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A Contabilidade Rural como instrumento de gestão na cultura sisaleira do Estado da Bahia. Pedro Paulo Carneiro Rios RESUMO: Este estudo tem o objetivo de entender a Contabilidade Rural como instrumento de gestão, a serviço da administração rural. Apresentam-se conceito, objetivos e finalidades, buscando-se evidenciar suas especificidades, além de descrever o seu campo de ação, as empresas rurais, as propriedades rurais - a agricultura e a pecuária. Estabelece-se a problemática acerca da utilização ou não da contabilidade com fins gerencias nas empresas sisaleiras do Estado da Bahia. Como metodologia utilizou-se a pesquisa exploratória através de levantamento bibliográfico em livros, jornais e revistas especializadas, bem como através de censo junto às empresas industriais e exportadoras de fibras de sisal e manufaturados de sisal, localizadas em Conceição do Coité, principal pólo industrial do estado, neste segmento. Percebe-se que ainda é incipiente o uso da Contabilidade com fins gerenciais na região sisaleira do estado da Bahia. Palavras chaves: Contabilidade rural – agricultura – pecuária - sisaleiras 1 INTRODUÇÃO O Brasil já há algum tempo luta na Organização Mundial do Comércio - OMC contra os subsídios agrícolas que os paises ricos oferecem aos seus produtores a fim de que os seus produtos

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Page 1: A Contabilidade Rural como instrumento de gestão na cultura sisaleira do Estado da Bahia

A Contabilidade Rural como instrumento de gestão na cultura sisaleira do Estado da Bahia.

Pedro Paulo Carneiro Rios

RESUMO:

Este estudo tem o objetivo de entender a Contabilidade Rural como instrumento de gestão, a serviço da administração rural. Apresentam-se conceito, objetivos e finalidades, buscando-se evidenciar suas especificidades, além de descrever o seu campo de ação, as empresas rurais, as propriedades rurais - a agricultura e a pecuária. Estabelece-se a problemática acerca da utilização ou não da contabilidade com fins gerencias nas empresas sisaleiras do Estado da Bahia. Como metodologia utilizou-se a pesquisa exploratória através de levantamento bibliográfico em livros, jornais e revistas especializadas, bem como através de censo junto às empresas industriais e exportadoras de fibras de sisal e manufaturados de sisal, localizadas em Conceição do Coité, principal pólo industrial do estado, neste segmento. Percebe-se que ainda é incipiente o uso da Contabilidade com fins gerenciais na região sisaleira do estado da Bahia.

Palavras chaves: Contabilidade rural – agricultura – pecuária - sisaleiras

1 INTRODUÇÃO

O Brasil já há algum tempo luta na Organização Mundial do Comércio - OMC contra os subsídios agrícolas que os paises ricos oferecem aos seus produtores a fim de que os seus produtos possam “competir” com facilidade com aqueles produzidos nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, como o Brasil.

Sabe-se que esta tem se mostrado uma luta inglória, cujos resultados são praticamente inexistentes, a exemplo da última rodada de Doha onde os países desenvolvidos não aceitaram a redução de tais subsídios.

Apesar das barreiras existentes, conforme dados divulgados pela CNA referente ao ano de 2006, o Brasil é líder mundial em produção e exportação de açúcar, café, suco de laranja, álcool, tabaco, complexo soja, carne bovina, carne frango, encontrando-se na terceira posição quanto ao milho e à carne suína.

Tais produtos, dentre outros, compõem o que os investidores vêm chamando de Agronegócio, verdadeira locomotiva nacional que contribui com a maior parte do superávit comercial brasileiro.

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A pujança do agronegócio nos indica a direção que as Ciências Contábeis e em particular o Contador precisam trilhar, pois compreender em profundidade a realidade do setor rural tornou-se imperativo.

Neste aspecto, mostra-se a Contabilidade Rural tal a Contabilidade de Custos que, exceto raros casos, necessita o Contador “descer” ao chão de fábrica para compreendê-la e, só então possa transformar dados dispersos em departamentos ou unidades em informações úteis à tomada de decisão.

O presente estudo tem o objetivo de buscar compreender como se processa o uso da contabilidade aplicada ao setor rural, dando-lhe ênfase gerencial, para entender as especificidades da Contabilidade Agrícola e Agropecuária. Objetiva, ainda, determinar que informações contábeis – gerenciais são necessárias ao suporte da administração das empresas industriais ou exportadoras de fibras de sisal e manufaturados, localizadas em Conceição do Coité, também verificar o nível de satisfação desses administradores com as informações contábeis que lhes são prestadas.

Estabelece-se a problemática com a questão: os administradores das empresas industriais ou exportadoras de sisal, localizadas em Conceição do Coité, utilizam as informações contábeis com fins gerenciais?

Para a compreensão de como se processa o uso da contabilidade aplicada ao setor rural e ao entendimento das especificidades da contabilidade agrícola e agropecuária, bem como para a determinação das informações gerencias que o contador precisa gerar para o administrador rural, foi utilizada a pesquisa exploratória através de levantamento bibliográfico em livros, jornais e revistas especializadas, bem como através de buscas na rede mundial de computadores (WEB) - nos sítios eletrônicos das entidades relacionadas ao setor.

Apresenta-se uma contextualização histórica da agricultura e da pecuária em nosso país, descrevendo-se as suas características e especificidades, além das peculiaridades da contabilidade aplicada ao setor.

O estudo pode, ainda, ser classificado como uma pesquisa descritiva, haja vista descrever as características do setor rural e da Contabilidade Rural.

Realizou-se um censo, junto às empresas industriais e exportadoras de sisal, localizadas no município de Conceição do Coité – principal pólo produtor de sisal, no estado da Bahia, para se determinar as informações contábeis necessárias ao atendimento da Administração dessas empresas, além de se verificar o nível de satisfação com as informações contábeis que lhes são prestadas.

Foi utilizado como método de abordagem o método indutivo, e como método de procedimento o censo. Como técnica de coleta de dados foi utilizada a observação direta intensiva, através da utilização de um questionário aplicado junto aos diretores e sócios das empresas do ramo sisaleiro, em Conceição do Coité.

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2 O SETOR RURAL

Inicialmente faz-se um pequeno “mergulho” na realidade do setor rural, buscando compreendê-lo melhor.

O setor rural é para a contabilidade o início de tudo, vez quê, foi a partir da necessidade que o homem primitivo teve em contar, registrar e controlar seus pertences que se encontram as mais remotas formas de controle patrimonial. Marcar num pedaço de pau as quantidades possuídas parece algo obsoleto hoje, entretanto para aqueles nossos antepassados foi uma grande realização e sem dúvida, a possibilidade de acumulação de riquezas com controles e acompanhamentos.

A forma de controle usada pelos povos primitivos, mantidas as proporções, ainda pode ser encontrada nos rincões deste imenso país que, lamentavelmente, ainda mantêm boa parcela de sua população analfabeta. Ora, o que podem fazer essas pessoas para controlar seus animais e a sua produção? Talvez recorrer à memória, apenas, ou talhar a madeira para anotar tais informações!

Felizmente, essa realidade não é majoritária e pode-se encontrar proprietários rurais que mantêm suas propriedades baseadas em conhecimento, em tecnologia, inclusive organizando-as sob a forma de empresas.

As empresas rurais conforme Marion (2005, p. 24), são “aquelas empresas que exploram a capacidade produtiva do solo por meio do cultivo da terra, da criação de animais e da transformação de determinados produtos”.

Na definição de Crepaldi (1998, p. 23) a “Empresa Rural é a unidade de produção em que são exercidas atividades que dizem respeito a culturas agrícolas, criação de gado ou culturas florestais, com a finalidade de obtenção de renda”.

As atividades desempenhadas pelas empresas rurais são divididas por Marion (2005, p. 24-25) em: agrícolas, zootécnicas e agroindustriais que comportam os seguintes cultivares:

• Atividade agrícola

Culturas hortícolas e forrageira:

Cereais (feijão, soja, arroz, milho, trigo, aveia...);

Hortaliças (verduras, tomate, pimentão...);

Tubérculos (batata, mandioca, cenoura...);

Plantas oleaginosas (mamona, amendoim, menta...);

Especiarias (cravo, canela...);

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Fibras (algodão, pinho...);

Floricultura, forragens, plantas industriais...

Arboricultura:

Florestamento (eucalipto, pinho...);

Pomares (manga, laranja, maçã...);

Vinhedos, olivais, seringais etc.

• Atividade zootécnica (criação de animais)

Apicultura (criação de abelhas);

Avicultura (criação de aves);

Cunicultura (criação de coelhos);

Pecuária (criação de gado);

Piscicultura (criação de peixes);

Ranicultura (criação de rãs);

Sericicultura (criação do bicho-da-seda);

Outros pequenos animais.

• Atividade agroindustrial

Beneficiamento do produto agrícola (arroz, café, milho);

Transformação de produtos zootécnicos (mel, laticínios, casulos de seda);

Transformação de produtos agrícolas (cana-de-açúcar em álcool e aguardente; soja em óleo; uvas em vinho e vinagre; moagem de trigo e milho).

A lista anterior não é exaustiva, pois muitas outras culturas poderiam ser elencadas, tais como o sisal ao grupo das fibras e ao de beneficiamento, dentre outras.

Já Crepaldi (1998 p. 85-86) apresenta a classificação dessas atividades em agricultura, pecuária, extração e exploração vegetal e animal, além de transformação de produtos agrícolas ou pecuários. Em relação às transformações dos produtos rurais, afirma que estas não devem alterar a composição e as características do produto in natura, pois se assim ocorresse, seria puramente industrialização. Essa observação tem relação com o aspecto tributário das atividades rurais que será tratada adiante.

Faz-se, em seguida, uma breve introdução sobre a agricultura e a pecuária, tendo em vista o seu melhor entendimento.

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2.1 A AGRICULTURA

A agricultura encontra-se, desde o princípio de nossa colonização, na base de nossa economia. Os portugueses quando aqui chegaram, mesmo que almejassem a existência de minerais preciosos, como o ouro e a prata, por exemplo, perceberam logo as potencialidades de exploração da terra. Iniciam com o extrativismo do pau-brasil, introduz-se, mais tarde, a cana-de-açúcar, a criação de gado, o plantio do café etc.

Hodiernamente, vive-se o boom das commodities agrícolas – milho, soja, arroz, trigo, açúcar, dentre outras – destacando-se o etanol (álcool) que se constitui em um dos mais promissores substitutos para os combustíveis derivados de petróleo, além dos biocombustíveis derivados de plantas oleaginosas como a soja, mamona, pinhão manso, por exemplo. Esta é uma área possível de ser explorada no semi-árido, principalmente com a mamona.

O Brasil desponta como líder mundial na produção do etanol, produzido a partir da cana-de-açúcar, graças à sua ação pioneira e estratégica, há mais de trinta anos, com o Pró-álcool, projeto ambicioso que foi implantado pelo governo brasileiro, em parceria com a iniciativa privada e que o tornou líder na tecnologia, sendo esta difundida em diversas outras nações, com o objetivo de produzir o chamado combustível limpo, em substituição àqueles de origem fóssil.

A agricultura não visa apenas à produção de poucos e rentáveis produtos de larga procura no mercado mundial, antes, ela volta-se ao atendimento das mais variadas necessidades humanas. Crepaldi (1998, p. 21) afirma que a agricultura deve desempenhar os seguintes papéis no processo de desenvolvimento:

1. produzir alimentos baratos e de boa qualidade;

2. produzir matéria-prima para a indústria;

3. pela exportação, trazer dinheiro para o país;

4. dar condições dignas de vida para o trabalhador rural.

Percebe-se, então, que esta função básica, de qualquer nação, é “responsável” pelo bem estar do povo, na medida em que atende a quase todas às necessidades da população. Mas, nem tudo é tão fácil assim; nem todos os alimentos que se produz são tão baratos e tampouco, as condições do trabalhador rural são dignas, haja vista, ainda se ouvir falar em trabalho escravo – infantil, apesar de tantos esforços da comunidade internacional.

Estes problemas, relacionados com certo atraso cultural, remanescentes de uma cultura escravocrata e ditatorial, precisam ser enfrentados de todas as formas, seja pela ação dos

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governos, seja por uma maior conscientização dos proprietários rurais, pois só assim é que se pode avançar cada vez mais no mercado internacional.

Crepaldi (1998, p. 21) analisando a agricultura como um negócio, faz um alerta quanto ao fato do produtor rural dedicar-se a apenas uma atividade – especialização, pois, “dependendo sua renda de poucos ou de apenas um produto, uma queda no preço desse produto ou uma frustração de safra, leva o agricultor a sérios prejuízos”.

Pode-se verificar tal afirmação, lembrando-se da situação dos cacauicultores, do sul da Bahia, que passam por sérias dificuldades, tanto pela ação da praga vassoura-de-bruxa, como pela queda do preço da arroba do cacau, no mercado internacional, além, é claro, da entrada de outros produtores.

Vê-se, por este prisma, a possibilidade de se ofertar, ao administrador rural, as ferramentas de planejamento estratégico, dando à produção agrícola um direcionamento ao quê, quanto e como produzir, isso, é claro, junto com os diversos envolvidos (administradores, agrônomos, veterinários, zootecnistas etc.), pois, o setor rural está apto à aplicabilidade da interdisciplinaridade, tão falada nas academias.

O sisal apresenta-se pouco flexível à diversificação, pois sendo uma cultura permanente não se pode fazer a sua rotação. Já o consórcio com outras culturas é possível, principalmente durante a sua formação. Estudo realizado pela Embrapa Algodão mostra ser possível o consórcio com milho, feijão, palma, campim-buffel, para que o produtor obtenha renda durante o período de formação, entretanto, ainda não é difundido o bastante para que venha a tornar-se uma prática.

O produtor de sisal, além de não poder diversificar facilmente suas atividades, tem aproveitado pouco do potencial da planta, pois, de acordo com Silva (1999, p. 14), apenas de 3% a 4% do total colhido da planta é aproveitado, devido a pouca utilização tecnológica, e acrescenta:

A grande maioria das lavouras de sisal é conduzida com baixa aplicação tecnológica, situação que poderia ser alterada com medidas de incentivo aos produtores, como preços melhores para produtos de qualidade superior, financiamento bancários para a recuperação das lavouras e implementação do consórcio com pecuária e culturas alimentares em bases técnicas.

Em relação ao consórcio com a pecuária, tem sido prática usual na região. Fato este que contribui para a melhoria do rendimento das propriedades. Porém, verifica-se, ainda, que não se obteve uma utilização mais racional da mucilagem gerada pelo processo de desfibramento.

Tem sido buscada a utilização do resíduo, decorrente do desfibramento das fibras de sisal, para a alimentação animal nos períodos de secas, através da silagem da mucilagem (subproduto). Tal prática, ainda incipiente entre os agropecuaristas da região sisaleira, não é

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feita a contento, pois, poucos criadores se predispõem a fazê-lo. Observa-se que a maioria dos criadores, permite o consumo deste material, pelos animais (gado), antes do tempo de escassez (secas), haja vista que estes pastam nos campos de sisal, concomitantemente à colheita.

Ao permitir que os animais alimentem-se diretamente nas pilhas de resíduo de sisal, provoca-se o desperdício de grande parcela desta potencial via energética, que melhor seria aproveitada com a sua silagem, pois os animais seriam alimentados com as quantidades necessárias à sua manutenção diária e se faria uma reserva estratégica de alimentos para o período das secas.

Esta questão precisa ser melhor estudada, de forma que fique demonstrado – a termo de custos e viabilidade econômica a sua adoção pelos produtores de sisal. Contudo, já há iniciativas neste sentido, haja vista a relevância do produto para a região.

A importância do sisal para as regiões secas, do nordeste brasileiro, é demonstrada por (SILVA p. 16), conforme a seguir:

A importância do sisal para a agricultura nordestina pode ser analisada por diversos aspectos, merecendo destaque a sua exploração em terras secas e solos pobres da região semi-árida, atividade econômica que representa uma fonte de renda e emprego para um contingente de aproximadamente um milhão de pessoas, além de propiciar importante fonte de divisas para os Estados da Bahia e da Paraíba (Moreira et al).

Este contingente de pessoas que há muito vive do cultivo do sisal e do consórcio deste com a criação de animais – gado bovino – caprinos e ovinos, principalmente, são cônscios da importância da cultura do agave, mas não tem se aproveitado completamente das potencialidades da cultura, seja por falta de conhecimento de novas técnicas de cultura consorciada ou por não ter adquirido a consciência de sua exploração de forma mais racional.

Necessário, então, que se busquem novas utilizações para a planta, tal como a produção de tequila, cuja técnica os mexicanos dominam, mas inexplorada em nosso país ou o seu melhor aproveitamento forrageiro.

Note-se que, a partir da diversificação das atividades agrícolas, a mensuração dos custos e a rentabilidade de cada atividade precisam ser evidenciadas. A contabilização das atividades desempenhas no setor rural geraria dados históricos sobre a produção - produtividade média de cada área explorada e permitiria a sua comparação com aquela verificada no ano em curso, dando, ao Administrador Rural, condições de fazer predições para os anos futuros, além de permitir a correção de eventuais desvios.

Passa-se agora a focar a pecuária, outra atividade bastante desenvolvida na região sisaleira e que contribui para o desenvolvimento regional.

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2.2 A PECUÁRIA

A pecuária, tal como a agricultura, sempre esteve entre as principais atividades do setor rural brasileiro e foi através dela que se avançou cada vez mais rumo ao interior. Precisa-se, porém, desmistificar o termo pecuária, pois este não se aplica apenas à criação de gado bovino. Neste propósito, Crepaldi (1998, p. 197) afirma que o termo pecuária aplica-se também a outros criatórios:

Quando se refere às atividades da pecuária, logo se faz associação com gado vacum (bois e vacas); entretanto, elas se referem à criação de gado em geral, ou seja, animais que vivem em coletividade (rebanho), quer sejam bois e vacas, búfalos, carneiros, ovelhas e, entre outros, as aves que incluem frango, pato marreco, faisão, peru etc.

A compreensão do termo pecuária, no seu sentido amplo, é muito importante, evitando-se, assim, estranhamento quando este referir-se aos demais criatórios que a compõem.

É necessário frisar que, por sua relevância, a pecuária, em sentido restrito (criação de bois e vacas) é preponderante na literatura existente. Entretanto, há necessidade de maiores estudos, na área contábil, em relação às demais culturas da pecuária, principalmente: frango e suíno, culturas que o Brasil ocupa a primeira e a terceira posição, respectivamente, como exportador (carnes) – Dados da CNA relativos ao ano de 2006.

Marion (2005, p. 106) afirma que existem três tipos de atividades na pecuária bovina, vejamos:

1. Cria: a atividade básica é a produção de bezerros que só serão vendidos após o desmame. Normalmente, a matriz (de boa fertilidade) produz um bezerro por ano.

2. Recria: a atividade básica é, a partir do bezerro adquirido, a produção e a venda do novilho magro para a engorda.

3. Engorda: a atividade básica é, a partir do novilho magro adquirido, a produção e a venda do novilho gordo.

A pecuária pode, também, dedicar-se à produção de leite (vacas – cabras), dessa forma, uma variante da função cria, só que, com foco na produção leiteira. Valorizando-se mais as crias fêmeas, tendo em vista a atividade fim, produção leiteira.

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CREPALDI (1998) diz que no Brasil o rebanho bovino é explorado com finalidade de produzir leite ou com destino ao corte. Afirma, ainda, que a produção de leite vem em primeiro lugar e que “machos leiteiros” ou bezerros, por não receber nenhum tratamento especial, têm o seu desenvolvimento atrasado, levando de quatro a cinco anos para produzir um animal para abate com 15 a 16 arrobas. Tal realidade vem aos pouco sendo modificada, pois, já há o uso de tecnologia genética e que implicou em melhoramento do rebanho nacional.

Demonstrar tal realidade em termos contábeis passa a ser um objetivo a ser perseguido pelos profissionais dedicados à Contabilidade Rural (agropecuária), que, pelos poucos estudos existentes, precisam desvelar tal realidade e para isso deve valer-se dos instrumentos emanados dessa Ciência para a consecução deste objetivo.

Passa-se, então, a tratar da contabilidade rural, instrumento gerencial à disposição dos administradores rurais.

3 CONTABILIDADE

Seguiu-se, até aqui, um encaminhamento descritivo ao presente estudo que possibilitasse fácil entendimento dos termos envolvidos. Tratou-se do setor rural, da agricultura e da pecuária, campo em que se encontra inserida a Contabilidade Rural. Passa-se, agora, a tratar especificamente da Contabilidade.

A contabilidade pode ser definida como um sistema de informação e avaliação a serviço dos seus usuários; como a arte de registrar as transações das empresas que possam ser expressas em termos monetários ou como a ciência que estuda, controla e interpreta os fatos econômicos – financeiros ocorridos numa entidade contábil.

Importa saber que a Contabilidade, já há muito tempo, deixou de ser apenas uma “registradora” de débitos e créditos para ao final de um ano, levantar um balanço patrimonial. Hoje, ela deve estar a serviço dos administradores, como um suporte capaz de levar a entidade rumo ao sucesso. Deve não só produzir relatórios, mas fazê-los em linguagem acessível aos seus mais diversos usuários.

A seguir apresentam-se conceito, finalidade e objetivos da Contabilidade Rural.

3.1 CONTABILIDADE RURAL

A contabilidade, como muitos outros campos do saber, costuma atribuir adjetivos a seus ramos de especialização, dessa forma, tem-se a contabilidade de custos, a contabilidade pública etc. São designações que levam em conta o ramo de atividade, não sendo diferente com a contabilidade rural.

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Crepaldi (1998, p. 76) afirma que a Contabilidade Rural é um instrumento da função administrativa que tem como finalidade: controlar o patrimônio das entidades rurais e apurar-lhe o resultado; prestar informações sobre o patrimônio e sobre o resultado das entidades rurais aos diversos usuários. Conclui que a “Contabilidade é um método universal utilizado para registrar todas as transações de uma empresa rural, que possam ser expressas em termos monetários”.

Marion (2002, p. 25), por sua vez, afirma que a Contabilidade pode ser analisada de modo geral ou particular e que, “quando aplicada a um ramo específico, normalmente é denominada de acordo com a atividade daquele ramo”. Dessa forma, a Contabilidade Rural é assim denominada por debruçar-se sobre o patrimônio das entidades rurais.

Percebe-se, a partir da leitura dos conceitos mencionados, que a Contabilidade Rural utiliza-se de todas às suas técnicas e métodos para registrar, controlar e analisar os fenômenos ocorridos no patrimônio das entidades rurais, visando subsidiar as decisões a cargo da Administração Rural (proprietários, investidores), além de atender aos usuários externos (governos, investidores, órgãos de controle etc.).

3.2 OBJETO DA CONTABILIDADE RURAL

O objeto da Contabilidade Rural, como não poderia ser diferente, é o patrimônio das entidades rurais. É verdade que nem todas às entidades deste setor realizam registros de suas transações, contudo, nem por isso, essa passa a ser menos importante, pois, conforme Crepaldi (1998, p. 78):

A Contabilidade Rural surgiu da necessidade de controlar o patrimônio. É fato que existem pessoas, entidades e empresas que realizam muitas transações, decorrendo, daí, maior complexidade de controle. Seria impossível controlar um patrimônio, que é o conjunto de bens, direitos e obrigações, sem que houvesse registros organizados de todas as mutações ocorridas.

Em muitos casos, especialmente para as pessoas físicas, é perfeitamente dispensável a escrituração, pois o controle deste pequeno patrimônio não necessita de uma Contabilidade sistematizada para exercê-lo.

O autor ilustra bem os dois extremos: de um lado aqueles casos onde é inevitável a utilização de controles sobre o patrimônio – determinado pelo volume e complexidade das transações e do outro aqueles que, pela raridade e simplicidade de ocorrências, não se recomendaria tais registros.

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Esta afirmação pode ser plenamente justificada por um limitador – o custo da informação – porque o valor gasto para gerar qualquer informação, não deve ser superior aos resultados práticos gerados a partir dela.

Não se está, com isso, afirmando que tais entidades - de pequeno movimento econômico, não devam manter registros e acompanhamentos das ocorrências patrimoniais. Antes, recomenda-se. Embora esses registros e controles possam e devam ser realizados pelos próprios interessados (proprietários) ou por Contador, que nesse caso, utilizar-se-á de forma simplificada de escrituração.

3.3 OBJETIVOS DA CONTABILIDADE RURAL

Crepaldi (1998, p. 76) apresenta uma lista extensa de objetivos ou finalidades específicas da Contabilidade Rural, conforme segue:

• Orientar as operações agrícolas e pecuárias;

• Medir o desempenho econômico-financeiro da empresa e de cada atividade produtiva individualmente;

• Controlar as transações financeiras;

• Apoiar as tomadas de decisões no planejamento da produção, das vendas e dos investimentos;

• Auxiliar as projeções de fluxos de caixa e necessidades de crédito;

• Permitir a comparação da performance da empresa no tempo e desta com outras empresas;

• Conduzir as despesas pessoais do proprietário e de sua família;

• Justificar a liquidez e a capacidade de pagamento da empresa junto aos agentes financeiros e outros credores;

• Servir de base para seguros, arrendamentos e outros contratos;

• Gerar informações para a declaração do Imposto de Renda.

Observa-se que são muitas as finalidades a que se presta a Contabilidade Rural. São objetivos claros e bem definidos colocados à disposição do Administrador Rural, com vistas ao fortalecimento do seu negócio e do setor agrícola e pecuário.

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Neste momento inusitado em que a economia mundial se encontra, com queda de confiança no sistema financeiro mundial – interrompendo, mesmo que momentaneamente, uma trajetória de crescimento das atividades, inclusive agrícolas. Ter uma base de dados confiável tornou-se indispensável e a contabilidade do setor rural pode ser utilizada, tanto pelos grandes empreendimentos agropecuários, como pelos de menor porte com este objetivo.

O Brasil tem se mostrado como um dos países que dispõe das melhores condições de se sobressair desta situação de crise numa boa situação. Contribui para isso, além de outros fatores, a sua enorme capacidade de produção e a força do seu mercado interno. Podendo-se creditar ao setor rural grande parcela de contribuição.

A Contabilidade Rural pode ser utilizada com fins gerenciais, como por exemplo, através do custeamento baseado em atividades , de forma que se possa medir o desempenho de cada cultura, tanto em relação a períodos passados, como em relação a outras culturas desenvolvidas por esta mesma entidade.

3.4 IMPORTÂNCIA DA CONTABILIDADE RURAL

Toda entidade bem assessorada, apresenta melhor desempenho. Numa entidade rural, tal premissa também é verdadeira. Se os proprietários rurais utilizassem mais as ferramentas da Contabilidade Rural, poderiam alcançar melhores resultados.

Entretanto, conforme Crepaldi (1998, p. 73) os produtores brasileiros utilizam-na pouco, isto porque, a vêem como uma técnica de difícil execução e que pouco retorno trás. De acordo com o autor, tal fato é verificado, dentre outros motivos, pela:

• adaptação de sistemas estrangeiros e de Contabilidade Comercial e Industrial, inadequados para retratar as características da agropecuária brasileira;

• a falta de profissionais capacitados na transmissão de tecnologias administrativas aos fazendeiros;

• a não inclusão da Contabilidade Rural como instrumento de políticas governamentais agrícolas ou fiscais.

Esta visão reducionista da contabilidade a algo caro e complicado, deve ser encarada como um desafio para os profissionais da contabilidade. Seu objetivo deverá ser: demonstrar que a Contabilidade, quando aplicada ao setor rural, também, pode contribuir com a agregação de valor nas atividades agrícolas e pecuárias.

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4 ESPECIFICIDADES DA CONTABILIDADE RURAL

A existência de especificidades em contabilidade é bastante comum, a própria contabilidade rural é uma delas, pois a depender da atividade de cada entidade – comércio, indústria, agropecuária, banco, construtora, órgão público etc. tem-se nuanças que se caracterizam como algo específico. Apresentam-se, em seguida, de forma objetiva, algumas das especificidades da Contabilidade Rural.

4.1 ANO AGRÍCOLA X EXERCÍCIO SOCIAL

Ao contrário da maioria das entidades do setor comercial, industrial e público, por exemplo, que têm o exercício social encerrado a 31 de dezembro, verifica-se no setor rural, o encerramento do exercício social logo após a colheita ou a comercialização dos produtos.

O ano agrícola é definido por Marion (2002, p. 27) como segue:

Ao término da colheita e, quase sempre, da comercialização dessa colheita, temos o encerramento do ano agrícola. Ano agrícola é o período em que se planta, colhe e, normalmente, comercializa a safra. Algumas empresas, em vez de comercializarem o produto, desde que possível, armazenam a safra para obter melhor preço. Neste caso considera-se ano agrícola o término da colheita.

Conforme o autor, verificando-se o fim do ano agrícola, pode-se encerrar o exercício social e proceder à apuração do resultado porque, dessa forma, mostra-se adequadamente a avaliação do desempenho da safra agrícola.

Já na hipótese de haver mais de um produto agrícola e que implique em períodos diferentes de colheita, deve-se encerrar o exercício, tomando-se por base o final da colheita daquela cultura que prevaleça economicamente sobre as demais.

Com relação à pecuária bovina, pode-se determinar o fim do exercício social, logo após o nascimento dos bezerros ou da comercialização do gado. Para que tal procedimento seja factível, torna-se necessário o planejamento da época de monta e de comercialização.

Note-se que em relação ao Imposto de Renda, o exercício social coincide com o ano civil que vai de primeiro de janeiro a trinta e um de dezembro.

4.2 FORMA JURÍDICA DE EXPLORAÇÃO NA AGROPECUÁRIA

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Conforme MARION (2005) A forma jurídica de exploração da atividade rural, no Brasil, concentra-se preponderantemente na pessoa física, haja vista ser essa menos onerosa para o produtor, pois traz vantagens de natureza fiscal, principalmente em relação aos pequenos produtores que não precisam fazer escrituração regular.

Quanto às pessoas jurídicas que exploram a atividade rural, elas tanto podem ser comerciais, como civis. Para MARION (2005), uma agropecuária é vista como uma sociedade civil, visto que esta se coloca na posição de fornecedora de produtos agrícolas e pecuários. Porem, se a agropecuária for constituída sob a forma de Sociedade Anônima, esta terá que ser, por força de lei (lei 6.404/76) comercial, mesmo que o seu fim seja de natureza civil.

4.3 CULTURA PERMANENTE X CULTURA TEMPORÁRIA

Para o escopo do presente estudo, necessário o esclarecimento dos termos cultura temporária e cultura permanente.

CREPALDI (1998) afirma que culturas permanentes são aquelas não sujeitas a replantio após cada colheita, enquanto as culturas temporárias são aquelas que têm que ser replantadas após cada colheita – neste caso os custos, com a formação da cultura, serão considerados despesas de custeio, no próprio período de realização. Já em relação às culturas permanentes, os custos de formação serão lançados no ativo permanente e serão depreciadas pelo tempo de vida útil.

4.4 IMPOSTO DE RENDA E A ATIVIDADE RURAL

Tem sido resposta comum de proprietários rurais, à falta de contabilização das suas atividades, o fato de não ser exigido pela Legislação do Imposto de Renda, aos contribuintes pessoas físicas, a grande maioria.

De acordo com o artigo 3º da Lei 8.023, de 12 de abril de 1990, a apuração do resultado da atividade rural será obtida por uma das seguintes formas: I - simplificada, mediante prova documental, quando a receita bruta for de até setenta mil BTNs ; II - escritural, mediante escrituração rudimentar; quando a receita bruta for até setecentos mil BTNs e III - contábil, mediante escrituração regular em livros devidamente registrados, quando a receita bruta for acima de setecentos mil BTNs. A referência em quantidade de BTNs não foi revogada do corpo da referida lei, mesmo tendo sido extinto tal índice.

A partir do ano de 1996, a legislação do Imposto de Renda passou a exigir dos contribuintes pessoas físicas, para a apuração do resultado da atividade rural, apenas a escrituração do Livro Caixa, conforme o artigo 18 da Lei 9.250, de 26/12/1995, abaixo transcrito:

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Art. 18. O resultado da exploração da atividade rural apurado pelas pessoas físicas, a partir do ano-calendário de 1996, será apurado mediante escrituração do Livro Caixa, que deverá abranger as receitas, as despesas de custeio, os investimentos e demais valores que integram a atividade.

No parágrafo primeiro do artigo 18 da lei supra, determina-se a comprovação das receitas e despesas que constem do Livro Caixa, fazendo-se isso, por meio de documentos idôneos onde se encontre a identificação do adquirente ou do beneficiário, o valor e a data da operação. Tais documentos devem ser mantidos em poder do contribuinte, à disposição da fiscalização, enquanto não ocorrer à decadência ou prescrição . Já no parágrafo segundo, do mesmo dispositivo, impõe-se à falta de escrituração do livro caixa, o arbitramento da base de cálculo em vinte por cento da receita bruta do ano calendário.

Esta tem sido a opção da maioria dos produtores rurais pessoas físicas, vez que, à primeira vista, mostra-se mais vantajoso. Adiante, ao tratar dos aspectos gerenciais da contabilidade rural, volta-se a esta temática, demonstrando-se a necessidade do produtor rural analisar melhor a questão.

A pessoa jurídica que explorar a atividade rural está obrigada a manter em ordem a escrituração de suas entidades. Sendo esta taxada, pelo Imposto de Renda, com a alíquota de 15% (quinze por cento) sobre o lucro real, além de estar obrigada ao pagamento do adicional de 10% (dez por cento) sobre a parcela que ultrapassar ao valor de R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil Reais) de lucro anual.

Tais empresas, entretanto, alternativamente, podem optar por outras formas de tributação, como Microempresa - ME e Empresa de Pequeno Porte - EPP, conforme dispõe o artigo 3º, da Lei Complementar número 123 , de 14/12/2006, neste caso, o enquadramento como ME se dará para aquelas pessoas jurídicas, prevista na lei, que aufira no ano-calendário, receita bruta de até R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais) e como EPP quando a receita bruta no ano-calendário for superior a R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 2.400.000,00 (dois milhões e quatrocentos mil Reais).

Dentro da perspectiva do presente estudo, que dentre outras coisas, visa trazer ao produtor rural subsídios à sua tomada de decisão, passa-se a focar os aspectos gerenciais da contabilidade que, se aplicado à cultura sisaleira, poderá contribuir com agregação de valor para as empresas sisaleiras.

5 CONTABILIDADE RURAL COM FINS GERENCIAIS

Analisa-se, agora, a Contabilidade como ferramenta gerencial aplicada às atividades agropecuárias.

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A contabilidade sempre teve certo aspecto gerencial, assim, ao simplesmente registrar alguma coisa, o valor gasto para plantar um hectare de dada cultura, por exemplo, faz-se para dele ter alguma utilidade posteriormente, seja para apenas lembrar o quanto foi gasto ou com intuito pré-determinado de proceder-se a uma análise mais acurada do investimento feito, buscando-se aferir se o investimento realizado trouxe algum retorno.

Há, então, uma razão para que o “homem”, mantenha registros dos seus pertences, ou seja, uma necessidade de conhecê-los e controlá-los, inventariá-los. Foi essa necessidade de controlar e gerenciar as coisas que se possui que fez surgir, gradativamente, mecanismos de registros que se iniciou com talhos em pedaços de paus, no passado remoto, até se chegar aos dias atuais aos sofisticados sistemas contábeis e gerenciais.

O registro, seja por que meio for, é uma necessidade inexorável de todos, e com o produtor rural não é diferente. Não importa o seu porte, ele precisa conhecer aquilo que possui para, assim, conseguir melhor proveito deles.

Imagine-se um pequeno produtor que disponha de dez vacas e que o seu foco seja a produção leiteira. Sabe-se que nem todas as vacas produzem a mesma quantidade de leite, então, meramente saber que vacas dão leite não é suficiente. Torna-se necessário estabelecer a capacidade de produção de cada vaca e a partir deste dado, determinar quais delas devem ser mantidas no plantel. Essa é uma visão crítica da atividade desempenhada, visando-se a melhoria contínua.

Não se produz atualmente apenas para o mercado interno. A exportação é o foco principal na maioria das atividades, pois a globalização trouxe novas exigências, tais como, não utilização de mão-de-obra escrava ou infantil; não degradação do meio ambiente, dentre tantas outras, são as chamadas barreiras não tarifárias.

Tais barreiras não são apenas caprichos, como muitos podem imaginar, em muitos casos trata-se de proteger a vida humana, a saúde do planeta e de todos. É preciso que haja conhecimento dessas coisas, para serem tomadas medidas capazes de, ao menos, reduzir os seus efeitos.

Dentro dessa perspectiva, como já mencionado, pode-se estabelecer um planejamento das atividades agropecuárias com vistas a determinar o quê produzir, em que quantidade e de que forma. É claro que no setor rural, um planejamento deve envolver mais de uma área do conhecimento.

O escopo deste estudo não pretende fazer revelações surpreendentes ou grandes descobertas, todavia chamar a atenção para as coisas simples e objetivas. Deve-se fugir da aceitação de verdades não questionadas ou não testadas em casos práticos.

Veja-se, por exemplo, o fato de o Produtor Rural, pessoa física, optar pelo arbitramento da base de cálculo, para fins de pagamento do Imposto de Renda, em vinte por cento da receita bruta. Essa opção tem se mostrado como aquela que apresenta as maiores facilidades, mas deve ser confrontada com outros elementos para determinar se, realmente, é a melhor opção.

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No caso específico da cultura sisaleira onde se verifica a partilha da produção, à razão de sessenta por cento para o arrendatário (desfibrador) e o restante ficando com o proprietário rural (arrendador) já levaria à necessidade de planejamento da produção. Esta é a realidade, entretanto não há a formalização desses contratos, advindo deste fato a possibilidade de surgimento de problemas trabalhista, por exemplo, além de ser a receita auferida totalmente atribuída ao proprietário rural.

Imagine um produtor rural que faça corretamente os contratos de parceria à razão de sessenta / quarenta, por cento, e que tenha tido uma receita bruta com a produção de fibras de sisal no valor de R$ 1.000.000,00, quanto deveria pagar de Imposto de Renda, sabendo que, se optar pelo arbitramento (20% sobre R$ 1.000.000,00) e não formalizar a parceria, a base de cálculo será igual a R$ 200.000,00.

Como o proprietário rural fica com quarenta por cento da receita bruta, a sua receita passa a ser de R$ 400.000,00, aplicando-se sobre ela, os mesmos vinte por cento (arbitramento), tem-se uma base de cálculo, para pagamento do IR, no valor de R$ 80.000,00 (R$ 1.000.000,00 x 40% = R$ 400.000,00 x 20% = R$ 80.000,00), imaginando-se que, sobre essas base de cálculo, fosse aplicada uma alíquota de dez por cento, por exemplo, o produtor pagaria R$ 8.000,00 de Imposto de Renda, ao invés de R$ 20.000,00.

Pode-se indagar se o arrendatário, no caso o desfibrador, concordaria com tal situação? Há, em relação ao exemplo dado, um dado que teria que ser levado em consideração, pois para se chegar ao valor de R$ 1.000.000,00, seriam necessários vários arrendatários (desfibradores), com os quais seria rateada tal receita, levando-se à aplicação de menores alíquotas do referido imposto, haja vista as diversas faixas de incidência.

Pode-se, ainda, abater da receita da atividade rural os gastos e os investimentos para a manutenção das atividades, exceto o valor da terra nua. Assim, se o produtor está investindo na propriedade, adquirindo máquinas, efetuando a preparação do solo, fazendo plantio etc., pode-se, a partir da contabilização desses gastos, evidenciar a melhor forma de tratamento, evitando-se desperdício de recursos.

Apresentam-se, em seguida, os resultados da pesquisa de campo realizada.

6 CENSO JUNTO AOS PRODUTORES DE SISAL

Realizou-se um censo junto às empresas indústrias ou exportadoras de fibras de sisal e manufaturados de Conceição do Coité, para se conhecer as necessidades de informações contábeis dessas entidades, além de se verificar o nível de satisfação com as informações contábeis que lhes são prestadas. Buscou-se, ainda, conhecer o tratamento dado às atividades agropecuárias desenvolvidas pelos sócios dessas empresas.

Para a restrição da pesquisa a apenas um Município, levou-se em conta a sua representatividade para a comercialização do sisal no Estado da Bahia, pois se concentra em

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Conceição do Coité, a maioria dos empreendimentos deste segmento, além de estar localizado na própria região sisaleira do estado.

Foram encontradas dez empresas, neste município, com o escopo estabelecido (industrial ou exportadora) sendo três pertencentes a um mesmo grupo e mais duas pertencentes a outro grupo, dessa forma o universo pesquisado é de sete entidades que se apresentam assim distribuídos:

Fonte: censo realizado pelo autor.

Percebe-se, no gráfico, que há predominância de empresas beneficiadoras, com três empresas, que representam 43%. Estas empresas são conhecidas como “batedeiras” e são responsáveis pelo beneficiamento das fibras, processo que retira impurezas das fibras de sisal, além de classificá-las nos diversos tipos (sisal extra-longo, sisal longo, sisal curto, sisal refugo etc.), que, então, são vendidos tanto para as indústrias como para as exportadoras. Em seguida vêm as indústrias com duas unidades, representando 29% das empresas pesquisadas. Elas, na realidade, podem ser consideradas como mistas, pois, além de serem industriais, são também exportadoras, sendo, inclusive, beneficiadoras, já que também fazem o processo de batimento das fibras. Finalmente, temos uma empresa exportadora e outra comercial.

A produção dessas empresas encontra-se distribuída da seguinte forma: 43% apenas para o mercado interno; 43% mista, mercado interno e exportação e 14% exclusivamente exportação, sendo preponderante a venda de fibras de sisal, com 57% do volume, vindo em seguida a produção de fios e cordas de sisal com 29%.

Verificou-se que as empresas não têm produção própria de fibras de sisal, isto é, elas não desempenham a atividade agrícola na pessoa jurídica, tão somente os seus sócios. Verifica-se, assim, uma opção pelas facilidades dispensadas à pessoa física, quanto ao Imposto de Renda, mas que requer maiores estudos.

Além da produção de fibras de sisal, a partir do agave (sisal), outra atividade agropecuária desempenhada é a criação de gado bovino para corte, com 92%, e a produção leiteira com apenas 8%.

Dos sócios dessas empresas que são produtores rurais, 67% afirmaram que não fazem a escrituração contábil dessas atividades, contra 33% que afirmam fazê-lo. Daqueles que não escrituram as atividades agropecuárias, na pessoa física, 75% alegam o fato de não ser exigido pelo(s) governo(s) e os 25% restantes que não é necessário, visto ser possível controlar as atividades sozinho.

Em relação à exigência de escrituração do livro caixa, por parte da Receita Federal do Brasil, foi informado por 100% dos entrevistados que ele é feito por meio de contador, à época da Declaração do Imposto de Renda e que a apuração do resultado da atividade rural é feita de forma simplificada, mediante prova documental.

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Foi solicitado aos participantes que enumerassem de um a dez os objetivos ou finalidades da contabilidade rural, conforme lista constante de CREPALDI (1998), de acordo com a preferência ou a visão de cada empresa. As notas ou posições dadas a cada objetivo ou finalidade foram somadas e relacionadas em ordem crescente, elaborando-se o quadro abaixo que representa a ordem em que forma citadas:

Quadro dos objetivos da Contabilidade Rural na visão das empresas sisaleiras:

Posição Objetivos

1 Medir o desempenho econômico-financeiro da empresa e de cada atividade produtiva individualmente;

2 Auxiliar as projeções de fluxos de caixa e necessidades de crédito;

3 Justificar a liquidez e a capacidade de pagamento da empresa junto aos agentes financeiros e outros credores;

4 Orientar as operações agrícolas e pecuárias;

5 Gerar informações para a declaração do Imposto de Renda;

6 Controlar as transações financeiras;

7 Apoiar as tomadas de decisões no planejamento da produção, das vendas e dos investimentos;

8 Permitir a comparação da performance da empresa no tempo e desta com outras empresas;

9 Conduzir as despesas pessoais do proprietário e de sua família;

10 Servir de base para seguros, arrendamentos e outros contratos.

Fonte: censo realizado pelo autor.

Observa-se a preocupação com o desempenho, com a projeção dos fluxos de caixa, com a análise da liquidez e orientação da atividade agrícola e agropecuária, aspectos tipicamente gerenciais.

Quanto às informações contábeis – gerenciais essenciais para essas empresas são mencionados o balancete mensal que aparece em primeiro lugar, com 48% das indicações, seguido pelo balanço patrimonial com 19%, a análise de desempenho com 17%, o orçamento com 12% e finalmente o fluxo de caixa com 5%. Verifica-se a predominância dos instrumentos tradicionais básicos, como o balancete mensal e o balanço patrimonial, mas é importante notar a preocupação com os demais demonstrativos citados que evidenciam preocupações gerenciais.

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No tocante à elaboração dos demonstrativos contábeis verificou-se que 57% das empresas utilizam-se de prestadores de serviços externos ou escritórios de contabilidade, enquanto 43% afirmam utilizarem-se dos serviços de contador próprio. A existência de profissional contábil na própria empresa é primordial para aquelas firmas que pretendem utilizar-se da contabilidade com fins gerenciais.

Questionados quanto à satisfação com os serviços contábeis que lhes são prestados, 71% das empresas entrevistadas se disseram satisfeitas, enquanto 29% estão muito satisfeitas. Demonstra-se assim, cem por cento de satisfação com os Contadores da região.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Setor Rural atravessa uma fase extraordinária, nunca vista antes. Existem perspectivas de maiores e melhores negócios que indicam uma participação cada vez mais ativa no comércio mundial, onde a liderança nas exportações em diversos produtos: açúcar, café, suco de laranja, álcool, tabaco, complexo soja, carne bovina, carne frango, bem como o etanol, necessariamente nos levará a buscar compreender melhor este setor, bem como a refletir sobre o papel do contador neste contexto.

Não há dúvidas quanto à importância deste mercado para o ramo contábil. São inúmeras propriedades rurais que não se utilizam da contabilidade para registrar e analisar o seu patrimônio e que, ainda, não descobriram o que esta Ciência pode fazer por seu negócio.

Viu-se que a contabilidade no setor rural pode, além de outras coisas, orientar as operações; medir o desempenho e apoiar no planejamento das atividades, buscando conjuntamente com outros profissionais, decidir o quê, o quanto e como produzir. A Contabilidade Rural, assim, pode apoiar os administradores rurais no processo de tomada de decisão, subsidiando-os com informações precisas e tempestivas, de forma que estes possam tomar as melhores decisões.

Ao se pensar em novas formas de exploração para o semi-árido brasileiro, onde a diversificação das atividades e o melhor aproveitamento dos recursos disponíveis é a tônica, também a região sisaleira precisará inserir-se neste contexto. Fato que depende de melhor conscientização do produtor que deve deixar de agir isoladamente e começar a se associar, a formar parceria, com vista a um melhor desempenho das atividades.

A mudança de paradigma pode se iniciar a partir da geração e compartilhamento de conhecimento que viabilize o surgimento de uma economia mais forte para a região, isso com o apoio de organismos governamentais, como a Embrapa, a Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrário, sindicatos, cooperativas etc.

Neste contexto de busca de soluções, a Ciência Contábil, que tem como objeto de estudo o patrimônio das entidades contábeis, pode inserir-se para, com seus registros e análises, demonstrar a viabilidade econômico-financeira de projetos agropecuários, além de poder

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evidenciar a necessidade de associação de capital (vários produtores) para a conquista de mercados inalcançáveis isoladamente.

8 REFERÊNCIAS:

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Referências: NBR 6023. Rio de Janeiro: ABNT, 2002.

CREPALDI, Sílvio Aparecido. Contabilidade Rural: uma abordagem decisorial. 2. ed. Revista, atualizada – São Paulo: Atlas, 1998.

GIL, Antonio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 3. ed. – São Paulo: Atlas, 1991.

GOVERNO FEDERAL, Lei Complementar número 123, de 14 de dezembro de 2006. Institui O Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, além de outras alterações (alterada pelas Leis Complementares número 127, de 14 de agosto de 2007 e 128, de 19 de dezembro de 2008). Disponível em:

http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/LeisComplementares/2008/leicp128.htm

Acessado em 07/02/2009.

GOVERNO FEDERAL, Lei número 8.023, de 12 de abril de 1990. Altera a Legislação do Imposto de Renda sobre o resultado da atividade rural, e dá outras providências. Disponível em:

http://www.receita.fazenda.gov.br/prepararImpressao/ImprimePagina.asp Acessado em 07/02/2009.

GOVERNO FEDERAL, Lei número 9.250, de 26 de dezembro de 1995. Altera a legislação do imposto de renda das pessoas jurídicas, bem como da contribuição social sobre o lucro líquido, e dá outras providências. Disponível em:

http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/Leis/Ant2001/925095.htm Acessado em 07/02/2009.

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MARION, José Carlos. Contabilidade Rural: contabilidade agrícola, contabilidade da pecuária, imposto de renda pessoa jurídica. 8. ed. – São Paulo: Atlas, 2005.

MARTINS, Eliseu. Contabilidade de Custos. 6. ed. – São Paulo: Atlas, 1998.

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO (BRASIL). Balanço Comercial do Agronégocio – 2006 / 2007. Disponível em: Acessado em 16/07/2008.

MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR (BRASIL). Panorama do Comércio Exterior Brasileiro. Disponível em: Acessado em: 16/07/2008.

SABBAG, Eduardo de Moraes. Direito Tributário. 8. Ed. - São Paulo: Premier Máxima, 2005.

SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL. Instrução Normativa SRF número 83, de 11 de outubro de 2001. Dispõe sobre a tributação dos resultados da atividade rural das pessoas físicas. Disponível em:

http://www.receita.fazenda.gov.br/prepararImpressao/ImprimePagina.asp Acessado em 02/03/2009.

SILVA, Odilon Ribeiro Ferreira da. O agronegócio do sisal no Brasil. Organizado por Odilon Reny Ribeiro da Silva; Napoleão Esberard de Macedo Beltrão. – Brasília: Embrapa – SPI; Campina Grande: Embrapa – CNPA, 1999.

9 GLOSSÁRIO

Agronegócio é toda relação comercial e industrial envolvendo a cadeia produtiva agrícola ou pecuária.No Brasil, o termo agropecuária é usado para definir o uso econômico do solo para o cultivo da terra, associado com a criação de animais

Disponível em Acessado em : 17/07/2008.

Biocombustível é qualquer combustível de origem biológica, desde que não seja de origem fóssil. É originado de mistura de uma ou mais plantas como: cana-de-açucar, mamona, soja, cânhamo, canola, babaçu, lixo orgânico, dentre outros tipos.

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Disponível em Acessado em: 17/07/2008.

Organização Mundial do Comércio (OMC) é uma organização internacional que trata das regras sobre o comércio entre as nações. Os membros da OMC negociam e assinam acordos que depois são ratificados pelo parlamento de cada nação e passam a regular o comércio internacional. Em inglês é denominada World Trade Organization” (WTO) e possui 153 membros — em 23 de Junho de 2008 Cabo Verde se tornou o mais novo membro da OMC. A sede da OMC é em Genebra na Suíça.

Disponível em:

Acessado em 17/07/2008.

Commodity é um termo de língua inglesa que, como o seu plural commodities, que significa mercadoria, é utilizado nas transações comerciais de produtos de origem primária nas bolsas de mercadorias.

Usada como referência aos produtos em estado bruto ou com pequeno grau de industrialização, de qualidade quase uniforme, produzidos em grandes quantidades e por diferentes produtores. Estes produtos "in natura", cultivados ou de extração mineral, podem ser estocados por determinado período sem perda significativa de qualidade.

O que torna as commodities muito importantes na economia é o fato de que, embora sejam mercadorias primárias, possuem cotação e "negociabilidade" globais; portanto, as oscilações nas cotações destas commodities têm impacto significativo nos fluxos financeiros mundiais, podendo causar perdas a agentes econômicos e até mesmo a países. O mercado de derivativos surgiu como uma proteção aos agentes econômicos contra perdas provocadas pela volatilidade nas cotações das commodities.

Disponível em Acessado em 17/07/2008.

Pró-Álcool ou Programa Nacional do Álcool foi um programa de substituição em larga escala dos combustíveis veiculares derivados de petróleo por álcool, financiado pelo governo do Brasil a partir de 1975 devido a crise do petróleo em 1973 e mais agravante depois da crise de 1979.

Em 14 de Novembro de 1975 o decreto n° 76.593O cria o Pró-Álcool. Este programa foi idealizado pelo físico José Walter Bautista Vidal e pelo engenheiro Urbano Ernesto Stumpf este último conhecido como o pai do motor a álcool entre outros.

O programa substituiu por álcool etílico a gasolina, o que gerou 10 milhões de automóveis a gasolina a menos rodando no Brasil, diminuindo a dependência do país ao petróleo importado.

A decisão de produzir etanol a partir da cana-de-açúcar por via fermentativa foi por causa da baixa nos preços do açúcar na época. Foram testadas outras alternativas de fonte de matéria-prima, como por exemplo a mandioca.

A produção de álcool no Brasil no período de 1975-76 foi de 600 milhões de litros; no período de 1979-80 foi de 3,4 bilhões e de 1986-87 chegou ao auge, com 12,3 bilhões de litros.

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Com a substituição do combustível, os automóveis precisaram passar por alterações. Como exemplo, os tubos tiveram seu material substituído; o calibre do percurso de combustível teve de ser aumentado; por causa do poder calorífico menor do álcool, foi necessário instalar injeção auxiliar a gasolina para partida a frio; o carburador teve de ser feito com material anticorrosivo, assim como a bomba de combustível, que passou a ser composta de cádmio.

A disponibilidade de álcool nesse período rendeu a pesquisadores a possibilidade de estudos da alcoolquímica, análoga da petroquímica baseada no petróleo, como, por exemplo, estudos sobre a viabilidade da produção de óxido de etileno e monômeros a partir do etanol, matérias-primas básicas para a produção de uma gama de compostos químicos usados no dia-a-dia.

O Programa começou a ruir na medida que o preço internacional do petróleo baixava, tornando o álcool combustível pouco vantajoso tanto para o consumidor quanto para o produtor. Para agravar o problema, o preço do açúcar começou a aumentar no mercado internacional na mesma época em que o preço do petróleo baixava, fazendo com que fosse muito mais vantajoso para os usineiros produzir açúcar no lugar do álcool.

E por causa disso, começou a faltar regularmente álcool combustível nos postos, deixando os donos dos carros movidos a combustível vegetal sem opções. Essas sucessivas crises de desabastecimento, aliadas ao maior consumo do carro a álcool e o menor preço da gasolina, levaram o pró-álcool a descrença geral por parte dos consumidores e das montadoras de automóveis, e desde então, a produção de álcool combustível e de carros movidos a esse combustível entraram em um declínio que parecia não ter fim, chegando ao ponto de a maioria das montadoras não oferecerem mais modelos novos movidos a álcool.

Apesar do pioneirismo brasileiro no ramo do álcool combustível, a "volta" do carro a álcool foi possível por causa de uma tecnologia desenvolvida nos Estados Unidos, tecnologia essa que conhecemos hoje por bi-combustíveis, ou somente "flex".

Essa tecnologia surgiu no final da década de 80 por causa da crescente pressão do estado americano da Califórnia por carros menos poluentes, e junto com essa pressão, eram oferecidos vantajosos descontos em impostos para os carros que poluíssem menos o ambiente, foi quando as montadoras dos EUA apontaram para o etanol.

Mas como a demanda por veículos lá é muito maior que no Brasil, e a cadeia produtiva de álcool ainda não estava (e ainda não está) preparada para suprir tal demanda, as montadoras não poderiam simplesmente passar a vender modelos movidos a álcool, pois os consumidores não teriam como abastece-los, foi então que em 1993 surgiram os primeiros carros bi-combustíveis, ou seja, aptos para rodar tanto com álcool quanto com gasolina, e com a mistura em qualquer proporção desses 2 combustíveis.

Porém, nesse meio tempo as montadoras conseguiram reduzir a emissão de poluentes de seus modelos movidos a gasolina, e pelo fato de mais uma vez o preço do petróleo estar baixo a ponto de não valer a pena produzir álcool, esses modelos caíram no esquecimento.

Tecnologias

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A tecnologia flex-fuel já estava em testes de adaptação no Brasil desde meados da década de 90, porém por falta de regulamentação governamental, esses modelos não podiam ser vendidos ao público. Essa regulamentação só saiu no final de 2002, e logo no início de 2003 a VW apresentou ao mercado o primeiro carro flexível em combustível, o Gol Total-Flex, rapidamente seguida pela General Motors, com o seu Chevrolet Corsa FlexPower. Desde então, salvo algumas exceções, todas as montadoras instaladas no Brasil produzem carros bí-combustíveis, e hoje, apenas 4 anos após o lançamento do primeiro carro bi-combustível, os carros equipados com motores flex já correspondem 85% das vendas de automóveis 0km, colocando novamente o Brasil na vanguarda do chamado combustível verde.

Vantagens do uso do álcool combustível

• Menor dependência de combustíveis fósseis importados, e da variação d;çpjpe preço dos mesmos.

• Menor emissão de poluentes, já que grande parte dos poluentes resultantes da queima do combustível no motor são re-absorvidos no ciclo de crescimento da cana de açúcar, e os resíduos das usinas são totalmente reaproveitados na lavoura e na indústria.

• Maior geração de empregos, sobretudo no campo, diminuindo a evasão rural e o "inchamento" das grandes cidades.

• Os subprodutos da cana são utilizados no próprio ciclo produtor de álcool, como fonte de energia elétrica obtida pela queima do bagaço, e como fertilizante da terra utilizada no plantio, através do chamado vinhoto, tornando uma usina de álcool auto-dependente.

• Fonte de geração de divisas internacionais, sobretudo em tempos de escassez de petróleo e consciência ecológica.

Desvantagens do uso do álcool combustível

• O preço e disponibilidade do álcool variam de acordo com o interesse dos usineiros, pois eles decidem se vão produzir álcool ou açúcar de acordo com o preço internacional de cada produto.

• Más condições de trabalho aos chamados cortadores de cana, especialmente quando são terceirizados e contratados através dos chamados "gatos".

• As queimadas provocadas na pré-colheita da cana, que por força de lei e pela maior eficiencia da colheita mecanizada sem queima serão em breve eliminadas, agravam o desconforto e problemas respiratórios que ocorrem durante o inverno seco da região centro-sul do Brasil, especialmente nas cidades próximas às grandes usinas.

Disponível em Acessado em 17/07/2008.

Vassoura-de-bruxa é uma doença dos cacaueiros causada por fungo basidiomiceto Moniliophtora perniciosa (Stahel) Singer. É uma das doenças de maior impacto econômico nos países produtores de cacau da América do Sul e das ilhas do Caribe. M. perniciosa ataca as regiões meristemáticas do cacaueiro, principalmente frutos, brotos e almofadas florais,

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ocasionando queda acentuada na produção, provocando o desenvolvimento anormal, seguido de morte, das partes infectadas

Disponível em: Acessado em 17/07/2008