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ANAIS DO III ENCONTRO CIENTÍFICO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA Comitê Dança em Mediações Educacionais – Maio/2013
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A DANÇA NO CONTEXTO DE LAZER: PERCEPÇÕES DOS ALUNOS E CONTRIBUIÇÕES NA RELAÇÃO ENSINO-
APRENDIZAGEM NO CURSO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA
ANA CRISTINA OLIVEIRA MARQUES SILVESTRE (Faculdade Maurício de
Nassau/Campus/ PB)
ARTHUR MARQUES DE ALMEIDA NETO (UFPB)
RESUMO O objetivo deste estudo foi relatar o processo criativo realizado na disciplina de dança no curso superior de Educação Física, e as estratégias utilizadas para sua construção de forma lúdica. Dezesseis alunos responderam sobre suas percepções a respeito da prática da dança nos momentos de lazer: “como você se sente dançando em seus momentos de lazer?”. Agruparam-se as respostas em duas categorias: a primeira abordou percepções negativas; a segunda, as positivas. Identificou-se a ideia de que a dança, mesmo no contexto de lazer, ainda relaciona-se a uma prática em que deve se “saber fazer” e ter “corpos eleitos”. Aponta-se que a pesquisa pôde auxiliar a relação de ensino-aprendizagem, dando suporte ao conhecimento do contexto vivido em dança pelos alunos. PALAVRAS- CHAVE: Dança, Lazer, Percepção, Coreografia, Educação Física.
DANCING IN THE CONTEXT OF LEISURE: PERCEPTIONS OF STUDENTS AND CONTRIBUTIONS IN RESPECT EDUCATION -
LEARNING COURSE ON TOP OF PHYSICAL EDUCATION
ABSTRACT The aim of this study was to describe the creative process conducted in the discipline of dance in college Physical Education, and the strategies used for its construction in a playful manner. Sixteen students were asked about their perceptions regarding the practice of dance in leisure time: "how do you feel dancing in your leisure time?". Responses were grouped into two categories: negative perceptions and positive perceptions. The present study identified the idea that dance, even in the context of leisure, still relates to a practice that should "know how" and have "elected bodies". It is pointed out that the research could help the relationship of teaching and learning, supporting knowledge of context experienced by students in dance. KEYWORDS: Dance, Leisure, Perception, Choreography, Physical Education.
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A Proposta da Dança como Lazer no Ensino Superior no Curso de
Bacharelado em Educação Física
A disciplina Dimensões Teórico-Metodológicas da Dança no curso de
bacharelado em Educação Física, em uma instituição privada de ensino
superior da cidade de João Pessoa (PB), tem como ementa a “dança como
forma de manifestação e expressão cultural de uma sociedade. Fundamentos,
dinâmica, metodologia e noções coreográficas”. Desenvolve, como
competência específica, a compreensão do processo evolutivo e histórico da
dança, de forma a elaborar, desenvolver, aplicar e avaliar a dança no campo de
atuação do professor de Educação Física. Além disso, propõe repensar e
valorizar a dança como bem cultural, compreendendo e reconhecendo seu
valor social, filosófico e artístico, de forma a conhecer e identificar os estilos de
dança, com o objetivo de se construir um “Festival de Dança” ao término de
cada semestre.
Desta forma, a disciplina em questão busca formar os alunos de
Educação Física na descoberta da dança como lazer, atividades físicas,
artísticas, condicionamento físico, sendo uma das opções para seu campo de
trabalho. No entanto, o objetivo no final do semestre é a criação de um
“Festival de Dança”, no qual todos deverão compor uma coreografia e
apresentá-la, proposta que nem sempre é “bem vinda” aos alunos, que muitas
vezes se sentem intimidados e incapazes de realizá-la, ou por falta de
interesse pela disciplina, por não possuir experiência com a dança e por ainda
entender que para se dançar é preciso ter um tipo de corpo específico.
Assim, no decorrer da disciplina, propõe-se que a dança seja
desmistificada, utilizando-se de ferramentas como mostra de vídeos de
experiências dos resultados coreográficos dos semestres anteriores, da
realização de aulas práticas que visam abordar a dança / educação, para que
todos possam perceber que a dança é possível de ser praticada por qualquer
pessoa, independente do seu tipo físico ou experiência motora. E que cada
aluno pode contribuir da sua maneira no processo criativo da coreografia,
sendo este priorizado e avaliado a cada aula, de maneira a valorizar as
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escolhas subjetivas e metodológicas em um modo processual e contínuo,
visando não apenas a obtenção do produto estético.
Outra estratégia utilizada foi a escolha de um protocolo tendo como base
o questionamento a respeito da relação do próprio aluno com a dança – gosto
e vivência: para que a dança fosse entendida como uma prática presente em
toda a sociedade, sendo eles parte constituinte da mesma, no primeiro dia de
aula eles responderam se dançavam em seus momentos de lazer e como se
sentiam dançando. Este diagnóstico auxiliou no planejamento da disciplina,
para que fosse possível estabelecer conexões entre a educação
pela/através/na dança e os conteúdos vivenciados pelos alunos em seu
cotidiano de lazer, além de buscar identificar possíveis relações que
mapeassem a dança no contexto social do aluno, como relações de gênero,
reafirmação de identidade cultural, questões estéticas pessoais em relação à
prática da dança, entre outras.
As aulas de dança abordaram sempre uma característica lúdica na sua
realização, buscando elementos trazidos pelos contextos dos alunos,
aproximando a sua realidade com o fazer da dança, fazer considerado para
alguns como uma tarefa inatingível, tanto na sua prática artística quanto
atividade de lazer. A proposta teve como ponto inicial a pesquisa e utilização
de elementos do lazer para criação de composições em grupo, buscando tanto
relacionar os contextos quanto tornar a prática, vivência e experimentação uma
atividade prazerosa. Assim, despertando o gosto e a descoberta de
movimentos através da dança, aos poucos foram sendo construídas
coreografias de forma coletiva.
O prazer entende o movimento feito e assumido como fruição de valores estéticos, éticos e afetivos. O movimento é vivido com satisfação, como prazer. Nos movimentos de expressão corporal, de dança ou arte, podemos perceber a ideia do que é o movimento como prazer (SANTIN, 2003: 48).
A prática de composição em dança associando elementos dos contextos
– no caso específico, nos momentos de lazer – buscou, durante todo o
processo, uma forma prazerosa. De acordo com Gutierrez (2001: 13), “o prazer
é uma categoria fundamental para a pesquisa do objeto lazer. Não existe lazer
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sem a expectativa de realizar alguma forma de prazer”. Assim, tanto no
contexto da atividade de lazer quanto na pesquisa coreográfica, a partir de
elementos dos momentos de lazer, o prazer na atividade foi busca e intento.
Sobre o lazer, Silva & Silva (2012) defendem que não devemos abordá-
lo em uma perspectiva funcionalista, em que ele é considerado o tempo de
recuperação da força do trabalho. Concordando com essas autoras,
defendemos a visão de Marcellino (1990), em que o lazer é definido como
cultura, compreendida no seu sentido mais amplo, vivenciada no “tempo
disponível”, possuindo como traço definidor o caráter “desinteressado” desta
vivência, buscando-se a satisfação provocada pela situação.
Este fato parece contraditório, visto que o Festival de Dança proposto
tem caráter obrigatório de participação na disciplina, sendo um elemento
constituinte da avaliação prática, o que dificulta ainda mais o processo criativo
dos alunos por sua imposição, intimidando os alunos. No entanto, na
experiência aqui relatada, traremos resultados positivos nesta proposta de
dança, em que mesmo os alunos mais “resistentes” ao processo coreográfico
conseguiram compor seqüências, e apresentá-las, o que, segundo os relatos
dos mesmos, nunca teriam feito caso a atividade fosse optativa. O processo foi
facilitado pela utilização de elementos já comuns aos alunos em seus
momentos de lazer, tornando-se não agônico e mais prazeroso. Mas,
acreditamos que esta questão avaliativa obrigatória no formato de “Festival”
merece maiores discussões, e aplicação de novas experiências, por exemplo,
situações das quais o aluno só participe caso possua interesse em apresentar-
se em público.
O lazer para Marcellino (2007), citado por Silva & Silva (2012: 22),
possui seis áreas fundamentais: os interesses artísticos, os intelectuais, os
físicos, os manuais, os sociais e os turísticos. Tratamos a dança numa
perspectiva de lazer, porque acreditamos que ela pode ser incluída em várias
destas áreas: para os interesses artísticos a dança se faz presente por tratar-
se, antes de tudo, de uma manifestação que possui um conteúdo estético
específico; para os interesses intelectuais, busca-se o contato com o real,
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dando ênfase ao conhecimento vivido e experimentado. A dança é
conhecimento, e, para adquiri-lo, deve-se vivê-lo e experimentá-lo. Para
interesses corporais, estão todas as atividades que prevalecem o movimento;
para interesses sociais, há uma inclinação para o relacionamento, o que é
proposto pela atividade de dança realizada de forma colaborativa em grupo.
Também é interessante perceber como corpos que se julgam “sem
experiência na dança”, ou “sem jeito para dança” conseguem organizar-se
coletivamente numa criação coreográfica. Ainda mais quando trabalham juntos
na composição com outros corpos que possuem alguma vivência em dança ou
outra atividade esportiva, como voleibol, basquete, halterofilismo, dentre outras,
desenvolvidas pelos alunos no campo da educação física. O trabalho coletivo
proporciona a troca de repertório e vocabulário motor de um para o outro. Essa
atividade levou em consideração a troca de conhecimento, entendendo que
cada corpo faz parte de uma construção cultural, com uma identidade.
[...] é possível discutir o corpo como uma construção cultural, já que cada sociedade se expressa diferentemente por meio de corpos diferentes. Todo homem, mesmo inconsciente desse processo, é portador de especificidades culturais em seu corpo (SILVA & SILVA, 2012: 36).
As autoras Silva e Silva (2012: 38) ainda argumentam que é por meio do
corpo que o homem se apropria dos valores, normas e costumes sociais, num
processo de inCORPOração. Ou seja,
[...] um indivíduo incorpora algum novo comportamento ao conjunto de seus atos, ou uma nova palavra ao seu vocabulário ou, ainda, um novo conhecimento ao seu repertório cognitivo. Mais do que um aprendizado intelectual, o indivíduo adquire um conteúdo cultural, que se instala no seu corpo, no conjunto de suas expressões. Em outros termos, o homem aprende a cultura por meio de seu corpo (SILVA & SILVA, 2012: 40).
Assim a construção coreográfica na disciplina de dança, visando a
utilização das experiências motoras de cada aluno, tanto como suas
experiências de lazer, buscou atingir o objetivo principal da sua ementa: a
percepção da dança como forma de manifestação e expressão cultural de uma
sociedade, adquirindo cultura através de sua exploração criativa de
movimentos.
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A cultura, de forma geral, pode ser compreendida como os padrões de comportamento e os hábitos sociais de uma comunidade, partindo de uma tradição ou herança, acumulados e específicos, ou seja, estamos falando do modo de vida característico de um conjunto de indivíduos, determinado por idéias com força normativa e relativamente consensuais (GUTIERREZ, 2001: 15).
Assim, a proposta do “Festival”, mesmo que obrigatória, oportuniza que
os alunos adquiram conhecimento com seu corpo, com o corpo dos colegas do
grupo, e que vivam uma experiência do momento do palco, e o que é mais
relevante, a valorização da sua criação, dos aspectos motores de cada um que
colaborou no processo, e do entendimento que cada corpo é produto da
cultura, com seus significados.
Estratégias Pedagógicas Utilizadas para Criação da Coreografia e Festival
de Dança
Neste tópico abordaremos mais detalhadamente quais as estratégias
pedagógicas utilizadas para a construção das coreografias que foram
apresentadas pelos alunos no formato de “Festival de Dança”, proposta pela
ementa da disciplina, e de que forma utilizamos neste processo os elementos
oferecidos pelos alunos e as suas percepções da dança, vividas em seus
momentos de lazer.
Como abordado anteriormente, para se conhecer como os alunos se
relacionavam com a dança em seu cotidiano de lazer, fizemos a seguinte
questão no primeiro dia de aula da disciplina, para 16 alunos de uma instituição
privada de ensino superior na cidade de João Pessoa (PB): “como você se
sente dançando em seus momentos de lazer?”. A pergunta foi respondida
anonimamente, individualmente, de forma escrita.
Diante das respostas obtidas, as mesmas foram agrupadas em duas
categorias, segundo análise de conteúdo (BARDIN, 2009): A primeira categoria
abordou as percepções negativas dos alunos, correspondendo a 30% os
entrevistados que relataram não ter “jeito” para dançar, com “medo de errar os
passos” e possuírem “vergonha”, acreditando que a dança é para quem “sabe”
dançar. A segunda categoria apontou percepções positivas, e a maioria dos
entrevistados relatou: “esquecer-se dos problemas” - 37%; sentir-se mais
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“livre”-25%; “leve” - 12%;“alegre”- 31%; “desinibido e descontraído” - 31%;
gostar de “ficar junto” com parceiro - 25% no momento da dança. Neste caso,
tratava-se da dança a dois, principalmente o ritmo forró, que foi abordado pelos
alunos como o tipo de dança preferida, ou até mesmo a “única” que se
“conseguia” dançar.
Alguns citaram percepções diversas, estando em ambas a categorias. A
dança, mesmo no contexto de lazer, para alguns alunos, ainda relaciona-se a
uma prática em que se deve “saber fazer” e ter “corpos eleitos”, o que foi
identificado como negativo. Sobre este mesmo aspecto, é interessante
perceber também que, no momento da entrevista, muitos alunos,
principalmente do gênero masculino, relataram que, para se dançar, era
preciso “ter coragem”, e que, para se adquirir este estado de ânimo, era
necessária a ingestão de bebidas alcoólicas. Ou seja, a dança ainda é vista
como algo inatingível, algo que não é possível de ser feito em seu estado real
de consciência. Entretanto, a maioria entrevistada demonstrou percepções
positivas em relação à prática da dança em seus momentos de lazer.
Após o diagnóstico, percebeu-se que a maioria entrevistada preferia o
ritmo do forró em suas práticas de dança como lazer, e foi sugerido, pela
professora da disciplina, que o “Festival de Dança” deveria ser composto por
músicas neste mesmo ritmo, sendo escolhidas as de Luiz Gonzaga, que veio a
combinar com o período junino das apresentações, assim como traria uma
homenagem ao centenário do “Gonzagão”. Todos os alunos aprovaram com
unanimidade esta escolha, comentando que já conheciam algumas de suas
composições.
Em relação à criação das seqüências coreográficas, foi proposto que os
alunos se organizassem em grupo, de no máximo seis pessoas, e que
trabalhasse com um dos capítulos do livro disponível em vários exemplares na
biblioteca da instituição em questão, “Os temas de movimento de Rudolf
Laban”, da autora Lenira Rengel (2008), que foram sorteados entre os grupos.
Os capítulos tratam dos modos de aplicação do tema do movimento I, II, III, IV,
V, VI, VII e VIII de Rudolf Laban. Esta escolha foi feita por se tratar de uma
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proposta de dança educativa, na qual cada aluno poderia contribuir de sua
forma no processo coreográfico, de acordo com sua realidade vivida e
experiências motoras. E que, pela dança-educação, defendida por Rudolf
Laban, é possível entender o corpo como processo de natureza e cultura,
juntos:
Se o aluno tem uma movimentação que consideramos “caricata”, “artificial”, “manipulada”, destituída de certo grau de livre arbítrio, de nada adianta criticá-lo e tentar mudar seu movimento [...] É preciso respeitar seus movimentos, aceitar o que este aluno ou colega traz. Ele apresenta o repertório de movimento que tem. Leva um tempo até o corpo (a pessoa) adquirir e implementar novos movimentos e ter consciência de que ele não é “recipiente”, onde tudo é “enfiado” sem processamento, e leva um tempo, também, para ele ter uma visão crítica saudável do que é ficar repetindo movimentos que, na grande maioria, nada tem relação ao próprio corpo (RENGEL, 2008: 12-13).
Cada um dos grupos deveria criar jogos coreográficos entre seus
componentes, baseando-se na improvisação do movimento, de acordo com as
atividades e sugestões propostas pelos temas de movimento sorteado. Em
seguida, o grupo deveria selecionar os movimentos a cada ensaio, criando
pequenas sequências coreográficas, que seriam unidas ao término do período
determinado para criação da coreografia. Foram destinadas quatro aulas, cada
uma com duas horas de duração, para o planejamento, ensaios e criações das
composições, que deveriam conter, no mínimo, 2 minutos no total.
Assim, a cada aula-ensaio, estes alunos seriam avaliados, devendo
trazer as “tarefas” cumpridas do seu processo coreográfico, de forma que a
professora da disciplina pudesse atuar junto a eles auxiliando e orientando na
idealização dos temas a serem tratados, assim como na criação dos
movimentos. Todos os movimentos e gestuais foram criados exclusivamente
pelos alunos, não havendo nenhuma sequência pré-concebida pela professora
em suas coreografias.
Com esta proposta avaliativa visa-se que o aluno perceba que a
montagem coreográfica não se trata apenas de movimentos sequenciados,
mas que suas escolhas, assim como de toda obra final, como figurinos,
músicas, nome da coreografia, dentre outros elementos, devem ter uma
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conexão, de forma a transmitir ao público uma ideia previamente combinada
entre os integrantes do grupo. Pois cada movimento é composto de significado:
Pela expressividade os movimentos se constituem em linguagem. Uma linguagem que identifica o movimento com seu significado. Por exemplo: o movimento de gesto e seu significado são inseparáveis [...] O movimento é uma maneira do homem estar presente, uma presença para si e para os outros (SANTIN, 2003: 47).
Como foi diagnosticado que dançando os alunos se sentiam “alegres”,
“esqueciam-se dos problemas” e se sentiam “leves”, os mesmos foram
estimulados a cada aula-ensaio a criar movimentos e tratar de temáticas que
gerassem estas boas sensações, que fizessem parte da realidade e do
cotidiano de lazer deles, fazendo com que os alunos refletissem a dança como
um caminho possível, e fácil de ser realizado e explorado em sua futura
carreira profissional, e que nem sempre para ser executada precisa-se de
técnica específica ou corpos “eleitos”.
Além da coreografia os alunos foram incentivados a criar um folheto,
folder, ou um material impresso que tratasse sobre sua criação. Essa proposta
buscou que os alunos visualizassem a sua composição coreográfica de outra
forma, fazendo com que, no momento do planejamento gráfico do material,
eles conseguissem atingir uma mesma configuração e planejamento estético
do que seria apresentado, além de se pensar mais objetivamente em sua
temática, fixando-a, em forma de release ou sinopse. Neste material, deveria
estar contido um nome para seu grupo, nome para coreografia, ficha técnica e
um breve comentário sobre a coreografia tratada.
A tarefa da elaboração de um Festival de Dança está como último item
no conteúdo programático da disciplina. Ou seja, antes do processo de criação,
os alunos assistiram aulas teóricas sobre as danças teatrais, folclóricas, dança
de salão, ritmo, história e evolução da dança, além do conteúdo de dança
educação. Neste último foi explicada a Teoria do Movimento de Laban, bem
como seus fatores de movimento. Também houve aulas práticas sobre estes
conteúdos, em que os alunos foram capazes de associar a teoria com o fazer
da dança, o que gerou subsídios para que eles pudessem utilizar em seguida
os temas de movimento de Laban nas suas criações.
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Resultados obtidos no Festival de Dança
No dia do Festival todos os grupos se apresentaram de forma
organizada, de posse dos folders que foram distribuídos entre a platéia
presente. As coreografias foram executadas no auditório da Instituição em
estudo, possuindo nomes que, muitas vezes, se confundiam com os nomes ou
trechos das próprias canções de Luiz Gonzaga escolhidas pelos grupos, como
exemplo: “Andando pelos sertões”; “Cadê minha morena”; “Saudade meu
remédio é cantar”; “O vôo da asa branca”; “A vida do viajante”; “Cheiro da
Carolina”. Ou seja, a escolha da música guiou, na maioria dos grupos, qual a
temática seria tratada na composição coreográfica.
Quanto aos nomes dos grupos criados pelos alunos, expressos em seus
materiais gráficos, encontram-se vários que retratam a descontração entre
seus componentes, e a sua relação com o lazer, com os seus momentos de
descontração fora da instituição, como por exemplo: “Grupo os garotos do
sertão”; “Leleks dos sertões”; “Grupo Sonú Cavaquinho”; “Grupo Pirilampo”;
“Grupo Capote”; “Grupo arrasta pé”.
Em relação aos movimentos criados, os grupos conseguiram trabalhar
de forma coletiva, havendo esforço dos alunos para criação de gestual
baseado nos temas de movimento de Laban, o que deixou as composições
diferenciadas e originais, com características de repertórios motores diversos,
em que cada um dos componentes colaborou de forma significativa. No
entanto, percebe-se também a presença de passos de xaxado, de forró,
cirandas, e também de gestos da “moda”, divulgados em coreografias exposta
na mídia e na cultura de massa.
As escolhas das organizações espaciais, mesmo com o auxílio e
orientações da professora e do material teórico oferecido, visando a exploração
do espaço, seus diferentes níveis, planos, e direções, lembravam, muitas
vezes, uma quadrilha junina, como também sequências de movimentos que
traziam alusões a uma aula de academia de ginástica, na qual todos se
dispuseram de frente para a plateia, enfileirados ou em grande círculo. O que
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pode ter sido influenciado pela experiência dos mesmos em seus estágios em
academias e por entenderem que a dança deve ser feita apenas “de frente”
para a plateia, principalmente pelo formato do local onde se executaram as
danças, semelhante a um palco italiano, no auditório.
Todos os grupos conseguiram conectar suas temáticas aos movimentos,
músicas, figurinos e materiais impressos criados, o que é de grande relevância
ao entendimento de uma possibilidade (dentre várias que são possíveis) de
como se fazer uma composição em dança, de entender que o resultado final é
fruto de um planejamento, idealização e carece de tempo e criatividade para
sua obtenção, e não é apenas uma mera sequência de passos.
Considerações Finais
Não defendemos, neste estudo, que esta proposta de dança como lazer
para a criação de uma coreografia é a forma “correta” de se construir um
resultado, um produto estético final, mas trazemos uma experiência realizada
na qual se obtiveram resultados positivos na disciplina de dança, que foram
capazes de fazer o aluno refletir sobre seus movimentos, ser criativo, e
desempenhar um papel social naquele momento da sua criação, e adquirir
cultura com seus corpos e com os dos seus colegas, de saber compartilhar
suas escolhas, e conseguir trabalhar de forma coletiva, lúdica e sob a
perspectiva de lazer. Além disso, desmistificou a dança, de forma que o aluno
sai com a idéia de que é capaz compor coreografias ou realizar pesquisas de
movimento baseando-se nos gestuais dos seus alunos, com autonomia, e não
autoridade.
Assim, podemos concluir que a pesquisa auxiliou a relação de ensino-
aprendizagem, dando suporte ao conhecimento do contexto vivido em dança
pelos alunos e desfez, durante a disciplina, o mito de que a dança, tanto como
lazer ou prática artística, não é para todos. Assim, ressalta-se a importância do
diagnóstico realizado no início da disciplina com os alunos no processo
educativo da Dança no âmbito do ensino superior em Educação Física, no qual
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a disciplina alcançou seus objetivos pedagógicos, técnico-estéticos e sociais,
de forma contextual e dialógica.
Referências
BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2009.
DA SILVA, Cinthia Lopes & SILVA, Tatyane Perna. Lazer e Educação Física: textos didáticos para a formação de profissionais de lazer. Campinas: Papirus, 2012.
GUTIERREZ, Gustavo Luis. Lazer e Prazer: questões metodológicas e alternativas políticas. Campinas: Autores Associados, 2001.
MARCELLINO, Nelson Carvalho. Lazer e Educação. Campinas: Papirus, 1990.
RENGEL, Lenira. Os Temas de Movimento de Rudolf Laban (I-II-III-IV-V-VI-VII-VIII): modos de aplicação e referências. São Paulo: Annablume, 2008.
SANTIN, Silvino. Educação Física: uma abordagem filosófica da corporeidade. rev. Ijuí: Unijuí, 2003.
Ana Cristina Oliveira Marques Silvestre Professora do curso de Bacharelado em Educação Física da Faculdade Maurício de Nassau (João Pessoa, PB). Mestre e doutoranda em Educação Física (Programa Associado de Pós-graduação em Educação Física da UPE/UFPB). Especialista em Estudos Contemporâneos em Dança (UFBA). Graduada em Farmácia e Educação Física. Bailarina e coreógrafa. [email protected] Arthur Marques de Almeida Neto Professor Assistente do Departamento de Artes Cênicas do Centro de Comunicação Turismo e Artes da UFPB. Mestre em Dança pela UFBA. Especialista em Estudos Contemporâneos em Dança – UFBA. Licenciado em Dança – FAV-RJ. Bailarino, Pesquisador e Coreógrafo. [email protected]