a concepÇÃo de educaÇÃo em...
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INSTITUTO FEDERAL CATARINENSE
CAMPUS AVANÇADO ABELARDO LUZ
ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO
TRABALHO DE CURSO
A CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO EM WALLON
Patricia Estephane
Jurema de Fátima knopf
Abelardo Luz/SC, dezembrode 2018
TRABALHO DE CURSO
A CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO EM WALLON
Trabalho de Curso – TC apresentado ao Curso de Especialização em Educação: Educação e Prática de Ensino, do InstitutoFederal Catarinense – Campus Avançado Abelardo Luz, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Educação.
Orientador: Jurema de Fátima Knopf
Patricia Estephane
Abelardo Luz/SC, dezembro de 2018
Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor, através do Programa de Geração Automática do ICMC/USP, cedido ao IFC e
adaptado pela CTI - Araquari e pelas bibliotecas do Campus de Araquari e Concórdia.
E314cEstephane, Patrícia A Concepção de Educação em Wallon / Patrícia Estephane; orientadora Jurema de Fátima knopf. --Abelardo Luz, 2018. 20 f.
Artigo (artigo) - Instituto Federal Catarinense,campus Abelardo Luz, Especialização em Educação:Educação e Prática de Ensino, Abelardo Luz, 2018.
1. Desenvolvimento Infantil. 2. Reforma Langevin-Wallon. 3. Psicogenética.I.knopf, Jurema de Fátima. II. Instituto Federal Catarinense. Especializaçãoem Educação: Educação e Prática de Ensino. III.Título.
BANCA AVALIADORA
Prof.ª Mª. Jurema de Fátima Knopf – Orientador (Instituto Federal Catarinense -IFC)
Prof.ª Mª. LiamarBonattiZorzanello -(Instituto Federal Catarinense - IFC)
Prof.ª Mª. Carmem Waldow – (Instituto Federal do Paraná – IFPR)
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A CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO EM WALLON
ESTEPHANE,Patricia1
KNOPF,Jurema de Fátima2
RESUMO: Este trabalho tem como tema as contribuições de Henri Wallon para a Pedagogia, particularmente nas questões referentes ao desenvolvimento da criança. Assim, para o delineamento da pesquisa, os objetivos foram os seguintes: compreender o pensamento de wallon acerca da educação e do desenvolvimento da criança; caracterizar aspectos que demarcam a reforma no sistema de ensino francês proposta por Wallon e, por fim, analisar a psicogênese no processo de desenvolvimento da criança.Nosso interesse em estudar esse tema partiu da importância em compreender a teoria walloniana, pois ela torna-se interessante para o Brasil a partir do ano 1980, onde teve grande contribuição no que se refere à formação de professores que englobam a aprendizagem e o papel do professor na formação da criança,apresentando como ocorre o desenvolvimento da criança. A pesquisa se deu de forma bibliográfica utilizando de materiais já publicados. Alguns autores que nortearam a pesquisa foram: Galvão (1995), Gratiot (2010), Krock (1995), Mahoney (2009), La Taille (2016), Wallon (2007; 2008). A teoria de Wallon está voltada para o estudo da gênese dos processos que constituem o psiquismo humano, visando compreender o sentido da conduta da criança, levando em consideração o contexto em que ela está inserida.A Psicogênese é centrada na gênese da pessoa completa, pois a origem da inteligência é genética e organicamente social, seu desenvolvimento depende das estruturas biológicas e do contato que a criança estabelece com o meio social em que vive. PALAVRAS-CHAVE: Desenvolvimento infantil. Reforma Langevin-Wallon.Psicogenética. ABSTRACT:This work has as its theme the contributions of Henri Wallon to Pedagogy, particularly in questions related to child development. Thus, for the research design, the objectives were: to understand De wallon's thinking about the education and development of the child; characterize aspects that demarcate the reform in the French education system proposed by Wallon and, finally, analyze the psychogenesis in the process of child development. Our interest in studying this theme was based on the importance of understanding the Wallonian theory, since it became interesting for Brazil from the 80's, where it had a great contribution in the formation of teachers that encompass learning and the role of the teacher in the formation of the child, presenting as it happens the development of the child from one phase to the other. The research was done in bibliographical form using materials already published. Some authors that guided the research were: Galvão (1995), Gratiot (2010), Krock (1995), Mahoney (2009), La Taille (2016), Wallon (2007 and 2008). Wallon's theory focuses on the study of the genesis of processes that constitute the human psyche, the author tries to understand the meaning of a behavior of the child, taking into account the context in which it is inserted. His theory of psychogenesis is centered on the genesis of the whole person, since the origin of intelligence is genetically and organically social, its development depends on the biological structures and the contact that the child establishes with the social environment in which he lives. Key Words: Child Development, Langevin-Wallon Reform, Psychogenetic Theory.
1 Graduada em Pedagogia no Instituto Federal do Paraná- IFPR. Acadêmica do curso de Pós-
Graduação de Especialização em Educação: Educação e Prática de Ensino do Instituto Federal Catarinense- IFC, Campus Abelardo Luz. E-mail: [email protected] 2Graduada em Pedagogia para Educadores do Campo na Universidade Estadual do Oeste do Paraná
- UNIOESTE. Especialista em Especialização no Ensinode CiênciasHumanas e Sociais na Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Mestre em Educação na Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE. Orientadora deste trabalho de curso (TC). E-mail: [email protected]
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INTRODUÇÃO
Henri Wallon é muito comentado no meio educacional, pois trouxe uma rica
herança teórica para a educação, tendo em sua formação a marca da Filosofia e da
Medicina, antes de chegar a Psicologia e Educação.
Para o delineamento da pesquisa, os objetivos foram os seguintes:
compreender o pensamento de Wallon acerca da educação e do desenvolvimento
da criança; caracterizar aspectos que demarcam a reforma no sistema de ensino
francês proposta por Wallon e, por fim, analisar a psicogênese no processo de
desenvolvimento da criança.
A principal motivação para o desenvolvimento desta pesquisa foi procurar
entender o que Wallon fez de tão importante para o meio educacional que o leva a
ser tão comentado por outros autores no que se refere a educação, principalmente
sua teoria sobre o desenvolvimento da criança.
Apesar de ser visto por alguns com a imagem de psicólogo, ele deu muita
importância para a educação, junto com Longevin apresentaram uma reforma para o
ensino Francês, que jamais foi discutido pelos parlamentares aos quais era dirigido.
O desenvolvimento da criança ocupa um grande espaço no âmbito
educacional, se o educador respeitar e compreender a fase em que a criança se
encontra poderá obter grandes vantagens para que se ocorra a aprendizagem.
A pesquisa se deu de maneira bibliográfica, pois o tema foi abordado por
meio do estudo de textos historiográficos. Para Gil (1991), a pesquisa bibliográfica
ocorre quando é elaborada a partir de material já publicado, constituído
principalmente de livros, artigos de periódicos e, atualmente, com material
disponibilizado na Internet.
Na primeira parte do artigo, realizamos uma análise do contexto em que
Henri Wallon viveu, a fim de verificar as condições nas quais sua teoria de
desenvolvimento da criança foi produzida. Para isso, pesquisamos diversos textos
de historiadores que se dedicaram a seu estudo, além de sua relevância para o meio
educacional.
Na segunda parte do artigo, realizamos um recorte sobre a Reforma de
Langevin-Wallon, onde se destaca as transformações e o funcionamento do sistema
escolar francês.
Na terceira, apresentaremos a teoria psicogenética de Wallon, pois a
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aprendizagem infantil está centrada em vários campos funcionais: o afetivo, o motor
e o cognitivo e as fases do desenvolvimento da criança na teoria walloniana, e as
fases pela qual ela passa durante todo o período de seu desenvolvimento.
1 O CONTEXTO EM QUE EMERGIU O PENSAMENTO DE WALLON E SUA
CONTRUBUIÇÃO PARA A EDUCAÇÃO
De acordo com Galvão (2004), Henri Wallon nasceu em Paris, em 1879, em
uma família da grande burguesia, com seus 6 irmãos e irmãs e permaneceu até sua
morte em 1962 em Paris. Entrou na Escola Normal Superior em 1899, formando-se
em Filosofia em 1902, após um ano de docência entrou para a faculdade de
Medicina, onde se dedicou ao estudo das anomalias motoras e mentais da criança.
O autor viveu em um período de muita instabilidade social e turbulência
política, dentre eles o avanço do fascismo que ganhou destaque na Europa na
primeira metade do século XX.Os primeiros movimentos fascistas surgiram na
Itáliadurante a 1º Guerra Mundial, posteriormente expandindo-se para outros países
europeus, sendo uma conduta política extremamente autoritáriatendo como inimigos
comunistas, negros, homossexuais, ciganos e judeus. As revoluções socialistas no
século XIX, opõem aos conceitos elitistas e pretendem a abolição do sistema de
classes e do racismo. E as guerras levaram à libertação das colônias na África, que
ao termino da 1º e 2º guerra mundial, aproveitaram este enfraquecimento europeu
para fazer renascer novos movimentos pela independência em todas as partes do
continente.
Além de sua vivência com as duas guerras mundiais, a 1º guerra ocorreu
entre 1914 e foi até 1918, onde a partilha das terras da África e Ásia, gerou muitos
desentendimentos, enquanto Inglaterra e França ficaram com grandes territórios
para explorar, Alemanha e Itália tiveram que se contentar com poucos territórios,
desencadeando assim o conflito, essa guerra resultou na morte de 10 milhões de
pessoas. Já a 2º guerra ocorreu entre 1939 a 1945, é considerada uma
consequência de um conjunto de continuidades e questões mal resolvidas pelos
tratados de paz estabelecidos após a Primeira Guerra Mundial. Os confrontos foram
divididos entre duas grandes coalizões militares: os Aliados, liderados por Estados
Unidos, Inglaterra, França e União Soviética; e o Eixo, composto pela Itália,
Alemanha e Japão, O número de mortos superou os cinquenta milhões, havendo
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ainda uns vinte e oito milhões de mutilados.
De acordo com Galvão (2004), Durante a 1º Guerra Mundial Wallon foi
requisitado como médico, e nesse período escreveu sua tese de doutorado sobre os
estados e problemas do desenvolvimento motor e mental da infância. Em 1922,
Wallon abre um pequeno laboratório em uma escola no subúrbio pariense de
Boulogne-Billancourt, onde desenvolve como pesquisa o desenvolvimento infantil
por meio de entrevistas e enquetes sobre a adaptação escolar e social,
desenvolvendo assim seu grande interesse no campo da educação infantil.
O autor acreditava que a criança deveria ser vista de um modo mais
integrado, que a afetividade poderia ser trabalhada junto com a Psicologia, que a
Pedagogia oferecia campo para a Psicologia, e essa ajudaria na aprendizagem.
Considerava que entre a psicologia e a pedagogia deveria haver uma relação de contribuição recíproca. Via a escola, meio peculiar a infância e ‘obra fundamental da sociedade contemporânea’, como um contexto privilegiado para o estudo da criança. Assim, a pedagogia oferecia campo de observação à psicologia, mas também questões para a investigação. A psicologia, por sua vez, ao construir conhecimentos sobre o processo de desenvolvimento infantil ofereceria um importante instrumento para o aprimoramento da prática pedagógica. (GALVÃO, 1995, p.23).
Henri Wallon manteve contato com vários professores de formação médica
que se encontravam envolvidos no âmbito escolar de seu país, tendo contato com
diferentes movimentos da Escola Nova, que se desenvolvia na França. Em 1925, foi
nomeado diretor do primeiro laboratório de psicobiologia da criança na Escola de
Altos Estudos em Paris. Seus estudos foram voltados para a psicomotricidade, os
mecanismos da memória ou do julgamento moral, abrindo um Centro de Orientação
Profissional destinado à formação de orientadores. Pois acreditava que era
necessário estudar todos aqueles que tinham contato com a criança.
Muitos acreditam que Freud e Wallon têm muitas divergências, porém Wallon
foi um grande leitor das obras freudianas. Criou uma revista francesa onde abordou
a psicologia infantil e escreveu sobre até seus últimos dias de vida. Também
manteve apreciação pelas obras de Decroly e Makarenko uma grande base para
sua teoria psicológica da formação da pessoa.
Henri Wallon como muitos outros teóricos teve importantes contribuições para
área da educação enfatizando o desenvolvimento infantil e o pensamento humano,
no Brasil ele se tornou referência para outros autores devido a seu pensamento
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crítico e dialético.
Reconhecida no Brasil como uma das teorias psicogenéticas, uma vez que procura compreender a gênese e a evolução do funcionamento psicológico humano ao lado das de Piaget e Vigotsky, nos últimos 30 anos, observa-se um crescente interesse no campo educacional pelas contribuições desse filosofo, médico e psicólogo francês que, entre outras coisas, em seu país, foi responsável pela elaboração de um meticuloso projeto político educacional. (GRATIOT, 2010, p.31-32).
Wallon deu uma grande contribuição para o âmbito educacional ao propor a
metodologia que adotava em suas investigações, para ele o adulto já tem ideias
formadas referentes às ações da criança.
Assim também, o movimento e agitação motora, normalmente reconhecida pela escola como sinal de problema de aprendizagem, baixo ou excessivo interesse, se analisado pela perspectiva walloniana, pode acrescentar entendimento às práticas escolares, pelo reconhecimento de que essa expressividade motora está indissociavelmente ligada ao desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da percepção da criança. (GRANDINO, 2010, p.41).
A teoria walloniana torna-se interessante para o Brasil a partir dos anos de
1980, onde teve grande contribuição no que se refere à formação de professores
que englobam a aprendizagem e o papel do professor na formação da criança, o
autor apresenta como ocorre o desenvolvimento da criança de uma fase para a
outra.
Fica a critério de o educador saber aproveitar cada fase do desenvolvimento
infantil, conhecer capacidades e necessidades da criança e assim, organizar suas
atividades voltadas para as si mesma, a escola não deve se afastar dos
conhecimentos gerados pelo meio físico e social que a criança está inserida e sim
utilizar-se desses conhecimentos já existentes.
De acordo com o autor a escola oferece para a criança aprender a assumir e
dividir responsabilidades, a respeitar regras, a administrar conflitos, compreender a
necessidade do vínculo e da ruptura, aprende a conviver e o contato com a cultura.
O educador precisa respeitar o ritmo do desenvolvimento da criança, pois o
desenvolvimento da pessoa como uma construção progressiva em que sucedem
fases, que acontecem ora com predominância afetiva ora cognitiva (GALVÃO,
1995), oferecendo outros meios para que esse desenvolvimento se concretize da
melhor forma possível, ajudando o aluno a racionalizar suas emoções na superação
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de obstáculos, propor situações que despertem o interesse, até mesmo modificando
o ambiente de aprendizagem, dando tempo para pensar, organizar, elaborar seu
trabalho para que possa ter sucesso. É necessário que se identifique as
necessidades que o aluno possui para que se possam dar condições para satisfazê-
las.
Wallon, psicólogo e educador, legou-nos muitas outras lições. A nós, professores, duas são particularmente importantes. Somos pessoas completas: com afeto, cognição e movimento, e nos relacionarmos com um aluno também pessoa completa, integral, com afeto, cognição e movimento. Somos componentes privilegiados do meio de nosso aluno. Torná-lo mais propício ao desenvolvimento é nossa responsabilidade. (ALMEIDA, 2009, p.86).
Wallon desde muito cedo mostrou interesse pelo desenvolvimento da criança,
pelos seus processos mentais, assim ao longo de seus estudos desenvolveu alguns
estágios de desenvolvimento pelo qual a criança percorre, para ele o processo de
desenvolvimento não ocorre linearmente, pois o desenvolvimento humano é
marcado por avanços, recuos e contradições que veremos no decorrer do artigo.
Seu envolvimento maior na educação foi a partir da formulação do projeto de
reforma do ensino francês, onde o autor acreditava que a escola era um ambiente
de mudança para a sociedade.
2 O PROJETO DE REFORMA DO ENSINO LANGEVIN-WALLON
O Projeto chamado Langevin-Wallon, iniciado em 1936 e finalizado em 1945,
previa a reformulação na estrutura e no funcionamento do ensino francês, para que
gerasse uma afirmação nos direitos dos jovens e um desenvolvimento completo,
promovendo o direito de todos a educação, visto como a oportunidade de expressar
seus ideais de homem e de sociedade. Sendo a diretriz norteadora do Projeto a
construir uma educação mais justa para uma sociedade mais justa, repousando em
quarto princípios:
Justiça – Qualquer criança, qualquer jovem, independentemente de suas origens familiares, sociais, étnicas, tem igual direito ao desenvolvimento completo, a única limitação que pode ter é a de suas próprias aptidões. Dignidade igual de todas as ocupações – Todas as ocupações, todas as profissões se revestem de igual dignidade, ou seja, o trabalho manual, a inteligência prática não podem ser subestimados. A educação não deverá
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fomentar o predomínio da atividade manual e intelectual em função de razões de origem de classes ou étnicas. Orientação – O desenvolvimento das aptidões individuais exige primeiro orientação escolar, depois orientação profissional. Cultura Geral – Não pode haver especialização profissional sem cultura geral. Em um estado democrático no qual todo trabalhador deve ser um cidadão, é indispensável que a especialização não seja um obstáculo para a compreensão dos problemas mais amplos; só uma solida cultura geral libera o homem dos estreitos limites da técnica; a cultura geral aproxima os homens, enquanto a cultura especifica os afasta. (MAHONEY; ALMEIDA, 2009, p.75)
Henri Wallon junto com o físico Paul Longevin teve uma grande contribuição
na reforma do ensino francês. De acordo com Gratiot (2010), em 1936, ajudou a
implantar as “classes novas”, que seriam a sexta série, nas quais se praticavam os
métodos ativos e a observação continua dos estudantes, sendo que a Segunda
Guerra Mundial faz com que ela fosse encerrada por um período e só sendo
retomada em 1945. Apenas no ano seguinte o projeto foi entregue ao escritório da
Assembleia Nacional, porém jamais foi discutido pelos parlamentares aos quais era
dirigido.
Seu interesse constante pela educação o levou a elaborar textos voltados
especificamente para a área, apresentou analise da educação Nova e da educação
de modo geral.
Na verdade, a evolução da vida psíquica na criança já deu motivo a numerosos trabalhos. As mudanças de reações e de comportamento da criança foram registradas e destacadas, conforme a idade, dia após dia, semana após semana ou mês após mês. (WALLON, 2008, p.16).
De acordo com Gratiot (2010), o Projeto referido previa a limitação de vinte e
cinco alunos por classe, sendo que inicialmente receberia uma orientação escolar e
depois uma orientação profissional, agregando a cultura geral e a cultura
especializada. Para tal a escola deveria ser dividida em níveis de ensino.
O projeto abrangia transformações no funcionamento e na estrutura do
sistema escolar francês, as crianças com idade entre 2 a 3 anos deviam passar por
uma creche que ofereceria educadores infantis preparados para atendê-los. A
Escola Maternal deveria atender crianças de 3 a 7 anos.
O projeto previa que o ensino de primeiro grau era obrigatório dos 7 aos 18
anos sendo dividido em 3 ciclos:
O primeiro ciclo atenderia crianças de 7 a 11 anos, onde o ensino era comum
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para todos com classes separadas de acordo com os que possuíam necessidades
especiais. Era oferecido instrumentos intelectuais necessários a todos. O segundo
ciclo era de 11 a 15 anos, o ensino seria comum e ao mesmo tempo um período de
orientação para o desenvolvimento das aptidões, era um dos ciclos mais importante
para a reforma, pois oferecia um leque de opções. O terceiro ciclo seria dos 15 a 18
anos onde os alunos seriam testados para ver qual aptidão se desenvolveria mais, a
aptidão aos estudos teóricos, estudos profissionais ou estudos práticos.
Terminando o ensino de primeiro grau obrigatório até os 18 anos em seguida
se davam início ao ensino de segundo grau. Este engloba o ensino propedêutico
que era obrigatório para o ingresso nas universidades, sendo preparatório para um
ensino mais completo.
O projeto exigiu que fosse dada uma atenção especial para a formação dos
professores, pois o ensino se torna obrigatório até os 18 anos havendo uma
distinção entre professores de disciplinas comuns e professores de disciplinas
especializadas. Para essa formação de professores seria necessário obter o título
nas Escolas Normais Superiores (ENS).
De acordo com a quarta parte desse projeto os alunos deveriam ter
psicólogos para acompanhar seu progresso, os professores deveriam ter uma
prática pedagógica beneficiados com uma especialização em psicologia infantil, pois
o psicólogo escolar deveria ajudar a criança no seu desenvolvimento máximo.
Wallon, ainda em seu projeto de reforma, aborda programas, horários, métodos e
execução de estudos.
Há no projeto todo o detalhamento de programas, horários, métodos, sistema de avaliação e formação de professores, girando em função dos pressupostos do pensamento Waloniano: iguais níveis de importância ao trabalho e ao pensamento, à inteligência prática e à reflexiva, às tarefas manuais e às intelectuais. Quanto aos horários, o Projeto afirma que, para se fixar o tempo consagrado à criança pela escola, é preciso levar em conta suas possibilidades fisiológicas e suas necessidades psicológicas, e mais: que o fundamental não é a duração da jornada escolar, mas o modo como o trabalho docente é articulado e executado. (ALMEIDA, 2009, p.76).
Durante as análises feitas Wallonapontou semelhanças e diferenças no
desenvolvimento das crianças, e identificando vários estágios pelo qual a criança
percorre. Sua teoria agrega fatores orgânicos e fatores sociais.
[...] Será no mergulho do organismo em dada cultura, em determinada época,
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que se desenvolverão as características de cada estágio. A interação entre fatores define as possibilidades e os limites dessas características. A existência individual como estrutura orgânica e fisiológica está enquadrada na existência social de sua época. (MAHONEY, 2009, p.12).
O projeto oferece métodos para que o professor possa garantir as atividades
dos alunos, demostrando o respeito agregado por Wallon à instituição escolar e ao
professor como um contexto privilegiado para o estudo da criança.
É importante notar que o plano visava uma educação em todos os níveis, desde o elementar até a especialização cientifica, fazendo referência aos pesquisadores. O papel da escola foi revisto e indicado como o de difusão geral da cultura, de informação técnica e cívica e de agente primordial na consequente criação de novos empregos. O plano discutia também a necessidade de reformas sociais integrais que pudessem receber suas inovações. Na época, a França aplicava entre 6 e 7% de seus recursos em educação, enquanto que na Inglaterra 20%, os Estados Unidos 21% e a Rússia 25%. (KROCK,1995, p.21).
O Plano visava reformas nas escolas, reconstrução de edifícios que foram
destruídos pela guerra, e a construção de novos, a redistribuição das pessoas, tanto
técnico como docente, e o financiamento de medidas para uma justiça social no
país.
O Projeto Langevin-Wallon não foi discutido na França, porém por quase
cinco anos um grande número de organizações utilizou-se dele tanto na França
como em outros países, sem sequer fazer menção explicita ao Projeto.
3 A TEORIA DA PSICOGÊNESE E AS FASES DO DESENVOLVIMENTO DA
CRIANÇA EM WALLON
A teoria de Wallonestá voltada para o estudo da gênese dos processos que
constituem o psiquismo humano, o autor tenta compreender o sentido da conduta da
criança, levando em consideração o contexto em que ela está inserida.
É importante discutir a psicogênese porque Wallon considera o sujeito como
"geneticamente social" e estudou a criança contextualizada, nas relações com o
meio para ajudar a compreender o desenvolvimento intelectual e social da criança.
De acordo com Galvão (2004), a cognição está alicerçada em quatro
categorias de atividades cognitivas específicas, às quais dá-se o nome de campos
funcionais. Os campos funcionais seriam o movimento, a afetividade, a inteligência e
a pessoa.
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O primeiro campo: o movimento é o primeiro sinal de vida psíquica da
criança, onde ele discrimina duas dimensões. A dimensão mais expressiva que são
as expressões que estão nas bases das emoções e a dimensão instrumental que é
a ação direta sobre o meio físico e concreto. O movimento tem um papel
fundamental para a afetividade e cognição.
O movimento traz consigo as direções e os níveis, sendo a primeira forma de
movimento a passiva, que se expressa pelo equilíbrio e a compreensão que o corpo
realiza em torno da sensação de peso e desconforto, alterando sua posição, em
seguida o movimento se torna deslocamentos ativos com movimentos voluntários.
O movimento, na teoria de Wallon, está presente em todas as faces evolutivas, incluindo as dedicadas à atividades puramente abstrata, assim como na constituição do temperamento de cada pessoa, ou seja, na formação básica da vida vegetativa e de relação; temperamento, para Wallon, é o fundamento psicológico do sujeito. (KROCK, 1995, p.30).
O segundo campo:a afetividade se inicia no período em que Wallon
denomina como sendo impulsivo-emocional e se constitui como ponto de partida do
psiquismo. Sendo dialética para dar conta de sua natureza paradoxal e genética
para acompanhar as mudanças funcionais. O autor classifica as emoções como
sendo hipotônica e hipertônica.
Aprofundamento sua tese acerca do papel do tônus, Wallon o utiliza como critério classificatório: identifica emoções de natureza hipotônica, isto é, redutores do tônus, tais como o susto e a depressão. Um medo súbito é capaz de dar instantaneamente a um corpo humano a consistência de um boneco de trapos. Outras emoções são hipertônicas, geradoras de tônus, tais como a cólera e a ansiedade, capazes de tornar pétrea a musculatura periférica. A concentração, sem escoamento, do tônus, nestas últimas, é percebida como extremamente penosa. Vem daí o caráter prazeroso das situações afetivas onde se estabelece um fluxo tônico, de tal sorte que ele se eleva e se escoa imediatamente em movimentos expressivos: é o caso da alegria e também, de certa forma, o do orgasmo venéreo. (DANTAS, 2016, p.87).
A primeira forma de afetividade expressada pelo indivíduo, são as emoções,
permitindo o desenvolvimento de uma instância para se compreender a realidade e
assim analisar, conhecer e explicar, quando chega à vida adulta a emoção passa a
ser dominada pela atividade intelectual.
O terceiro campo: a inteligência que se expressa através da linguagem e da
fala. Para o autor a inteligência só pode ser entendida a partir do estudo do indivíduo
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ou o indivíduo só pode ser entendido a partir do estudo da inteligência, sendo a
integração responsável pelo seu conjunto.
Para Wallon a inteligência é um conjunto de funções, atitudes e atividades,
sendo um todo multifuncional, ela se esboça no estágio afetivo e se completa no
teórico, que a função biológica já é social, o psíquico contém os dois. A inteligência
evolui em diferentes níveis de organizações e em diferentes direções.
O estudo da inteligência é o da maneira como cada um trabalha o todo organismo-meio, numa longa conquista pessoal que parte da realização de movimentos impulsivos, para chegar, na vida adulta, à escolha de múltiplas opções de ação. (KROCK, 1995, p.23).
Para Wallon, a inteligência está diretamente relacionada com duas
importantes atividades cognitivas humanas: o raciocínio simbólico e a linguagem,
pois à medida que a criança vai aprendendo a pensar nas coisas fora de sua
presença, o raciocínio simbólico e o poder de abstração vão sendo desenvolvidos.
O quarto campo: e a pessoa que articula todos os demais campos e é
independente. De acordo com o autor, os domínios funcionais organizam
orientações da atividade intelectual que instituem as etapas da evolução psíquica e
é importante considerar as fases evolutivas como uma preparação para as fases
posteriores. Seria este também o campo funcional responsável pelo
desenvolvimento da consciência e da identidade do eu.
O progresso do domínio da pessoa se completa quando ele ultrapassa a si mesma. Seu objetivo vai além da consciência de si e se torna multidirecional, universal e metafísico. É pelo confronto de valores e de grupos sociais que passa a buscar o sentido e o significado daqueles. Para Wallon, aíestá o sintoma de que a etapa da infância cedeu lugar ao novo estágio da personalidade. (KROCK, 1995, p.40).
Para o autor nem sempre esses quatro campos estão em harmonia e, sim,
podem estar em conflito, porem são inseparáveis.
O autor reconstruiu o seu modelo de análise ao pensar no desenvolvimento
humano, estudando-o a partir do desenvolvimento psíquico da criança. Pois o
desenvolvimento da criança aparece descontínuo, marcado por contradições e
conflitos, resultado da maturação e das condições ambientais, provocando
alterações qualitativas no seu comportamento em geral a passagem dos estágios de
desenvolvimento não se dá linearmente, por ampliação, mas por reformulação,
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instalando-se no momento da passagem de uma etapa a outra, crises que afetam a
conduta da criança.
É necessário compreender o desenvolvimento do aluno para que se possa
abranger sua totalidade, para que o educador consiga chegar até os aspectos
cognitivos, motor e afetivo, Wallon assume uma perspectiva da psicologia genética
na vertente do materialismo dialético para estudar a transformação da criança para o
adulto. Sendo o método a análise genética comparativa multidimensional.
O método consiste em fazer uma série de comparações para esclarecer cada vez mais o processo de desenvolvimento: comparações da criança patológica com a criança normal; da criança normal com o adulto normal; do adulto de hoje com o de civilizações primitivas; de crianças normais da mesma idade e de idades diferentes; da criança com o animal... conforme as necessidades da investigação. O fenômeno é um conjunto de variáveis e só pode ser compreendido pela comparação com outros conjuntos. (MAHONEY, 2009, p.16).
Para o Gratiot (2010), a teoria da psicogenética do desenvolvimento da
personalidade integra a afetividade e a inteligência, onde a criança atravessa
estágios de interiorização e momentos voltados para o exterior.
Sendo que o conhecimento de si abrange o Impulsivo Emocional,
Personalismo, Puberdade e Adolescência, e o conhecimento do mundo exterior se
volta para Sensório-motor e Projetivo e Categorial. O Impulsivo Emocional se
evidencia como sendo o estágio motor, o Personalismo, Puberdade e Adolescência
como sendo o estágio afetivo, o Sensório-motor e Projetivo, Categorial como sendo
o estágio cognitivo. Quando a direção e para si mesma o predomínio é mais afetivo,
e quando é para o mundo exterior predomina o cognitivo.
O motor, o afetivo, o cognitivo, a pessoa, embora cada um desses aspectos tenha identidade estrutural e funcional diferenciada, estão tão integrados que cada um é parte construtiva dos outros. Sua separação se faz necessária apenas para a descrição do processo. Uma das consequências dessa interpretação é de que qualquer atividade humana sempre interfere em todos eles. Qualquer atividade motora tem ressonâncias afetivas e cognitivas; toda disposição afetiva tem ressonâncias motoras e cognitivas; toda operação mental tem ressonâncias afetivas e motoras. E todas têm um impacto no quarto conjunto: a pessoa, que, ao mesmo tempo em que garante essa integração. É resultado dela. (MAHONEY, 2009, p.15).
De acordo com Mahoney “et al” (2009), apresentaremos a organização de
cada estágio que caracteriza o desenvolvimento da criança para a teoria
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psicogenética.
Estágio 1- Impulsivo Emocional (0 a 1 ano). Nesse período a criança mantem
as relações através de laços emocionais, ela se encontra rodeada de indivíduos
sociais que fornecem a ela significados e repostas para as necessidades que venha
a ter, não tendo uma diferenciação entre o eu e o outro. O eu se torna a afirmação
de sua identidade e o outro aquilo que é expulso dessa identidade para conservá-la.
A primeira fase ocorre de 0 a 3 meses (impulsiva), onde as atividades estão
voltadas para a exploração do próprio corpo visando às sensações internas, os
movimentos são impulsivos. Nessa fase ocorre uma manifestação de uma
impulsividade motora pura, onde o bebê tem necessidades fisiológicas que não são
atendidas como eram no momento da gestação, devido a isso ocorre um
desconforto que gera movimentos impulsivos e descontínuos para manifestar
sensações diversas, sendo o contato inicial com a realidade. A sobrevivência do
bebê fica totalmente a responsabilidade de um adulto, ocorre à associação de
determinadas respostas ao atendimento de determinadas necessidades.
Para Wallon o movimento é muito importante merecendo destaque em sua
teoria, sendo umas das principais formas de comunicação desde o início de vida do
indivíduo. Apresentando-se em três formas. Os movimentos de equilíbrio que irão
proporcionar a criança a passar da posição deitada para sentada, de joelhos para
ficar em pé. Os movimentos de preensão e de locomoção permitirão a criança o
deslocamento do corpo e de objetos pelo espaço. E as reações posturais que vão
permitir deslocamento dos segmentos corporais, sendo as atitudes expressivas e
mímicas.
A segunda fase ocorre dos 3 meses a 1 ano (emocional), onde já se pode
diferenciar as manifestações de medo, alegria, raiva e outros padrões emocionais,
são caracterizadas por meio de expressões e comunicação, sendo a linguagem
primitiva constituída de emotividade pura. Afetivo é visto como uma forma de afetar
o outro, pois o bebê dessa forma consegue satisfazer suas necessidades e a partir
disso se forma o início da vida psíquica do indivíduo.
No momento em que a criança promover atividades repetitivas que
forneceram aprendizagens importantes já se irá manifestar o próximo estágio de seu
desenvolvimento.
Estágio 2- Sensório-motor e Projetivo (1 a 3 anos). Nesse período se
desenvolve as relações exteriores e a inteligência da criança, a imitação favorece a
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aquisição da linguagem. As atividades se voltam para a descoberta do ambiente
através do manipular, agarrar, sentar, entre outros. A criança busca uma exploração
do mundo exterior, a inteligência dedica-se a construção da realidade.
Na fase do Sensório-motor a criança manipula um objeto, ela planeja e
organizam seus movimentos e os efeitos sensoriais, ela começa a ter através
dessas descobertas uma maior independência, pois ela começa a conhecer o
espaço e a si mesma, sendo que a linguagem se torna essencial para o
desenvolvimento psíquico da criança.
A segunda parte desse estágio, o Projetivo se caracteriza pelo funcionamento
mental da criança, onde o gesto vai preceder a palavra, não se consegue imaginar
sem representar o objeto, a ação motora da forma ao pensamento. A criança já
consegue ter controle sobre seus movimentos e começa a imitar o que vê a seu
redor, fazendo a uma separação de si mesma e do ambiente exterior.
Estágio 3- Personalismo (3 a 6 anos). Nesse período a afetividade se
sobressai, formando a personalidade, autoconsciência, imitações motoras e
posturas sociais. A criança inicia o processo onde se faz a construção de sua
personalidade.
Percebe-se uma evolução na linguagem assim como início da consciência de
si, sendo esse estágio marcado por três fases: oposição, sedução e imitação. A
criança começa a confrontar os outros indivíduos para experimentar sua
independência, apropriando-se sobre objetos dos outros para uma afirmação de si
próprio. A criança já adquire a necessidade de ser admirada pelos outros, de expor
suas qualidades para que possa ter atenção, tornando-se competitiva e ciumenta.
Nessa fase a criança começa a fazer imitações das pessoas que gosta.
Esse estágio representa um grande trabalho afetivo e moral, sendo que a
família é o principal condutor, porem a escola pode contribuir imensamente para
esse desenvolvimento, pois a criança começa a perceber diferenças entre seus
companheiros e o educador precisa facilitar essa diferenciação tornando o ambiente
muito enriquecedor.
Estágio 4- Categorial (6 a 11 anos). Nesse período predomina a inteligência e
a exterioridade, a criança começa a distinguir o que é seu e o que é do outro, o
pensamento avança do abstrato para o raciocínio simbólico, assim favorecendo a
memória voluntária, a atenção e o raciocínio associativo. A criança consegue manter
uma associação mais nítida sobre si mesma.
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Esse período é marcado por duas etapas: a primeira que vaidos cinco até os
nove anos de idade sendo definido como pré-categorial é marcado pelo sincretismo,
onde a criança tem o pensamento por pares pois ela não consegue se ater apenas a
um objeto ou a uma situação. A segunda fase denominada pensamento categorial
ocorre entre os 9e 10 anos, irá possibilitar a criança a identificar, analisar, definir e
classificar os objetos ou situações.
A criança passa a estabelecer classificações por meio de diferenciações sucessivas do real, a estabelecer nexos e relações novas nos diversos aspectos da realidade, tanto no plano dos objetivos concretos como no nível das relações de que participa. Toma conhecimento a respeito de si própria e, cada vez mais, tem condições de se posicionar diante de situações conflituosas que emergem do meio. (AMARAL, 2009, p.57).
Quanto mais a criança faz parte de sua cultura, ela passa a ter noção de
tempo, de causa e de espaço, pois seu pensamento se organiza em torno das
noções fundamentais. Nessa fase o professor precisa estar atento para situações
que podem vir a ocorrer na escola, como a não aceitação e discriminação. E
necessário que a criança tenha seus momentos individualizados e que o professor
planeje momentos de interação entre todos.
Estágio 5- Puberdade e Adolescência (a partir dos 11 anos). Nesse período
aparecem os conflitos internos e externos fazendo o indivíduo auto afirmar-se para
lidar com as transformações da sexualidade.
De acordo com Mahoney “et al” (2009), a puberdade é um fator biológico
relacionado com fatores psicológicos e sociais do desenvolvimento, sendo o estágio
que separa a criança do adulto que vai se transformar. Ocorrem as modificações do
corpo que acentuam as diferenças femininas e masculinas e as transformações
psíquicas, pois a vida afetiva se torna mais intensa experimentando necessidades
novas.
O professor representa a cultura para o aluno, é através dele que o aluno terá
acesso, ampliando o conceito de socialização, sendo a escola responsável não
apenas pelo período que o aluno se encontra ali e sim pelo período posterior a ela.
Para o autor os estágios não se encerram na adolescência e sim
permanecem durante toda a vida do indivíduo através da cognição e da afetividade.
O autor agrega muita importância para a afetividade que se desenvolve através de
gestos, expressões faciais e corporais, sendo que se o professor estiver atento a tais
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manifestações corporais terá elementos a mais para ajudar no processo de
aprendizagem.
De etapa em etapa, a psicogênese da criança mostra, através da complexidade dos fatores e das funções, através da diversidade e oposição das crises que a pontuam, uma espécie de unidade solidaria, tanto no interior de cada uma como entre todas. É contra a natureza tratar a criança de forma fragmentada. Em cada idade constitui um conjunto indissociável e original. Na sucessão das suas idades é um único e mesmo ser continua metamorfose. Sua unidade, feita de contrastes e de conflitos, não deixa por isso de ser menos suscetível de ampliações e de inovações. (WALLON, 2007. p. 224)
Wallon buscando compreender o psiquismo humano volta sua atenção para a
criança e assim enfocando o desenvolvimento em seus domínios afetivo, cognitivo e
motor, procurando mostrar quais são as fases do desenvolvimento e o vínculo entre
cada campo funcional e suas implicações em um todo na criança.
CONSIDERAÇOES FINAIS
Henri Wallon possui uma rica herança teórica para a compreensão do
desenvolvimento da criança, ao englobar os campos funcionais como igualmente
importantes para a aquisição de conhecimento e as fases do desenvolvimento que a
criança percorre, promovendo ao educador um entendimento do aluno dentro e fora
da escola. O autor afirma que a afetividade contribui para o desenvolvimento da
aprendizagem, sendo que a escola tem a responsabilidade de atender as exigências
afetivas do sujeito escolar, suprindo as necessidades que o aluno venha a ter.
Apesar da Reforma Langevin-Wallon não ter sido aplicada diretamente no
ensino Francês, ficou evidenciado que algumas de suas contribuições foram
utilizadas sem fazer referência ao mesmo, que essa reforma tinha como principal
objetivo uma escola democrática, sem discriminações e direcionada para todos com
enfoque para a justiça social.
Wallon oferece diretrizes preciosas para a própria formação e instrumentos
importantes para a análise e a compreensão dos fenômenos pedagógicos e
psicológicos que ocorrem na família e no âmbito educacional. Podendo concluir que
o processo de ensino-aprendizagem se enriquece na medida em considera a
integração cognitiva, afetiva e motora.
Wallon queria muito compreender como funcionava o intelectual humano e
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assim foi pesquisar a criança, para que, desde seu nascimento pudesse ter tal
compreensão, através de sua teoria fica evidenciado que a criança participa do meio
escolar, meio familiar, dentre outros, e que todos irão influencia-la.
Por meio da Teoria da Psicogênese fica evidenciado que a afetividade age
sobre o aluno de forma positiva ou negativa, sendo necessário que o educador saiba
lidar com todo esse processo, pois a afetividade pode favorecer a aprendizagem no
ambiente escolar, promovendo um local propício para o desenvolvimento integral.
A grande importância de Wallon para a educação se dá as grandes pistas que
sua teoria traz para educadores, para que possam compreender a fase de
desenvolvimento que a criança se encontra e dessa maneira saber que não se trata
apenas de episódios de indisciplinas por parte dos alunos.
Através de suas contribuições sobre a emoção, fica claro a importância de um
ambiente livre de pressão e de situações que causem medo na criança e assim ela
use o seu tempo para aprender e não para superar as emoções, toda a pratica
docente vinculada com sua teoria trará grandes benefícios ao docente.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Laurinda Ramalho de; Mahoney, Abigail Alvarenga (orgs.) Afetividade e aprendizagem: contribuições de Henri Wallon. São Paulo: Edições Loyola, 2007. GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1991.
GALVÃO, Isabel. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. 16 ed. Petrópolis: Vozes, 1995. GRATIOT, AlfandérryHélène. Henri Wallon. Coleção Educadores. Recife: Editora Massangana, 2010. KROCK, Dulce. Inteligência Expressiva: a partir da teoria psicogenética de Henri Wallon. São Paulo: Summus, 1995. MAHONEY, Abigail Alvarenga; ALMEIDA, Laurinda Ramalho de (org). Henri Wallon: Psicologia e Educação. São Paulo: Edições Loyola, 2009. LA TAILLE, Yves de. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão/ Yves de La Taille, Marta Kohl de Oliveira, Heloysa Dantas. 27 ed. São Paulo: Summus, 2016.
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WALLON, Henri. A evolução psicológica da criança. 3 ed. Rio de Janeiro: Andes, 2007. WALLON, Henri. Do ato ao pensamento: ensaio de psicologia comparada.Petrópolis, Vozes, 2008.