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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL WILLIAN CARVALHO SEGNOR A CONSTRUÇÃO DA IMAGEM DO GAÚCHO NAS CAMPANHAS AUDIOVISUAIS DA CERVEJA POLAR CAXIAS DO SUL 2015

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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

WILLIAN CARVALHO SEGNOR

A CONSTRUÇÃO DA IMAGEM DO GAÚCHO NAS CAMPANHAS AUDIOVISUAIS

DA CERVEJA POLAR

CAXIAS DO SUL

2015

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WILLIAN CARVALHO SEGNOR

A CONSTRUÇÃO DA IMAGEM DO GAÚCHO NAS CAMPANHAS AUDIOVISUAIS

DA CERVEJA POLAR

Monografia de conclusão do curso de Comunicação Social, habilitação em Publicidade e Propaganda da Universidade de Caxias do Sul, apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel. Orientador: Prof. Ms. Ronei Teodoro da Silva.

CAXIAS DO SUL

2015

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WILLIAN CARVALHO SEGNOR

A CONSTRUÇÃO DA IMAGEM DO GAÚCHO NAS CAMPANHAS AUDIOVISUAIS

DA CERVEJA POLAR

Monografia de conclusão do curso de Comunicação Social, habilitação em Publicidade e Propaganda da Universidade de Caxias do Sul, apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel. Aprovado em ___/___/___

Banca Examinadora ________________________________ Prof. Ms. Ronei Teodoro da Silva Universidade de Caxias do Sul – UCS ________________________________ Prof. Ms. Isabel Almeida Marinho do Rêgo Universidade de Caxias do Sul – UCS ________________________________ Prof. Ms. Maria Goréte do Amaral Gedoz Universidade de Caxias do Sul – UCS

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AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar a minha família que sempre esteve ao meu lado,

independente da situação em que estive. Meu pai Valdecir Segnor, minha mãe

Jaqueline Maria de Carvalho Segnor e a minha irmã Karine Segnor.

Ao meu Vô Dorvalino de Carvalho, que é uma pessoa digna de respeito pela

incrível jornada em sua vida e que serve de inspiração para minha vida.

Ao meu padrinho de batismo e crisma José Erlei de Carvalho, que contribuiu

muito para meu crescimento pessoal e profissional.

Ao meu Tio Adenil Bisolo, minha tia Mara de Carvalho, minha primas Marina

Bisolo e Fernanda de Bisolo por serem tão amáveis com pessoas.

Um agradecimento especial ao orientador e professor Ronei Teodoro da Silva

pelos grandes ensinamentos ao longo da minha vida acadêmica.

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RESUMO

Este trabalho tem como objetivo fazer uma análise da construção da imagem do gaúcho nas campanhas audiovisuais da cerveja Polar. A pesquisa apresenta informações sobre representação social, estereótipo e o discurso publicitário. Por meio deste estudo estabeleceram-se seis categorias, nas quais foram aplicadas análise de discurso e análise de conteúdo para cinco peças da marca. Esta pesquisa busca entender de que maneira os elementos presentes do discurso e na imagem destas peças publicitárias contribuem para a construção da imagem do gaúcho. Palavras Chaves: Construção de imagem. Discurso Publicitário. Análise de imagem. Publicidade. Cerveja Polar.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1...................................................................................................................31

FIGURA 2...................................................................................................................37

FIGURA 3...................................................................................................................39

FIGURA 4...................................................................................................................41

FIGURA 5...................................................................................................................43

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 7

2 REPRESENTAÇÃO SOCIAL ............................................................................ 9

3 DISCURSO PUBLICITÁRIO ................................................................................ 17

4 ESTEREÓTIPOS ................................................................................................. 22

5 METODOLOGIA ................................................................................................... 29

5.1 SELEÇÃO DOS ANÚNCIOS .............................................................................. 28

5.2 PROCEDIMENTOS ANALÍTICOS ..................................................................... 28

6 ANÁLISE ............................................................................................................... 30

6.1 ARGUMENTAÇÃO ............................................................................................ 30

6.2 CONVERSAÇÃO ............................................................................................... 37

6.3 MARCA CULTURAL .......................................................................................... 39

6.4 ASPECTO VISUAL ............................................................................................ 41

6.5 SITUAÇÃO ......................................................................................................... 43

7 CONCLUSÃO ....................................................................................................... 46

8 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 48

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1 INTRODUÇÃO

Dois amigos entram em um bar rústico e conversam usando um linguajar

tipicamente gaúcho. Em determinado momento, um dos personagens chama o

garçom e pede: “Tchê, mas vê pra nós aquela cerveja que só tem aqui no Rio Grande

do Sul”. O garçom, já identificado com o discurso, atende ao pedido e os amigos

preparam um brinde após receber a cerveja: “Maas Ahh! Agora sim! Um brinde para

a melhor ceva do mundo”. Essa cena parece de algum filme característico do estado

do Rio Grande do Sul, mas é um comercial da Polar, uma cerveja que busca usar em

suas campanhas publicitárias aspectos da cultura gaúcha.

Segundo Gambim (2014), a Polar Export foi fundada em 1945 e é uma das

cervejas mais antigas do estado do Rio Grande do Sul. Desde o ano 2000 a marca

pertence ao grupo Ambev (Companhia de Bebidas das Américas), que é considerada

uma das maiores indústrias privadas de bens de consumo do Brasil.

Durante o ano de 2003, a Ambev optou em modificar o posicionamento da

Polar e direcionar os esforços de marketing para o estado do Rio Grande do Sul. De

acordo com Martins (2006), o lançamento de uma marca com imagem elitizada e

grande proporção de Branding foi uma das maneiras encontradas pela Ambev para

enfrentar a concorrência de um mercado competitivo.

Neste propósito de conquistar a preferência dos consumidores, a Polar

passou a utilizar aspectos culturais do gaúcho em suas campanhas publicitárias. O

uso de um apelo regionalista procurou diferenciar a marca diante das centenas de

cervejas presentes no mercado. A campanha publicitária “Nossa cerveja, nossa

Polar”, criada em 2003, refletiu o posicionamento da marca, que a partir desta data,

iniciava seu direcionamento para o público gaúcho.

Desde então a Polar vêm produzindo suas campanhas publicitárias com foco

nas tradições gaúchas e no orgulho do gaúcho pela sua terra. As ações de

comunicação da marca são focadas para o público consumidor de cerveja do estado

do Rio Grande do Sul, porém a marca também está presente em alguns outros

estados do Brasil.

De acordo com Paulin (2009), o orgulho do povo gaúcho vai muito além do

aspecto folclórico e sofre impacto também na preferência de produtos típicos da

região. Na mesma proporção em que a preferência pelas marcas locais em outros

estados e regiões do Brasil é mais comum nas classes D e E, no Rio Grande do Sul

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a escolha abrange também os mais ricos (PAULIN, 2009).

Um levantamento realizado pela consultoria Nielsen mostrou que os gaúchos

consomem 31% dos bens não duráveis na região, sendo quase o dobro da média

nacional. É o único lugar do Brasil que os mais ricos são grandes consumidores das

marcas regionais (PAULIN, 2009).

Este estudo revela que as empresas que abraçam as tradições do Rio Grande

do Sul possuem mais facilidade de abranger um grande público e de conseguir a

confiança dos gaúchos. Segundo Paulin (2009), a insistência de valorizar o estado

pelo gaúcho é refletida no momento de escolher um determinado produto.

O povo gaúcho, entendido como a população do Rio Grande do Sul, é

identificado principalmente pelo espírito guerreiro, forte e amante dos costumes da

sua terra. (LARA, 1985). Através disso, o desafio das empresas que atuam no estado

é de promover uma comunicação que seja próxima destas tradições para obtenção

de uma imagem positiva frente aos consumidores. A partir deste cenário, a seguinte

questão pode ser levantada: como o discurso publicitário utiliza valores de uma

determinada cultura como apelo persuasivo? Com base nesta questão, este trabalho

tem como objetivo geral analisar a representação social do gaúcho nas campanhas

audiovisuais da cerveja Polar. Os objetivos específicos são: Verificar a presença de

estereótipos, analisar a construção da representação a partir do cenário, aparências

e maneiras e observar as narrativas audiovisuais construídas como elemento de

persuasão.

Este presente trabalho pretende contribuir com os campos das produções

audiovisuais e dos estudos sobre discurso publicitário. Procura-se, por meio desta

pesquisa, auxiliar os comunicadores no desenvolvimento de estratégias para

produções audiovisuais publicitárias.

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2 REPRESENTAÇÃO SOCIAL

No intuito de conseguirmos identificar como a imagem do gaúcho é

representada nas campanhas publicitárias da Polar, é importante inteirarmo-nos sobre

os conceitos das representações sociais.

No contexto da Psicologia Social, de acordo com Moscovici (2004), a

representação busca aproximar elementos que estão obscuros para um individuo em

determinado grupo social. Esse contato possibilita a classificação de objetos, letras,

palavras e promove a conceituação de ações e sentimentos. De acordo com o autor,

é por intermédio das representações sociais que o ser humano pensa ou exprime seus

sentimentos, podendo ser diferente para cada sujeito, dependendo de cada cultura

em que está inserido e como ocorre o desenvolvimento.

Moscovici (2004) descreve que o termo “representação social” pode ser

definido como:

Um sistema de valores, ideias e práticas, com uma dupla função: primeiro, estabelecer uma ordem que possibilitará às pessoas orientar-se em seu mundo material e social e controlá-lo; e, em segundo lugar, possibilitar que a comunicação seja possível entre os membros de uma comunidade fornecendo-lhes um código para nomear e classificar, sem ambiguidade, os vários aspectos de seu mundo e da sua história individual e social. (MOSCOVICI 2004, p. 21).

A categorização de elementos, indivíduos e ambientes surge no atual contexto

como um modo de explicar, interpretar e refletir a realidade diária de cada indivíduo

inserido no mundo social.

Moscovici (2004) afirma que a representação social consiste em uma forma

de se preparar para uma determinada ação, que pode conduzir o comportamento

humano e modificar e reconstituir os elementos de um ambiente, pois o homem é um

ser pensante que procura continuamente por questões e respostas enquanto divide

suas interpretações de realidades com diferentes indivíduos.

Uma realidade comum entre os seres humanos configura um consenso

igualmente para Jodelet (2001, p.22), que define representação social da seguinte

forma:

Uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, com objetivo prático, e que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social. (JODELET 2001, p.22).

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Segundo a autora a representação social permanece em ação na vida social,

norteando e organizando os comportamentos e as comunicações sociais de cada

sujeito social envolvido em uma determinada situação.

De acordo com Jodelet (2001), o indivíduo apresenta a necessidade de estar

continuamente informado a propósito dos acontecimentos do mundo em função de

não viver em um vácuo social. O compartilhamento de informações com os demais

membros da sociedade é uma maneira de ser aceito perante o coletivo, e por isso é

fundamental conduzir estes conceitos de uma forma adequada para não ocorrer

problemas durante o processo de socialização. Desta maneira, pode-se entender que

a representação social é um reflexo da interação entre os seres humanos, integrados

socialmente entre diferentes culturas e que constroem uma história individual, e

conseguintemente, uma história social.

Segundo Jodelet (2001), as maneiras com que os amigos, familiares e as

mídias recebem um determinado assunto ou informação, podem influenciar na

experiência individual e também na forma com que o sujeito vai construindo a sua

representação.

Jodelet (2001) descreve que a representação social configura um fenômeno

complexo, pois diversos elementos contribuem em uma investigação profunda como

informações cognitivas, ideológicas normativas, crenças, valores, atitudes, opiniões,

imagens – e são organizadas de uma forma de buscar um significado real. A inclusão

da ação diante do contexto está no centro de uma investigação científica e, neste

caso, a pesquisa contém um papel de importância na definição, avaliação diagnóstica,

explanação das dimensões, processos, e funcionamento das prestações sociais.

No cotidiano de cada um dos indivíduos, a presença da representação social,

constitui uma forma de sabedoria que se apresenta através de grupos, imagens,

princípios e concepções. Este contato por intermédio do contexto social facilita a

comunicação entre as pessoas e determina formas e maneiras de comportamento

adequadas (ROCHA E SILVA, 2007).

Entretanto, é importante observar que determinada interpretação de uma

circunstância pode construir significados diferentes da concepção inicial, e isso pode,

de certa forma, gerar interações sociais de supremacia e aspirações de verdade entre

os indivíduos (ROCHA e SILVA, 2007).

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As atividades exercidas pelos indivíduos em uma sociedade fazem parte da

representação social, pois conforme Goffman (2007), no momento em que um

indivíduo encontra-se na presença de outros, busca incorporar em seu desempenho

os valores reconhecidos pela coletividade, uma vez que desta forma o cidadão

reafirma os valores sociais legitimados pela sociedade. A representação de um sujeito

em uma sociedade é constituída por objetos que contribuem significamente na sua

identificação. A representação de um indivíduo em uma determinada sociedade é

composta por elementos que auxiliam na sua identificação.

Segundo Goffmam (2007), os elementos são: cenário, aparências e maneiras.

O “cenário” é composto pelos objetos e instrumentos que identificam o ambiente em

que a pessoa está inserida. A “fachada social” é conhecida através das expressões

faciais de um indivíduo, como gestos corporais e padrões de linguagem. As

“aparências” evidenciam aspectos indumentários de uma pessoa. Já as “maneiras” se

revelam através dos estímulos da pessoa no momento em que uma determinada

situação está para acontecer.

De acordo com Goffman (2007), este modelo de representação é uma das

técnicas para compreender o mundo social. A utilização da dramaturgia no contexto

das teorias de representação social facilita a percepção do mundo real. O

entendimento destes conceitos é facilitado através do exemplo da representação de

um profissional como o dentista frente ao seu paciente:

O “cenário” utilizado pelo dentista em seu exercício de trabalho é um espaço

que contém diversos aparelhos de uso odontológico, quadros de certificações na

parede e muitos objetos de uso higiênico. A vestimenta usada pelo doutor, incluindo

jaleco branco, luvas, touca e máscara revelam as “aparências” de um profissional da

saúde. A “fachada social” é reconhecida através dos gestos e expressões faciais que

este profissional deve ter, como por exemplo, o uso de jargões adequados da área

para explicar uma cárie no dente. O modo com o que o dentista age no momento de

uma operação, incluindo a sabedoria e certeza nos processos de execução do

trabalho demonstram as “maneiras” com que enfrenta a situação.

Este exemplo facilita a compreensão dos argumentos apresentados por

Goffmam (2007), pois esclarece e conceitua que uma representação acontece a partir

de uma determinada situação em que se encontra indivíduo. Ou seja, uma mesma

pessoa pode desempenhar um papel social distinto, dependendo da circunstância em

que está presente.

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A pessoa presente no ambiente descrito acima reconhece seu papel social de

paciente de um consultório odontológico através dos elementos que compõe a

representação social. O paciente identifica que está em um dentista através dos

elementos que o ajudam na compreensão dos fatos. Este mesmo indivíduo pode

assumir diversos papéis sociais ao longo do dia, conforme a quantidade de situações

em que se encontra.

Goffman (2007) afirma que é através destes elementos que um indivíduo

busca se posicionar na sociedade e planejar suas respostas para outras ações. Com

a progressão das relações, é possível que ocorra algumas modificações nas

informações iniciais, o que também influenciará na representação do papel exercido

pelo individuo. De acordo com Goffman:

Quando um indivíduo desempenha um papel, implicitamente solicita de seus observadores que levem a sério a impressão sustentada perante eles. Pede-lhes para acreditarem que o personagem que veem no momento possui os atributos que aparenta possuir, que o papel que representa terá as consequências implicitamente pretendidas por ele e que, de modo geral, as coisas são o que parecem ser. (GOFFMAN 2007, p. 25).

As representações sociais constituem formas de materializar os fragmentos

do imaginário social. Diante do contexto da comunicação social, a representação é

vista como uma produção de significados construídos por meio da linguagem e

partilhados entre os integrantes de uma determinada cultura (HALL, 1997).

De acordo com Hall (1997), a representação social advém por intermédio da

articulação de ideias e da linguagem, na qual nos permite conceder significado ao

mundo e compartilhá-lo com os demais membros da sociedade. No entanto, quando

nos referimos ao campo das representações e dos significados, percebemos que este

não é estável e muito menos significativo, levando-se em conta a diversidade cultural.

Para Gastaldo (2000), os diferentes significados de um acontecimento ou

elemento permanecem em constante luta dentro do campo social, podendo prevalecer

sobre os demais conceitos como a versão dominante do objeto. Desta maneira, alguns

conceitos no campo social se perdem, outros são criados, e, consecutivamente novos

significados configuram a dinâmica cultural das sociedades. No contexto das ciências

sociais a representação social encontra-se ligada ao conceito de cultura.

Hall (1997) afirma que a cultura de um grupo pode ser compreendida ou

mesmo definida através do somatório dos significados partilhados por este grupo, na

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qual possibilitará aos seus membros apreender e interpretar o mundo de forma

análoga. Pode-se dizer que a representação social exerce um papel importante na

criação dos significados nas variadas culturas existentes nos meios sociais.

De acordo com Goffman (2007) o sujeito influencia o comportamento das

demais pessoas em função de suas ações, deixando transparecer uma impressão

com o intuito de conseguir determinadas respostas dos observadores que lhe

interessam. Porém, em algumas vezes o sujeito poderá estar atuando sem ter

consciência disto.

O autor resalta que, na multiplicidade das ocasiões não será o sujeito que

mudará sua conduta individual perante a sociedade, mas sim seu grupo social ou

tradição na qual o indivíduo pertença, pois é o seu ser social que

determina sua consciência.

Segundo Goffmam (2007) o ser humano atua conforme os anseios que deseja

transmitir ao receptor da mensagem, podendo variar conforme as relações entre os

sujeitos em uma determinada posição cotidiana, mesmo porque o desempenho dos

papéis sociais relaciona-se à forma como cada pessoa concebe a sua imagem e a

espera manter.

O processo de representação social abrange a compilação de informações

recebidas pelo cérebro (codificação), com inclusão dos estímulos físicos em uma

categoria específica. Basicamente a representação é um sistema de classificação e

denotação de categorias e nomes e as informações oriundas da sociedade nos

ensinam como as pessoas pensam e o que exatamente pensam (MOSCOVICI, 2004).

Segundo Jodelet (2001), a representação social observa a comunicação de

massa como condição de expectativa e determinação, visto que é por intermédio da

comunicação em larga escala que ideias podem difundir-se e chegar a membros de

grupos sociais, motivando um grande debate no domínio público.

O estudo de campo e pesquisas desempenhadas a respeito das

representações sociais parece ser um caminho promissor para alcançar os propósitos

deste trabalho, tendo em vista que investiga precisamente como se formam e como

funcionam os sistemas de referência para classificar indivíduos, grupos e interpretar

os acontecimentos da realidade do dia-a-dia.

Nas sociedades contemporâneas frequentemente um indivíduo recebe

diversas informações durante o dia. Os eventos que surgem no âmbito social

comumente afetam os sujeitos de algum modo, aproximando-os daquilo que já

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conhecem através das palavras que estão inseridas nos argumentos. Nas conversas

cotidianas em casa, no ambiente de trabalho ou com os amigos, os sujeitos são

condicionados a se manifestar a respeito de um assunto buscando sempre encontrar

explicações, perpetrando julgamentos e assumindo posições (JODELET, 2001).

As representações sociais constituem formas de pensamento prático e que

norteiam para a concepção e o domínio do espaço social na medida em que possuem

particularidades específicas no plano da organização dos conteúdos, das operações

mentais (as estruturas cognitivas são como sistemas organizados de informação

armazenada) e da lógica, principalmente no que diz respeito à estrutura e às

expressões humanas do conhecimento.

De acordo com Codol (1988), as pessoas se atualizam e expressam seus

pensamentos através da fala e do comportamento individual. Essa identificação de

regularidades e diferenças de grupos é uma comprovação de que determinadas

representações são partilhadas no âmbito de cada grupo social. Entretanto, as

situações projetadas pelos indivíduos não acontecem desprotegidas e fazem parte de

uma cooperação na qual participam outras pessoas da sociedade.

Segundo Goffmam (2007), o grupo de pessoas é chamado de “equipe” e

contribui na atuação de uma vida particular. Neste processo acontece uma interação

entre os papeis que cada indivíduo exerce, ocasionando em uma conexão entre os

participantes de uma maneira em que cada pessoa é condicionada a se comportar

idêntica à outra. É neste momento de interação entre os indivíduos que a publicidade

busca direcionar suas mensagens, pois busca usar papeis já existentes na sociedade

como uma maneira de propagar seu produto.

A publicidade busca criar desperte no público alvo o desejo pela compra

através de um argumento eficiente, e isto pode ser realizado através da construção

de uma representação de um determinado grupo social. Isto transparece sob a forma

de um anúncio publicitário, na qual se faz presente um sistema de valores e

comportamentos socialmente atribuídos ao grupo em questão (GASTALDO, 2000).

De acordo com Rocha (1995), a publicidade contribui na construção de um

complexo conjunto de representações sociais que expressa identidades, diferenças,

subjetividades, projetos e interações, além de definir capitais sociais de interesse por

parte das organizações e sociedade em geral. É neste contexto que os sujeitos

encontram o melhor caminho para a satisfação de suas vontades e necessidades

básicas, pois as mensagens publicitárias veiculam representações dos imaginários e

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memórias coletivas por intermédio dos meios midiáticos. No entanto, é preciso frisar

que o principal objetivo da mensagem é chamar atenção, manter o interesse,

despertar o desejo e obter lucro. Segundo Rocha (1995):

[...] o espectador de publicidade precisa acreditar no anúncio para que a vida ali projetada ofereça o sentido de gratuidade e abundância do consumo. O produto entra nas vidas projetadas pelo anúncio, funcionando como mágica. É improvável que o anúncio coloque algum problema, questão e impasse que ele mesmo não possa resolver. É uma marca da cultura representada dentro da propaganda que os bens de consumo supram as necessidades na forma como elas são projetadas para serem supridas. Isto sem falar de “necessidades abstratas” como amor, carinho, afeto, alegria, e tantas mais que, de alguma forma, acabam também resolvidas ali dentro. (ROCHA 1995, p.203).

Kellner (2001) afirma que a publicidade busca individualizar os produtos,

transformando-os em objetos que coexistem no universo de cada indivíduo. Os

anúncios esforçam-se para projetar um modelo de vida que seja próxima da realidade

cotidiana. Consequentemente, as pessoas de um modo geral aprendem a se

identificar com valores, pois é um importante instrumento de socialização que de modo

inclusivo determina a demanda do consumidor.

No decorrer de cada dia as pessoas são influenciadas pelos elementos

culturais, visto que a publicidade recebe, codifica e insere novos significados,

relacionando ao tema que está sendo divulgado nos meios. A publicidade busca ser

representante do cenário da midiatização em termos econômicos e ideológicos, pois

além de apresentar e vender produtos também transmite igualmente conceitos,

valores e estilos de vida (PIEDRAS, 2004).

De certa forma, as representações sociais possuem como propósito tornar o

desconhecido em algo próximo da sensação dos sentidos. O processo de

transformação é determinado pelas imagens, ideias, linguagens e são compartilhadas

por um grupo social. Consequentemente, esta semelhança tem certo discernimento

para avaliar se é importante recuar ou continuar a ponto de visualizar o aspecto

desconhecido que a representação social envolveu.

Jodelet (2001) ressalta que as representações sociais são sistemas que

registram nossa interação com o mundo, indivíduos e grupos sociais, norteando e

organizando as condutas e as comunicações sociais. Por outro lado, influencia nos

processos sociais contemporâneos, diversificando a difusão e assimilação dos

conhecimentos e a definição das identidades pessoais e sociais. Ou seja, a

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representação social faz que ocorra um modelo de interpretação e comunicação ao

mesmo tempo de produção e elaboração de conhecimentos.

A partir do momento em que o conhecimento é compartilhado em um grupo

social, possibilita um novo entendimento em relação à produção e sistematização do

pensamento. O ressurgimento do termo representação social promovido pela

psicologia renova o estudo do tema, pois é uma nova forma de compreender valores

e visões que os grupos sociais formulam a respeito do próprio mundo.

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3 DISCURSO PUBLICITÁRIO

Segundo Muniz (2001), o termo “publicidade” surgiu em meados do século

XIX na França e indicava o ato de divulgar, tornar público e teve origem no latim

publicus (que significava público). A palavra era utilizada principalmente para

divulgação de conteúdo jurídico, estritamente ligado a assuntos públicos.

Com a evolução da economia ao longo dos anos percebeu-se a importância

de aumentar o consumo dos bens fabricados em decorrência do desenvolvimento da

indústria e da produção em larga escala. Com isso, foi necessário elaborar novas

práticas para a difusão das mensagens que eram oferecidos ao público em geral. A

constituição deste novo formato de comunicação aconteceu através do

aperfeiçoamento das técnicas publicitárias, pois desta forma criou-se um elo entre a

oferta e a procura massiva pelos bens ou produtos ofertados, influenciando inclusive

na mudança de hábitos do cliente em potencial (MUNIZ, 2001).

De acordo com Sant’anna (1995), foi através do surgimento de uma nova

classe social e a da evolução da produção em massa que foi necessário aumentar o

consumo dos bens produzidos. Desta maneira, a publicidade tornou-se mais

persuasiva, perdendo a acepção inicial de natureza meramente informativa.

A publicidade é uma das várias forças de comunicação que, atuando isoladamente ou em combinação, cumpre sua missão, quando contribui para levar o consumidor através de um ou mais níveis de comunicação: conhecimento da existência do produto, a compreensão de suas características e vantagens; a convicção racional ou emocional de seus

benefícios e, finalmente, a ação que conduz a uma venda. (SANT’ANNA

1995, p.78).

Segundo Pinheiro (1991), a publicidade é uma área da comunicação, que

transmite suas mensagens informando aos consumidores a existência de um produto

ou serviço e a possibilidade de encontrá-los no mercado. Por intermédio dos

processos de comunicação, a publicidade cria um discurso que causará um sentido,

que poderá ou não despertar desejo de compra no público na qual a mensagem se

destina.

Através das diferentes maneiras de propagar suas mensagens, a publicidade

insere em seu repertório mitos, valores, ideias, símbolos e tantos outros recursos para

captar a atenção do receptor.

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De acordo com Tavares (2005), a estrutura discursiva publicitária está

baseada nos princípios de Aristóteles na retórica:

Considerando seu método discursivo, a estrutura persuasiva do texto publicitário está baseada em princípios estabelecidos por Aristóteles há mais de 2 mil anos na retórica. São eles: o apelo à emoção, o oferecimento da prova e o apelo à credibilidade do comunicador. (TAVARES 2005, p. 16).

Segundo Sant’Anna (1995), diante dos princípios estabelecidos por

Aristóteles, o método que mais agrada o consumidor no momento da compra é o apelo

de emoção. Este argumento valoriza os benefícios do produto e relaciona com a

possível obtenção do prazer.

O apelo emotivo desperta na mente do consumidor um sentimento de

pertencimento e satisfação, pois a publicidade não se preocupa em somente lucrar

com o produto, mas sim de propagar variadas representações, estilos e sensações.

Paralelo ao anúncio comercial mostra-se uma ideologia do produto que colabora na

construção de uma realidade homogênea entre os indivíduos da sociedade

(GASTALDO, 2000).

A publicidade busca propagar diversas identidades em seus consumidores

com o intuito de projetar diferentes estilos de vida. A sensação ilusória desconsidera

o desconforto da realidade e mostra um universo fantasioso nos comerciais

publicitários. A era de globalização molda personalidades à lógica de consumo e

propicia o compartilhamento do sentimento de grande potencial para o sujeito, situado

sob a forma do consumo (ROLNIK, 1997).

O discurso é um dos instrumentos usados pela comunicação para propagação

e difusão das mensagens. Diante dos variados discursos presentes na área, como a

dramaturgia e jornalismo, por exemplo, o discurso publicitário é o que está mais

suscetível a representações estereotipadas. Isto acontece em função do pequeno

espaço de tempo em que as empresas dispõem para anunciar e divulgar o produto. A

utilização de um discurso baseado em uma representação facilita a compreensão da

mensagem pelo público alvo (GASTALDO, 2000).

Gastaldo (2000) relata que, na tentativa de captar a atenção do consumidor,

a publicidade procura “decifrar” no contexto de cada grupo social, um argumento que

poderia induzir uma pessoa a comprar determinado produto. Desta maneira, o

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discurso cria uma imagem para representar este anúncio, na qual se procura mostrar

um sistema de valores e comportamentos da sociedade.

De acordo com Tavares (1995), o discurso persuasivo está em evidencia na

retórica publicitária em função das formas textuais e linguísticas presentes em

diversos contextos socioculturais. Esta maneira de comunicar facilita o entendimento

da mensagem pelo público alvo, tendo em vista que o texto fica mais fácil de ser

reconhecido e compartilhado no ambiente social.

A persuasão é uma das características do discurso publicitário e possui a

capacidade de emocionar o receptor. Persuadir é ser capaz de gerenciar uma relação

com o intuito de emocionar o receptor. O ato de persuadir acontece quando

sensibilizamos outra pessoa através da inserção de um elemento no campo das

emoções. No momento em que persuadimos um indivíduo, esta pessoa passa a fazer

algo que gostaríamos que realizasse (ABREU, 2009).

Gomes (2003) afirma que, o ato de persuadir presume convencer, e por isso

é necessário o processo de motivação. A publicidade usa elementos de motivação

nos anúncios com o intuito de conseguir com que o receptor acredite que o produto

divulgado pode satisfazer suas necessidades fisiológicas ou psicológicas.

A retórica de uma imagem publicitária busca se antecipar a acontecimentos e

sintetizar tendências culturais para moldar comportamentos de determinados grupos

sociais. A estrutura de um anúncio publicitário está encoberta de ideologias e, no

momento em que resguarda um interesse privado, também defende uma ideologia

para manter a estrutura hierárquica da sociedade (GASTALDO, 2000).

De acordo com Tavares (2005), a ideologia está relacionada com a

publicidade pela proposta de uma visão de mundo que representa a organização da

vida coletiva. Isto acontece através na inserção de valores na prática do consumo,

pois isto de certa forma aperfeiçoa o conhecimento e a organização de uma

sociedade.

Segundo Gastaldo (2000), as ideologias presentes nos anúncios publicitários

não determinam uma “hegemonia” ideológica no campo social, mesmo que nesta

representação aconteça o ato de persuadir.

O discurso publicitário utiliza provérbios, imagens, canções populares e outros textos conhecidos do público alvo e, introduzindo pequenas modificações, ressemantizam esses elementos no contexto da peça publicitária em questão. Se por um lado este procedimento auxilia as peças publicitárias a cumprirem seu objetivo imediato, por outro, colabora para a

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reafirmação do texto pré-existente, cumprindo com uma função eminentemente conservadora, colaborando na manutenção da ideologia hegemônica. (GASTALDO 2000, p.15).

Tavares (2005) afirma que o discurso publicitário manipula os consumidores

e o grupo social através da inserção de um mundo fantasioso em seus anúncios. O

discurso busca, desta forma, “moldar” os produtos através de um apelo que busca

seduzir, pois a mensagem é direcionada a um sujeito que possui afetos, projeções,

identificações e desejos.

De acordo com Gastaldo (2000), a influência do discurso publicitário como

uma ideologia acontece pelo fato de não possuir uma preocupação plena com a

verdade. As diversas regulamentações da categoria fiscalizam mentiras e

enganações, porém não impedem que os anúncios utilizem em seu repertório

elementos simbólicos, mágicos e sedutores.

Isto torna o discurso um propagador da fábula e da fantasia, pois a poderosa

magia do produto está a favor do consumidor. Neste mundo fantasiado proporcionado

pela publicidade, de certa forma, não existem problemas e a pessoas alcançarão a

felicidade ao adquirir o produto (GASTALDO, 2000).

Gastaldo (2000) completa dizendo que o discurso publicitário não retrata a

realidade de um acontecimento da mesma maneira que o jornalismo, por exemplo. A

publicidade não tem a preocupação de ser plenamente verdadeira, pois representa

um fato através de uma linguagem metafórica, simbólica e mística. Essa liberdade do

discurso busca proporcionar campanhas publicitárias criativas, e por isso, o intuito das

empresas ao anunciar determinado produto é construir marcas mitológicas com a

utilização de argumentos eficientes diante dos consumidores.

De acordo com Gastaldo (2000):

O discurso publicitário é um propagador de mitos no cotidiano das pessoas e que o sedutor universo das campanhas publicitárias contribui para “representar papeis sociais, padrões de consumo, maneiras corretas de vestir, agir e ser. (GASTALDO 2000, p.116).

Segundo Sant’Anna (1995) um dos motivos da ação humana é o desejo, visto

que representa a realidade e a expressão consciente da vontade. Estas necessidades

e desejos iniciam desde produtos alimentares industrializados (chocolate, bolacha,

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salgadinhos, pipoca, bebidas alcoólicas, massas em geral, refrigerantes, etc.), até

amor, status ou, ainda, realização pessoal (presentes, filmes, música, etc.).

Na visão de Sant’Anna (1995):

Quanto mais conhecermos sobre o valor das palavras, sobre as necessidades, desejos, e impulsos humanos e as emoções que desencadeiam, mais saberemos sobre a técnica de persuasão e seu modo de operar. (SANT’ANNA 1995, p. 88).

Baudrillard (2004), afirma que a sedução está intimamente relacionada com o

estado emocional do ser humano. A sedução é um processo habitual e que não se

baseia necessariamente de autenticidade, pois a sua elaboração é feita através de

um jogo de aparências e do êxito de quem seduz. Desta forma, seduzir é um estado

de espírito, que precisa substancialmente de criatividade para a montagem de um

cenário estimulante a quem vai ser seduzido.

A sedução desperta um universo de imaginação na mente das pessoas em

função do cenário de sonho e fantasia. O discurso publicitário busca utilizar este

argumento de sedução para estimular as vendas e criar certo envolvimento do

consumidor com o produto. Os anúncios exploram este mundo lúdico e buscam criar

promessas de felicidade para o consumidor que adquirir o produto ofertado

(BAUDRILLARD, 2004).

De acordo com Severiano (2007), a publicidade contemporânea, que vende

principalmente identidade, reforça uma prática mística canibal com a diferença de que,

ao invés do sujeito buscar valores humanos por meio da antropofagia, tenta os

mesmos resultados consumindo um objeto fantasioso e todos os seus signos de

identidade.

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4 ESTEREÓTIPO

De acordo com Pereira (2002), a palavra “estereótipo” surgiu em meados do

século XIX, através de um objeto usado nas oficinas tipográficas e reconhecido por

um molde metálico de caracteres fixos. Por intermédio de analogia, o adjetivo

estereótipo sugere algo que poderia ser repetido mecanicamente.

Segundo Mazzara (1999), a palavra estereótipo é composta por duas

expressões de origem grega: stereos, que quer dizer rígido, e túpos, que significa

traço. A psiquiatria utilizou a palavra estereótipo para se sinalizar a reprodução

mecânica e frequente de um mesmo gesto, postura ou fala de um indivíduo acometido

por demência ou esquizofrenia (dementia praecox).

O termo estereotipia era empregado na psiquiatria em meados do século XIX

com o propósito de indicar um mesmo movimento, que era repetido frequentemente

e mecanicamente. Entretanto, determinadas atribuições históricas sugerem, de forma

explícita, que o termo estereótipo foi mais pertinente com a reprodução tipográfica que

produzia uma mesma impressão por diversas vezes, por intermédio de uma chapa

metálica sem que necessitasse ser substituída.

Desta maneira, surgiu o termo estereótipo que seria uma metáfora com o

intuito de designar algo que poderia ser reprisado mecanicamente. O mesmo termo é

empregado para fazer alusão às imagens generalizadas de forma demasiada e

homogênea de pessoas que são membros de um grupo.

Segundo Lippmann (1922), o estereótipo acontece no momento em que uma

pessoa precisa se posicionar sobre algum assunto, porém não possui o mínimo

conhecimento a propósito deste tema. Este fato instiga as pessoas a fundamentarem-

se em crenças compartilhadas da sociedade em que vivem, pois seria um retrato

incompleto e incompleto do fato observado.

De acordo com Lippmann (1922) apud Pereira (2002), os estereótipos são

imagens e conceitos que os indivíduos carregam na mente sobre alguma determinada

sociedade e que são contraídos e repassados através da convivência entre os

membros da comunidade.

Lippmann (1922) reforça certa severidade nestas imagens mentais

mencionadas, principalmente aquelas que concernem a grupos sociais que possuem

baixo ou nenhum contato direto com outras pessoas. A noção de que o estereótipo é

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algo ortodoxo distinguiu a multiplicidade das pesquisas de campo futuras a respeito

do assunto. Apesar disso, o autor resalta a probabilidade de mudança nos

estereótipos e o caráter criativo da mente humana, ou seja, o papel ativo do indivíduo

na construção dos estereótipos que são continuamente ‘seletivos’ e ‘parciais’.

Segundo Pereira (2002):

Os estereótipos foram definidos como crenças sobre atributos típicos de um grupo que contém informações não apenas sobre estes atributos, como também sobre o grau com que tais atributos são compartilhados. (PEREIRA 2002, p. 45).

Entende-se, a partir dos conceitos apresentados, que o estereótipo é uma

forma de simplificar algum povo em diferentes contextos, adjudicando características

generalizadas, homogêneas e fundamentadas. Isto acontece em função das

diferentes ocasiões em que o sujeito está inserido, podendo ser exagerado em algum

momento e não ser condizente com a realidade.

Os estereótipos circulam e são transmitidos por intermédio de fontes das mais

distintas possíveis: família, amigos, parentes, instituição escolar, meios de

comunicação social. Estes circunstâncias agem decisivamente na consolidação, bem

como na possível modificação dos estereótipos. Desta maneira, a linguagem possui

um papel importante na difusão das mensagens, pois é por meio dela que o processo

de estereotipia se materializa (LYSARDO-DIAS, 2007).

Segundo Gaias (2005), o estereótipo presente na sociedade é oriundo do

limitado contato pessoal entre os indivíduos. O pouco conhecimento que um sujeito

possui de algum assunto faz com que generalize e reproduza os estereótipos

coligados a alguma cultura, privando-se, de conhecê-la verdadeiramente.

Desta forma, o estereótipo pode ser compreendido como um comportamento

adaptativo a um determinado contexto, pois é uma maneira de simplificar a

perspectiva do mundo de um sujeito, classificando pessoas ou situações através de

categorias.

Conforme Pereira (2002), os estereótipos podem ser classificados sob dois

aspectos: o primeiro está intimamente relacionado a uma noção individualista, na qual

surgem com o passar dos tempos e são aprendidos e reproduzidos por meio da

convivência com um grupo menor, como por exemplo, no ambiente familiar (pais,

amigos e parentes). O segundo aspecto encontra-se conexo à sociedade, na qual os

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estereótipos surgem por intermédio de crenças partilhadas em meio às pessoas que

fazem parte da mesma cultura, sendo repassados, igualmente, pela mídia.

Segundo Diniz (2000), os estereótipos originam-se principalmente dos rituais,

das comparações, dos mitos e das metáforas. No momento em que estas expressões

são utilizadas seguidamente, ficam inseridas no dia-a-dia das pessoas de uma

maneira mais intensa. Os rituais são expressões que estão presente em nossa cultura

há muito tempo e é possível observar através das músicas, dos filmes, das peças de

teatro e nas narrativas populares.

De acordo com Gastaldo (2000), a publicidade utiliza o estereótipo em seus

anúncios para mostrar um produto de uma forma mais simplificada. Segundo o autor,

a publicidade busca desta forma, reduzir em pequenos traços as características

exageradas do grupo social para criar uma espécie de caricatura do ser representado.

Gastaldo (2000) afirma que os estereótipos não caminham em direção a uma

verdade concreta, porém estão sempre em permanente mudança com o intuito de

modificar a definição das identidades dos grupos sociais e a forma com as quais vivem

nas camadas culturais. Estes mesmos grupos sociais procuram estar sempre

elaborando significados e representações para a obtenção de uma diferente “versão”

da realidade e conseguir, desta forma, aceitação e dominância no campo social.

Um dos principais objetivos de uma campanha publicitária é transmitir uma

mensagem clara e que não ceda espaço a diferentes interpretações, sobretudo quanto

se trata de marcas conhecidas e divulgadas de forma positiva frente ao público-alvo.

Diante disto, a publicidade procura usar o estereótipo para segmentos definidos, tendo

em vista que indivíduos de diversas classes sociais podem interpretar de forma

diferente o modelo representado no anúncio.

Segundo Craig (1992) a utilização dos estereótipos na publicidade busca

deixar as pessoas mais à vontade para consumir, pois é mais familiar ser reprodutor

das realidades sociais, majorando e aceitando um produto ou serviço ofertado pelo

meio midiático.

Na concepção de Lysardo-Dias (2007):

É a partir do reconhecimento e identificações que os estereótipos presentes na sociedade proporcionam que fará com que a mensagem publicitária seja percebida e atue junto ao seu público-alvo. (LYSARDO-DIAS 2007, p.26).

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Um dos motivos para o emprego do estereótipo na publicidade é o fato de

conseguir identificar rapidamente cada sujeito envolvido na ação. Isso explica o fato

de muitos anúncios relacionarem a expressão “comercial de margarina” a uma

instituição familiar, na qual é avaliada pela sociedade e especialistas no assunto como

um estereótipo do café da manhã que inclui pai, mãe, filhos e uma mesa farta. Se o

consumidor não consegue reproduzir fielmente esta cena em sua realidade, pode,

pelo menos, ter parte disto ao adquirir o produto anunciado, que no caso é a

margarina.

Porém, tendo em vista que a estrutura da sociedade encontra-se em constante

mutação, a utilização de personagens estereotipados nas campanhas demanda certo

cuidado. Compreende-se que pode ser um caminho válido, desde que o conceito e

roteiro transmitam a mensagem sem margem a diferentes interpretações, ou seja, que

não gerem dúvidas na cabeça dos consumidores.

É constatado que às vezes é um pouco arriscado o uso dos estereótipos em

um anúncio publicitário, pois a sociedade pode interpretar de diferentes maneiras.

Utilizar figuras estereotipadas com frequência em algumas ocasiões pode ser

preconceito dependendo do que está sendo exposto em meio à sociedade.

Segundo Baccega (1998), os estereótipos influenciam a nossa percepção de

realidade, conduzindo-nos na direção de uma visão de um modelo pré-construído pela

cultura e transmitido pela linguagem universal por meio dos meios de comunicação

social. No instante que o homem aprende a falar, ao mesmo tempo aprende ao

mesmo tempo a pensar, e com isso começa a relacionar-se com o mundo por meio

de palavras, que veiculam conceitos e estereótipos.

Para Lysardo-Dias (2007) um aspecto relevante é o fato de que cada época

possui seus diferentes estereótipos, assim como cada grupo social e a sociedade

constroem em conjunto toda uma escala de conhecimentos cotidianamente. Esse fato

torna o estereótipo universal para uma sociedade que, no decorrer de sua história,

tem a possibilidade de preservar os estereótipos mais habituais ou fundar aqueles que

acompanhem o seu desenvolvimento.

Pode-se compreender que o estereótipo não é algo estático no grupo social

do qual faz parte. O estereótipo possui a probabilidade de ser renovado

constantemente, e com isso ganhar novos contornos ou mudanças a partir da

dinâmica da coletividade em que está inserida.

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Um dos caminhos para uma campanha publicitária ser eficiente é conhecer

meios eficazes a serem utilizados para atingir o consumidor. Por isso, é importante

escolher uma maneira simples e rápida de o público alvo. Ao utilizar os estereótipos,

a publicidade pode atualizar e propagar a mensagem, dando muitas vezes a

impressão de que ela é a responsável por certas representações convencionais

(LYSARDO-DIAS, 2007).

A publicidade busca utilizar os estereótipos em seus anúncios com o intuito

de concretizar seu objetivo comercial. Por isso, é importante ressaltar que a

legibilidade e a eficácia argumentativa da publicidade ao usar este recurso estão

vinculadas ao reconhecimento do sistema de estereotipia que é empregado, pois se

isso não for concretizado, a comunicação pode não funcionar.

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5 METODOLOGIA

Para entender de que forma o gaúcho está inserido e representado nos

anúncios publicitários da cerveja Polar, buscou-se identificar métodos que auxiliassem

nos procedimentos de coleta, separação, categorização e análise dos dados. Após a

observação de alguns métodos, verificou-se que a Análise de Discurso e a Análise de

Imagem ofereciam subsídios suficientes para o escopo dessa investigação.

Segundo Orlandi (2007) a Análise do Discurso proporciona uma abordagem

peculiar dos objetos presentes no enunciado para entender de que forma esses

elementos produzem sentido a um texto. As diferentes palavras proferidas pelo

homem em um argumento produzem variadas simbologias e este método permite um

estudo sobre como estes objetos produzem sentido a um texto.

De acordo com a autora, a linguagem de um discurso é geralmente constituída

por valores, ideologias e ideias que estão presentes na sociedade. Ao realizar uma

análise de um discurso, é possível compreender de que forma são concebidas as

palavras em diferentes formas de mensagens, como manifestações, expressões e

declarações.

Duarte e Barros (2005) afirmam que a Análise do Discurso possibilita

desconstruir um texto para entender como foi projetado. Através deste procedimento

é possível observar de uma forma mais isolada os argumentos que foram utilizados

para criação de uma mensagem.

Já o método de Análise de Imagem, segundo Duarte e Barros (2005),

possibilita traduzir os códigos visuais em códigos textuais para poder compreender as

estruturas que compõe uma imagem. Através deste método é possível investigar de

que forma é feita a construção dos elementos e aspectos visuais de um anúncio, filme

ou fotografia.

Duarte e Barros (2005) descrevem que a análise de imagem:

Compreendem as mensagens visuais como produtos comunicacionais, especialmente aquelas inseridas em meios de comunicação de massa: fotografias impressas em jornais, anúncios publicitários, filmes, imagens difundidas pela televisão ou ainda disponíveis na internet. (DUARTE; BARROS, 2005, p. 330).

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Entre os aspectos destacados na análise de imagem, destacam- se a

observação de perspectiva, composição da imagem, relação entre objetos

representados, utilidade da mensagem visual e uso da luz e cores. (DUARTE;

BARROS, 2005).

A combinação dos procedimentos destes diferentes métodos permitirá

incorporar uma análise que englobe a relação entre texto e imagem presente nos

anúncios selecionados.

4.1 SELEÇÃO DOS ANÚNCIOS

Para a realização dessa pesquisa foi necessária uma série de delimitações

que permitisse a definição de um perfil de anúncios que contribuísse com o universo

sugerido pela questão norteadora.

A primeira delimitação foi relacionada com a presença da imagem identitária

da cultura regional – neste caso, optou-se pela figura do gaúcho. A segunda

delimitação refere-se ao formato das peças. Optou-se pelo vídeo publicitário, pois esta

engloba aspectos como imagem, movimento e som. A marca escolhida foi a da

Cerveja Polar, pois se encaixa no perfil escolhido anteriormente, tendo em vista que

utiliza a imagem do gaúcho em diversos anúncios publicitários.

Desta maneira, foram selecionados cinco anúncios da Polar que foram

relacionados por meio do contato com a agência Paim de Porto Alegre, que é

responsável pela comunicação da marca. Os vídeos foram retirados através do site

YouTube.

4.2 PROCEDIMENTOS ANALÍTICOS

Para realizar a análise optou-se por dividir em categorias os conteúdos

apresentados nos anúncios.

4.2.1 ANÁLISE DO DISCURSO

De acordo com Duarte e Barros (2005), analisar significa dividir, e por isso, a

Analise de Discurso é a desconstrução do texto em discursos, ou seja, em vozes.

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Dessa forma, o método consiste em desmontar para perceber como foi montado. Os

elementos que auxiliaram na análise do discurso foram:

a) Argumentação: Procurou-se observar a linguagem verbal dos atores e os

recursos persuasivos utilizados para difusão das mensagens publicitárias.

Buscou-se verificar a presença de mensagens estereotipadas e como isto

influencia na construção da imagem do gaúcho.

b) Conversação: buscou-se analisar as linguagens implícitas, silêncios,

reticências, gírias e os neologismos presentes nos anúncios publicitarios.

4.2.2 ANÁLISE DE IMAGEM

Segundo Duarte e Barros (2005), para analisar uma imagem é preciso

estabelecer a transposição de códigos visuais em signos linguísticos. Os elementos

que auxiliariam na análise de imagem foram:

a) Marca cultural: foram analisados os elementos que se compõem a

estrutura do anúncio, avaliando aspectos como símbolos ou marcas

culturais. Nesta categoria buscou-se observar como os elementos da

cultura do Rio Grande do Sul influenciam na construção da imagem do

gaúcho.

b) Aspecto visual: buscou-se analisar os desenrolar das cenas, a

composição da imagem, a utilização da luz e cores, a relação entre os

objetos representados e a função da mensagem visual.

c) Situação: nesta categoria buscou-se analisar as maneiras de enfrentar

uma situação e os aspectos relacionados à aparência dos atores da

marca. Foram analisadas também as formas de representar a cena dos

atores nos anúncios através das expressões faciais, assim como a

verificação do cenário através dos objetos que identificam o local em que

a pessoa está inserida.

Através desses elementos, procura-se entender de que forma é feita a

construção da imagem do gaúcho como elemento de marca para divulgação do

produto ao consumidor de cerveja do estado do Rio Grande do Sul.

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5 ANÁLISE

Os dados analisados, que se enquadram nas delimitações da metodologia,

são oriundos de uma coleta entre setembro de 2010 e outubro de 2012. Neste período

o posicionamento de marca já estava direcionado ao público gaúcho. Através da

separação deste material foram selecionados cinco anúncios da marca que foram

observados e que serão apresentados mais abaixo. Os dados estão subdivididos da

seguinte maneira:

O vídeo 1 (V1) chama-se “bah, a expressão mais polivalente é daqui”, tem

extensão de 38 segundos e foi produzido e veiculado no ano de 2011. É um material

que usa uma interjeição gaúcha no comercial. O vídeo 2 (V2) chama-se “Novo rótulo

da Polar” , tem extensão de 30 segundos e foi produzido e veiculado no ano de 2012.

É um material promocional do novo rótulo da marca. O vídeo 3 (V3) chama-se

“Moonwalk”, tem extensão de 21 segundos e foi produzido e veiculado no ano de

2012. É um material que mostra a dança vanerão como uma forma de comemorar a

Semana Farroupilha. O vídeo 4 (V4) chama-se “Gaúcho da fronteira”, tem extensão

de vídeo de 30 segundos e foi produzido e veiculado no ano de 2010. É um material

que mostra a presença do cantor gaúcho da fronteira com os atores da marca O vídeo

5 (V5) chama-se “O Brinde mais guasca do mundo é daqui”, tem extensão de 1 minuto

e 18 segundos e foi produzido e veiculado no ano de 2012. É um material que mostra

os atores da marca fazendo um brinde para tomar a cerveja.

Os anúncios analisados foram agrupados em cinco diferentes categorias de

análise e separados de acordo com a temática do estudo. As categorias são:

Argumentação, conversação, marca cultural, aspecto visual e situação.

5.1 ARGUMENTAÇÃO

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Figura 1 - Bah, a expressão mais polivalente é daqui (VT 38”, 2011)

Disponível: <https://www.youtube.com/watch?v=nOW5RFWbbD0> Acesso em: 27 Abr. 2015.

No primeiro anúncio dois homens estão sentados em uma mesa de bar. Em

seguida, apenas a expressão “bah” é proferida em diversas cenas: No recebimento

da cerveja do garçom, no brinde, no descontentamento de cerveja derramada e com

a visualização de uma mulher bonita no bar. A chamada da marca aparece com o

discurso: “bah, a expressão mais polivalente do mundo é daqui”. Posteriormente os

homens proliferam a expressão “bah” novamente para mostrar descontentamento ao

observarem a mulher bonita com outro homem. O vídeo finaliza com o slogan: “A

melhor do mundo é da daqui”.

Destaca-se o uso da expressão “bah”, para representar as diversas situações

vivenciadas pelos personagens. Não existe diálogo durante o comercial e somente

esta expressão é mencionada. A gíria é conhecida como uma característica do gaúcho

e, segundo Kich (2011), não se constata uma clara definição para a interjeição “bah”.

De acordo com o autor o uso da expressão é usado às vezes como exclamação e às

vezes como interjeição.

Percebe-se que o emprego da gíria é estereotipado, pois a pronúncia é

extremamente exagerada. Não existe outro diálogo nesta peça a não ser o uso desta

interjeição. Em cada momento a expressão possui um sentido diferente, podendo

variar conforme o contexto. A Polar busca modelar uma expressão típica do gaúcho

para a mensagem poder ficar mais compreensível ao público-alvo. O demasiado uso

da expressão fica evidente também ao observar a entonação das palavras, que é

aguda e atuante.

O enunciado é mostrado através do discurso: “bah, a expressão mais

polivalente do mundo é daqui”. Nota-se que o emprego da palavra polivalente

reverencia a expressão “bah”. A palavra polivalente significa algo que pode ter várias

funções ou utilidades diferentes. A Polar procura argumentar com este discurso que

não existe em nenhum lugar do mundo uma expressão que possa servir para diversas

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situações. O apelo evidencia que somente no Rio Grande do Sul existe esta

expressão, referindo-se a um grau de superioridade do povo gaúcho por usar um

termo que pode ser oportuno para inúmeras situações.Com isso, a marca buscar criar

empatia com público através da representação de uma cena cotidiana, pois a

expressão é utilizada frequentemente pelo povo gaúcho.

É percebido assim como foi afirmado por Kellner (2001), que esse anúncio

está projetando um modelo da vida gaúcho para se aproximar do dia a dia voltado

para o público da Polar, inserindo o “bah” como uma forma de representar um aspecto

da cultura do estado do Rio Grande do Sul.

No segundo anúncio, dois homens estão próximos a uma bancada de bar e

conversam sobre a nova embalagem da Polar. Eles concordam que o rótulo ficou mais

bonito, porém um deles resalta que ficou ainda mais lindo em função da presença de

uma águia em sua composição. O personagem de jaqueta verde discorda e comenta

que a ave representada é um quero-quero e não uma águia. Posteriormente os dois

homens discutem sobre o assunto. Em seguida apresenta-se a chamada: “A nova

embalagem mais linda do mundo é daqui.” e o vídeo finaliza com o slogan: “A melhor

do mundo é daqui”.

Nota-se que os atores enaltecem a nova embalagem da Polar, que é

composta por novos elementos. Um dos personagens comenta que a embalagem

ficou “lindaça” em função das novas cores. A mensagem visual acompanha o discurso

com uma cena de detalhe na garrafa da cerveja, pois desta forma é possível observar

as novas cores no rótulo.

Em seguida, um dos atores comenta que o rótulo da Polar ficou ainda mais

bonito em função de ter uma águia em sua composição. Porém o homem de camisa

verde aponta que o pássaro não é uma águia, e sim um quero-quero. Nota-se que o

personagem proferiu um discurso irreverente ao afirmar que a ave é um quero- quero,

pois defendeu o pássaro de uma forma exagerada. Esta ave é um dos símbolos do

estado do Rio Grande do Sul e é conhecida como sentinela dos pampas por gostar

dos campos abertos. Ao proferir o discurso “Tu mora onde? Tu mora no Texas

cawboyzinho?”, o personagem deixa subentendido ao amigo que eles moram no Rio

Grande do Sul, e por isso, devem engrandecer os símbolos do estado.

Segundo Baudrillard (2004), o discurso publicitário utiliza argumentos lúdicos

para o consumidor adquirir o produto ofertado. Ao usar o apelo na qual o quero-quero

seria o pássaro no rótulo, a Polar criou um mundo fantasioso. Isto mostra como a

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marca busca criar certo envolvimento do consumidor com o produto através de um

discurso bem humorado.

Posteriormente mostra-se o enunciado: “A nova embalagem mais linda do

mundo é daqui”. Percebe-se que este apelo é irreverente, pois a marca enfatiza um

rótulo, algo que não possui valor sentimental para uma pessoa. No entanto, esta

embalagem apresenta dois aspectos da cultura gaúcha, e por isso seria a embalagem

mais bonita do mundo.

No terceiro anúncio, a construção da peça é feita através de animação. Um

narrador menciona a seguinte frase: “Como compartilhar teu o orgulho na semana

farroupilha, se tu não sabe dançar vanerão”. Posteriormente aparece um personagem

gaúcho em forma de desenho dançando moonwalk. Mostra-se o enunciado: “O maior

orgulho do mundo é daqui”. As diversas variações das latinhas da Polar são

apresentadas. O anúncio finaliza com a frase: “A melhor do mundo é daqui.”.

O discurso desta peça é feito através da narração de um locutor e não existe

diálogo entre atores. O audiovisual refere-se às comemorações da Semana

Farroupilha, uma data em que os gaúchos cultuam as tradições do estado através de

inúmeras festividades. Nota-se que o vanerão é apresentado como uma opção de

comemoração diante das já conhecidas formas de compartilhar o orgulho do gaúcho,

como o chimarrão, churrasco e tantas outras. Vanerão é uma dança típica do Rio

Grande do Sul e ao lado do xote, do bugio e do fandango, é uma das danças mais

populares do estado.

O apelo deste anúncio é debochado, pois é possível perceber que se uma

pessoa não sabe dançar vanerão a alternativa é comemorar dançando moonwalk,

visto que o gaúcho em forma de desenho sintetiza o passo do moonwalk. Com a frase

“Se tu não sabe dançar vanerão”, fica subentendido que o importante é compartilhar

o orgulho pelo estado, independentemente de saber dançar uma música gaúcha.

Percebe-se que existe uma relação entre uma dança típica do estado com uma dança

contemporânea, o moonwalk. Este apelo é irreverente e engraçado, pois manifesta

uma dança gaúcha, porém não representa fielmente esta dança e inclusive faz uma

brincadeira com outro estilo de dança.

O enunciado da peça é o texto que menciona que o maior orgulho do mundo

é comemorar com as latinhas da Polar. Este discurso é o mote que faz parte da

campanha “Latas Comemorativas”, na qual a Polar lançou no ano de 2012. Todas as

latinhas estão relacionadas com a Semana Farroupilha, pois possuem dicas de como

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comemorar a data. Entre as variações das latinhas, destacam-se: “Só pode ser

maragato”, “baita fã de vanerão” e “Este vivente ta cheio de orgulho”.

Este apelo convida o receptor para conhecer a coleção através da frase: “Com

essas latinhas da Polar né tchê, o maior orgulho do mundo é daqui”. Nota-se que a

marca usa um apelo emotivo neste discurso, visto que evidencia que gaúcho tem

satisfação em idolatrar a cultura do Rio Grande do Sul.

Como foi afirmado por Gastaldo (2000), o discurso publicitário busca propagar

variados estilos e sensações através de um argumento que desperte na mente do

consumidor um sentimento de satisfação. Com este apelo persuasivo, a Polar

fortalece a paixão do tradicionalismo entre os gaúchos e estabelece uma realidade

semelhante entre os sujeitos da sociedade.

No quarto anúncio dois homens encontram-se sentados tomando cerveja. Em

seguida, um dos personagens visualiza o cantor “Gaúcho da Fronteira” no balcão do

bar, e o chama até a mesa. O músico se aproxima e pergunta se está tudo certo com

os rapazes. Um deles responde: “É, mais ou menos, né xirú, por que se tu ta aqui,

quem é que ta cuidando a fronteira?”. Mostra-se o enunciado: “A fronteira mais

cobiçada do mundo é daqui.”. O músico canta uma de suas canções, porém é

interrompido por um dos homens: “Muito lindo, mas chega de vare, vale, vale fun (se

referindo à música)”. O outro personagem completa: “Toma tua ceva e te arranca, a

fronteira ta abandonada, tchê!”. O vídeo finaliza com o slogan: “A melhor do mundo é

daqui”.

O diálogo desta peça gira em torno do “Gaúcho da Fronteira”, que é um

intérprete da música gaúcha. Nota-se que os personagens ficam preocupados com a

fronteira do estado em função do músico estar presente no bar. O nome artístico

“Gaúcho da Fronteira” é interpretado como um trocadilho, e por isso, segundo a visão

dos atores, o cantor teria o compromisso de proteger as divisões em uma possível

invasão. Um dos personagens foi até enfatico ao proferir o termo: “te arranca”,

afirmando que o Rio Grande do Sul estaria em perigo, e por isso o cantor precisaria

se apressar para proteger as terras gaúchas.

Entretanto, o discurso proferido trata-se de uma brincadeira irreverente da

marca, visto que a perturbação com a fronteira não é real. É percebido, assim como

foi afirmado por Tavares (1995), que o discurso publicitário manipula os consumidores

através da imaginação de um universo sedutor. O apelo busca seduzir o consumidor

através de uma projeção do mundo cômico em seus anúncios. Nesta peça, a Polar se

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apropriou da expressão “da fronteira” e levou ao extremo, inventando um mundo

fantasioso, na qual o cantor seria o policial e protetor dos limites territoriais do Rio

Grande do Sul.O enunciado deste anúncio é o texto que anuncia a fronteira do estado

do Rio Grande do Sul como a melhor do mundo. Isto é demonstrado através do texto

narrado e escrito na tela, que identifica: “A fronteira mais cobiçada do mundo é daqui”.

Com este apelo, a marca resalta que a terra gaúcha é tão atraente que outras

províncias podem pensar em invadir o território.

De acordo com Lara (1985), os gaúchos lutaram muito para defender as terras

do Rio Grande do Sul no passado. Diversas batalhas foram trilhadas com diversas

províncias, e por isso, o orgulho pela posse do território é tão grande que é difundido

ao longo de inúmeras gerações.

Desta forma, o argumento evidencia que o estado é relativamente um lugar

bom para viver e que resguardar os limites territoriais é um orgulho para o povo

gaúcho. O carinho pelas terras do Rio Grande do Sul desempenha um sentimento de

medo em relação a possíveis invasores. O emprego do advérbio de intensidade “mais”

no enunciado, de certa forma, faz o receptor acreditar que existam outras fronteiras

cobiçadas em todo o mundo. Entretanto, a fronteira do Rio Grande do Sul ganha

destaque por ser “a mais”, e por isso seria a melhor diante de todas as outras.

No quinto anúncio dois homens estão sentados em uma mesa de bar e

decidem fazer um brinde. Após o ato, o homem de jaqueta vermelha fica chateado e

relata que o brinde realizado pelo amigo é fraco. Em seguida o brinde é repetido

novamente, porém o homem de jaqueta vermelha continua descontente e manifesta

que o brinde deve ser feito como “macho”. O homem de jaqueta azul fica um pouco

irritado com os comentários do amigo e decide fazer um brinde de forma agressiva.

Em seguida, aparece a chamada do anúncio com a frase: “O brinde mais guasca do

mundo é daqui”. Posteriormente o homem de jaqueta azul fica sorrindo, pois o brinde

foi tão forte que derramou toda a cerveja na roupa do amigo. O vídeo finaliza com o

slogan: “A melhor do mundo é daqui”.

Nesta peça destaca-se a insistência de um dos personagens para a realização

de um brinde adequado antes de tomar a cerveja. Um brinde é compreendido como

um ato de celebrar uma data ou um acontecimento. O ator foi bastante enfático ao

frisar que o amigo deveria fazer um brinde decente, e proferiu comentários machistas

como: “Quero que você bata como macho” e “brinda como homem”.

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O termo “macho” é utilizado frequentemente pelo gaúcho para referir-se ao

sexo masculino, pois possui a entonação mais aguda que a palavra homem. Percebe-

se que o personagem foi um pouco enérgico ao proferir os comentários e incorporou

algumas características típicas do gaúcho, como a coragem, valentia e a intensidade.

Ao emitir a frase: “Quero que você bata como macho”, o personagem deixou

implícito ao amigo que o gaúcho é tão valente que até mesmo um simples brinde

precisa ser realizado de uma forma digna. Nota-se que o personagem de jaqueta azul

ficou tão bravo com os comentários do amigo que decidiu realizar um brinde ousado.

É percebido, assim como foi afirmado por Gastaldo (2000), que o discurso

publicitário utiliza os estereótipos nos anúncios em função do pequeno espaço de

tempo que possui para divulgação do produto. No anúncio da Polar, o estereótipo é

percebido no discurso do brinde. Por mais que um sujeito gaúcho comemore as

festividades de forma intensa, é pouco provável que profira um discurso agressivo

com um amigo por causa de uma simples saudação. A marca busca, dessa forma,

diminuir o ruído na comunicação e disseminar um discurso exagerado para o receptor

compreender rapidamente que se trata de um sujeito do Rio Grande do Sul.

O enunciado deste anúncio faz ilusão ao slogan da marca: “O brinde mais

guasca do mundo é daqui”. A expressão “guasca” refere-se ao um adjetivo e seu

significado está ligado a características como valente, forte e melhor. Como foi

afirmado por Baudrillard (2004), o apelo persuasivo utilizado pela publicidade tem

como objetivo seduzir e criar vínculo com o consumidor. Neste anúncio, a marca

evidencia que no Rio Grande do Sul ocorre o brinde mais forte e festivo do mundo.

Fica pressuposto que o gaúcho festeja da melhor maneira possível, e por isso, a

persuasão se aproxima do consumidor pela relação com alguns aspectos da cultura

gaúcha, como a valentia, firmeza e a coragem.

Percebe-se que em todas as peças analisadas (V1), (V2), (V3), (V4) e (V5), a

Polar usa o mesmo slogan, na qual está relacionado com o posicionamento da marca.

No texto: “Polar, a melhor do mundo é daqui” é utilizado um superlativo para qualificar

a cerveja, e com isso nota-se que é uma forma de evidenciar o produto de uma

maneira bem excessiva.

O adjetivo “melhor” presente no slogan tem como finalidade valorizar o

produto diante das outras, e por isso, indica que a Polar é a melhor cerveja que existe

em função de ser um produto tipicamente gaúcho. Nota-se também que em todas as

peças a Polar utiliza enunciados que fazem relação com o slogan da marca. Frases

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como “O maior orgulho do mundo é daqui” e “O brinde mais guasca do mundo é daqui”

valorizam ainda mais o aspecto irreverente e bairrista da marca, visto que se torna um

padrão em sua comunicação. O consumidor que cultua fielmente as tradições do

estado pode se sentir próximo da marca pelo fato de se sentir representado. Já as

pessoas que não são tão tradicionalistas, podem considerar divertido o aspecto

irreverente e com isso consumir a cerveja em função do mundo fantasioso de uma

cultura regional.

Gastaldo (2000) destacou que o discurso publicitário possui liberdade para criar

argumentos criativos e fantasiosos com o intuito de criar marcas mitológicas. Ao

adotar discursos irreverentes para promover a cerveja, a Polar procura ser bem

humorada diante do consumidor e enfatizar a cultura gaúcha de uma maneira criativa.

5.2 CONVERSAÇÃO

Figura 2 - Nova embalagem (VT 30”, 2012).

Disponível: <https://www.youtube.com/watch?v=Qnog3NZmUuU> Acesso em: 24 mar. 2015.

No primeiro anúncio não existe conversa entre os atores em função do

emprego da interjeição “bah”. Em um dos momentos, a expressão foi usada para

criticar e descrever uma situação negativa que aconteceu. Se os atores optassem em

dialogar sobre o ocorrido, ao invés de expressar a gíria, seria mais ou menos desta

forma: “mas que ruim, viramos cerveja na mesa e sujamos tudo”. Em outra situação,

o “bah” refere-se ao momento inconveniente de avistarem a mulher do comercial

abraçando outro homem do bar. Se houvesse um diálogo entre os amigos, seria mais

ou menos desta forma: “Mas que droga, a moça bonita ja tem companheiro”.

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Percebe-se que a interjeição é usada para simplificar um diálogo, pois os

atores adotam o “bah”, ao invés de conversar sobre o assunto. É como se houvesse

uma comunicação implícita através de códigos, pois os amigos conseguem se

entender apenas com a gíria. O uso deste termo foi empregado de diversas formas

nesta peça comercial, e nota-se que esta gíria funciona de forma versátil para diversas

situações

No segundo anúncio ocorre diálogo entre os atores, e destaca-se o emprego

do termo “lindaça”, como uma forma a enfatizar a palavra linda. O personagem foi

irreverente e ressaltou a nova embalagem através do emprego excessivo de um

adjetivo. Nota-se também o uso da interjeição “macanudo”, que é pronunciada por um

dos atores. O significado de “macanudo” é bonito, legal ou belo.

No terceiro anúncio não existe diálogo por ser uma peça com efeitos visuais.

Nota-se que o narrador menciona a palavra “tchê” no discurso. De acordo com Kich

(2011), a palavra é uma típica expressão do homem do pampa da América latina, seja

gaúcho, uruguaio ou argentino. A palavra “tchê” é oriunda dos colonizadores

espanhóis que habitaram o solo rio-grandense e grafavam “che” e pronunciavam

“tchê”.

No quarto vídeo, destaque para o uso da expressão “Te aprochega aqui

vivente”, que é uma gíria na conversação do gaúcho. A expressão “aprochegar” é uma

junção das palavras “aproximar” e “chegar”, e refere-se a alguém que está chegando

ou se aproximando. Já o significado da palavra “vivente” remete a um rapaz, homem

ou guri.

No quinto anúncio, nota-se o emprego da interjeição “estropiado” por um dos

atores da marca. A interjeição “estropiado” significa algo deformado ou que possui

algum defeito. Nesta mesma peça, percebe-se também o emprego da frase “Tu é um

cavalo vestido mesmo”. Esta expressão é um trocadilho do linguajar do gaúcho e seu

significado refere-se a uma pessoa grossa e rude, pois o cavalo do gaúcho possui

estas características.

Gastaldo (2000), nos argumentos anteriores, apresenta que a publicidade

procura decifrar na sociedade argumentos que poderiam induzir uma pessoa a

comprar algum produto. Ao usar expressões típicas do gaúcho na conversação dos

atores da marca, a Polar busca se aproximar do dia-a-dia do habitante do Rio Grande

do Sul com palavras que representam os valores desta sociedade. Além disso, a

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marca é um tanto quanto irreverente com a maneira de expressá-las, pois profere de

um jeito exagerado.

De acordo com Hall (1997), a representação social é construída por

intermédio da linguagem que é compartilhada entre os membros de uma sociedade.

Os anúncios da Polar representam a identidade do individuo do Rio Grande do Sul

através da conversação típica do gaúcho. Estas expressões são facilmente

reconhecidas no solo Rio-Grandense, e por isso, partilhadas de uma maneira mais

natural entre os integrantes da sociedade.

5.3 MARCA CULTURAL

Figura 3 - Moonwalk (VT 21”, 2012)

Disponível: <https://www.youtube.com/watch?v=Q4Z8rmedKV4> Acesso em: 09 maio. 2015.

Nos anúncios (V1) e (V5) não consta elementos visuais que sejam destaques

como marcas culturais do Rio Grande do Sul. Diferentemente dos outros anúncios

analisados, estes evidenciam a argumentação entre os personagens, e por isso,

nenhum aspecto cultural relacionado à imagem se faz presente.

No segundo audiovisual observa-se que a marca cultural é a divulgação da

nova embalagem através das cores que compõem a bandeira oficial do Rio Grande

do Sul. A bandeira é um símbolo do estado e possui em sua estrutura as cores verde,

vermelho e amarelo.

Segundo Gambin (2014), as cores da bandeira foram adotadas como

símbolos do estado no ano de 1966. O verde e o amarelo fazem referência às cores

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da bandeira do Brasil e o vermelho faz alusão à guerra da Revolução Farroupilha, que

ocorreu em 1835.

Ao adotar as cores no rótulo de sua embalagem, a Polar buscar se declarar

como um produto tipicamente gaúcho ao público. O consumidor pode entender,

mesmo inconscientemente, que se o rótulo evidencia as cores mais importantes do

estado, logo será uma marca gaúcha. De certa forma a simbologia da marca fica

inserida no contexto social do indivíduo, pois as cores do estado são marcas culturais.

Uma pessoa que se declara tipicamente gaúcha identifica com facilidade que a união

das cores amarela, vermelha e verde forma-se a bandeira do estado.

Nota-se também a presença do símbolo da águia no rótulo da Polar. O uso

deste pássaro é estratégico para divulgação da cerveja, pois faz referência ao típico

homem dominador pelas características de força, beleza e prestígio. A águia, do ponto

de vista da mitologia, é uma figura masculina e isso é benéfico para a marca, pois a

cerveja é direcionada principalmente para o público masculino.

No terceiro anúncio a marca cultural presente é a relação com as festividades

Revolução Farroupilha, que foi um marco na história dos gaúchos e uma das mais

longas revoluções brasileiras. O objetivo da Revolução era tornar o estado uma

república independente.

De acordo com Agostini (2005), diversos fatores contribuíram para o início do

confronto, incluindo a insatisfação com os impostos abusivos do império e o desejo

de liberdade política. A Revolução iniciou-se em 1935 e estendeu-seu até 1945,

durando 10 anos. No final, o exército Farroupilha foi derrotado e o território gaúcho

fixou-se como um estado da república do Brasil.

Segundo Meyer (1959), mesmo com a derrota, a Revolução Farroupilha

alcançou uma importância muito grande entre os gaúchos. O hino oficial é cantado

com muito orgulho e as festividades por causa desta causa são comemoradas com

muita alegria pelo povo do estado.

No quarto anúncio percebe-se que existem duas marcas culturais: a música

tradicionalista e a pilcha gaúcha. A música é identificada pela presença do cantor

Gaúcho da Fronteira, que traz consigo uma gaita, um instrumento musical típico do

estado. Ao inserir este cantor no contexto do anúncio publicitário, a Polar busca

relacionar um elemento conhecido e simpático da música gaúcha com a divulgação

da cerveja. Já a vestimenta do cantor representado na peça revela um traje típico de

um sujeito tradicionalista do Rio Grande do Sul.

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Segundo Bossle (2003), a pilcha gaúcha é composta de bombacha e seus

complementos para homem e vestido de prenda para as mulheres. É um traje

tradicional da cultura gaúcha e pode ser usado por homens e mulheres de qualquer

faixa etária.

Conforme os argumentos apresentados, diversas elementos culturais estão

presentes nas peças da cerveja Polar. Aspectos da indumentária, símbolos regionais,

comemoração de data histórica, linguagem típica e aspectos da música gaúcha. É

percebido, assim como foi observado por Piedras (2004), que a publicidade busca

transmitir em seus anúncios conceitos e valores da sociedade. A inserção de diversos

elementos do estado do Rio Grande do Sul evidencia que a Polar procura ser

representante do cenário de midiatização.

5.4 ASPECTO VISUAL

Figura 4 - Gaúcho da Fronteira (VT 30”, 2010).

Disponível: <https://www.youtube.com/watch?v=QH7OCH8NOm0>. Acesso em: 05 mar. 2015.

Nos anúncios (V1), (V2), (V4) e (V5) nota-se que os enquadramentos para

captura das imagens são dinâmicos e contribuem para o bom andamento do diálogo

entre os atores. Na maioria das cenas os personagens são filmados através do ângulo

plano americano, que enquadra os homens sentados, a mesa, as cadeiras e parte do

cenário do bar. Já o detalhe de algum elemento ou objeto é revelado através do

enquadramento plano detalhe.

No primeiro anúncio, destaque para o plano fechado ou close-up, que é usado

em determinados momentos para mostrar os detalhes das expressões faciais dos

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personagens. Com este enquadramento fica mais evidente a fisionomia dos atores na

representar a única expressão mencionada no diálogo.

No segundo anúncio observam-se enquadramentos de meio primeiro plano,

na qual os atores são mostrados da cintura para cima. Este quadro é usado em função

de que os atores encontram-se sentados em uma bancada de bar, impossibilitando o

plano americano que foi usado no primeiro anúncio. Percebe-se também que existe

um efeito de desfoque no cenário, pois desta maneira os atores ficam mais em

evidência e todo o restante ficam desfocados.

No terceiro anúncio o aspecto visual é diferente dos outros vídeos

observados, pois a peça possui efeitos gráficos. Percebe-se o uso intenso das cores

símbolos do estado do Rio Grande do Sul para texto e imagem visual. No início, a

marca optou em usar um verde estático para ao fundo e amarelo, vermelho e branco

para o texto. Logo em seguida, ocorre uma troca e o vermelho é direcionado para o

fundo e o amarelo, verde e vermelho para o enunciado.

Nota-se também a presença de um gaúcho em forma de desenho animado

para representar a dança vanerão. Este gaúcho utiliza um traje típico do Rio Grande

do Sul e faz alguns passos de dança durante a animação. Porém, o personagem não

representa fielmente a tradição gaúcha, pois é possível identificar que a dança é

irreverente e possui alguns passos distintos da versão original.

Na quinta peça, percebe-se a presença de um efeito de slowmotion no

momento em que o personagem de jaqueta verde expressa um brinde mais forte.

Slowmotion é um efeito que diminui o número de frames por segundo em cada

imagem para o movimento ficar mais suave. Através deste efeito é possível visualizar

com detalhes as expressões faciais dos personagens, visto que os enquadramentos

das cenas estão no formato detalhe.

Segundo Baudrillard (2004), a publicidade cria um cenário estimulante em

seus anúncios para seduzir o consumidor. Percebe-se que nesta peça o efeito

slowmotion contribui no processo de sedução, pois o efeito salienta o brinde

engraçado e fantasioso de um dos personagens da marca.

Nas peças publicitárias da Polar, são utilizadas principalmente as cores verde,

amarelo e vermelho. Em alguns anúncios a cor branca e a cor preta servem de

complemento ao trio de que compõe a base estética da marca. A luz do fundo é uma

cor quente, geralmente amarela ou vermelha. Os objetos que compõem a estrutura

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da imagem são em sua maioria estáticos e a principal função é dar suporte ao

ambiente do audiovisual.

Percebe-se que a Polar mantém um padrão visual em sua comunicação, visto

que a luz, as cores e os objetos visuais são semelhantes em todos os anúncios. Existe

um padrão cinematográfico nas narrativas da Polar que contribui para a representação

de um gaúcho bairrista e engraçado.

5.5 SITUAÇÃO

Figura 5 - O brinde mais guasca do mundo é daqui. (VT 1’18”, 2012).

Disponível: <https://www.youtube.com/watch?v=DzlqqKNfn_Y> Acesso em: 14 maio. 2015

Nos anúncios (V1), (V2), (V4) e (V5), os homens são identificados como

jovens, brancos, altos e fortes. O ator mais gordo é Diego Medina e o ator mais magro

é Ricardo Kudla Neto. Os dois aparentam ter entorno de 30 anos, sendo que o Ricardo

é mais magro que o Diego. A vestimenta é composta por roupas simples e sem muitos

detalhes, porém são polidas e elegantes. Os atores utilizam camisetas e jaquetas, e

com isso nota-se que evidenciam o clima ameno no sul do Brasil, pois a jaqueta

identifica que a temperatura no ambiente é um pouco fresco.

As roupas possuem um padrão estético através das cores: vermelho, amarelo

e verde, e simbolizam as cores que são usadas para comunicação da marca. A

aparência do gaúcho representado nos anúncios da Polar é um indivíduo simples,

porém bem arrumado e que procura reproduzir a essência de um sujeito jovem do Rio

Grande do Sul.

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As maneiras de lidar com as situações são parecidas entre os atores, pois os

dois possuem aspectos semelhantes. Nos anúncios (V2), (V4) e (V5), percebe-se que

os atores dialogam com um teor de nervosismo no ambiente. No entanto, o ator Diego

Medina possui características mais agressivas que ator Ricardo Kudla Neto. Nestas

três peças, este ator comanda o andamento dos diálogos e é um tanto quanto enfático

ao apresentar os argumentos.

Nos anúncios em que os atores estão presentes, (V1) (V2), (V4) e (V5), os

gestos com os braços e a posição do corpo revelam algumas gesticulações enérgicas

em alguns momentos. No anúncio (V4), na qual os atores ficam perturbados com

presença de um músico “Gaúcho da Fronteira”, as expressões salientam indivíduos

corajosos, e que de certa forma identifica a masculinidade dominante de um indivíduo

do estado do Rio Grande do Sul.

Os atores apresentam alguns aspectos robustos na fisionomia, evidente no

momento de uma argumentação mais rude. No processo de linguagem, percebe-se

que os atores pronunciam as palavras gaúchas (como o “tchê” e o “bah”, por exemplo),

com uma entonação mais aguda que outra palavra qualquer. Nota-se que a Polar

evidencia as expressões gaúchas mais conhecidas para mostrar ao receptor que se

trata realmente de um sujeito do Rio Grande do Sul.

Como foi visto anteriormente por Jodelet (2001), a representação social é um

retrato da interação entre os seres humanos que estão interligados em uma

determinada cultura. A cerveja Polar insere aspectos da identidade do sujeito do Rio

Grande do Sul como uma forma de vender seu produto a um público que reconhece

os valores repassados no comercial. A imagem do gaúcho nos anúncios da marca

possui características que são reconhecidas facilmente pelo grupo social, causando

assim, interação e compartilhamento entre os membros da sociedade.

O cenário dos anúncios (V1), (V2), (V4) e (V5) é composto por um ambiente

de bar rústico, com objetos simples e sem muitos detalhes em sua decoração. O

entorno inclui mesas e cadeiras de madeira, quadros na parede e pessoas jovens

sentadas conversando e tomando cerveja. É possível identificar que os atores estão

tomando a Polar através da presença de uma garrafa da cerveja e dois copos em cima

da mesa. Percebe-se que o bar é semelhante a um “bolicho”, que também é

identificado como bar no linguajar do gaúcho. A expressão “bolicho” é usada no Sul

do Brasil e possui o mesmo significado que mercearia, mercadinho ou boteco.

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Os elementos presentes no cenário evidenciam um ambiente sem muita

sofisticação, pois o gaúcho em sua essência é um sujeito simples e amante da vida

no campo. O ambiente modesto faz ilusão à vida antiga do gaúcho, que antes de virar

morar na cidade comemorava suas festividades em lugares como galpões, tavernas

e ambientes do interior. Nota-se que o ambiente busca ser democrático, pois o bar

não é muito chique e nem muito brega. Desta forma, a marca consegue se comunicar

com diversos tipos de públicos, pois uma pessoa que mora em Porto Alegre pode se

sentir representado pelos aspectos gaúchos da mesma maneira que um sujeito que

mora no interior do estado.

Como visto anteriormente por Goffman (2007), uma representação acontece

a partir da situação em que se encontra indivíduo. É possível identificar que são dois

homens gaúchos tomando cerveja em um bar, a partir do cenário, maneiras e

aparências. Além disso, ao mesmo tempo insere aspectos antigos do gaúcho, também

insere aspectos modernos e que representam o jovem gaúcho do Rio Grande do Sul.

Dessa forma, a marca se identifica como uma marca tipicamente gaúcha, porém com

uma postura moderna e atual.

Nos anúncios (V1), (V2), (V4) e (V5) percebe-se a presença de mulheres

como figurantes no ambiente do bar. O consumo da venda da cerveja é direcionado

em sua maioria para o público masculino, porém percebe-se nesta peça que a marca

busca atrair o público feminino. A inserção de mulher bar é uma forma de atrair

consumidoras modernas, que bebem com as amigas ou companheiros. Além disso, a

presença da figura feminina atrai o típico homem dominador, podendo ser uma

maneira de causar desejo através da união de cerveja e mulher.

No anúncio (V3), a situação não pode ser reproduzida como nos outros

comerciais analisados, visto que a peça apresenta efeitos visuais. Porém, percebe-se

que o gaúcho presente possui aspectos semelhantes ao modelo de indivíduo do Rio

Grande do Sul mostrado anteriormente. Mesmo aparentando ter uma idade avançada,

o gaúcho em forma de animação possui semelhança com os aspectos jovens e

irreverentes demonstrados em outros anúncios.É percebido, assim como foi afirmado

por Goffman (2007), que no momento em uma pessoa está na presença de outras,

procura agir conforme os valores da coletividade para ser aceito na sociedade. Nos

anúncios da Polar, percebe-se que os personagens apresentam-se como figuras de

identificação pelo público através da representação de um indivíduo do estado do Rio

Grande do Sul.

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7 CONCLUSÃO

Pretendeu-se verificar neste trabalho como os elementos presentes nos

anúncios da cerveja Polar representam a imagem do gaúcho. Primeiramente, buscou-

se entender os conceitos sobre representação social, discurso publicitário e

estereótipo. Em seguida, por meio dos processos metodológicos foi realizada uma

análise de cinco anúncios publicitários da marca. Após estes procedimentos, é

possível fazer algumas considerações sobre os dados averiguados.

Foi observado que nos comerciais da cerveja Polar existe a presença de

estereótipos. Os atores e locutores proferem discursos exagerados em alguns

momentos, evidenciado de maneira excessiva alguns aspectos da cultura gaúcha. O

emprego da expressão “bah” é um destes casos, visto que é usado de forma

exorbitante em uma peça analisada. O reduzido espaço de tempo para divulgar o

produto é um fator determinante para marca usar o estereótipo, visto que desta

maneira o receptor pode entender rapidamente a mensagem.

É possível perceber que são dois homens gaúchos tomando cerveja em um

bar nos anúncios publicitários através do cenário, maneiras e aparências. O ambiente

do bar é democrático e tem como finalidade representar diversos tipos de gaúchos

que vivem no Rio Grande do Sul. Por mais que a marca tenha um público

relativamente definido, o produto é acessível a diferentes classes sociais, e por isso

pode ser consumida por diferentes tipos de pessoas.

As maneiras e as aparências dos atores nos anúncios evidenciam

vestimentas e expressões típicas de um indivíduo masculino e jovem do estado do

Rio Grande do Sul. Foi constatado que estes personagens representam um gaúcho

jovem, irreverente e engraçado.

Na maior parte das narrativas audiovisuais da cerveja Polar foi possível

perceber que existe um padrão cinematográfico que não se preocupa em somente

vender o produto, mas sim de incluir a marca de uma maneira bem próxima da

realidade. O apelo persuasivo acontece através da relação com os aspectos

identitários da cultura gaúcha que são inseridos de uma maneira bem humorada nos

anúncios.

Pode-se concluir que a representação social do gaúcho nas campanhas

audiovisuais da cerveja Polar acontece a partir da conexão com a identidade

sociocultural do Rio Grande do Sul. A figura do gaúcho engloba características que

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são reconhecidas pelos indivíduos do estado, como uso de interjeições típicas, de

estereótipos e de diversos elementos da cultura Rio-Grandense. O gaúcho

representado pela Polar tem características de um homem primitivo do interior do

estado, porém moderno, amigável e bem humorado.

O que pode se constatar com base neste estudo é que o discurso publicitário

tem a possibilidade de usar elementos próximos do público alvo com o objetivo de

causar empatia. Os dados analisados neste trabalho mostram que a Polar usa valores

da sociedade gaúcha para persuadir o público.

Diversas marcas utilizam aspectos regionais para se aproximar do público,

porém, como observado nesta pesquisa, a Polar se destaca pelo fato de valorizar

constantemente a cultura do Rio Grande do Sul. Desta maneira, é uma oportunidade

de manter acessa a chama das tradições gaúchas entre os indivíduos do estado.

Com a enorme quantidade de informação e de opções de compra nos tempos

atuais, é interessante observar uma marca enfatizando aspectos de uma cultura

regional. As pessoas que são impactadas pela cerveja Polar possuem a oportunidade

de aprender mais sobre cultura onde vivem através das histórias presentes nos

anúncios publicitários. Por mais que a finalidade da Polar seja vender o produto, as

campanhas valorizam o Rio Grande do Sul e os antepassados que construíram a

história da sociedade gaúcha.

Por fim, o autor deste trabalho destaca que a realização desta pesquisa

possibilitou adquirir novos conhecimentos em relação ao tema analisado, além de um

entendimento mais profundo da cultura gaúcha. É extremamente importante estudar

e se aprofundar cada vez mais os conceitos relacionados ao regionalismo no

audiovisual publicitário, pois como foi comprovado neste projeto é possível obter um

bom desempenho no envolvimento de consumidores de uma determinada cultura.

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