deixar margem

a dúvidas, Ayres dá nome aos bois:

“É a burguesia, que desde o século 18 expeliu a nobreza; que no século 19 e neste século 20 desempenhou de fato um tão grande papel no mundo; mas que não soube fugir à tentação de constituir, ela mesma, uma nobreza, não já do sangue, mas do dinheiro e das posições sociais, com todos os seus inúmeros vassalatos e o seu regime servil erigido, não já sobre ‘servos à gleba’, mas sobre ‘servos ao capital’” (idem, p. 112)

Por fim, depois de comentar que essa corrente difunde seus objetivos “pelo meio

mais eficiente e fulminante de propagação das idéias: pelo pânico”, Ayres lamenta que

ela “não enxergue que a melhor resposta a se dar ao marxismo é a que a democracia está

dando” (idem, p. 112).

Aliomar Baleeiro: a democracia e as realidades brasileiras

Aliomar Baleeiro proferiu, em 15 de março de 1943, a aula inaugural dos cursos

da Faculdade de Direito da Bahia. Essa conferência, publicada na Revista da faculdade,

é de grande interesse para o nosso tema, e está dividida em duas sessões. Na primeira,

Baleeiro procura definir a democracia de um modo geral, valendo-se principalmente dos

ensinamentos de Hans Kelsen, e tratando de pontos como a relação entre a democracia e

a liberdade, o papel da maioria e da minoria no regime democrático, a função dos

partidos políticos nesse regime, a importância dos parlamentos e o problema da

liberdade de pensamento.

Mas é a segunda parte da palestra (de título: “O Brasil poderá ser

democrático?”) que nos interessa mais intensamente aqui, pois nela Baleeiro oferece

uma crítica severa das opiniões de Oliveira Vianna, o “prógono do derrotismo anti-

democrático”, segundo suas palavras. De início, em uma retórica plena de ironia,

Baleeiro deplora a “caricatura cruel e falsa do Brasil” perpetrada pelos “pseudo-

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realistas” seguidores de Oliveira Vianna, que se apresentam como “pragmático[s],

nativista[s], único[s] que compreendeu[deram] as chamadas ‘realidades brasileiras’”, e

que afirmam que “só por pilhéria se poderá pretender governo representativo, liberdade

de pensamento, voto secreto e proporcional, representação de minorias, orçamento

controlado para esses mestiços com saudades das senzalas” que são os brasileiros. Para

esses interpretadores do Brasil, só há duas questões de importância: “autoridade forte e

unidade nacional” – ou, como acrescenta com bílis Baleeiro, “autoridade forte, isto é, o

arbítrio irresponsável, tendo como perna direita a baixa ditadura policial e esquerda o

Tesouro dadivoso para os que comungam da fé autoritarista” (Baleeiro 1943, p. 13-14).

Em seguida, Baleeiro desdenha da leitura fantasiosa que Oliveira Vianna faz das

democracias inglesa e norte-americana, que não perceberia que os regimes desses

países, historicamente, também foram “fruto de longa e penosa conquista, com avanços

e recuos, cortada por entreatos de autoritarismo e corrupção”. Para Baleeiro, os regimes

políticos de todos os países estão sujeitos aos “defeitos do egoísmo humano”, mas estes,

“nos climas de liberdade, estão expostos ao cautério profilático da opinião, à crítica

parlamentar e à da imprensa, ao passo que, nas autocracias, proliferam na fermentação

escura e abafada do segredo oficial e da censura aos jornais” (idem, p. 18).

Baleeiro acredita pegar Oliveira Vianna em contradição: “o notável publicista

[que] escreveu centenas de páginas increpando os estadistas brasileiros porque se teriam

empolgado pelo sopro democrático [...] e afinal, depois de tudo isso vem sugerir a mais

servil imitação de fórmulas e idéias exóticas”, a noção de “democracia autoritária”

importada “do nazista Goebbels” e “acolitada pela representação exclusivamente

profissional”, que, para ele, é “exatamente o único arranjo político que não encontra o

mais mínimo comemorativo nas tradições brasileiras” (idem, p. 22).

Ao concluir, Baleeiro afirma que “em política, o princípio pragmático mais certo

é aquele velho de que se deve fazer tudo quanto se pode, enquanto não se pode fazer

tudo o que se deve”. E, mais adiante, taxativo:

“Só há dois meios de aproximar realidade e ideal: ou rebaixar o ideal ao nível da realidade, ou elevar, cada vez mais, a realidade à altura desse ideal. Nisso reside a diferença entre os que se apegam às ditaduras e os que se batem pela democracia. [...] À medida que nos elevarmos na liberdade política, estendendo-a ao maior número, também nos aproximaremos, sem comoções estruturais, da justiça social e econômica, o problema crucial de nossa geração” (idem, p. 23)

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Dossiê Ruy Barbosa

Em novembro de 1944, o Instituto da Ordem dos Advogados da Bahia

promoveu uma “Semana de Ruy”, em que se homenageou a memória daquele que pode

ser considerado o principal precursor e influenciador do liberalismo democrático dessa

geração: o também baiano Ruy Barbosa. Esse evento foi um esforço de recuperar e

revalorizar a memória da contribuição intelectual e política de Ruy Barbosa, que havia

sido alvo de enormes críticas nas duas décadas anteriores. Os trabalhos apresentados

nessa semana foram, posteriormente, reunidos e publicados em um dossiê especial da

Revista Fórum, órgão de divulgação do Instituto. O dossiê conta com artigos escritos

por vários dos membros da geração, mas, aqui, vou apresentar apenas o texto escrito por

Nestor Duarte.

O artigo de Duarte, de título “Ruy e o processo cultural democrático”, comenta

o descaso com que, muitas vezes, a geração político-intelectual dos anos 1930/1940 –

segundo ele, “uma geração que se presumia sem verbalismo, sem gramática lusitana,

crente na decadência da oratória, hostil ao Direito Constitucional norte-americano”

(Duarte 1944, p. 82) – tratou a trajetória e a obra política de Ruy Barbosa e, por

extensão, o liberalismo constitucional ao qual seu nome era geralmente vinculado.

Nesse texto, depois de lembrar a influência dos “ensinamentos de Alberto Torres”

contrários à “sistematização, o jurismo, da obra política de Ruy” e responsáveis por dar

“alguma direção coordenadora ao tumulto ideológico que foi Revolução de 30”, Duarte

aponta duas figuras de proa na crítica a Ruy Barbosa nesse período:

“depois de 1930, quando os sinos deveriam dobrar pela liberdade e pela democracia agonizantes, os que combatiam o universalismo cultural de Ruy, em nome da originalidade brasileira, fariam, como o Sr. Francisco Campos, o elogio da ‘Democracia Autoritária’ e da filosofia fascista, naquela forma que o ex-ministro da Justiça chamava ‘a política do Capitólio contra a política do Fórum’; ou, como o Sr. Tristão de Ataíde, que, em nome da ação católica, desenvolveu uma das campanhas intelectuais mais eficientes contra o espírito liberal que Ruy predicara sempre, levando, assim, a maioria da juventude católica a constituir a maioria dos milicianos do fascismo nacional” (idem, p. 83)

Duarte lamenta que os “novos tempos”, tempos de “ditaduras”, de “falsas

determinações históricas”, de “uma ordem dirigida, fanática [...] sob o espírito da

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autoridade exaltada”, experimentassem “o declínio da vocação da liberdade, a descrença

na democracia, o esquecimento das vantagens morais dos governos livres e dos regimes

constitucionais, a traição ao que há de fundamental humanismo na civilização” (Duarte

1944, p. 84). E, por isso, defende a democracia como “uma concepção total da vida,

uma concepção cultural”, que “ainda que se concretize num regime político [...] é um

processo de vida, uma explicação e uma condição de existência do homem”.

Duarte não aceita que a democracia seja vista como “um conceito preso a

determinado conteúdo histórico e econômico”. A democracia, afirma o autor, “não é

burguesa, não é individualista, assim como não será, tão só, socialista”, pois “todas

essas categorias e qualificativos definem idade, economia e teorias diversas, dentro da

identidade de uma só concepção de vida, ou de um só sentido social e político”. E esse

sentido, único, “constante”, na “concepção cultural da democracia” consiste,

simplesmente, em tomar “o homem como medida de todas as coisas” (idem, p. 85-86).

Vem daí a relação estreita que se estabelece entre a democracia e a busca da liberdade,

ambas essenciais, segundo Duarte, à plena realização da experiência humana:

“o ideal da liberdade não precisa de ‘fundamentos’ que pretendam justificá-lo, é um valor que a cultura social descobriu, que a experiência humana realizou, ou vem realizando, como condição penosa da ascensão do homem enquanto homem, seja o escravo de Spartacus, o cidadão de Atenas, o súdito de Sua Majestade britânica, o burguês de 89 e o proletário de outubro de 17. [...] essa é a essência do individualismo, como é a aspiração do marxismo. E a democracia é, sob todos os seus aspectos, um processo e um objetivo de profundo realismo, uma experiência inacabada e, por isso, viva, de realização dessa liberdade em política, em religião e em economia” (idem, p. 86-87)

Declaração de Princípios

Para finalizar o presente trabalho, viajemos até o primeiro semestre de 1945.

Naquele momento, em meio à certeza da vitória das potências aliadas contra os

exércitos do Eixo na II Guerra Mundial, diversas congregações de faculdades de Direito

espalhadas pelo país divulgaram manifestos, nos quais criticaram abertamente o

governo Vargas e clamaram pela volta do país a um regime político democrático. Na

Bahia, o manifesto local, assinado por vários dos juristas aqui tratados, é um exemplo

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claro disso. Nesse texto, podemos ler uma passagem como a seguinte, que deixa bem

entrever o quanto idéias políticas, instituições e ação coletiva estavam então imbricados:

“Como professores de Direito, cônscios de nossas responsabilidades, devemos erguer bem alto nossa voz para reafirmar, em tom solene, perante nossos discípulos e perante a nação, que os ideais democráticos jamais desertaram das nossas consciências, nunca tendo se apagado na Faculdade de Direito da Bahia a sua chama votiva. [...] Concebendo a democracia, no plano moral, como a fórmula de coexistência social compatível com a eminente dignidade do homem, não podemos aceitar nenhuma estrutura política cujo conteúdo se não amolde às formas que a realidade histórica tem imprimido a essa concepção filosófica. [...] A liberdade de pensamento, de reunião, de associação, de crença e culto, de locomoção, precisam ser garantidas constitucionalmente sem restrições que entravem ou dificultem a ação do homem no meio político e social em que vive. [...] Só seremos dignos de nós mesmos se a esta enérgica e formal condenação dos regimes anti-democráticos, instaurarmos, como povo, a prática da democracia, superando imperfeições que decorram no nosso atraso econômico e social, para afirmar, no concerto internacional, que somos, de fato e de direito, Potência Mundial.” (vários autores, 1945, p. 5-6)

*****

Como já assinalado, o presente texto é um resultado parcial da pesquisa

vinculada ao meu estágio de pós-doutorado, ainda em andamento. Trata-se,

basicamente, de um levantamento bibliográfico (apresentado a seguir, na parte das

Fontes da bibliografia) e temático, sem quaisquer conclusões mais elaboradas até o

momento. Minha intenção, ao apresentá-lo aqui no âmbito desse Encontro foi apenas

submetê-lo ao conhecimento e críticas dos colegas.

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