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A CRUZ COMO SÍMBOLO E EMBLEMA Um escudo como consignação: A Cruz Desnuda “Os Clérigos Regulares nasceram como um hino desprendido da Cruz!” (Chiminelli)

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A CRUZ COMO SÍMBOLO E EMBLEMA Um escudo como consignação: A Cruz Desnuda

“Os Clérigos Regulares nasceram como um

hino desprendido da Cruz!” (Chiminelli)

Pe. José Silos, historiador de nossa Ordem descreveu, num dia de grande

inspiração, a glória e significação da Cruz na Ordem Teatina.

Eis aqui uma tradução impossível que retenha a força e o esplendor das

maravilhosas formas originais:

“Não existem dias tão solenes significativos como o do nascimento de nossa

Companhia. A decisão de funda - lá foi tomada na festa da Invenção da Cruz, e

procurou-se fazer coincidir sua feliz realização com o dia da gloriosa Exaltação da

Cruz. A Cruz acolheu em seu regaço a nossa Companhia apenas nascida. E era justo

que nascesse em tão gloriosa data uma companhia que professava uma pobreza tão

absoluta como a de Cristo na Cruz, que pregava a mortificação da Cruz, e que parecia

tornar a descobrir e exaltar a Cruz, a reinstaurar a austera forma de vida apostólica

em uma nova família clerical.

Por isto, estas duas celebrações da Cruz forma simples objeto de especial

veneração entre nós, que nunca desejamos ser condecorados com outro brasão ou

insígnia de nossas casas e de novos templos, de nossas alfaias sagradas e domésticas,

de modo que os Clérigos Regulares podem ser chamados como toda razão de

Religiosos da Cruz, como eram chamados os antigos cristãos, segundo afirma

Tertuliano.

A partir de tudo isto, cada um de nós pode apreender a que sacrifícios de

corpo e de alma e a que condições adversas de vida devem estar dispostas em uma

Ordem que o recebeu com a Cruz.

As mães de Esparta costumavam parir e educar seus filhos nos escudos, para

mostrar-lhes que deviam se adestrar, não no ócio dos passatempos, mas nas

dificuldades e nas insônias, nos ardores e nos azares da vida, pois é assim que se

ganham as batalhas.

E uma vez que nossa Ordem teve por berço a Cruz, quando renascemos nela

pela profissão solene, certamente não nos é apresentado um berço mais delicado, nem

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nos é ensinado que vamos dormir a sombra. Estamos sendo chamados ao mais árduo,

ao mais difícil da luta, ao exercício daquelas virtudes heróicas das quais a Cruz é o

emblema. Ela nos estimula ao sacrifício e à reforma dos costumes e, ao mesmo tempo,

nos dá ânimo para avançar pelo difícil caminho das virtudes religiosas.

Quem poderá ver diante de si a Cruz, na qual o Salvador, ultrajado com

blasfêmias e marcado com incontáveis feridas, padeceu o gênero de morte mais

humilhante, sem ficar inflamado e animado com seu exemplo para ser mais paciente,

para suportar as ofensas e a própria morte?

Seria intolerável e por demais vergonhosos, como soldado delicado, buscar as

comodidades, os passatempos e os afagos do mundo, quando se luta tendo Cristo como

chefe, sob a aguerrida guia desta ausência milícia.

“Em resumo: o fato de nossa Companhia ter sido fundado no mesmo dia em

que são celebradas as glórias e os triunfos da Cruz, deve ser para nós um título de

glória e um estímulo vivo para disciplina”.

São Justino coloca em sua Primeira Apologia o seguinte:

“A Cruz é o maior e mais poderoso símbolo. Porque não se pode cruzar o mar,

se este troféu de vitória, que nele se chama vela, não se mantiver firme no navio. Sem

ela, não se pode arar a terra com o arado; nem nos cavadores ou artesãos levam a

termo sua obra, se não for com instrumentos que têm esta figura. E a própria figura do

homem só se distingue da forma dos animais irracionais, porque pode ficar ereta, pode

estender os braços e elevar, partindo da frente, a proeminência do nariz, através da

qual se verifica a respiração do animal e que não mostra outra coisa, senão a figura da

Cruz.

E ainda, vossas próprias insígnias, colocam em evidência a força desta figura,

falo d vossos estandartes e de vossos troféus de vitória, com os quais são realizadas por

toda parte vossas manchas, mostrando os sinais do império e do poder, ainda quando o

fazeis sem intenção disto”.

Portanto, por onde se abre caminho para a longa procissão dos Clérigos

Regulares: atrás da Cruz processional. O projeto foi inventado em 3 de maio, dia que

celebra a Invenção da Cruz e a profissão foi em 14 de setembro, dia esse que deu inicio

a Ordem.

Para entendermos mais, precisamos saber que nos primórdios do Cristianismo,

a cruz era um objeto de suplício que, além de terrivelmente doloroso, representava um

achincalhamento da pessoa condenada. Por isso, as primeiras comunidades assumiam

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como símbolo de Cristo o Peixe, por causa da palavra grega ictus, que significa “peixe”,

e cujas letras podem ser interpretadas como as iniciais da expressão “Jesus Cristo, filho

de Deus Salvador”. Outro símbolo era o Cordeiro imolado, em referência ao cordeiro

pascal judaico.

A Cruz permaneceu pouco lembrada até o século IV, quando o Imperador

romano Constantino, convertido ao Cristianismo, teria sonhado com uma cruz, na qual

estava escrita em latim a expressão: In hoc signo vinces (Neste sinal vencerás). Na

manhã seguinte, mandou que a cruz fosse pintada nos escudos de seus soldados, antes

da batalha contra o Imperador Maxêncio, na qual ambos disputariam o controle da

metade ocidental do Império Romano. Constantino atribuiu ao poder da cruz sua

esmagadora vitória sobre o inimigo.

Daí em diante, ela tornou-se o sinal característico dos cristãos, símbolo de

Cristo vencedor do pecado e da morte, pelo seu Mistério Pascal. Entretanto, não se pode

fazer dessa vitória um mero triunfalismo, pois ela custou até à última gota do sangue

inocente de Nosso Senhor.

A Páscoa de Cristo é revivida pela celebração dos Sacramentos, sobretudo o

Batismo e a Eucaristia, e pela vivência do Mistério da Cruz, dentro da vida ascética e da

experiência de união mística com Deus. Pelo Batismo, fomos conformados, isto é,

tornados conformes, parecidos com o Cristo. Ele está hoje glorioso à direita do Pai, mas

guarda, também, as marcas da crucifixão, nas chagas de seus membros e do lado,

através do qual o Coração foi transpassado pela lança e pelo sofrimento.

O Batismo nos torna filhos de Deus, portanto, destinados à perfeição ou, pelo

menos, tendentes a ela. Através deste Sacramento, a vida nova em Cristo nos é

concedida, como que em estado latente, que nos compete colocar em ato, com o auxílio

da graça divina. Esta tensão à perfeição orienta-nos para a plenitude, à qual se chega

pela caridade mais sofrida, a caridade da Cruz.

Assim é, somos marcados pela Cruz, assinalados, impregnados por ela, como

se a Cruz estivesse cunhada dentro da nossa pessoa, ontologicamente, isto é, no fundo

do nosso ser. E quanto mais a externamos na dinâmica do nosso agir, colocando um

amor como que extraordinário no que fazemos como sacrifício espelhado na Cruz, mais

nos tornou, autenticamente, cristãos católicos.

Entretanto, ainda hoje, muitos sentem aversão pela Cruz, devido ao sofrimento

que ela nos recorda. Os próprios Apóstolos, a começar por Pedro, sucumbiram à

tendência de rejeitar a perspectiva da crucifixão e morte de Cristo: “Que Deus não

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permita isto, Senhor! Isto não te acontecerá!” (Mt 16,22). Seria um escândalo para eles

aceitar a humilhação d’Aquele que tinham reconhecido como o Messias.

Cristo, então, recrimina Pedro e exorta os Apóstolos a uma mudança de

mentalidade. Mais do que isto, a compreensão do Mistério da Cruz vai exigir deles uma

profunda conversão: “Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua

cruz e siga-me” (Mt 16,24), ensina o Senhor, como que a dizer: Eu a carrego e vocês me

seguem.

Formam-se, assim, as gerações de cristãos. Caminham atrás de seu único

Mestre, que carrega o peso daquela Cruz ignominiosa, na qual estão pregados os

pecados da humanidade. Ele segue na frente, abrindo caminho para que ninguém

desfaleça nas subidas e descidas da estrada da vida.

Os Apóstolos tomaram as próprias cruzes e morreram mártires. Sabemos pelos

primeiros historiadores, como Eusébio de Cesaréia, que Pedro teria pedido para ser

crucificado de cabeça para baixo, porque se sentia indigno de estar na mesma posição

em que tinha morrido o seu Mestre. Quanta transformação naquele homem que, iludido

pela presunção da própria força, acabara negando conhecer Jesus, quando chegou a hora

difícil e contraditória da Paixão!

Saulo de Tarso, convertido e batizado Paulo, foi educado por Jesus,

pessoalmente, em um encontro místico, seguido de 3 anos de contato com o Senhor,

através da oração, da ascese e da meditação. O próprio Apóstolo diz: “Asseguro-vos,

irmãos, que o Evangelho pregado por mim não tem nada de humano. Não o recebi nem

o aprendi de homem algum, mas mediante uma revelação de Jesus Cristo” (Gl 1,11-12).

E completa: “Nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para

os pagãos; mas, para os eleitos - quer judeu, quer grego - força de Deus e sabedoria de

Deus” (1Cor 1,23-24).

Depois da maldição de ter bebido o sangue de Abel, e de tantos profetas,

mortos por causa da pregação da verdade, a terra foi abençoada pelo sangue de Cristo.

A afirmação blasfema dos judeus, incitando Pilatos à condenação de Jesus - “Caia

sobre nós o seu sangue e sobre nossos filhos!” (Mt 27,25) - transformou-se em bênção.

Os “filhos” não são apenas aqueles que a natureza pode gerar, mas as pessoas

que nos são confiadas, as obras que realizamos pelo bem público e, até mesmo, as falhas

às quais a fragilidade humana nos expõe. Que seu sangue caia sobre tudo isto.

Contemplando o Cristo pendente da Cruz, gotejando seu sangue sobre a terra, pedimos:

“Lavai-me, totalmente, de minha falta, e purificai-me de meu pecado” (Sl 50[51],4).

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Assim, todo lugar onde se encontra a Cruz de Cristo é sacralizado, não pela

relíquia em si, mas pelo próprio Crucificado, cuja Morte e Ressurreição ela representa.

Deixemos que o sangue de Cristo abençoe nossos lugares públicos e purifique as ações

que lá se realizam, para que estejam sempre voltadas para a glória de Deus e o bem

comum.

Aqueles homens “ligaram sua vida na Cruz”, são os mesmo que disseram: “Se

não tiver fé suficiente para abraçar a Cruz desnuda”, “nós estamos pregados na Cruz”.

De fato a Cruz como insígnia e brasão. Portanto, “A Cruz desnuda sobre um trimonte”.

O tema da Cruz faz parte da espiritualidade de São Caetano. As citações

poderiam se multiplicar.

Para Caetano, a Cruz é o principio de toda reforma, é a sementeira de toda a

colheita, é o lugar de toda renovação e a condição de toda ressurreição.

Para os Teatinos, é a Cruz a estrutura interna que mantém toda a atividade e

irradiação do sacerdote reformado “In sequela Christi” (o seguimento de Cristo) é, para

todos os teatinos, a imitação do Cristo crucificado, e esta coincide Dei Colli, contenha a

formulação de algumas linhas de programa que deviam ser repetidas cotidianamente na

comunidade:

“Aquele que deseja vir antes de mim, negue-se a sim mesmo, tome sua cruz e

siga-me!”

A Cruz sintetiza, portanto, o programa de ação dos primeiros grupos de

Teatinos. Além dela ser o síntese de programa de uma vida apostólica, é o símbolo da

confiança na Providência.

A pregação da Cruz tem entre nós um exemplo definitivo na fundação da

primeira casa em Nápoles, em 1533. Destinado o Pe Caetano para a aventura da nova

fundação dá se liberdade para que escolha um companheiro. Ele, de joelhos diante de

um crucifixo, pede ao Senhor que lhe seja dado um companheiro que melhor possa

crucificar sua maneira de ser. E lhe foi designado um cordial amigo de Marinoni,

“iugiter in suo corpore crucis mortificationem portavit” (sempre trouxe em seu corpo a

mortificação da Cruz).

Concluindo, a Cruz estava plena de significado programático entre os

fundadores. A Cruz como “jugo de Cristo”, ou “jugo de obediência”, “abraçar a Cruz

desnuda”, ou “estarmos pregados na Cruz”, que aparecem no texto de Pe Dei Colli e,

sobretudo, na exposição de programa que é feita ao candidato Marco Antônio Flamínio,

sintetizam plasticamente o projeto teatino. É bem notável que o Pe Carafa considere que

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ela resume todo o conjunto da vida religiosa. Escrevendo a sua irmã Maria, a fundadora

da Sapiência em Nápoles e grande panegirista da Cruz, fala assim, referindo-se uma

futura religiosa: “Eu a tenho advertido para que venha despojada de todas as coisas do

mundo, sozinha e desnuda, com a Cruz desnuda, para ser verdadeira escrava de Cristo”.

Para se ver corretamente qualquer candidato a teatino, é preciso vê-lo como se

via o primeiro postulante, o espanhol Della Lama: “Quero me esforçar para seguir o

Cristo desnudo, junto com eles, até a morte”

E aquele sacerdote que conviveu com os teatinos nos primeiros dias de Roma,

João Maria adivinhou naqueles homens da Cruz a dupla vertente de seu programa e de

seu escudo, o desprendimento - a radical pobreza - e a confiança em Deus providente:

“Nós, pobres de tudo, desnudos de qualquer recurso próprio, vivemos aqui por amor de

Deus”.

Sem. Lucas Antonio Gobbo Custódio

“Scio Cui Credidi!”

Fonte:

OLIVER, Antonio. Os Teatinos. Kis Arte e Design.