a cultura e as artes na segunda metade … e arte da 2... · reflexÃo sobre a condiÇÃo humana...

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Página 1 de 24 A CULTURA E AS ARTES NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX A IMPORTÂNCIA DOS POLOS CULTURAIS ANGLO-AMERICANOS Quando a Segunda Guerra Mundial termina, o Mundo não é o mesmo. Face às crueldades do Holocausto e aos horrores dos bombardeamentos atómicos, a consciência do Homem ocidental mostra- se chocada. Muito em particular a Europa, cuja estrela começara a empalidecer em 1918, não se encon- trava em condições de liderar a política internacional nem o próprio processo civilizacional. O totalitarismo abafara-lhe muitas das suas energias criadoras. A guerra (1939-1945) destruíra-a como nunca, deixando-a prostrada. Aos Estados Unidos, uma das cabeças do mundo bipolar que se desenhou em 1945, coube assumir a condução do Ocidente. No plano político e no plano económico, mas também no campo das transformações sociais e culturais. Pela primeira vez na história da arte, as inovações deixaram de irradiar de Paris, Berlim, Milão, Viena ou Moscovo. Em Nova lorque, "capital do mundo sem fronteiras" como Ihe chamou Le Corbusier (1887- 1965), produzir-se-ão, doravante, as alterações mais significativas e as grandes polémicas no mundo da arte. O protagonismo cultural de Nova lorque remontava ao início do século. O desafogo económico dos EUA alimentava uma próspera burguesia, ciosa de promoção cultural. Um generoso mecenato privado irrompia e patrocinava a fundação de galerias e de grandes museus, como o Le Corbusier (1887- 1965), criado em 1929, e a Fundação Solomon R. Guggenheim, surgida dez anos depois. Todos estes espaços se abriram aos talentos vanguardistas, assegurando-lhes projeção e visibilidade. De facto, eram muitos os que procuravam Nova lorque, seduzidos pelo brilho e pela liberdade de expressão. Em Berlim, Viena ou em Moscovo, repeliam-se as vanguardas, apelidadas de "degeneradas" por Hitler e de "burgueso- fascistas" por Estaline. A ocupação de Paris pelos nazis, em 1940, afugentava os criadores da Cidade-Luz, enquanto a Europa devastada pela guerra Destruição em Londres após bombardeamento alemão, 1941 Prisioneiros no campo de concentração de Auschwitz Einstein recebe a cidadania americana em 1940

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A CULTURA E AS ARTES NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX

A IMPORTÂNCIA DOS POLOS CULTURAIS ANGLO-AMERICANOS Quando a Segunda Guerra Mundial termina, o Mundo não é o mesmo. Face às crueldades do

Holocausto e aos horrores dos bombardeamentos atómicos, a consciência do Homem ocidental mostra-

se chocada. Muito em particular a Europa, cuja estrela começara a empalidecer em 1918, não se encon-

trava em condições de liderar a política

internacional nem o próprio processo

civilizacional. O totalitarismo abafara-lhe

muitas das suas energias criadoras. A guerra

(1939-1945) destruíra-a como nunca,

deixando-a prostrada.

Aos Estados Unidos, uma das cabeças do

mundo bipolar que se desenhou em 1945,

coube assumir a condução do Ocidente. No

plano político e no plano económico, mas

também no campo das transformações sociais

e culturais. Pela primeira vez na história da

arte, as inovações deixaram de irradiar de Paris,

Berlim, Milão, Viena ou Moscovo.

Em Nova lorque, "capital do mundo sem

fronteiras" como Ihe chamou Le Corbusier (1887-

1965), produzir-se-ão, doravante, as alterações mais

significativas e as grandes polémicas no mundo da

arte.

O protagonismo cultural de Nova lorque

remontava ao início do século. O desafogo económico

dos EUA alimentava uma próspera burguesia, ciosa de

promoção cultural. Um generoso mecenato privado

irrompia e patrocinava a fundação de galerias e de

grandes museus, como o Le Corbusier (1887-

1965), criado em 1929, e a Fundação

Solomon R. Guggenheim, surgida dez anos

depois. Todos estes espaços se abriram aos

talentos vanguardistas, assegurando-lhes

projeção e visibilidade. De facto, eram

muitos os que procuravam Nova lorque,

seduzidos pelo brilho e pela liberdade de

expressão. Em Berlim, Viena ou em Moscovo,

repeliam-se as vanguardas, apelidadas de

"degeneradas" por Hitler e de "burgueso-

fascistas" por Estaline. A ocupação de Paris

pelos nazis, em 1940, afugentava os criadores da Cidade-Luz, enquanto a Europa devastada pela guerra

Destruição em Londres após bombardeamento alemão, 1941

Prisioneiros no campo de concentração de Auschwitz

Einstein recebe a cidadania americana em 1940

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não estimulava a produção cultural. Marc Chagall (1887-1985), Walter Gropius (1883-1969), Piet

Mondrian (1872-1944), Marcel Duchamp (1987-1968), G. Grosz (1893-1959), Max Ernst (1891-1976) ou

Salvador Dali (1904-1989), tal como Bertolt Brecht (1899-1956), André Breton (1896-1966), Bela Bartok

(1881-1945), Fritz Lang (1890-1976) ou A. Einstein (1879-1955), foram alguns dos muitos intelectuais que

a América anglo-saxónica acolheu e incentivou.

Aos artistas europeus emigrados juntaram-se os talentos americanos, particularmente ativos. Do seu

encontro brotou aquela que é designada por Escola de Nova lorque, a grande responsável pela

dinamização das artes no pós-guerra. A ela se deveram as experiências vanguardistas do expressionismo

abstrato.

REFLEXÃO SOBRE A CONDIÇÃO HUMANA NAS ARTES E NAS LETRAS

O Expressionismo Abstrato

O expressionismo abstrato (1945-1960) emerge nos Estados Unidos da América, no imediato pós-

guerra. Como o seu nome indica, usa a "Iinguagem universal da abstração”; então considerada a

tendência mais correta a adotar, visto que qualquer alusão figurativa lembraria os cânones estéticos nazis

ou o realismo socialista.

O americano Jackson Pollock (1912-1956) e o holandês

Willem De Kooning (1914-1997) são os grandes expoentes

do expressionismo abstrato nos anos 40 e 50. Praticaram

uma pintura intuitiva, com formas simbólicas e

desconstruídas e cores vivas e dissonantes. Ambos

procuraram que a pintura expressasse, mais que um tema,

assunto ou objeto, o ato criativo e o gesto, ora descontraído,

ora agressivo, do pintor. Numa clara aproximação ao

automatismo psíquico dos surrealistas, a pintura tornava-se

um testemunho de sensibilidade individual e de

ocorrências psíquicas do autor, que escapavam a um

controlo racional, como eram os sonhos, os pesadelos,

os traumas.

Em 1952, o crítico americano Harold Rosenberg

utilizou uma expressão apropriada para caracterizar

aquele gestualismo do expressionismo abstrato.

Chamou-Ihe action panting (pintura de ação), numa

óbvia a alusão ao ato de pintar que aquela corrente

pretendia documentar.

O modo como Pollock trabalhava esclarece-nos

sobre a action painting. Pollock não utilizava cavalete, nem paleta ou pincéis. Estendia a tela no chão e,

correndo freneticamente à volta e por cima dela, fazia com que a tinta escorresse de latas perfuradas ou

bisnagas. De seguida, misturava as tintas com todo o tipo de materiais, como areia e fragmentos de terra,

espalhando-os com paus e trapos.

Jackson Pollock, Ilhas amarelas, 1952

Willem De Kooning, Gotham News, 1955

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O efeito obtido com a action painting jamais poderia ser previamente calculado pelo pintor. Porque

resultado do acaso, muitos quadros não têm qualquer nome, Imitando-se a apresentar um número, a

data da sua criação ou, simplesmente, a designação de "sem título': Considerava-se que o quadro só

existia no momento em que o observador o contemplava e o interpretava. Os quadros do expressionismo

abstrato mantêm, por conseguinte, toda a atualidade: eles são aquilo que a sua observação provoca no

espetador, qualquer que ele seja, onde e em que momento ele esteja.

A pop art (1958-1965) À abstração lírica e expressiva de Pollock e de De Kooning, contrapuseram

outros artistas, como Barnett Newman (1905-1970), Mark Rothko (1903-1970) e

Ad Reinhardt (1913-1967), uma abstração geométrica. Preenchiam as telas com

superfícies cromáticas claras e planas, que

deveriam produzir o efeito da pintura

pura. O interesse e a possibilidade de

indagar o estado de espírito do artista ou o

processo de criação eram absolutamente

rejeitados. Ao observador apenas se pedia

que se concentrasse no quadro.

A pop art, termo forjado

pelo crítico britânico Lawrence

Alloway, desenvolveu-se, em

simultâneo, em Inglaterra e nos

EUA, tendo atingido neste

último país uma projeção

jamais experimentada por

qualquer outra corrente pictórica.

Ao contrário da tendência abstracionista em voga no pós-guerra,

elitista e subjetiva, porque apelava a um esforço pessoal de

interpretação, a pop art (ver vídeo) reconcilia o grande público com a

arte. Em primeiro lugar, porque retoma a figuração

e se revela de fácil apreensão. Depois, porque

retira os seus temas e objetos do mundo de

produtos e de imagens que a sociedade de massas

abundantemente

consumia. Numa

assumida

concorrência com

os media visuais,

os quadros

substituem-se à publicidade, seja na divulgação de objetos de consumo

corrente, como pacotes de detergente, garrafas de Coca-Cola ou latas de

sopa, seja na exibição de rostos de artistas e personalidades famosas, cujas imagens, igualmente, as

massas consumiam na imprensa popular, no cinema e na TV. Veja-se a obra de Andy Warhol (1928-1987).

Ad Reinhardt, Azul, 1952

Andy Words, Retratos de Marilyn

Monroe, 1964

Andy Warhol, 1928-1987

Andy Warhol, Sopa da Campbell`s, 1962

Barnett Newman,

Pintura amarela, 1944

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Warhol fez da própria obra de arte um objeto de consumo corrente e quase estandardizado. Através da

técnica da serigrafia, imprimiu fotografias nas telas, reproduzindo assim de forma rápida variadas séries e

versões dos seus quadros.

A banalização da arte e a sua identificação com os media

depreendem-se igualmente da obra de um outro americano, Roy

Lichtenstein (1923-1997). Para as suas telas transpôs imagens da

trivial banda desenhada, descontextualizando-as, é certo, mas

apurando a execução técnica através do espesso contorno gráfico e

do pontilhismo provocado pela ampliação das gravuras.

Em Warhol e

Lichtenstein os

críticos pretendem

ver algo mais do que

uma glorificação da

sociedade de consumo, vislumbrando na respetiva obra

uma crítica irónica e jocosa aos padrões da cultura

americana.

A mesma

visão

sarcástica sobre os símbolos e ritos do quotidiano da so-

ciedade de consumo perpassa na pop art inglesa. Richard

Hamilton (1922-2011), Peter Blake (1932), David Hockney

(1937) ou Allen Jones (1937) distinguem-se pelo sense of

humor subtilmente provocatório. O ponto de vista formal,

para além dos processos de impressão utilizados pelos seus

colegas americanos, fazem ainda uso de colagens e da

integração de objetos comuns.

A arte conceptual (anos 60 e 70) Algumas vanguardas dos anos 60 e 70 levaram

às últimas consequências a desmaterialização da

arte. lnspirada no absurdo dadaísta, e

nomeadamente em Duchamp, que afirmava a

superioridade do pensamento do artista em

relação à execução da obra, a chamada arte

conceptual desprezou a existência material da arte.

Já em 1958, o francês Yves Klein (1928-1962)

propusera uma "exposição do vazio" numa galeria

absolutamente despida.

Ao objeto artístico a arte conceptual antepõe o

Roy Lichtenstein, M-Maybe, 1965

Allen Jones, Secretárias a trabalhar, 1972

Joseph Kosuth, Uma e três cadeiras, 1954

Richard Hamilton, Justamente o que

faz os homens tão desejados, 1956

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processo criativo que subjaz à sua execução. Recorre, por isso, com frequência, à escrita e à fotografia,

que documentam o pensamento do artista e, simultaneamente, se elevam à categoria de obras de arte.

Demarcando-se da pop art, que poderia convidar à contemplação

passiva, ou do próprio expressionismo abstrato, que exigia

envolvência emocional ao autor e ao espetador, a arte conceptual

apela à reflexão filosófica, à busca de um sentido, mas sem que o

observador sinta qualquer prazer estético. Trata-se de uma arte que,

mais do que vista, deve ser pensada, pelo que adquire um caráter

algo desconcertante, patente na obra do americano Joseph Kosuth

(1945) ou na do itaIiano Piero Manzoni (1934-1963).

Espalhada pelos EUA e pela Europa, a arte conceptual prolonga-

se numa série de tendências, em que podemos incluir o minimalismo do americano Morris Louis, o

movimento internacional Fluxus, a "pintura sistémica" americana e a "pintura analítica" europeia.

A literatura existencialista

Uma sensação de destruição e vazio, que reflete a crise do antropocentrismo ocidental, atravessou a

literatura dos anos 40 e 50. Em pouco mais de vinte anos, o mundo

vivera o absurdo de duas guerras, as

experiências totalitárias e as crueldades do

Holocausto e sobre ele pairava o terror da

bomba atómica. Como acreditar no homem?

Sob o impulso da filosofia existencialista,

colocava-se, agora, a tónica no sentido da

existência humana. É o Homem um ser

responsável? Pode escolher livremente e sem

constrangimentos o seu caminho? Onde está a

realidade da liberdade humana? A resposta a

estas questões conduziu filósofos como Karl

Jaspers (1883-1969), Martin Heidegger (1889-

1976) ou Jean-Paul Sartre (1905-1980) a inverterem o racionalismo

cartesiano. Afirmaram que, antes de pensar, o indivíduo existe e que é

em torno da sua existência como homem de carne e osso que surgem o desejo de saber, a vontade de

comunicar e a procura da verdade.

Para Sartre, figura de proa do existencialismo, o Homem é obra de si próprio,

produto das suas ações, um ser absolutamente Iivre que constrói o seu projeto

pessoal não como resposta a uma essência, a um ideal ou em nome de uma

moral universal, mas simplesmente como reação aos seus problemas concretos:

"A existência precede a essência" - assim sintetizou Sartre o existencialismo.

Sartre considerava que, num mundo hostil e sem Deus, onde o progresso dera

lugar ao fracasso e a segurança à precariedade, o Homem estava

inexoravelmente condenado à liberdade de encontrar por si próprio um sentido

para a vida. Dessa sua busca permanente nascia a angústia existencial (a náusea,

Morris Louis, Magma na Lona, 1960

“Cogumelo” formada pelo

lançamento da bomba atómica

sobre Nagasaki, 1945

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que forneceu o título a um romance de Sartre), que mais não é do que uma manifestação da Iiberdade da

condição humana.

Nos anos 40 e 50, o existencialismo tornou-se particularmente atraente. A

contingência da existência, o nada, a culpa, a morte, o absurdo preencheram páginas

de obras literárias (ensaios, romances, peças de teatro) de Sartre, Simone de Beauvoir

(1908-1986) e Albert Camus (1913-1960).

A Psicologia e a Psiquiatria sofreram, também, a influência do pensamento

existencialista, tal como o cinema com as suas figuras dos homens revoltados e anti-

heróis, o jazz com as suas improvisações, as artes plásticas com a projeção criadora

do expressionismo abstrato. Até do ponto de vista social, o impacto do existencialismo revelou-se

marcante. Afetou os hábitos de vida dos jovens no pós-guerra, incentivando a crítica aos valores

tradicionais e a busca da liberdade pessoal. Gerou, em suma, uma atmosfera reconhecível na moda e

nos estilos de vida.

O PROGRESSO CIENTÍFICO E A INOVAÇÃO TECNOLÓGICA

Após 1945, o progresso científico e a inovação tecnológica continuam a interagir, prosseguindo o

caminho iniciado em finais do século XIX. Estimulados pela concorrência económica entre as empresas e

pela competição política entre os Estados (veja-se o caso da corrida espacial incentivada pela Guerra Fria),

produzem-se admiráveis avanços científicos e tecnológicos.

A Física, a Química e a Biologia foram as ciências em que se processaram as maiores investigações

teóricas. Os seus efeitos tecnológicos mais marcantes fizeram-se sentir na produção da energia nuclear,

na eletrónica, na informática e na cibernética e, finalmente, nos progressos médicos e alimentares que

prolongaram a vida.

A produção de energia nuclear remonta às investigações de grandes

nomes da Física, como Max Planck (1858-1947), Albert Einstein (1879-1955),

Niels Bohr (1885-1962), Enrico Fermi (1901-1954). Sabemos como foi trágica

a sua primeira aplicação, com as bombas atómicas lançadas sobre o Japão,

em agosto de 1945.

Na década de 50, a energia nuclear conheceu fins pacíficos, permitindo

produzir electricidade, acionar submarinos e navios, revolucionar os sistemas

de diagnóstico

na Medicina

sem o perigo

de absorção de

raios X no

corpo humano,

como é o caso

da tomografia axial computadorizada (TAC).

Máquina de tomografia computorizada

Radiografia: aplicação prática

da energia atómica

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Notáveis progressos ocorreram nos domínios da eletrónica, após a Segunda Guerra Mundial. A

invenção do transístor, que substituiu as válvulas eletrónicas, e do chip ou circuito integrado,

possibilitaram a miniaturização e aperfeiçoamento de

equipamentos que se

tornaram imprescindíveis

no quotidiano de grande

parte da Humanidade - a

rádio, a televisão, os

computadores, os

telefones, os

eletrodomésticos e os

automóveis. O laser, feixe de ondas luminosas de intensidade mil

vezes superior à da luz, veio a ser outra das maravilhas eletrónicas,

com aplicações na medicina, no lar e na guerra, nos suportes de

imagem e de som.

De entre a tecnologia eletrónica, o computador merece uma

referência especial. Registou notáveis avanços, no período de que

nos

ocupa-

mos, permitindo acelerar os cálculos, o

armazenamento, a recuperação e a

distribuição de informação. Na origem da

revolução da informática, que mais não é do

que o tratamento científico da informação, os

computadores tornaram-se indispensáveis na

administração estatal, na gestão contabi-

lística, no controlo de processos industriais, na

triagem de correspondência, na vida

académica, na pesquisa científica.

Os progressos da eletrónica e da

informática interligaram-se com a criação da

inteligência artificial e a expansão da

cibernética. Foram produzidos os robôs, máquinas inteligentes que tomam decisões e se deslocam.

Contribuíram para a automatização da indústria e

para a exploração do

espaço extraterrestre.

Às pesquisas

bioquímicas do século

XX se devem grandes

progressos na medicina

e na alimentação, que

preservaram a vida e a

prolongaram.

ENIAC, 1.º computador do mundo, 1946

Unimates, 1.º robot industrial, 1960

Foguetão Saturno V: lançamento

da Apollo 11 em 1969

Circuito integrado

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Descoberta em 1928 por Alexander Fleming (1881-1955) a penicilina foi produzida industrialmente na

década de 40, permitindo salvar imensas vidas das infeções bacterianas.

Efeito análogo tiveram as vacinas,

tratamentos profiláticos para as

doenças transmitidas pelos

microrganismos (vírus e bactérias).

As décadas de 50 a 70 revelaram-se

particularmente férteis na

obtenção de vacinas responsáveis

pela regressão da poliomielite, do

sarampo e da própria pneumonia.

Os transplantes cardíacos,

iniciados em 1967, registaram uma

taxa razoável de sucessos suscitando, pela complexidade envolvida, a

confiança progressiva na medicina cirúrgica.

Cobertura mediática semelhante à dos transplantes cardíacos teve o nascimento, em 1978, da

primeira criança cuja conceção ocorreu fora do corpo humano, aquilo a que chamamos "fertilização in

vitro". Estava dado um gigantesco passo nas técnicas de reprodução assistida, que conheceram um

grande progresso nas décadas que se seguiram.

Pelas suas repercussões no ramo da biotecnologia', pode dizer-se que a

descoberta, em 1953, da

estrutura do ADN e do código

genético foi das mais atraentes e

controversas do século XX. As

informações genéticas contidas

nos filamentos de ADN auxiliaram

nas pesquisas patológicas (de

doenças hereditárias e de outras,

como o cancro, consideradas

alterações genéticas) e

imunitárias.

Para além da medicina, a ciência salvou muitas vidas pelas investigações que estimulou no campo

alimentar. Ainda na primeira metade do século XX, os cientistas tinham promovido a criação de famílias

de plantas mais fortes e mais produtivas. Resultado de avanços na agronomia, nas técnicas reprodutivas e

na genética viria a iniciar-se, em 1962, a chamada "Revolução Verde" no México, posteriormente alargada

à índia e ao Paquistão. O cultivo de variedades de trigo, milho e arroz, de grande rendimento e resistência

às pragas, converteu-se num

auxiliar precioso para os

agricultores empobrecidos,

solucionando muitas das

carências alimentares.

De facto, se alguns

malefícios têm sido associados

ao progresso científico (caso

da ameaça nuclear, da

Alexander Fleming, inventor da penicilina Jonas Salk, inventor da e um

tipo de vacina contra a

poliomielite, 1952

Christiaan Barnard, foi capa

da revista TIME, em 1967ao

ter realizado o 1.º

transplante do coração

Watson e Francis H. Crick olham para o seu

modelo de ADN, dupla hélice, 1953

Os OGM têm desempenhado um papel importante no combate à fome no mundo.

Serão eles perigosos? Disponível na Internet: http://rpcf-projet.fr/les-ogms-danger/

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poluição, do esgotamento dos recursos naturais, da manipulação genética), o balanço final da evolução

científico-tecnológica é acentuadamente positivo. Mais bens de consumo foram prodigalizados, a

esperança de vida aumentou e a humanidade ficou, como nunca, interligada por uma rede de

comunicações que fez da Terra uma aldeia global.

MEDIA E HÁBITOS SOCIOCULTURAIS

Os novos centros de produção cinematográfica

Nos anos 50 do século XX, novos desafios se colocaram à indústria cinematográfica dos EUA, que

enfrentou a concorrência da televisão e as perseguições de que realizadores atores foram vítimas pela

Comissão de Atividades Antiamericanas. O esplendor dos filmes a cor projetados em ecrãs panorâmicos

e as superproduções musicais, que fascinavam pelas canções e coreografias, contribuíram para

perpetuar a magia do cinema.

Ao mesmo tempo, Hollywood investia em temáticas

socioculturais mais próximas do grande público que frequentava

os cinemas. A pensar nos adolescentes, já que as gerações mais

velhas preferiam o conforto da televisão no lar, muitos filmes

expressaram a rebeldia, a irreverência e a inadaptação dos jovens

dos subúrbios.

Entretanto, novos centros de produção cinematográfica

irrompiam. Na índia, nos estúdios ditos de Bollywood, produziu-se

um cinema-espectáculo, com uma construção musical própria,

que, através de discórdias famiIiares e de amores

contrariados, de peripécias históricas e políticas, preten-

dia transmitir os anseios de uma nação recém-

independente. O cinema japonês revelou-se ao

Ocidente com o filme "Às Portas do Inferno" (1950), de

Akira Kurosawa (1910-1998), uma reflexão sobre a

identidade nacional. No Brasil, nos anos 60, despontou

o chamado cinema novo brasileiro, que teve em Glau-

ber Rocha (1939-1981) o seu maior representante.

A Europa, por sua vez, foi berço de importantes

realizadores e movimentos

cinematográficos. Na Suécia,

revelou-se Ingmar Bergman (1918-2007), autor de grande sensibilidade na

exploração de temáticas intimistas. Na Itália, desenvolveu-se o cinema

neorrealista que contestava o universo artificial dos estúdios. Os filmes

decorriam em cenários naturais, com atores frequentemente não profissionais, e

explorava os pequenos-grandes problemas da gente comum. Salientam-se, na

realização, os nomes de Roberto Rossellini (1906-1977) e Vittorio de Sica (1901-

1974).

Cena do filme “Sétimo Selo” realizada por Ingmar

Bergman, 1957

Akira Kurosawa

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Outro movimento europeu digno de menção nasceu em França, em finais dos anos 50, e partiu de

jovens cineastas (François Truffaut (1932-1984),

Jean-Luc Godard (1930), Claud Chabrol (1930-

2010) e Jacques Rivette (1928), alguns deles

críticos da revista Cahiers du Cinéma. Chamou-

se "Nouvelle Vague" e defendeu o cinema

"como arte”; reivindicando para os realizadores

o título de "autores de filmes': As suas obras evi-

denciam uma narrativa ágil e moderna,

dirigindo-se a um público jovem, intelectual e

cosmopolita que já não se revia no

sentimentalismo e moraIismo dos filmes americanos.

Dinamizado por uma diversidade de países, realizadores e movimentos, merecedor dos mais

variados festivais e prémios, o cinema continuou, no terceiro quartel do século XX, a mobilizar massas e

a despertar paixões, preservando o estatuto digno de Sétima Arte.

O impacto da televisão e da música no quotidiano

A televisão

As primeiras experiências televisivas tiveram lugar, ainda nos anos 30, na Grã-Bretanha, nos EUA,

em França e na Alemanha. O segundo conflito mundial fez parar os esforços desenvolvidos, pelo que só

após 1945 a televisão se junta ao cinema e à

rádio como grande meio de comunicação.

Desde então, os EUA tomam a dianteira no

que toca a progressos tecnológicos que

embaratecem a televisão e a tornam mais

atrativa. É lá que existem mais aparelhos por

habitante e que se passa mais horas em frente à

TV.

Bem cedo, a televisão assumiu-se como um

veículo privilegiado de entretenimento. O horário

nobre mistura comédias estereotipadas, com

risos gravados em fundo sonoro, e séries dramáticas ou de

ação com telenovelas e concursos de dinheiro. São

programas que se destinam a garantir elevado número de

audiências e de receitas através da publicidade. Muitos deles

foram exportados dos EUA, contribuindo para a

disseminação do "american way of life”.

Ao entretenimento, a televisão associou o papel de fonte

de informação e de conhecimento dos grandes

acontecimentos internacionais, como foi o caso da chegada

do homem à Lua, em 1969.

Família americana a assistir pela televisão a um discurso de

Kennedy, 1962

Chegada do homem à Lua em 1969, transmitido em

direto pela televisão

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Cientes do poder da TV, os políticos não a negligenciaram. Desde a campanha presidencial americana

de 1960, ficou provado o impacto da televisão nos comportamentos eleitorais. Pode dizer-se que o

vencedor se decidiu nos debates televisivos

diretos, em que um John Kennedy (1917-

1963) vigoroso, determinado e bem-parecido

deitou por terra o candidato republicano,

Richard Nixon (1913-1994), que se mostrou

acabrunhado e em baixa forma física. Nascia

a figura do político telegénico.

A própria guerra do Vietname (1964-1973)

teve um desfecho que muito ficou a dever à

televisão. Quando os Americanos se

confrontaram com as imagens

avassaladoras da chegada dos caixões com

os seus soldados ou dos bombardeamentos de napalm, a guerra passou a travar-se também com a

opinião pública e o

presidente Lyndon Johnson

(1908-1973) sentiu-se

obrigado a iniciar

negociações para resolver o

conflito.

Poderosa e

manipuladora, acusada de

provocar o declínio da

leitura e da frequência das

salas de cinema, a TV

permaneceu o media que

mais necessidades satisfez até fins do século XX, divertindo,

informando, suscitando emoções e rompendo a barreira do isolamento.

A música

O protagonismo dos jovens nas sociedades ocidentais do pós-guerra e as maravilhas da eletrónica

contribuíram para a popularidade da música ligeira a partir dos anos 50. Em particular o rock and roll,

com o seu gestual erótico e o seu ritmo enérgico e vibrante, em tudo afastado da linha melódica e

adocicada da canção dos anos 40, parecia ser a música que melhor exprimia a

rebeldia e o anticonformismo de uma nova juventude, apostada em se

demarcar das gerações paternas.

O rock and roll, que combinava os ritmos afro-americanos com a música

country branca, conheceu o seu primeiro grande êxito nos EUA, em 1955, com

Rock Around the Clock, cantado por BiII Haley (1925-1981). Um ano depois,

também nos EUA, emergiu a primeira superestrela do rock and roll: Elvis Presley

(1935-1977). O "rei do rock”; como ficou conhecido, cantava com notável vigor

físico e, fazendo rodar as ancas, produzia um resultado sexualmente eletrizante.

Imagens da Guerra do Vietnam, fuga após bombardeamento de napalm, 1972

A série televisiva Bonanza que ocupou o imaginário

dos telespectadores americanos entre 1959 e 1973

A série televisiva O fugitivo que

ocupou o imaginário dos

telespectadores americanos entre

1963 e 1969

Elvis Presley, O rei do

rock and roll

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Até 1962, as estrelas americanas brilharam no panorama do rock and roll. Naquele ano, a situação

mudou com o aparecimento dos Beatles, um grupo britânico de Liverpool que, durante 8 anos, construiu

uma das mais fulgurantes carreiras de que há memória na música

ligeira. Influenciados pelos ritmos americanos que ouviam os

marinheiros da sua cidade natal entoar, os Beatles produziram uma

música original, com arranjos diversificados, sons eletrónicos e

letras de apreciável criatividade. No fim do verão de 1963, as suas

músicas ocupavam os lugares cimeiros dos tops britânicos e, no

ano seguinte, a juventude

americana rendia-se

completamente à

beatlemania. No decorrer da

tournée efetuada nos EUA, o

quarteto britânico era

cercado por multidões de fãs

aos gritos, fosse durante os espetáculos (quase inaudíveis), nos

hotéis ou nos aeroportos.

Os Rolling Stones, outro êxito da música britânica, criaram uma

imagem de "perigosos degenerados”; que se coadunava com 0

espírito irreverente do rock.

Ainda no decurso da década de 60, cantores como Bob Dylan

(1941), Joan Baez (1941) e Donovan (1946), promoveram, nos

EUA, a aproximação do rock à música folk. A canção converteu-se

em instrumento de crítica social e política, denunciando a pobreza,

o racismo, a destruição da Natureza, as armas nucleares e a guerra

do Vietname. O rock continuava a assumir-se como um dos pilares

da contestação juvenil.

A hegemonia dos hábitos socioculturais norte-americanos

No pós-Segunda Guerra Mundial, os EUA fascinavam pela prosperidade económica e pela sociedade

da abundância, pelos avanços tecnológicos, pelo dinamismo artístico e cultural.

Os filmes de Hollywood e os programas de TV difundiam os valores e os estereótipos do "american

way of life". O rock and roll e as suas estrelas americanas mereciam do resto do mundo o mesmo

entusiasmo que as vedetas de cinema.

Para os pequeno-burgueses, que

conheceram as dificuldades dos anos da

guerra, possuir uma casa individual, com

uma cozinha apetrechada com ele-

trodomésticos, uma sala de estar com TV

e ter um carro na garagem eram sonhos

que faziam viver. As donas de casa

rendiam-se aos cafés solúveis, às sopas

instantâneas e às comidas previamente

Capa do álbum Abbey Road dos Beatles,

1969

Capa do álbum dos Let it Bleed dos Rolling

Stones, 1969

Joan Baez e Bob Dylon Stones, 1969

“American way of life”, 1960

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cozinhadas que lhes aliviavam a "escravatura" do lar. Apesar de criticada pelos conservadores, a Coca-

Cola tornou-se a bebida

favorita. O "fast-food"

expandiu-se pelo mundo.

Até Jean Paul Sartre (1905-

1980), como nos conta a sua

companheira Simone de

Beauvoir (1908-1986), ex-

perimentou uma alegria

enorme quando, terminada a

Segunda Guerra, lhe foi

oferecida oportunidade de

visitar os EUA.

Alterações na estrutura social e nos comportamentos

A terciarização da sociedade

A expansão económica dos "Trinta Gloriosos" anos do segundo pós-guerra repercutiu-se na estrutura

da população ativa. Nos países capitalistas liberais,

a mecanização, a pesquisa agronómica e

zoológica, a utilização cada vez maior de adubos e

as práticas de irrigação conduziram a uma

produtividade sem precedente dos solos, que

permitiu elevadas exportações. Os progressos

técnicos tornaram desnecessários muitos dos

agricultores. O setor primário recuou de tal modo

que se anunciou a "morte do campesinato.

A aceleração do êxodo rural conduziu ao

aumento da população urbana. Nos países

desenvolvidos, as massas rurais e os imigrantes

encontraram emprego na indústria, a atividade

responsável pela criação do maior número de

riqueza, em virtude de uma intensificação do ritmo de

trabalho. No entanto, os trabalhadores empregues no

sector secundário não registaram um aumento

significativo devido à automação do fabrico industrial.

Foi para o sector terciário que grande parte da

população ativa se deslocou, pelo que a terciarização é

a característica mais relevante a assinalar na evolução

social do mundo desenvolvido, durante as três décadas

de prosperidade.

A explosão do terciário também se relacionou com

Típico escritório americano de uma companhia de seguros,

1960: imagem retirada do filme O Apartamento, realizado

por Jeffrey Sheldrake, 1960

Trabalhadores da Fábrica de Fiação de Tecidos de

Santo Tirso, 1960

Funcionária pública a operar com máquina de

recenseamento, 1960

Coca-Cola tornou-se um símbola

do “American way of live”

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uma subida de qualificação das massas trabalhadoras, devida ao aumento da escolaridade. Naquele setor

em expansão, que contava cada vez mais com o universo feminino nas suas fileiras, os empregados

encontravam trabalho como funcionários do Estado, como quadros técnicos e empregados de escritório

das empresas industriais, como trabalhadores do comércio, da publicidade dos transportes, dos media,

dos bancos, das forças de segurança ou ainda nos setores ligados à educação, à saúde e ao lazer.

Os anos 60 e a gestação de uma nova mentalidade

Movimentos contraditórios atravessam a civilização ocidental nos anos 60. Por um lado, elogia-se a

prosperidade, o bem-estar e o consumismo das sociedades desenvolvidas. Por outro, critica-se o

individualismo, a desumanização e o

materialismo do capitalismo. No ar

paira o medo de um conflito nuclear,

que nunca esteve tão próximo como

em 1962, aquando da crise dos mísseis

de Cuba.

Muitos são os que buscam uma

resposta para os descontentamentos e

as inquietações. A Igreja Católica

procura adaptar-se aos novos tempos.

O Concílio Vaticano II reunido sob a

iniciativa de João XXIII (1881-1963) e

terminado sob o pontificado de Paulo VI (1897-1978), aborda questões relacionadas com a Guerra Fria, a

promoção da paz, a desigualdade entre homens e povos, a par de assuntos especificamente religiosos,

como o celibato dos padres, a celebração da missa nas línguas nacionais e o diálogo com as várias

religiões cristãs.

O ecumenismo ficou como uma das heranças do Concílio e, desde então, reconhecem-se os esforços

para esbater os dissídios e procurar a concórdia entre a família cristã, considerada primordial no

processo de entendimento entre os homens. Todavia, os resultados ficaram aquém das expectativas. Em

matéria de costumes e moral (como os relacionados com a contraceção) e de dogmas (como o do

celibato), a Igreja Católica manteve-se conservadora, não conseguindo

deter a vaga de descristianização.

Nos anos 60, com efeito, outras bandeiras, que não as da religião, e

outros referentes

ideológicos motivavam

a Humanidade: a

proteção da Natureza,

a igualdade de direitos

entre brancos e povos de cor e entre homens mulheres,

o pacifismo, a reforma do sistema educativo e a

liberdade sexual.

Depressa a comunidade científica e os leigos se

aperceberam do alto preço a pagar pelos progressos

tecnológicos. Acidentes em centrais atómica,

Concílio Vaticano II, 1962-1965

Papa Paulo VI

Protesto dos fundadores da Greenpeace contra os

testes nucleares americanos, 1971

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contaminações químicas mortais, que punham em risco homens e

ecossistemas, o superpovoamento do planeta, alertaram para a

necessidade redução das experiências nucleares e para o

problema da poluição e do esgotamento dos recursos naturais.

Um conjunto de organizações ("Greenpeace") e de iniciativas

sucederam-se desde os anos 60, com o objetivo de controlar o

crescimento o económico e de garantir a proteção ambiental.

Nascia a ecologia.

O baby-boom do pós-guerra determinou, nos anos 60, a

existência, no mundo ocidental, de um excedente considerável de

jovens. Nos EUA, por exemplo, mais de metade da população

tinha, a meio da década, idade inferior a 30 anos.

Procurando um estilo de vida alternativo ao dos progenitores,

os jovens protagonizaram um poderoso movimento de

contestação. Nos Estados Unidos da América, as universidades de

Berkeley, em São Francisco, e

de Columbia, em Nova lorque,

foram ocupadas, em 1964, pelos estudantes que exigiam mudanças

radicais no funcionamento dos cursos e se mostravam atentos aos

grandes problemas que os cercavam. Apoiavam ativamente a luta dos

negros pela conquista dos direitos cívicos, a emancipação da mulher e

envolviam-se no vasto movimento pacifista contra a participação dos

Estados Unidos na guerra do Vietname (1964-1973).

Em 1968, Paris tornou-se o epicentro de uma revolta estudantil

sem precedentes que atingiu a Europa. Foi o "Maio de 68” que se

iniciou na Universidade de Nanterre e logo atingiu a Sorbonne. O

Quartier Latin transformou-se num verdadeiro campo de batalha entre

os estudantes barricados e as forças da ordem. Tendo por referentes as figuras revolucionárias de Fidel

Castro (1926), Che Guevara (1928-1967) e Mao Tsé-Tung (1893-1976), os estudantes denunciavam a falta

de condições das universidades, onde os

professores e as instalações escasseavam face ao

boom de inscrições; simultaneamente, clamavam

contra a guerra do Vietname, o imperialismo

americano e o totalitarismo soviético. A crise

ganhou rapidamente foros de sublevação social e

política, quando, a 13 de maio, explodiram as

greves e ocupações de fábricas e, posteriormente

presidente De Gaulle (1890-1970) ameaçou

demitir-se.

Apesar de fracassado, pela reposição pronta

da ordem, o "Maio de 68" tornou-se o símbolo

de um combate em que se amalgamaram o conflito de gerações, o descontentamento social e a reação

ao autoritarismo. Por isso, as suas repercussões extravasaram o Ocidente democrático e capitaIista, para

Martin Luther King, a proferir o

famoso discurso “I have a

dream”, 1963

Geração Baby-boom, Wostock, 1969

Protesto de estudantes, “Maio 68”,

em França

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também se fazerem sentir na cidade de Praga

que, nesse mesmo ano de 1968, se revoltou

contra a invasão soviética.

Uma outra faceta da contestação juvenil fez-

se sentir na revolução dos costumes

desencadeada pelo movimento hippie, que teve

o seu coração nas cidades de Los Angeles e São

Francisco, na Califórnia. Abandonando os lares

paternos, os jovens levavam uma vida

alternativa em comunas. Adeptos da liberdade

sexual, do amor livre e amantes da paz ("make

love, not war" foi o seu slogan preferido), os

hippies evidenciavam total despojamento e

despreocupação, visíveis no vestuário leve, colorido e florido, nos cabelos soltos e compridos, nos pés

frequentemente descalços, no consumo de drogas alucinogénicas que os "libertavam" da Terra e

conduziam ao "paraíso"...

Afirmação dos direitos da mulher

A entrada em massa de mulheres no mercado de trabalho e a expansão da educação superior

conferiram ao sexo feminino uma crescente

visibilidade social e cultural. Ao longo dos

anos 60, os movimentos feministas, que

haviam marcado as primeiras décadas do

século com as suas ações sufragistas,

receberam um impulso notável,

convertendo-se em instrumento de

emancipação das mulheres.

Por entre manifestações, marchas de

protesto e campanhas de pressão junto dos

órgãos do Governo, o feminismo dos anos

60 tornou-se particularmente ativo na luta

pela igualdade de direitos da mulher. Essa

igualdade pretendeu-se civil (em muitos países, a mulher casada era considerada um ser juridicamente

inferior e submetida à tutela do marido.. .), no trabalho (onde as mulheres eram alvo de discriminação

salarial, para já não falar na ausência generalizada de proteção à maternidade) e na vida afetiva

(reivindicando a realização da mulher enquanto mulher e não apenas como esposa submissa e mãe

abnegada).

Foi no contexto da luta pela igualdade afetiva da mulher que ocorreram as ações mais mediáticas do

movimento feminista. Citam-se as campanhas pela contraceção, pelo direito ao divórcio e ao aborto, que

mobilizaram a opinião pública, adquirindo um cariz de "revolução sexual" efetuada no feminino.

Mulheres lutam contra leis anti-aborto, Washington, 1971

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A CULTURA NO MUNDO ATUAL

Dimensões da ciência e da cultura no contexto da globalização

Primado da ciência e da inovação tecnológica

A economia globalizada, que se constrói a partir dos anos 80, estimula a investigação científica e a

inovação tecnológica que dela resulta. Rentabilizar recursos humanos e materiais, gerir empresas,

dominar mercados, controlar a informação, melhorar a qualidade de vida das populações, sem a qual o

consumo declinaria, tornam-se objetivos que o capitalismo neoliberal persegue.

Governos e entidades privadas investem

significativamente na ciência e na tecnologia, tendo em

conta a obtenção de melhores desempenhos na

educação, no exercício profissional e na produção

de bens e serviços. Assim incentivados, os

progressos, tão férteis já no 3.º quartel do século XX

aceleram-se nas últimas décadas. E todos parecem

interessar-se por eles. O mundo dos

computadores, da Internet, da realidade virtual e dos

telemóveis, as questões relativas ao ADN, ao

genoma e à clonagem, à biodiversidade e ao aquecimento global enchem as páginas dos jornais e das

revistas e abrem noticiários televisivos. Os livros de vulgarização científica, antes em número pouco

significativo, tornam-se comuns nas livrarias. Tratando-se de assuntos que afetam a vida à escala

planetária, dificilmente lhes ficamos indiferentes.

Nos domínios da eletrónica, da informática, da comunicação e das biotecnologias produziram-se as

mais marcantes conquistas técnico-científicas. De tal forma a vida da Humanidade se viu

irreversivelmente alterada que os especialistas não hesitam em afirmar que entramos na era da 3.ª re-

volução industrial.

Eletrónica, informática, revolução da comunicação

Aos progressos da eletrónica se deve uma

autêntica revolução nas indústrias da eletrónica,

de automóveis e aeroespacial. A eletrónica, não

esqueçamos, constitui o suporte físico da

informática que, desde os anos 80, com a

introdução do computador pessoal nas empresas e

nos lares, altera todos os domínios da vida

humana: da robotização da produção às transações

comerciais, bancárias e financeiras; da gestão

económica aos serviços administrativos; da

regulação dos transportes e do trânsito aos meios de diagnóstico médico e aos lazeres.

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Da eletrónica e da informática deriva a revolução da informação e da comunicação que é uma das

marcas do nosso tempo. Através das chamadas autoestradas da comunicação

(retransmissores de televisão, satélites civis, rede Internet, sistemas de

orientação geográfica como o GPS, cabos de fibra ótica) chega-nos uma profusão

de informações sob a forma de palavras,

imagens e sons, que podemos ler, ver e

ouvir nos mais variados suportes: aparelhos

de rádio e televisão, vulgares telemóveis,

smartphones, computadores, tablets. Em 2010, cerca de 2 mil milhões de pessoas, isto é, quase 30% da

população mundial, estavam ligadas à Internet, na qual, desde 2004,

florescem as redes sociais. Nos mais diversos cantos da terra, circulam em simultâneo as mesmas

informações e saberes, sejam os eventos políticos, as cotações bolsistas, as novidades culturais e do

mundo artístico ou as facetas da vida pessoal. O mundo em que vivemos é, com efeito, o da sociedade

da informação e comunicação, também conhecido por "aldeia global". Um mundo cada vez mais

uniformizado nos gostos e padrões culturais, com as Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC)

a converterem-se em instrumento privilegiado da globalização.

Ciência e desafios éticos: a Biotecnologia

O último quartel do século XX assistiu à explosão das ciências ligadas à vida de um modo tão intenso

que, no início do novo milénio, a biotecnologia surge, a par da informática e da eletrónica, como uma

área decisiva do desenvolvimento tecnológico.

A evolução das ciências biológicas interliga-se, aliás, com o progresso da eletrónica e da informática.

Foram estas tecnologias que permitiram o estudo dos organismos a um nível molecular e que

possibilitaram o tratamento da enorme

quantidade de dados com que lida a

microbiologia. Como pontos-chave na

evolução das ciências biológicas

consideram-se a produção de ADN

recombinante, a invenção da tecnologia de

sequenciação genética e a descoberta da

reação em cadeia da polimerase.

Em consequência, os avanços na

genética precipitaram-se: desvendaram-se

códigos genéticos, incluindo o genoma

humano; produziram-se organismos

geneticamente modificados, como é o caso

dos transgénicos; clonaram-se plantas e

animais; transformou-se a produção

alimentar; aprendeu-se a intervir de forma

mais racional na resolução dos problemas

ambientais e progrediu-se no tratamento

Disponível na Internet:

http://pt.slideshare.net/elidamarnunes/aplicaes-da-biotecnologia

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das doenças.

A genética abre agora caminho à hegemonia da medicina preventiva e terapêutica, havendo esperança

de que o uso de células embrionárias (células estaminais) permita

a regeneração de órgãos e a cura de doenças degenerativas. As

células estaminais têm o potencial para se transformar em

qualquer tipo de célula do corpo.

Os progressos da genética exercem grande impacto

mediático. Suscitam tanto a admiração como a desconfiança,

dado que remetem para as complexas fronteiras da ciência, da

religião e da ética. Políticos, homens da Igreja, cientistas e

vulgares cidadãos interrogam-se, com efeito, sobre os limites da

ciência. Será

admissível criar

embriões para

produzir células estaminais? Não poderá uma previsível

clonagem humana abrir a porta a um controlo eugénico que

faz lembrar a seleção racial?

Face à impossibilidade de obter consensos e de travar a

pesquisa científica, prestigiadas organizações, como o

Conselho da Europa e o Parlamento Europeu, reiteram a

necessidade de um exercício responsável e ético da ciência

para que a dignidade humana seja respeitada.

Declínio das vanguardas e pós-modernismo

Os anos 80 assistem a uma reação curiosa relativamente aos propósitos vanguardistas que

envolveram as artes plásticas na década anterior. Critica-se a falta de inspiração criativa, de sentimento

e de alma por parte dos artistas conceptuais da década anterior, de tão empenhados que estavam em

apenas suscitar no observador complexas operações mentais e reflexões filosóficas.

Surge, então, uma arte mais autêntica e intensa, liberta de convenções e seguidismos vanguardistas.

Nos anos 90, o pós-modernismo, propõe-se revitalizar a arte, incorporando diferentes contributos e

estilos do passado, que se lhe afiguram como alternativas potencialmente válidas para o presente. Num

exercício de ecletismo e de pluralismo, a que muitos chamam anarquismo estético, podemos ver os

artistas pós-modernistas recuperarem a figuração, proporcionando uma arte percetível pelos sentidos;

a integrarem, nas suas obras, referências expressionistas, abstratas, futuristas, dadaístas ou

surrealistas; ou, ainda, a prolongarem a pop art, que consideram a primeira forma de arte pós-

modernista, já que, não conceptualizando, se limitava à reprodução, real ou deformada, da realidade

visível.

Neoexpressionismo e transvanguarda

Na Alemanha, um conjunto de pintores, de que se destacam Georg Baselitz (1938), A. R. Penk (1939),

Anselm Kiefer (1945) e Jörg Immendorff (1945-2007), fazem renascer a herança do movimento

Disponível na Internet:

http://www.lookfordiagnosis.com/mesh_info.ph

p?term=Biotecnologia&lang=3-da-biotecnologia

Criador e criatura: Wilmut alimenta sua ovelha

favorita. Disponível na Internet: http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL7043-5603,00-

PAI+DE+DOLLY+FALA+SOBRE+FUTURO+DA+CLONAGEM.html

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expressionista "Die Brücke”, apresentando uma pintura

figurativa com formas distorcidas e cores dissonantes. É o

chamado neoexpressionismo.

Em Itália, o

neoexpressionismo

encontra o seu

correspondente na

transvanguarda,

protagonizada,

entre outros, por

Sandro Chia

(1946), Enzo Cucchi

(1949), Mimmo

Paladino (1948) e Francesco Clemente (1952). Inspira dos nas

mais diversas correntes, estes artistas produzem uma pintura

em que as figuras deformadas e grotescas se revelam

fortemente perturbadoras.

Outras formas de expressão artística

Eclética, como já dissemos, a arte pós-moderna rompe fronteiras entre estilos e manifestações

artísticas, empenhando-se, inclusive, na via da interdisciplinaridade. O conceito de arte amplia-se.

Em Nova lorque, desde os anos 80, e, mais

tarde, na Europa emergem, nos corredores do

metropolitano e nos bairros degradados, grafitos

realizados, maioritariamente, por jovens oriundos

da comunidade negra. Sem intenção de

constituírem arte, mas tão-só de marcar um

território nas paredes, a verdade é que os

grafitos rapidamente se convertem em objeto

artístico digno

das galerias e

dos museus de

Manhattan. A experimentação artística prossegue nos anos 90. Surge uma arte

vídeo que

dispensa quer a

narração de tipo

cinematográfico,

quer a articulação

lógica entre as

imagens. Fá-Ias

suceder,

repetidas,

Jorg Immerdorff, Café Deutschland, 1984

Sandro Chia, Pão e Vinho , 1984

Dondi White, Grafiitti no Metro, 1980

Disponível na Internet:

http://ograndesign.blogspot.pt/2013/04/arte-e-fome-doinconsciente-

sendo.html

Disponível na Internet:

https://rafabee.wordpress.com/2011/03/22/v

ideo-arte/

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sobrepostas, sem nexo, de um modo frenético. Surrealistas e

futuristas teriam, certamente, apreciado.

O computador, por sua vez, transforma-se em precioso

auxiliar artístico. As

imagens virtuais

nele produzidas

revolucionam os

efeitos especiais no

cinema,

beneficiando os

filmes de ficção científica e o cinema de animação.

Em finais do século XX, a arte tenta, efetivamente, todas as

experiências, num afã de colaboração que a leva ao mundo da

moda e do design, do cinema e do espetáculo. Se a arte é vida,

nada há que não seja arte. E, como diz Anna-Carola Krauße, até o

nada, talvez, seja arte.

Dinamismos socioculturais

Revivescência do fervor religioso e perda de autoridade das Igrejas

No mundo ocidental, há um século atrás, acreditava-se

que os progressos científico-tecnológicos e a crescente

laicização da sociedade fariam recuar a Fé e provocar,

até, a "morte de Deus". O número de praticantes do

Cristianismo diminuiu. No que se refere à Igreja

Católica, há menos devotos na missa, uma menor

procura dos sacramentos bem como uma escassez das

ordenações sacerdotais. É com desagrado que as

hierarquias veem os homens e as leis civis a violarem

os preceitos que

condenam: a

contraceção e o

aborto, o divórcio e

as uniões

homossexuais. Dir-

se-á haver uma crise de autoridade da Igreja Católica que, à semelhança

de Igrejas Protestantes, ainda enfrenta escândalos sexuais.

Apesar deste quadro, assistiu-se, desde as últimas décadas do século

XX, a uma revivescência do fervor religioso no Ocidente. Papas como

João Paulo II (1920-2005) e Francisco (n. 1936), galvanizam multidões.

Nos EUA, pátria do capitalismo e da inovação técnica e científica,

consolidou-se um fundamentalismo cristão entre os protestantes

Disponível na Internet:

http://casa-atelier.com/moda-e-arte-juntas/

Disponível na Internet:

http://www.catho.com.br/carreira-

sucesso/noticias/o-que-e-arte-digital

Encontro entre o Papa emérito Bento XVI e o Papa

Franciscico, 2013 Disponível na Internet: http://papa.cancaonova.com/francisco-visita-bento-xvi-

para-as-felicitacoes-natalinas/

Ataque às torres Gémeas, Nova

Iorque, 11 de setembro de 2001

Disponível na Internet: http://maimagazine.net/o-inferno-do-11-de-

setembro/

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evangélicos, que acreditam na autoridade absoluta da Bíblia. Conservadores e adversários da laicização da

sociedade tiveram um papel importante nas eleições

de Ronald Reagan (1911-2004) e, posteriormente, de

G. W. Bush (1946).

Pelo mundo fora, aliás, o fundamentalismo religioso

tem ascendido. Entre os muçulmanos, por exemplo, há

forças e partidos que se apoiam na religião para

condicionarem a vida social e a organização política.

Em conjugação com outros fatores, a interpretação

estrita dos textos religiosos derivou no radicalismo

islâmico, que defende a tradição e propugna pelo

combate às influências ocidentais.

Individualismo moral e novas formas de associativismo

Não sem razão se acusam as sociedades desenvolvidas de uma obsessão pelo consumo que as faz

mais egoístas que solidárias. O individualismo campeia nas famílias, nas relações de vizinhança e de

trabalho, nos comportamentos políticos, sindicais e

religiosos.

Se alguns sociólogos consideram a sociedade pouco

empenhada civicamente e disso culpam a globalização

económica, pelas suas solicitações materiais, outros,

porém, distinguem sinais indesmentíveis de revitalização

das sociedades civis. E apontam, como exemplo, o

aparecimento de novas formas de associativismo, que

pretendem responder à crise do Estado-Providência e à

exclusão social decorrentes da referida globalização, ao im-

pacto devastador de muitos conflitos armados que

enxameiam a cena mundial, à degradação do planeta...

Nas últimas décadas, com efeito, a mobilização

associativa sobressai, no mundo ocidental, como um

espaço onde se experimentam formas de luta contra a

pobreza e se afirmam novas solidariedades. Cresce o

número de associações ambientalistas, de acolhimento

aos refugiados, para a integração de imigrantes, para a

luta contra o racismo e a xenofobia, para a defesa dos

direitos das mulheres e das crianças, para a prestação

de cuidados de saúde e de apoio alimentar; de clubes

da terceira idade; de ligas protetoras dos animais; de

organizações desportivas, culturais, de lazer, de

salvaguarda do património...

De forma silenciosa ou com aparato mediático, o

Combatentes do Estado Islâmico, na cidade síria de Raqqa Disponível na Internet: http://www.publico.pt/mundo/noticia/cameron-defende-

opcao-militar-para-travar-expansao-do-estado-islamico-1666745

O individualismo como consequência da

globalização Disponível na Internet:

http://depredando.blogspot.pt/2012/12/beneficios-privados-prejuizos-

publicos.html

Associativismo como resposta aos problemas gerados

pela globalização Disponível na Internet: http://jornalc.pt/cerveira-prolonga-prazo-para-candidaturas-

concessao-de-apoios-associacoes-concelho/

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associativismo mobiIiza a sociedade civil num exercício saudável de cidadania. Contra os profetas da

desgraça, a Humanidade mostra-se capaz de protagonizar grandes causas, provando que solidariedade e

fraternidade não são palavras vãs.

Hegemonia da cultura urbana

A sociedade global tece-se de permanentes fluxos: e de pessoas e de bens, de conhecimentos e de

referentes culturais que os novos meios de comunicação transmitem à velocidade da luz. A

multiculturalidade domina as sociedades desenvolvidas e, muito em particular, a sua paisagem urbana. Novas

manifestações

culturais, ligadas

ao espetáculo, à

música e ao

desporto,

elegeram as

cidades como

palco nas últimas

décadas. São os

jovens quem

protagoniza muitas destas formas de cultura urbana. Oriundos dos subúrbios e com fortes ligações às

minorias étnicas, animam as ruas com os seus skates ou patins em Iinha, os ritmos do rap e da

breakdance, os seus grafitos e tags. Eis

os traços mais comuns da cultura hip-

hop, que nasceu nos bairros negros de

Nova lorque, nos anos 70, e se

espalhou pela Europa na década

seguinte. Com as suas histórias de rua,

narrativas de droga, violência e crime

e, sobretudo, pelo seu espírito de

conflito com o sistema, o rap

converteu-se numa espécie de poesia

urbana que expressa a revolta da juventude. Por isso foi rapidamente absorvido por outras naturalidades

e etnias.

Outras formas de cultura urbana

derivam da tecnologia. A cultura techno,

associada à música produzida por

síntese sonora a partir de sons

reapropriados de CD ou faixas de vinil,

nasce nos anos 80 em Detroit e de-

pressa galga as fronteiras dos EUA. A

tecnologia conduz ainda muitos jovens

ao mundo do ciberespaço, como os

otakus japoneses, obcecados com as suas consolas de vídeo.

Principais ingredientes do Hip-Hop Disponível na Internet: http://blog.djkingstun.com/

Disponível na Internet: http://www.evarapdiva.com/

Jovem adepto da cultura otakus rodeado por

imagens de banda desenhada Disponível na Internet: http://meepcraft.com/threads/how-much-of-

a-weeaboo-otaku-are-you.31823/page-2

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Cultura urbana é também a moda, com a imaginação quase delirante dos desfiles; o cinema, a

eterna fábrica de sonhos; o teatro com a magia do palco; os espetáculos desportivos com a inevitável

adrenalina, os rituais de consumo nas atraentes superfícies de que não se consegue fugir. Finalmente,

cultura urbana continua a ser a dos museus e galerias com as suas exposições, a dos concertos, a dos

quiosques e livrarias, a dos inúmeros gestos da vida social, feita de encontros e desencontros.

Couto, Célia Pinto de; Antónia, Maria; Rosas, Monterroso. Um Novo tempo da História. Porto Editora,

Porto, sd. Adaptado