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A CRIANÇA AJUDA EM CASA: - Jaime Nazario Fundação Brasileira para o Desenvolvimento do Ensino de Ciências FUNBEC Instituto Brasileiro de Educação, Ciências e Cultura IBECC Poucas coisas se comparam ao prazer de saborear uma salada feita com verduras e legumes que nós mesmos plantamos, cuida- mos, vimos crescer e colhemos. Cultivar uma pequena horta, em casa ou na escola, é uma atividade verdadeiramente emocionan- te: cada semente que germina, cada folha ou fruto que se forma é motivo de alegria e assunto obrigatório nas conversas. Entretanto, é muito mais do que um passa tempo: É saudá vel A necessidade de incluir vegetais em nossa ali- mentação é por demais conhecida e não vamos discor- rer sobre ela. Queremos apenas lembrar que as crian- ças não são, em geral, grandes apreciadoras de verdu- ras e legumes. O simples fato de terem elas próprias cultivado suas hortas pode motivá-Ias para comer vege- tais que normalmente rejeitariam. É econômico Para cultivar uma horta em escala doméstica - apenas alguns canteiros - o investimento necessário é muito pequeno. E essa horta pode reduzir, em alguns itens, a lista de compras da família. É educativo A criança se apaixona pelas plantas que cultiva, tanto quanto pelos animais de que cuida. Esse amor tende a se transferir à flora e à fauna em geral, isto é, a toda a natureza.O respeito e o amor à naturezasão ati- tudes que todo educador gostaria de desenvolver nas críanças que estão a seus cuidados. ~ - Enriquece o aprendizado A criança pode aprender muita coisa sobre a vida das plantas, ao cultivar sua horta. A tabela a seguir apresenta alguns exemplos de relações que podem ser estabelecidas entre as atividades ligadas à horta e os conteúdos programáticos de Ciências. Certamente o professor encontrará muitas outras relações que, bem exploradas, poderão enriquecer muito suas aulas de Ciências ou Biologia. colher de jardineiro Enxada Ancinho 41

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A CRIANÇA AJUDA EM CASA:

-

Jaime Nazario

Fundação Brasileira para o Desenvolvimento do Ensino de CiênciasFUNBEC

Instituto Brasileiro de Educação, Ciências e CulturaIBECC

Poucas coisas se comparam ao prazer de saborear uma saladafeita com verduras e legumes que nós mesmos plantamos, cuida-mos, vimos crescer e colhemos. Cultivar uma pequena horta, emcasa ou na escola, é uma atividade verdadeiramente emocionan-te: cada semente que germina, cada folha ou fruto que se forma émotivo de alegria e assunto obrigatório nas conversas. Entretanto,é muito mais do que um passa tempo:

É saudá vel

A necessidade de incluir vegetais em nossa ali-mentação é por demais conhecida e não vamos discor-rer sobre ela. Queremos apenas lembrar que as crian-ças não são, em geral, grandes apreciadoras de verdu-ras e legumes. O simples fato de terem elas própriascultivado suas hortas pode motivá-Ias para comer vege-tais que normalmente rejeitariam.

É econômico

Para cultivar uma horta em escala doméstica -apenas alguns canteiros - o investimento necessário émuito pequeno. E essa horta pode reduzir, em algunsitens, a lista de compras da família.

É educativo

A criança se apaixona pelas plantas que cultiva,tanto quanto pelos animais de que cuida. Esse amortende a se transferir à flora e à fauna em geral, isto é, atoda a natureza.O respeito e o amor à naturezasão ati-tudes que todo educador gostaria de desenvolver nascríanças que estão a seus cuidados.

~-Enriquece o aprendizado

A criança pode aprender muita coisa sobre a vidadas plantas, ao cultivar sua horta. A tabela a seguirapresenta alguns exemplos de relações que podem serestabelecidas entre as atividades ligadas à horta e osconteúdos programáticos de Ciências. Certamente oprofessor encontrará muitas outras relações que, bemexploradas, poderão enriquecer muito suas aulas deCiências ou Biologia.

colherde jardineiro

Enxada Ancinho

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NA HORTA

o solo precisa ser fofo econter material orgânicopara reter água e permitiraeração das raízes.

Adubação química.

Devem ser escolhidos lo-cais ensolaradose ventila-dos. É necessário mantera umidade.

Utilizamos sementes oumudas.

Germinação das semen-tes.

Pragas e doenças - Ani-mais úteis (sapo, minho-ca).Adubação orgânica(esterco).

Valor nutritivo dos vege-tais.

Poda ou capação.

Desbaste e capina.

PROGRAMADE CIENCIAS

. Tipos de solos -Estrutura. Necessidade de oxigê-nio - Respiração. Necessidadede água.

. Necessidadede saismi-nerais - Macro e micro-nutrientes.

. Necessidade de luz,

água e ar - Fotossíntesee respiração.

. Reprodução das plantas- Sexuada e assexuada.

. Germinação - Condi-ções necessárias.. Estrutura das sementes.

. Relações entre animaise vegetais (produtores,consumidores, parasitis-mo, reciclagem de mate-riais, etc.).

. Higiene e saúde (dietasbalanceadas, vitaminas,sais minerais, etc.)

. Fisiologia vegetal -(hor-mônios vegetais).

. Competição.

Se achar conveniente,o professor poderá reprodu-zir e distribuir aos grupos de alunos o texto qU€segue;

Você já pensou alguma vez em produzir sua pró-pria comida? Claro que não é fácil criar bois, porcosou mesmo galinhas, em casa! Mas você pode perfei-tamente formar uma pequena ho~ta e trazer para amesa verduras e legumes fresquinhos, colhidos nahora, por você mesmo. Além de colaborar com a"poupança" da família você encontrará, na horticul-tura, um bom passatempo.

Está pronto para começar?

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ESCOLHA DO LOCAL

Em princípio, qualquer local que contenha terraserve para instalar sua horta. A única condição real-mente importante é que haja boa insolação; se puderescolher entre vários locais, prefira sempre o mais en-solarado. Se você mora em apartamento ou casa semquintal, pode transformar vários recipientes em cantei-ros (vasos, caixas de cimento-amianto, caixotes, caixasde plástico, jardineiras, etc.).

FERRAMENTAS

Para pequenas hortas, a necessidade de ferra-mentas é mínima. Se você vai cultivar suas plantasemvasos e caixas, basta uma colher de jardineiro - quepode ser substituída por uma colher de mesa - e umregador de crivo fino. Se vai preparar alguns canteiros,no quinta1,precisará também de uma enxada ou enxa-dão e, se possível, um ancinho.. A enxada serve para.movimentar e afofar a terra, des-

manchar torrões, mistl,Jraradubo, etc.. O ancinho é usado para nivelar e limpar a terra, sepa-

rar os torrõesmaisduros,removerpedras,etc.. A colher de jardineiro é usada para plantar e trans-

plantar mudas. No caso de horta em vasos, a colherpode substituir a enxada e o ancinho.

É claro que você poderá sofisticar seu ferramental,se o desejar. O que citamos é o mínimo indispensávelpara manter uma horta. Dispondo de bastante espaço,você mesmo concluirá que mais algum equipamentopoderá ser útil: pá, sacho, pulverizador, carrinho demão, etc.

Pulverizador

sacho

carrinhode mão

PREPARAÇÃO DO LOCALCanteiros

Divida o terreno disponívelem canteiros de aproxi-madamente 70 cm de largura. O comprimento fica aseu critério, dependendo do espaço disponível, masnão deve ser superior a 10m. Entreos canteiros, deixecorredores de aproximadamente30 cm de largura parapoder circular entre os canteiros.

Revolva bem a terra dos canteiros, com enxadaouenxadão, desmanche os torrões e elimine as pedras eos torrões que não conseguir desmanchar. Se a terrafor muito argilosa (barrenta e vermelha) misture umpouco de areia; se ela for muito arenosa, misture argila(terra vermelha).

Em seguida acrescente esterco curtido de curral,na proporção de 10 litros de esterco por metro quadra-do. O esterco de curral pode ser substituídopor estercode aves mas, nestecaso, bastam3 litros por metro qua-drado. Quantidadesexageradasde esterco podem pre-judicar o desenvolvimentodas plantas.

Se, em sua primeira tentativa, as hortaliças não sedesenvolverem bem, provavelmente isto se deve à máqualidade da terra. Nessecaso, você deverá acrescen-tar adubo químico, ao preparar o canteiro. Para gran-des plantações comerciais, o adubo e a dosagem de-vem ser determinados após uma análise do solo e daplanta que vai ser cultivada. No caso de pequenashortas caseiras, como a sua, basta comprar adubosde uso mais geral, existentes no comércio. Na própriacasa em que adquirir adubo, e também na embala-gem deste, você obterá informações sobre a quanti-dade a usar; em geral 4 a 5 colheres de sopa por me-tro quadrado são suficientes. Não exagere no uso deadubos químicos, pois seu excesso é tão prejudicialquanto sua falta.

Misture bem a terra com tudo o que acrescentouao canteiro e deixe-oem repouso por 20/25 dias, antesde iniciar a plantação.Esserepouso é necessário paraque a fermentaçãodo esterco não prejudique as planti-nhas.

Vasose Caix~sOs vasos para plantas têm furos no fundo, para

drenagem do excesso de água. Se usar caixas, vocêdeverá fazer alguns furos. Se usar caixotes, as frestasentre as tábuas permitem a drenagem.

Se usar vasos,coloque um pouco de cascalho, pe-dregulho ou cacos de telha sobre os furos, sem tampá-los completamente. Acrescente uma pequena camadade areiasobre o cascalho; 1 a 1,5 cm de espessuraé osuficiente.

Preparados os vasos, misture terra bem fofa comesterco, na proporção de duas medidas de terra parauma medida de esterco. Se necessário, acrescenteadubo químico na quantidade indicada pelo fabricanteou, na falta de informações, 1 colher de sobremesapa-ra cada 20 litros da mistura. Deixeos vasos em repousopor 20/25 dias.

Se preferir, você pode adquirir terra já preparadapara encher os vasos. Entretanto,nem sempre esse ti-po de terra é de boa qualidade.

PREPARAÇÃO DE C'OMPOSTO ORGÂNICOSe não dispuser de esterco em quantidade sufi-

ciente, você mesmo poderá preparar um ótimo substi-tuto. Basta abrir um buraco no quintal e enterrar todo olixo orgânico (restos de comida, cascas de frutas, fo-lhas secas, grama cortada e outros restos do própriojardim e da horta). Misture esses restos com terra e ape-nas um pouco de esterco, molhe uma vez por semana eremexa-os de vez em quando, com a enxada. Em doisou três meses você terá um excelente adubo orgânicopara usar em sua horta.

O PLANTIO

Antes de iniciar o plantio, você deve saber que al-guns vegetais podem ser plantados diretamente no can-teiro definitivo e outros devem ser semeados em umasementeira e transplantados para o local definitivoquando as mudas já estiverem formadas.

Os envelopes de sementes, que você encontra atéem supermercados, trazem as seguintes informações;

- Época de plantio- Sistema de plantio (definitivo, em sementeiras,

em covas, etc.)- Tempo de germinação- Espaçamento entre as plantas- Tempo para colheita- Cuidado$ com as pragasProcure obedecer a essas instruções e consulte-as

na hora da compra, para selecionar as espécies maisconvenientes em função do espaço e do tempo de quedispõe. Fuja da tentação de plantar todas as sementesque encontrar no mercado; selecione algumas (2 ou 3)para começar. Recomendamos, para principiantes, oalmeirão e o rabanete, por serem de crescimento rápi-do e pouco sujeitas a pragas. Depois de adquirir umpouco de prática, você poderá expandir suas atividadesagrícolas.

Garantimos que as verduras que você mesmo se-meou, cuidou e colheu têm outro sabor. Experimente everá!

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