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A CONSTRUÇÃO DE VALORES ALIMENTARES NA PREVENÇÃO DE DOENÇA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA Schirley Terezinha de Oliveira Professora da Rede Pública Estadual do Paraná Curitiba - Pr Jorge Alberto Lenz Departamento Acadêmico de Física - DAFIS / UTFPR Curitiba - Pr RESUMO Este trabalho relata o desenvolvimento de uma proposta de ensino na 7ª série do Ensino Fundamental de um Colégio Estadual no município de Curitiba no período normal de aulas durante o 1º e 2º bimestres de 2009. Para o desenvolvimento da proposta foi utilizado um Caderno pedagógico idealizado a partir da proposta das Diretrizes Curriculares Estaduais contemplando ações de formatação complementares ao Currículo Escolar envolvendo e propiciando a integração entre os sujeitos presentes no espaço escolar. A proposta foi construída a partir da observação da necessidade da comunidade escolar em refletir e discutir sobre o direito do ser humano à alimentação, como aproveitar melhor os alimentos, como combater desperdícios e como baixar o custo dos mesmos. Ao estudar a função de cada nutriente, levou-se o educando a perceber a importância da alimentação na manutenção da saúde e prevenção de doenças. Palavras chaves: Alimentação. distúrbios alimentares. hábitos alimentares. aproveitamento de alimentos. ABSTRACT This work relates the development of a teaching proposal in the 7th grade of Fundamental Education of a State School in the city of Curitiba in the normal period of classes during 1st and 2nd bimesters of 2009. For the proposal development a pedagogic book idealized from the State Curricular Guidelines was utilized contemplating complemental formatting actions to the School Curriculum, involving and propitiating the integration among the present people in the school space. The proposal was built starting from the observation of the school community's need of reflection and discussion about the human being`s right of feeding, how to better take advantage of food, combating wastes and lowering their cost. When studying the function of each nutrient, to take the student to notice the importance of the alimentation in the health maintenance and diseases prevention. Key words: Alimentation. alimentary disturbances. alimentary habits. food utilization.

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A CONSTRUÇÃO DE VALORES ALIMENTARES NA PREVENÇÃO DE DOENÇA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Schirley Terezinha de Oliveira Professora da Rede Pública Estadual do Paraná

Curitiba - Pr

Jorge Alberto Lenz Departamento Acadêmico de Física - DAFIS / UTFPR

Curitiba - Pr RESUMO Este trabalho relata o desenvolvimento de uma proposta de ensino

na 7ª série do Ensino Fundamental de um Colégio Estadual no município de Curitiba no período normal de aulas durante o 1º e 2º bimestres de 2009. Para o desenvolvimento da proposta foi utilizado um Caderno pedagógico idealizado a partir da proposta das Diretrizes Curriculares Estaduais contemplando ações de formatação complementares ao Currículo Escolar envolvendo e propiciando a integração entre os sujeitos presentes no espaço escolar. A proposta foi construída a partir da observação da necessidade da comunidade escolar em refletir e discutir sobre o direito do ser humano à alimentação, como aproveitar melhor os alimentos, como combater desperdícios e como baixar o custo dos mesmos. Ao estudar a função de cada nutriente, levou-se o educando a perceber a importância da alimentação na manutenção da saúde e prevenção de doenças.

Palavras chaves: Alimentação. distúrbios alimentares. hábitos

alimentares. aproveitamento de alimentos. ABSTRACT This work relates the development of a teaching proposal in the 7th

grade of Fundamental Education of a State School in the city of Curitiba in the normal period of classes during 1st and 2nd bimesters of 2009. For the proposal development a pedagogic book idealized from the State Curricular Guidelines was utilized contemplating complemental formatting actions to the School Curriculum, involving and propitiating the integration among the present people in the school space. The proposal was built starting from the observation of the school community's need of reflection and discussion about the human being`s right of feeding, how to better take advantage of food, combating wastes and lowering their cost. When studying the function of each nutrient, to take the student to notice the importance of the alimentation in the health maintenance and diseases prevention.

Key words: Alimentation. alimentary disturbances. alimentary

habits. food utilization.

2

1. INTRODUÇÃO:

Dentro de um contexto histórico podemos observar que o ensino de

Ciências sofreu modificações tanto no seu enfoque quanto na metodologia

dominante. Nas décadas de 50 e 60 predominaram as aulas de laboratório com

os objetivos de transmitir informações atualizadas e vivenciar o método

científico: numa primeira fase enfatizando os produtos para em seguida

enfatizar o processo (onda construtivista). Na década de 70 e 80 predominam a

utilização de jogos, simulações e resolução de problemas (o cotidiano como

ponto de partida para levantar problemas e propor soluções). Dentro de um

contexto no país marcado por grandes transformações políticas

(redemocratização) busca-se a formação da cidadania e a ciência é vista como

um produto do contexto econômico, político, social (Krasilchik, 2000, p.86).

Na década de 90 com a proposta de Currículo Básico da Secretaria

de Educação do Estado do Paraná houve a valorização do trabalho docente

com temas (sexualidade e prevenção à gravidez e doenças sexualmente

transmissíveis, prevenção ao uso e abuso de drogas, reciclagem, entre outros)

baseado em projetos esporádicos como, por exemplo, o Projeto Vale-Saber em

que era oferecida uma bolsa auxílio para o professor desenvolver um projeto

de intervenção durante um ano letivo na escola. A partir de 2003 iniciou-se o

processo de construção das novas Diretrizes Curriculares Estaduais (DCE)

onde se observava a discussão em torno de recursos pedagógico-tecnológicos

e diferentes estratégias de ensino propondo vários encaminhamentos

metodológicos como: problematização, contextualização, interdisciplinaridade,

pesquisa, leitura científica, atividade em grupo, observação, atividade

experimental, os recursos instrucionais e o lúdico (Diretrizes Curriculares de

Ciências para o Ensino Fundamental, SEED, 2008, p.68).

O Caderno Pedagógico proposto foi construído de acordo com o

ciclo de aprendizagem, denominado 5Es, conforme demonstrado por

LLWELLYN, 2002 apud GIOPPO et al, 2006, p.8. A proposta de trabalho é

fundamentada na utilização de conhecimentos espontâneos como ponto de

partida para dar significado aos temas a serem trabalhados e levarem o

educando a elaboração dos conhecimentos científicos, contribuindo para

melhoria da qualidade de vida dos educandos, de seus familiares e demais

sujeitos coexistentes no espaço escolar.

3

As diferentes estratégias metodológicas objetivaram sensibilizar os

educandos para a prevenção de doenças relacionadas aos hábitos

alimentares. Promovendo a reflexão e a discussão como ferramenta que

propicia o rompimento de obstáculos conceituais provenientes de seu grupo

familiar e social. Com isto, pretendeu-se colaborar com a melhoria da qualidade

do ensino público no Estado do Paraná.

2. A ESCOLA E A CONSTRUÇÃO DE VALORES ALIMENTARES

A compreensão do conjunto de fatores associados ao consumo

alimentar da população não se pode excluir da análise de componentes

econômicos, sociais, nutricionais, históricos e culturais de um determinado

grupo (Oliveira & Thébaud-Mony, 1997,p.202). No caso do Brasil observa-se

uma condição bipolar no contexto de saúde pública no que se refere a nutrição.

A desnutrição energético-proteica presente nas classes de menor poder

aquisitivo, se contrapõe à obesidade que atinge jovens e adultos de todos os

estratos sociais. Neste contexto, ressalta-se a importância de estratégias de

saúde coletiva, planejamento e desenvolvimento de ações educativas que

possibilitem redução no consumo de gordura, sem comprometer a ingestão de

vitaminas e minerais (Sichieri, 1998,p.135).

A manutenção da saúde está diretamente relacionada a questão da

escolha e do acesso a uma alimentação saudável. No decurso do século XX, o

consumo de açúcar aumentou dez vezes. Por volta de 1800, o consumo de

açúcar por pessoa ao ano, era de 5 quilogramas enquanto agora é de

aproximadamente 45 quilogramas. Prova inequívoca do aumento da obesidade

nos últimos anos – o consumo de açúcar. Além da obesidade, existem outras

enfermidades metabólicas relacionadas ao consumo desmesurado de açúcar:

arteriosclerose, manifestada através do enfarte de miocárdio, angina de peito,

acidentes vasculares cerebrais, gangrena dos membros inferiores e o diabetes.

Os alimentos ricos em gorduras saturadas têm importância na gênese da

arteriosclerose, pois servem de base no fígado para a formação das moléculas

de acetato, ponto de partida para a síntese do colesterol em cerca de 75% do

total dessa substância.São desse modo, alimentos indesejáveis embora sejam

apetitosos (Kamel, 1996, p.25).

4

Na pesquisa sobre a evolução da disponibilidade domiciliar nacional

de alimentos de 1974 a 2002, observou-se que houve um aumento no

consumo de alimentos com alto teor de gordura (fast foods), e discreta redução

no consumo de verduras e frutas que sempre tiveram ingestão menor que o

recomendado. Observou-se também, que apenas 38% dos brasileiros

responderam consumir arroz e feijão diariamente, o que sinaliza uma crescente

“americanização” dos hábitos alimentares, principalmente entre os jovens.

Aliado ao que foi exposto ocorre uma redução de atividade física em razão da

crescente mecanização e do avanço tecnológico. Dietz et Al,1985 apud

Damiani et al, 2000, p.489-523 demonstrou que o número de horas que um

adolescente passa assistindo televisão acarreta um aumento de 2% na

prevalência de obesidade para cada hora adicional de televisão em jovens de

12 a 17 anos.

De acordo com os dados recentes da Organização Mundial de

Saúde (OMS) 25% da população infanto-juvenil apresenta sobrepeso ou

obesidade (Dias et al, 2000, p.721). Sabendo-se que nos dois primeiros anos

de vida e até os dez anos de idade, as células adiposas das crianças estão em

multiplicação, conclui-se que elas terão mais depósitos de gordura para serem

preenchidos ao longo da vida, portanto, de acordo com a ABESO (Associação

Brasileira para o Estudo da Obesidade) a criança que com dois anos de idade

é caracterizada como obesa tem 50% de chance de tornar-se um adulto obeso

e aos dez anos, o índice pula para 60%.

Estudos internacionais indicam que até 60% das crianças

qualificadas como obesas, passam por períodos de depressão. A obesidade

pode levar à sentimentos de baixa auto-estima e isolamento social, sendo

caracterizada, de certa forma, na sociedade contemporânea, como pessoa

doente e também pelo indivíduo excluído da sociedade enquanto padrão de

estética (Sichieri, 1998,p.15 ). Observa-se na escola que os adolescentes que

estão acima do peso ideal têm sua auto-estima afetada, pois muitas vezes são

ridicularizados perante o grupo dificultando sua integração e muitas vezes,

também a aprendizagem. O excesso de peso também pode gerar

complicações de outras ordens, como arteriosclerose precoce, falta de ar e

apnéia do sono, problemas posturais (como desvios na coluna) que surgem

devido ao peso elevado (Oliveira & Fisberg, 2003, p.107).

5

Diante disto, medidas intervencionistas, de caráter educativo e

informativo no combate e prevenção de distúrbios nutricionais em indivíduos

mais jovens, devem fazer parte do currículo escolar (Oliveira & Fisberg, 2003,

p.108). Dentro do conceito de segurança alimentar e nutricional a adoção de

práticas alimentares saudáveis sugere o consumo de alimentos diversificados

baseada em três princípios: da variedade, da moderação e do equilíbrio

contrapondo-se às propagandas que induzem o consumo de alimentos

industrializados e de baixo valor nutricional (Moreiras, 1999 apud Rodrigues,

2003, p.34)

Algumas medidas importantes foram tomadas a nível institucional

para minimizar o problema. O Consea/Paraná (Conselho Nacional de

Segurança Alimentar e Nutricional) foi pioneiro em 2004 na aprovação de uma

Lei Estadual proibindo a venda, em todas as escolas públicas e privadas, de

bebidas com quaisquer teores alcoólicos, balas, pirulitos e gomas de mascar,

refrigerantes e sucos artificiais, salgadinhos industrializados, salgados fritos e

pipocas industrializadas. Posteriormente foram proibidos em todo território

nacional, pelo Projeto de Lei 127/07, em escolas de educação infantil e

fundamental e aprovado pela comissão de Educação e Cultura.

Verificou-se que os adolescentes são considerados grupo de risco

nutricional por conta de práticas alimentares inadequadas. Estes, muitas vezes,

não realizam o desjejum, omitem algumas refeições e incluem lanches em

substituição às mesmas. Além disso, estão em uma fase de transformações

biopsicossociais em que são vulneráveis aos fatores ambientais, em particular

aos relacionados com a alimentação e nutrição (Dias et al, 2000,721-722p.).

3. A PROPOSTA DE ENSINO E SEU DESENVOLVIMENTO EM SALA DE AULA

Esta proposta de ensino baseou-se em Vigotsky, pois pretendeu-se

garantir a aprendizagem e impulsionar o desenvolvimento através do processo

colaborativo entre o educador e o educando.

As atividades foram desenvolvidas visando favorecer a

autoconfiança, sendo além de formadoras, também mobilizadoras dentro do

processo ensino-aprendizagem, promovendo a interação entre o sujeito com o

objeto do conhecimento. Segundo Demo (1998, p.31) a avaliação é um

6

componente intrínseco da aprendizagem e estratégia de questionamento

diagnóstico permanente da realidade devendo oferecer condições para que o

conhecimento adequado seja sempre reconstruído .

Visando promover transformações qualitativas do conteúdo foram

utilizadas as seguintes estratégias com os educandos:

1. Atividade de sensibilização: diagnóstico dos alimentos

consumidos preferencialmente pelos adolescentes;

2. Levantamento bibliográfico sobre o valor nutricional dos alimentos

consumidos preferencialmente pelos adolescentes;

3. Aula expositiva como agente de veiculação do conteúdo,

fornecimento de informações básicas, para articulação da seqüência de

atividades, para contextualizar o tema;

4. Problematização através de leitura de textos complementares

sobre assuntos relacionados à alimentação: importância do desjejum, imagem

corporal e outros, discutindo como os padrões de beleza e supervalorização do

corpo pode desencadear processos de transtornos alimentares;

5. Desenvolvimento do pensamento crítico com a utilização de

imagens comparativas para análise de doenças ligadas à obesidade

enfatizando a importância da prevenção através da adoção de atitudes

alimentares saudáveis. A análise da imagem corporal sob a influência de

fatores socioeconômicos e da mídia;

6. Utilização do laboratório de informática. A tecnologia como

ferramenta pedagógica: software sobre nutrição (SBPC);

7. Aplicação prática dos conhecimentos adquiridos. Divulgação de

forma de preparo e aproveitamento total dos alimentos, com elaboração de um

livro de receitas alternativas;

8. Socialização do conhecimento através da realização de uma

campanha com recursos visuais de divulgação dentro do ambiente escolar

sobre valores alimentares e prevenção de doenças.

E com a comunidade escolar, elaborar uma campanha de prevenção

de doenças através de hábitos alimentares saudáveis e divulgar às famílias dos

educandos receitas alternativas através da confecção de um caderno de

receitas pelos alunos;

7

4. RELATO DOS RESULTADOS OBTIDOS:

4.1. APLICAÇÃO DO PRÉ-TESTE

O pré-teste foi aplicado com a intenção de realizar uma sondagem

inicial sobre os conhecimentos dos educandos sobre nutrição, hábitos

alimentares e manutenção da saúde.

A hipótese foi de que os educandos desconhecem conceitos sobre

nutrição bem como a relação com a manutenção da saúde, além de

possibilidades de melhoria dos hábitos alimentares através do aproveitamento

total dos alimentos. Foi realizado no período de 09 à 13 de março em três

sétimas séries (8º ano) do Ensino Fundamental, no período normal de aulas.

Participaram da sondagem inicial um total de 102 alunos. As questões foram

divididas em dois grupos, a saber: informações sobre nutrição e sobre hábitos

alimentares além de informações pessoais tais como: Nome; idade; sexo; peso

e altura.

A sondagem inicial demonstra que 92,15% dos educandos nunca

participaram de alguma palestra/evento sobre alimentação e que 82,35% dos

educandos não têm conhecimento de nenhum trabalho sobre alimentação na

escola.

Ao serem questionados sobre quais alimentos que deveriam ingerir

diariamente, saladas/verduras, frutas, carnes e arroz e feijão foram às

respostas freqüente. Demonstra que o prato típico brasileiro é consumido pela

maioria. Entretanto, quando a questão é sobre a ingestão de legumes,

verduras, frutas, cereais, leite e carnes, 30,39% afirmam ingerir estes alimentos

várias vezes por semana, 28,43% não costumam prestar atenção na

alimentação e 20,5% não os consomem por não gostarem. È importante

ressaltar que 15,68% não têm oferta destes alimentos em casa.

Há um equívoco entre exemplos de alimentos e grupos de

nutrientes, então, os educandos citam um e outro. Quando solicitados a definir

nutrientes, eles citaram funções e exemplos, mas, não conseguiram defini-lo.

A grande maioria, ou seja, 81,37% nunca ouviram falar em distúrbios

alimentares e os que ouviram confundem com outras doenças, como diabetes

e anemia.

8

Observou-se nesta amostra que 61,78% fazem quatro refeições

diárias, somente 1,96% realiza seis refeições diárias recomendadas pelos

nutricionistas. Quanto ao aproveitamento total dos alimentos, 54,90% não

responderam se existem partes vegetais que são aproveitadas para o preparo

dos alimentos, revelando, assim, um desconhecimento sobre o assunto;

31,37% citaram que algumas são aproveitadas e somente 7,84% aproveitam

todas as partes vegetais.

4.2. SENSIBILIZAÇÃO ATRAVÉS DA CONFECÇÃO DE GRÁFICOS

Os gráficos de 1 a 3 expõem cada qual um levantamento da

realidade do educando através do diagnóstico dos alimentos consumidos

preferencialmente pelos mesmos utilizando uma tabela individual de consumo

de alimentos, seguida de cálculos percentuais. Os próprios alunos de cada

série elaboraram os gráficos mostrando o seu perfil alimentar.

Gráfico 1 – Perfil alimentar elaborado pelos educandos da 7ªA

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

todos os dias

quase todos os dias

de vez em quando

não consome

9

Gráfico 2 – Perfil Alimentar elaborado pelos educandos da 7ªC

Gráfico 3 - Perfil alimentar elaborado pelos educandos da 7ª D

Para análise dos gráficos apresentados anteriormente sobre os

perfis alimentares, os estudantes responderam algumas questões relacionadas

aos hábitos alimentares.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

consome todos os dias

consome quase todos os dias

consome de vez em quando

não consome

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

consome todos os dias

consome quase todos os dias

consome de vez em quando

não consome

10

O gráfico 4 apresenta os hábitos, segundo os educandos, que

poderiam ser modificados e as respectivas porcentagens de respostas.

Gráfico 4 – Hábitos alimentares que poderiam ser modificados segundo os educandos.

O gráfico 5 apresenta, segundo os educandos, os motivos propostos

para que os hábitos alimentares sejam alterados e suas respectivas

porcentagens.

Gráfico 5 – O que leva as pessoas a mudarem seus hábitos alimentares segundo os educandos

Através da atividade de sensibilização, os educandos puderam

visualizar o perfil alimentar da turma e refletir sobre quais hábitos poderiam ser

Consumir menos guloseimas

38%

Ingerir mais legumes, verduras

e frutas27%

Reduzir consumo de refrigerantes

17%

Consumir comida saudável

8%

Reduzir consumo de lanches rápidos

9%

Consumir alimentos salgados

1%

46%

19%

15%

10%

8%

2%Sobrepeso/obesidade/perder peso

Regimes e dietas

Conscientização sobre alimentação

Estar muito magra/muito gorda

Doenças

Outros(falta de tempo, influência da tv,condição econômica)

11

modificados, além de trabalhar as disciplinas de ciências e matemática de

forma integrada. A utilização da estratégia metodológica da elaboração

coletiva de gráficos para representação da realidade pode sensibilizar para os

conteúdos a serem trabalhados e facilitar o processo ensino-aprendizagem.

A principal dificuldade encontrada e discutida com a equipe

pedagógica foi a defasagem em matemática básica que foi suprida com a

interferência e colaboração das Professoras de matemática Edna dos Reis

Menezes e Liziane Vernize do Prado que auxiliaram os educandos na

elaboração de gráficos, bem como revisaram conteúdos pré-requisitos.

4.3. EXPLORANDO O CONTEÚDO NA BIBLIOTECA

Os educandos foram encaminhados à biblioteca da escola onde foi

solicitado que pesquisassem em livros, jornais e revistas o valor dos alimentos

que foram apontados como preferenciais pelos adolescentes, a saber: batata

frita; balas, pirulitos, chicletes e similares; cerveja; bolachas, biscoitos, arroz e

pão branco; refrigerantes, chocolates e lanches rápidos (hambúrguer, cachorro

quente; frutas, verduras e legumes).

Esse tipo de atividade objetiva aproximar o educando do ambiente

da biblioteca escolar, familiarizando-o com as diferentes fontes de pesquisa.

Proporciona a oportunidade de poder selecionar e também resumir o material

encontrado focando no tema proposto.

Durante a realização da atividade, os educandos foram observados

e avaliados dentro dos critérios avaliativos que são apresentados na tabela 1.

Observou-se que a mudança de ambiente proporciona uma melhora

na atenção e interesse dos alunos, bem como a consulta a diferentes fontes de

pesquisa gera interesse e motiva o educando a ler e pesquisar. A realização de

algumas atividades na biblioteca escolar certamente incentivará o hábito de

freqüentar bibliotecas o que melhoraria o aprendizado como um todo, pois,

quanto mais o educando lê, mais ele aprende.

12

Atitudes e comportamentos Pouco Razoavelmente Muito

Demonstra interesse nas atividades 21 35 46

Ouve atentamente as explicações da Professora

18 45 39

Executa a tarefa proposta 21 41 40

Registra as informações importantes 09 43 50

Demonstra respeito pela Professora e os colegas

09 31 62

Coopera com colegas quando solicitado 09 34 59

Tabela 1 – Atitudes e comportamentos observados durante atividade na biblioteca e o

número de alunos observados.

4.4. A BUSCA DE EXPLICAÇOES PARA A RELAÇÂO ENTRE

HÁBITOS ALIMENTARES E SAÚDE

É extremamente importante levantar a discussão sobre hábitos

alimentares, uma vez que na pesquisa sobre evolução domiciliar de alimentos

de 1974 a 2002 observou-se no Brasil um aumento no consumo de alimentos

com alto teor de gordura (fast foods) e redução do consumo de verduras e

legumes que sempre foi abaixo do recomendado pela OMS (organização

Mundial de Saúde). A crescente “americanização” dos hábitos alimentares com

a diminuição do consumo de arroz com feijão, que é apontada como

consumida diariamente apenas por 38% dos brasileiros, é preocupante. A

utilização de diferentes estratégias pode atingir um maior número de

educandos sensibilizando-os e tornando-os multiplicadores na discussão

destes temas com a família.

Na tentativa de amenizar a falta de informações a respeito da troca

de hábitos alimentares por outros mais saudáveis foi proposto uma série de

encaminhamentos metodológicos que visam levar o educando a incluir o

conhecimento científico no rol de seus saberes e desta maneira articulá-los

numa sequência de atividades sugeridas.

Leitura e discussão de textos em sala de aula sobre pirâmide

alimentar, nutrientes presentes nos alimentos, em defesa da comida, alimentos

a serem evitados e fibras.

13

Preenchimento de um quadro com o conteúdo das refeições de

cada educando durante uma semana.

Atividade prática de laboratório para identificação da proteína

presente na clara do ovo e no leite.

Pesquisa do significado das palavras triglicerídeos, colesterol e o

valor normal das taxas presentes no sangue.

Produção de texto sobre a importância dos sais minerais.

Exercícios sobre vitaminas.

Representação por meio de desenhos e recortes um prato de

“comida da vovó” baseado no texto de Michael Pollan intitulado “Em defesa da

comida”.

Exibição do filme “Super size me” (A dieta do palhaço) sobre os

perigos da americanização da dieta para saúde.

Após a conclusão desta série de atividades, os educandos foram

convidados a expressarem sua opinião analisando e avaliando, segundo

critérios predeterminados, questões relativas a hábitos alimentares. As tabelas

de 2 até 5 apresentam os resultados obtidos identificando a porcentagem de

respostas junto com os critérios selecionados e o pensamento crítico.

Afirmativa 1

“A menor presença das mulheres dentro de casa, em todos os

estratos sociais, tem como conseqüência o aumento de consumo de

produtos industrializados que poupam tempo e mão de obra.”

Porcentagem dos alunos que

responderam Critérios Pensamento crítico

50% Adequado

Justifica plenamente seu posicionamento frente à questão proposta, utilizando

conhecimentos adquiridos nas atividades anteriores.

26,5% Parcialmente

adequado

Justifica parcialmente seu posicionamento frente à questão proposta, utilizando

conhecimentos adquiridos nas atividades anteriores.

13% Inadequado Não é capaz de justificar seu

posicionamento frente à questão proposta.

10,5% Não responderam

Tabela 2 – Resultados apresentados pelos educandos ao analisar a afirmativa 1

14

Exemplos de respostas fornecidas dos educandos em complemento

a questão apresentada:

“Concordo totalmente com isso, o gosto pela comida caseira tem

diminuído desde que a mulher começou a trabalhar, o consumo de comida

industrializada aumentou e isso acaba prejudicando no futuro por falta de

nutrientes”.

“Com tanto trabalho e responsabilidade as mulheres estão cada

vez mais sem tempo para se dedicarem ao preparo de alimentos a para facilitar

compra-se comidas industrializadas”.

Afirmativa 2:

“O padrão do que é bom ou moderno não é dado pelo valor

nutricional dos alimentos, mas pelo valor que é gerado pela sua

publicidade.”

Porcentagem dos alunos que responderam

Critérios Pensamento crítico

54% Adequado

Justifica plenamente seu posicionamento frente à questão

proposta, utilizando conhecimentos adquiridos nas atividades anteriores.

27% Parcialmente

adequado

Justifica parcialmente seu posicionamento frente à questão

proposta, utilizando conhecimentos adquiridos nas atividades anteriores.

13% Inadequado Não é capaz de justificar seu

posicionamento frente à questão proposta.

06% Não responderam

Tabela 3 – Resultados apresentados pelos educandos ao analisar a afirmativa 2.

Exemplos de respostas fornecidas dos educandos em complemento

a questão apresentada:

“As pessoas hoje em dia acabam optando por comida saborosa e

deixam para trás as saudáveis. Consomem qualquer coisa não se importando

com a saúde, só com o sabor”.

“Essas comidas de propaganda que dá vontade de comer na hora

15

são os alimentos que têm muitas calorias. A maioria das propagandas passa

informações sobre alimentos que não são saudáveis”.

Afirmativa 3:

“As mulheres rejeitam cada vez mais o ato de cozinhar e

conhecem cada vez menos os ingredientes e as tecnologias caseiras de

preparo dos alimentos.”

Porcentagem dos alunos que responderam

Critérios Pensamento crítico

38% Adequado

Justifica plenamente seu posicionamento frente à questão

proposta, utilizando conhecimentos adquiridos nas atividades anteriores.

29,5% Parcialmente

adequado

Justifica parcialmente seu posicionamento frente à questão

proposta, utilizando conhecimentos adquiridos nas atividades anteriores.

22,5% Inadequado Não é capaz de justificar seu

posicionamento frente à questão proposta.

10% Não responderam

Tabela 4 – Resultados apresentados pelos educandos ao analisar a afirmativa 3.

Exemplos de respostas fornecidas dos educandos em complemento

a questão apresentada:

“O ser humano hoje em dia quer praticidade e não se importa se o

que está comendo faz bem para saúde”.

“Hoje em dia nós não sabemos como são feitas estas comidas

que compramos fora, fazer comida em casa é mais saudável e as pessoas

gastam menos”.

Afirmativa 4:

“É importante valorizar a atividade de alimentação e a dieta

tradicional brasileira.”

Exemplos de respostas fornecidas dos educandos em complemento

a questão apresentada:

“Comer mais alimentos saudáveis (arroz, feijão, ovos, legumes e

verduras), alimentos que sabemos como são preparados, ao invés de

16

alimentos que não reconhecemos nem os nomes”.

“As pessoas de hoje em dia nem ligam para os sabores exóticos

que o Brasil tem: comidas que não fazem mal, elas preferem comidas

gordurosas”.

Porcentagem dos alunos que responderam

Critérios Pensamento crítico

36% Adequado

Justifica plenamente seu posicionamento frente à questão proposta, utilizando

conhecimentos adquiridos nas atividades anteriores.

21% Parcialmente

adequado

Justifica parcialmente seu posicionamento frente à questão proposta, utilizando

conhecimentos adquiridos nas atividades anteriores.

34% Inadequado Não é capaz de justificar seu posicionamento

frente à questão proposta.

09% Não

responderam

Tabela 5 – Resultados apresentados pelos educandos ao analisar a afirmativa 4.

4.5. APROFUNDAMENTO DO TEMA

As escolas públicas atendem uma clientela que possui condições

socioeconômicas mais vulneráveis em relação a que freqüenta escola privada,

o que impossibilita o acesso a uma alimentação equilibrada, uma vez que a

boa alimentação é muito cara e nem todos têm acesso às informações de

como alimentar-se melhor. Neste aspecto, a escola pública deve desenvolver

estratégias para enfrentamento desta realidade social: num país que produz

alimentos em quantidade mais que suficiente para alimentar toda a população,

uma grande parcela de cidadãos não têm acesso à quantidade e qualidade

mínima de alimentos para manter-se saudável, desenvolvendo quadros de

desnutrição, deficiências marginais e/ou obesidade.

Abordagens que visem ao esclarecimento dos assuntos

relacionados a distúrbios alimentares podem ser realizadas através da

comparação dos padrões de beleza e podem tocar a auto-estima das pessoas.

Destacam a importância da dieta balanceada para manter um comportamento

alimentar saudável.

17

Todas as atividades foram desenvolvidas destacando-se o papel

multiplicador dos educandos em suas famílias, repassando informações e

conhecimentos do valor nutricional dos alimentos para melhoria da qualidade

de vida através de uma alimentação sadia, adequada e saborosa.

4.5.1. Atividade 1

Leitura de textos e discussões sobre temas como a saúde do corpo

e aparência; distúrbios alimentares (obesidade, comedores compulsivos,

bulimia, anorexia) e dieta balanceada. Foi realizado um levantamento de grupos

e/ou entidades que ajudam pessoas com distúrbios alimentares. Portanto, foram

citados e colocados no quadro negro os seguintes:

Comedores Compulsivos Anônimos - fone (41) 33601800;

Abeso – Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade

http://www.abeso.org.br Rua Tabapuã, 888, Conjunto 81 e 83 - São Paulo fone: (11)

3079 - 2298. Fax: (11) 3079 – 1732;

Ministério da saúde: http://www.saude.gov.br/alimentação;

Hospital de Clínicas da UFPR: http://www.hc.ufpr.br. Rua General

Carneiro, 181 Centro - Curitiba - PR. fone: (41) 3601800.

4.5.2 Atividade 2

Pesquisa sobre grupos de ajuda para pessoas com distúrbios

alimentares. Os educandos fizeram uma lista de atitudes que se pode adotar

para manter um comportamento alimentar saudável.

Obedeça rigorosamente ao horário das refeições, comendo com

intervalos de 4 a 5 horas.

Jamais pule refeições.

Quando surgir a vontade de comer fora dos horários, busque uma

saída alternativa (caminhada, exercícios físicos etc.) que reduza a ansiedade.

Antes de cada refeição, planeje o que você for comer e prepare

cuidadosamente a mesa e o prato.

Preste a máxima atenção ao ato de comer. Não coma enquanto

for ler ou ao assistir televisão.

Mastigue bem os alimentos.

18

Jamais faça compras em supermercados de estômago vazio, para

não encher o carrinho com guloseimas.

Não estoque comidas tentadoras (doces, sorvetes, salgadinhos)

em casa. Tenha sempre à mão opções saudáveis.

Não vá a festas de estômago vazio.

4.5.3. Atividade 3

Acesso ao sítio na internet http://www.anaemia.com.br destinado ao

público adolescente que trata de distúrbios alimentares como anemia por

exemplo.

4.5.4. Atividade 4

Montagem de um quadro com imagens de padrões de beleza atuais,

antigos e de outras culturas para efeito de comparação. Observando as

imagens de padrões de beleza atuais, sejam eles antigos ou atuais, o

educando escreveu um texto, de no máximo 15 linhas, explicando como os

fatores socioeconômicos e a mídia influencia nos padrões de beleza existentes,

em diferentes tempos e culturas. A tabela 6 apresenta o resultado desta

avaliação.

Porcentagem dos alunos que responderam

Critérios Pensamento crítico

38% Adequado

Apresentaram com clareza as relações existentes entre os padrões de beleza e a influência da mídia e das condições sócio-

econômicas

36% Entendimento

parcial

Apresentaram de forma insuficiente, as relações existentes entre os Padrões de beleza, a influência da mídia e as condições sócio-

econômicas.

17% Inadequado Não apresentaram as relações existentes entre os padrões de beleza, a influência da mídia e as

condições sócio-econômicas.

09% Não

responderam

Tabela 6 – Resultado da avaliação da produção de texto dos educandos segundo os critérios acima

4.5.5. Atividade 5

Através da inclusão digital, objetiva-se proporcionar a diversificação

da prática pedagógica através da utilização do laboratório de informática e de

19

software livre divulgado pela biblioteca virtual da Unicamp. Os educandos

tiveram oportunidade de cadastrar-se na biblioteca virtual e poderão, se assim

quiserem, voltar a utilizá-la em trabalhos escolares vindouros podendo acessar

os softwares disponíveis de suas casas ou outros ambientes. Isto ajuda a criar

o hábito da pesquisa de textos disponíveis na internet e não só de usá-la com

finalidade recreativa.

Para o acesso a internet foi utilizado o laboratório de informática da

escola. Para tanto, os educandos acessaram o endereço eletrônico

http://www.ib.unicamp.br/lte/bdc/busca.php?tipoMaterial=a%3ª1%3A%7Bi%3ª0

%3Bs%3A8%3A%22software%22%3B%7D&acao=exibirCategoria e, por

conseguinte ao link denominado nutrição disponível no sitio da SBPC

(Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência). Solicitou-se que lessem

com atenção as informações contidas e ao final da tarefa responderam

questões relativas ao acesso.

Número de alunos que acessaram o

software 87%

Concluíram a atividade 66%

Atividade incompleta 17%

Não realizaram a atividade 17%

Número de alunos que não

conseguiram acessar o software

13%

Tabela 7 – Porcentagem de educandos que foram encaminhados para a atividade no laboratório de informática

4.5.6. Atividade 6

Realização de um seminário para divulgação da forma de preparo e

aproveitamento máximo dos alimentos, combatendo assim o desperdício. O

tema sobre aproveitamento total dos alimentos e combate ao desperdício ajuda

a derrubar preconceitos que impedem a adoção de hábitos alimentares

saudáveis, principalmente em relação ao aproveitamento de folhas e talos,

transformando os educandos em mobilizadores sociais na medida em que

atuam em suas famílias, disseminando conhecimentos sobre alimentação

evitando o desperdício e mantendo o valor nutricional.

20

Foram apresentadas receitas com formas de preparo de alimentos

saudáveis. Cada educando trouxe um alimento para os colegas degustarem,

explicou como foi preparado, o seu valor nutricional e entregou uma cópia

escrita da receita para que levassem para casa.

Os educandos foram avaliados de acordo com a participação no

seminário e a posterior organização das receitas alternativas no caderno de

Ciências e os resultados são apresentados na tabela 8.

Seminário sobre aproveitamento dos alimentos

Preparação da receita 82% Participaram

18% Não participaram

Apresentação oral 82% Participaram

18% Não participaram

Organização de um caderno de receitas

82% Participaram

18% Não participaram

Tabela 8 – Participação dos educandos no seminário sobre aproveitamento dos Alimentos

As principais dificuldades encontradas na utilização do laboratório de

informática foram:

Falta de um auxiliar de laboratório para resolver pequenos

problemas técnicos que apareceram durante as aulas.

Falta de uma lousa ou projetor para que todos os educandos

pudessem acompanhar o processo passo a passo e ao mesmo tempo.

Disparidade entre os educandos: alguns têm acesso ao

computador em casa e alguns nunca tinham acessado.

Apreensão de alguns pais que não sabiam como seu filho (a) se

sairia durante a atividade.

Quanto à produção de texto:

A maioria dos educandos consegue expressar oralmente os

conhecimentos adquiridos, porém, apresentam uma dificuldade significativa em

expor suas idéias por escrito.

Falta do hábito de leitura e conseqüente dificuldade de

21

interpretação.

Quanto ao seminário de aproveitamento de alimentos:

Condições econômicas de alguns alunos que não tiveram como

preparar as receitas.

Preconceitos de alguns educandos em relação ao aproveitamento

de talos, folhas, etc.

4.6. SOCIALIZAÇÃO DO CONHECIMENTO

A confecção de cartazes pelos educandos foi escolhida como ação

mobilizadora para uma campanha com recursos visuais. O conteúdo presente

nos cartazes procurou estimular os adolescentes a experimentar novos

sabores e desta forma assumir o papel de cidadão consciente que atua no

próprio cotidiano, promovendo a alimentação saudável em seu ambiente

familiar e social. Pretendeu-se também valorizar o trabalho de quem prepara as

refeições e estimular o aprendizado da preparação de uma alimentação

saborosa e equilibrada.

Os educandos apresentaram muita dificuldade na elaboração de

cartazes dentro dos critérios estabelecidos, principalmente no que se refere a

sintetizar idéias para passar imagem-informação. Eles elaboraram os cartazes

da mesma forma como fazem trabalhos escritos, simplesmente colando folhas

ou escrevendo resumos em cartolinas. Houve pouca preocupação também

com a vinculação aos conceitos trabalhados. A tabela 9 apresenta os critérios

de avaliação bem como a porcentagem de metas obtidas.

Tabela 9 – Resultado da avaliação dos cartazes produzidos pelos educandos

Critérios Adequado Parcialmente

adequado Inadequado

Elaboraram o cartaz 69%

Capacidade de sintetizar idéias

30% 35% 35%

Utilização de imagens

33% 32% 35%

Vinculação aos conceitos

trabalhados 33% 32% 35%

Não elaboraram o cartaz 31%

22

Os cartazes foram expostos no ambiente escolar atingindo os três

turnos (matutino, vespertino e noturno) com o tema alimentação e saúde.

No momento da exposição em sala de aula e da escolha dos

cartazes que iriam ficar expostos no ambiente de maior circulação, foi realizado

um trabalho de sensibilização sobre a forma correta de elaborar um cartaz, que

passe a informação correta, desperte a curiosidade e tenha uma boa

apresentação estética.

Na escola, além de aprender sobre o valor nutricional dos alimentos,

os educandos adquirem hábitos de alimentação e higiene. A campanha com

recursos visuais, através da elaboração de cartazes, mostra a todas as

pessoas que freqüentam o ambiente escolar, a importância da alimentação

saudável na formação de pessoas sadias e ativas. Como a culinária faz parte

da cultura das pessoas, devemos valorizar a dieta tradicional brasileira e o

momento que a família passa à mesa.

Os cartazes também mostram que a mudança de hábitos promove

uma alimentação mais nutritiva, principalmente quando aproveitamos melhor os

alimentos reduzindo perdas, equilibrando refeições e tornando-as mais baratas.

Procurou-se valorizar também as frutas da estação e os alimentos regionais,

como por exemplo, o pinhão.

A escola ainda é vítima de muitas situações de vandalismo por parte

do corpo discente, nos impossibilitando de promover e manter exposições

permanentes nos ambientes de grande circulação. Os cartazes que ficam em

sala de aula são rabiscados e depredados de um turno para outro e nos

corredores ocorre o mesmo problema. Em virtude disto, optou-se por um

espaço no hall de entrada do pavilhão pedagógico- administrativo para que

todos pudessem visualizar os cartazes e, ao mesmo tempo, eles pudessem

estar protegidos da ação dos vândalos, uma vez que sempre tem um professor

ou pedagogo circulando, além dos assistentes administrativos.

Enquanto meio de comunicação, o cartaz concorre agora (não era

assim à cem anos onde era de longe o mais imponente) com muitos outros: o

panfleto, o mural, a rádio, a imprensa, a televisão, os outdoors, a internet, a

publicidade móvel, etc. Enquanto meio, aquilo que primeiro caracterizou o

cartaz e lhe deu vantagens comunicativas – o tamanho, a cor, e o tipo de

expressão – já não funcionam como funcionaram e por isso o cartaz deixou de

23

ser um meio efetivo para o anúncio a não ser em meios providenciados para o

efeito. Daí que dois ou três dias sejam a perspectiva de vida de um cartaz. O

cartaz, pela sua presença urbana tem uma vida curta.

4.7. ANÁLISE DO PÓS- TESTE

No pós-teste foram aplicadas as mesmas questões do pré-teste para

efeito de comparação com os dados obtidos antes da aplicação do projeto e

após o término do mesmo.

A hipótese levantada é de que as diferentes estratégias

metodológicas e a utilização de diversos ambientes dentro do espaço escolar

proporcionariam uma melhoria e uma facilitação no processo ensino-

aprendizagem.

O pós-teste foi realizado no período de 15 a 17 de junho em três

sétimas séries (8º ano) do Ensino Fundamental, no período normal de aulas.

Participaram da sondagem 102 alunos. As questões foram divididas em dois

grupos e trataram de informações sobre nutrição e sobre hábitos alimentares.

Constaram no pós-teste informações pessoais tais como: nome; idade; sexo;

peso e altura.

A sondagem inicial demonstra que 92,15% dos educandos nunca

participaram de alguma palestra/evento sobre alimentação, este número

diminuiu para 66,66% e dos 82,35% que afirmaram não ter conhecimento

sobre nenhum trabalho sobre alimentação na escola no pré-teste, agora

somente 1,96% afirmam isto. Estes resultados estão apresentados no gráfico

6.

Gráfico 6 - Resultado da questão sobre evento/palestra sobre alimentação

0 10 20 30 40 50 60

não

seminário nas aulas de ciências

escola

aulas de ciências

filme super size me

igreja

não

sim

24

O gráfico 7 relaciona o número de respostas dadas pelos

educandos quando inquiridos sobre o conhecimento da existência de

informações sobre alimentação na escola em que estuda.

Gráfico 7 – Resultado apontado pelos educandos quando questionados a respeito de

algum trabalho sobre alimentação na escola

O gráfico 8 apresenta o número de respostas relativas a questão

sobre quais deveriam ser os alimentos a serem ingeridos diariamente.

Gráfico 8 – Alimentos apontados com maior freqüência pelos educandos para serem

Ingeridos

Ao observar a freqüência das respostas sobre quais alimentos

devemos ingerir diariamente percebe-se que os alunos utilizaram os conceitos

frutas

legumes

carnes

arroz e feijão

cereais

leite

pães/massas/macarrão

sucos naturais

menos frituras/doces/refrigerantes

0 10 20 30 40 50

não

não respondeu

seminário nas aulas de ciências

apostila PDE

aulas de ciências

elaboração de cartazes

não respondeu

sim

não

25

de pirâmide alimentar e dieta balanceada para responderem uma vez que foi

apontado os itens verduras/saladas, frutas e legumes preferencialmente, além

de citarem o arroz com feijão que é o prato tradicional brasileiro.

As definições de nutrientes aproximaram-se mais do esperado,

devido aos conceitos que foram trabalhados em sala de aula e nota-se que a

maioria dos alunos compreendeu a importância dos nutrientes para

manutenção da saúde. A tabela 10 apresenta as respostas dos educandos

quando indagados sobre o conceito do termo nutrientes.

Frequência das respostas

Definição

13 Substância que tem no alimento que pode ser plástico,

energético e regulador e que cada função ajuda a termos saúde

11 Fibras, ferro e vitaminas que contém os alimentos

09 O que o corpo precisa para continuar saudável e

funcionar como deve

06 Substâncias que encontramos nos alimentos e que

fortalecem nosso corpo

05 Algo que nutre nosso organismo

05 O que compõe os alimentos

04 Encontrados em alimentos saudáveis

03 Tudo de bom que contém em certo alimento

02 Tudo que nosso corpo precisa

02 Substâncias encontradas nos alimentos e que mantém

a saúde

02 Parte saudável presente nos alimentos

01 Substância que nos sacia e nos dá energia

01 Serve para ajudar nosso organismo a combater diversos

tipos de doenças como obesidade

01 Leva a maior quantidade de energia para nosso corpo

25 Não responderam

12 Respostas erradas

Tabela 10 - Definições de nutrientes dadas pelos educandos

26

Quanto aos distúrbios alimentares, 67,64% dos educandos

apresentaram conhecimento sobre o assunto, ou seja, citaram que já ouviram

falar em distúrbios alimentares e os distúrbios citados estão em sua maioria

corretos e de acordo com conceitos apresentados no material de apoio, além

disso, alguns educandos citaram mais de um distúrbio como pode ser visto no

gráfico 9 onde o mesmo apresenta os resultados verificados.

Gráfico 9 – Distúrbios alimentares apontados pelos educandos

Quanto ao conceito de dieta balanceada nota-se que o percentual

saltou de 60,78% para 71,56%. A tabela 11 demonstra essa tendência.

Porcentagem Alternativa

28,43%

É aquela que leva em consideração a quantidade de alimentos: alguns devem ser consumidos em grande

quantidade e outros em pequena quantidade.

É aquela que leva em consideração a quantidade e a qualidade dos alimentos, portanto, alguns alimentos são

proibidos.

71,56% É aquela que ajuda a compor uma alimentação saudável

levando em conta a quantidade e a qualidade, não existindo alimentos proibidos.

Tabela 11 – Opinião dos educandos em relação a dieta balanceada

02468

101214161820

não responderam

sim

não

27

Em relação ao número de refeições ao longo do dia, houve um

acréscimo no número de alunos que começaram a fazer seis refeições como

aconselham os nutricionistas como pode ser visto no gráfico 10. Na sondagem

inicial este percentual era de 1,96% a agora aparece em torno de 10%.

Gráfico 10 – Número de refeições que os educandos realizam ao longo do dia

Considerando a ingestão de legumes, verduras, frutas, cereais, leite

e carnes houve um aumento de 30,39% para 48,03% na ingestão destes

produtos várias vezes durante a semana. Nota-se também que os educandos

que raramente consomem frutas, verduras, legumes (com exceção de

batatas), caíram de 20,58% para 14,70%. Os educandos que não

costumavam prestar atenção na alimentação, também diminuíram passando

de 28,43% para 16,66%. A nova situação está colocada na tabela 12.

Quando provocados a citarem situações em que ocorre o

aproveitamento total dos alimentos, 87,25% dos educandos referem-se a

partes que estão sendo utilizadas em suas residências, contrapondo-se com

31,37% que responderam aproveitar algumas partes na sondagem anterior. A

tabela 13 apresenta a nova tendência para o aproveitamento de partes de

vegetais no preparo dos alimentos.

10%

19%

53%

7%10%

1%café da manhã, almoço, lanche da tarde e jantar

café da manhã, colação, almoço, lanche da tarde e jantar

café da manhã, colação, almoço, lanche da tarde, jantar e ceia

mais de 6 refeições

10%

19%

53%

7%10%

1%

almoço e jantar

café da manhã, almoço e jantar

café da manhã, almoço, lanche da tarde e jantar

café da manhã, colação, almoço, lanche da tarde e jantar

café da manhã, colação, almoço, lanche da tarde, jantar e ceia

mais de 6 refeições

28

Porcentagem (%) Alternativa

16,66 Não costuma prestar atenção na alimentação

14,70 Raramente consome frutas, verduras, legumes

(com exceção de batatas), pois, não gosta

13,72

Gosta e aceita alimentação variada (frutas, verduras e legumes) mas encontra dificuldade em consumi-las, pois não é possível a oferta

destes alimentos em casa

0 Não consome frutas, verduras e legumes porque

não gosta e, por razões diversas também não estão disponíveis em casa

6,86

Como não gosta de frutas, verduras e legumes, não os consome (embora estejam disponíveis

em casa), mas julga alimentar-se adequadamente

48,03 Ingere estes produtos várias vezes durante a

semana

Tabela 12 – Hábitos de ingestão de legumes, verduras e frutas apresentados pelos

educandos após a aplicação do projeto

Respostas Número de alunos Porcentagem

(%)

Não são aproveitadas

04 3,92

Algumas são aproveitadas

89

Exemplos de partes Frequência

de respostas

87,25

Cascas de frutas 71

Talos de legumes 12

Sementes de abóbora

07

Folhas de beterraba 06

Casca de legumes 05

Entrecasca de maracujá

02

Sementes de maracujá

02

Preparação de adubos

02

Todas são aproveitadas

0 0

Não responderam

09 8,82

Tabela 13 – Aproveitamento dos alimentos apontados pelos educandos

29

5.CONSIDERAÇÕES FINAIS

A muito se discute a qualidade do ensino público e a necessidade do

enfrentamento dos problemas apontados pelos diferentes pesquisadores na

área de educação. A resistência em aplicar novas estratégias metodológicas ,

a formação acadêmica insatisfatória , a precariedade das condições materiais

no ambiente escolar , a utilização do livro didático como única fonte de

pesquisa, questões relativas aos currículos escolares, o desinteresse por parte

dos educandos e a desmotivação e desvalorização do magistério inibem o

profissional da educação em buscar condições inovadoras para facilitar a

aprendizagem. As considerações anteriores apontam um desafio fundamental:

a necessidade de profundas mudanças na metodologia arcaica presente nas

escolas.

Sendo a escola um espaço privilegiado de reflexão e discussão,

colabora na construção dos valores alimentares, aqui entendidos como as

representações, conscientes ou não, positivas ou negativas, associadas a

uma prática ou a um objeto social (Poulain & Proença, 2003, p.370). A

construção destes valores, pode levar a uma mudança na maneira pela qual a

pessoa se situa em relação às práticas alimentares do seu grupo social,

repensando a influência dos fatores externos em relação ao seu

comportamento alimentar, a saúde individual e a formação de hábitos. Sendo

assim, o conhecimento deve transpor barreiras e contribuir para a profilaxia de

muitas enfermidades metabólicas que incidem com maior freqüência nas

pessoas que têm hábitos alimentares irregulares.

Na implementação do projeto PDE, visamos contribuir com políticas

públicas eficazes de mobilização da comunidade escolar na discussão do

direito humano à alimentação. A reunião de um conjunto de estratégias

metodológicas variadas e a utilização de material didático complementar teve

efeito positivo em sala de aula, sensibilizando os educandos na prevenção a

doenças e conseqüente manutenção da saúde, a partir de modificações em

seus hábitos alimentares.

A garantia da qualidade e da adequação nutricional está

relacionada também as condições econômicas da população e sendo a

30

escola pública que atende as camadas mais vulneráveis, foi de suma

importância alertar para a forma de preparo mais adequada e a maneira de

aproveitar melhor os alimentos, combatendo o desperdício.

O processo de aprendizagem não acaba em si mesmo, mas, cada

educando atua como agente social e mobilizador em sua família e em sua

comunidade, repassando estes conhecimentos.

As atividades desenvolvidas durante a implementação do projeto na

Escola fortaleceram as relações nos grupos discentes, docentes e equipe

administrativo-pedagógica através da cooperação e mobilização para realizar

as diversas atividades propostas, contribuíram desta forma, para a melhoria da

educação na escola pública paranaense.

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