a crise brasileira - armando boito

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  • 8/18/2019 A Crise Brasileira - Armando Boito

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    A Crise Brasileira * - Armando Boito Jr.

    1- Introdução

    1.1- As dimensões da crise política

    Como diz a maioria dos observadores políticos, existem hoje duas crises noBrasil: uma crise econômica e uma crise política. Também como diz amaioria desses observadores, essas duas crises se retroalimentam, mas nãoda maneira como dizem esses observadores. retroalimenta!ão é di"erenteda#uilo #ue aparece na "ala e na pena dos jornalistas observadorespolíticos.

    crise política propriamente é uma crise #ue tem duas dimens$es#ue estão interli%adas, mas não são a mesma coisa. &xiste uma '( crise da"rente política neodesenvolvimentista ) "rente política #ue con%re%asetores e classes sociais dos mais distintos e #ue deu sustenta!ão aos*overnos do +T e a sua política neodesenvolvimentista, #ue é umdesenvolvimentismo "raco, um desenvolvimentismo possível dentro domodelo capitalista neoliberal, modelo com o #ual os *overnos do +T nãoromperam. &les procuraram estimular o crescimento econômico porintermédio da interven!ão do &stado, mas dentro de limites do modelocapitalista neoliberal. empre #ue esbarram em um desses limites, recuam.&ssa é a primeira e mais importante dimensão da crise política.

    se%unda dimensão é uma -( crise do re%ime político existente noBrasil. ão se trata de uma crise da democracia bur%uesa ) n/s temos noBrasil uma "orma de &stado #ue é uma democracia bur%uesa. 0entro deuma democracia bur%uesa pode haver v1rios re%imes políticos, como umre%ime presidencialista, um parlamentarista, uma monar#uia constitucionalparlamentarista, etc. o Brasil o #ue n/s temos é um presidencialismoautorit1rio.

    &u não aprecio nem um pouco o termo 2presidencialismo de coalizão2por#ue é um conceito #ue d1 uma import3ncia indevida aos partidospolíticos. 4s partidos políticos no presidencialismo brasileiro tem umaparticipa!ão muito mar%inal nas decis$es de *overno. em o + 0B tinhaparticipa!ão importante no *overno 56C e nem o +T discute, decide econtrola as medidas de política econômica, social, etc., do *overno 7ula edo *overno 0ilma. ão temos no Brasil *overno de +artido.

    4 presidencialismo brasileiro é um presidencialismo autorit1rio, h1situa!$es em #ue o +residente da 8ep9blica %overna por medidas

    Transcri!ão de palestra pro"erida na ;5+B em outubro de -

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    provis/rias, "oi assim com arne@, 56C, 7ula e vinha sendo assim com0ilma, a%ora sendo em parte contestado. crise desse presidencialismoautorit1rio se d1 devido a uma 2rebelião2 tanto no enado #uanto naC3mara, com motiva!$es conservadoras dos mais variados tipos.

    1.2- A instabilidade da democracia burguesa no Brasil Temos al%o menor #ue uma crise, mas #ue pode se aproximar de uma

    situa!ão de crise e #ue podemos denominar de instabilidade. /s vivemosum momento de instabilidade da democracia bur%uesa no Brasil. ãoconvém "alar de crise por#ue não tem uma "or!a social representativa nocen1rio político nacional propondo o Dm da democracia e a implanta!ão deuma ditadura. &xistem %rupos propondo essa solu!ão, mas são poucorepresentativos.

    instabilidade da democracia est1 representada pelo "ato de #ue opartido perdedor das elei!$es não aceita a derrota, não aceita a re%ra damaioria, #ue é a re%ra de ouro da democracia. 4 + 0B "az pouco dos valoresdemocr1ticos e as institui!$es #ue deveriam zelar pela democracia no Brasiltambém amea!am o resultado das elei!$es, como por exemplo o TC;. "ra%ilidade da democracia acompanha o desenvolvimento do capitalismodependente brasileiro. %ente pode por al%um tempo ter sido tomado pelaideia, #ue é na verdade uma ilusão, de #ue superamos a ditadura militar ea%ora nunca mais. &ssa instabilidade da democracia nos alerta paradiDculdades muito %randes #ue poderemos encontrar mais na "rente.

    1. - A crise econ!micae%uindo muitos analistas, eu considero #ue a crise economia est1

    em primeiro lu%ar associada E crise do capitalismo mundial. &ssa crise docapitalismo é internacional sur%e com uma "or!a maior ou menor emdi"erentes países tanto do norte #uanto do sul. o Brasil, aspectosimportantes dessa crise #ue contribuíram para a crise econômica brasileira"oram a desacelera!ão da economia chinesa, a esta%na!ão europeia, arecupera!ão "raca dos &; e a #ueda dos pre!os das commodities.

    crise econômica, entretanto, não é um resultado mec3nico da crise

    internacional. 4 "ato de ter sido mantido pelos *overnos do +T o modelocapitalista neoliberal contribuiu muito para a crise econômica brasileira. +or#ue a #ueda dos pre!os das commodities bateu tão "orte no BrasilA Bateupor#ue a exporta!ão de matériasFprimas, de recursos naturais, de produtosa%rícolas ad#uiriu uma dimensão cada vez maior dentro desse modelocapitalista neoliberal re%ressivo ao #ual estamos submetidos. lém disso, apolítica de juro e de administra!ão da dívida p9blica reduz enormemente acapacidade de investimento do &stado, esteriliza parte si%niDcativa door!amento da ;nião, dos &stados e dos unicípios, reduz a capacidade deinvestimento do &stado e a sua capacidade de "azer política anticíclica.

    G claro #ue essa crise econômica estimulou a crise política. as não ésempre #ue uma crise econômica provoca crise política. /s tivemos uma

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    crise econômica no Brasil em -

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    na sua luta, não na sua oposi!ão, mas na sua concorrKncia com ocapitalismo internacional. &ssa disputa é desi%ual por#ue o *overnocapitalista neoliberal, nos seus pilares b1sicos, "avorece a -( bur%uesiainternacional e a "ra!ão da bur%uesia brasileira inte%rada a essa bur%uesiainternacional.

    4s *overnos do +T "oram criando mecanismos de moderar essasdiDculdades e cedeu, portanto, um espa!o maior para o crescimento dessa%rande bur%uesia interna. +or exemplo, sobre a abertura comercial ) #ue éo %rande obst1culo para os ne%/cios dessa %rande bur%uesia interna)embora os *overnos do +T não tenham acabado com a abertura comercial,criaram a política de conte9do local, com a #ual o *overno da prioridadepara a compra de bens e servi!os produzidos no Brasil. Psso "oi respons1velpela recupera!ão, por exemplo, dos estaleiros navais, pois causou um boomna produ!ão de navios de calado, de plata"ormas, de sondas pela industria

    local no Brasil. Q título de compara!ão, 56C entre%ou a constru!ão navalcom = mil postos de trabalho, no Dnal de -

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    *overnos do + 0B a tinham deixado. 4utro exemplo é o pro%rama inhaCasa inha Uida #ue também atendia interesse de ambos.

    lém dessa conver%Kncia espont3nea, os *overnos do +T tomaramal%umas iniciativas #ue normalmente não eram de interesse estrito da

    %rande bur%uesia interna, como por exemplo a política de trans"erKncia derenda e de valoriza!ão do sal1rio mínimo. 4u seja, #uando vocK estimula oinvestimento e o crescimento do capitalismo, os trabalhadores podem%anhar al%uma coisa, é essa uma das raz$es #ue explica a "orma!ão dessa%rande "rente neodesenvolvimentista.

    6avia a %rande bur%uesia interna, #ue era a "or!a he%emônica dessa"rente ) he%emônica por#ue os seus interesses eram priorizados pelapolítica econômica do estado ) e um movimento sindical se beneDciandodo empre%o, do aumento do sal1rio mínimo. *anhou "or!a e melhorou parao sindicalismo as condi!$es de luta, as %reves come!am em um n9mero deO'- %reves por ano em -

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    associem trabalhadores sem carteira assinada, "ato da maior import3ncia,mas #ue muitas vezes é i%norado nas an1lises. &ssa "rente não Dcou restritaa esse setor, essa "rente pe%ou também os trabalhadores da massamar%inal com os pro%ramas de trans"erKncia de renda, o bolsa "amília, oauxílio de presta!ão continuada ) #ue não "oi cria!ão dos *overnos +T,mas #ue estimularam e "ortaleceram o pro%rama ) o luz para todos, são ostrabalhadores da massa mar%inal, #ue não estão inte%rados de maneiras/lida no mercado de trabalho, #ue se beneDciaram desses pro%rama e #uese converteram em uma jazida de votos Deis para os *overnos do +T.

    %rande imprensa e os liberais costumam dar tratamento reacion1rioe moralista a esse "enômeno, mais ou menos como se os pobres "ossemcorrompidos pelo bolso. Vuando houve a a!ão penal RW

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    tornam maiores e mais di"ícil se torna absorveFlas pela política da "renteneodesenvolvimentista. &ntão, anti%as contradi!$es no seio da "rente sedesenvolvem ) como diria ao TseFTun%, o diri%ente da revolu!ão chinesa) e criam ao se desenvolver uma situa!ão nova, novas contradi!$essur%em, contradi!$es #ue não existiam no início.

    0esta#ueFse um exemplo do sur%imento de novas contradi!$es: a juventude de classe média #ue teve acesso a universidade %ra!as a políticados %overnos neodesenvolvimentsitas, por intermédio do 8&; P, porintermédio do +84; P ) #ue Dnanciou o in%resso desses jovens nasuniversidades privadas ) por intermédio do 5P& , puderam entrar mais"acilmente nas universidades publicas. 4s %overnos do +T investiram muito,a estudantada universit1ria saltou de ' milhão e meio para W milh$es. &ssa

    juventude de classe média, principalmente de baixa classe média, "oi sediplomando no ensino superior, s/ #ue não encontrou a#uilo #ue esperavam

    encontrar uma vez de posse do seu diploma. +or #ueA +or#ue como os%overnos neodesenvolvimentistas abriram mão do objetivo dereindustrializar o Brasil, dos empre%os criados S"oram muitos os empre%oscriados( cerca de I= exi%iam baixa #ualiDca!ão e pa%avam umaremunera!ão muito baixa. &ntão esses jovens diplomados não encontravamuma coloca!ão de acordo com a#uilo #ue eles tinham expectativa deencontrar. &u acho #ue isso é o motivo principal da mani"esta!$es de junhode -

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    do setor da bur%uesia brasileira inte%rado a essa bur%uesia internacional, ea rea!ão da alta classe média contra os %overnos neodesenvolvimentistas.

    &ssa alta classe média merece uma considera!ão especial. 4 capitalinternacional e a "ra!ão da bur%uesia brasileira a ele inte%rado tem como

    objetivo principal derrotar a política econômica do +T. 4 56C, o erra, todosos diri%entes políticos do + 0B, deputados e senadores do + 0B, #ue semani"estam na imprensa, sempre "oram contra a política de prote!ão aprodu!ão local, ar%umentando #ue isso vai atrasar o desenvolvimentotecnol/%ico da industria, e prejudicar a +etrobras por#ue ela pa%a mais caropor sonda, navio de %rande calado, etc. &ntretanto, na época do 56C a+etrobras importava até remo. &les eram contra a política de conte9dolocal, eram contra a política do B 0& , diziam #ue isso a%ravava as contaspublicas por#ue o &stado tomava dinheiro emprestado a uma &7PC entre '<e '- e emprestava no TM7+ para as %randes empresas a = . 4s

    empres1rios ami%os do *overno ) realmente esses empres1rios eram maispr/ximos do *overno, por#ue os empres1rios #ue eram privile%iados pelo*overno 56C tinham suas empresas em T/#uio, ova XorY, Berlim, etc, nãoera em ão +aulo, alvador, Moão +essoa, eram mais conhecidos de "ato )diziam também #ue esse dinheiro podia ser usado em bene"ício dapopula!ão. &ram contra a política do B 0& , eram contra todas a#uelasmedidas #ue moderavam os e"eitos ne%ativos do modelo capitalistaneoliberal #ue eles tinham implantando.

    &ntão o problema da bur%uesia internacional é esse. &st1 aí a%ora o Mosé erra ) #ue j1 tinha trocado tele%ramas com a Chevron como oZiYileaYs mostrou ) apresentando projeto para li#uidar com a +etrobras,pra entre%ar o préFsal para as %randes petroleiras internacionais, é isso #ueeles estão "azendo. %ora o problema da alta classe média não é esse. 4problema da alta classe média, na minha an1lise, é o problema da políticasocial do +T. política econômica do +T, em parte, beneDciou essa classemédia, por exemplo o +T reabriu os concursos p9blicos. Vuantos Dlhos declasse média não puderam arrumar bons empre%os p9blicos de classemédia e de alta classe média %ra!as ao "ato de os %overnosneodesenvolvimentistas terem descon%elado os concursos p9blicos #ue o%overno 56C tinha con%eladoA /s #ue somos do meio universit1riosabemos o #ue isso si%niDcou em termos de va%as para pro"essores,técnicos, "uncion1rios administrativos nas universidades brasileiras, o#uanto cresceu o sistema universit1rio.

    4 problema "undamental da alta classe média é #ue eles entendem#ue eles pa%ando imposto Dnanciam toda a trans"erKncia de renda, toda apresta!ão de servi!os #ue os %overnos neodesenvolvimentistas diri%empara as camadas mais pobres da popula!ão. 4 bolsa "amília pesa no bolsodeles, eles entendem. 4 ais édicos, além de pesar no bolso deles, "ere osinteresses da corpora!ão médica #ue #uer controlar de maneira estreita e

    ri%orosa o mercado da medicina para mantKFlo como um mercadoaltamente lucrativo, onde se "az "ortunas Es custas da sa9de popular.

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    4 problema da alta classe média, dessa "orma, é essa política socialpelo lado econômico, mas também pelo lado ideol/%ico, pelo lado simb/lico.

    #ui seriam necess1rias muitas pes#uisas de opinião, aplicando#uestion1rios, para os #uais precisaríamos ter %randes institutos como o0ata"olha. /s não temos nada disso. as a %ente pode a partir dolevantamento #ue "azem nesses %randes institutos e, "re#uentando tambémas redes sociais, a %ente tem uma "onte le%itima de an1lise para escutar umpouco o sentimento dessa alta classe média, e a %ente vK o #ue elesexpressam nas redes sociais. ;m exemplo é a#uele arti%o de uma jornalistano portal da %lobo ) #ue depois das rea!$es "oi retirado ) no #ual ela"alava sobre o pobre na clínica medica. li est1 expressa a ansiedade, atensão e o incômodo #ue essa alta classe media sente #uando vK indivíduose%ressos de classes populares adentrarem em espa!os #ue ele ima%inavaserem espa!os exclusivos seus, isso vale para uma clinica médica, para umaeroporto, para uma escola, para uma vizinhan!a, etc. &ssa alta classe

    média é a base social do imperialismo e da bur%uesia associada no Brasil esão os principais a%entes dessa crise. &ssa crise "oi provocada pelo setormais reacion1rio da sociedade brasileira.

    Vual "oi a rea!ão do %overno diante dessa criseA G aí #ue a coisacome!a a complicar mais para o movimento popular. 4 %overno optou porrecuar, e recuar em todas as "rentes, na política econômica e na políticasocial. a política social a %ente sabe como isso est1 ocorrendo ) inclusiveem nosso ambiente de trabalho, com os cortes nas universidades, o #ue éapenas um ponto de in9meros outros #ue estão envolvidos nessa política. 4

    soDsma é: implantar uma política recessiva para combater a recessão. 7ev@vem todo dia a p9blico dizer o se%uinte: 2vamos apoiar Drmemente nossaspolíticas recessivas por#ue assim rapidamente o crescimento vai voltar2.

    M1 houve crises políticas no Brasil em #ue os %overnos ensaiaram umacontrao"ensiva em vez de recuar. Como n/s estamos "alando doneodesenvolvimentismo, cabe lembrar o velho desenvolvimentismo. Vual"oi o primeiro movimento do *et9lio Uar%as, no seu se%undo *overno,#uando as "or!as antiFindustrialistas e baseadas na alta classe media ) #uena época eram proDssionais liberais or%anizados na ;0 ) iniciou o cercoao *overno. &le ensaiou uma rea!ão e decretou o aumento de '

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    desenvolvimentista em "ran%alhos, com as suas contradi!$es internasa%u!adas. 0e modo #ue hoje é di"ícil mobilizar os trabalhadores em de"esado *overno neodesenvolvimentista #ue os beneDciou até h1 pouco, masa%ora reserva para eles cortes e cortes e cortes. &ssa #ue é a diDculdade ea complexidade da situa!ão.

    - A crise do presidencialismo autorit$rio

    o Brasil, a luta entre as "ra!$es bur%uesas é uma luta de alcancepolítico, econômico e social restrito, por#ue são duas "ra!$es do %randecapital. /s não temos, por exemplo, uma or%aniza!ão das médiasempresas pleiteando um pro%rama de desenvolvimento do capitalistavoltado pro consumo popular, "ortalecimento e amplia!ão do mercadointerno, para aumentar a produ!ão de bens de consumo popular, comovestimentas, m/veis, alimenta!ão, #ue é o #ue produzem as pe#uenas emédias empresas. Tivéssemos isso, o conLito no interior da bur%uesia teriaum alcance econômico e político muito mais amplo, mas não é isso, é umacontradi!ão de dois setores do capital. +or #ue eu estou dizendo issoA+or#ue essa disputa intraFbur%uesa, ao se dar no interior do %rande capital,seja no *overno do 56C ou seja no *overno do +T, priorizaram interesseslocalizados do %rande capital ) apesar das di"eren!as desses interesses #uen/s j1 vimos ) o #ue si%niDca #ue é muito di"ícil estabelecer umahe%emonia por intermédio do Con%resso acional. 4 Con%resso acional émuito hetero%Kneo. 0esse modo, %overnar por medidas provis/rias é umanecessidade, mesmo pra implantar a política neoliberal "oi necess1riomuitas medidas provis/rias por#ue #uando ia pra vota!ão no Con%resso acoisa complicava, principalmente por#ue muitas das medidas exi%iamvota!ão com #uorum de maioria #ualiDcada.

    /s se%uimos essa etapa toda da historia brasileira na #ual prevaleceo modelo capitalista neoliberal, seja na sua versão pura do + 0B, seja nasua versão re"ormada dos %overnos neodesenvolvimentistas. a medida#ue prevalece essa he%emonia do %rande capital, é "uncional para o %randecapital concentrar o poder no executivo, na burocracia, na cheDa daburocracia "ederal. 71 as decis$es se tomam sem debate publico, l1 é mais"1cil uni"ormizar a e#uipe %overnamental e %overnar para uma parte mais

    restrita da popula!ão.&sse presidencialismo autorit1rio entrou em crise. &ntrou em crise por

    boas e por m1s raz$es. s m1s raz$es são evidentes. l%o #ue não tem aver diretamente com a luta econômica, com a luta distributiva entre asclasses, inLuenciou muito nessa revolta da C3mara e do enado, #ue é aluta em torno de valores democr1ticos, a de"esa dos direitos das mulheres,a de"esa dos direitos dos ne%ros, a de"esa dos direitos 7*BT. "renteneodesenvolvimentista, embora não tenha tido uma política ousada )muito lon%e disso ) para esses movimentos, ela tomou medidas maisavan!adas do #ue a#uelas #ue os %overnos 56C tomava. Basta ver as cotasraciais no servi!o publico, nas universidades, basta ver as tentativas de%arantir o direito ao aborto em determinadas situa!$es previstas em lei,

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    basta ver o apoio moral e político dado pelos %overnos e deputados do +Tao movimento 7*BT, basta ver a posi!ão das mulheres na Comissão

    acional de 0ireitos da ulher. 4u seja, atendeuFse esses setores, e isso "oiprovocando uma rea!ão dos setores muito conservadores li%ados a v1riasi%rejas cat/licas, pentecostais, cuja "or!a "oi crescendo na C3mara. crisedo presidencialismo autorit1rio se d1 por boas e m1s raz$es, essas são asm1s raz$es da#ueles #ue #uerem reimplantar obscurantismo na sociedadebrasileira.

    %- A instabilidade da democracia burguesa no capitalismodependente brasileiro

    &u "alei da crise política, #ue é uma crise da "rente políticaneodesenvolvimentista sob ata#ue de uma o"ensiva restauradora e crise dopresidencialismo autorit1rio. as tem al%o #ue é menos #ue uma crise masé importante, a instabilidade da democracia.

    M1 "oi "eita re"erKncia ao desrespeito a re%ra de maioria #ue é típicode um país de capitalismo dependente como o Brasil. democraciabur%uesa é muito mais "r1%il no Brasil do #ue na &uropa ocidental. sociedade brasileira é uma sociedade em #ue a concentra!ão da renda e dopatrimônio ) iate não pa%a imposto no Brasil, embora uma Brasília WI #ueesteja circulando tem #ue pa%ar imposto, avião particular e helic/ptero nãopa%a imposto ) "ra%iliza a existKncia da democracia bur%uesa. Vual#uercrise pode contaminar os valores das institui!$es democr1ticas. & n/sestamos vendo hoje políticos e intelectuais como 56C, Mosé erra e outros

    #ue enchiam o peito para "alar de democracia e inclusive lutaram contra aditadura militar, pessoas de cuja historia é de se esperar uma posi!ãodemocr1tica, mas #ue estão desempenhando um papel #ue a historia lhesreservou como políticos do setor reacion1rio da política brasileira. &lesrompem como todo o seu passado com todas as suas declara!$es e partempara um %olpe branco #ue é a proposta de impeachment. / não vão demaneira mais conse#uente por medo do resultado #ue irão obter.

    Pnstitui!$es como o Mudici1rio e o + tKm uma política "avor1vel aoimpeachment da presidenta da republica, a despeito de ela ter sido eleitah1 poucos meses. Psso se d1 por dois motivos: primeiro por#ue sãointe%rantes da alta classe media, #ue declarou %uerra aos %overnosneodesenvolvimentistas, com %randes mani"esta!$es de massa como todosn/s sabemos. 4 sal1rio inicial dos juízes é de O< mil reais, e o teto de O= milé desrespeitado de maneira total em todo o Brasil, por#ue eles tem auxilioalimenta!ão, auxilio palet/, auxílio moradia, inclusive para #uem épropriet1rio da pr/pria casa. 8ecentemente, uma reporta%em da Caros

    mi%os mostrou #ue para os juízes de direito o teto salarial é #uase o piso,praticamente pr/ximo do teto, e daí os sal1rios che%am até '

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    classe media para se voltar contra o neodesenvolvimentismo, e estãoli%ados E#uilo #ue +ierre Bourdieu denominou de 2o bra!o direito do&stado2. &les não são pro"essores, eles não são assistentes sociais, eles são"uncion1rios do &stado respons1veis pela manuten!ão da ordem bur%uesano Brasil. cabe!a deles é a cabe!a da ordem, são os juízes #ue emitemsenten!a de reinte%ra!ão de posse, são os procuradores #ue processam#ual#uer sindicalista do +T, #ual#uer assentamento do T e "azem vista%rossas pra toda corrup!ão do + 0B e de seus pares. +or exemplo, tem umprocurador do #ue mora na re%ião da paulista #ue colocou nas redes sociais#ue a + pode matar os mani"estantes de es#uerda da paulista #ue eleconhece o juiz da#uela re%ião e %arante impunidade. S... de"eito no vídeo...(4 ministro da justi!a #ue é um persona%em debochado publicamente porum dele%ado da +5.

    Psso é instabilidade da democracia no Brasil. G uma instabilidade #ue

    permite um %olpe branco, para usar a expressão corrente. +ode ser um%olpe #ue não vai implantar a ditadura, por isso eu "alo s/ em instabilidade.Uão implantar um novo *overno, mas é um %olpe, isso mostra o #uanto são"r1%eis os valores democr1ticos no brasil.

    &- A reação do mo#imento oper$rio e popular

    0iante dessa crise política de duas dimens$es, crise da "renteneodesenvolvimentista, crise do capitalismo autorit1rio, e diante dessainstabilidade da democracia, #ual tem sido a rea!ão do movimento oper1rioe popularA Uou considerar trKs %randes orienta!$es.

    '( primeira rea!ão é uma #ue, no meu modo de ver, desprezaerroneamente a import3ncia dos trabalhadores, na atual correla!ão políticade "or!as, de"enderem a democracia bur%uesa contra as amea!as %olpistas#ue pesam no Brasil. e trata de uma posi!ão de neutralidade políticadiante do %olpe branco #ue se desenha e #ue poder1 eventualmente servitorioso. ;ma posi!ão de neutralidade é uma posi!ão #ue "avorece amarcha do %olpe. 0iscutindo com companheiros #ue de"endem essaposi!ão, al%uns che%am a dizer: 2se o impeachment estiver iminente, n/svamos de"ender o mandato obtido nas urnas2. as aí é como dizer o carroest1 indo em dire!ão do muro e se che%ar muito perto eu vou %ritar. eche%ar muito perto não d1 tempo de parar. &u acho #ue uma posi!ãoe#uivocada. & essa neutralidade diante do %olpe reacion1rio é normalmenteacompanhada da proposta de um poder oper1rio, de um poder popular, #ueeu entendo ser uma proposta invi1vel devido a correla!ão política de "or!as,devido ao atual esta%io de or%aniza!ão, consciKncia das massas, umaproposta idealista na situa!ão brasileira. 4 Dm do %overnoneodesenvolvimentista na situa!ão atual s/ pode si%niDcar a implanta!ãode um %overno neoliberal puro e duro. ão tem outra op!ão no momentoatual.

    &xiste uma se%unda posi!ão #ue consiste em de"ender o mandatoobtido pela presidenta 0ilma nas urnas, mas se abster de lutar contra a

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    política econômica e social #ue esse *overno come!ou a implantar.&ntendem #ue de"ender o mandato e combater a política é contradit/rio, eo principal a%ora é de"ender o mandato.

    terceira posi!ão, #ue eu acho a correta, é a posi!ão #ue vem sendo

    esbo!ada pela 5rente Brasil +opular. &ssa 5rente re9ne setores #ue inte%ramou inte%ravam a "rente neodesenvolvimentista no período #ue essa "rentenão se encontrava em crise, no período de "or!as dessa "renteneodesenvolvimentista. 4 #ue é #ue a 5rente Brasil +opular ima%ina a%oradiante da crise política e da crise econômica é #ue é necess1rio #ue asor%aniza!$es operarias resistam, combatam a política econômica e socialrecessiva e iniciem a constru!ão de um pro%rama novo. as avaliam, aomesmo tempo, #ue não h1 "or!a para implanta!ão desse pro%rama a%ora.

    ão se pode romper com a de"esa desse %overno por#ue o #ue viria seriamuito pior. &ntão é sim uma política #ue trabalha com objetivos di"íceis de

    serem conciliados, mas é a política #ue me parece mais correta nessemomento, #ue é o #ue vem procurando essa "rente brasil. e

    o #ue diz respeito a instabilidade da democracia e a crise do re%imede presidencialismo autorit1rio, a ideia existente, pelo menos em boa partedas or%aniza!$es #ue inte%ram a 5rente Brasil +opular, é #ue é necess1riorecuperar a proposta da Constituinte para a re"orma do sistema político,por#ue no momento de instabilidade da democracia, no momento de crisedo re%ime de presidencialismo autorit1rio, é necess1rio #ue as "or!aspopulares e pro%ressistas comecem a pensar uma proposta de or%aniza!ãodo sistema político brasileiro, #ue entrou em uma espécie de curto circuitodessa crise. &ntão n/s temos #ue ter uma posi!ão, uma proposta pra isso. &eu entendo #ue a proposta de uma constituinte exclusiva e soberana para are"orma do sistema político é uma proposta #ue cabe.