a cultura afro-brasileira no projeto … segregação racial é uma realidade que vem sido discutida...
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A CULTURA AFRO-BRASILEIRA NO PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO DO
PROEJA QUILOMBOLA DO IFPA/CASTANHAL
Carolina Ferreira de Azevedo
Ana Paula de Mesquita Sampaio
RESUMO
A segregação racial é uma realidade que vem sido discutida nos tempos atuais, por meio das
lutas de grupos desfavorecidos, oriundos da escravidão africana. Como forma de combate ao
preconceito e discriminação, a Lei 10.639/03 estabelece o Ensino-aprendizagem sobre a
História da África nos currículos escolares para a reflexão e formação crítica dos alunos às
questões raciais. Neste sentido, a presente pesquisa tem como objetivo descrever como a
cultura afro-brasileira é discutida no PROEJA Quilombola do Instituto Federal do Pará –
campus Castanhal. Para tanto, foi realizado um estudo de cunho descritivo, caracterizando-se
como tipo documental, de enfoque crítico-dialético e abordagem qualitativa, através de seu
Projeto Político-pedagógico, tendo como suporte a análise de conteúdo. Os resultados
apontam para a carência da Educação Física no referido Projeto Político-pedagógico através
da ausência da disciplina no mencionado documento relacionado a questões étnicorraciais.
Em contrapartida, a valorização e a inclusão das culturas é fortemente presente, sugerindo-se
lançar propostas em prol do fortalecimento da Educação Física no citado documento como
forma de valorização étnicorracial.
Palavras-Chaves: Diretrizes Curriculares; Quilombolas; Lei 10.639/03; Educação Física;
Cultura afro-brasileira e educação.
INTRODUÇÃO
A questão cultural afro-brasileira carrega em sua bagagem a questão de comunidades
quilombolas como uma de suas peculiaridades. Na maioria das vezes, são defendidos na
historiografia e em movimentos sociais como forma de preservação e designação a posse
étnica dos grupos denominados com exclusividade negra, originários da escravidão e da
resistência, porém com direitos social, cultural e educacional.A cultura faz parte dos costumes
e tradições de cada grupo social, e de acordo com as necessidades educacionais, os grupos de
quilombolas existentes no Estado do Pará encontram dificuldades de inserção no contexto
escolar devido à deficiência de métodos utilizados que possibilitem uma educação inclusiva e
que valorizem os aspectos culturais desses grupos. (SCHMITT, 2002).
Acadêmica do Curso de Lic. Plena em Educação Física da Universidade do Estado do Pará
(UEPA); e-mail: [email protected].
Orientadora - Mestre,docente da Universidade do Estado do Pará (UEPA).
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O IFPA/Castanhal possui a turma do PROEJA (Programa de Educação para Jovens e
Adultos) Quilombola para garantir um currículo em que a valorização da cultura afro-
brasileira seja certificada. Através da coordenação do referido programa onde os alunos são
oriundos de comunidades quilombolas de diversos municípios, o instituto proporciona o
Ensino Médio integrado com o curso técnico em regime presencial e à distância
simultaneamente, onde os mesmos passam vinte dias morando e estudando na escola e outros
vinte dias em sua comunidade (SILVA;VAZ,2011).
Essa identificação e reconhecimento das comunidades na atualidade é uma questão forte
relacionada à perda da identidade quilombola, onde o mesmo entrando em contato com outras
culturas, deixando-se envolver descaracterizando seu grupo social e a escola é um espaço para
a atuação desta importância.
Buscou-se através do exercício profissional analisar como está inserida a cultura afro-
brasileira referente à turma denominada de PROEJA Quilombola no Projeto Político-
pedagógico do Instituto Federal do Pará campus Castanhal, identificando as peculiaridades
referentes à cultura afro-brasileira, descrevendo a elaboração dos conteúdos referentes à
mesma e sua importância neste contexto, propondo a inserção da Educação Física como uma
forma estratégica de inclusão no cenário escolar.
Foi realizada uma pesquisa de cunho descritivo, caracterizando como tipo documental,
de enfoque crítico-dialético e abordagem qualitativa, sobre seu Projeto Político-pedagógico,
como referência para a análise de conteúdo.
A referente pesquisa possui grande relevância sobre a efetuação das Diretrizes
Curriculares das Relações étnicorraciais, paralelamente a Lei 10.639/03, pois busca a
valorização da cultura afro-brasileira na conjuntura escolar.
A ESCRAVIDÃO AFRICANA: HISTÓRIA MARCADA POR REPRESSÕES E
RESISTÊNCIAS
A escravidão no Brasil iniciou-se com a exploração dos portugueses aos índios.
Paralelamente ao processo de desterritorialização, os mesmos lutaram até a morte ou fugiram
contra a opressão dos colonizadores até meados do século VIII. Devido às dificuldades
encontradas sobre a exploração indígena, os lusitanos buscaram mão-de-obra no continente
africano, começando uma nova história de exploração e exclusão social (ALGRANTI, 1988).
Nas senzalas, existiam escravos de diferentes regiões africanas, que possuíam costumes,
idiomas e crenças religiosas distintas, e muitas dessas culturas foram se perdendo ao se
relacionarem com outras,e a miscigenação como sendo um dos mecanismos para a
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sobrevivência cultural africana no Brasil,como um refúgio à repressão. Em meio ao
sofrimento os escravos encontraram uma forma de inspiração para sustentar sua subjetividade
(MATTOSO, 2003).
Fugas individuais, formação de quilombos e abortos (para que as crianças não fossem
contidas à escravidão) foram elaborações de reproduções de liberdade, como soluções de sua
própria humanidade. Também agiram por motivações coletivas, e ainda hoje os negros
persistem por liberdade, com o intuito de viverem sua cultura e costumes pessoais (RATTS,
2006). Em paralelo ao que acontecia nas senzalas, o Governo começou a sentir pressões
externas de outros países, para a abolição do sistema vigente da época: o escravista.
A ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA E A RESISTÊNCIA NEGRA NO CONTEXTO
POLÍTICO-SOCIAL NO CENÁRIO NACIONAL
O Brasil foi o último país do mundo a aderir à abolição da escravidão, perdurando até a
década de 1880. Neste período muitas pressões governamentais e econômicas ocorreram na
definição política e social dos escravos (VICENTINO, 1995).
Este processo foi paulatino, como as leis mais conhecidas: Lei Eusébio de Queiroz,
finalizando o tráfico negreiro; Lei do Ventre Livre, onde a criança negra nascida daquele dia
em diante era livre; e a Lei dos Sexagenários, onde um escravo após 60 anos tornava-se
alforriado. Todo este aparato foi apenas uma medida paliativa do governo beneficiando os
latifundiários, pois a partir desta idade o escravo não possuía mais vigor físico, e não sendo
mais propriedade do fazendeiro, o mesmo era menos um gasto para seu ex-dono
(ALGRANTI, 1988).
Andrade (1987) afirma que, apesar dos avanços, havia no país cerca de 700 mil escravos,
e os latifundiários responsáveis pela economia nacional em grande parte, dependiam da mão-
de-obra escrava. Em meio a disputa política e social foi promulgada a Lei Áurea, assinada
pela princesa Isabel, definindo uma suposta liberdade e igualdade. Assim sendo, no dia 13 de
maio de 1888 no Rio de Janeiro, definitivamente aboliu-se a escravidão no Brasil.
No século XIX,a Lei Áurea encerrou a escravidão, mas não a situação dos mesmos, pois
as Leis complementares dos abolicionistas, com a criação de colônias agrícolas para os
alforriados e a desapropriação de terras não utilizadas para o desenvolvimento agrícola não
foram assinadas, tornando a existência dos negros brasileiros mais complicada. O Governo
não proporcionou condições para que os mesmos se agregassem ao mercado de trabalho e o
preconceito continuou. Prova disso foi a escolha da mão-de-obra européia. Portanto, a maioria
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dos negros tiveram dificuldades de ocupação profissional para a manutenção de uma vida
com o mínimo de condições, como moradia e educação (VICENTINO, 1995).
Surgiram movimentos político-sociais em detrimento das campanhas abolicionistas e a
reforma agrária anos mais tarde,que mesmo afastados por um século de distância, guardam
entre si o mesmo motivo: apareceram em decorrência da conquista territorial brasileira,
procurando possibilitar o desenvolvimento de grandes plantações, impondo aos grupos sociais
como de negros oriundos da África, trabalho compulsório escravo nas lavouras brasileiras
(SCHWARCZ, 2006).
A República sucede a monarquia, restando aos negros e mulatos trabalho em sistema de
parceria (o pequeno produtor pagava a renda da terra com parte de sua produção ou em
dinheiro), ou desenvolver culturas de produção agrícola para os proprietários da terra, e com a
dimensão do território brasileiro centralizaram o poder, colaborando para o aparecimento dos
latifúndios, coagindo a venda das pequenas propriedades ou até mesmo expulsando seus
donos/moradores. As medidas agrárias eram defendidas por grupos políticos, surgindo formas
exploratórias aos trabalhadores agrícolas e ex-escravos, na maioria (ANDRADE, 1987).
As primeiras mudanças surgiram na Revolução Agrária de 1930, rompendo o sistema
dominante da época. Através de reivindicações de grupos sociais, criaram a Constituição de
1934, não produzindo efeitos. Esta logo foi substituída pela Constituição de 1937, mais
voltada para os problemas urbanos do que para os do setor agrário. O cenário nacional viveu
uma situação delicada: de um lado movimentos reivindicando o Plano de Reforma Agrária,
almejando reforma por meio da ocupação de terras improdutivas; do outro, os latifundiários
contestando a implantação dessas mudanças, como é até os dias atuais (MARTINS, 2000).
Em contrapartida, havia um grupo peculiar que lutou pela posse da terra, mantendo-se
vivo cultural e politicamente na sociedade, fazendo parte de uma categoria que ganhou espaço
através de lutas de classes: os quilombolas.
A RESISTÊNCIA DOS NEGROS DO CAMPO: ORGANIZAÇÃO SOCIAL EM
QUILOMBOS
Os negros do campo, denominados de quilombolas, viveram uma história traçada por
migrações, alianças e guerras. Introduziram o vocábulo “quilombo” nas Américas, ganhando
novos sentidos em épocas distintas e nas mais diversas regiões. No Brasil este termo foi
utilizado para destacar um espaço e um movimento de resistência ao sistema vigente da
época. Os quilombos marcaram o início de uma expressão autêntica que rompeu com o
sistema latifundiário brasileiro (CALHEIROS; STADTLER, 2010).
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Os quilombolas são oriundos de remanescentes de negros escravos de origem africana de
atividades rurais. Através da hereditariedade e territórios, sua identidade sustenta-se da
necessidade de luta pela terra durante as últimas décadas. Em decorrência de eventos
históricos, sua visibilidade diante do processo de resistência sobrevive até hoje, no entanto,
muitos nem sequer têm identidade quilombola reconhecida (SCHMITT; TURATTI;
CARVALHO 2002).
A manutenção dessas populações em seus territórios originais e a valorização da sua
expressão favorecem o fortalecimento da identidade dessas comunidades. São considerados
remanescentes de quilombos os grupos que formaram-se a partir de situações, como: fugas,
ocupação de terras livres e geralmente isoladas, heranças e doações (SCHMITT, 2002).
A partir de 1970 e 1980, começou uma nova discussão sobre a redemocratização
brasileira, reabertura política, percebendo a existência das comunidades negras rurais e do seu
movimento contemporâneo. Logo, o negro passou a ser estudado por intelectuais, refletindo
cultura e movimentos sociais (RATTS, 2006).
Atendendo às necessidades no combate ao racismo e a discriminação, a legislação
educacional foi agregando demandas e reconhecendo a história negra no contexto escolar na
contribuição da questão da valorização cultural, corpo e identidade (RODRIGUES, 2005).
A LEI 10.639/03 E A VALORIZAÇÃO DO NEGRO NA ESCOLA SOB O CONTEXTO
DAS DIRETRIZES CURRICULARES
O preconceito racial resulta de uma ideia preconcebida de discriminação e intolerância
sobre indivíduos considerados de menor valor diante do autor da ação. A Lei 10.639/03
institui o Ensino-aprendizagem sobre assuntos referentes à História da África e sua cultura
nos currículos escolares, e busca contribuir para a reflexão e formação crítica dos alunos,
valorizando a cultura afro-brasileira, pedagogicamente adequada às questões raciais
(SILVÉRIO, 2006).
A aprendizagem é um ato culturalmente estabelecido e passa por várias modificações no
decorrer dos tempos. Assuntos como preconceitos e relações sociais possibilitam ao aluno
entender a realidade social a qual está inserido. Segundo o Coletivo de Autores (1992, p.63),
“cabe à escola promover a apreensão da prática social. Portanto, os assuntos devem ser
buscados dentro dela”.
Para Rodrigues (2005) a educação tem o potencial de eliminar ou ao menos minimizar
as desigualdades no Brasil, propondo alternativas em projetos educacionais no intuito de
trabalhar a questão de organizações negras, como a história e manifestações culturais, com o
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propósito de sensibilização dos envolvidos na escola (docentes, discentes e administração no
geral), política e sociedade.
A construção social, histórica e cultural implica na reestruturação da visão de um grupo
étnicorracial ou de sujeitos que pertencem a um mesmo grupo étnico/racial sobre si mesmos.
As experiências culturais do homem africano pontuam a possibilidade de manutenção e
transformação de sua cultura, tratando da relação do homem consigo mesmo ou o sentido de
pertencimento de cada um (DAÓLIO, 1995).
Com as manifestações coletivas, a cultura afro-brasileira vem ganhando espaço na
sociedade nas relações escolares, onde grupos menos favorecidos desfrutam de uma educação
inclusiva, como é de fato o caso da Educação de Jovens e Adultos, (EJA), acolhendo grupos
sociais historicamente excluídos.
A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO CONTEXTO DO ENSINO MÉDIO E A
CULTURA AFRO-BRASILEIRA
A EJA é um programa do Governo Federal que, segundo o Ministério da Educação
(2007, p.11),
[...] trabalha com sujeitos marginais ao sistema, com atributos sempre acentuados
em consequência de alguns fatores adicionais como raça/etnia, cor, gênero, entre
outros. Negros, quilombolas, mulheres, indígenas, camponeses, ribeirinhos,
pescadores, jovens, idosos, subempregados, desempregados, trabalhadores informais
são emblemáticos representantes das múltiplas apartações que a sociedade brasileira,
excludente, promove para grande parte da população desfavorecida econômica,
social e culturalmente.
Através do Programa Nacional de Integração da Educação Profissional, com Educação
Básica voltada para o Ensino Médio na modalidade de EJA, muitas pessoas adquirem
conhecimentos por meio de uma proposta político-pedagógica, buscando alcançar a
legitimidade a partir da participação social das diversidades culturais. Visando à construção
de uma nova sociedade fundada na igualdade política, econômica e social, apontando a escola
como vinculação dos meios do conhecimento (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2007).
Neste processo educacional a EJA busca parcerias, diálogos na prática do conhecimento
voltados à sociedade, diretamente ligada à ideia de diversidade cultural, onde o silêncio e a
diferença são dificuldades na formação do conhecimento multicultural.
Essa integração curricular é uma possibilidade de inovação pedagógica para o Ensino
Médio, por meio de diversos saberes produzidos em diferentes espaços sociais. A formação
de professores na construção da referência e a sistematização de concepções e práticas
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político-pedagógicas e metodológicas é de total relevância para a continuidade do processo,
na elaboração do planejamento das atividades do curso, avaliando o processo pedagógico e a
socialização das experiências vivenciadas pelas turmas (BARCELOS, 2010).
Uma das peculiaridades da EJA é o Programa de Integração da Educação Profissional ao
Ensino Médio na Modalidade Educação de Jovens e Adultos, denominado de PROEJA, que
atende a demanda de jovens e adultos, para que possam ingressar ao mercado de trabalho
através da oferta de educação profissional técnica de nível médio, pelo reflexo das
desigualdades, por meio de um projeto nacional que se preocupa com a inclusão social e a
educação (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2007).
O IFPA/Castanhal, juntamente com as Leis que amparam este grupo étnico, criou uma
turma de PROEJA Quilombola, com a intenção de valorizar a cultura afro-brasileira e a
educação da mesma.
A IMPORTÂNCIA DO PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO PARA A VALORIZAÇÃO
CULTURAL
O Projeto Político-pedagógico é um objeto estudado por professores e coordenadores
como organização do trabalho pedagógico da escola. É um plano geral para o futuro, com
projetos sob reflexões e discussões de elementos básicos na construção educacional da
instituição de ensino. Segundo Veiga (1998, p.13),
O projeto busca um rumo, uma direção. É uma ação intencional, com um sentido
explícito, com um compromisso definido coletivamente. Por isso, todo projeto
pedagógico da escola é, também, um projeto político Por estar intimamente
articulado ao compromisso sociopolítico com os interesses reais e coletivos da
população majoritária.
A construção do projeto em uma instituição de ensino é importante para a elaboração dos
diagnósticos necessários para a metodologia a ser posta em prática, apresentando austeridade
e qualidade, refletindo e discutindo de acordo com a realidade e interesses particulares da
escola,cabe também ao professor de Educação Física fazer parte deste processo.Esta
disciplina que compõe a educação básica, e legalmente amparada pode intervir na construção
deste procedimento educacional, principalmente na valorização do referido estudo na escola,
mostrando o seu compromisso em argumentar e justificar que seu trabalho não se limita
apenas as práticas esportivizantes (MOREIRA; PEREIRA, 2009).
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AS CONTRIBUIÇÕES DA EDUCAÇÃO FÍSICA NAS PRÁTICAS CORPORAIS AFRO-
BRASILEIRAS
No passado, a Educação Física teve seus paradigmas ligados ao militarismo,
beneficiando a educação do corpo, como melhoramento genético da raça humana. A
miscigenação era observada como desqualificante, de modo que, a educação sexual associada
à Educação Física precavia a sociedade de manter a soberania racial branca. As tentativas de
mudanças na concepção da cultura corporal na Educação Física têm como perspectiva o
caráter social e cultural, em que o professor pode exercer modificações na realidade social, na
compreensão do indivíduo enquanto ser cultural e suas relações interpessoais sob uma
percepção gradual (NUNES; COUTO, 2007).
Através da Educação Física pode-se assumir uma ação pedagógica, propondo uma
vivência composta da corporeidade do sentir e do relacionar-se. O educador deve incentivar
esses sentimentos em seus alunos, culturalmente. A disciplina deve, progressiva e
cuidadosamente, conduzir o aluno a uma reflexão crítica que o leve à autonomia no usufruto
do conhecimento cultural e social (DAÓLIO, 2004).
Identificar as peculiaridades e particularidades levando em conta o étnico e o nacional
como fenômenos de mesma natureza é um propósito de dignidade, respeito às distinções,
onde a diversidade tem o poder de articulação diante de todas as diferenças, como relata
Silvério (2005, p.92):
A diversidade, em tese, não opera como instância unificadora da vida social porque
existe uma herança que impõe a visão reducionista do diverso a uma instância
cultural utópica, romântica e antítese do desenvolvimento, da modernidade e do
progresso, expressa na ideologia que, no passado, coibia quaisquer manifestações
associadas com a ancestralidade africana, por considerá-las inferiores, intelectual e
culturalmente, e que nega, no presente, quaisquer especificidades de origem àquelas
manifestações, subsumido-as e folclorizando-as no interior de uma brasilidade
popular indistinta.
A temática da cultura afro-brasileira na Educação Física vive um processo sobre padrões
culturais na escola. Devido ao afastamento da mesma, este indivíduo na atualidade não pode
perder a prática dos costumes e tradições afro-brasileiros. Alguns trabalhos sobre costumes e
tradições são pesquisas de difusão de saberes como a capoeira, onde o conhecimento é
personalizado pelo mestre: verbal, corporal e moral (ALVAREZ; AGUIAR; MARTINS,
2011).
A Educação Física inclui conhecimentos das ciências naturais e sociais, possibilitando
uma prática pedagógica, valorizando o sujeito em sua totalidade, reconhecendo a relevância
do caráter lúdico das atividades corporais. No Brasil, nos conteúdos da cultura corporal a
capoeira se insere como um dos conteúdos de grande relevância (VAGO, 1997).
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No estatuto da Educação Física a existência de determinados estudos sobre práticas
corporais ganham sentindo e significado devido às práticas históricas que definem e discutem
a capoeira como uma forma de expressão corporal, inserindo simbologia e significados, e a
mesma estabelece relações com esta linguagem corporal particular. Santos (2009, p.129)
afirma que
A capoeira configurou-se como forma de identidade dos escravos, um recurso de
afirmação pessoal e grupal na luta pela vida, um instrumento decisivo e definitivo
para a população oprimida. O corpo insurgiu-se! Expressou em seu conformismo ao
que coibia sua liberdade. O corpo na capoeira nos mostra a possibilidade de uma
relação de oposição corporal, nesse sentido é uma luta.
As diferenças culturais e educacionais dentro dos conflitos provocam tabus entre os
grupos sociais devido ao processo de domínio e conhecimentos sobre direitos e deveres de
determinados grupos privilegiados, e a Educação Física inserida no currículo escolar tem o
poder de refletir sobre o referido assunto (CANDAU, 2010).
MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa é um processo formal, norteada pelo método científico, que encontra-se
sempre em desenvolvimento, onde seu objetivo primordial é desvendar as possíveis
contribuições e lacunas presentes nos documentos compreendidos, diante dos procedimentos
científicos (GIL, 2008).
A presente pesquisa caracteriza-se como do tipo de estudo descritivo, identificando de
que forma a cultura afro-brasileira está sendo abordada no Projeto Político-pedagógico do
Instituto Federal do Pará campus Castanhal. Para tanto, utilizou-se de pesquisa documental,
através de uma abordagem qualitativa de enfoque crítico-dialético que, segundo Severino
(2007), primeiramente deve-se fazer atividades preparatórias para a análise aprofundada do
material estudado, conceitos e termos considerados fundamentais para a compreensão da
análise, realizada com abordagem qualitativa.
Nesta pesquisa esta abordagem caracteriza-se com subjetividade, pois relata o social e
seus significados. Segundo Teixeira (2010, p.140),
Na pesquisa qualitativa, o social é visto como um mundo de significados passíveis
de investigação e a linguagem dos atores locais e suas práticas as matérias-primas
dessa abordagem. É o nível de significados, motivos, aspirações, atitudes, crenças e
valores, que se expressa pela linguagem comum e na vida cotidiana, o objeto da
abordagem qualitativa.
A referida pesquisa foi realizada no IFPA/ Castanhal, através da análise do documento
específico do instituto, o Projeto Político-pedagógico do Curso, utilizado como suporte para a
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compreensão didática à turma PROEJA Quilombola, coletando elementos transcritos em
forma de análise crítica e construtiva sobre os conteúdos abordados, trabalhos com eixos de
análise divididos de acordo com as formas de registro, classificação de dados,
aprofundamento e abrangência do material analisado. As mesmas encontram-se organizadas
no referido documento, justificando tal divisão.
A Análise de dados vincula-se a do tipo análise de conteúdo que, segundo Minayo
(2007), consiste na descoberta dos centros de definição que compõem um diálogo, onde o
objetivo é fazer sentido os significados que encontram-se subtendidos no decorrer do
documento.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
IFPA/Castanhal-PA encontra-se implementado à Lei 10.639/03, por meio de seu Projeto
Político-pedagógico do Curso, onde foram coletadas informações para a realização da
pesquisa. No ano de 2010, iniciou-se uma turma de PROEJA formada por remanescentes de
comunidades quilombolas. As ações foram realizadas junto a estas comunidades em parceria
com a Associação de Consciência Negra Quilombo (ASCONQ) de Castanhal, e vêm
proporcionando atividades relacionadas às questões da valorização da cultura afro-brasileira e
identidade cultural como forma de alteridade (SILVA; VAZ, 2011).
O Estabelecimento encontra-se consentido ao Decreto nº 5.840/06, determinando que as
instituições federais de educação profissional implantem cursos e programas regulares do
PROEJA até o ano de 2007. Com esta configuração de formação profissional de integração
dos Ensinos Médio e Técnico, o IFPA/Castanhal tem como missão a formação profissional e
cidadã dos indivíduos envolvidos no Programa (CONGRESSO NACIONAL, 2006).
A turma do Proeja Quilombola iniciou com primeiro tempo de ensino na escola dia 05 de
abril de 2010. Dos 40 aprovados, 05 nunca chegaram a frequentar as aulas, ficando a turma
constituída até o presente momento por 35 pessoas, sendo 26 homens e 09 mulheres, oriundos
de comunidades quilombolas dos municípios de Concórdia do Pará, Mojú, Garrafão do Norte,
São Miguel do Guamá, Tomé Açu e Ananindeua (SILVA; VAZ, 2011).
Na atualidade, há grupos que mantém uma vida social de organização de identidade
cultural negra rural no Pará, como a comunidade de Abacatal, localizada no interior do
município de Ananindeua, na região metropolitana de Belém, conservando laços com a vida
rural, apresentando origem relacionada à herança através da memória dos mesmos e
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genealogia.Com toda esta ostentação de sobrevivência e resistência na terra, há conflitos
dessas comunidades em relação às ameaças de invasões (MARIN; CASTRO, 2004).
Os itens abordados abaixo referem-se à análise documental do Projeto Político-
pedagógico do IFPA/Castanhal-PA, e que foram divididos por eixos de análise de acordo
com o processo de divisão do referido documento e pelas técnicas de análise utilizadas para a
compreensão dos resultados.
1) Historicidade
O IFPA/Castanhal tem uma história interessante no decorrer de seu processo
educacional. Primeiramente no período Militar era conhecido como Escola Agrícola Manuel
Barata, sua metodologia sendo voltada aos moldes da ditadura e tinha o objetivo de:
[...] corrigir os vícios e desvios de conduta nocivos à vida em sociedade, na Escola de
Iniciação Agrícola/ Mestria Agrícola Manoel Barata os conhecimentos veiculados nos
currículos por meio da Geografia do Brasil e História do Brasil tinham o objetivo de
formar nos educandos o sentimento de amor à pátria e, ao mesmo tempo protegê-los
da influência de ideologias estrangeiras representadas pelos imigrantes que pudessem
comprometer o ideal nacionalista (PLANO DE CURSO, 2007, p.4).
Como afirmam Nunes e Couto (2007) a educação era voltada aos protótipos militares,
onde a questão do patriotismo era bastante influente, e neste mesmo período a Educação
Física no Brasil era vista como uma forma de criação de uma suposta população racial,
tratando-se de forma seletiva e excludente no contexto escolar.
Segundo Castellani Filho (1988), com ideia de disciplina moral e do suposto
adestramento físico da juventude brasileira como forma de defesa da nação que a Educação
Física foi situada, para esses fins a disciplina na escola tinha como justificativa para sua forte
presença, principalmente para o Ensino técnico-profissionalizante.
Porém em 1999, logo após reforma educacional, a Escola de Iniciação Agrícola passou a
ser nomeada de Agrotécnica Federal de Castanhal-PA (EAFC). Iniciou um movimento de
avaliação e reflexão do seu fazer pedagógico e de sua construção curricular que, como sua
história demonstra, foi pautada em modelos de ensino correcional, acrítico e tecnicista.
Em 2008, o espaço foi intitulado Instituto Federal do Pará Campus Castanhal. O Projeto
Político-pedagógico do IFPA/Castanhal ainda está no moldes da EAFC-PA, referentes ao ano
de 2007 e, devido a esta peculiaridade, a referida análise documental reconhece o PPP do
Instituto mais atualizado, e por este motivo, esta pesquisa a partir deste momento trata todo o
contexto como Escola Agrotécnica Federal de Castanhal-PA.
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2) Finalidade
Diante da necessidade de um curso cuja finalidade era formar profissionais habilitados
em Agropecuária com ênfase em Agroecologia na região, justifica-se na contextualização de
ocupação e desenvolvimento da Agricultura Familiar no Estado, anulada pela carência de
profissionais aptos de conhecimento e potencialidades acerca da totalidade escolar.
A EAFC-PA apresenta um papel relevante diante da formação da identidade
profissional do homem do campo como técnicos em Agropecuária, cuja finalidade de
compreender o processo de seleção dos conhecimentos da história curricular da Escola
agrícola, como refere-se o seu Projeto Político-pedagógico escolar.
O presente documento também se justifica por consentir abertamente um segmento da
sociedade paraense, historicamente excluída da possibilidade de acessar direitos básicos e
fundamentais, como a educação. Pauta-se em uma nova metodologia de educação do campo.
O referido documento mostra a necessidade de se formar cidadãos aptos a trabalharem
no mercado de trabalho de forma digna e inclusiva.Segundo Gomes (2006), e a finalidade da
escola é a formação de cidadãos detentores de opinião e transformadores da sociedade.
2) Objetivos do curso
A EAFC-PA tem como objetivo geral capacitar jovens e adultos agricultores (as) com a
formação em técnico em Agropecuária com Habilitação em Agroecologia. Busca
proporcionar uma concepção técnico-científica e política aos educandos para que possam
realizar intervenções da realidade em que vivem de forma elaborada em benefício da
sociedade. E principalmente intervir na diversidade cultural dos mesmos na intenção da
valorização cultural em prol do combate ao preconceito, onde segundo o Plano de Curso da
EAFC (2007, p.15), procura “Possibilitar a vivência de novos valores e construir novas
relações sociais, garantindo equidade e respeito às diferenças de gênero, etnia, geração,
religião, de origem cultural [...]”
O Projeto Político-pedagógico possui com uma de suas funções, ser um instrumento
pedagógico utilizado para possibilitar ao aluno novas vivências, e através de atividades
culturais, como: feiras, palestras, apresentações corporais e teatrais, proporciona o
multiculturalismo de forma didática e não-compulsória entre os envolvidos, para Daólio
(2004), o saber pedagógico encontra-se presente também neste documento.
4) Abordagem política
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Este curso tem como intenção contribuir para o desenvolvimento do campo no Estado
do Pará, criando estratégias de desenvolvimento sustentável, na perspectiva de melhoria da
qualidade de vida do homem do campo devido a desigualdade social, violência e pobreza,
entre outros fatores, tanto no campo da produção, como da área social, como saúde, educação
e trabalho.
O Curso incentiva a criação e re-criação de novas práticas e saberes pedagógicos, em
seus diferentes níveis de formação em sua práxis pedagógica: O Trabalho, Relações
Humanas, Valores/Gênero, Plano de Estudo, Pesquisa e Trabalho, Cadernos Pedagógicos,
Visitas de estudo, Serões, Grupos de Estudo e Vivência Pedagógica – GEVP Projeto de
Produção Agroecológico, Intercâmbios e Estágio Profissional, utilizando como regime
pedagógico a prática da Pedagogia da Alternância, que nada mais é do que:
[...] um dos elementos constitutivos deste projeto, pois garantirão que os alunos
passem parte do tempo na escola e outro na comunidade de origem, constituindo um
dos elementos importantes por proporcionar, ao trabalhador/trabalhadora do campo,
o acesso à escola sem abandonar o trabalho produtivo, sendo esta uma das
metodologias que mais se aproxima da sua realidade e necessidade. É importante
também o contato com o assentado, a troca de experiências e a vivência,
possibilitando ao educando a aplicação prática dos conhecimentos adquiridos
durante cada tempo (PLANO DE CURSO, 2007, p.16).
O regime de alternância utiliza um Plano de Estudo, Pesquisa e Trabalho, trata-se do
roteiro de atividades relacionando à convivência dos alunos envolvidos nesse contexto e a
troca de saberes e culturas. O Plano de Curso (2007, p.16) afirma que
Formação é também vivência, convivência (viver com outros em coletivo). São
espaços, processos de profundo intercâmbio cultural, de troca de experiências, bem
como, momentos fortes de integração. Todo esse processo deve estar orientado pela
vivência dos novos valores: companheirismo, solidariedade, responsabilidade;
respeito à individualidade de cada um; honestidade, disciplina, etc. O curso deverá
se tornar um espaço de exercício real, de continuidade da formação ética e moral de
novos sujeitos sociais.
A interação e troca de saberes culturais e costumes distintos de cada comunidade e de
cada um inclusos neste processo constituem como produção de cada educando, possibilitando
aos mesmos sistematizar conhecimento crítico da sua realidade enquanto aluno e pertencente
a uma determinada comunidade, produzindo informações e registrando em seu acervo.
Gomes (2010) afirma que a escola é uma instituição social, que tem o diferencial de
conviver com as diferenças, refletindo sobre as divergências culturais e o convívio grupal, e o
14
IFPA/Castanhal-PA uni esses potenciais através de suas metodologias pedagógicas, inserindo
as diferenças sociais e culturais no contexto escolar sem ferir o direito de cada educando.
5) Perfil profissional dos alunos
O educando deve ter as seguintes habilidades: possuir além de uma formação técnica
sólida, também política e humanista, com capacidade de uma leitura crítica da realidade e
propor soluções; compreender as pessoas, suas formas de pensamento e comportamento,
inclusive os aspectos culturais dos camponeses e agricultores familiares, observando como
funciona a sociedade, contextualizando os diferentes modelos e formas de organização da
agricultura criticamente; possuir afinidade com a proposta de educação por alternância; e
comprometer-se com o desenvolvimento do coletivo.
Segundo Daólio (2004), além de conhecer sua cultura, o aluno deve conhecer outras e
respeitá-las, e a Educação Física possibilita essas relações de reconhecimento cultural para o
perfil profissional e cidadão também, buscando a igualdade social e educacional, pois na
maioria das vezes sem educação o ser humano não compreende a convivência com as
diferenças.
As relações étnicorraciais encontradas no documento estão associadas às vivências entre
os alunos e suas formas de interpretarem o contexto escolar sem sentirem-se excluídos,
aproveitando as oportunidades de participação dos momentos proporcionados a eles, sem ferir
seus conceitos e valores, pois o instituto possui culturas distintas entre os mesmos.
6) Proposta curricular
A organização da Reforma da Educação Profissional na EAFC-PA gerou na
comunidade escolar movimentações referentes à resistência e adaptação sob a nova proposta
do Ministério da Educação e Cultura (MEC.) Esses movimentos causaram no interior da
instituição várias mobilizações, refletindo no espaço escolar e no currículo. De acordo com as
recomendações das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional de Nível
Técnico (DCNP), uma nova metodologia foi aplicada (SILVA; VAZ, 2011).
A metodologia foi utilizada oficialmente na EAFC-PA no período de 34 anos, ou seja,
até a Reforma da Educação Profissional (REP), em 1996. Esta instituição teve a
responsabilidade de construir seu currículo pleno, de modo a atender às especificidades das
mudanças ocasionadas pela LDB Nº 9394/96 e do decreto Nº 2208/97. Para esta
implementação, a instituição organizou, por meio do Departamento de Desenvolvimento
15
Educacional (DDE), treinamentos, capacitações, encontros, seminários e reuniões para o
quadro docente, com a finalidade de expor o novo padrão da educação profissional.
Barcellos (2010) afirma que, o contexto educacional vive constantes modificações, cabe
ao professor, juntamente com a coordenação, procurando o que for melhor para o currículo e
para os envolvidos, devendo indagar-se se a metodologia utilizada está suprindo as
necessidades no programa a ser alcançado.
7) Organização Curricular
A proposta lançada foi a Pedagogia da Alternância, inovação para a formação de jovens
agricultores (as), determinando espaços e atividades educativas, juntamente com o calendário
letivo organizado alternadamente entre períodos de Tempo Escola e Tempo Comunidade,
permitindo aos jovens que convivam entre a vida de estudo e trabalho na escola e com a
família na propriedade rural (lote), buscando, assim, um processo formativo e informativo
desenvolvido na relação-interação escola, família e comunidade.
A metodologia da alternância possibilita uma formação integral [humana e profissional]
dos jovens, visando incentivá-los e qualificá-los profissionalmente para o trabalho técnico
com a produção agrícola familiar.
A alternância educativa consiste no processo de alternar e integrar momentos de
formação nos tempos-espaços da própria escola [atividades de estudo, oficinas
pedagógicas, sessões de vídeo, palestras, visitas, experimentação agrícola, etc] e nos
tempos-espaços das comunidades [experimentações, diagnósticos, estágios, leitura,
etc] (PLANO DE CURSO, 2007, p.17).
No período escolar o regime é de internato, onde os jovens experimentam vivência
comunitária, teoria e prática educacional agrícola e Ensino Médio integrados; e em
comunidade, onde os mesmos observam o ritmo familiar e comunitário, analisando a
realidade em que vivem, considerando as dimensões econômicas, culturais, sociais,
ambientais e políticas.
A maior peculiaridade da pedagogia da alternância é quando os jovens desenvolvem em
suas respectivas comunidades produtivas familiares, experimentando na prática as
informações promovidas na escola, ampliando o aprendizado teórico. Alguns elementos
curriculares merecem ser ressaltados:
a) O Plano de Formação
Possui fundamentalmente duas intenções: a primeira é a experiência de vida dos jovens
nos âmbitos familiar e educacional dentro de um processo de pesquisa cotidiana; a segunda é
16
organizada pelas projeções escolares formais, relacionada ao aprendizado dos saberes
científicos historicamente construídos e elaborados como o Plano de Formação.
O Plano de Formação é a expressão de uma política, dentro de um ciclo-período,
constituindo-se em um contrato entre os jovens em formação e os parceiros da
formação (pais, educadores, colaboradores, orientadores de estágio e
entidades/instituições parceiras). O Plano é formado das finalidades da formação, do
reconhecimento de uma situação pedagógica com ritmos e instrumentos apropriados,
visando valorizar, ampliar e certificar os conhecimentos construídos/adquiridos
pelos jovens (PLANO DE CURSO, 2007, p.18).
Um instrumento facilitador dos processos educativos, o Plano de Formação visa a uma
aprendizagem elaborada com conhecimentos gerais e específicos na construção pedagógica
educativa. É uma expressão de formação de jovens situados em ambientes distintos.
b) Matriz Curricular
É dividida em disciplinas do Ensino Médio, de acordo com a Base Nacional Comum e
Ensino Técnico-profissionalizante, integrando as exigências do Ensino Médio aos conteúdos
do Ensino Técnico, e estabelece uma ruptura na concepção de educação ensino-aprendizado
tradicional.
Com duração de (3) três anos, chamados de ciclos, o Instituto realiza as atividades
concomitantemente ao Ensino Médio e o Ensino Profissionalizante. No entanto, os tempos
comunidade deverão considerar a carga horária mínima determinada no curso. Esse
procedimento é seguido por professores e monitores na escola, durante as visitações às suas
famílias.
8) Contexto da Sociedade
O tempo Escola é levantado pelos alunos com reflexões construídas pelos mesmos em
debates na sala de aula na melhoria social,onde o educando irá aplicar que primeiramente será
em sua comunidade. Representado como uma síntese de sistematização da pesquisa, servindo
de perfil de organização das atividades pedagógicas de contorno interdisciplinar, permite a
reflexão crítica das informações apresentadas. Essa reflexão é um conjunto de informações
sistematizadas condicionando o jovem a progredir na sua comunidade.
O futuro profissional a partir de sua formação, e amplitude para reflexões do contexto
social, ganham outras concepções e olhares, percebendo a importância de determinadas
disciplinas que contribuem para seu desenvolvimento pessoal, como a Educação Física,
17
trazendo muitas compreensões acerca do diferente, do desconhecido e que através da prática
social e vivências adquiridas o indivíduo se torna mais cidadão.
9) Educação Física
A participação da Educação Física no Projeto Político-pedagógico está incluída na área
de Linguagem, Códigos e suas Tecnologias:
ENSINO MÉDIO
Área: LINGUAGEM, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS.
Artes e Cultura: Arte, expressão, comunicação e tecnologia. Arte,
criatividade e imaginação. Arte, cultura e sociedade. Teatro, cultura e
sociedade.
Educação Física: Histórico da Educação Física. Os aspectos
específicos das Atividades Corporais. Aspectos do Desenvolvimento
Humano. Atividades Rítmicas e Expressivas. Análise crítica do Corpo na
Sociedade. Educação Física e Meio Ambiente.
Sociologia: A constituição do saber sociológico. A contraposição de
categorias analíticas para a compreensão e construção de um saber
sociológico. Estudos de problemas sociais contemporâneos (PLANO DE
CURSO, 2007, p.36).
Gomes (2003) afirma que a inserção da Educação Física nas práticas educacionais é uma
forma de valorização e auto-afirmação dos educandos, contribuindo para a construção de
atividades coletivas, criando interação entre os mesmos, fazendo suas próprias descobertas e
refletindo onde o social faz parte da vida de cada um distintamente, com respeito e igualdade,
e o professor de Educação Física também possui essa habilidade e sensibilidade de
compreensão nas descobertas dentro e fora da sala de aula.
Há pouca inclusão da Educação Física no Projeto Político-pedagógico do
IFPA/Castanhal, sendo que existem várias maneiras de integrar metodologicamente a
disciplina às demais atividades no instituto. Neste sentido, propõem-se práticas corporais
como a capoeira, para a valorização da cultura afro-brasileira no currículo, pois a mesma
agrega vivências, musicalidade, história social, crenças e é uma forma peculiar da cultura
quilombola.
A cultura quilombola para os outros alunos tem o potencial de despertar curiosidades e a
troca de conhecimentos culturais e pessoais. A Educação Física permite estudar os aspectos
da cultura corporal afro-brasileira, a qual não está presente apenas na Capoeira, mas nas
danças, nos costumes, na religiosidade, e que marcam o corpo do sujeito, caracterizando a
cultura brasileira, e fazendo cumprir a Lei 10639/03.
18
CONCLUSÃO
A presente pesquisa é de grande relevância para a efetivação das Diretrizes Curriculares
das Relações étnicorraciais, juntamente com a Lei 10.639/03, pois procura enfatizar a cultura
afro-brasileira no contexto escolar. Buscou-se analisar documentos vinculados ao programa
de Educação de Jovens e Adultos (EJA) do Governo Federal no IFPA/Castanhal como uma
turma peculiar nomeada de PROEJA Quilombola, objetivando descrever como a cultura afro-
brasileira é discutida na referida turma através do Projeto Político-pedagógico do Instituto.
No decorrer da pesquisa foi feito um levantamento documental, e percebeu-se que existe
apenas uma publicação relativa à mesma, partindo-se então, para o Projeto Político-
pedagógico do curso, e como um dos agravantes para análise de dados, o mesmo encontra-se
em processo de reformulação desde o ano de 1997, onde o referido documento ainda mantém-
se sobre o Projeto Político Pedagógico da Escola Agrotécnica Federal de Castanhal
(EAFC/PA), ano em que a referida turma ainda não existia no Instituto. Mas mesmo com esse
detalhe, o Instituto já era amparado pela Lei 10.639/03, não atrapalhando o prosseguimento
do estudo.
Foram encontradas poucas informações relacionadas à Educação Física vinculada às
questões étnicorraciais no documento mencionado, dificultando, mas não inviabilizando a
realização da análise, abrindo espaço para propor novas estratégias para serem discutidas
sobre a questão da inclusão.
Desta forma, esta análise valoriza a formação de professores para as relações
étnicorraciais em busca do reconhecimento da pluralidade cultural brasileira, de modo que,
dialogando com o documento, viu-se a oportunidade de propor novas estratégias de ensino
sobre a cultura afro-brasileira na Educação Física, identificando onde está inserida a disciplina
nas relações étnicorraciais, descrevendo como estes conteúdos estão discutidos no referido
documento.
Esta pesquisa também busca abrir novas oportunidades de estudos acerca do conteúdo
abordado, pois a mesma é de grande abrangência e está disponível para avanços possíveis,
pois a mesma não se pretende conclusiva, uma vez que abarca questionamentos que podem
resultar em novas pesquisas.
Afro-brazilian culture project in the pilitical teaching in proejaquilombola ifpa / syndicate
ABSTRACT
Racial segregation is a reality that has been discussed in the present times, through the
struggles of disadvantaged groups, from African slavery. In order to combat prejudice and
19
discrimination, Law 10.639/03 establishes the Teaching and learning about African history in
school curricula for critical reflection and training of students to racial issues. In this sense,
this research aims to describe how the african-Brazilian culture is discussed in PROEJA
Quilombola Federal Institute of Para - Castlebay campus. For this purpose, we performed a
study of a descriptive, characterizing documentary type of critical-dialectical approach and
qualitative approach, through its political-pedagogical project, supported by content
analysis.The results point to the lack of physical education in that political-pedagogical
project through lack of discipline in that document relating to matters étnicorraciais. In
contrast, recovery and inclusion of cultures is strongly present, suggesting proposals to
launch towards the strengthening of Physical Education in this document as a way of valuing
étnicorracial.
Key Words: Curriculum Guidelines; Quilombo; Law 10.639/03, Physical Education,
african-Brazilian culture and education.
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