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A CONTRIBUIÇÃO DAS ATIVIDADES LÚDICAS NA DIMINUIÇÃO DA VIOLÊNCIA

ESCOLAR

Autora: Vera Lucia dos S. de Oliveira1

Orientador: Marcelo Romanzini2

RESUMO

Este trabalho tece reflexões acerca da temática Violência Escolar, que conota relevância diante de uma sociedade marcada por crises. A escola como ambiente propício às interações sociais sofre esses efeitos, refletidos no aumento da agressividade e da violência nos diversos ambientes escolares, particularmente durante os intervalos entre as atividades formais. Nesse contexto, fizemos uma proposta de utilização das atividades lúdicas nas aulas de Educação Física e durante o recreio, que tiveram enfoque nos jogos cooperativos e competitivos. Ao brincar, o indivíduo desenvolve vínculos afetivos e sociais e aprende a conviver em grupo. Esta proposta foi implementada com alunos da Educação Básica da Escola Estadual Nereu Ramos no município de Manoel Ribas – PR.

Palavras-chaves: Agressividade, violência, jogos, brincadeiras e recreio.

I. INTRODUÇÃO

Vivemos em uma sociedade marcada por crises de ordem econômica, social,

religiosa, política, cultural e educacional. A escola como ambiente propício às

interações sociais sofre os efeitos dessas crises, refletidos no aumento da

agressividade e da violência, nos diversos ambientes escolares, particularmente

durante os intervalos entre as atividades formais. Isto pode estar ocorrendo,

também, devido à falta de ações mais significativas, ou mesmo pela falta de

1 Professora da Rede Pública de Ensino do Estado do Paraná - [email protected] 2 Professor do Departamento de Educação Física da Universidade Estadual de Londrina – UEL

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experiência com atividades que envolvam o espírito de colaboração e o respeito pela

opinião do outro. Segundo Lucon e Schwarts (2003, p.134):

“O recreio, por representar um intervalo maior entre as atividades previstas,

torna-se um momento propício para o aumento de atos agressivos e exclusão, onde a falta de opções, de estímulos positivos e o desconhecimento do universo lúdico, podem influenciar atitudes de rebeldias, entre os diferentes grupos existentes dentro da escola, que utilizam da violência para resolverem alguns fatos.”

Entretanto é grande o número de alunos que se queixam de serem alvos de

atos de violência, seja física ou verbal no ambiente escolar e tais atos ocorrem

geralmente durante os intervalos das atividades regulares.

Por meio das situações de brincadeira que se podem desenvolver os vínculos

afetivos e sociais positivos para, assim, poder-se viver em grupo e encontrar uma

forma única ou principal de instrumentalizar a educação para a vida (SENICATO,

1998). Por meio da recreação é possível educar.

De acordo com Brotto (2001), a recreação é uma forma específica de

atividade, uma atitude ou disposição, uma área da vida rica e abundante, a vida fora

das horas de trabalho. [...] se considerarmos que a criança pré-escolar aprende de

modo intuitivo, adquire noções espontâneas, em processos interativos, envolvendo o

ser humano inteiro com suas cognições, afetividade, corpo e interações sociais, o

brinquedo desempenha um papel de grande relevância para desenvolvê-lo.

Ao permitir a ação intencional (afetividade), a construção de representações

mentais (cognição), à manipulação de objetos e o desempenho de ações sensório-

motoras (físico) e as trocas nas interações (social), o jogo contempla várias formas

de representação da criança ou suas múltiplas inteligências, contribuindo para a

aprendizagem e o desenvolvimento infantil... (KISHIMOTO, 1996, p.36).

O objetivo deste estudo foi analisar como as Atividades Lúdicas no Âmbito

Escolar podem contribuir e interferir no desenvolvimento dos alunos com intuito de

diminuir a violência escolar, principalmente no recreio.

A recreação é uma prática em que os alunos participam de atividades

descontraídas e prazerosas, podendo ser uma importante estratégia de inclusão e

socialização. Nesse contexto, propõe-se delinear entretenimento para os indivíduos

e proporcionar prazer e contato com as atividades recreativas. Visando avaliar o

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comportamento e as posturas das crianças dentro das atividades desenvolvidas nas

aulas de Educação Física e no momento do recreio com jogos competitivos e

cooperativos, orientando sua conduta mediante atividades em grupo, amenizando a

violência. Para que isso fosse possível foram realizadas várias leituras de autores

que tratam sobre o assunto.

Como vivemos na emergência de novos paradigmas com desafios que

precisam ser superados a fim de não ficarmos à margem da modernidade. E nesse

contexto de mudanças e incertezas que estão inseridas a educação e a escola.

Embora na prática, na vivencia diária, a escola não tenha mudado muito sua forma

de atuar, estudiosos da área debruçam-se sobre a questão a fim de buscar um novo

fazer, objetivando melhorar a qualidade para todos do ensino oferecido.

Este artigo foi subdividido em três unidades: a Violência Escolar; os Jogos

Cooperativos e Competitivos; e os Jogos e Brincadeiras.

A Violência Escolar tem como foco norteador, disponibilizar conhecimentos e

ferramentas para o enfrentamento das questões referentes à violência no ambiente

escolar, de modo a conduzir o esclarecimento de questões relacionadas à ordem

social, econômica e cultural da sociedade e dar subsídios ao professor para que

este possa intervir no seu dia-a-dia escolar.

Os Jogos Cooperativos e Competitivos aborda a diferenciação entre estes

jogos, bem como a relação social que se estabelece entre os participantes em cada

um deles, de modo a oferecer aos professores, subsídios para ampliar sua visão

quanto à utilização dos Jogos Cooperativos, que podem trazer grandes benefícios

no processo dos relacionamentos. Buscando reafirmar que podem ser um

importante veículo na diminuição da violência escolar, além de ampliar os vínculos

afetivos e sociais entre os estudantes.

A escolha destas unidades para compor o artigo pautam-se no que expõe

Angulski et al (2008, p.5), quando afirma que:

“tais reflexões partem da premissa de que a Educação Física na escola, atualmente se resume, na maioria dos casos, na prática do esporte de forma descontextualizada, sem uma intenção pedagógica clara e que não leva o aluno a compreender a realidade para superá-la. Dessa maneira, as aulas acabam se constituindo em um agrupamento de atividades que, por não fazerem parte de um projeto pedagógico maior e de um efetivo trabalho pedagógico do/a professor/a, torna-se sem sentido e desprovido de

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significados, materializando-se na prática pedagógica de forma mecânica e superficial”.

Deste modo, o professor de Educação Física pode se utilizar das atividades

lúdicas nas aulas e nos intervalos, como meio de proporcionar experiências

prazerosas que permitam uma maior sociabilidade e bem estar aos seus alunos,

buscando contribuir para a minimização das situações de violência no ambiente

escolar.

II. Violência Escolar

A violência atualmente tornou-se uma constante em nossas escolas. Os

adolescentes muitas vezes não conseguem lidar com suas emoções, nem com suas

frustrações, não toleram regras, nem mesmo se compreendem. Entender e buscar

respostas são cruciais para se trabalhar com a realidade dos jovens agressivos.

Compreender e saber diferenciar agressividade de agressão é de suma

importância, pois a primeira é um instinto natural do ser humano, é a capacidade de

preservação e sobrevivência do ser humano. E a segunda é a utilização deste

instinto de agressividade de forma desarmônica, levando a violência a atos

extremos.

A violência escolar, nas ultimas décadas, adquiriu uma grande visibilidade em

toda a sociedade, existindo atualmente, uma grande percepção de violência em

todas as escolas

Antes de tudo é preciso deixar claro o que de fato constitui a violência.

Ninguém é violento sozinho, precisa sempre existir outro, sua característica é uma

ação baseada na força e no poder de um sobre o outro, Piaget ainda afirma que “a

critica nasce da discussão, e só é possível entre iguais: portanto, só a cooperação

realizará o que a coação intelectual é incapaz de realizar” (PIAGET, 1994, pp. 298-

299).

Os autores Bee (1986) e Goleman (1995) citados por Lucon e Schwartz

(2003, p.2) salientam a respeito da violência que afeta o ambiente escolar:

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“que, tanto a realidade social (família, escola, amigos), quanto os estímulos gerados pela mídia, principalmente a televisão, podem interferir na formação de indivíduos agressivos que utilizam a agressividade como estratégias de resolução de problemas, tanto dentro como fora do ambiente escolar”.

Assim, “é por meio das situações de brincadeira que se podem desenvolver

os vínculos afetivos e sociais positivos” de modo que sempre se busque

instrumentalizar a educação para a vida (SENICATO, 1998 citado por Lucon e

Schwartz, 2003, p.3). Ainda, de acordo com Brotto (2001), a recreação é uma forma

específica de atividade, uma atitude ou disposição, uma área da vida rica e

abundante, a vida fora das horas de trabalho.

Portanto, a utilização de atividades lúdicas nos recreios pode ser uma das

possíveis soluções para a violência escolar, haja vista que ao brincar o indivíduo

desenvolve vínculos afetivos e sociais, aprendendo a conviver em grupo.

O compromisso cada vez mais firme dos educadores e outros profissionais

que atuam diretamente junto às crianças começam a produzir mudanças nas

instituições quanto ao enfrentamento desta violência. No entanto, muitos se

perguntam sobre a responsabilidade da família, e constatam a situação complexa

em que esta se encontra.

Vivemos em um período histórico caracterizado pelas incertezas, em que a

única segurança possível é compreendermos a velocidade com que as mudanças

ocorrem na vida humana e nas instituições.

Segundo Jr. Rebelo (2011), [...] geralmente existem três tipos de pessoas

envolvidas nessa situação de violência que são: o espectador, a vítima e o agressor.

A vítima costuma ser a pessoa mais frágil, com algum traço destoante do

“modelinho” culturalmente imposto pelos seus pares, traço este que pode ser físico

têm poucos amigos, são passivas e não reagem aos atos de agressividade sofridos.

[...] O agredido costuma ser uma pessoa que não dispõe de habilidades físicas e

emocionais para reagir, tem um forte sentimento de insegurança e um retraimento

social suficiente para impedi-lo de procurar ajuda. [...] Os espectadores,

representados pela grande maioria dos alunos, convivem com a violência, se sentem

incomodados, mas se calam em razão do temor de se tornarem as próximas vítimas.

Autores como Lago, Massa e Piedra (2006) defendem que a violência

manifestam-se de várias formas, como: violência física (como agressões,

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empurrões, agressões com objetos); violência verbal (insultar, colocar apelidos nos

colegas, ridicularizar a pessoa publicamente); violência psicológica (através de

ações a deteriorar a auto-estima da vitima, e fomentar a sua sensação de

insegurança e receio); violência social (propagação de rumores humilhantes sobre a

vítima, pretendendo desta forma o isolamento e a exclusão desta); violência indireta

(quando é feita a agressão a um terceiro) e até abusos sexuais.

Violência é uma palavra que está em moda devido aos muitos casos que

estão sendo detectando nas escolas e colégios, e que levam estudantes a viverem

situações verdadeiramente aterrorizadoras, através de constantes ameaças,

insultos, agressões, humilhações, etc., e assim tê-lo sob seu completo domínio

durante meses, inclusive anos, a vítima sofre calada.

São inúmeros os fatores que levam uma criança ou um adolescente a um ato

violento. A desigualdade social é um dos fatores que levam um jovem a cometer

atos violentos, a situação de carência absoluta de condições básicas de

sobrevivência tende a embrutecer os indivíduos, a influência de grupos de referência

de valores, crenças e formas de comportamentos seriam também motivação para o

jovem cometer crimes. “A partir desse... de estar numa posição secundária na

sociedade e de possuir menos possibilidades de trabalho, estudo e consumo,

porque além de serem pobres se sentem maltratados, vistos como diferentes e

inferiores. Por essa razão, as percepções que têm sobre os jovens endinheirados

são muito violentas e repletas de ódio..." ABRAMOVAY et al. (1999).

Muito se comenta a respeito dos graves problemas decorrentes da violência

escolar, enfrentados por alunos e professores. A verdade é que a instituição escolar

vem perdendo seu caráter transformador e seu poder de combater a violência.

As crianças passam a reproduzir o modelo educativo familiar com o qual foi

criada, a prevenção deve começar cedo nas séries iniciais, trabalhando valores e

princípios tão necessários quanto carentes em nossa sociedade. Segundo alguns

autores (PORTO, 2002, p. 153; HAYECK, 2009, p. 2), é arriscado expor um conceito

da palavra violência, pois ela pode ter vários sentidos.

O alto índice de agressividade, as consequências emocionais e morais, se

não físicas, mostram a necessidade de reflexão, ponderação e ação. Importante

lembrar que a família, escola e comunidade, cada qual deve tomar para si a

responsabilidade de combater e prevenir a violência escolar, uma vez que as causas

e consequências repercutem em todos.

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Silva (2004) considera que o aumento da problemática da violência na

sociedade está relacionado, também, com a maneira como tais situações são

apresentadas pelos meios de comunicação de massa. São comuns os programas

televisivos, infantis e adultos, exibirem programas (desenhos e filmes) com cenas de

violência de todos os tipos: físicas e morais. Ele considera:

[...] como mais um fator de promoção da violência a maneira como ela tem sido veiculada pelos meios de comunicação: o real é transmitido na forma de espetáculo, o que acaba não sensibilizando ninguém, e a virtual com um grau de realismo que faz com que seja confundida, a ponto de não saber mais quando se trata de uma ou de outra. Ao contrário, os meios de comunicação têm contribuído para a banalização deste fenômeno [...] A violência passa a ser vista como algo comum e até certo ponto como um fenômeno normal, e quiçá natural (SILVA, 2004, p. 82).

E necessário mostrar a cada aluno, professor e funcionário sua co-

responsabilidade em transformar a escola, em fazer agradável e amistoso o

ambiente escolar, onde todos são aceitos e respeitados.

Por este fato acaba por ser extremamente importante encontrarmos medidas

para combater esta violência, devido essencialmente às conseqüências que ela

acaba por causar nos elementos envolvidos (testemunhas, agressores e vitimas).

Estes alunos acabam por conviver num meio escolar, com um nível de ansiedade,

medo e agressividade que lhes poderá afetar decisivamente o seu processo de

desenvolvimento e aprendizagem.

Este fenômeno existe em todas as sociedades; tendo sua incidência vinda a

agravar-se de forma alarmante. Por isso é extremamente relevante encontrarmos

medidas para combater essa problemática. Sendo assim, é de extrema relevância,

que todos estejamos cientes das conseqüências e efeitos negativos destes

comportamentos para a saúde mental dos indivíduos.

Apesar da maioria dos comportamentos de violência ocorrer na escola, a sua

prevenção devera centrar-se em toda a comunidade, salientamos que toda a pessoa

tem um papel importante a desempenhar no auxilio desta perturbação, que são:

Família, Escola, Comunidade, Crianças, Jovens.

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III. Jogos Cooperativos e Jogos Competitivos

Jogos cooperativos e competitivos são jogos feitos para unir pessoas, a

preocupação não é de ganhar e sim se divertir e de se contrair. Nos jogos

cooperativos existe cooperação, que significa agir em conjunto para superar um

desafio ou alcançar uma meta, enquanto que nos jogos competitivos cada pessoa

ou time tenta atingir um objetivo melhor do que o outro.

Qual proposta não ambiciona simplesmente substituir a competição pela

cooperação e sim demonstrar outra forma de jogo, mais democrática e flexível em

que o interesse está na participação, na diversão, na criação. Sem a pressão de ter

que vencer sempre (BROWN, 1994).

O jogo cooperativo denomina-se assim o jogo em que todo o grupo colabora

combinando as diferentes habilidades dos indivíduos para conseguir um objetivo

comum, todos ganham ou todos perdem se não se consegue alcançar o objetivo

proposto.

Os Jogos Cooperativos sempre estiveram inseridos na sociedade, porém

começaram a ser mais valorizados na década de 1950 nos Estados Unidos através

do trabalho de Ted Lentz. Já no Brasil, um dos primeiros a produzir textos sobre

Jogos Cooperativos foi o professor Fábio Otuzi Brotto (SOLER, 2003).

Nas aulas de Educação Física há uma predominância muito forte do espírito

competitivo através dos jogos que sempre visam um vencedor. Nesse sentido, a

introdução dos Jogos Cooperativos como conteúdo da Educação Física seria de

suma importância para o rompimento da tradição unívoca do esporte competitivo

(CORREIA, 2007).

Segundo Soler (2008), os Jogos Cooperativos sempre existiram, consciente

ou inconscientemente. A competição ganhou ênfase na sociedade moderna quando

a riqueza passou a ser controlada apenas por alguns e estes tinham poder sobre os

outros. Ainda segundo este autor, na organização social anterior ao surgimento da

distribuição do poder, os homens eram eminentemente cooperativos, dividiam mais

e não existia quem fosse mais ou menos importante. Talvez os argumentos de Soler

sejam por demais romantizados, mas o fato é que há culturas que lidam com a

questão da competição e da cooperação de modo diferente ao da sociedade

capitalista.

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Brotto publicou em 1995 o livro “Jogos Cooperativos”: se o importante é

competir o fundamental é cooperar, que serviu de referência para vários

pesquisadores brasileiros. A partir daí, foram criados vários projetos organizados

pelo Projeto Cooperação de Brotto, sempre destinados ao desenvolvimento de

programas que visam à cooperação (SOLER, 2008). Os Jogos Cooperativos têm

como características principais a participação de todos, a não exclusão por falta de

habilidade, a mistura de grupos e a diversão. Nesse tipo de jogo, o resultado não é a

principal preocupação, mas sim a diversão o prazer em jogar, a união do grupo que

não se preocupa com o fracasso ou o sucesso, com o vencer ou perder (BROTTO,

1995).

Reinaldo Soler (2008) utiliza em seu livro Brincando e Aprendendo com os

Jogos Cooperativos um quadro com características competitivas e cooperativas

elaboradas por Brown (1994). Esse quadro denota certo radicalismo em comparar

competição e cooperação. Para esses autores, competição é sinônimo de

desordem, desunião, trapaça, esperteza, frustração, repúdio, etc.

Brotto (1999), ao abordar essa relação, entre cooperação e competição, em

sua dissertação de mestrado, faz ponderações interessantes:

[...] apesar da comparação apresentada, não há uma divisão rígida e linear entre essas duas formas de jogar. Na realidade existe uma aproximação muito estreita entre jogar cooperativamente e jogar competitivamente (p.77).

Segundo Soler (2008), os Jogos Cooperativos sempre existiram, consciente

ou inconscientemente, onde existe cooperação, que significa agir em conjunto para

superar um desafio ou alcançar uma meta, enquanto que nos jogos competitivos,

cada pessoa ou time tenta atingir um objetivo melhor do que o outro.

Através de jogos cooperativos torna- se mais fácil criar um bom espírito de

grupo, de elementos ligados por laços solidários e afetivos. Antes de começar uma

sessão de jogos cooperativos convém que as pessoas se conheçam mutuamente

para criar um ambiente mais familiar. Os jogos de apresentação podem constituir um

bom instrumento para criar esse ambiente favorável.

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No final dos jogos cooperativos deve haver um espaço para todos dialogarem

sobre a experiência, fazendo o confronto entre estratégias competitivas e

cooperativas. O que se ganha e o que se perde em cada uma delas?

Os Jogos Competitivos são jogos que possuem regras rígidas, que sempre

eliminam um grupo e que o objetivo principal é vencer. Mas ao analisarmos, nesse

tipo de jogo também há cooperação entre a equipe, há união entre os jogadores e

também podem ser muito divertidos. E, nosso objetivo com o trabalho não é criticar

esse tipo de jogo, mas analisar possibilidades de diversificar formas de se jogar,

alternativas que permitam a participação de toda a criatividade, a adaptação de

regras e não somente a reprodução do que já está pronto.

Da mesma maneira que há cooperação nos Jogos Competitivos, também há

competição nos Jogos Cooperativos, como é o caso dos jogos de inversão que é um

jogo baseado no esporte de rendimento, como por exemplo, o Voleibol, em que a

diferença está na adaptação das regras que permite a participação de todos os

jogadores nos dois times, dessa maneira, há competição e não rivalidade entre as

equipes. Podemos também citar como exemplo de cooperação competitiva a criação

de cooperativas cujas legislações que as regulamentam deveriam ser baseadas em

princípios cooperativos e ao mesmo tempo ser flexível para permitir que estas

possam competir em condições iguais com outros tipos de empresas. Apesar tais

assertivas parecerem óbvias, ainda existe autores que consideram competição e

cooperação como elementos diametralmente opostos.

Os jogos, as brincadeiras, devem sempre dar condições para que todos os

que pratiquem sintam prazer em estar fazendo uma atividade que lhes tragam o

autodesenvolvimento e não uma oportunidade de destruir os outros,

preponderantemente, estas atividades lúdicas favorecem a socialização,

contribuindo ativamente a não violência e indisciplina. Segundo HAIDT (2000), a

participação em jogos contribui para a formação de atitudes sociais: respeito mútuo,

solidariedade, cooperação, obediência às regras, senso de responsabilidades,

disciplina, iniciativa pessoal e coletiva.

Os jogos competitivos são defendidos por alguns como um artifício importante

na educação das crianças, tendo como base de que assim ficariam melhores

preparadas para viverem num mundo competitivo como o nosso. Porém, a

competição quando trabalhada em excesso diminui a auto – estima e aumenta o

medo de falhar, reduzindo a expressão das capacidades pessoais e o

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desenvolvimento da criança. Ela favorece a comparação entre as pessoas e a

exclusão baseada em poucos critérios. Um ambiente competitivo aumenta a tensão

e a frustração, podendo desencadear comportamentos agressivos (FERNANDES,

2006).

A maioria dos professores de educação física tem experiências variadas com

os jogos competitivos, mas poucos procuram uma alternativa com os jogos

cooperativos. Até hoje, grande parte dos programas de educação física e de jogos

praticados nas escolas pouco ou quase nada ofereceu como alternativa aos jogos

competitivos (CORREIA, 2006).

A ênfase é dada ao ensino de jogos esportivos, em que as habilidades

técnicas são os pontos centrais do conteúdo desenvolvido, além do mais, numa aula

de Educação Física é comum que a comunicação verbal se restrinja a simples

indicações e orientações técnicas por parte do professor. Se o professor atual não

fizer uma leitura crítica do conteúdo e da metodologia que irá trabalhar junto aos

alunos, poderá ministrar a mesma aula tecnicista que recebeu, reproduzindo

movimentos técnicos e acentuando o rendimento em detrimento da participação

(ABRAHÃO, 2004).

Por isso, um grande desafio para o professor é mudar sua prática de ensino e

exercer seu papel de mediador, mostrando aos alunos que aquele é um espaço de

aprendizagem. Não cabe mais aos profissionais de Educação Física ensinar a

competitividade, a desunião, formação de grupos fechados, no qual apenas dez

alunos são bons em um esporte e o restante fica apenas olhando.

IV. Jogos e Brincadeiras

As crianças ao nascerem são introduzidas num contexto social. Os adultos ao

conviver com elas, transformam-se em parceiros de seus jogos e brincadeiras, e não

se dão conta dessa importância.

Os educadores devem trabalhar jogos e brincadeiras. Ao brincar a criança

transforma o seu mundo em realidade o que era imaginário, torna-se real, onde as

crianças fazem conexões e interagem com o meio e se descobrem. É uma atividade

necessária no relacionamento entre as pessoas, e uma possibilidade para que a

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afetividade, prazer, cooperação, autonomia, imaginação e criatividade cresçam e

que o outro construa através da alegria e do prazer.

Jogos e brincadeiras e uma maneira privilegiada de desenvolver a

aprendizagem. Na medida em que crescem, as crianças transportam para suas

brincadeiras o que vêem, escutam, observam e experimentam. Onde ficam ainda

mais atraentes quando os diferentes conhecimentos a que tiveram acesso podem

ser combinados. Combinações, extremamente inusitadas aos olhos dos adultos, as

crianças mostram suas visões de mundo, suas descobertas.

Algumas escolas desvalorizam o “brincar” em relação a outras atividades,

consideradas mais produtivas e importantes. A brincadeira ocupa o tempo da espera

do intervalo. Brincar é mais do que uma atividade sem consequência para a criança.

Brincando, ela não apenas se diverte, mas recria e interpreta o mundo em que vive e

se relaciona com este mundo. Segundo FREIRE (2002), as brincadeiras têm grande

significado no período da infância, onde de forma segura e bem estruturada podem

estar presentes nas aulas de Educação Física dentro da sala de aula.

Brincar é o maior bem que o ser humano possui. É através das brincadeiras

que se conquistam espaços e abrem-se horizontes a cada jogada, numa constante

troca de experiência em que o conhecimento sempre é reelaborado, valorizando a

riqueza do prazer de usar o corpo em movimento.

Vygotsky (1991) considera a brincadeira uma grande fonte de

desenvolvimento que, como foco de uma lente de aumento, contem todas as

tendências do desenvolvimento de forma condensada. Para o autor, a brincadeira

fornece ampla estrutura básica para mudanças das necessidades e da consciência.

Pois, nas brincadeiras, as crianças ressignificam o que vive e sentem.

Kishimoto (2003) entende o brinquedo como o suporte de uma determinada

brincadeira. Ele pode ser concreto ou ideológico. Objeto cultural que não pode estar

distante da sociedade. Ele deve ter como referência direta a criança e a sua história.

Deve também apresentar uma estreita ligação com a história da criança. A

brincadeira, para Kishimoto (2003), é a descrição de uma conduta estruturada,

abrangendo regras e jogo infantil, com o intuito de possibilitar o envolvimento das

crianças durante um determinado tempo.

Para Huizinga (1993), o jogo é uma atividade voluntária, realizada em

determinados limites de tempo e de espaço, segundo regras definidas livremente,

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mas de caráter obrigatório, acompanhada de um sentimento de tensão, de alegria e

de ser diferente da vida cotidiana.

Nas palavras de Rodrigues (1993) o jogo constitui um veículo educacional

muito importante. É um fenômeno cultural e biológico, constitui atividade livre, alegre

que encerre um sentido, uma significação; favorece o desenvolvimento corporal;

estimula a vida psíquica e a inteligência; contribui para a adaptação ao grupo,

preparando a criança para viver em sociedade. As brincadeiras propiciam uma

grande interação entre os participantes e numa ação comunicativa entre as crianças,

nos permitem revelar a importância para aprendê-lo.

Brincando a pessoa relaxa, e a ludicidade acontece com descontração e

cresce gradativamente. À medida que ela vai se envolvendo em uma atividade

lúdica, aos poucos se revela com seus defeitos, suas qualidades, suas carências e

seus pontos fortes. Para um educador cauteloso e preparado essa experiência é de

grande valor como facilitador no processo ensino-aprendizagem.

Segundo Freire, (2002, p.119) “Quem vai ao jogo leva, para jogar, as coisas

que já possui que pertencem ao seu campo de conhecimento, que já foram

aprendidas anteriormente em procedimentos de adaptação, de suprimento de

necessidades objetivas”. Mesmo não tendo a pretensão de educar ele educa, já que

por meio da brincadeira nos socializamos com o outro e aperfeiçoamos o aprender a

conviver.

Através do vantajoso caminho da alegria, do prazer, do relacionamento

amigável com o outro, ela descobre como se preparar para novos desafios,

superando dificuldades no presente, e sendo encorajada a aprendizagens inéditas

que lhe servirão de alicerces sólidos para o seu futuro, tanto na escola como na vida

A grande maioria dos jogos continua sendo capazes de despertar a

curiosidade e o prazer das crianças nos dias de hoje. Alguns deles, como a

amarelinha, por exemplo, Os jogos tradicionais têm forca para atravessar o tempo e

o espaço, mas poucos conseguem atravessar os muros das escolas. São varias as

condições indispensáveis para desenrolar os jogos e brincadeiras, garantindo certa

liberdade de escolha pela criança. O papel do adulto e fundamental nesse processo,

pois o ambiente que a cerca influencia suas experiências lúdicas.

A importância de usar os jogos como meio educativo para superar os

preconceitos e vícios adquiridos no dia a dia, e para acentuar as vivências positivas

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é porque através dele, descobrimos caminhos diferentes para nos tornarmos uma

pessoa melhor.

Dentro dos seus estudos Freire, (2002, p. 87) explica que “o jogo é [...] uma

das mais educativas atividades humanas [...]. Ele educa não para que saibamos

mais matemática ou português ou futebol; ele educa para sermos mais gente, o que

não é pouco”.

A criança brincando exercita diversos sentimentos, que auxiliam no

amadurecimento de suas emoções enquanto joga: ajudar, ser ajudado, superar-se,

ser superada, alegria, tristeza, raiva, compaixão, etc. São todos sentimentos que

levam a maturidade emocional. Uma boa garantia de um adulto mais equilibrado e

adaptado socialmente é uma inteligência emocional ajustada, e isto, o jogo bem

conduzido pode contribuir

Conforme Freire (2002, p. 82-83) “O jogo ajuda a não deixar esquecer o que

foi aprendido [...] faz a manutenção do que foi aprendido [...] aperfeiçoa o que foi

aprendido [...] vai fazer com que o jogador se prepare para novos desafios...”

O lúdico utilizado como meio de aprendizagem deve ter seus elementos bem

analisados, para que ele seja um meio na construção do conhecimento. O aluno

aprende através do caminho da alegria, do prazer, do relacionamento amigável com

o outro, então é importante que o jogo seja o instrumento que possibilitará isso.

Pereira (2005), por sua vez, chama a atenção de que as brincadeiras são

uma linguagem que perpassa toda a nossa experiência de vida. São gestos, sons,

expressões, inflexões, declarações e imagens que se inter-relacionam. Podemos

estabelecer nossa forma de trabalho nessa linguagem, mas precisamos saber o que

estamos fazendo. O educador precisa constantemente procurar saber o que o

brincar tem a ver com o seu trabalho.

Os jogos e brincadeiras devem envolver conteúdos e ações pré-estabelecidas

que regulem a atividade do grupo, contribuindo para a compreensão de como são

estabelecidas as regras e normas de convivência social. Desta forma o jogo não

apresenta apenas experiências vividas, mas prepara a criança para o que está por

vir, exercitando habilidades e principalmente estimulando o convívio social. Por tudo

isso, ressalto o grande valor educativo do jogo e a importância de se trabalhar esse

conteúdo nas escolas, de forma comprometida com a formação física, intelectual,

moral e social do aluno.

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Os jogos, as brincadeiras, devem sempre dar condições para que todos os

que pratiquem sintam prazer em estar fazendo uma atividade que lhes tragam o

autodesenvolvimento e não uma oportunidade de destruir os outros,

preponderantemente, estas atividades lúdicas favorecem a socialização,

contribuindo ativamente a não violência e indisciplina. Segundo HAIDT (2000), a

participação em jogos contribui para a formação de atitudes sociais: respeito mútuo,

solidariedade, cooperação, obediência às regras, senso de responsabilidades,

disciplina, iniciativa pessoal e coletiva. Além disso, necessitamos de algumas

ferramentas para podermos interagir com os alunos e para poder atingi-los

efetivamente, no que diz respeito à violência escolar.

V. Desenvolvimento

O projeto teve início com uma breve contextualização do tema investigando o

conhecimento dos alunos sobre a Violência Escolar, jogos e brincadeiras com

ênfase em jogos cooperativos. Iniciei a implementação do projeto com recortes de

vídeos sobre violência escolar, com posterior debate e diálogo sobre a forma que a

violência está ocorrendo nos dias atuais, e como a implementação do projeto

poderia minimizar a agressividade dos alunos no âmbito escolar. Desse modo,

levei os alunos a questionarem sobre como eles visualizam a violência em sua

escola, observando os vários tipos de violência que ali acontece, e assim o assunto

foi debatido e assimilado pelos alunos.

Após foi feita uma reunião com os alunos, onde foram definidas as estratégias

de ação para a implementação do projeto. Nessa reunião foram confeccionados

cartazes pelos alunos para a divulgação do projeto na escola e também foi

aplicado um questionário onde os alunos responderam questões sobre: como é o

recreio em sua escola, o que eles mais gostam de fazer no recreio, se ocorre

violência em sua escola, de que maneira ela ocorre e quais os tipos de violência

mais freqüente.

Alguns estudantes relataram que o recreio é bom porque eles podem brincar

e jogar bola com seus colegas e por outro lado, é ruim, porque têm muitas brigas.

O que mais gostam de fazer é jogar bola e conversar com os colegas. Em relação

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à violência responderam que acontece em sua escola e em todos os períodos,

antes do início das aulas e no momento do recreio também, as que mais ocorrem

são brigas, apelidos depreciativos e ofensas.

Também decidimos juntos na reunião que teríamos um dia que foi definido

como “o dia de cinema” com pipoca e refrigerante, onde eles assistiriam ao filme

“Treino para a Vida”, que mostra o esporte como ponte de partida e a superação de

estudantes atletas motivados por um professor/treinador, e no final da seção foi

feito uma leitura do filme com debates sobre os temas ocorridos e como isso

mudou a vida dos personagens.

O projeto foi desenvolvido em etapas, sendo a primeira referente a uma

pesquisa bibliográfica sobre violência escolar, jogos e brincadeiras, enfatizando os

jogos cooperativos, o que esclareceu como e porque ocorre a violência no

ambiente escolar e como surgiram os jogos e brincadeiras, sua importância e o que

eles nos proporcionam na educação.

Esta pesquisa teve como fonte, jornais, revistas, entrevistas e a internet.

Houve uma socialização da pesquisa através de debates, produção de textos e

compartilhamento de dados e informações. O trabalho foi concluído com um

painel sobre as pesquisas e algumas reportagens destacadas pelos alunos como

interessantes e importantes.

Desenvolvi algumas aulas de Educação Física, com vídeos, produção de

textos, elaboração de músicas em equipe (RAP/PARÓDIA) com o tema violência

escolar, jogos e brincadeiras que foram apresentadas nas aulas de Educação

Física compartilhando dados e informações, além disso, foram realizadas

atividades lúdicas com jogos cooperativos.

As atividades práticas com jogos competitivos e jogos cooperativos foram

realizadas no momento do recreio e em dias alternados, uma semana com jogos

competitivos e outra com jogos cooperativos sempre com atividades diferentes. E no

final era feito um feedback conscientizando os alunos sobre a importância da

integração entre os mesmos e o divertimento saudável.

Houve vários questionamentos sobre qual seria o melhor caminho para e

chegar à promoção dos jogos cooperativos entre alunos que só conheciam jogos

competitivos. Nos jogos cooperativos a princípio, os alunos demonstraram certo

desconforto, pois nem todos queriam participar, quando percebiam que os alunos

que participavam estavam se divertindo, queriam entrar na atividade. No geral após

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alguns dias as atividades foram aceitas e realizadas pelo grupo. Proporcionei

diferentes jogos cooperativos, e em todas as atividades era necessária a ajuda dos

colegas para conseguir o objetivo final. Isto permitiu um melhor entrosamento e

coleguismo entre eles, uma vez que a finalidade era, principalmente, a

conscientização sobre a importância da integração entre os alunos e o divertimento

saudável.

Nos jogos competitivos também foram oferecidas diferentes atividades

recreativas com esportes, onde a participação foi quase que total dos alunos. A

competitividade era grande em todos os esportes, principalmente quando era o

futsal, que é a modalidade que eles mais gostam tanto os meninos quanto as

meninas, estando os aspectos da cooperação, organização e interação em segundo

ou terceiro plano e até mesmo inexistente.

Os jogos cooperativos desempenham um papel importante no processo

educacional dos alunos e principalmente na amenização da violência escolar. É

evidente que as atividades lúdicas são importantes e necessárias no

desenvolvimento intelectual do educando, nos aspectos físicos, emocionais e na

formação de uma consciência social, crítica, criativa, solidária e democrática desde

que as atividades desenvolvidas sejam bem planejadas, orientadas e conte com

espaço e tempo para sua prática na escola.

Vl. Considerações Finais

O homem em sua globalidade é um ser que possui um corpo físico e um

corpo mental. Portanto ele não é uma máquina e sim um ser biológico e dinâmico.

Enquanto o corpo físico é uma forma estética, o mental dá sentido a este corpo.

No trabalho com jogos e brincadeiras é possível desenvolver com o aluno

atividades que favoreçam as duas dimensões corporais, pois além da preocupação

com o desenvolvimento das habilidades físicas e conhecimento do próprio corpo,

agem sobre as funções mentais e comportamentais, levando maior harmonia do

corpo com a mente.

No decorrer deste tema, procurou-se evidenciar uma proposta, em que os

jogos e brincadeiras pudessem gerar mudanças nas formas atuais dos jogos e com

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isso resgatar valores humanos que ajudem no processo de convivência e construção

de uma verdadeira autonomia de cada ser.

A competição é um fator que dificulta o relacionamento das pessoas, gerando

um clima de rivalidade e estresse, nos jogos cooperativos normalmente não se tem

perdedores, pelo contrário, todos ganham. Esses jogos contribuem para que as

pessoas diferenciem jogo e competição. Através dessa vivência os alunos podem

refletir e até mesmo constatar que as atividades em conjunto são tão, ou mais

prazerosas que à disputa individual. Este tipo de jogo é necessário para que os

alunos reflitam sobre regras e solidariedade em uma situação onde todos ganham,

exercitando o compartilhar como instrumento de crescimento pessoal.

Foi interessante perceber o crescimento do interesse dos alunos durante a

realização das atividades propostas, embora problemas disciplinares tenham

ocorrido, acredito que o projeto cumpriu seus objetivos, o de apresentar atividades

lúdicas nas aulas de Educação Física e no momento do recreio, como uma das

possíveis soluções para amenizar a violência escolar.

Quando os alunos foram questionados sobre o que mais gostaram nas

atividades propostas do trabalho, alguns apontaram a oportunidade de trabalhar em

grupos, como algo bom e dois alunos enfatizaram que gostaram mais dos jogos

cooperativos porque nesse jogo um ajuda o outro e ninguém perde. Segundo esses

alunos, foi bom trabalhar com os jogos cooperativos, pois são jogos que unem as

pessoas e a preocupação não é de ganhar e sim se divertir.

O jogo cooperativo é um jogo em que todo o grupo colabora combinando as

diferentes habilidades dos indivíduos para conseguir um objetivo comum, todos

ganham ou todos perdem se não conseguir alcançar o objetivo proposto, enquanto

que nos jogos competitivos cada aluno ou time tenta atingir um objetivo melhor do

que o outro.

Às vezes, o que os alunos brincam no recreio, nem sempre é o que mais

gostam de vivenciar. A maioria apontou que é muito divertido brincar e jogar no

recreio e que as atividades realizadas nesse período dependem da afinidade entre

eles. Os educandos também relataram que houve diferença entre o intervalo com e

sem as atividades cooperativas e salientaram ainda o prazer em participar desse

momento, mostrando preferência ao recreio com atividades lúdicas.

Apesar de muitas pessoas desconsiderarem os benefícios das atividades

recreativas e vislumbrarem apenas aspectos físicos, elas são de suma importância

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para os alunos, pois ao descobrirem os jogos lúdicos estes estarão exercitando suas

fantasias, suas noções e responsabilidades, a descoberta do eu, do outrem e da

coletividade com possibilidades de refletir sobre suas ações e atitudes.

Desta forma, torna-se premente a implementação de novas propostas com o

intuito de inserir as atividades lúdicas e os jogos cooperativos como elementos

importantes no sentido de diminuir a agressividade e tornar o ambiente escolar mais

agradável e cativante para os alunos, uma vez que educação extrapola os bancos,

inserindo-se para além dos muros escolares, especialmente quando há experiências

significativas. Com tudo isso, é possível compreender a importância dos jogos e

brincadeiras para amenizar a violência escolar.

A escola é um espaço qualificado para aplicar propostas educativas e de

aprendizagens para a tolerância, e o brincar pode ser um instrumento mediador para

a formação moral, política, crítica e social das crianças. Podemos na Educação

Física ter uma intervenção educativa para a tolerância e para resolução de conflitos

por vias não violentas. Este momento educativo é propício para abordar,

compartilhar e oportunizar momentos em que os valores e sentimentos serão

apreendidos e praticados por todos.

Os resultados do estudo evidenciam que o recreio com atividades lúdicas

possui inúmeros pontos positivos, representando um diferencial importante,

somados a outros, na diminuição da violência escolar. Nestes tempos em que

estamos vivendo profundas mudanças, o professor precisa buscar novas formas de

trabalho, baseado no comprometimento com sua formação e com a pesquisa, para

garantir sustentação para as suas práticas.

Acredito que esse trabalho realizado durante o Programa de Desenvolvimento

Educacional colaborou para a introdução e implementação de tópicos relacionados à

contribuição das atividades lúdicas na diminuição da violência escolar.

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