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FACULDADE 7 DE SETEMBRO - FA7 CURSO GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL – HABILITAÇÃO EM PUBLICIDADE E PROPAGANDA A COMUNICAÇÃO VISUAL UTILIZADA NA PRODUÇÃO DE LIVROS INFANTIS E SUA RELAÇÃO COM AS CRIANÇAS DO COLÉGIO OLIVEIRA LIMA NATASHA GARBULHA BORGES DE CASTRO FORTALEZA 2010.2

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FACULDADE 7 DE SETEMBRO - FA7

CURSO GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL – HABILITAÇÃO EM PUBLICIDADE E PROPAGANDA

A COMUNICAÇÃO VISUAL UTILIZADA NA PRODUÇÃO DE LIVROS INFANTIS E SUA RELAÇÃO COM AS CRIANÇAS DO COLÉGIO

OLIVEIRA LIMA

NATASHA GARBULHA BORGES DE CASTRO

FORTALEZA 2010.2

2

NATASHA GARBULHA BORGES DE CASTRO

A COMUNICAÇÃO VISUAL UTILIZADA NA PRODUÇÃO DE LIVROS INFANTIS E SUA RELAÇÃO COM AS CRIANÇAS DO COLÉGIO

OLIVEIRA LIMA

Trabalho de conclusão de curso apresentado à Faculdade 7 de Setembro como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social – Habilitação em Publicidade e Propaganda.

Orientadora: Profa. Nila Bandeira, Ms.

FORTALEZA 2010.2

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A COMUNICAÇÃO VISUAL UTILIZADA NA PRODUÇÃO DE LIVROS INFANTIS E SUA RELAÇÃO COM AS CRIANÇAS DO COLÉGIO

OLIVEIRA LIMA

Monografia apresentada à Faculdade 7 de Setembro como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Comunicação social – Publicidade e propaganda.

____________________________________ Natasha Garbulha Borges de Castro

Monografia aprovada em: ____/____/____

____________________________________ Profa. Leonila Bandeira, MSc.

1ºExaminador: ______________________________________ Prof. Leonardo Macêdo Paiva, MSc.

2ºExaminador: _______________________________________ Profa Juliana Lotif, MSc.

____________________________________ Profa Juliana Lotif, MSc. Coordenadora do Curso

4

RESUMO

O presente trabalho apresenta a evolução do livro no Brasil desde seu surgimento na antiguidade clássica até o início do século XXI, abordando a evolução das técnicas de produção que alavancaram o mercado literário e impulsionaram o segmento gráfico. A evolução do segmento de livros teve como conseqüência a conquista de um novo publico e induziu que os escritores e profissionais de design começassem a produzir livros específicos para crianças. Com objetivo de apresentar as técnicas de comunicação visual presentes no livro infantil, analisando o desenvolvimento do mercado de livros e o surgimento da literatura infantil este trabalho apresenta as técnicas de comunicação visual na produção dos livros infantis, vistas como atrativo e característica geradora de proximidade com a criança. São apresentados neste levantamento bibliográfico o estudo dos níveis da mensagem visual, cor, textura, tipografia e um estudo dos processos de impressão, suportes e acabamentos. Para tanto, foi realizada uma pesquisa de campo com alunos e professoras do Colégio Oliveira Lima, sendo produzido um relatório de observação que afirma que as educadoras do colégio têm em sua principal preocupação o trabalho coletivo dos alunos. A pesquisa realizada com as crianças mostrou que a maioria delas se identifica principalmente com imagens representacionais. O publico de crianças de 6 a 8 anos é curioso e atendo a todos os detalhes, exigindo um crescimento e atenção do mercado literário. São crianças que não se contentam mais só com lindos desenhos, eles buscam encontrar uma mistura de fantasia e realidade. Palavras-chave: livro, comunicação visual, produção gráfica, literatura infantil, criança.

5

AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer primeiramente a minha família pelo apoio que sempre me deram

em toda minha vida acadêmica.

Agradecer ao meu namorado e amigos pelo apoio e compreensão, especialmente a

Daniela Ganzarolli, que me proporcionou o encontro com o colégio avaliado.

A minha orientadora Nila Bandeira, que esteve do meu lado na produção deste

trabalho, sempre com muita paciência, me incentivando e esclarecendo minhas dúvidas.

Agradecer a Faculdade 7 de Setembro pelas experiências e oportunidades.

A todos os professores, especialmente a professora Ana Paula Rabelo pela ajuda no

decorrer desse trabalho, ao professor Leonardo Paiva, pelos esclarecimentos e apoio, e a

coordenadora do curso, Juliana Lotif que foi sempre muito atenciosa, me auxiliando todas as

vezes que precisei.

Agradecer a toda equipe do Colégio Oliveira Lima e seus alunos, por me receberem

tão bem, me auxiliando na realização desta pesquisa.

6

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...............................................................................................................8

1. A HITÓRIA DO LIVRO NO BRASIL....................................................................11

1.1. A escrita como forma de comunicação .................................................................11

1.2. Surgimento e evolução do mercado literário ........................................................12

1.3. Primeiras técnicas de impressão ...........................................................................16

1.4. Partes que compõem o livro..................................................................................18

1.5. A evolução da tecnologia no surgimento de novas técnicas de produção ............20

2. DESIGN E PRODUÇÃO GRÁFICA EM LIVROS INFANTIS...........................23

2.1 Níveis da mensagem visual....................................................................................23

2.1.1 Imagem ......................................................................................................25

2.1.1.1 A Imagem nos livros .......................................................................26

2.1.2 Fotografia ....................................................................................................27

2.1.3. Ilustração....................................................................................................29

2.2 Elementos da mensagem visual .............................................................................31

2.2.1 Cor...............................................................................................................31

2.2.2 Textura ........................................................................................................38

2.2.3 Tipografia....................................................................................................39

2.3. Processos de impressão.........................................................................................43

2.4. Suporte de impressão: Papel ................................................................................47

2.5. Acabamentos.........................................................................................................50

3. O LIVRO INFANTIL ...............................................................................................53

3.1 O surgimento da literatura infantil .........................................................................53

3.2 A infância e o livro ................................................................................................57

3.3 A imagem no livro infantil.....................................................................................58

3.4 O produto livro no inicio do século XXI ...............................................................63

4. PESQUISA DE CAMPO...........................................................................................65

4.1 Colégio Oliveira Lima ...........................................................................................65

4.2 Metodologia............................................................................................................66

4.3 Objetos de estudo....................................................................................................67

7

4.4 Relatório de observação.........................................................................................72

CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................75

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................77

ANEXOS.........................................................................................................................79

8

INTRODUÇÃO

Com o intuito de criar um meio seguro e eficaz no acúmulo de conhecimentos, o

homem inventou a escrita. Lins (2003) afirma que com o surgimento das formas de impressão

e principalmente da prensa de tipos móveis de Gutenberg, a escrita se difundiu como forma de

comunicação.O texto escrito é capaz de produzir imagens na cabeça do leitor, podendo gerar

compreensões diferentes de um mesmo texto. Contudo, associar um texto à uma imagem pode

completar e enriquecer uma história, trazendo uma compreensão única do texto.

A imagem possibilita que uma história se transforme, trocando de cenário,

transformando uma personalidade, podendo nos levar a viajar no tempo, criar novos vínculos

ou afirmar os já existentes.Para tanto, a arte da literatura acompanhou a evolução da

humanidade, seus ideais e valores foram modificados. A literatura infantil, assim como todas

as outras, é arte e transmite experiências.

A motivação deste trabalho surgiu do interesse em entender melhor o livro como

objeto de interesse da criança e sua importância na formação e desenvolvimento desses

pequenos leitores.Segundo Lins (2003), o livro infantil possui o papel de estimular a criança a

ser criança,onde em uma época cheia de recursos eletrônicos e de grande oferta dos mais

variados tipos de imagens, o livro mantém função de estimular a criatividade da criança.

No Capítulo 1 foi realizado um levantamento bibliográfico para abordar a História do

Livro no Brasil. Desde o início dos trabalhos da Melhoramentos como editora em 1915,

publicando o primeiro livro infantil editado no Brasil, O Patinho Feio, passando pelo processo

de industrialização de Juscelino Kubitschek, o então presidente do Brasil.Este que libera a

importação, possibilitando a entrada de novos equipamentos da indústria gráfica durante a

década de 50 até o presente início do século XXI.

Entender o livro, segundo Ribeiro (2007), é compreende-lo como um composto de

elementos materiais e textuais, entendendo como materiais a parte física do livro, capas e

eventualmente orelhas, e textuais como o conteúdo do livro, sua parte intelectual, seja ela

formada por textos ou imagens.

Para Lins (2003), os recursos visuais que temos disponíveis é resultado da evolução

constante dos meios de comunicação. A informação nos rodeia onde quer que estejamos. A

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realidade da humanidade é retratada nas telas de cinema, na televisão, capas, embalagens e

anúncios.

O segundo capítulo apresenta os elementos do design e produção gráfica em livros

infantis, abordando as técnicas de comunicação visual, os níveis da mensagem visual, cor,

textura, tipografia e os processos de impressão, suportes e acabamentos.

Entender tais processos ajuda a compreender o comportamento da criança em relação

às suas escolhas. “As cores quentes parecem nos dar uma sensação de proximidade, calor,

densidade, opacidade, secura, além de serem estimulantes. Em contraposição, as cores frias

parecem distantes, leves, transparentes, úmidas, áreas, e são calmantes.” (FARINA, 2003)

Segundo Bringhurst (2005), o mundo que nos rodeia está repleto de informações e

mensagens para todos os lados, onde muitas vezes, para uma tipografia ser lida, ela tem que

chamar a atenção antes. A textura possui características únicas e essenciais em determinadas

situações. Segundo Wong (1998), mesmo uma superfície uniforme pintada de uma cor só, é

uma textura.

Além da escolha adequada de tipografia e cores de uma publicação, outro ponto de

total importância para Fernandes (2003) é o momento de escolha do processo mais adequado

para cada tipo de trabalho, o suporte que vai receber a impressão e os processos de impressão

têm que estar de acordo com as características e pontos específicos de cada peça a ser

reproduzida. No presente trabalho, aborda-se apenas o uso do papel, suporte mais utilizado na

produção de livros infantis para crianças de 6 a 8 anos.

O terceiro capítulo trata especificamente do livro no mundo infantil, abordando o uso

da imagem em suas obras em diferentes períodos da história. Segundo Meireles (1984), as

imagens podem ganhar vida e se perpetuar, elas passam a viver de forma independente, livres

de autor. Seguem um caminho de acordo com a sensibilidade dos leitores.

Para Coelho (1993), os livros adequados para crianças de 6 a 8 anos ainda possuem

imagens que predominam ao texto,entretanto já apresentam narrativas simples, com

personagens reais ou não. Os argumentos devem ser escritos de modo que estimule a

imaginação.

A avaliação dos elementos visuais e produção dos livros escolhidos estão no quarto

capítulo. Nele se apresentam a metodologia e relatório de observações da pesquisa qualitativa

10

focada na relação entre o publico e os livros, suas preferências e identificações. O objetivo da

pesquisa é se aproximar do universo da criança e perceber suas reais preferências quanto aos

livros ofertados para sua idade sem a interferência de um adulto.

A pesquisa foi realizada dentro das dependências do Colégio Oliveira Lima em

fortaleza, com um grupo de 16 alunos, crianças de 6 a 8 anos e 3 professoras.

O mundo infantil pede cada vez mais recursos, as crianças do início do século XXI

aprenderam a observar e a receber muitas informações. Este estudo pretende observar,

apresentar e relatar as preferências e relações dessas crianças com os livros.

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1. A HITÓRIA DO LIVRO NO BRASIL

Uma das formas que o homem encontrou para evoluir suas condições de vida, foi

acumular conhecimentos, de forma clara e segura. A comunicação falada foi uma das

principais ferramentas desenvolvidas para este fim, foram gerados dialetos, idiomas, códigos

de sons com significados para toda uma comunidade (FERNANDES, 2003).

1.1. A escrita como forma de comunicação

O homem tinha como única maneira de acumular conhecimentos a memória, suas

experiências eram transmitidas pela fala, através de relatos de geração para geração. Com o

passar do tempo, observou-se que era inseguro confiar na memória humana para guardar e

transmitir conhecimentos de séculos. O homem viu a necessidade de descobrir uma maneira

de guardar e propagar esses conhecimentos, uma forma segura, que garantisse longevidade às

informações.

As ferramentas que criamos para suprir essa necessidade foram as escritas, conjuntos de símbolos gráficos que representam os sons da fala e, por meio deles, as idéias e conceitos que, uma vez grafados em uma ordem estabelecida e sobre um suporte duradouro, passam a garantir uma transmissão bem mais segura do conhecimento que os grupamentos humanos foram acumulando. (FERNANDES, 2003 p. 5)

Suas formas iniciais eram de registros contábeis, se davam de forma simples, para

obter maior controle de bens e colheitas. A princípio eram símbolos de escrita egípcia, mas

com o tempo foram sendo simplificados para formas mais abstratas, cada símbolo significava

uma idéia ou conceito. (FERNANDES, 2003)

Com o tempo outras civilizações criaram escritas fonéticas, códigos escritos que

representassem o som da fala. Ao perceberem a formação das palavras, que eram compostas

de pequenas partes, adaptaram um símbolo para cada parte, formando as sílabas. Depois,

perceberam que essa divisão poderia ser ainda maior, onde cada símbolo foi chamado de

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fonema. Desta maneira foi criada a escrita alfabética, usada até hoje, ressaltando que os

primeiros alfabetos não eram compostos por vogais.

Ribeiro (2007), afirma que os materiais usados para a escrita primitivamente eram

diversos, como a pedra, madeira, folhas, couro de animais, lâminas de metal e uma membrana

vegetal encontrada sob a casca das arvores, que era usada como suporte de escrita, essa

membrana recebeu o nome de líber, em latim, que significa livro.

1.2. O surgimento e evolução do mercado literário

Durante séculos a humanidade fez uso de manuscritos para propagar suas idéias.

“A escrita se difundiu como forma de comunicação, foi criando identidades e

facilitando a tarefa de se contar histórias e possibilitando ao homem fazer e documentar a

própria história.” (LINS, 2003 p. 19)

Na idade média, o pergaminho foi um dos suportes mais utilizados para a escrita no

ocidente, teve sua origem na cidade de Pérgamo1. Era feito a partir de couro de vitela, raspado

e tratado para receber textos e desenhos. (FERNANDES, 2003)

Para facilitar a compreensão entre os povos, a escrita, sempre uniu forma e conteúdo.

Os primeiros textos manuscritos eram ricos em sua apresentação visual, os textos eram

sempre complementados com ilustrações, muitas delas levavam ouro, eram chamadas de

iluminuras. Demonstrando respeito ao poder, a beleza e a riqueza eram fundamentais,

principalmente nos escritos religiosos.

Fernandes (2003), afirma que durante o século XII, o oriente introduziu o uso do papel

na Europa, que rapidamente se espalhou por todo continente. Seu uso alavancou a produção

de textos, já que sua produção se dá de maneira mais fácil que a do pergaminho. Com o

aumento da produção de textos, começaram a surgir os primeiros livros.

1 Pérgamo foi a maior cidade no oeste da Ásia Menor nos tempos do Novo Testamento. Situada em um vale a 26 quilômetros do mar Egeu, naquilo que é hoje a Turquia. Séculos ante de Cristo, Pérgamo foi uma capital independente do império. Templos impressionantes, biblioteca e recursos médicos fizeram de Pérgamo um renomado centro cultural e político.

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O livro é o resultado da criação do escritor junto ao artista, que trabalhava na

elaboração da base para receber o texto, corte e acabamento da obra. É uma fonte de

informação e conhecimento de extrema importância na formação intelectual de qualquer ser e

no desenvolvimento cultural de um povo. Ele existe a partir de um conjunto de

conhecimentos, escritor, desenhista, a escolha do papel, da tipografia, das cores, acabamento,

formato e outros. “O livro é uma publicação não periódica que reúne folhas impressas,

organizadas em cadernos grampeados, costurados ou colados, formando um bloco, ligados a

uma capa flexível ou rígida.” (RIBEIRO, 2007, p. 371)

Os primeiros livros, na antiguidade clássica, eram feitos em papiro2 ou pergaminho.

De acordo com Ribeiro (2007) eram produzidos com um pedaço de papiro, utilizado em

apenas um de seus lados, chamado volumen, trazia o texto disposto de forma perpendicular à

largura da tira, o papiro era enrolado em uma varinha fina de madeira, em seu extremo

continha uma etiqueta com o nome do autor e título da obra, outro método para produção do

livro era chamado de códices, que era a união de várias folhas retangulares, geralmente de

pergaminho, costuradas juntas.

Em 1808, de acordo com Antunes3, em virtude da transferência da Corte portuguesa

para o Brasil, foi fundada a primeira tipografia brasileira, a Imprensa Régia.

O livro “Marilia de Dirceo” (Figura 1), obra de Tomás Antonio Gonzaga, escritor

português, filho de brasileiros, publicado em Lisboa em 1792 foi o primeiro livro publicado

no Brasil em 1810.

2 É, originalmente, uma planta da família das ciperáceas cujo nome científico é Cyperus papyrus. O papiro é obtido utilizando a parte interna, branca e esponjosa, do caule do papiro, cortado em finas tiras que eram posteriormente molhadas, sobrepostas e cruzadas, para depois serem prensadas. A folha obtida era martelada, alisada e colada ao lado de outras folhas para formar uma longa fita que era depois enrolada. A escrita dava-se paralelamente às fibras. 3 <http://www.brasiliana.usp.br/node/628> acessado em 28 de novembro de 2010.

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Figura 1: Primeira edição da "Marilia de Dirceo”, publicada em Lisboa em 1792 e a primeira edição de

“Marilia de Dirceo” publicada no Brasil em 1821.

A obra foi publicada em três partes vendidas juntas, encadernadas ou em brochura4.

Era um mercado ainda podre de recursos gráficos para uma sociedade que crescia a

caminho da industrialização.

Segundo Lima (2009), a história brasileira do livro pode ser dividida em antes e depois

de Monteiro Lobato5, que durante a segunda década do século XX percebeu que o Brasil

necessitava de um parque gráfico à sua altura, foi quando montou a primeira empresa provida

de equipamentos adequados à produção de livros na cidade de São Paulo.

O Brasil passava por uma fase de se modernizar, onde de forma surpreendente esse

movimento modernista estimulou o desenvolvimento das artes e literatura, que usavam de

materiais carentes de qualidade na produção de livros, já que devido a restrição de

importações no país, o mercado trabalhava com máquinas velhas, com 30 anos de uso.

O processo de industrialização deu um grande salto durante a década de 50. Juscelino

Kubitschek, o então presidente do Brasil, libera a importação, possibilitando a entrada de

novos equipamentos da indústria gráfica, resultando em um surpreendente crescimento do

setor. (LIMA, 2009)

A sociedade é marcada por um tempo completamente novo. Lima (2009) afirma que

os textos, imagens e embalagens passam a ganhar a função de seduzir o consumidor. 4 Encadernação na qual os cadernos são costurados na lombada em forma de acabamento e colocados a uma capa mole, ou apenas colados sem costura. 5 Um dos mais influentes escritores brasileiros do século XX. Foi um importante editor de livros inéditos e autor de importantes traduções. Ficou popularmente conhecido pelo conjunto educativo de sua obra de livros infantis, que constitui aproximadamente a metade da sua produção literária.

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Na década de 70 a Melhoramentos, empresa produtora de papel, que iniciou seus

trabalhos como editora em 1915 e publicou o primeiro livro infantil editado no Brasil, O

Patinho Feio (Figura 2), de Hans Christian Andersen, ilustrado por Francisco Richter, segue

como editora de maior prestígio na literatura infantil, seguida pela editora Ática, que lança

obras com propostas gráficas inovadoras, que estimulariam uma mudança na produção

editorial para crianças no Brasil.

Figura 2: Primeiro livro editado no Brasil.

O produto livro infantil, objeto de estudo deste trabalho, passa a ter um tratamento

exclusivo e diferenciado. Será apresentado de maneira detalhada no terceiro capítulo a

evolução desse objeto, quando a criança como público iniciante passará a receber a

possibilidade de leitura através de uma narrativa visual com pequenos textos de fácil

compreensão.

16

1.3. Primeiras técnicas de impressão

O trabalho de produção dos livros no início era todo manuscrito, um processo que

levava tempo e dedicação dos copistas, profissionais que trabalhavam escrevendo os livros,

um a um.

Todo o processo se dava de forma artesanal. Surgiram técnicas de gravura artísticas,

que possibilitavam a criação de um numero maior de cópias. Uma dessas técnicas era a

xilogravura, feita com matrizes de madeira, a parte que não seria impressa era cavada, e o

restante recebia a tinta, e sobre ela o material para receber a impressão, funcionava como um

carimbo grande de madeira. (FERNANDES, 2003)

A técnica de xilogravura na maioria das vezes é feita em papel, mas pode ser

produzida em outros tipos de suporte. Sua imagem fica em alto relevo e pode se formar sem o

uso da tinta, onde a pressão colocada no papel faz com que a imagem se forme em alto relevo.

A capacidade de tiragem de uma xilogravura é de 50 exemplares, porém o

aconselhável é produzir somente 30. Isso por que a qualidade vai sendo perdida a cada

processo de impressão. Quando uma matriz não produz mais uma cópia nítida, esta é

descartada. (FERREIRA, 1994)

Outra técnica utilizada segundo Fernandes (2003), era a calcografia, onde eram

abertos riscos em uma matriz de metal, com o auxilio de materiais de corte, que

corresponderiam as imagens, ou com o uso de produtos químicos. Depois de gravada a

imagem, o metal recebia a tinta que preenchia os espaços vazios. O material para receber o

impresso era colocado em cima, onde passaria por uma prensa para aderir a imagem. Em

ambos os casos a imagem tinha que ser gravada espelhada, dificultando o trabalho do

gravador.

Por volta do ano de 1450, um xilogravador e ourives, chamado Johanes Gensfleich

von Guttenberg, cometeu um erro gravando uma xilogravura, e percebeu que poderia separar

cada letra em um pequeno bloco de madeira, podendo formar palavras e frases. Sua invenção

recebeu o nome de tipos móveis, que posteriormente seria aperfeiçoada, com tipos fundidos

em uma liga de chumbo e outros metais, tornando-se mais duráveis do que os de madeira.

(FERNANDES, 2003)

17

Esse processo deu origem a primeira máquina gráfica, conhecida com a prensa manual

de Guttenberg, que permitiu a confecção do primeiro livro impresso, a Bíblia de 42 linhas,

que superando as expectativas da época, teve sua tiragem superior a 100 exemplares.

Foi um invento que trouxe a idéia de expansão, de divisão e transmissão de

conhecimento, junto a uma sociedade que clama por informação, desperta no homem a

vontade de saber cada vez mais, de conhecer, de confrontar.

Segundo Fernandes (2003) a criação de Guttenberg teve sua importância reconhecida

quando se percebeu a velocidade de sua propagação. Em cerca de um século após sua

invenção, vários atelieres de impressão ocupavam diferentes lugares em todo o mundo,

inclusive no território recém-descoberto das Américas. “Com o advento da imprensa (séc.

XV), aquele livro manuscrito e restrito a uma pequena casta se torna um produto de massa.”

(LINS, 2004 p. 20)

No final do século XIX, com o surgimento da litografia6, os artistas puderam imprimir

grandes áreas uniformes. O texto que antes estava restrito a uma pequena variedade de tipos

prontos, passou a ser desenhado pelos próprios artistas. (HOLLIS, 2000)

Segundo Lins (2003), a sociedade foi diretamente afetada pelo desenvolvimento da

linguagem e depois da escrita. Essas novas formas de comunicação geraram maior

entendimento, clareza e eficácia na troca de informações. E pode-se dizer que esse

desenvolvimento se identifica com o crescimento individual de uma criança, já que o homem

no início de sua existência se comunicava através de grunhidos, assim como o bebê. A criança

tenta se comunicar deixando marcas, desenhos nas paredes, como o homem, que antes da fala

expressava suas visões com desenhos nas cavernas. Ambos desenvolvem a fala e

posteriormente a escrita, que os possibilitam maior poder de comunicação.

6 Tipo de gravura. Essa técnica envolve a criação de marcas (ou desenhos) sobre uma matriz (pedra calcária) com um lápis gorduroso. Ao contrário das outras técnicas da gravura, a Litografia é planográfica, ou seja, o desenho é feito através do acúmulo de gordura sobre a superfície da matriz, e não através de fendas e sulcos na matriz e colocado em uma prensa, como na xilogravura e na gravura em metal. A litografia permite tirar muitas cópias da mesma matriz. Depois de tiradas as cópias desejadas, a pedra está pronta para ser limpa e reutilizada.

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1.4. Partes que compõe o livro

Um livro, segundo Ribeiro (2007), é composto de elementos materiais e textuais,

entendendo como materiais a parte física do livro, capas e eventualmente orelhas, e textuais

como o conteúdo do livro, sua parte intelectual, seja ela formada por textos ou imagens.

O livro pode conter também uma cinta, faixa de papel que o envolve, geralmente

contém propagandas do livro e seu autor e uma sobrecapa ou jaqueta, uma cobertura de papel

com objetivo de proteger sua capa, normalmente é impressa maior do que a capa, para que

dobradas para dentro formem orelhas (Figura 3).

Figura 3: Cinta e Sobrecapa ou jaqueta

A capa, parte que envolve o livro, de acordo com Ribeiro (2007), é feita por uma folha

de papel grosso, revestida de pano, couro ou percaline7, apresenta o título da obra e nome do

autor.

A lombada, parte lateral do livro, deve levar o nome do autor, título da obra e editora,

esses devem ficar dispostos do pé para a cabeça do livro (Figura 4), para facilitar a leitura

quando expostos em uma prateleira, a não ser que o livro seja largo, que desta maneira levará

os dizeres de forma horizontal.

7 Tecido de algodão leve e brilhante, que serve para forro e também para encadernação de livros.

19

Figura 4: Lombada, parte lateral do livro que deve contém título da obra e nome do autor.

O corpo do livro, ou miolo, é composto pelas folhas de guarda, que são folhas em

branco que se apresentam após a capa e no final do livro, a falsa folha de rosto, que é a

primeira página impressa do livro, geralmente só conta com o título da obra, a folha de rosto,

que trás todas as informações e datas sobre a obra, o frontispício, que é impresso na folha à

frente a folha de rosto, com uma ilustração. (RIBEIRO, 2007)

O livro pode conter o título corrente, que está presente no topo de todas as paginas,

com o título da obra ou dos capítulos. Uma obra pode conter vários capítulos, cada um com

um título que indique seu assunto. Todos os capítulos devem estar contidos em um sumário,

que mostra a numeração exata das páginas, o livro pode conter ou não um índice, que indica

os capítulos ou termos em ordem alfabética por páginas. Quando apresenta dedicatória, está

presente no início do livro, logo após a folha de rosto, que apresenta uma síntese do livro,

contendo nome do autor, tradutor, ilustrador, título da obra, número da edição, indicação do

nome do prefaciador, marca, sigla ou nome da editora, seu endereço e país onde foi impresso

só aparecem na página par. O lugar de sua realização, data da impressão, e quando for o caso,

data da edição e reimpressão. A face par tem que conter a indicação dos diretos autorais e se a

obra for traduzida deve ser indicado o título original junto com o número e data da edição em

que se baseou a tradução, além do nome do autor da capa e de todos os membros da equipe

gráfica. As referencias são inseridas sempre ao final do livro. (RIBEIRO, 2007 p. 373)

Se o livro for composto por imagens, estas deverão ser harmônicas com o conjunto,

auxiliando a compreensão do texto e estimulando o interesse pela leitura.

20

De acordo com Lins (2009) uma imagem não existe para fazer um mero papel de

figuração, ela é um forte elemento que potencializa da compreensão e enriquece a obra

literária.

1.5. A evolução da tecnologia no surgimento de novas técnicas de produção

Segundo Fernandes (2003), do século XV a meados do século XVIII, a tipografia era o

único processo industrializado de impressão, até o surgimento da litografia, onde os desenhos

eram feitos em bases planas de pedra, estes apresentavam maior qualidade visual. Durante o

século XIX outras técnicas foram aparecendo para enriquecer a indústria gráfica.

Fotografia, papeis de melhor qualidade, novos equipamentos para dar acabamento aos impressos, novos processos de impressão, mecanização das técnicas artesanais de gravura (como a serigrafia ou calcografia), o aumento da capacidade de impressão dos equipamentos e outros eventos elevaram não somente a qualidade dos trabalhos, como também reduziram prazos de execução e possibilitaram tiragens muitas vezes maiores do que as anteriores. Esse processo de produção das técnicas resultantes do processo de mecanização e eletrificação, além da completa introdução dos recursos da fotografia convencional no meio gráfico, somente se completou já na segunda metade do século XX, e então começa a revolução dos meios digitais nas artes gráficas. (FERNANDES, 2003 p. 14)

Muitas técnicas de produção utilizadas durante os séculos XIX e XX ainda são

utilizadas hoje. O século XXI, movido por inovações tecnológicas, ainda comporta maquinas

movidas a pedal ou manivela, utilizadas por muitas empresas gráficas de pequeno porte.

De acordo com Fernandes (2003) a evolução das técnicas e meios de impressão gerou

uma expansão do conhecimento humano e devido o crescimento dessa indústria e os avanços

dos equipamentos digitais, as impressões passaram a acontecer quase de forma instantânea.

Os computadores e programas gráficos geraram uma revolução das técnicas de

produção. “Se anteriormente fazíamos tudo contando principalmente com a habilidade de

desenhar ou contando com os recursos do processo fotográfico, nos últimos anos os trabalhos

gráficos se viram totalmente voltados para o virtual.” (FERNANDES, 2003 p. 15)

21

Segundo Fernandes (2003), muitos se enganam achando que esses novos programas e

facilidades na execução de parte do trabalho criativo tornam o processo mais acessível e

rápido. Não é por que ganhou-se em qualidade e tempo na execução de layouts, que o tempo

para a elaboração de idéias diminuiu. O monitor, diferente do papel, nos trás muitas

limitações, não da para fazer esboços e soltar toda a imaginação em uma tela de computador,

nossa imaginação vai muito além disso. O computador é um ótimo instrumento de trabalho,

são ferramentas eletrônicas, mas vem depois do processo de criação de idéias e esboços.

A tecnologia é o suporte de todo esse crescimento, o homem vive em constante

processo de evolução, buscando novas maneiras de produzir seus escritos, documentos e

livros. (LINS, 2003)

A evolução da ciência acelerou o surgimento de novas técnicas de produção do livro e

aperfeiçoou as já existentes.

Esse avanço possibilitou uma entrada cada vez maior da literatura no mundo infantil.

Apresentarei no segundo capítulo as técnicas de comunicação visual usadas em obras

literárias para atrair a atenção da criança.

Lins (2003), diz que a evolução tecnológica possibilitou o uso de diferentes materiais

na criação de livros, atualmente, além do papel, encontramos livros de pano, de madeira, de

metal e de plástico. Para se aproximar cada vez mais do universo da criança, foram criados

livros infláveis e impermeáveis, para serem lidos na praia, na piscina ou o banho. Livros com

sons, cheiros e diversos recursos táteis. Livros com apliques, envelopes e bolsos. Livros mais

elaborados, com dobraduras de papel, com pop-ups (Figura 5) que funcionam como esculturas

de papel que ficam fechadas, mas que saltam da folha quando viramos a pagina. Além de

livros com jogos e CDs com histórias ou brincadeiras e os livros digitais.

22

Figura 5: Livros infantis com pop-ups.

Nossa história é rica de matéria prima e criatividade. E de modo geral, todo livro

pretende contar uma história, independente dos recursos que usemos para isto.

A internet é um meio que veio para somar atributos ao livro, para evoluir seu processo

de levar história às pessoas. É um meio que possibilita interação, podendo trabalhar uma

gama inesgotável de possibilidades áudio-visual. Não veio com o objetivo de substituir o

livro, e sim para somar, proporcionar novas possibilidades. Porém é uma possibilidade não

abordada nesse trabalho, já que nossa análise visual se restringe ao livro produzido no suporte

papel.

23

2. DESIGN E PRODUÇÃO GRÁFICA EM LIVROS INFANTIS

As mensagens transmitidas pelos símbolos, sinais ou pictogramas, dependem muito da

convenção e do entendimento comum do significado, como descreve Hollis (2005) quando

fala da ilustração de um coração que pode significar amor e da imagem de um coração em um

livro de biologia.

O papel de criar, escolher marcas que gerem um significado, cabe ao profissional de

design gráfico. Hollis (2005) define como a arte de unir marcas para transmitir uma idéia. O

designer tem que produzir uma união clara e que tenha linguagem adequada ao público, para

que ele a reconheça e entenda.

“As palavras e imagens normalmente são utilizadas em conjunto; pode ser que um dos

dois – texto ou imagem – predomine, ou que o significado de cada um seja determinado pelo

outro.” (HOLLIS, 2005, p.1)

A folha avulsa, impressa apenas de um lado, pode ser um pôster ou uma carta. Quando é dobrada uma vez, torna-se um folheto; dobrada de novo e presa, é uma brochura; múltiplas folhas dobradas e aparadas formam uma revista ou livro. (HOLLIS, 2002, p. 3)

O design pode ser usado de três maneiras. Na primeira, sua principal função é

identificar: como letreiro, rótulos, marcas e brasões, deixando claro o que é determinada coisa

ou de onde ela veio. Sua segunda função, é a de informar e instruir, mostrando a relação das

coisas no que diz respeito a direção, posição e escalas, como nos mapas e diagramas. A

terceira função é de apresentar e promover, como o trabalho de design de pôsteres e anúncios

publicitários, onde o objetivo é chamar a atenção e tornar a mensagem inesquecível.

(HOLLIS, 2005)

2.1. Níveis da mensagem visual

A comunicação visual tem sua história iniciada desde o homem primitivo, quando ao

sair para caçar, o homem percebia pegadas de algum animal no solo. Segundo Hollis (2005),

24

essa marca produzida e percebida pelo homem era um sinal gráfico, já que vê-las indicava a

presença do animal.

As representações gráficas podem ser sinais, como as letras do alfabeto, ou formar parte de outro sistema de signos, como as sinalizações nas estradas. Quando reunidas, as marcas gráficas – como as linhas de um desenho ou os pontos de uma fotografia – formam imagens. (HOLLIIS, 2005, p.1)

Dondis (1997) afirma que as mensagens visuais são expressadas e recebidas em três

níveis: o representacional, quando vemos e identificamos a mensagem levando em

consideração o maio ambiente e as experiências reais. O abstrato, imagem reduzida de seus

elementos visuais mais básicos, emocionais e diretos, e o simbólico, criado a partir de

símbolos que o homem cria e atribui significados (Figura 9).

Figura 9: Pomba como mensagem visual representacional, abstrata e como simbólica.

O nível representacional é o mais eficaz na transmissão forte e direta da mensagem

visual. As características são lineares e detalhadas, como cores, proporção, tamanho,

movimentos e características específicas. Toda a informação visual que recebemos, é

guardada e utilizada. (DONDIS, 1997)

No nível abstrato o estilo é mais livre e exploratório, sua referência é mais geral e

abrangente.

Na abstração voltada para o simbolismo Dondis (1997) fala que ocorre uma

radicalização ainda maior, os detalhes visuais são reduzidos ainda mais, a imagem não pode

25

conter grande quantidade de informação mas pode conservar algumas qualidades reais. O

entendimento e significado da mensagem podem ser comprometidos. Para a mensagem ser

eficaz não basta o símbolo ser reconhecido, ele deve ser lembrado.

Os três níveis podem ser usados de forma separada ou podem interagir,

trabalhando juntos um com o outro, se reforçando ou se sobrepondo. (DONDIS, 1997)

O homem enxerga com precisão de detalhes, tanto de forma instintiva como

intelectual, grande parte do nosso caminho de aprendizagem é visual.

2.1.1 Imagem

Para Lins (2003), a evolução constante dos meios de comunicação nos oferece cada

vez mais recursos visuais. O mundo possui cada vez mais cores e efeitos. Estamos cercados

de informações por todos os lados. Nossa realidade é retratada nas telas de cinema, na

televisão, capas, embalagens e anúncios.

A linguagem visual funciona em qualquer lugar do mundo, um aviso de banheiro, o

símbolo do Mc Donald’s8 ou a marca da Coca-cola9, são reconhecidos sem problema (Figura

6). Ícones, símbolos e marcas facilitam a comunicação. “Os ícones são imagens que pela sua

força de comunicação e pela repetição, passam a fazer parte do inconsciente coletivo de

determinado grupo.” (LINS, 2003 p. 30)

Figura 6: Ícones (Logotipo da Coca-Cola, placa de sinalização banheiro masculino, placa de sinalização banheiro

feminino e placa de sinalização proibido fumar.

8 Empresa responsável por uma rede internacional de lanchonetes, cuja atividade é conhecida como fast food, sendo a maior rede do mundo na área citada. 9 Marca de refrigerante.

26

Um ícone usado como facilitador na compreensão de uma mensagem, gera um

entendimento coletivo não só nos impressos e imagens televisivas. Sua utilização se faz

indispensável em um dos meios mais utilizados nesse início do século XXI, a internet, que

alcança diferentes nações e idiomas (Figura 7). Segundo Lins (2003) a comunicação visual é a

garantia para que aconteça uma comunicação eficaz em um meio que atinge tantas pessoas

diferentes ao mesmo tempo.

Figura 7: Ícones usados na internet.

2.1.1.1 A imagem nos livros

Segundo Burn (1853 apud Cardoso 2005), em 1830, a imagem impressa ainda era

muito cara e de difícil reprodução, somente por volta de 1850, com a evolução das técnicas de

impressão que possibilitaram um numero maior de cópias a partir de um único original, o uso

da imagem teve seus preços popularizados, o que acarretou uma revolução da comunicação

visual.

Durante a década de 60, o padrão de colocar sempre nas capas dos livros o autor,

título, ilustração e editora de forma centralizada acabou. “ A imagem passa a ocupar todo o

espaço disponível, e as demais informações flutuam de acordo com cada situação.” (MELO,

2008 p. 60) O espaço vazio ganha sua importância e muitas vezes a tipografia ganha poder e é

vista como imagem.

O Brasil foi um dos poucos lugares onde se trabalhou tão bem a união da imagem com

o texto nas capas de livros, mas até o final da Primeira Guerra Mundial era difícil encontrar

materiais desta forma.

27

Para Cardoso (2005), muitos estudiosos da história do livro no Brasil, afirmam que

teria sido Monteiro Lobato o primeiro editor a inovar suas capas com imagens, que antes eram

totalmente tipográficas. O editor mantinha uma parceria com o pintor José Wasth Rodrigues.

“o livro Urupês [1918], do próprio Monteiro Lobato com capa de Wasth Rodrigues, marcaria

o início de capas no Brasil”. Esse processo foi fundamental para que fosse adotada a prática

de ilustrações em capas de livros em nosso país.

A imagem na literatura brasileira, desde seu surgimento no início do século XX, com a

publicação do primeiro livro editado no Brasil, O patinho feio, é representada graficamente na

maioria das vezes por ilustrações e fotografias.

2.1.2 Ilustração

Lins (2003) afirma que uma ilustração pode ser feita de várias maneiras diferentes,

pode contar com cores, texturas, efeitos e tipografias, o importante é o resultado final do

trabalho, por que independente da técnica escolhida o original vai se tornar uma imagem

eletrônica, para ser reproduzido em série.

Existem muitas técnicas para a produção de uma ilustração, como a monotipia, a

colagem, pintura a óleo, pastel, carimbo, bordado, grafite e nanquim. Não existem regras para

que tipo de material usar, o importante é usar a técnica mais adequada para cada tipo de

trabalho.

Segundo Lins (2003) “o próprio conceito de ilustração é de difícil definição.” A

ilustração pode ser produzida por muitas técnicas e maneiras diferentes. O importante é gerar

um bom resultado final.

A ilustração é uma arte capaz de desenvolver nossa percepção e conhecimento visual.

A imagem nos permite reconstruir o passado, pensar sobre o presente e sonhar com o futuro.

Podemos criar todo tipo de situação, real ou não. Muitas vezes uma imagem pode ir além a

28

leitura do texto narrado, é uma forma de arte visual que cria, amplia, diversifica e projeta.

(LIMA10, 2009)

Um dos caminhos da ilustração é o desenho, que pode ser usado tanto como técnica

como para se esboçar a ilustração, pode ser um meio ou um resultado (Figura 8). (LINS,

2003)

Figura 8: Desenho como esboço e como técnica de uma ilustração.

Os artistas desse início do século XXI encontram várias formar de criar e o auxilio de

inúmeros softwares gráficos, que podem muitas vezes substituir ferramentas como réguas e

compassos. A mistura de estilos e imagens gera livros de rico conteúdo visual.

Ganham “status” de livro de arte, reforçando, infelizmente, o conceito do livro como “produto de elite”. Livros que acabam ficando caros devido principalmente às baixas tiragens11 que aumentam o preço da capa (individual) do exemplar. Regra, aliás, de qualquer produto industrial. (LINS, 2003 p. 51)

10 Autor de livros de literatura para crianças e jovens. Designer e professor do Departamento de Artes e Design da PUC-Rio. 11 Nome que se dá à quantidade de exemplares de uma publicação que são colocados no mercado.

29

2.1.3. Fotografia

Segundo Andrade (2005 apud Cardoso 2005) a fotografia, novidade da segunda

metade do século XIX, surgiu trazendo grandes conseqüências no universo gráfico. Boa parte

de seus inventores exerciam alguma forma de trabalho ligada aos livros e a imagem impressa.

O primeiro livro fotográfico da história, lançado entre 1844 e 1846, foi produzido pelo

escritor, filósofo e cientista Fox Talbot, o também inventor do negativo fotográfico.

Em 1858 aconteceu no Brasil a primeira obra impressa inteiramente ilustrada a partir

de fotografias, feita pelo francês Victor Frond.

A evolução da fotografia se deu de forma muito lenta, devido aos problemas de

estabilidade e de permanência das imagens, que muitas vezes sofriam alterações ao longo do

tempo, além da dificuldade de ser reproduzida em série.

Em sua fase inicial, a fotografia “teria papel fundamental enquanto possibilidade

inovadora de informação e conhecimento, instrumento de apoio à pesquisa nos diferentes

campos de ciência e também como forma de expressão artística.” (KOSSOY, 2001, p.25)

Andrade (2005 apud Cardoso 2005) afirma que com o aumento na procura pelas

imagens, novos processos de multiplicação das fotografias pelo método de impressão foram

desenvolvidos. A imprensa queria cada vez mais dar veracidade às imagens visuais.

A fotografia que no início era um processo totalmente artesanal, exigindo tempo e

paciência, logo alcançou seu status. Segundo Kossoy (2001) foi uma invenção que veio pra

ficar.

De acordo com Andrade (2005 apud Cardoso 2005), a partir dos anos 1860 a

fotografia conseguiu seu espaço no país. Seu consumo em crescente elevação era concentrado

nas grandes capitais, destinado à elite brasileira.

Kossoy (2001) afirma que aceitação da fotografia foi tão grande nos anos 1860 que

acabou facilitando e impulsionando o surgimento de verdadeiros impérios industriais e

comerciais.

30

Nesse período, a ilustração era a forma predominante no uso de imagens em livros,

enquanto a fotografia se tornava a forma mais usada em revistas e discos. Melo (2005) afirma

que devido ao caráter conservador dos livros, somente nas décadas seguintes a fotografia

reinou em suas páginas.

Com a evolução tecnológica, o homem começou a dominar as técnicas fotográficas,

possibilitaram a impressão de imagens com maior fidelidade fotográfica.

Segundo Kossoy (2001) o homem se possibilitou cada vez mais de ter um

conhecimento mais preciso de toda realidade que o rodeia, que antes só se transmitiam através

da palavra ou escrita. O ser humano passou a ter o mundo em um pedaço de papel bem a sua

frente, tendo acesso a imagens que antes só existiam como forma de imaginação quando se lia

um impresso. Imagens reais e detalhadas.

Hedgecoe (2006) descreve a fotografia como uma forma gratificante de arte, onde

podemos registrar fatos e faces. É possível contar uma história através da fotografia, captar

cada detalhe, de uma emoção a uma paisagem.

A fotografia da primeira década do século XXI é capaz de captar as imagens mais

fantásticas. Um por do sol, um navio a quilômetros da costa, um bebê no útero, um pássaro se

alimentando. As câmeras evoluíram tanto que se tornaram a prova d’água, capazes de captar

toda a vida marinha, fotografar as escamas de um peixe e seu momento de caça.

“Embora o princípio básico da fotografia permaneça o mesmo, o

continuo desenvolvimento dos modelos das câmeras faz com

que nunca tenha sido tão fácil tirar uma boa fotografia. A

tecnologia contudo não passa de uma ferramenta.”

(HEDGECOE, 2006, p. 0)

Depois de muito tempo da fotografia no poder, só durante essa primeira década do

século XXI que a ilustração começa a recuperar seu espaço. (Melo, 2005)

31

2.2 Elementos da mensagem visual

De acordo com Hollis (2005), até o final do século XIX, as artes gráficas eram

impressas só no papel e sua produção se dava somente em branco e preto. Para a formação

estética do todo, era fundamental a relação entre imagem e fundo assim como o uso da tinta e

dos espaços em branco.

Cada área é visualmente importante, todas as características de proporção, dimensão,

cor e textura integram o design gráfico.

2.2.1 Cor

Farina (2006) afirma que a mensagem é constituída por um código visual, e que dentre

os componentes que formam esse código, a cor é o elemento mais rico, de maior importância.

De acordo com Dondis (2007) a cor é um elemento de total afinidade com as emoções,

que está carregado de informações, embora não seja absolutamente necessário pra se criar

uma imagem visual. É uma fonte de valor de grande importância para os comunicadores

visuais.

Segundo Lupton (2008) a cor só é percebida quando a luz é refletida por um objeto ou

emitida de alguma fonte, dependendo da intensidade dessa luz, percebemos a cor de maneiras

diferentes. Outro fator que interfere na percepção dessa cor são as cores que estão em volta

dela.

Os designers fazem o uso do elemento cor para destacar, camuflar, conectar ou

diferenciar. Seu sentido pode variar de uma cultura para outra.

A cor é uma onda, um raio de luz branca que penetra nossos olhos. É uma produção de

nosso cérebro, uma sensação visual. (FARINA, 2006)

Nossos olhos captam tudo como se fossem uma câmera fotográfica. Cada cor captada

é capaz de provocar um efeito tanto psicológico como fisiológico no ser humano, estimulando

sensações de tristeza ou alegria, calor ou frio. Cada cor possui uma força vibratória diferente,

32

podendo estimular ou perturbar nossas emoções, impulsos e desejos, está diretamente

relacionada com os nossos sentimentos.

Para Farina (2006) a percepção das cores também está relacionada com a bagagem

cultural, que as transforma em símbolos. O uso certo das cores pode atrair e seduzir. O jogo

de cores é utilizado em capas e embalagens, para criar maior proximidade, funcionando como

um atrativo ao subconsciente.

Quando entramos em contato com uma cor, temos algumas impressões, causadas tanto

pelo seu poder de vibração quanto pelas experiências culturais que carregamos em nossas

mentes. (FERNANDES, 2003)

Segundo Farina (2006), a cor exerce três papéis dentro da comunicação visual, o de

impressionar, de expressar e de construir.

“A cor é vista: impressiona a retina. É sentida: provoca uma emoção. E é construtiva,

pois, tendo um significado próprio, tem valor de símbolo e capacidade, portanto, de construir

uma linguagem própria que comunique uma idéia.” (FARINA 2006 p.13)

Dondis (2007), afirma que cada cor agrega significados simbólicos. Dentre os

elementos do processo visual é o de mais força e poder emocional, podendo ser usada para

expressar e intensificar uma informação.

O uso das cores para Farina (2006) devido seu poder de expressividade, é um

elemento de grande valor na transmissão de idéias. Se esta for utilizada de maneira adequada

para o fim proposto, sua mensagem pode ser compreendida até por um analfabeto, podendo

alterar as percepções de espaço e tamanho, como o preto que aproxima e diminui, e o branco

que aumenta.

As escolhas e atitudes de um indivíduo em relação as cores, se modificam de acordo

com as influencias do meio em que vive. “As crianças, por exemplo, tendem a preferir as

cores puras e brilhantes.” (FARINA, 2006 p.25)

Cada pessoa capta os detalhes do mundo exterior conforme a estrutura de seus sentidos, que, apesar de serem os mesmos em todos os seres humanos, possuem sempre uma diferenciação biológica entre todos, além da cultural, que leva a certos graus de sensibilidade bastante desiguais e conseqüentemente, a efeitos de sentido distintos. (FARINA, 2006 p.25)

33

Quando fazemos nossas escolhas e decidimos por determinada cor de roupa ou cabelo,

mesmo não tendo consciência disso, revelamos muito do que somos para o mundo. Uma cor

traz com ela uma bagagem de significados e atribuições. (DONDIS, 2007)

Cada pessoa percebe a utilização da cor de uma maneira diferente, características

como tamanho, proximidade e iluminação alteram essa percepção visual, onde um tom de

amarelo, por exemplo, pode ser suave para uma pessoa, e ser incomodo para outra. Uma

determinada roupa pode combinar com a cor da pele de quem usa e ser exagerada para uma

pessoa que está vendo. Assim, para Farina (2006) não existe gosto, é só uma questão de forma

de percepção de acordo com a estrutura visual e sensorial de cada pessoa.

As cores são capazes de produzir uma situação absolutamente envolvente. Farina

(2006) apresenta este elemento como um ponto de grande relevância, do qual não podemos

fugir. Os efeitos causados pelos apliques de tons fazem parte de uma realidade sensorial que

envolve todo nós, os artistas se utilizam das cores para causar diferentes sensações de acordo

com seus objetivos, independente de seu trabalho. Seja ele o de decorar uma casa, elaborar o

projeto de uma mesa ou de criar a capa de um livro.

No ramo da comunicação as cores são vistas como frias e quentes, algumas dão a

sensação de proximidade, outras de distância. E de modo geral, tudo que aproxima

proporciona um maior espaço para se trabalhar uma comunicação.

Segundo Lupton (2008) no ano de 1665 Isaac Newton12 formou um disco cromático

(Figura 10), através de uma descoberta que fez quando analisava um prisma e constatou que

ele dividia a luz em um espectro de cores: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, índigo e

violeta.

12 (1643-1727) Ciêntista inglês, mais reconhecido como físico e matemático, embora tenha sido também astrônomo, alquimista, filósofo natural e teólogo. Uma de suas maiores contribuições foi seu intenso trabalho em problemas relacionados com a óptica e a natureza da luz.

34

Figura 10: Disco cromático

O círculo é composto por cores primárias, o vermelho, o amarelo e o azul, que são

cores puras não resultantes da mistura de outras cores, mas que juntas são a base das outras

cores. As cores secundárias, o laranja, o violeta e o verde, que se originam de duas das cores

primárias e as cores terciárias, o laranja avermelhado, o azul esverdeado, o verde amarelado e

outras, que se originam da junção de uma cor primária com uma cor secundária. (LUPTON,

2008)

As cores vizinhas Isaac Newton denominou de análogas e as cores localizadas

diametralmente no disco denominou de complementares (Figura11). O esquema de cores

análogas produz um pequeno contraste e uma harmonia natural, já que cada cor possui algum

elemento em comum com as outras cores dessa seqüência.

Nas cores complementares nenhuma cor possui elementos da outra e suas

temperaturas são sempre opostas.

35

Figura 11: Circulo cores análogas e cores complementares.

Segundo Dondis (2007) podemos descrever e medir a cor de três maneiras. Em matiz

ou croma, é a cor em si, maior que cem em numero. Cada um possui suas características e

seus grupos possuem efeitos comuns. Existem três matizes primárias, o vermelho, o amarelo e

o azul, cada um com suas qualidades. O amarelo, a cor mais próxima da luz e do calor, o

vermelho é ativo e emocional, e o azul é passivo e suave. A tendência do amarelo e vermelho

é expandir, e a do azul contrair. Essas cores quando são trabalhadas juntas formam novos

significados. Uma cor pode intensificar ou acalmar a outra.

Como segunda dimensão da cor está a saturação, pureza relativa de cada cor, que vai

do matiz ao cinza. As cores saturadas são as preferidas entre as crianças e os artistas

populares, são as cores primárias e as secundárias (laranja, verde e violeta). As cores menos

saturadas levam menos intensidade de cor ou a ausência dela, gerando cores mais leves.

Dondis (2007) compara o uso da saturação ou sua ausência com a decoração de um

consultório médico, que com o objetivo de tornar o ambiente mais calmo e relaxante faz o uso

de cores com pouca saturação, tons claros e suaves, e de um picadeiro de circo , que usa as

cores super saturadas, para gerar maior emoção e expectativa.

A última dimensão da cor é a acromática, “é o brilho relativo, do claro ao escuro, das

gradações tonais ou de valor.” (DONDIS, 2007 p.66)

As variações de vermelho, laranja e parte do amarelo e do roxo são tidas como cores

“quentes”, e as variações do verde, azul e grande parte do amarelo e do roxo são tidas como

cores “frias”.

36

“As cores quentes parecem nos dar uma sensação de proximidade, calor, densidade,

opacidade, secura, além de serem estimulantes. Em contraposição, as cores frias parecem

distantes, leves, transparentes, úmidas, áreas, e são calmantes.” (FARINA, 2006 p.86)

Uma mesma cor por ocasionar sensações e reações diferentes. Quando escolhemos

uma cor, fazemos isso por algum motivo, em função de alguma outra coisa.

Nossas tradições e costumes influenciam diretamente quando escolhemos uma cor. A

forma mais clara de perceber isso é o costume em alguns lugares de mulheres mais novas

usarem cores ou tons diferentes de mulheres idosas. Os homens quanto a seus hábitos de

vestuário, que antes era formado de cores mais neutras, tiveram seu guarda roupas invadido

por cores. A sociedade se modifica, os hábitos conseqüentemente também.

As cores possuem significados conotativos, que estão presos na cultura de um povo.

Empregamos as cores para atribuir valores, estados emocionais ou definir uma situação e

demonstrar experiências vividas. Como dizer que “Estou verde de fome” ou “Fulano estava

roxo de raiva”. (FARINA, 2006)

Segundo Farina (2006) as cores possuem os seguintes significados conotativos:

Sensações visuais Objeto Significado Branco Vestido de noiva Pureza Preto Noite Negativo Cinza Manchas imprecisas Tristeza, coisas amorfas Vermelho Sangue Calor, dinamismo, ação, excitação Rosa Enxoval de bebê (menina) Graça, ternura Azul Enxoval de bebê (menino) Pureza, fé, honradez Tabela 1 – Significados conotativos das cores. (FARINA, 2006)

As cores também trabalham como signos visuais, estes só possuem real valor quando

são facilmente decodificados por seus focos. Como sua utilização em sinais de transito, tendo

o vermelho como um sinal de alarme (para que o motorista pare) ou perigo, o amarelo como

atenção e o verde como segurança ou livre (para o motorista passar).

Farina (2006) apresenta um estudo feito pelo psicólogo Bamz sobre as idades e

preferências por determinada cor. Principais conclusões da pesquisa:

Vermelho Corresponderia ao período de 1 a 10 anos.

37

Idade da efervescência e da espontaneidade; Laranja Corresponderia ao período de 10 a 20 anos.

Idade da imaginação, emoção e aventura; Amarelo Corresponderia ao período de 20 a 30 anos.

Idade da força, potência e arrogância; Verde Corresponderia ao período de 30 a 40 anos.

Idade da diminuição do fogo juvenil; Azul Corresponderia ao período de 40 a 50 anos.

Idade do pensamento e da inteligência; Lilás Corresponderia ao período de 50 a 60 anos.

Idade do juízo, do misticismo, da lei; Roxo Corresponderia ao período além dos 60 anos.

Idade do saber, da experiência e da benevolência. Tabela 2 – Principais conclusões da pesquisa de Bamz sobre as idades e suas correspondências com as cores.

Conforme mostra a pesquisa de Bamz, os idosos preferem as tonalidades escuras, os

adultos o verde e o azul e na infância o vermelho.

Farina (2006) afirma que cientificamente, com o passar dos anos o olho humano vai se

tornando amarelo.

Uma criança absorve 10% da luz azul, enquanto um ancião absorve cerca de 57%. Nos primeiros meses, a criança enxerga bem e prefere o vermelho, o amarelo, o verde, no mesmo nível preferencial, e depois o azul. Notaremos que o azul vai, na escala de preferência, subindo proporcionalmente à idade do indivíduo. (FARINA, 2006 p.89)

O comportamento pode ser observado nas escolhas dos produtos em um

supermercado, os mais velhos preferem embalagens que predominam o azul e os mais novos,

embalagens que predominam o vermelho.

“A luz colorida intensifica a circulação sanguínea e age sobre a musculatura no

sentido de aumentar sua força segundo uma seqüência que vai do azul, passando pelo verde, o

amarelo e o laranja, culminando no vermelho.” (FÉRE, 1960 apud Farina 2006 p. 90)

O efeito que a cor produz é imediato, o homem reage de forma espontânea aos

estímulos da cor, para Farina (2006), não existe nenhum estudo científico que comprove a

existência de um processo fisiológico que explique tal fato.

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Segundo Luscher (1980 apud Farina 2006) existem experiências que provam que a cor

vermelha é excitante, que quando alguém é obrigado a olhar essa cor por um tempo, seu

sistema nervoso é totalmente estimulado, sua pressão arterial se eleva e é perceptível a

aceleração do ritmo cardíaco. Em contrapartida, afirma que o azul produz efeito oposto, é

calmante, a respiração e ritmo cardíaco diminuem.

2.2.2. Textura

A textura visual é uma experiência que só existe com efeito ótico, como representação.

Acrescenta detalhes a uma imagem, oferecendo maior qualidade à superfície de modo geral,

alimentando o olhar do observador. (LUPTON, 2008)

Qualquer elemento visual pode levar textura para reforçar ou expressar uma sensação

de presença física. A textura possui uma capacidade atraente de nos capturar.

A textura possui características únicas e essenciais em determinadas situações.

Segundo Wong (1998) mesmo uma superfície uniforme pintada de uma cor só, é uma textura.

Existem dois tipos de textura, as visuais e as táteis. Esta pesquisa será limitada apenas

ao estudo da textura visual, elemento de grande importância na composição e análise dos

livros infantis.

A textura visual faz parte de um universo unicamente bidimensional, sendo percebida

pelo olhar, mesmo que provoque sensações táteis. De acordo com Wong (1998) são divididas

em três tipos: as texturas decorativas, que decoram uma superfície se fixando ao formato, é

um item a mais, que se retirado não provoca grande perda.

A textura espontânea, que ao invés de decorar faz parte do processo de criação visual.

Nesse caso formato e textura são inseparáveis. E a textura mecânica, que não possui nenhuma

relação a matérias como régua e compasso, ela é estritamente obtida através de meios

mecânicos, como os desenhos criados em computação gráfica. (WONG, 1998)

A impresso visual pode ser produzida de muitas maneiras diferentes, a partir de um

desenho, de uma pintura, da impressão de uma superfície em outra, da pulverização de um

39

líquido em uma superfície lisa, a exposição de um papel a uma chama para produzir efeito de

queimado, um arranhão, técnicas fotográficas, colagens e muito outros (Figura12).

Figura12: Textura visual a partir de uma pintura e textura mecânica.

Dondis (2007) coloca a textura como um elemento visual que muitas vezes pode

substituir o tato. Quando tocamos a imagem de uma seda não sentimos o quanto é macio, mas

imaginamos, o significado se baseia no que vemos.

2.2.3. Tipografia

Segundo Bringhurst (2005) vivemos em um mundo cheio de informações e mensagens

para todos os lados, onde muitas vezes, para uma tipografia ser lida, ela tem que chamar a

atenção antes.

A tipografia “assume várias formas e recebe diversos nomes, incluindo serenidade,

vitalidade, riso, graça e alegria.” (BRINGHURST, 2005 p.23)

O tipografismo das palavras pode dar voz ao texto, quando usadas em tamanho

ampliado ou reduzido, de diferentes cores ou posições. Lupton (2008) afirma que isso é feito

na tentativa de agregar valor ao texto, tentando atribuir a ele uma expressão única.

40

No universo dos impressos, seu estilo, atribuído pelas características que o compõe

dependem basicamente de variações da forma das hastes e das serifas. (BAER, 2005)

Willians (1995) afirma que existem incontáveis tipos disponíveis, dividindo a maior

parte deles em seis categorias: estilo antigo, moderno, serifa grossa, sem serifa, manuscrito e

decorativo.

Os tipos do estilo antigo (Figura 13) se baseiam em escritas manuais feitas a pena. São

caracterizados por sempre possuírem serifa. O traço passa de grosso para fino de modo

delicado nas curvas das letras. É o estilo recomendado para textos longos.

Figura 13: Tipo criado no estilo antigo.

O estilo moderno são tipos que mudaram sua forma, que se transformaram, não

seguindo mais o estilo de escrita da pena. São finas, possuem serifas horizontais e não

inclinadas. São tipos de estética fria e elegante (Figura 14).

41

Figura 14: Tipo criado no estilo moderno.

Os tipos com serifa grossa possuem pouca ou nenhuma mudança de grosso para fino.

As letras são pesadas e grossas. A fonte que mais se identifica com esse estilo é a Clarendon.

São tipos de boa legibilidade, podendo ser usados em textos longos (Figura 15).

Figura 15: Tipo criado no estilo serifado.

O estilo sem serifa não possui serifa no fim de seus traços. Foi um estilo de pouco

sucesso até o início do século XX. Quase todos possuem peso igual, não existindo passagem

de grosso para fino, com duas ou três exceções. A as letras possuem quase a mesma espessura

(Figura 16).

42

Figura 16: Tipo criado no estilo sem serifa.

As fontes da categoria manuscrito incluem todos os tipos que aparentam ter sido

escritos a mão. Eles podem ser impressos ou manuais. São tipos que devem ser usados com

cuidado, os mais elaborados não devem ser usados para textos muito longos (Figura 17).

Figura 17: Exemplos de tipos criados no estilo manuscrito.

.

É fácil identificar um tipo decorativo, “são ótimos, engraçados, diferentes, fáceis de

usar, costumam ser baratos e sempre existe uma fonte para cada capricho que você queira

expressar.” (Willians, 1995 p. 90). Deve-se ter muito cuidado com esse tipo de fonte (Figura

18).

43

Figura 18: Exemplos de tipos criados no estilo decorativo.

Diferente de Willians (1995), Baer (2005) afirma que os caracteres de imprensa, como

ele chama, são divididos pelo estilo em seis grupos: Romano, egípcio, gótico, etrusco,

manuscrito e fantasia13.

Existem ainda outras classificações de tipos de acordo com outros autores, que não

serão fontes de pesquisa deste trabalho.

2.3. Processos de impressão

Falar dos processos de impressão para Fernandes (2003) é falar dos meios de produção

com capacidade de realizar uma ou mais cópias de uma imagem a partir de uma matriz ou

matrizes. Se inserem nessa definição a xilogravura, a calcografia ou a litografia.

Na escolha do processo mais adequado para cada tipo de trabalho é feita a

classificação dos diferentes processos de impressão de acordo com as características e pontos

específicos da peça a ser reproduzida.

Fernandes (2003) classifica os processos de impressão quanto ao tipo de matriz

(suporte utilizado para replicar conteúdos), à tinta, à tiragem e como direto ou indireto.

13 Para maior esclarecimento consultar: BAER, Lorenzo. Produção gráfica 6º Ed. São Paulo, editora Senac São

Paulo, 2005.

44

De acordo com Neto (1997) o custo de uma matriz de impressão varia muito, e

determina o tipo de imagem que vai ser produzida, as características da máquina, o tipo da

tinta, a quantidade dos impressos a ser produzidos e a velocidade dessa produção.

As matrizes de impressão são classificadas em: relevografia, planografia, encavografia

e permeografia. Na relevografia, a imagem a ser impressa é em alto relevo. Seus principais

sistemas de impressão são a tipografia, a flexografia e o letterset14. (NETO, 1997)

Na planografia, a imagem que deve ser impressa fica no mesmo nível do que não vai

ser impresso, a diferença de relevo é tão pouca que é quase imperceptível. Seus principais

tipos de impressão são a litografia e o offset.

O principio básico da impressão planográfica é a incompatibilidade da água com as

substâncias gordurosas.onde as zonas impressoras atraem a tinta gordurosa repelindo a água, e

as zonas que não são impressas fazem o oposto. (BAER, 2005)

As matrizes de baixo relevo, chamadas de encavografia, as partes impressora são

gravadas em baixo relevo, de acordo com a tintagem a ser usada essa profundidade aumenta

ou diminui. Os processos que fazem o uso de matrizes de baixo relevo mais utilizados são o

timbrado, o talho doce e a rotogravura.

No caso da permeografia, é utilizado em quadro com uma tela de náilon, funcionando

com um estêncil. Os espaços correspondentes aos contornos dos desenho são

impermeabilizados. No caso de não serem permeáveis, a tinta é filtrada com o auxilio de um

rolo de borracha. É um processo que permite a impressão em qualquer tipo de superfície.

(NETO, 1997)

Tiragem é a quantidade de impressos produzidos. As tiragens são classificadas em

pequenas (poucos milhares), médias (primeiras dezenas), altas (primeiras centenas de

milhares) e altíssimas (milhões). (FERNANDES, 2003)

O que diferencia um processo direto de um indireto é o contato da matriz de impressão

e do suporte a ser impresso. Quando a matriz entra em contato com o suporte de impressão, o

processo é tido como direto. Se a matriz não tocar o suporte, existindo outro meio que leve a

imagem da matriz para o suporte, o processo é tipo como indireto.

14 Para maior aprofundamento: CARRAMILLO NETO, Mário. Produção gráfica II: papel, tinta, impressão e acabamento. São Paulo, Global, 1997.

45

As máquinas gráficas podem ser divididas em rotativas e planas. Os equipamentos de

impressão rotativos são para tiragens mais elevadas, onde a alimentação do suporte é feita por

bobinas que levam pela impressora uma tira contínua. As impressoras planas são alimentadas

por folhas, planos bem delineados, seu uso é comum em tiragens pequenas e médias, embora

seja possível realizar grandes tiragens. (FERNANDES, 2003)

Os tipos mais convencionais de impressão são: tipografia, offset, rotogravura,

flexografia, serigrafia e tampografia. Existem ainda os processos de impressão digital,

matriciais, jato de tinta, eletrostáticos, transferência térmica e sistemas computadorizados de

aerografia15.

Os processos capazes de produzir volumes maiores de material são o offset e a

rotogravura16. Na produção deste trabalho serão analisados apenas livros de impressões

convencionais, que fazem o uso de uma matriz física, reproduzidos em offset.

O processo de impressão denominado offset, foi o primeiro tipo de mecanismo que não

utiliza matrizes metálicas e relevográficas. Segundo Baer (2005) o sistema de impressão offset

foi inventado pelo americano Ira Washington Rubel em 1903.

Sua impressão é um dos processos mais utilizados devido sua capacidade de imprimir

em diversos tipos de suporte com ótima qualidade e da variedade de formatos de impressão

proporcionados por ela. As tiragens do offset podem ser de qualquer tamanho.

(FERNANDES, 2003)

Seu processo rotativo contínuo permite velocidades altas de impressão ampliando seu

campo de aplicação. O método offset além da forma impressora, tinta e papel, faz o uso da

água em seu processo de impressão. (NETO, 1997)

Segundo Fernandes (2003), o processo ocorre da seguinte maneira: para transferir uma

imagem, entre o cilindro porta-matriz e o suporte escolhido, existe um outro cilindro chamado

blanqueta, este é revestido por uma manta de borracha e é onde se realiza a transferência das

imagens para o suporte de impressão. Por ser compatível com a água e a gordura, o alumínio

é a forma ideal para as formas do sistema offset. (BAER, 2005)

15 Para maior aprofundamento: FERNANDES, Amury. Fundamentos de produção gráfica para quem não é produtor gráfico. Rio de Janeiro, Copyright, 2003 Livraria Rubio LTDA. 16 Processo de impressão direta, cujo nome deriva da forma cilíndrica e do princípio rotativo das impressoras utilizadas. Difere-se dos outros métodos pela necessidade de que todo o original tenha de passar por um processo de reticulagem, incluindo o texto. A impressão é rotativa e se dá em diversos tipos de superfície

46

Para realizar este processo também é necessária a utilização de água (em alguns

equipamentos com álcool) para o entintamento da matriz.

A diferenciação das áreas nas matrizes do processo offset, para Fernandes (2003) se

baseia na repulsão entre água e gordura e o seu contato entre a água e o papel não é desejável.

Nas matrizes planográficas da impressão offset, o que faz com que as áreas de grafismo e contragrafismo se diferenciem são suas características físico-químicas antagônicas: as áreas de grafismos são lipófilas (receptivas às substâncias gordurosas) e as áreas de contragrafismo são hidrófilas (receptivas a água). A matriz primeiramente é umedecida pelos rolos da bateria de molhagem, sendo que a água (ou álcool) somente se aloja nas áreas de contragrafismo, que lhes são receptivas, a seguir a matriz passa por um segundo jogo de rolos-conjunto de entintadores – através dos quais é aplicado o filme de tinta para impressão. (FERNANDES, 2003 p.136)

A tinta utilizada é gordurosa e pastosa, então não consegue aderir às áreas que foram

umedecidas, permanecendo somente nas áreas secas, ou seja, as áreas do grafismo. Na

sequencia do procedimento de impressão, a matriz entra em contato com o cilindro revestido,

neste fica apenas a tinta das áreas do grafismo, deixando a umidade nas áreas de

contragrafismo na matriz e então imagem transferida para a blanqueta é impressa por ele no

suporte finalizando o processo de impressão (Figura 19). (FERNANDES, 2003)

47

Figura 19: Processo de impressão offset.

Seu sistema de impressão possibilita a impressão em plásticos, metais, papéis, panos e

outros. Seu impresso é reconhecido pela limpeza da impressão, com cores cheias e cortes bem

acabados.

Como exemplos de materiais impressos em offset estão os livros, objeto de estudo

deste trabalho, capas de revistas, jornais, entre outros.

2.4. Suporte de impressão: Papel

De acordo co Baer (2005), a definição mais apropriada do termo impressão é a

reprodução que se dá de forma mecânica e repetitiva os grafismos são postos sobre suportes,

através de formas de impressão. Onde podemos concluir que os suportes e as formas de

impressão são dois elementos indispensáveis para a realização de um trabalho de impressão.

Sendo também muito importante na maior parte das impressões, a tinta.

Segundo Fernandes (2003) a indústria gráfica denomina de suporte qualquer tipo de

superfície que venha a receber uma impressão.

48

Antes de chegar ao uso do papel, principal suporte que trouxe a possibilidade de

guardar informações por um longo período de tempo, o homem usou de várias superfícies

para produzir seus trabalhos, como argila, metal, madeira, papiro e pergaminho.

A indústria trabalha com incontáveis suportes para impressão, de todas as gramaturas

do papel a vidro, metais, vinil, tecidos, entre outros.

Para esse trabalho vou me ater ao uso do papel, suporte mais usado na produção de

livros infantis para crianças de 6 a 8 anos.

Sua invenção e difusão pelo mundo tornaram possível o acúmulo de informações de

forma segura, prática e objetiva.

O papel foi inventado no ano 105 depois de cristo pelo chinês Tsai Lun.

(FERNANDES, 2003) por ser um suporte que necessita apenas de celulose (fibra presente em

todos os vegetais) e água, é muito mais fácil de ser reproduzido. Para que seja produzido é

necessário formar uma pasta utilizando a celulose, cargas minerais e colagem.

As cargas minerais são substancias adicionadas para baratear o custo do papel, já que a

celulose á cara. As substâncias de colagem são para dar maior aderência a pasta e formar uma

folha de papel mais uniforme.

A celulose por ser obtida de duas maneiras, através do desfibramento mecânico da

madeira chamada de celulose mecânica. Os caules das arvores são cortados em toras que

passam por uma máquina chamada descascador que remove as cascas do tronco. Os troncos

são desfibrados, processo chamando de moagem. Sua qualidade e custo são baixos,

produzindo um papel mais barato, como o jornal.

O processo de celulose química, onde o desfibramento da celulose ocorre de maneira

químico-mecânico da madeira, o processo faz o uso de agentes químicos que auxiliam no

desfibramento. Seu processo são ocorrem em uma máquina, o tronco é cozido para ocorra o

desfibramento que depois passa por um processo químico para eliminar todas resinas e

componentes indesejados. Desta maneira as fibras são mais bem tratadas, o numero de

impurezas é bem menor resultando em um papel de mais qualidade, usados na fabricação de

produtos mais nobres, com mais durabilidade e melhor aparência. (FERNANDES, 2003) Nos

dois processos a pasta pronta é colocada para secar virando lâminas.

49

A pasta de celulose, cargas minerais e colagem é levada para processamento em uma

máquinas de produção de papel. De acordo com Fernandes (2003) a máquina prensa a mistura

e aquece para que seque. No final do processo o papel pode ou não passar por um ultimo

processo, passando por rolos chamados calandras. São rolo para deixar alguma marca, se a

superfície do rolo lisa, o papel fica acetinado, se possuir texturas, o papel ganha marcas leves.

Os papéis que passam por esse processo recebem o nome de calandrados.

Além da calandra o papel pode passar por um revestimento superficial ou os dois

processos.

Dentre as características do papel estão a opacidade, que é a capacidade que o

papel possui de barrar a luz, a maciez, podendo o papel ser mais compacto ou mais macio, a

alvura e brancura, a lisura, determinada pela regularidade ou irregularidade do papel, a

porosidade, capacidade do papel de deixar o ar passar por ele sem que se rompa, a resistência

a tração (a força e ao peso), o alongamento, capacidade do papel de se deformar sem se

romper, o percentual de alongamento, o teor de umidade na fibra do papel, o grau de

absorção, capacidade do papel de receber um líquido, o brilho, o sentido da fibra, o pH

superficial, que é a acidez ou alcalinidade do papel, o corpo (relação da gramatura e

espessura), espessura, a gramatura (peso em gramas por metro quadrado de papel).

(FERNANDES, 2003)

Segundo Fernandes (2003) um livro pode ser feito com um papel de 75g/m2 e para

livros com folhas impressas dos dois lados seria mais apropriado folhas de 90g/m2 ou um

pouco mais. Mais do que isso seria além do ideal, seria um livro pesado demais.

Gráficos e papeleiros dividem as folha em três tipos de acordo com a gramatura, papel

para até 180g/m2, cartolina para acima de 180 e abaixo de 320g/m2 e cartões para gramaturas

acima de 320g/m2.

De acordo com Fernandes (2003) os meios mais utilizados de papel são: acetinato,

apergaminhado, bíblia, bouffant, cartão duplex, cartão triplex, cuchê, flor-post,imprensa,

jornal, Kraft, monolúcido, offset, papelão ondulado e vergé17.

Como citado anteriormente o método offset de impressão é o mais usado na produção

de livros, sendo o papel offset apropriado para esse sistema de impressão, possuindo

17 Para maior aprofundamento: FERNANDES, Amury. Fundamentos de produção gráfica para quem não é produtor gráfico. Rio de Janeiro, Copyright, 2003 Livraria Rubio LTDA.

50

características para resistir ao contato com a umidade do processo, é fabricado com pasta

química e possui um bom acabamento superficial.

2.5. Acabamentos

Quando um impresso vai para o acabamento, ele ganhará seus aspectos finais, como

corte, dobra, alça, costura, encadernação, e todas as outras operações necessárias para que

cheguem em seu estado definitivo. (FERNANDES, 2003)

O trabalho do acabamento começa na montagem dos filmes para impressão, onde são

organizadas as páginas para serem impressas. Cada estrutura e publicação pede uma

organização diferente.

O material gráfico é impresso em unidades em cadernos múltiplos de quatro páginas

que posteriormente serão dobradas para que cheguem sem sua forma final. (CARRAMILO

NETO)

Segundo Fernandes (2003) o meio gráfico classifica o acabamento em dois tipos: o

cartotécnico e o editorial. O acabamento cartotécnico é dividido em grupos de acordo com a

utilidade de cada produto; diferente dos acabamentos impressos que são classificados em

quatro grupos chamados de ponto metálico, brochura, capa dura e outros.

O acabamento editorial se refere aos produtos relativos à indústria editorial, como

livros, apostilas e jornais. Esse tipo de produto exige a união de um determinado numero de

folhas que geralmente são impressas em cadernos, alguns tendo aplicação de capa.

Os produtos de cartotecnia são os que não possuem essas características do editorial,

mas que engloba uma grande quantidade de outras possibilidades.

A escolha do acabamento adequada para cada tipo de produto é fundamental, uma

impressão perfeita pode ser destruída por um acabamento mal planejado e executado. A

maioria dos produtos gráficos precisa passar por uma operação ou uma série delas para que

cheguem em seu estado final.

As cinco divisões de acabamentos catotécnicos são: Produtos cartotécnicos para oficio

e uso escolar, comocadernos, produtos cartotécnicos para embalagens, como saquinhos e

51

caixas, produtos cartotécnicos para uso privado, como papéis de carta, produtos cartotécnicos

higiênicos, como toalhas de papel e produtos cartoécnicos diversos, como baralhos.

(FERNANDES, 2003)

As operações de corte são feitas através de guilhotinas, máquinas que possuem

lâminas, esquadros e controles digitais ou analógicos que comandam as medidas de corte. O

corte pode ser simples, com o objetivo simplesmente de separar os impressos.

Um impresso pode passar pela operação de corte e vinco ao mesmo tempo, através de

uma peça especial chamada facas de corte e vinco. É uma série de lâminas, as para corte

possuem um fio para corte e as sem fio para os vincos.

Vinco é uma marca de dobra no papel, é feito com uma lâmina arredondada para

marcar o papel facilitando a dobra, existem máquina próprias para sua produção.

O livro pode conter impressão tanto nas imagens quanto nos textos de hot-stamping,

que é uma gravação a quente que possibilita a reprodução de ilustrações com traços

geralmente dourados ou prateados, mas podem ser feitas em outras cores. A maioria dos

revestimentos permite que seja efetuada a gravação a quente.

Para se obter a gravação é necessário um clichê em alto-relevo do motivo a ser gravado. As gravações são feitas em máquinas especiais, aplicando-se pressão e calor ao celofane da cor desejada em contato com o clichê sobre o material a ser gravado. (CARRAMILO NETO, 1997 p. 177)

O sistema produz a impressão a partir do calor e pressão. A cor é dada pelas fitas de

celofane metalizadas que se encaixam entre o clichê e a capa.

Outra forma muito utilizada de acabamento em livros infantis é o verniz, que aumenta

o brilho das cores, sua aplicação é feita após a impressão.

Segundo Carramilo Neto (1997) o verniz pode ser impresso na própria máquina de

impressão, a não ser que seja um verniz especial, de alto brilho, exigindo máquinas

apropriadas para este fim.

O livro impresso passa por várias fazes até chegar às prateleiras, do processo de

escrita, passando pela escolha adequada de impressão, ao tipo de suporte e acabamentos. Cada

52

fase é de fundamental importância, o erro no momento de escolha de uma das etapas pode

prejudicar o trabalho todo.

53

3. O LIVRO INFANTIL

O livro é um produto industrial, resultado de um trabalho coletivo que além de ter uma

estética que satisfaça todos os envolvidos, tem que atender a imposições técnicas e

pedagógicas. É um objetivo que só funciona se atender as expectativas do publico leitor.

Segundo Lins (2009) o livro possui várias funções, ele é um veículo de comunicação,

uma peça literária, um instrumento pedagógico e fonte de lazer e de saber.

Livros infantis são “livros que pela temática, pelo uso da imagem, pelas cores, pelo

formato, são indicados principalmente para crianças.” (LINS, 2003, p. 44)

A criança, diferente do adulto, interage com o livro como se ele fosse um brinquedo,

por esse motivo, o ideal é que os livros sejam resistentes. Para crianças pequenas, os livros

devem ser bem coloridos, cheios de imagens e com pouco texto.

Sanchez (1983 apud Sousa 2008) afirma que um livro, para ser infantil, precisa ter três

requisitos básicos: simplicidade, clareza e fantasia.

3.1. O surgimento da literatura infantil

A literatura infantil, assim como todas as outras, é arte. Ela existe para transmitir

alguma experiência humana. A literatura acompanhou a evolução da humanidade, seus ideais

e valores foram modificados. (COELHO 1993)

Desde sua origem, a literatura aparece com a essência de influenciar as idéias e o

pensamento das pessoas. Coelho (1993) apresenta essa arte como um poderoso caminho do

conhecimento, podendo enriquecer ou transformar as experiências de vida. Seu poder de atuar

sobre as mentes é mais intenso do que qualquer outra atividade.

Quando se pensa em literatura infantil nos vem a mente livros belos e coloridos que

possam atrair e gerar prazer as crianças, seja lendo as histórias, ou ouvindo contadas por

alguém. As primeiras obras voltadas a este público eram feitas de adaptações de livros para

adultos.

54

Os primeiros livros infantis foram escritos a partir de textos para adultos diminuídos,

foram apropriados para a criança. Eram retiradas da obra as linguagens e reflexões que uma

criança não pudesse entender e as situações que não fossem bons exemplos para as crianças.

A obra perdia em valor, mas conquistava um novo público.

Ariés (1981 apud Crenzel, Nojima e Brito 2008) afirma que os livros voltados

especificamente para o publico infantil são recentes, não podendo ser diferentes, já que a

noção de infância que temos hoje se originou somente na segunda metade do século XVII.

No Brasil, a literatura infantil demorou para se desenvolver, durante o Brasil- colônia

ela era inexistente. Com a vinda da Família Real portuguesa e com a transformação do Brasil

em sede da coroa e, 1808, a literatura infantil ganhou forças. (SANDRONI, 1987 apud

SANTOS, 2008)

Nesse período de crescimento os livros infantis possuíam uma aparência comum,

como de qualquer outro livro, sem o uso de nenhuma técnica ou forma específica.

No decorrer do tempo o livro infantil foi sofrendo alterações tanto em sua forma como

em conteúdo, para que se aproximasse mais de seu público, resultando na literatura infantil

desse início do século XXI, onde o produto livro infantil é identificado com facilidade em

qualquer lugar como um gênero específico.

Como visto no primeiro capítulo, em 1915 a editora Melhoramentos lançou o primeiro

livro editado no Brasil, O patinho feio.

Em 1921 Monteiro Lobato inicia sua carreira como escritor. Inspirado em uma história

contada por um amigo sobre um peixe que morre afogado e as histórias de uma ex-escrava de

seu pai que ouvia na infância, Lobato escreve seu primeiro livro para crianças, A menina do

narizinho arrebitado (Figura 20), e publica em uma tiragem de 50500 exemplares. Como o

numero de exemplares foi muito grande, o valor de venda dos livros caiu, se tornando assim

um produto mais acessível ao consumidor. (HALLEWELL, 2005)

55

Figura 20: A menina do narizinho arrebitado, de Monteiro Lobato.

O livro superou em vendas todos os livros para adultos, o que o estimulou a continuar

escrevendo para crianças. A demanda aumentou e conseqüentemente a procura também.

Segundo Coelho (1993), os livros infantis eram vistos como um brinquedo ou algo

para entreter a criança. A redescoberta da literatura infantil se deu, no final do século XX, a

partir do estudo da psicologia experimental. Esta foi de fundamental importância para a

evolução e formação da personalidade de um futuro adulto. Para a psicologia experimental a

inteligência é o elemento estruturador do universo que cada indivíduo constrói dentro de si

desde a infância a adolescência, construindo cada etapa do desenvolvimento do homem, onde

cada idade tem uma fase. A fase de correspondência de cada idade pode mudar de acordo com

as experiências e o meio em que vive de cada um.

Nessa nova realidade a literatura infantil se vê obrigada a evoluir para se adequar as

expectativas e se aproximar de seus leitores que antes se deparavam com obras longas,

cansativas e pouco atraentes aos olhos de uma criança.

56

As editoras voltadas para a literatura infantil seguiram com propostas gráficas

inovadoras, que estimularam uma mudança na produção editorial para crianças no Brasil.

Durante a década de 90 o tratamento visual do livro infantil sofre algumas mudanças,

com o objetivo de se aproximar do publico infantil ainda mais e estimular o crescimento do

mercado, os profissionais de ilustração e designer tem seu numero ampliado, em busca de um

produto final cada vez mais sofisticado. (LIMA, 2009)

Segundo Cecília Meireles, a literatura infantil tem algumas categorias, os livros de

aprender a ler, os livros didáticos18 e os chamados “álbuns de gravuras”, destinados aos

pequeninos, que se comunicam de forma visual.

“(...) tendo em vista, precisamente, tornar o estudo agradável, o livro didático tem

adotado estilos e procurando temas que quase o transformam em livros de histórias

maravilhosas.” (MEIRELES 1984, p. 26)

De acordo com Azevedo (2001) o livro infantil didático nasceu como instrumento de

formação da criança, baseado em um novo conceito de infância que se desenvolveu a partir

dos ideais iluministas. Quando a criança que fazia trabalhos de um adulto passou a freqüentar

a escola e a viver sob a proteção de um adulto.

O livro infantil, independente do material que é feito, é indicado para crianças por seu

formato, temática, cores e imagens. Por se tratar de um produto industrial, está sujeito a

imposições técnicas e pedagógicas, tendo que atender as vontades estéticas e expectativas

emocionais e psicológicas do público. (LINS, 2003)

Coelho (1993) apresenta a literatura infantil de forma geral como uma maneira de um

adulto, pessoa com maior experiência, passar uma informação ou mensagem a uma criança.

Lendo ou ouvindo uma obra a criança passa pelo processo de aprendizagem, independente do

livro ser didático ou não.

O adulto transmite os pontos de vista que julga mais interessantes para a criança,

transmitindo-os da maneira que julga mais clara para a compreensão desse público.

(MEIRELES, 1984)

18 Livro de caráter pedagógico. Surgiu como complemento aos livros clássicos, utilizados na escola, inicialmente buscando ajudar na alfabetização e na divulgação das ciências, história e filosofia.

57

De acordo com Lins (2003), essa troca entre autor e receptor, acontece de forma um

pouco diferente de acordo com a idade da criança. Onde, quanto mais nova ela for, mais

cores, ilustrações e texto reduzido o livro vai ter.

3.2. A infância e o livro

Segundo Coelho (1993), a criança, dentro de uma evolução considerada normal, passa

por duas fases iniciais dentro da categoria de pré-leitor, a primeira infância que vai dos 15/17

meses aos 3 anos e a segunda infância se dá a partir dos 2/3 anos.

Na primeira fase, onde a criança começa seu processo de reconhecimento de tudo que

está em volta dela, principalmente através do tato e contatos afetivos, recebe o nome fase da

“invenção da mão”, já que a criança quer pegar tudo que vê. É caracterizada também como a

fase da descoberta da linguagem.

É o momento de estimular o crescimento da criança, com diferentes cores e formas. O

material destinado a essa criança deve ser resistente, de pano, plástico ou papel grosso.

(COELHO 1993)

Na segunda fase, predominam os valores vitais e sensoriais, a criança se percebe e

descobre o próprio corpo. Está mais adaptada ao meio físico e seu interesse pela comunicação

verbal aumenta. A orientação de um adulto para o manuseio do livro é fundamental.

Nesse início de contato com o livro, a imagem é predominante. As obras com gravura,

fotos, ilustrações, desenhos ou textos breves são mais compreendidos pelas crianças dessa

fase. Quando lidos e interpretados por adultos, resultam na percepção do mundo, os pequenos

começam a relacionar os fatos do livro aos da vida real. “As imagens devem sugerir uma

situação (um acontecimento, um fato, etc.) que seja significativa para a criança ou que lhe seja

de alguma forma atraente.” (Coelho, 1993 p. 29)

É uma fase onde desenhos e pinturas facilitam uma comunicação visual. Técnicas de

colagem, humor e expectativa aumentam o prazer do pré-leitor.

Em outra faixa etária, estão as crianças a partir dos 6/7 anos, fase onde se insere o foco

deste trabalho. Coelho (1993) denomina como a fase do leitor iniciante. É quando se aprende

58

a ler. O estimulo do adulto ainda é necessário, para incentivar a criança e estimular o gosto

pela leitura.

Para esta fase, os livros adequados possuem ainda imagens predominantes ao texto.

Mas já apresentam narrativas simples, com personagens reais ou não. Os argumentos devem

ser escritos de modo que estimule a imaginação.

Quando a criança já possui domínio sobre a leitura, a partir dos 8/9 anos, é a fase do

leitor em processo. Nessa idade os desafios são fundamentais. O adulto ainda tem o papel de

estimular a leitura. As imagens já se apresentam junto aos diálogos, a narrativa deve acontecer

em torno de um tema central, contendo começo, meio e fim. Realidade e fantasia são pontos

de interesse.

A partir dos 10/11 anos, a criança está na fase do leitor fluente, a compreensão do livro

e capacidade de refletir aumentam. É quando se desenvolve a capacidade de fazer deduções,

de pensar e refletir. É a fase da pré-adolescência, onde o adulto já não se faz necessário, a

própria criança passa a recusar a ajuda do adulto.

Os livros aparecem cheios de heróis, com uma linguagem mais elaborada. O uso da

imagem é bem menor, outras formas de textos aparecem como contos ou novelas. O amor

ganha seu espaço nas obras, a magia ainda existe só que de uma maneira diferente.

3.3. A imagem no livro infantil

Lins (2003) afirma que o livro infantil possui o papel de estimular a criança a ser

criança. Em uma época cheia de recursos eletrônicos e de grande oferta dos mais variados

tipos de imagens, o livro mantém função de estimular a criatividade da criança.

O texto escrito é capaz de produzir imagens na cabeça do leitor, podendo gerar

compreensões diferentes de um mesmo texto. A imagem pode de completar e enriquecer uma

história. A união de texto e imagem formam uma compreensão única do texto.

É um elemento reforçador para os pequenos leitores, possui papel indiscutível como

mecanismo de incentivo a leitura no universo da criança.

59

A elaboração de um livro de gênero infantil exige uma atenção diferenciada quanto a

ilustração. É um componente te total importância. As pessoas geralmente atribuem a imagem

uma função estética ou complementar a um texto, mas ela pode significar muito mais do que

isso. O conceito de ilustração no livro infantil vai muito além de enfeitar uma página, a

ilustração pode representar, descrever, narrar, simbolizar, expressar, brincar, persuadir,

pontuar, reafirmar, além de chamar a atenção para uma linguagem visual. (Camargo, 1995

apud Crenzel, Nojima e Brito, 2008)

Na literatura, evidentemente, a imagem não pode exercer uma mera figuração. Ela não está lá para o livro ficar bonitinho. A imagem (ilustração e projeto gráfico) potencializa o objeto livro como veículo de comunicação com sua ludicidade particular e única. (LINS, 2009 p.45)

Uma imagem é capaz de transformar uma história, ela pode mudar a roupa, trocar de

cenário, transformar uma personalidade, viajar no tempo, pode ficar feia e voltar a ficar bela.

“Personagens extremamente conhecidos e populares acabam representando arquétipos e

transformando-se também em ícones.” (Lins, 2003, p. 31). Como Alice no pais das

maravilhas (Figura 21), Pinocchio (o boneco de madeira que vira menino) e a boneca Emilia

do Sítio do Pica-Pau Amarelo de Monteiro Lobato. São alguns exemplos de personagens que

receberam interpretações visuais diferentes.

Figura 21: Alice no país das maravilhas em diferentes interpretações visuais. Alice, por Willy Pogany. Lewis Carrol. Alice no país das maravilhas. EP Dutton, 1925. Alice, por Dusan Kallai. Lewis Carrol. Alice no país das maravilhas. Penny Royal, 1982 e Alice, por Barry Moser. Lewis Carrol. Alice no país das maravilhas. Mlade Leta, 1981.

60

Segundo Meireles (1984) as imagens podem ganhar vida e se perpetuar. Elas passam a

viver de forma independente, livres de autor. Seguem um caminho de acordo com a

sensibilidade dos leitores. Alguns personagens ganham tanta força que se desligam da obra.

Tudo no mundo sofre mudanças, Lins (2003) descreve o livro como um objeto que

está em constante processo de atualização, que precisa acompanhar essa criança do século

XXI que pensa, lê e percebe o mundo de forma completamente diferente, uma criança que

independente de seu lugar de origem recebe uma quantidade de informação visual que a

décadas atrás nem um adulto recebia.

“A ilustração extremamente literal ou puramente ornamental e decorativa não

representa mais a diversidade, a pluralidade e a riqueza de informações visuais a que as

crianças de hoje têm acesso.” (Lins, 2003, p. 36)

Somos todos bombardeados de informações a toda hora, cabe a cada um de nós filtrar

essas informações. O mercado nos proporciona um leque enorme de opções, precisamos

buscar informações e produtos de qualidade.

Sandroni (1987 apud Sousa, 2008) afirma que a primeira publicação de um livro

infantil ilustrado foi Little Pretty Pocket Book (Figura: 22), de John Newberry, publicado em

1744, na Inglaterra.

61

Figura 22: Primeiro livro infantil ilustrado: Little Pretty Pocket Book, de John Newberry.

Oliveira (2009) afirma que no final do período vitoriano19, se iniciaram as atividades

de ilustrar livros infantis no Brasil. O aspecto industrial da época favoreceu a popularização

do livro para crianças e algumas convenções da linguagem visual se fixaram, nesse período a

criança começou a ser vista como um ser único.

A ilustração de livros infantis sofreu grande influência do estilos de pintura da época,

como Alexandre Cabanel (1823-1889), William-Adolphe Bouguereau (1825-1905), Jean-

Léon Gerôme (1824-1904) e Paul Delaroche (1797-1856). (OLIVEIRA, 2009)

No início do século XX, a ilustração de livros para crianças e jovens chega a sua

plenitude como linguagem, somando novas influências como o Art Nouveau20(Figura 23),

19Período do reinado da Rainha Vitória, em meados do Século XIX, a partir de Junho de 1837 a Janeiro de 1901. 20 Ao contrário da maioria das correntes associadas ao movimento modernista, o Art Nouveau não foi dominado pela pintura. Mesmo os pintores mais estreitamente relacionados com o estilo, Toulouse-Lautrec, Pierre Bonnard, Gustav Klimt, criaram cartazes e objetos de decoração memoráveis. Juntamente com o Arts and Crafts, o Art Nouveau foi um dos estilos estéticos que prepararam o caminho do design moderno. Art Nouveau modernizou o design editorial, a tipografia e o design de marcas comerciais; além de se destacar pelo desenvolvimento dos cartazes modernos.

62

movimento super presente na passagem do século XIX para o século XX. Seu estilo atuou

principalmente nas histórias em quadrinho. Essa fase ficou conhecida como período de ouro

da ilustração, e seguiu encantam gerações e gerações de leitores.

Figura 23: Obra de Toulouse Lautrec e ilustração do livro A bela e a fera, por Walter Crane.

Esse encantamento causado pelos artistas do período de ouro acontece por que “na

imagem desses artistas é uma espécie de imantação mágica que suas ilustrações transmitem

aos olhos e á emoção do pequeno leitor.” (OLIVEIRA, 2009 p. 22)

Segundo Oliveira (2009) uma das principais funções da ilustração é criar a memória

afetiva e feliz da criança. A imagem é capaz de criar vínculos, de transcender as palavras e o

tempo.

A integração da imagem nos livros para crianças se deu de forma rápida, como um

mecanismos de incentivo à leitura. Os livros para os pequenos leitores foram se enchendo

cada vez mais de imagens. As livrarias estão cheias de cor e imagem nas seções para crianças.

É evidente o interesse de promover a leitura através do discurso da imagem, ele se

torna claro e sugestivo, proporcionando aos leitores um momento de imaginação, de recriar,

de ir além. (CUNHA, 1986 apud SANTOS, 2008)

63

3.4. O produto livro no início do século XXI

O mundo todo vem sofrendo com a queda do numero de leitores. No Brasil o livro

ainda é um produto para poucos. Como a produção é pequena e o preço bem elevado, a maior

parte da população não tem acesso. Seu consumo acaba se restringindo à elite.

Lins (2003) afirma que o brasileiro possui um mercado interno de livros muito

pequeno, já que não possui hábito de leitura. O mercado brasileiro de livros encontra grande

dificuldade de trabalhar com exportação, devido ao idioma, o que não permite que os livros

ganhem maior popularidade e tenham seus preços reduzidos.

O mercado nacional é tão restrito que as crianças ou os pais que eram pra ser o público

alvo dos livros têm sua importância diminuída. As escolhas literárias das crianças são feitas

pelas escolas. “O livro de literatura passa a ser material paradidático, totalmente dependente

do sistema educacional. Ou seja, um produto feito para o público infantil é selecionado e

escolhido por adultos.” (Lins, 2003, p. 43)

O livro que era pra ser um objeto de prazer e fazer parte do tempo de lazer da criança

se torna uma tarefa da escolar. Os livros são ofertados pelas editoras aos professores e

coordenadores, que fazem a escolha do que vai ser abordado em sala.

Nós recebemos as escolhas feitas por outros desde cedo, uma criança nem sempre

recebe elogios por desenhar um mar vermelho. Segundo Lins (2003) não desenvolvemos um

senso crítico, seguimos um caminho de moda e modismo. O ensino da arte é desvalorizado

em uma fase de criatividade incontrolável.

Mesmo sendo um produto para poucos, o mercado de livros continua inovando em seu

processo de produção. Diante da queda de leitores o mercado procura investir na elite

consumidora, buscando diversificar os modelos, tipos e formatos.

Para alcançar esse pequeno publico de leitores o mercado livreiro investiu na ultimas

décadas em todos os recursos gráficos disponíveis, elevando o numero de títulos ricos em

técnicas e elementos visuais. Criando um mercado de considerável crescimento qualitativo.

“O Brasil atingiu em 1990, segundo a CBL (Câmara Brasileira do Livro) a marca de

R$901.503.687,00 na comercialização de 22.479 títulos. Em 2000 chegamos a

R$2.060.386.759,00 na comercialização de 45.111 títulos diferentes.” (Lins, 2003, p.45)

64

Lins (2003) afirma que com a globalização e as diversas possibilidades de

comunicação com o mundo foi possível produzir livros nacionais fora do país, resultando em

preços mais baixos e aumento da qualidade. O mercado ficou mais competitivo, já que o

mercado se abriu pra a entrada de produtos de editoras multinacionais.

Segundo Lins (2003), projetos e instituições governamentais também vêm

incentivando o hábito pela leitura de qualidade no Brasil.

O livro é um elemento fundamental na formação e desenvolvimento da criança. O

leitor de modo geral, está cada vez mais interessado e preocupado em aprender, em descobrir,

se tornando cada vez mais exigente em suas escolhas.

Para nos aproximarmos desse universo infantil foi realizada uma pesquisa com as

crianças de 6 a 8 anos do Colégio Oliveira Lima.

65

4. PESQUISA DE CAMPO

Segundo Meireles (1984) existem muitos casos em que crianças se afeiçoam por livros

de adultos, fato que induz o pensamento de que não se pode compreender as preferências das

crianças sem ter uma experiência elas.

O objetivo da pesquisa foi se aproximar do universo da criança e perceber suas reais

preferências quanto aos livros ofertados para sua idade sem a interferência de um adulto.

A pesquisa foi realizada dentro das dependências do Colégio Oliveira Lima em

fortaleza, com um grupo de 16 alunos, crianças de 6 a 8 anos e 3 professoras.

4.1. Colégio Oliveira Lima

A fundação do Colégio marcou a volta da família Oliveira Lima para Fortaleza depois

de 22 anos ausente. Em 1965, com a instalação da ditadura militar promovida pelo golpe

ocorrido em 01 de abril de 1964, a família mudou-se, em definitivo, para a cidade do Rio de

Janeiro onde, em 1972, veio a fundar a escola "A Chave do Tamanho", autorizada pelo

próprio Jean Piaget21, ela passa a ser um marco na educação do País utilizando o "Método

Psicogenético"22 do Prof. Lauro de Oliveira Lima. Maria Elisabeth Santos de Oliveira Lima,

filha de Alcides Santos (fundador do Clube Fortaleza e um dos maiores desportistas

cearenses, além de ser o fundador da Sociedade Cearense de Filatelia e Numismática) tinha o

sonho de abrir, novamente, uma escola em sua terra natal. Novamente porque em 1953 ela e o

Prof. Lauro de Oliveira Lima fundaram o Colégio Agapito dos Santos (Nome este em

homenagem ao avô de Elisabeth que era Professor e o primeiro diretor da Escola Normal - 21 Sir Jean William Fritz Piaget (Neuchâtel, 9 de agosto de 1896 — Genebra, 16 de setembro de 1980) foi um epistemólogo suíço, considerado o maior expoente do estudo do desenvolvimento cognitivo. Estudou inicialmente biologia, na Suíça, e posteriormente se dedicou à área de Psicologia, Epistemologia e Educação. Foi professor de psicologia na Universidade de Genebra de 1929 a 1954; tornando-se mundialmente reconhecido pela sua revolução epistemológica. Através da minuciosa observação de seus filhos e principalmente de outras crianças, Piaget impulsionou a Teoria Cognitiva, onde propõe a existência de quatro estágios de desenvolvimento cognitivo no ser humano: sensório-motor, pré-operacional (pré-operatório), operatório concreto e operatório formal. 22 Método criado a partir das teorias piagetianas. Nele, o processo pedagógico modifica-se sucessivamente, de acordo com o estádio de desenvolvimento mental (psicogênese). O aluno é que determina como o professor deve apresentar as situações didáticas, pois, em cada estádio de desenvolvimento, ele tem uma maneira diferente de aprender (esquemas de assimilação).

66

hoje Justiniano Serpa- Agapito dos Santos também foi Deputado Federal). Mesmo ela vindo a

falecer em novembro de 1980, seus filhos "tocaram o barco à frente" e em fevereiro de 1987

fundaram uma Filial da Escola "A Chave do Tamanho" em Fortaleza, esta que em 1994

trocaria o nome para Colégio Oliveira Lima23.

Depois de 23 anos de sua fundação a escola sente que cumpriu seu dever, trazer uma

escola referência para a cidade de Fortaleza.

A escola trabalha em cima de uma formação inteligente, buscando levar a marca da

cidadania, cultura e ética.

O colégio procura trabalhar em cima de alguns pontos: confrontar as crianças com

novos desafios, desenvolver seu espírito de companheirismo, aguçar seu espírito crítico,

estimular o gosto pela leitura, ensinar a trabalhar em equipe, levar as crianças a lugares novos,

sejam eles reais ou imaginários, cultivar a amizade, estimular as atividades artísticas e

aplaudir cada pequeno gesto de superação24.

4.2. Metodologia

Foi realizado um estudo das diferentes técnicas de comunicação visual e sua aplicação

em livros infantis, onde de forma específica e com abordagem adequada, através de uma

pesquisa qualitativa, foi explorado o objeto de estudo. Uma análise a fim de descobrir que

influencias essas técnicas teriam sob o pensamento e desejo de criança de 6 a 8 anos de idade.

A presente pesquisa procurou investigar as diferentes formas de se trabalhar os

recursos visuais, avaliando seu poder e eficiência em participar do mundo infantil.

Após a realização do levantamento bibliográfico para o desenvolvimento da

fundamentação teórica, fiz a aplicação do questionário, com o objetivo de observar e avaliar

a influencia das técnicas usadas em alguns livros e imagens previamente selecionadas. O

questionário foi aplicado em forma de conversa com as crianças e com as professoras foi

através de entrevista.

23 Retirado de: (http://www.piaget.com.br/20anos.php) acessado em 20 de novembro de 2010. 24 Informações retiradas de uma apresentação transmitida na recepção do Colégio Oliveira Lima.

67

O colégio escolhido foi o Oliveira Lima, localizado na Rua Barbosa de Freitas

nº730, Meireles. Algumas escolas foram procuradas para a realização da pesquisa, a única

que se mostrou disposta a colaborar, abrindo suas portas para nós foi o Oliveira Lima.

Depois de duas semanas de espera, o dia da pesquisa foi marcado.

Os livros selecionados para a pesquisa com as crianças foram escolhidos depois de

muita busca as principais livrarias de fortaleza. Como o presente trabalho aborda técnicas de

comunicação visual, os livros precisavam ter uma variedade de recursos, coisa que não foi

fácil de encontrar, já que a maioria dos livros disponíveis eram ou para crianças mais novas

ou mais velhas do que a idade analisada no trabalho.

4.3. Objetos de estudo

Foram selecionadas algumas imagens na internet de diferentes maneiras de se

trabalhar um mesmo objeto ou cenário, imagens que fizessem o uso de texturas visuais, tipos

diferentes, cores variadas, fotografia, desenho, para desta maneira, identificar as técnicas que

causaram maior identificação com as crianças. Imagens que trabalham com fotografias,

desenhos, ilustrações digitais e pinturas, umas com texturas, outras com cores vibrantes.

A partir da escolha dessas imagens, em uma visita marcada no Colégio Oliveira Lima,

dei início a pesquisa que aconteceu no dia 30 de novembro de 2010, tendo 2 horas de duração.

Na busca por respostas quanto à percepção das crianças em relação aos tipos usados

em livros, tema que a pesquisa bibliográfica não conseguiu responder, fiz algumas

brincadeiras de adivinhação com as crianças, para saber o quanto elas reparavam na tipografia

em meio a tantos outros atrativos visuais.

Foi apresentado um cartaz do filme Alice no pais das maravilhas (Figura 24) (Lewis

Carrol) durante cinco segundos e depois pedi que reconhecessem a fonte no meio de outras

seis (uma em cada estilo de fonte: : antigo, moderno, serifa grossa, sem serifa, manuscrito e

decorativo.

68

Figura 24: Cartaz do filme Alice no país das maravilhas, um filme de Tim Burton (Lewis Carrol).

O título do cartaz está escrito com tipografia decorativa. Depois pedi que escolhessem

qual a fonte de sua preferência.

Além da avaliação do uso das cores em livros levei algumas combinações de cores

impressas em papel cuchê tamanho A3 para um questionamento individual com as crianças.

Foram escolhidos quatro livros publicados entre 2008 e 2009 para a pesquisa com as

crianças (Figura 25), “Uma tartaruga a mil por hora” de Márcia Honora (Figura 26), “Thomas

e seus amigos: no cais” de W. Awdry (Figura 27), “Casa de animais” de Lisa Regan (Figura

28) e “Dinossauros em ação” de Rupert Matthews (Figura 29).

Figura 25: Livros escolhidos para a pesquisa.

69

Foram comparados o uso dos tipos, as texturas presentes em todo o livro, as cores e

imagens. De forma separada e posteriormente de forma individual.

Figura 26: HONORA, Marcia. Uma tartaruga a mil por hora. Ilustrações Index Art e Studio. São Paulo,

Ciranda Cultural, 2008.

O livro “Uma tartaruga a mil por hora” de Márcia Honora é uma obra que faz uso de

muitas cores, com tons alegres e vibrantes, a cor azul é predominante. Foi reproduzido em

impressão offset, em papel cuchê. É uma obra rica em imagens, todas elas são ilustrações bem

infantis, são imagens abstratas voltadas para o simbolismo, já que os detalhes visuais são

reduzidos e a imagem não contem grande quantidade de informação embora conserve

algumas qualidades reais. A utilização de texturas visuais é mínima. O tipo usado no título

presente na capa é decorativo e no texto presente no interior do livro é sem serifa.

70

Figura 27: AWDRY, Ver. W. Tomas e seus amigos: No cais. 1. ed. São Paulo, SP. Editora fundamento

educacional, 2010.

No livro “Tomas e seus amigos: No cais”, a obra faz uso de cores predominantemente

frias, os tons de cinza são predominantes. Foi reproduzido em impressão offset, em papel

cuchê. É uma livro com ilustrações abstratas, onde as imagens são reduzidas a seus elementos

visuais mais básicos e diretos. A utilização de texturas visuais está presente em todo o livro.

Sua capa conta com um acabamento em verniz. O tipo usado no título presente na capa é

decorativo e no texto presente no interior do livro é serifado.

Figura28: REGAN, Lisa. Eu amo: Casa de animais, curiosidades incríveis. Ed. Ciranda Cultural, São Paulo SP,

2008.

71

O livro “Casa de animais” de Lisa Regan faz uso de cores predominantemente

quentes. Foi reproduzido em impressão offset, em papel cuchê. Suas ilustrações estão em

nível representacional, pois podemos ver e identificamos a mensagem levando em

consideração o maio ambiente e as experiências reais. A utilização de texturas visuais é muito

grande e está presente em todo o livro. Sua capa conta com um acabamento em verniz. O tipo

usado no título presente na capa é decorativo e com aplicação de hot-stamping, o texto

presente no interior do livro é de tipo serifado.

Figura 29: MATTHEWS, Rupert. Dinossauros em ação: desvendando os segredos por trás dos fósseis dos

dinossauros. Ed. Ciranda Cultural, São Paulo SP, 2008.

O livro “Dinossauros em açãos” de Rupert Mattews, apresenta cores alegres e

predominantemente quentes. Foi reproduzido em impressão offset, e assim como os outros

livros usando papel cuchê. A obra possui ilustrações de nível representacional, as imagens são

facilmente identificadas, ricas em detalhes e texturas visuais que estão presentes em toda a

obra. Sua capa conta com um acabamento extenso em verniz. O tipo usado no título presente

na capa é decorativo e o texto presente no interior do livro é de tipo sem serifa.

72

4.4 Relatório de observação

A pesquisa realizada com as professoras e alunos do Colégio Oliveira Lima trouxeram

resultados surpreendentes. Foi verificado que crianças de 6 anos entendem e percebem muito

mais detalhes do que se imagina.As professoras responderam ao questionário de perguntas

qualitativas (Anexo I) com muita dificuldade embora as três delas tenham chegado à mesma

conclusão.

Quando questionadas sobre o que acreditam que os adultos queiram passar para as

crianças nos livros, a resposta foi estimular a criatividade, a imaginação, e o prazer pela

leitura. Contudo, afirmaram que em momento algum se sentem obrigadas pela sociedade a

impor algum valor quando estão trabalhando literatura com as crianças.

Ficou claro que mais do que criar os pequenos bombardeados de informações, as

professoras se preocupam em educá-los para a vida. Em uma das entrevistas, a educadora

disse ser fundamental ensinar a criança a trabalhar em grupo, e que existe a procura por

escolher livros que falem de união e que abordem temas de divisões de tarefas, para estimular

uma boa convivência com os colegas.

Quando questionadas acerca da utilização de cores, as educadoras apontaram o mesmo

aspecto, afirmando que as cores fortes chamam mais a atenção dos menores, de 1 a 3 ano.Já

os de 6 a 8 anos possuem uma opinião mais diferenciada, mas que ainda nesta idade é muito

claro a preferência do rosa pelas meninas e por suas família, e a preferência do azul pelos

meninos e por suas família.

A pesquisa mostrou ainda, que as crianças quando chegam aos 6 anos, começam a ter

gostos mais pessoais, é quando a personalidade começa a se destacar. E os livros que as

educadoras acreditam chamar mais atenção dessa criança são os com muitas fotos e

ilustrações, afirmando que a criança começa a perceber todos os detalhes do que lês é

oferecido.

De três professoras, apenas uma afirmou que as crianças de 6 a 8 anos não percebiam

o uso da tipografia, que eram indiferente a elas, já as outras duas acreditam que nessa idade a

criança percebe tudo e analisa cada detalhe do que está lendo.

73

A pesquisa com as crianças, constatou-se que a inteligência e percepção desses novos

leitores, meninos e meninas de 6 a 8 anos, já estão bem desenvolvidas. Antes que pudesse

dizer ou mostrar qualquer coisa, prontamente respondiam.

Com um grupo de 16 crianças formado em um pátio, em forma de meio circulo, foi

apresentado a elas um cartaz do filme Alice no País das Maravilhas,de Tim Burton, durante

alguns segundos.Guardado o cartaz, em seguida,foi exposto no chão a sua frente o titulo da

obra, escrito em seis tipos diferentes (Anexo V).Todos apontaram o título escrito com a fonte

utilizada no cartaz e afirmando ser o mesmo.Ao serem questionados acerca de preferência,

cerca da metade das crianças afirmaram ser a tipografia decorativa usada no cartaz a mais

atrativa.Outra metade optaram pela tipografia manuscrita. O que permite concluir que as

crianças dessa faixa etária são detalhistas, curiosas e extremamente eufóricas para mostrar sua

atenção e conhecimento aos estímulos apresentados.

A grande maioria das crianças se mostrou muito mais interessada em fotografias do

que em ilustrações de nível abstrato ou simbólico. Ao mostrar as imagens dos carros, uma

foto de um carro real e uma ilustração (Anexo IV) a preferência pelo real foi imediata, apenas

uma criança do sexo feminino preferiu a ilustração. As justificativas, de maneira geral, foram

bem parecidas.Afirmaram não gostar do que era“falso” e que preferem “imagem de verdade”

ou que pareçam de verdade.

A segunda imagem apresentada, com dinossauros (Anexo III), também observou-se

preferências voltadas para a imagem do dinossauro que se aproximava mais do que

imaginamos ser real.A maioria dos pequenos leitores comentou ter gostado da imagem por ser

“de verdade”, apontaram para a textura da pele e detalhes de seu corpo.

Ao apresentar as fotos das paisagens, uma real e a outra de uma pintura (Anexo II), as

opiniões se dividiram um pouco.Garotas preferiram a pintura, já os garotos a fotografia da

paisagem. As garotas afirmaram que a pintura era bonita e a maioria dos garotos afirmou dque

não gostava de pinturas.

Por fim, sobre as combinações de cores (Anexo VI), 15 das 16 crianças apontaram

gostar mais da combinação de cores complementares.

É inevitável perceber que entre as crianças entrevistadas, há grande predominância do

gosto pelas imagens que mais se aproximam do real e que sua percepção para contrastes de

cores também é grande.

74

Quando foi posto à disposição das crianças os 4 livros selecionados, os meninos se

levantaram o mais rápido e pegaram o livro “Dinossauros em ação”, todos se juntaram no

canto da sala para ler enquanto as meninas avaliavam os outros livros. O livro “No cais” foi o

que menos gostaram, quando apontei o uso do verniz e da textura todas ficaram curiosas para

ver mas logo o deixaram de lado.

Quando questionados para que olhassem os outros livros, apenas um dos garotos se

interessou por folhear o livro “No cais” e “Uma tartaruga a mil por hora”, os outros

preferiram o livro “Casas de amimais”, afirmaram que era por que os animais eram de

verdade e não de desenho.

A opinião das meninas ficou bem dividida, algumas preferiram de “Casas de animais”,

pelas fotos e ilustrações e as outras do “Uma tartaruga a mil por hora”, essas se fascinaram

com os desenhos e cores.

Ficou evidente que, ao apresentar os livros às crianças, as opiniões entre meninos e

meninas se dividiram mais. Os meninos não se mostraram nenhum pouco interessados por

desenhos, ficando claro que o que mais chama a atenção deles são os livros com fotografias e

ilustrações que se aproximem do real, independente da cor ou tamanho que esses utilizem. Já

as meninas, também se atraem pelo real, mas estão mais abertas a cores, formatos, texturas e

desenhos, elas se mostraram mais interessadas em conhecer e descobrir, mesmo estando

ambos em uma idade em que o livro tem que oferecer certo conteúdo, seja ele de informações

e imagens reais, ou de desenhos, texturas e cores bem trabalhadas.

75

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A prensa de tipos móveis de Gutenberg foi sem duvida nenhuma uma alavanca para o

mercado literário. Diante de uma nova sociedade que buscava se informar, o texto escrito

trabalhou como produtor de pensamentos.

O nítido crescimento do publico consumidor de livros forçou o mercado a criar um

produto específico para o público infantil. O que fez o mercado de designers crescer de forma

acelerada. Para agradar uma criança assim como a um adulto o processo de produção do livro,

escrita, imagens, cores, papel, tipo de impressão e acabamento tem que acontecer de maneira

planejada, para que alcancem o objetivo do produto.

O livro infantil do início do século XXI é uma categoria literária. Se entrarmos em

uma livraria a identificação da seção de livros para crianças será imediata.

Os recursos bibliográficos para a produção da fundamentação teórica foram

insuficientes para afirmar as preferências e identificações das crianças de 6 a 8 anos pelas

técnicas visuais presentes nos livros.

A partir do conhecimento que obtive na produção do presente trabalho realizei uma

pesquisa qualitativa que me possibilita concluir que o livro é um elemento de total

importância na formação de uma criança.

O Colégio Oliveira Lima, junto com suas professoras se empenha em levar para as

crianças matérias gráficos que estimulem o gosto pela arte e que trabalhem o pensamento

coletivo.

Concluímos que a opinião das professoras sobre a cor rosa como sendo de grande

identificação das meninas e a cor azul de identificação dos meninos não condiz com a maioria

das reações observadas. Tanto meninos como meninas quase não deram importância ao

elemento cor, a imagem foi o principal atrativo. E quando questionadas sobre a cor das

imagens, o que prevaleceu foi a escolha por cores mais fortes e marcantes, como o laranja, o

vermelho e o roxo.

O aspecto mais claro de toda a pesquisa foi o interesse de todas as crianças pelas

imagens representacionais, quando mais verdade uma imagem passava maior a curiosidade e

76

vontade de ler as crianças demonstravam. Os livros destinados a essa idade são bem aceitos

pelas crianças por possuírem imagens predominantes aos textos.

Esses pequenos leitores são capazes de reconhecer pequenos detalhes, contradizendo a

opinião de uma das professoras as crianças se mostraram atentas e interessadas pelos tipos

usados nas capas dos livros.

Me aproximando do universo infantil pude perceber um enorme interesse

principalmente dos meninos pelos livros que falam de animais. As imagens tão realistas

prenderam a atenção das crianças e causaram encantamento pelas páginas assim que eram

folheadas.

Ao fazer a seleção dos livros para a pesquisa encontrei dificuldade de encontrar livros

que não fossem cheios de desenhos e cores, os livros que trazem em suas páginas imagens

reais ou que se aproximem da realidade são bem limitados, o que mostra que os adultos

desconhecem ou não levam em consideração as preferências das crianças. A maioria dos

livros é feito para a criança de modo geral, sendo que uma menina ou menino de 4 anos não

possui os mesmos gostos que um de 7.

O mercado literário brasileiro cresceu, mas certamente a grande maioria dos produtos

voltados ao público infantil, mais especificamente crianças de 6 a 8 anos do Colégio Oliveira

Lima não possuem os recursos mais atrativos e percebidos por elas.

77

REFERÊNCIAS BILBIOGRÁFICAS MEIRELES, Cecília. Problemas da literatura infantil, 3º edição, Rio de Janeiro. Nova Fronteira, 1984. COELHO, Nelly Novaes. Literatura infantil: Teoria, análise e didática. 6º edição revisada, editora ática, 1993. MELO, Chico Homem de. O design gráfico brasileiro: anos 60. Chico Homem de Melo (org.), 2º ed., São Paulo, Cosac Naify, 2008. CARDOSO, Rafael. O design brasileiro antes do design: aspectos da história gráfica, 1870-1960. Rafael Cardoso (org.), São Paulo, Cosac Naify, 2005. RIBEIRO, Milton. Planejamento visual gráfico. 10º edição, atualizada. Brasília, LGE editora, 2007. HOLLIS, Richard. Design gráfico: uma história concisa. Richard Hollis; tradução Carlos Daudt. São Paulo, Martins Fontes, 2000. (Coleção a) FERNANDES, Amury. Fundamentos de produção gráfica para quem não é produtor gráfico. Rio de Janeiro, Copyright, 2003 Livraria Rubio LTDA. LINS, Guto. Livro infantil? : Projeto gráfico, metodologia, subjetividade. São Paulo, Edições Rosari, 2003. (Coleção textos design) FARINA, Modesto. Psicodinâmica das cores em comunicação. Editora Edgard Blucher LTDA, revisores Heliodoro Teixeira Bastos; Clotilde Perez. 5º edição, revisada e ampliada. São Paulo, 2006. KOSSOY, Boris, 1941. Fotografia e história. 2 ed. Revisada, São Paulo, Ateliê Editorial, 2001. HEDGECOE, John, O novo manual de fotografia: guia completo para todos os formatos. 2.

ed. – são Paulo. Editora SENAC São Paulo 2006).

HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. 2º edição revisada e ampliada. São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, 2005. LUPTON, Ellen. Novos fundamentos do design. São Paulo: Cosac Naify, 2008. BRINGHURST, Robert. Elementos do estilo tipográfico (versão 3.0). Cosac Naify, 2005. WILLIANS, Robin. Design para quem não é designer: noções básicas de planejamento visual. São Paulo, Callis, 1995. DONDIS, Donis A. Sintaxe da linguagem visual. São Paulo, Martins Fontes 2007.

78

WONG, Wucius. Princípios de forma e desenho. Ed. Martins Fontes, 1997. CARRAMILLO NETO, Mário. Produção gráfica II: papel, tinta, impressão e acabamento. São Paulo, Global, 1997. BAER, Lorenzo. Produção gráfica 6º Ed. São Paulo, editora Senac São Paulo, 2005. Salto para o futuro: A arte de ilustrar livros para crianças e jovens. TV escola. Ano XIX – Nº 7. Ministério da educação, Junho de 2009. AZEVEDO, Ricardo. Elos entre a cultura popular e a literatura. São Paulo SP, p.1-6, 2001. Disponível em: http://www.ricardoazevedo.com.br/palestras.htm acessado em 17 de novembro de 2010. ANTUNES, Cristina. As edições de "Marilia de Dirceo", de Tomás Antônio Gonzaga. Disponível em: http://www.brasiliana.usp.br/node/628 acessado em 20 de novembro de 2010.

79

ANEXOS

80

ANEXO I

Modelo questionário

Trabalho de conclusão de curso Faculdade 7 de Setembro Bacharel em Comunicação Social – Habilitação em Publicidade e Propaganda Aplicação de questionário – Colégio Oliveira Lima

LIVROS INFANTIS PARA CRIANÇAS DE 6 A 8 ANOS

Sexo______________________ Professor (a) das turmas: _______________________

1. O livro é um meio usado pelos adultos para transmitir algo para as crianças. Qual a

principal intenção e interesse que você acredita que os adultos queiram transmitir?

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

2. Quando está contando uma história ou trabalhando em um livro com os alunos, você

se sente obrigado (a) a transmitir algum valor imposto pela sociedade?

( ) Sim ( ) Não

Qual?

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

3. Quais valores você julga necessário passar para uma criança em sua formação?

Trabalhar em grupo, conviver com os outros.

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

4. Muitos estudiosos afirmam que toda criança até certa idade prefere cores fortes e

quentes, como o vermelho. Você percebe alguma preferência das crianças por essa

cor? Em qual faixa de idade isso acontece?

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( ) Sim ( )Não

( ) 1 a 3 anos

( ) 3 a 5 anos

( )5 a 7 anos

( )7 a 10 anos

( ) Em todas as idades citadas.

5. É clara a influencia dos pais ou mesmo da sociedade nos objetos pessoais e nas

escolhas das crianças por cores como o rosa para meninas e o azul para meninos?

( ) Sim ( )Não

6. É perceptível na maioria dos casos a existência de uma interação e identificação da

criança com o rosa no caso das meninas e do azul pros meninos?

( )Sim ( )Não

7. Meninos e meninas de partilham das mesmas preferências quando se trata de livros?

( ) Sim ( )Não ( ) Alguns

8. Qual importância você atribui a capa do livro no momento de escolha da criança?

( ) Escolhe o livro pela capa.

( )Tão importante quanto o interior do livro.

( ) Pouco importante.

9. O que você acredita que chame mais atenção das crianças nos livros?

( ) Formatos diferentes ( ) Tamanho

( ) Cores fortes ( ) Ilustrações

( ) Fotografias ( )Outros. _______________________

10. É possível perceber, quanto a tipografia, se a criança nessa idade repara, se

identificando ou não com os tipos usados em um livro?

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Anexo II

Imagens exploradas na pesquisa – Paisagem pintura e paisagem real (fotografia).

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ANEXO III

Imagens exploradas na pesquisa: Dinossauro ilustração simbólica e dinossauro

ilustração representacional.

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ANEXO IV

Imagens exploradas na pesquisa – Carro real (Fotografia) e carro ilustração simbólica.

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ANEXO V

Tipos analisados na pesquisa com as crianças: estilo decorativo, estilo manuscrito,

moderno, serifado, antigo e sem serifa.

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ANEXO VI

Cartelas de cores utilizadas na pesquisa: Cores análogas, cores complementares, cores

quentes e cores frias.