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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU A CONTRIBUIÇÃO DA PESSOA SURDA NO MERCADO DE TRABALHO Adriana Regina Princisval Rio de Janeiro / Ano:2015

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

A CONTRIBUIÇÃO DA PESSOA SURDA NO MERCADO DE TRABALHO

Adriana Regina Princisval

Rio de Janeiro / Ano:2015

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

A CONTRIBUIÇÃO DA PESSOA SURDA NO MERCADO DE TRABALHO

Adriana Regina Princisval

Prof. Orientador: Maria Esther de Araújo

Prof. Co-Orientador: Giselle Brand

Monografia apresentada ao Instituto a Vez do Mestre como requisito parcial para obtenção do título e especialista em Educação Especial e Inclusiva, da Universidade Cândido Mendes da Cidade do Rio de Janeiro.

Rio de Janeiro / Ano:2015

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

A CONTRIBUIÇÃO DA PESSOA SURDA NO MERCADO DE TRABALHO

Adriana Regina Princisval

Dedico este trabalho a todos aqueles que buscam uma sociedade onde todas as pessoas sejam valorizadas por contribuirem com suas diferenças.

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RESUMO

As empresas atualmente estão se abrindo para receber pessoas com deficiência devido ao cumprimento da legislação trabalhista que exige das mesmas a contratação de pessoas com deficiência para fazer valer a lei de cotas. Acontece que estas instituições na maioria dos casos não está preparada para receber estas pessoas que demandam um acompanhamento contínuo para que se sintam verdadeiramente incluídos na instituição. Este trabalho foi sendo construído com o objetivo de mostrar que a pessoa com deficiência pode desenvolver as mesmas capacidades que aquelas que não a possuem, desde que sejam acolhidas e aceitas em suas limitações por seus familiares e instituições escolares, terá estímulo para conseguir atender as atividades e funções que lhes serão propostas, desde que lhes seja dado acessibilidade, como é o caso dos surdos, esta comunidade no decorrer dos anos vem conquistando seu espaço por perseverar no espírito de luta, demonstrando através de gerações que tem em sua identidade e cultura o direito a aprenderem em sua própria língua, pois seu canal de comunicação é visual o que os diferencia mas não os torna menos capazes. A sociedade atual está em processo de mudança, desde a Declaração de Salamanca percebemos de forma global que a deficiência faz parte da natureza do ser humano, de sua história, precisamos aprender a conviver com as diferenças de forma natural nos diversos ambientes que interagimos com o outro que também é parte de nós.

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METODOLOGIA

Esta pesquisa será bibliográfica acompanhada de pesquisa de campo qualitativa, onde serão elaboradas questões escritas, a serem respondidas por 3 profissionais surdos que estão inseridos no mercado de trabalho, em instituição pública onde conquistaram a vaga através de concurso. Durante a entrevista relataram que anteriormente já haviam trabalhado em empresas privadas e sempre perceberam a importância do trabalho em suas vidas. A entrevista escrita encontra-se no anexo 1. A pesquisa foi elaborada com fundamentação nos autores Claudia Werneck, Carlos Skliar e Ronice Müller Quadros.

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SUMÁRIO

CAPITULO 1- BREVE HISTORICO ............................................................................ 8

1.1 HISTORICO DA COMUNIDADE SURDA ........................................................................ 8 1.2 INCLUSÃO E INTEGRAÇÃO ..................................................................................... 10 1.3 INCLUSÃO DE SURDOS .......................................................................................... 12

CAPITULO 2 - O PROCESSO DA LEITURA E ESCRITA ....................................... 15

2.1 LEITURA E ESCRITA PARA SURDOS ....................................................................... 16 2.2 A COMPREENSÃO DA LEITURA PARA SURDOS ......................................................... 18 2.3 BILINGUISMO ...................................................................................................... 20 2.4 A EXPERIÊNCIA E OPINIÃO DE SURDOS EM ESCOLA BILINGUE E REGULAR .................. 21 2.5 ESCOLA DE OUVINTES PARA SURDOS ORALIZADOS .................................................. 22 2.6 A ESCOLA BILÍNGUE E A LÍNGUA DE SINAIS .............................................................. 23

CAPITULO 3 - LEGISLAÇÃO E OPORTUNIDADES ............................................... 25

3.1 MERCADO DE TRABALHO ...................................................................................... 25 3.2 SURDOS QUE SE DESTACARAM ............................................................................. 28

CONCLUSÃO OU CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................ 30 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 31

ANEXOS .................................................................................................................. 35

Anexo 1 Entrevista com surdos aprovados em concurso ......................................... 35

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INTRODUÇÃO

Quando pensamos em mercado de trabalho nos vem ao pensamento toda a estrutura que precisamos ter no decorrer de nossa formação escolar e familiar que contribuiram para nosso desenvolvimento. As empresas buscam profissionais que queiram aprender coisas novas, sejam abertos a novas tecnologias e busquem ser bem sucedidos nas tarefas que executam, o ideal seria que também fosse da mesma forma diante dos quadros de pessoas com deficiência, porém nos deparamos com várias situações que vão se apresentando a medida que vamos investigando como foi a acolhida deste deficiente pela família, normalmente não estamos preparados para termos um filho deficiente, e quando ele chega, a família não sabe como agir diante do inesperado, há dois tipos de decisão a tomar, enfrentar o desafio ou fingir que está tudo bem, aceitar que o filho vai ser sempre um dependente e adotar a postura de superproteger, prover as condições mínimas, básicas para que esta criança receba os cuidados necessários e possa ser cuidada, educada, mas sem esperar nada além disso. Ocorre que sabemos através de pesquisas e experiências relatadas por profissionais de diversas áreas, professores e familiares que a criança deficiente que é bem acolhida e estimulada desde a mais tenra idade, terá um desenvolvimento muito maior que aquela que não teve as mesmas condições. É neste ponto que queremos mostrar que a pessoa com deficiência quando aceita e acolhida por seus familiares, irá desenvolver seu potencial de forma mais intensa, pois percebe-se amada e sente-se importante, dando sempre o seu melhor em tudo, por que sua autoestima é elevada, revelando segurança e aceitação nos momentos em que precisará de superação.

Esta pesquisa desenvolvida tem por tema a situação do Surdo no mercado de trabalho, o mesmo foi escolhido pois quer mostrar o valor que a pessoa com deficiência possui, em especial o Surdo em sua contribuição laborativa. Qual a importância do Surdo na função de instrutor de libras e outras funções para o mercado de trabalho? No decorrer dos anos, os surdos vem se articulando visando a conquista de seus direitos como cidadãos e objetivando se profissionalizar em várias áreas. Na atuação de instrutor de libras e professor em instituições especiais pode difundir sua língua - LIBRAS e mostrar que tem uma cultura própria. Esta iniciativa levou a comunidade surda, a se desenvolver contribuindo para seu reconhecimento, através de sua organização e participação na sociedade, desmistificando a ideia que esta possui de que o Surdo apenas pode exercer funções operacionais. A verdadeira inclusão precisa acontecer na esfera profissional, bem como, no serviço público, através de concursos e nas faculdades públicas e particulares, possibilitando a este profissional seu reconhecimento pela sociedade, para tanto buscamos realizar pesquisa de campo, através de entrevista dirigida, com profissionais surdos aprovados em concursos, bem como, outros que atuaram ou atuam em instituições privadas. Conversamos com surdos de

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diferentes níveis de escolaridade, que nos relataram a importância da participação de suas famílias e das instituições escolares no decorrer de suas vidas, isso nos reafirma a relevância dos pilares que toda pessoa, seja ela deficiente ou não precisa ter, para que possa desenvolver de forma global sua cidadania.

No passado as pessoas surdas eram consideradas incapazes de aprender, haja visto o histórico das pessoas com deficiência, porém atualmente percebemos que a nova geração busca cada vez mais a capacitação e especialização em algumas áreas, mostrando a sociedade que eles também contribuem para a economia produtiva, esta parcela da sociedade mesmo enfrentando muitos desafios não se rende as dificuldades impostas. Podemos perceber que nas escolas de educação infantil e ensino fundamental, poucos são os professores habilitados a lidar com educação especial e também o acesso a um intérprete de libras é restrito, embora a publicação da Lei 10.436/2002 conhecida como Lei de LIBRAS e regulamentada pelo decreto lei 5626 de 22/12/2005, garanta este direito ao surdo.

A pessoa com necessidades educacionais especiais não era considerada cidadão de direitos nos séculos anteriores, diferentemente da visão atual. Como a sociedade foi evoluindo até perceber que a pessoa com deficiência também faz parte da mesma e que ela precisa ser acolhida em suas necessidades, não pela deficiência, mas, pelo direito que possui em ter qualidade de vida como qualquer ser humano tem naturalmente, sua dignidade. A importância de se entender a diferença entre inclusão e integração, são conceitos próximos mas não com o mesmo significado. Quais as políticas públicas que estão sendo colocadas em prática, para que a pessoa com deficiência, em especial o Surdo, está tendo acesso para que possa ter condições de iniciar sua vida profissional.

Sugerimos que esta pesquisa sirva de reflexão para nós no sentido de pensarmos o que podemos dar de contribuição para vivermos em uma sociedade verdadeiramente inclusiva.

No primeiro capítulo apresentamos um breve histórico da pessoa surda , a importância que o abade L'Epée representou para a comunidade surda, o congresso de Milão e os reflexos do mesmo para a educação de surdos, a diferença entre inclusão e integração.

No segundo capitulo discorremos sobre a leitura e escrita para o surdo, como se dá esse processo, a forma como a leitura se inicia com a criança surda antes mesmo que ela comece a decodificar as letras, fazendo a leitura de mundo. Citamos a experiência de uma surda em sua caminhada na escola com ouvintes e suas dificuldades para se alfabetizar.

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No terceiro capitulo desenvolvemos algumas linhas sobre a legislação e o mercado de trabalho, bem como, experiências bem sucedidas de inclusão com surdos, em seguida a entrevista com surdos que já se colocaram neste mercado.

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CAPITULO 1 - BREVE HISTÓRICO

Charles Michel de L'Épée, francês, viveu no século XVIII na França, tornou-se conhecido como Pai dos surdos é denominado Abade L´Epee. O religioso e educador voluntário, atento a forma que duas irmãs surdas se comunicavam com gestos, percebe a necessidade de entender o que falavam para que pudesse iniciar um diálogo com as mesmas e futuramente vir a alfabetizá-las, com o objetivo que pudessem assim se comunicar com outras pessoas. Como educador sua visão vai mais adiante e busca conviver com os surdos que viviam nas ruas marginalizados, para aprender com eles sua forma de dialogar, deste modo nasce então a primeira escola pública de surdos.

1.1 - HISTÓRICO DA COMUNIDADE SURDA

A inclusão social já vem sendo pensada desde o início deste século, através da criação da primeira Escola Pública de Surdos de Paris, na França, tendo por fundador o abade L'Epée em 1760. A Europa mergulhada numa série de revoluções especificamente a França, começam a refletir sobre a sociedade que desejam ter e as mudanças que começam a se dar através da união das classes sociais. Contextualizar o surdo em meio a todos esses acontecimentos não se torna tarefa fácil, mas pensemos que seu espírito de luta não se arrefesse mediante a dominação dos ouvintes, pelo contrário, eles preservam a aquisição da língua de sinais que lhes propicia ler o mundo e entende-lo tal qual os ouvintes. Isso nos leva a compreender o que Silva (2006) coloca:

a experiência que Girolamo Cardano (1501-1576) realizou e cujo resultado rompeu com a visão de que os surdos eram incapazes de aprender. Segundo Soares (1999:17), Cardano reconheceu publicamente a habilidade do surdo em raciocinar, pois entendia que a escrita poderia representar os sons da fala ou ideias do pensamento; sendo assim, a surdez não seria obstáculo para o surdo adquirir conhecimento.

Inicialmente a educação de surdos tinha o objetivo de educar apenas os nobres e filhos de ricos para poder dar continuidade a administração dos bens da família. Os surdos que não nasceram em famílias abastadas eram marginalizados. Por intermédio do abade L'Epée que é ouvinte, os surdos tem a oportunidade de ingressar na primeira Escola Pública de Surdos de Paris em 1760, tal fato devido a transformações sociais da época se expande para o continente europeu e americano. Com a necessidade de deslocamento do homem do campo para os grandes centros devido a sociedade capitalista que estava se formando e precisando cada vez mais da força de trabalho para que pudesse se desenvolver, força esta composta por artesãos e camponeses, contribui para a organização das primeiras comunidades surdas. Para entendermos como este processo aconteceu vejamos o que nos expõe Silva, 2006:

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Mas de que forma essas transformações sociais permitiram a organização política, social e educacional dos surdos? Manacorda (1999:249) relata que na segunda metade do século XVIII: "a nova produção de fábrica gera o espaço para o surgimento da moderna instituição escolar pública. Fábrica e escola nascem juntas". É justamente nesse período que se deu a criação da primeira Escola Pública para Surdos em Paris". (ibidem p.21).

Em suas experiências na convivência com surdos, o abade L'Epée observa que os sinais e a língua falada possibilitava a comunicação entre eles, dando-se o início no reconhecimento da língua de sinais, sendo ele o autor do método desenvolvido na primeira Escola Pública para Surdos em Paris. É importante ressaltar que a língua de sinais e a língua falada tinham o mesmo objetivo dar acesso à leitura. Isso possibilitava aos alunos surdos, após seis anos de instrução ter domínio da língua francesa, o latim e outra língua estrangeira de modo escrito, também tinham acesso a geografia, astronomia, álgebra além de atividades físicas e artes. O abade convidava a sociedade anualmente para presenciar o quanto seu método de ensino era eficaz, para tanto fazia arguição de seu alunos que precisavam responder em três línguas, latim, francês e/ou italiano, os diferentes temas abordados. A escola também proporcionava formação profissional visando a formação de professores surdos e profissionais na área artística, gráfica e outras. Após um século de criação da escola pública para surdos de Paris, verifica-se maior criação de associações de caráter sindical que tinham o objetivo de propiciar amparo aos surdos que viessem a falecer, adoecer ou ficar sem emprego, e também levar conhecimento mediante ministração de conferências. Como trabalhadores os surdos contratam professores qualificados para o Instituto que fundam em Copenhague, possibilitando a interação com representantes das comunidades ouvintes, sugerindo mudanças na educação de surdos, na sociedade e áreas de trabalho. Foi no congresso de Milão, datado de 06 a 11 de setembro de 1880, onde se reuniram cento e oitenta e duas pessoas, em maior número de ouvintes, oriundos de vários países da Europa e América, com o objetivo de discutir a melhor forma de educação a ser ministrada aos surdos. Neste congresso composto em sua maioria por ouvintes foi deliberado que os surdos deveriam ser educados na língua oral deixando de ser utilizada a língua de sinais, sendo a língua oral o único objetivo de ensino. Desta maneira, fica decidido a partir daí até pouco tempo atrás, que a educação de surdos deveria ser ministrada através da língua oral. Baseado no trabalho que abade L´Épée começou a desenvolver, em sua metodologia e eficácia dos resultados obtidos, não se pode deixar de pensar quais os motivos que levaram uma minoria, a decidir qual a melhor forma de ensinar pessoas privadas de audição que não tiveram a oportunidade em opinar sobre o que seria de interesse aos maiores beneficiados.

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Skliar (1997:50) aponta para uma motivação religiosa, política e filosófica, mas possivelmente imaginamos que existe outro motivo que vem de encontro ao contexto da época, o homem-máquina enunciado pela ciência no séc.XVII, onde os fenômenos naturais podem ser entendidos, comparando-os ao funcionamento de uma máquina o universo passa a ser encarado como um complexo equipamento onde é possível perceber suas engrenagens e processo de funcionamento.

1.2 - INCLUSÃO E INTEGRAÇÃO

Para compreender melhor o caminho que vamos percorrer, pensemos no significado da inclusão social que vem a ser um conjunto de ações que visam dar a todas as pessoas, principalmente as menos favorecidas, oportunidades de acesso a bens e serviços, sejam públicos ou privados. É possibilitar as pessoas com deficiências os mesmos direitos de acesso a cultura, lazer, educação, saúde, justiça e trabalho.

O conceito de inclusão social é recente em nossa cultura, é notório em nossa sociedade que somos diferentes, possuidores de características individuais. A diversidade nos faz pessoas melhores, pois é diante das diferenças que podemos avaliar os modelos que conhecemos para então perceber o quanto precisamos estar abertos ao novo sem preconceitos, sem medo de mudar, acolhendo a todos em suas singularidades.

De acordo com Maria Teresa Egler Mantoan (2005): "inclusão é o privilégio de conviver com as diferenças".

Inclusão é a nossa capacidade de entender e reconhecer o outro e, assim, ter o privilégio de conviver e compartilhar com pessoas diferentes de nós. A educação inclusiva acolhe todas as pessoas, sem exceção. É para a pessoa com deficiência física, para os que têm comprometimento mental, para os superdotados, para todas as minorias e para a criança que é discriminada por qualquer outro motivo. Segundo Maria Teresa Egler costuma dizer: " que estar junto é se aglomerar no cinema,

no ônibus e até na sala de aula com pessoas que não conhecemos. Já inclusão é estar com,

é interagir com o outro. (semlimitesdeaprender.blogspot.com.br)

Como podemos perceber inclusão é um projetar-se para tornar a vida de outra pessoa melhor, tendo as mesmas oportunidades que outros, em condições iguais de participação na sociedade.

"A inclusão genuína não significa a inserção de alunos com deficiência em classes de ensino regular sem apoio para professores e alunos (...) o principal objetivo do processo inclusivo não é economizar dinheiro: é servir adequadamente a todos os alunos" (Stanback & Stanback, 1999:30)

Para a inclusão apresentar bons resultados, é necessário que o aluno que possui deficiência conviva com as diferenças, mas também tão importante quanto,

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que ele conviva com seus iguais. É primordial que em uma escola ou sala de aula a criança tenha contato com outras crianças com deficiência, para que ela perceba não ser a única, mas que há outras crianças com características diferentes dela e dos demais. Segundo Bueno, sobre a inclusão de alunos com deficiência, podemos levar em consideração,

"que a perspectiva de inclusão exige, por um lado, modificações profundas nos sistemas de ensino; que estas modificações [...] demandam ousadia, por um lado e prudência por outro; que uma política efetiva de educação inclusiva deve ser gradativa, contínua, sistemática e planejada, na perspectiva de oferecer às crianças deficientes educação de qualidade; e que a gradatividade e a prudência não podem servir para o adiamento "ad eternum" para a inclusão [...] devem servir de base para a superação de toda e qualquer dificuldade que se interponha à construção de uma escola única e democrática (2001,p.27).

Nota-se que a inclusão está acontecendo lentamente, a sociedade hoje já percebe que este é um caminho que precisamos trilhar, também é um dos problemas que temos na educação, que o mesmo faz parte do todo, mas precisamos refletir que sendo gradativo, só tem a acrescentar na formação de cidadãos mais tolerantes e cooperativos.

A inclusão traz benefícios não só aos portadores de deficiências, bem como, à sociedade, pois ela beneficia a todos, tendo-se em vista que somos singulares, únicos, diferentes uns dos outros na forma de pensar e agir, quando pensamos em incluir soma-se a ideia de adicionar, se partirmos desse princípio então fica fácil perceber que podemos conviver com nossas diferenças, aceitando-nos mutuamente, pois isto é o que nos caracteriza humanos, solidários conosco e com o próximo, já que quando projeto meus sentimentos de ser aceito com minhas qualidades e defeitos eu estou também me abrindo para partilhar com o outro, de suas qualidades e defeitos, aceitando-o como ele é, sem exigências.

A escola que trabalha com o processo de inclusão se enriquece, pois precisa rever seu projeto pedagógico para atender as diversas necessidades e ensinar a todos. A partir da Declaração de Salamanca, Conferência Mundial realizada em 1990 na cidade de Jontiem, podemos mudar nossa forma de ver e de pensar a partir das reflexões que foram discutidas e propostas nesta ocasião:

" toda criança tem direito fundamental à educação, e deve ser dada a oportunidade de atingir e manter o nível adequado de aprendizagem,

toda criança possui características, interesses, habilidades e necessidades de aprendizagem que são únicas,

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sistemas educacionais deveriam ser designados e programas educacionais deveriam ser implementados no sentido de se levar em conta a vasta diversidade de tais características e necessidades,

aqueles com necessidades educacionais especiais devem ter acesso à escola regular, que deveria acomodá-los dentro de uma Pedagogia centrada na criança, capaz de satisfazer a tais necessidades,

escolas regulares que possuam tal orientação inclusiva constituem os meios mais eficazes de combater atitudes discriminatórias criando-se comunidades acolhedoras, construindo uma sociedade inclusiva e alcançando educação para todos; além disso, tais escolas provêem uma educação efetiva à maioria das crianças e aprimoram a eficiência e, em última instância, o custo da eficácia de todo o sistema educacional. "

Esta Conferência foi realizada com a participação de 88 governos e 25 organizações internacionais, onde reconhecem a necessidade urgente na mudança da educação pública até então oferecida às crianças com necessidades educacionais especiais. Pensar uma educação para todos, requer uma mudança de mentalidade, buscar um novo olhar para o que se tem, o que já foi feito e o que poderemos ainda realizar, a partir das reflexões que foram propostas, ajuda-nos a rever preconceitos e novos horizontes que podem ser descortinados, é desenvolver o potencial que cada um tem dentro de si e colocá-lo a serviço de todos.

O conceito de integração e inclusão são próximos, porém não tem o mesmo significado, muitas vezes o que está acontecendo nas instituições escolares e até empresariais é denominado inclusão, mas na realidade o que está ocorrendo é uma adaptação de procedimentos e normas para integrar a pessoa que possui deficiência.

Integrar é organizar o espaço físico de forma que o deficiente venha se ajustar, dando uma ideia de que ele precisa se normalizar, se encaixar no padrão dito normal, tem um sentido e significado diferente de inclusão, que claramente entendemos como respeito às diferenças e acolhimento da pessoa como ser único que possui particularidades, isto sim, tanto para uma empresa quanto para uma escola é incluir.

1.3 - INCLUSÃO DE SURDOS

Na inclusão de alunos surdos em escolas de ensino regular se faz necessário sensibilizar e conscientizar a comunidade escolar para as diferenças que a surdez nos apresenta em seus aspectos linguísticos e culturais, visto que a língua que será utilizada para a interação destes indivíduos em suas trocas e interações na aprendizagem será a Libras, como afirma a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, de 2008:

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A Lei nº 10.436/02 reconhece a Língua Brasileira de Sinais como meio legal de comunicação e expressão, determinadas que sejam garantidas formas institucionalizadas de apoiar seu uso e difusão, bem como a inclusão da disciplina de Libras como parte integrante do currículo nos cursos de formação de professores e de fonoaudiologia (Brasil, 2008.p.9).

Os surdos adquiriram o direito de se comunicarem em sua língua natural através do decreto nº 5626 de 22 de dezembro de 2005, viabilizando a pessoa surda o direito de receber uma formação com base na educação bilíngue, onde possibilitará ao surdo ter domínio e ser reconhecido por sua diferença linguística.

Percebemos que somente as leis não garantem ao surdo a formação necessária, em função de as instituições ainda permanecerem voltadas para o atendimento da maior parte de indivíduos ouvintes. Segundo Silva (2001):

No currículo há o conflito na compreensão do papel da escola, em uma sociedade fragmentada do ponto de vista racial, étnico e linguístico. É preciso assumir em uma perspectiva sociolinguística e antropológica na educação dos surdos dentro da instituição escolar, considerando a condição bilíngue do aluno surdo. (Silva,2001.p.21).

Ao surdo é necessário a comunicação através de sua língua natural, visto que a mesma, irá oportunizar a apreensão dos conteúdos ministrados pelos professores, se a escola não levar em consideração a especificidade dessa língua na condução do ensino ao surdo, de nada valerá a inclusão dos alunos que estejam nestas condições, visto que os mesmos aprendem e se comunicam através de suas experiências visuais.

Por isso é de suma importância fazer adaptações curriculares no ensino dos conteúdos regulares ministrados aos alunos com necessidades especiais. De acordo com Carvalho (2010):

As adaptações curriculares devem ser entendidas como mais um instrumento que possibilita maiores níveis de individualização do processo ensino-aprendizagem escolares, particularmente importante para alunos que apresentam necessidades educacionais especiais (Carvalho, 2010,p.105).

Sobre os alunos surdos, o currículo adaptado precisa se valer de estratégias visuais que estimulem a participação dos mesmos no cumprimento do currículo a ser ministrado como vemos a seguir:

As adaptações curriculares para a educação dos surdos constituem a forma mais adequada de atender suas necessidades educativas. Não se trata de elaborar um programa paralelo, mas de ajustar a programação regular adotada para os demais alunos, uma vez que a maioria dos

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surdos pode beneficiar-se de um currículo regular (Brasil,1997,p.32).

A metodologia diferenciada utilizada na educação de surdos precisa ser profícua, possibilitando continuidade dos conteúdos paulatinamente ensinados, visando a apreensão cognitiva com significação. Quando a escola se prepara para receber alunos com deficiência ela também precisa rever seu projeto político-pedagógico, para que tenha condições mínimas, de estar atuando de forma efetiva, com professores e funcionários comprometidos com o projeto, bem como adaptações no currículo que será proposto. Para que isso aconteça, será necessário a participação de pais e alunos na elaboração deste projeto, visando a colaboração de todos. Uma escola que se propõe a trabalhar a inclusão precisa estar aberta a ter um novo olhar diante das dificuldades e desafios que irão surgir, visto que haverá uma diversidade de situações inusitadas, que irão surgindo no decorrer do andamento do processo de aprendizagem, de todos os envolvidos nesta proposta coletiva de trabalhar com uma escola inclusiva. Machado (2008,p.72-73) relata:

O processo de integração/inclusão, que vê como positiva a inserção do aluno na escola regular, o faz fundamentado na ideia de aproximá-lo das pessoas "normais" e também porque julga os surdos como capazes de acompanhar os ouvintes e de se desenvolverem como eles. Entretanto, os surdos que frequentam a escola regular na maioria dos casos, apresentam dificuldades linguísticas que, além de complicar o trabalho do professor, acarretam o fracasso escolar (repetência e desistência/evasão).

Ocorre que estudos e pesquisas na área de surdez buscam mostrar que este tipo de escola não atende as especificidades da comunidade surda, por isso este grupo luta pelo direito a ter uma escola que pense sua cultura e uma pedagogia visual voltada para seu jeito surdo de aprender. Conforme Strobel (2008,p.99):

Como começou a inclusão de surdos nas escolas regulares: com a Declaração de Salamanca, a política evidenciada que foi adotada na maioria dos países e na elaboração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei nº 9394/96, observamos que no capítulo sobre a educação especial apoia-se e inclui-se parâmetros para a integração/inclusão do aluno especial na escola regular. Foi aprovada esta lei, só que em que constava esta lei? Remitir aos sujeitos surdos o acesso ao ensino regular, mas onde estavam os professores preparados? Qual era a infra-estrutura das portas que eram abertas ao povo surdo nas escolas? O problema é que estas escolas ainda não respeitam essa advertência e continuam tratando os sujeitos surdos como os demais alunos. Infelizmente, nestas escolas não há espaços preparados para as diferenças culturais, como

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é o caso da inclusão dos alunos surdos em escolas regulares. Eles deparam-se com dificuldades de adaptação e com problemas de subjetividades porque nas escolas não compartilham suas identidades culturais, como é o caso da inclusão dos alunos surdos em escolas regulares. Eles deparam-se com dificuldades de adaptação e com problemas de subjetividades porque nas escolas não compartilham suas identidades culturais.

Notemos que para que os surdos e toda a comunidade recebam uma educação de qualidade se faz necessário rever sua história e os conceitos que foram sendo gerados, mas que não proporcionaram aos surdos a aprendizagem almejada, diante desta constatação, entendemos que para o surdo fará toda a diferença se o mesmo tiver acesso a uma educação que seja voltada para sua cultura. Segundo Strobel (2008,p.24):

Cultura surda é o jeito de o sujeito surdo entender o mundo e de modificá-lo a fim de torná-lo acessível e habitável, ajustando-o com as suas percepções visuais, que contribuam para a definição das identidades surdas e das almas das comunidades surdas. Isto significa que abrange a língua, as ideias, as crenças, os costumes e os hábitos do povo surdo.

A autora sublinha a importância de o surdo ter o contato com sua cultura como identificação de sua personalidade e instrumento facilitador da aprendizagem, ajudando assim no seu desenvolvimento cognitivo e social. Os surdos que têm a oportunidade de conviver e interagir com outros surdos em diversos espaços além da escola, denotam uma identidade segura de que são capazes mesmo sendo privados da audição, porque estes reconhecem que a surdez apenas os diferencia e não os diminui como pessoa, em encontros com seus pares trocam informações variadas sobre tudo o que a mídia informa, inclusive a importância da acessibilidade a conteúdos que estão na atualidade para os ouvintes e que para o surdo chegam distorcidos por ausência de um intérprete nas matérias e programas exibidos.

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CAPITULO 2 - O PROCESSO DA LEITURA E ESCRITA

A aquisição da leitura e da escrita é de suma importância para o ser humano, visto que registros gráficos foram uma das formas que nossos ancestrais usavam para ilustrar os acontecimentos e as relações sociais em grupo. O ser humano possui em sua essência a necessidade de comunicar-se também de forma escrita, pois é o que irá possibilitar externar suas reflexões e ideias diante de seus sentimentos, emoções e opiniões, a respeito de tudo o que o cerca. E, é só através de sua língua, que terá a oportunidade de efetuar essa troca e de interagir com seu semelhante.

2.1 - Leitura e escrita para Surdos

O processo de leitura e escrita dos Surdos apresentam algumas falhas em função de que a criança surda chega a escola sem ter tido oportunidade de construir uma língua, experiência esta que irá dificultar no momento em que a criança começa associar o sinal a palavra, transpondo assim para a escrita em português. Previamente se esta criança não teve contato com histórias, cantigas, brincadeiras e outras atividades que são próprias de crianças que são ouvintes, possivelmente a criança surda filho de pais ouvintes, terá maiores dificuldades no processo de alfabetização e leitura, devido a comunicação que é deficitária em função da surdez. Vilhalva nos descreve sua experiência com a leitura e o entendimento que o surdo tem quando este processo não está voltado para sua necessidade visual:

O processo de elaboração mental de leitura também não segue os passos normais da leitura, ou seja de gramática. O conceito de princípio, meio e fim, não acontece com o surdo como é normal com uma criança ouvinte. Sua necessidade vai direto ao fim, ou ao meio e muito depois ao princípio do que se é falado. Daí sua dificuldade, mesmo que seja alfabetizado, em elaborar um texto ou interpretar uma história. (Vilhalva, 2004, p.24)

A autora explica que o surdo quer entender o ouvinte na sua oralização e quando este começa a interpretar o que seu interlocutor está comunicando, seu pensamento vai buscando os conhecimentos prévios adquiridos, neste momento o restante do que foi dito já se perdeu. É o que acontecia e ainda acontece nas escolas que não tem um intérprete ou professor preparado para atender este educando. É fundamental diante de diálogos com surdos oralizados ou não, na ausência da libras, assumirmos a postura de conversar devagar e de frente, para que o mesmo tenha tempo de refletir e compreender o contexto do que está sendo dito, não só a articulação das palavras mas a expressão ao verbalizar também ajudam na comunicação. De acordo com Quadros:

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Várias tentativas de alfabetizar a criança surda por meio do português já foram realizadas, desde a utilização de métodos artificiais de estruturação de linguagem até o uso do português sinalizado. No Brasil os métodos artificiais de estruturação de linguagem mais difundidos foram a Chave de Fitzgerald e o de Perdoncini. Português sinalizado é um sistema artificial adotado por escolas especiais para surdos. Tal sistema toma sinais da língua de sinais e joga-os na estrutura do português. Há vários problemas com esse sistema no processo educacional de surdos, pois além de desconsiderar a complexidade linguística da língua de sinais brasileira, é utilizado como um meio de ensino do português (Quadros,2006:23-24).

Se a criança surda no processo de alfabetização em seus primeiros contatos com a língua adquirir como primeira língua a Libras, então posteriormente a transição na aquisição da escrita para o português se tornará mais acessível, visto que terá parâmetros que possibilitem a mesma comparar as diferentes formas de expressão escrita, podendo expressar seus pensamentos e ideias, conforme Quadros nos afirma:

Ao fazer a análise explícita entre as duas línguas, estamos utilizando a linguística contrastiva, ou seja estamos comparando as semelhanças e diferenças entre as línguas em seus diferentes níveis de análise. Por exemplo, na língua portuguesa temos um conjunto de preposições que estabelecem algum tipo de relação entre o verbo e o resto da oração. Na língua de sinais, esta relação é estabelecida pelo uso do espaço incorporado ao verbo ou da indicação (apontação)(id.p.24).

É fundamental esse contato com a Libras o mais cedo possível, pois isto irá dar a criança, maiores possibilidades de construir seu processo de alfabetização e compreensão da leitura e escrita em português, que será sua segunda língua facilitando a transição para o letramento posteriormente.

A Libras possui a mesma função para os surdos que o português para os ouvintes, precisando ser aprendida nas relações com seus pares, onde a interação entre crianças e adultos surdos fará com que a língua evolua tornando-a assim sempre viva e dinâmica, inclusive na criação de novos sinais a medida que a tecnologia também avança. Segundo Quadros e Karnopp:

As línguas de sinais são consideradas línguas naturais e, consequentemente, compartilham uma série de características que lhes atribui caráter específico e as distingue dos demais sistemas de comunicação, por exemplo, produtividade ilimitada ( no sentido de que permitem a produção de um número ilimitado de novas mensagens sobre um número ilimitado de novos temas); criatividade (no sentido de serem independente

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de estímulo); multiplicidade de funções (função comunicativa, social e cognitiva - no sentido de expressarem o pensamento); arbitrariedade da ligação entre significante e significado, e entre signo e referente ); caráter necessário dessa ligação; e articulação desses elementos em dois planos - o de conteúdo e o da expressão. As línguas de sinais são, portanto, consideradas como línguas naturais ou como um sistema linguístico legítimo, e não como um problema do surdo ou como uma patologia da linguagem. Stokoe, em 1960, percebeu e comprovou que a língua de sinais atendia a todos os critérios linguísticos de uma língua genuína, no léxico, na capacidade de gerar uma quantidade infinita de sentenças (Quadros e Karnopp, 2004:30).

A Libras irá ajudar o surdo que não teve condições de se alfabetizar adquirindo a escrita, a se comunicar, expressando através desta língua seus anseios e pensa mentos, nos momentos em que for preciso se relacionar com a comunidade surda, isso fará toda a diferença em sua autoestima dando a ele o sentimento de pertencer a um grupo.

2.2 - A compreensão da leitura para Surdos

A Língua Portuguesa geralmente é ensinada aos Surdos conforme o mesmo processo de decodificação ministrado para os ouvintes, anteriormente citada por Quadros. Koch (2003) denomina a sequência de conteúdos ensinados de aditiva: primeiro é ensinado a juntar sílabas ou letras formando palavras, em seguida junta-se palavras para formar frases e após, unir frases para construir um texto. O autor considera que para se dar o processo da leitura nestes termos, basta que o receptor conheça o código e o decodifique. Sob esse ponto de vista é suficiente que o aluno apenas decifre o código que forma as palavras.

Kleiman (2004), defende que a leitura é uma pesquisa que o leitor faz de seus conhecimentos adquiridos, para então compreender o texto. De acordo com ela, a criança em estágio de alfabetização lê bem devagar, demonstrando que está decodificando, o que é diferente de ler, embora saibamos ser essa habilidade necessária a leitura, já que na fase adulta isto acontece de forma global, naturalmente baseado em conhecimentos prévios levando-o a uma leitura coerente.

Conforme Solé (1998), é o objetivo que o leitor tem ao fazer a leitura que o levará a interpretar o contexto do que se lê; será isso que irá conduzir a criança a compreender o que está lendo. A autora nos fala dos diferentes objetivos atingidos no ensino da leitura às crianças, servindo para extrair informações, aprendizado ou lazer, isso a levará a atingir a finalidade da leitura que deseja adquirir.

A mesma autora destaca que a motivação é essencial na compreensão de um texto, caso contrário, isto poderá acarretar o desânimo conduzindo a

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desmotivação, Solé nos lembra que é preciso despertar a vontade, o desejo, que o mesmo precisa estar de acordo com o objetivo, explica que é necessário que o professor incentive a leitura do aluno dando para ele opções que vão de encontro a seus interesses, promovendo sua aprendizagem, de forma prazerosa e significativa, incutir no aluno o pensamento crítico ante o que está lendo.

Tendo o professor conhecimentos prévios do material proposto, irá desenvolver no aluno o conhecimento de palavras novas ampliando seu vocabulário e trabalhando o sentido na contextualização.

Desenvolvendo essa mesma questão com alunos surdos, no processo de compreensão da leitura, precisamos levar em conta que a criança chega a escola em idade aproximada de 6 anos sem ter adquirido uma língua, sendo comum que aprenda primeiro o português para depois aprender Libras, isto é, ela adquire outro idioma antes de aprender a língua que lhe é própria, dificultando o processo de aprendizagem, também a aquisição da leitura não difere muito do método que é usado para ouvintes, vejamos o que nos diz a Proposta Curricular para Deficientes Auditivos (1979) retirado do volume 1 (p.50):

• Reconhecer e identificar as palavras-chave em frase simples; • Reproduzir, por escrito palavras e frases curtas; • Reconhecer e identificar as sílabas dos vocábulos; • Formar palavras, combinando as sílabas estudadas; • Formar frases simples com palavras estudadas; • Ordenar sílabas, formando palavras; • Ordenar palavras, formando frases simples; • Ordenar frases simples, formando texto.

Fazendo uma comparação do ensino a ouvintes, no momento do processo de aquisição de leitura, não há muita diferença para o ensino com surdos, não levam em consideração suas especificidades.

A criança ouvinte ao iniciar a leitura e a escrita, já possui uma língua, é através deste conhecimento que irá construir a leitura e a escrita, no caso da criança surda o mesmo não acontece, por que não tem um vocabulário formado a ponto de ter domínio da língua para a construção do sentido na leitura e escrita, isto conduzirá o surdo ao erro, a não entender o significado do texto lido induzindo-o a má interpretação, conforme ilustra Almeida (2000).

Góes (1996), através de entrevista a alunos e professores surdos que fizeram supletivo, confirmou que as maiores dificuldades de leitura e escrita se deve a falta de domínio do vocabulário.

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Fernandes (1990,2003) analisando o processo de compreensão de texto, por parte de alunos adultos com variação de escolaridade entre o ensino fundamental até o ensino superior detectou o mesmo.

Fulgêncio e Liberato (2001), afirmam que para a leitura não importa o significado isolado da palavra, mas sim a compreensão do conteúdo e o significado da palavra no contexto. Sem um texto coerente é difícil para o surdo entender seu sentido. Um dos grandes problemas enfrentados pelos surdos de famílias de ouvintes é a aquisição de conhecimento prévio, visto que na maioria das vezes, não participam de diálogos em família no dia a dia, resultando em pouca aquisição de conhecimento, por isso, é comum crianças surdas ao ingressarem na escola não possuir uma língua que possibilitará sua comunicação com os demais, além de não ter adquirido conhecimento de mundo. Lembremos que conhecimento prévio, constituem conhecimento linguístico e de mundo.

2.3 - Bilinguismo

Bilinguismo é a capacidade que uma pessoa tem de se expressar em duas ou mais línguas diferentes com igual fluência ou usar com maior frequência uma delas. Na comunidade de surdos dizemos bilíngue o surdo que possui a Libras (Língua Brasileira de Sinais) para se comunicar com seus pares e também faz uso do português escrito ao precisar se relacionar com ouvintes.

O Bilinguismo aplicado ao contexto escolar vai trabalhar com alunos surdos a pedagogia Libras na aplicação de conteúdos e o português escrito como forma de comunicação destes alunos com toda a sociedade, ou seja, o aluno surdo irá trabalhar com as duas línguas, ao se apropriar da libras o surdo amplia seu vocabulário e se apodera da cultura que a comunidade de surdo naturalmente irá transmitir através do contato com seus pares em reuniões, na associação de surdos, festas e eventos que envolvem a comunidade surda. Vejamos o que nos diz Skliar (1998) sobre a língua de Libras:

Os trabalhos da linguística pós-estruturalista avalizaram o status linguístico das linguagens de sinais como línguas naturais e como sistemas diferenciados das línguas orais: o uso do espaço com valor sintático e topográfico e a simultaneidade dos aspectos gramaticais são algumas das restrições impostas pelo tipo de modalidade viso-espacial e determinam sua diferença estrutural em relação às línguas auditivo-orais.

Toda essa gama de conhecimentos e experiência adquirido no contato com a comunidade irá facilitar ao aluno a apreensão do português, visto que, o mesmo

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irá fortalecendo sua identidade surda a medida que vai fazendo experiências de troca com seus pares. De acordo com a FENEIS:

É de fundamental importância a interação entre as crianças Surdas e os Surdos adultos (principalmente os envolvidos nas lutas pelos direitos à cidadania e a vida digna), pois estes atuarão como modelos da Identidade Surda e da Cultura Surda.

A língua de sinais é a língua natural dos surdos, por ser viso-espacial, ela é a base para a criança surda desenvolver sua linguagem, sua cognição, facilita o processo de aprendizagem ajudando na compreensão da escrita em português, visto que ambas as línguas possuem uma estrutura gramatical própria, a Libras é composta pelos níveis linguísticos fonológico, o morfológico, o sintático e o semântico, diferente da Língua Portuguesa que é auditiva e composta pelos níveis fonético, morfológico, fonológico, sintático, léxico e semântico. A FENEIS destaca que:

O Bilinguismo, tal como entendemos, é mais do que o uso de duas línguas. É uma filosofia educacional que implica em profundas mudanças em todo o Sistema Educacional para Surdos. Enquanto estas mudanças não se efetuarem, estaremos em plena fase de transição. Tais mudanças não podem ser instaladas de uma só vez. Dependerão da auto-crítica dos profissionais da área, do desenvolvimento das pesquisas sobre as Línguas de Sinais e de metodologia e materiais didáticos específicos para Surdos.

2.4 - Experiência e opinião de surdos em escola bilíngue e regular

Para compreendermos esta pesquisa narramos a vivência de duas pessoas surdas que nos comunicam com simplicidade sobre a importância de acolhermos as diferenças. Esta monografia nos fala da experiência pessoal de Darlene Seabra de Lira na escola, que ficou surda com 1 ano e meio de idade, devido ao uso de uma medicação denominada Garamicina, o que a levou a conviver com a surdez em uma família de ouvintes. Conforme relata Lira (2009),

A minha experiência como Surda na escola, há muitos anos, é quase igual a das outras crianças e jovens Surdos. Acostumei-me na escola de Surdos, bilíngue, da 2ª série até a 8ª série; depois, no 2º grau, na escola de inclusão, senti mudar a vida, era difícil porque os professores não atendiam os alunos surdos, somente os alunos ouvintes, porque o grande número é de ouvintes. Parecia que, nós, surdos e intérpretes, éramos iguais a almas (LIRA, 2009, pag.12).

Sua experiência fala das dificuldades que teve para conseguir estudar e aprender a conviver com os ouvintes, tendo o primeiro contato com a comunidade surda aos 5 anos e a partir daí se desenvolvendo em Libras para a construção de sua identidade. Relata como foi difícil aprender em classes onde a maioria era de

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ouvintes, como professores despreparados permitiram que avançasse na série sem ter condições de compreender a leitura e a escrita, só aos 10 anos descobre o prazer de estudar em uma escola, pois começa a interagir com um professor surdo, que irá motivá-la a estudar Libras, onde irá aprender na interação com outros surdos; tal experiência foi positiva, o que a estimulou a prosseguir seus estudos, cursar a faculdade e pós graduação.

Outro relato que nos mostra de forma concreta os desafios que os surdos precisam vencer para escolarizar-se é o de Shirley Vilhalva, ela é professora surda parcial, em seu livro Despertar do silêncio, descreve-nos sua infância, sua visão de mundo diante da dificuldade em se comunicar com a família, suas experiências visuais, suas observações diante de situações do cotidiano onde a família se comunicava de forma oral, o que a levou aos poucos a aprender a leitura labial. Na infância não entendia que era surda (parcial), pois segundo ela pouco conversavam, tinha dificuldade para se comunicar e se sentiu insegura ao perceber que precisava disso, foi sua primeira descoberta. Sua segunda descoberta ocorreu em uma brincadeira com crianças ouvintes que correram para brincar de pique após o comando de uma delas e Shirley ficou parada no mesmo lugar. Os equívocos que aconteceram ao relacionar palavra aprendida com o contexto da fala no dia a dia. Sua relação com a prima Ângela que a ajudou muito em parte da infância, visto que a mesma a compreendia só pelo olhar, o que a fez sentir-se segura, pois entendia oque as pessoas falavam através dela. Na escola Vilhalva (2004:22-23) conta sobre as dificuldades que enfrentou para conseguir se ajustar ao ensino e junto aos colegas,

(...) muitas vezes meus colegas não me aceitavam porque tinham receio que a surdez pegasse como uma doença contagiosa, eles tinham medo de falar comigo, achando que eu não iria entender, sempre que estava na fila por ordem de chegada, às vezes a primeira a chegar por morar próxima à escola, eles me puxavam pelos meus longos cabelos negros que sempre estavam trançados como uma índia, me arrastavam e colocavam como última da fila, sem entender muito bem eu aceitava as imposições.

Nessa fase dentro de minha pessoa eu tinha um desejo de estar numa escola onde as pessoas fossem surdas iguais a mim, pois sentia que não havia comunicação entre eu e os meus colegas, pois a maioria era ouvinte e não sabia comunicar comigo, sentia-me isolada.

Este sentimento que nos expõe Vilhalva, nos conduz a refletir sobre nossas relações diante das pessoas com deficiência, em especial o surdo, porque quantas vezes percebemos que somos intolerantes diante do que é diferente, só por que não conhecemos? Sua fala representa a voz de muitos surdos, que hoje se encontram matriculados na rede pública, mas que não recebem as condições

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necessárias para prosseguirem com seus estudos, porque sentem-se incompreendidos em suas dúvidas e questionamentos, diante dos conteúdos que não conseguem aprender e por isso julgam-se incapazes.

2.5 - A escola de ouvintes para surdos oralizados

O ensino é ministrado somente em português, é esperado que o surdo faça a leitura labial e seja o suficiente para sua aprendizagem. Encaram o Surdo como deficiente, tendo a visão de que todos tem a capacidade de oralizar, segundo Skliar (2005, p.7):

"Um conjunto novo de discursos e de práticas educacionais que, entre outras questões, permite desnudar os efeitos devastadores do fracasso escolar massivo, produto da hegemonia de uma ideologia clínica dominante na educação dos surdos."

A visão de que os surdos sendo educados para oralizar resolveria o impasse de comunicação e aprendizagem, mostra a concepção de encarar o problema da surdez como passível de cura e normalização nos remetendo ao pensamento do congresso de milão como relatado anteriormente.

A comunicação total visa a comunicação entre Surdos e ouvintes, buscando estratégias que facilitem essa interação. Seu objetivo é a aproximação das pessoas e o estabelecimento de contato, utilizando para isso gestos, oralização, amplificação sonora, leitura labial, leitura e escrita e datilologia.

Promovem a Libras como facilitador da comunicação entre ouvintes e surdos, possibilitando o acesso a informações em várias áreas da sociedade, como simpósios, debates, palestras ou qualquer espaço onde o surdo possa manifestar suas opiniões e decisões.

2.6 - A escola bilíngue e a Língua de Sinais.

A escola bilíngue é um sonho da comunidade surda que ainda precisa ser mais difundido nas escolas do Brasil. A LIBRAS Língua Brasileira de Sinais só foi reconhecida como Língua em 2002, através da Lei 10.436/02.

A partir desta lei começa-se a pensar um modelo de educação que melhor atenda as necessidades dos Surdos, mas na ótica de pessoas ouvintes.

O governo e a sociedade precisam conhecer profundamente a cultura do surdo, suas especificidades, para que seja viabilizado a comunidade surda, escolas voltadas para as necessidades de desenvolvimento de seus potenciais, do contrário a inclusão não chegará a acontecer de fato para as pessoas surdas, segundo Lira:

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A sociedade, em geral, opina em defesa da inclusão, argumentando que as oportunidades dos surdos são maiores, assim como para as crianças com Síndrome de Down. Entendemos de maneira diferente. Os Down falam a mesma língua da escola e os Surdos falam outra língua, diferente da utilizada na escola de inclusão. Não podemos pensar que esse modelo da inclusão é bom para todos. No caso dos Surdos é uma agressão. Como homens e mulheres visuais, os surdos têm uma cultura, suas maneiras de pensar, seus códigos e seus valores. A construção e interpretação do mundo pelo canal visual é uma das suas marcas de diferença. Não a diferença entendida como uma deficiência, mas, como uma construção política, histórica e cultural que enriquece a humanidade.

A educação bilíngue, nasce da necessidade que surdos e ouvintes em suas relações do cotidiano, sentiram que era importante pensar uma educação melhor do que o que se teve até agora, o reconhecimento da LIBRAS como língua vem fortalecer esse movimento. De acordo com Perlin e Miranda (pág. 224, 2003):

O bilinguismo, para nós, é um grande avanço no sistema de ensino-aprendizagem, pois, está buscando a priori “ensinar e aprender”, através de uma comunidade linguista diferenciada, partindo de suas próprias características pessoais: sua cultura, língua e identidade. Sabemos que a educação ainda precisa ser ampliada e cada vez mais adequada a esta comunidade que, dia a dia, luta pelo direito de ter uma educação significativa, condizente com suas características sociais e culturais próprias. Porém, na prática, nem sempre essas prioridades são conduzidas adequadamente, mas, a partir de nossos esforços, vamos conquistar uma pedagogia surda. O bilinguismo por si é uma política menos violentadora que a inclusão, mas que se restringe ao aspecto linguístico. A comunidade surda quer muito mais que isto, quer uma pedagogia do jeito de ser. Isto não é nenhum surdismo, nenhum gueto como nos acusam, é, antes, uma pedagogia rica de significados, atenta à diferença. "

O problema não é a surdez, mas a forma como os ouvintes lidam com ela, as pessoas que não tem conhecimento da LIBRAS, Língua Brasileira de Sinais, não conseguem perceber que o surdo é uma pessoa com uma cultura diferente, com necessidades que lhe são peculiares por ser privado da audição, necessitando para isso se comunicar em outra língua que é a Libras, pois esta é a língua natural dos surdos, por que é visual-espacial. Assim como a pessoa que possui audição precisa escutar para processar as informações no cérebro e depois retornar a comunicação, o surdo precisa "ver" para que o cérebro também desenvolva o processo.

As escolas ditas inclusivas ainda não conseguem incluir o surdo no processo educacional, pois mesmo com intérpretes e trabalhando a inclusão carecem de uma pedagogia que contemple a cultura surda e sua língua , geralmente a maioria

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de contingente nas escolas inclusivas são de ouvintes e não se preocupam com as diferenças em adaptar o currículo para os surdos, resultado, mesmo avançando as séries os surdos continuam a ter dificuldades com a leitura e a escrita, isso sem contar com a participação da família, o que é fundamental para avançar nos estudos, bem como, em sua relação com os ouvintes.

Machado (2006, p.23) destaca que:

"A educação de surdos torna-se um assunto inquietante principalmente porque diferentes práticas pedagógicas, envolvendo os alunos surdos, apresentam uma série de limitações, geralmente levando esses alunos, ao final da escolarização básica, a não serem capazes de desenvolver satisfatoriamente a leitura e a escrita na língua portuguesa e a não terem o domínio adequado dos conteúdos acadêmicos."

O que Machado nos relata acontece não só com surdos, bem como também com os ouvintes, pois sabemos que nosso sistema escolar tem uma série de problemas com a evasão e o fracasso escolar de crianças que não conseguem se desenvolver de forma satisfatória e por isso o sistema acaba excluindo-as do processo. Diante deste contexto resgatamos a importância da família no seu papel de amar e acolher seus filhos. sejam eles deficientes ou não. È a família neste momento que fará toda a diferença na vida do educando se estiver atenta as dificuldades do dia a dia e disposta a ajudar na superação destas dificuldades. Vilhalva (2004, p.36) nos relata:

Lembro também que já era rotina quando meus parentes iam em casa, eles sempre falavam para minha mãe ou minha avó: - Não sei para que ela estuda se é surda, coitadinha da professora vai perder tempo. O investimento que minha família fazia em pagar professora particular como apoio pedagógico que não era oferecido pelo Estado ou Município na época que necessitei! Sinto-me feliz e realizada por minha família não se deixou levar pelos comentários que os outros faziam e me apoiando e acreditando em minha pessoa para eu progredir em meus estudos.

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CAPITULO 3 - LEGISLAÇÃO E OPORTUNIDADES O trabalho é o que dignifica o homem, nas sagradas escrituras em Gênesis capítulo 3 versículo 19 "você comerá seu pão com o suor do seu rosto (...)". O ser humano desde os primórdios é fadado a conquistar o alimento pra viver como fruto do seu trabalho, sendo esta uma necessidade de cada pessoa. A legislação a respeito do trabalho vem assegurar esse direito a cada pessoa que ao entrar na fase adulta reconhece a necessidade de contribuir para a sociedade com seu labor. 3.1 - Mercado de trabalho O trabalho é um direito de cada pessoa, pois lhe dá dignidade, sentimento de poder produzir, ser útil à sociedade, vislumbrando esse caminho podemos afirmar que toda pessoa possui em seu íntimo o sentimento de ser reconhecida por seu trabalho, de acordo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos - ONU. Segundo Chalita (2008,p.85):

"Em outras palavras, o trabalho oferece ao ser humano os mecanismos de efetivação de sua liberdade de ação e pensamento. Sobre essa associação entre trabalho e liberdade, o filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard afirmou: "O dever de trabalhar para viver exprime o universal humano, inclusive no sentido de ser uma manifestação da liberdade. É exatamente por meio do trabalho que o homem se torna livre; o trabalho domina a natureza: com o trabalho ele mostra que está acima da natureza".

O pensamento do autor vai de encontro ao que o filósofo já havia afirmado e traduz o sentimento que todo ser humano identifica como sendo próprio de cada cidadão que traz em si a consciência de que ele pode sempre criar, inventar, pesquisar por meio de sua inteligência, ferramentas que melhorem e facilitem a execução de tarefas mais simples as mais complexas, projetando essa sensação as próximas gerações conforme nos esclarece em seguida o mesmo autor:

"As novas gerações têm de estar atentas às múltiplas e necessárias faces e aos benefícios provenientes do trabalho. É por meio do trabalho que o ser humano é levado a concretizar a união entre a teoria e a prática, proporcionando a plenitude de sua educação e aprendizado. Uma educação voltada tanto para o indivíduo quanto para a coletividade, uma vez que o homem colabora para suprir não só suas necessidades mas também as de um enorme contingente de pessoas.

O trabalho nos torna seres sociais na medida em que, no exercício de nossa profissão, entramos em contato com outros indivíduos e, pouco a pouco, aprendemos a estabelecer relações com pessoas diferentes, com ideias e opiniões muitas vezes divergentes das nossas. Pessoas de origens diversas, com costumes e histórias variados que nos enriquecem social

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e culturalmente. Essa aproximação com o outro é fundamental para o nosso crescimento intelectual, bem como para a solidificação de nosso caráter. Em outras palavras, o trabalho nos ensina e fortalece em nós valores indispensáveis como ética, justiça e respeito às diferenças" (Id. 2005, p.94)

O trabalho tanto para o surdo como para qualquer pessoa, seja ela deficiente ou não, vem trazer o sentido de uma existência fundamental na composição de um mundo que só é melhor por que somos todos importantes uns para os outros, independente de nossa condição social ou física.

Dia 26 de setembro é comemorado o dia Nacional do Surdo, esta data traz a memória a inauguração da primeira escola para surdos do Brasil no estado do Rio de Janeiro. No ano de 1857, foi inaugurado o INES - Instituto Nacional de Educação de Surdos, onde no passado era denominado Instituto Nacional de Surdos Mudos do Rio de Janeiro.

Esta data é um importante marco na história da comunidade surda, pois foi reconhecida pela Lei Federal nº 11.796/2008, que reafirma a luta social desta comunidade na conquista de seus direitos linguísticos e também políticas educacionais de forma legal.

Uma das conquistas que foi essencial para o movimento, foi o reconhecimento da Libras - Língua Brasileira de Sinais, através da Lei Federal nº 10.436/2002 e de sua regulamentação (Decreto nº 5626/2005), que deixou clara a diferença linguística desta comunidade, mostrando a necessidade de pessoas capacitadas com domínio da língua para atende-los em seus direitos nas diversas áreas de nossa sociedade, inclusive criando o curso de graduação de Letras-Libras. Temos hoje a inclusão de pessoas surdas na rede regular de ensino, que acontece devido ao apoio de profissionais tradutores intérpretes de Libras.

A Lei 8.213 de 24 de julho de 1991, lei de contratação de Deficientes nas empresas. Lei de cotas para Deficientes e Pessoas com Deficiência dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência e dá outras providências, a contratação de portadores de necessidades especiais.

Art. 93 - A empresa com 100 ou mais funcionários está obrigada a preencher de dois a cinco por cento dos seus cargos com beneficiários reabilitados, ou pessoas portadoras de deficiência, na seguinte proporção:

- Até 200 funcionários .............................................................................2%

-de 201 a 500 funcionários ......................................................................3%

-de 501 a 1000 funcionários ....................................................................4%

-de 1001 em diante funcionários .............................................................5%

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Das deficiências que vemos e conhecemos, o surdo é o único que tem sua deficiência de forma não explícita, pois só a percebemos no momento que tentamos nos comunicar ou os vemos dialogar através da Libras, de outra forma passam despercebidos.

Para oportunidades de trabalho, o surdo é escolhido por não necessitar de adaptações físicas nos ambientes estruturais das empresas, porém esbarramos na questão da língua, que vem a ser fundamental no sucesso do desempenho de suas funções laborais, podemos citar a experiência bem sucedida, que uma instituição em São Paulo fez, ao incluir um surdo no quadro de funcionários, para dar início a um projeto que tinham em mente, abrir as portas para a inclusão de outros deficientes surdos, desde que o primeiro desafio fosse vencido, o que consistiria em ensinar a equipe que iria trabalhar com ele a LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais, isto confirmaria sua competência e teriam a garantia que o projeto teria sucesso. E acertaram no alvo. A verdade é que esta empresa se abriu ao novo e apostou na comunicação entre o surdo e os ouvintes que são a maioria, o importante que vale ressaltar é que a partir desta bem sucedida experiência, esta Instituição provou que é possível romper a barreira, que separa pessoas com deficiência do mercado de trabalho, de serem produtivas e exercerem sua cidadania naturalmente.

Dutra (2005, p.30), discorre sobre seu trabalho e se utiliza da fala de Pimenta (2001, p.24):

A surdez deve ser reconhecida como apenas mais um aspecto das infinitas possibilidades da diversidade humana, pois ser surdo não é melhor ou pior que ser ouvinte, é apenas ser diferente. Se considerarmos que surdos não são " ouvintes com defeito", mas, pessoas diferentes estaremos aptos a entender que a diferença física entre pessoas surdas e pessoas ouvintes gera uma visão diferente de mundo, um "jeito ouvinte de ser" e um "jeito surdo de ser", que nos permite falar em uma

cultura da visão e outra da audição.

Dutra nos mostra através desta fala que a diferença está apenas na cultura e que ouvintes e surdos quando se interessam em conhecê-las, há uma troca que se abre num encontro de duas culturas, onde a comunicação é crucial para que haja crescimento mútuo e solidário, despertando a cooperação entre os diferentes.

Nossa legislação favorece a inserção do deficiente no mercado de trabalho, haja visto, o que descreve a Constituição Federal (1988), o artigo 3º, Parágrafo IV incentiva a promoção do bem estar de "todos sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação".

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Em relação as pessoas com deficiência auditiva, as Leis Federais descrevem: Lei nº 8160 (1991) - "Dispõem sobre a caracterização de símbolo que permita a identificação de pessoas portadoras de deficiência auditiva".

Artigo 1º - "é obrigatória a colocação de forma visível do "Símbolo Internacional de Surdez" em todos os locais que possibilitem acesso, circulação e utilização por pessoas portadora de deficiência auditiva, e em todos os serviços que forem postos a sua disposição ou que possibilitem seu uso".

Conforme descreve as Leis Estaduais:

Lei nº 1224 (1987) - "Assegura ao deficiente físico o direito a inscrição e participação em concursos públicos, dá outras providências".

Lei 1479 (1989) - "Autoriza o Poder Executivo a criar o programa deficiente físico - empresa".

Lei 2883 (1998) - "Autoriza o Poder Executivo a criar a carreira de intérprete para deficientes auditivos".

Lei nº 3061 (2001) - "Assegura as pessoas surdas o direito de serem atendidas, nas repartições públicas estaduais por meio da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS, e dá outras providências".

A legislação é farta em relação a pessoas com deficiência, o que precisamos é divulgar mais estas leis para que as pessoas conheçam os direitos adquiridos das pessoas com deficiência e comecem a acolher as diferenças em cada pessoa, seja ela deficiente ou não, o mercado de trabalho exige formação tanto para deficientes como os que não possuem deficiência, vejamos o que nos diz Caruso (1994 p.133).

[...] para pensarmos a passagem de qualificação como uma relação social, para formação profissional (que se situa na esfera do como estruturar e do como transmitir o conteúdo formativo), podemos nos valer do conceito de transferibilidade. De acordo com este conceito, a estruturação do conteúdo formativo deve perceber a possibilidade do trabalhador percorrer vias profissionalizantes que conduzam ao seu crescimento profissional, e a formação profissional possuirá um maior grau de validação social quanto maior for a probabilidade de o trabalho percorrer este tipo de trajetória. Adaptando este conceito ao quadro de transformações do regime de acumulação podemos também entender transferibilidade como a capacidade do trabalhador em adaptar o conteúdo formativo apreendido a contextos diversos, caracterizados atualmente pela instabilidade e mutação, e requerendo dele (trabalhador) uma autonomia, iniciativa, participação e cooperação.

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Percebemos que a melhor forma de se comunicar com as pessoas é interagir em sua própria língua, no caso dos surdos a LIBRAS; muitos profissionais que lidam com surdos no trabalho ainda não adquiriram esta capacitação e também não fizeram nenhum treinamento para trabalhar com deficientes.

3.2 - Surdos que se destacaram Queremos ilustrar neste subitem que apesar das dificuldades que o Surdo encontra para escolarizar-se e se inserir no mercado de trabalho, existem profissionais que venceram este desafio com determinação e perseverança.

Luciana Ruiz é a primeira surda a se formar em Psicologia no Rio de Janeiro e a terceira do País. Em 04 de agosto de 2005, ela conclui sua graduação em Psicologia. A caminhada até atingir seu objetivo foi um desafio, pois percebeu que muitas pessoas não acreditavam que ela seria capaz, isso só a fortaleceu; a vontade de superar e mostrar que seria possível sim, com o apoio de sua mãe e outros profissionais, Luciana conquistou seu espaço. Hoje está atuando na ONG como fundadora, Centro Terapêutico de Família, trabalho que realizam com os surdos e suas famílias, abordando os temas de violência doméstica, a superproteção e o ensino de LIBRAS para esses grupos, reforçando a comunicação total e o bilinguismo, ela explica " A oralização foi o trabalho que minha mãe fez comigo. Usamos o método verbotonal. Já a comunicação total usa todo e qualquer meio que pode ser usado para se comunicar; e o bilinguismo é o estudo de Libras, que, para surdos, é a língua materna, e o Português, que é a nossa segunda língua", explica.

Luciana coloca que a surdez não a impediu de realizar seu trabalho, como falado por uma professora no passado, ao contrário, ela nos fala " Um psicólogo ouvinte jamais vai saber o que é viver a surdez. Eu entendo profundamente as dificuldades dessas crianças e adolescentes, porque passei por todos esses problemas. A dependência ainda é muito grande, assim como o isolamento. Ainda tem muito surdo que vive só no próprio mundo; alguns até nem saem de casa. A maioria é superprotegida pelos pais, o que acaba provocando um atraso muito grande, até nas coisas mais cotidianas, como ir a um banco, ao comércio. E o que quero passar é que eles precisam conquistar a própria independência", acentua Luciana, " afinal, todo mundo tem uma deficiência" complementa (Ruiz, 2006).

Podemos notar que o apoio da família fez toda a diferença para Luciana, que descobriu-se capaz e não aceitou que limitassem seu desenvolvimento por conta da surdez, a autoestima é reforçada na família, o sentimento de autonomia e independência fazem parte das relação que a família irá construir com seus filhos, isso fará toda a diferença no desenvolvimento de qualquer pessoa seja ela

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deficiente ou não. A próxima pessoa surda que escolhemos também deixa bem claro a importância do suporte familiar que teve para conseguir ter êxito em sua carreira.

Brenda Costa iniciou sua carreira como modelo aos 16 anos. Sua família sempre a apoiou em tudo, dando-lhe suporte com terapeutas e fonoaudiólogos para estimular a fala, ela não aprendeu Libras, pois prefere a leitura labial como ela mesma confirma: "não sou muda. Consigo falar com as pessoas".

Brenda é conhecida internacionalmente, participou em campanhas de marcas conhecidas como a L'Oreal, Nívea Mundial entre outras, em 2014 esteve no programa Esquenta de Regina Casé, escreveu uma autobiografia intitulada a "Bela do silêncio", visando incentivar pessoas deficientes ou não a superar as dificuldades e também chamar a atenção da sociedade para o preconceito que existe contra a pessoa com deficiência.

Thaisy Payo é nascida no Paraná, foi eleita Miss Surda Brasil, tem 27 anos atualmente, é graduada em Farmácia Generalista pela Universidade Paranaense de Umuarama e Letras-Libras pela Universidade de Santa Catarina (UFSC), pretende cursar pós graduação na área de educação para surdos futuramente. Segundo Thaisy: " O concurso me dá oportunidade de conhecer novos lugares, culturas diferentes, fazer mais amizades e mostrar que nós pessoas surdas somos capazes também. Me abre novos horinzontes", respondeu ao G1, em entrevista por e-mail.

O Professor Cláudio Mourão é conhecido como Cacau Mourão, é formado em Educação Física e em Letras-Libras, também Mestre em Educação pela UFRS. Surdo de nascença, natural do Maranhão, aprendeu a se comunicar através da leitura labial, mais tarde adquiriu libras e se dedicou a pesquisas e esturdos nesta área com o objetivo de trabalhar a inclusão social. É ex-professor de teatro e dança de salão; escreveu dois livros sobre literatura Surda-Infantil: As Luvas Mágicas do Papai Noel em co-autoria com Alessandra Klein e a Fábula da Arca de Noé.

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CONCLUSÃO

Mediante a pesquisa realizada para este trabalho podemos concluir que a sociedade está cada vez mais se conscientizando que a pessoa com deficiência precisa de oportunidade para se inserir no mercado de trabalho, mas isso depende de um conjunto de ações como estímulo da família, acompanhamento multidisciplinar por parte da escola e empresas que realmente se importem com a capacitação destes profissionais, não porque precisam cumprir cotas, mas que busquem no deficiente o desenvolvimento de seu potencial, viabilizando ferramentas que lhes facilite desempenhar suas funções como qualquer profissional na empresa, que seja tratado com respeito e reconhecimento por seu desempenho.

Percebemos que os deficientes que tiveram apoio familiar tiveram mais chances de se inserir no mercado de trabalho, pois sentiram-se capazes de lidar com os desafios que lhes foram impostos, e a medida que conseguiram superá-los sentiram-se fortalecidos com os resultados conquistados. A escola também é uma chave fundamental no processo de desenvolvmento da pessoa com deficiência, pois esta irá influir na construção de relações sociais, psíquicas, emocionais e cognitivas, dando suporte na personalidade deste cidadão que irá se constituir como pessoa que contribui para a sociedade laborativa, no caso específico dos surdos, em relação ao mercado de trabalho, permanece por parte das empresas a preferência por surdos oralizados, a língua de sinais ainda é vista como não sendo necessária na comunição com os mesmos, visto que a comunidade surda é minoria, não encaram a necessidade de adequar funcionários treinados em Libras ou intérpretes para orientar o serviço a esses profissionais, conforme relatado em entrevista por um dos profissionais, que também citam a necessidade de maior acessibilidade por parte dos ouvintes, embora algumas empresas comecem a despontar na inclusão destes trabalhadores conforme citamos anteriormente. Entendemos que não é a deficiência física que impede a pessoa de trabalhar e produzir, mas a aceitação que a maioria das pessoas ainda não possui, de que a diversidade vem contribuir para mudar paradigmas que consideramos "normais", diante de desafios e obstáculos que vão surgindo ao empregar uma pessoa com deficiência, a empresa muda a visão de que todos são homogeneizados profissionalmente, passa a encarar o ser humano como único sendo necessário relacionamentos mais tolerantes e cooperativos.

Na questão da escolarização podemos notar que alguns profissionais ouvintes em escolas de inclusão se esforçam para tentar adequar os conteúdos aos alunos, porém no caso dos surdos isso ainda não é suficiente, visto que a

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língua precisa ser adquirida o mais cedo possível, porém a maioria dos surdos provém de famílias de ouvintes, que usa a oralização na maioria das vezes, e a língua será adquirida tanto na convivência com seus pares como no acesso com professores surdos e intérpretes que são minoria, para que a criança se desenvolva na fluência e domínio da Libras, e tenha identificação com seus professores, isso irá proporcionar ao surdo desenvolver-se também em L2 sua segunda língua com maior facilidade.

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ANEXOS

Anexo 1 - Entrevista com Surdos aprovados em concurso

1 - Qual sua modalidade de comunicação?

2 - Qual seu nível de escolaridade?

3 - Como foi sua relação com a família? Sua família é ouvinte?

4 - Você teve dificuldades em conseguir seu primeiro emprego?

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5 - Você já sofreu algum tipo de preconceito no trabalho? Se sim, como lidou com ele?

6 - Quais as perspectivas que você tinha quando se inseriu no mercado de trabalho?

7 - E hoje as expectativas foram realizadas? Explique.

8 - Como foi sua trajetória até chegar ao trabalho que você realiza hoje (experiências anteriores).

9 - Como você se sente trabalhando em lugares onde normalmente a maioria é ouvinte?

10 - O que você acha que poderia melhorar na realização do seu trabalho?

11 - O que você sugere que é preciso para incluir o surdo no mercado de trabalho?

12 - O que as empresas precisam fazer para acolher melhor o surdo no mercado de trabalho?