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CADERNOS DE DEBATES DO OBSERVATÓRIO NACIONAL DA ECONOMIA SOLIDÁRIA E DO COOPERATIVISMO A COMERCIALIZAÇÃO NA ECONOMIA SOLIDÁRIA EM EMPREENDIMENTOS URBANOS DE PRODUÇÃO ARTESANAL LIDERADOS POR MULHERES NÚMERO 2

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cadernos de debates do

observatório nacional da economia solidária e do cooperativismo

A comerciAlizAção nA economiA solidáriA em empreendimentos urbAnos de produção ArtesAnAl liderAdos por mulheres

número 2

Departamento IntersInDIcal De estatístIca e estuDos socIoeconômIcos

A comerciAlizAção nA economiA solidáriA em empreendimentos urbAnos de

produção ArtesAnAl liderAdos por mulheres

caDernos De Debates Do observatórIo nacIonal Da economIa solIDárIa

e Do cooperatIvIsmo

número 2

São Paulo, 2017

Presidente da RepúblicaMichel Temer

Ministro do TrabalhoRonaldo Nogueira

Secretário de Políticas Públicas de EmpregoLeonardo José Arantes

Subsecretário de Economia SolidáriaNatalino Oldakoski

Secretário de Relações do TrabalhoCarlos Cavalcante de Lacerda

Ministério do trabalho – Mtb

Secretaria de Políticas Públicas de Emprego – SPPEEsplanada dos Ministérios Bloco F Anexo Ala B

2º Andar-Sala 211Telefone (61) 2031-6667

Fax (61) 2031-8272

Subsecretaria de Economia Solidária – SENAESEsplanada dos Ministérios Bl. F Sede

3º Andar - Sala 300Telefone: (61) 2031-6533 / 6534

Fax: (61) 2031-8221

Secretária de Inspeção do TrabalhoEsplanada dos Ministérios Bl. F Anexo - Ala B,

1º Andar - Sala 176 Telefone: (61) 2031-6174/6162

Fax: (61) 2031-8270

CEP: 70059-900Brasília – DF

Obs.: Os textos não refletem necessariamente a posição do Ministério do Trabalho – MTb.

Projeto gráfico

Caco Bisol Produção Gráfica

Diagramação

Zeta Studio

ImpressãoRettec Artes Gráficas

Tiragem1.000 exemplares

A comerciAlizAção nA economiA solidáriA em

empreendimentos urbAnos de produção ArtesAnAl liderAdos por mulheres

Cadernos de Debates do Observatório Nacional da Economia Solidária e do Cooperativismo

número 2

São Paulo, 2017

Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos

Rua Aurora, 957 – Centro – São Paulo – SP – CEP 012009-001 Fone: (11) 3874 5366 – Fax: (11) 3874 5394

E-mail: [email protected] / http://www.dieese.org.br

Direção Sindical ExecutivaLuis Carlos de Oliveira – Presidente

Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas Mecânicas e de Material Elétrico de São Paulo Mogi das Cruzes e Região – SP

Raquel Kacelnikas – Vice-Presidente Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Bancários

de São Paulo Osasco e Região – SP

Nelsi Rodrigues da Silva – Secretário Geral Sindicato dos Metalúrgicos do ABC – SP

Alex Sandro Ferreira da Silva – Diretor Executivo Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas Mecânicas e de Material Elétrico de Osasco e Região – SP

Bernardino Jesus de Brito – Diretor Executivo Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Energia Elétrica de São Paulo – SP

Carlos Donizeti França de Oliveira – Diretor Executivo

Federação dos Trabalhadores em Serviços de Asseio e Conservação Ambiental Urbana e Áreas Verdes do Estado de São Paulo – SP

Cibele Granito Santana – Diretora Executiva Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Energia Elétrica de Campinas – SP

Josinaldo José de Barros – Diretor Executivo Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas Mecânicas e de Materiais Elétricos de Guarulhos Arujá Mairiporã e Santa Isabel – SP

Mara Luzia Feltes – Diretora Executiva Sindicato dos Empregados em Empresas de Assessoramentos Perícias Informações Pesquisas e de Fundações Estaduais do Rio Grande do Sul – RS

Maria das Graças de Oliveira – Diretora Executiva Sindicato dos Servidores Públicos Federais do Estado de Pernambuco – PE

Paulo Roberto dos Santos Pissinini Junior – Diretor Executivo Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas de Máquinas Mecânicas de Material Elétrico de Veículos e Peças Automotivas da Grande Curitiba – PR

Paulo de Tarso Guedes de Brito Costa – Diretor Executivo Sindicato dos Eletricitários da Bahia – BAZenaide Honório – Diretora Executiva

Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo – SP

Direção técnicaClemente Ganz Lúcio – Diretor Técnico

Patrícia Toledo Pelatieri – Coordenadora Pesquisa e TecnologiaJosé Silvestre Prado de Oliveira – Coordenador de Relações Sindicais

Fausto Augusto Jr – Coordenador de Educação e ComunicaçãoAngela Maria Schwengber – Coordenadora de Estudos em Políticas Públicas

Rosana de Freitas – Coordenadora Administrativa e Financeira

Equipe técnicaÂngela Schwengber,

Cristiane Bibiano Silva, Eliane Martins,

Geni Marques (fechamento da publicação), Marcos Aurélio Souza (responsável),

Pedro dos Santos B. Neto, Rodrigo Fernandes Silva,

Eliana Martins e Vilma Silva Batista (apoio)

DIEESE

D419a A comercialização na economia solidária em empreendimentos urbanos de produção artesanal lideradas por mulheres./ Departamento

Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos. São Paulo: DIEESE, 2017. (Cadernos de Debates do Observatório Nacional de Economia Solidária e do Cooperativismo, 2).

80 p. ISBN 978-85-87326-83-6

1. Economia Solidária 2. Empreendimento Econômico 3. Produção Artesanal 4. Mulher I. DIEESE II. Título

CDU 330.873

7 ApresentAção

11 sumário executivo

15 introdução

21 notAs metodológicAs

29 os empreendimentos econômicos solidários, dedicAdos às AtividAdes de produção ArtesAnAl no contexto gerAl dA economiA solidáriA

37 os empreendimentos econômicos solidários urbAnos, liderAdos por mulheres e em AtividAdes de produção ArtesAnAl

49 os empreendimentos econômicos solidários em AtividAde de produção ArtesAnAl, liderAdos por mulheres e orgAnizAdos nA rede de economiA solidáriA e feministA

55 oficinAs de diAgnóstico pArticipAtivo: o olhAr dAs trAbAlhAdorAs sobre A comerciAlizAção nAs AtividAdes de produção ArtesAnAl em Ambiente urbAno

65 considerAções finAis

71 referênciAs bibliográficAs

73 Anexos

sumárIo

O presente estudo, intitulado A comercialização na economia solidária em empreendimentos urbanos de produção artesanal liderados por mulheres, se constitui em produto elaborado no âmbito da parceria entre o Ministério do Trabalho (MTb)/Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes) e o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIE-ESE) para Desenvolvimento de Instrumentos e Atualização dos Indicadores de Apoio à Gestão de Políticas Públicas de Emprego, Trabalho e Renda, Convênio MTE/SPPE/Codefat nº 003/2014 – DIEESE – Siconv nº 811485/2014 – Meta nº 7.

Como um dos principais resultados do atual convênio, estruturou-se, já em 2015, o Observatório Nacional da Economia Solidária e do Cooperativismo (Onesc). No início de 2016, o Onesc foi formalmente apresentado ao Con-selho Nacional de Economia Solidária (Cnes), momento no qual foi destaca-do que promover e dar visibilidade à economia solidária deveria ser um dos objetivos do Observatório. Para viabilizar esses objetivos, seriam produzidos indicadores, visando aprofundar o conhecimento sobre os EESs e elaborados estudos envolvendo os atores sociais da economia solidária, por meio da utili-zação da metodologia do diálogo social.

apresentação

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A comerciAlizAção nA economiA solidáriA em empreendimentos urbAnos de produção ArtesAnAl liderAdos por mulheres

O primeiro estudo produzido pelo Onesc abordou o tema da informalidade na economia solidária, com subsídios importantes para a estruturação de po-líticas para superar essa situação, na qual está mais da metade dos empreendi-mentos econômicos solidários.

No segundo ano, a Senaes, a partir de espaços de diálogo e formulação, indi-cou ao Onesc a necessidade de se procurar entender o universo da comercia-lização nos empreendimentos da economia solidária. Entretanto, como havia uma compreensão de que os empreendimentos no meio rural, mais ligados à agricultura familiar, já são, em parte relevante, atendidos por políticas de mercado institucional, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), seria oportuno com-preender as dificuldades que os empreendimentos situados em áreas urbanas, espaços no quais o acesso a políticas públicas de fomento é limitado, têm no processo produtivo e de comercialização.

Nas áreas urbanas, pelo menos dois segmentos importantes no universo da economia solidária se destacam: os trabalhadores em EES dedicados à atividade de produção artesanal e os trabalhadores da categoria social ca-tadores. A razão pela qual a Senaes propôs voltar o estudo para os EES em atividades de produção artesanal decorre do fato de os empreendimentos de catadores já terem sido objeto de pesquisa financiada pela Senaes em um termo de cooperação com o Ipea1. Ademais, os empreendimentos com produção artesanal são espaços nos quais trabalham majoritariamente mu-lheres, público de interesse de estudo de entidades da economia solidária e também da Senaes.

Ao construir um diagnóstico acerca das dificuldades que os empreendimentos econômicos solidários liderados por mulheres em áreas urbanas, dedicados às atividades de produção artesanal, encontram para confeccionar e comerciali-zar os artigos, este estudo busca contribuir com a disseminação de informa-ções e conhecimento que gerem subsídios para a tomada de decisão dos atores sociais e dos gestores públicos a respeito dessa categoria social da economia solidária. De acordo com o segundo mapeamento, o grupo responde por mais de 17,0% do total de empreendimentos econômicos solidários no Brasil, a segunda maior categoria social. São mais de 100 mil trabalhadores, dos quais aproximadamente 80,0% são mulheres.

1. Os estudos resultantes dessa cooperação são Ipea (2012 e 2015).

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ApresentAção

A confecção do estudo está baseada em duas metodologias, detalhadas na seção de notas metodológicas. No primeiro plano, faz-se um levantamento estatísti-co, cujas bases de dados são o Sistema de Informações da Economia Solidária (Sies), a base do Diagnóstico Produtivo da Rede de Economia Solidária Femi-nista (Resf), em execução pela Guayí2, e o Sistema de Informações Geográficas do Onesc. Essa parte se constitui em uma investigação, como já dito, com uma leitura quantitativa de dados que permitem compreender questões relativas às operações de produção e comercialização desses empreendimentos. Nas notas metodológicas são dadas mais informações sobre ambas as bases, além de se-rem indicadas as possibilidades e limitações de uso delas nesse estudo.

Ao mesmo tempo, também foram realizadas três oficinas de diagnóstico par-ticipativo com a finalidade de estruturar informações qualitativas a respeito das questões investigadas no estudo, mas que também revelassem particulari-dades muitas vezes de difícil observação por meio dos indicadores formulados a partir de bases de dados específicas. Compreende-se que o conhecimento empírico, construído no dia a dia das produtoras artesãs, se constitui em sub-sídio indispensável para o entendimento da realidade dessas mulheres. Essa compreensão sobre a importância da existência de espaços de mediação e de construção de saberes coletivos, com o objetivo de realizar diagnósticos que auxiliem no entendimento de determinadas realidades, e mesmo, em alguns casos, promover ações que transformem o que foi diagnosticado, faz parte do acervo metodológico fundante e à disposição do Onesc.

A primeira oficina ocorreu em São Paulo e reuniu quatro trabalhadoras de atividades de produção artesanal, nas áreas de moda, design, alimentação e bijuterias, e um educador, todos vinculados à Incubadora Pública de Em-preendimentos Econômicos Solidários do Município de São Paulo. Também esteve presente uma gestora, ligada ao programa Osasco Solidária, da prefei-tura municipal de Osasco. Embora o grupo de artesãs tenha sido inferior ao estimado (20 trabalhadoras), foram provocadas reflexões importantes sobre a forma de organização predominante entre elas, acerca da importância das incubadoras na organização dos espaços de comercialização, das dificuldades de produção e comercialização, e feitos esclarecimentos sobre a relação com o mercado de crédito no Brasil.

As demais oficinas foram realizadas no Rio de Janeiro e em Salvador, respecti-vamente, e contaram com mais de 20 trabalhadoras cada uma. No caso espe-

2. A Guayí – Democracia, Participação e Solidariedade é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público que coordena a Rede de Economia Solidária Feminista, que conta com a participação de 210 Empreendimentos de Economia Solidária (rurais e urbanos) localizados em nove estados, representando mais de quatro mil trabalhadoras.

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A comerciAlizAção nA economiA solidáriA em empreendimentos urbAnos de produção ArtesAnAl liderAdos por mulheres

cífico da capital baiana, participaram também gestores e técnicos, vinculados à Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte do governo da Bahia, en-volvidos com a temática, o que permitiu um aprofundamento do olhar sobre as questões da comercialização entre os grupos de trabalhadoras em atividade de produção artesanal, para além da perspectiva das próprias produtoras.

O estudo está dividido em quatro seções, além da apresentação, introdução e das notas metodológicas. A primeira parte traça um quadro geral da economia solidária, no que diz respeito às principais questões da comercialização, sempre comparado aos grupos econômicos solidários objetos desse estudo; a segunda aprofunda a caracterização dos empreendimentos econômicos solidários con-duzidos por mulheres, investigando o tema da comercialização, com recortes territoriais mais específicos, como a presença em áreas urbanas e metropolita-nas, além de buscar entender a dinâmica desses empreendimentos, confrontada com outras informações como condição de formalização, período de surgi-mento, entre outros; a terceira parte mantém uma análise sobre questões de comercialização entre empreendimentos liderados por mulheres, todavia, tendo como base de informações o Diagnóstico Produtivo realizado pela Rede de Economia Solidária Feminista. Na quarta e última parte, a reflexão acerca das dificuldades relativas ao processo de comercialização e também no tocante à produção, nos grupos de trabalhadoras em atividades de produção artesanal, é feita a partir do resultado dos diagnósticos participativos realizados nos muni-cípios de São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador.

• O Sistema de Informações da Economia Solidária (Sies) é resultado do mapeamento de 19.708 estabelecimentos de economia solidária, realizado entre 2009 a 2013 em todo o Brasil. Nesses empreendimentos, 1,4 milhão de sócios dedicavam-se a realizar diversas atividades econômicas. Entre os sócios, 104.278 trabalhavam em atividades artesanais e, desses, aproxima-damente 4/5 (78,1%) eram mulheres.

• Os 104.278 trabalhadores estavam distribuídos em 3.534 empreendimen-tos de economia solidária (EES), o que correspondia a 17,9% do total dos projetos deste tipo mapeados no Brasil. Esses EES eram a segunda catego-ria social com maior número de empreendimentos e de sócios, atrás ape-nas daqueles cuja atividade é a agricultura familiar (55,3% do total). Em algumas regiões, no entanto, o número de empreendimentos relacionados às atividades artesanais é superior ao dos de agricultura familiar. No Su-deste, 32,5% dos empreendimentos estão na categoria das atividades arte-sanais, enquanto os da agricultura familiar representavam 28,3%. Entre os EES dedicados às atividades de produção artesanal, quase 4/5 (78,9%) operavam em áreas urbanas e, desses, mais de 1/3 (38,8%) estavam em regiões metropolitanas e 26,0% nas capitais.

sumárIo executIvo1

1. O relatório intitulado Estudo, contendo os resultados e a análise da temática estudada no ano é um dos produtos previstos no Convênio DIEESE e MTE/SPPE/Codefat nº 003/2014, na Meta 7 – com o objetivo de Desenvolvimento de Instrumentos e Atualização dos Indicadores de Apoio à Gestão de Políticas Públicas de Emprego, Trabalho e Renda.

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A comerciAlizAção nA economiA solidáriA em empreendimentos urbAnos de produção ArtesAnAl liderAdos por mulheres

• Os EES com atuação marcadamente urbana estão, majoritariamente, na informalidade (mais de 2/3). Este fator, como já observado em outros es-tudos desenvolvidos pelo Observatório Nacional da Economia Solidária e do Cooperativismo (Onesc)2, e também pela pesquisa, é um dos principais causadores das dificuldades que os EES encontram para comercialização de produtos, apesar do peso relativo em outros ramos da atividade econô-mica dos empreendimentos, como a produção ou troca.

• O território de atuação comercial dos empreendimentos de atividade ar-tesanal são os limites geográficos dos municípios. As vendas ocorrem co-mumente em áreas intramunicipais e no comércio local ou comunitário. O comércio é feito mediante contato direto com o consumidor (64,7%), predominantemente em feiras livres (22,4%) e eventuais (22,2%).

• Na economia solidária são comuns dificuldades relacionadas a acesso ao crédito e planejamento/gestão financeira, estrutura de mercado e infraestru-tura logística. Entre os empreendimentos dedicados à produção artesanal também há grandes problemas em relação à estrutura para comercialização.

• No estudo, recomenda-se que as dificuldades analisadas de forma agre-gada para todo o território nacional sejam comparadas com informações do mesmo tipo no nível dos municípios, pois, nos territórios das cidades, verifica-se um panorama no qual se sobressaem outros problemas.

1. Mais de 2/3 dos empreendimentos de produção artesanal (68,9%) surgi-ram entre 2004 e 2013, o que pode indicar: 1) tendência pró-cíclica, com elevação do número de novos empreendimentos em um período caracteri-zado pela melhora da economia do país, com crescimento do PIB, geração de empregos e melhora da distribuição da renda, principalmente aquela vinculada aos salários; 2) esses anos também coincidem com a criação da Senaes e com o desenvolvimento de diversas políticas públicas para os di-versos segmentos da economia solidária, particularmente ações vinculadas à incubação. Tais políticas podem ter propiciado um ambiente favorável ao surgimento desses empreendimentos. De todo modo, esses não são mo-vimentos mutuamente excludentes mas que, pelo contrário, podem ter se combinado, aumentando as condições favoráveis para o surgimento de mais empreendimentos nesses anos.

2. Ver DIEESE (2015).

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Sumário executivo

• Por fim, como parte do desenvolvimento do estudo, foram realizadas três oficinas de diagnóstico participativo com grupos de trabalhadoras em atividade de produção artesanal em três capitais brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador. Essas atividades permitiram obter uma visão sobre as questões investigadas que a mera análise estatística dos dados não permitiria. Por meio delas, verificou-se que a rotina dessas mulheres é altamente exaustiva, pois combina diversas etapas do ciclo econômico e produtivo daquilo que confeccionam (compra de insumos, beneficiamen-to, produção e comercialização) com rotinas domésticas, com diversas jor-nadas de trabalho. Ademais, a experiência dessas trabalhadoras demonstra um campo a ser explorado na prática de organização sob o paradigma do cooperativismo, com potencial de contribuir para a melhor gestão do trabalho (separando processos distintos) e qualidade de vida, por meio da disponibilização de mais tempo para atividades não relacionadas ao trabalho.

Entender os desafios da comercialização na economia solidária tem sido um esforço constante dos atores envolvidos com esse campo de atuação social e econômica no Brasil. O resultado desse empenho tem propiciado o desenvol-vimento de estudos e diagnósticos com vistas a fortalecer a ação dos empre-endimentos econômicos solidários em todo o processo de interação com o mercado, implicando a adição de questões relativas ao próprio processo pro-dutivo desses EESs como elemento da análise.

A Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes), no âmbito do Ministé-rio do Trabalho (MTb), tem desempenhado papel estratégico no fomento de pesquisas e investigações que possam trazer luz a esses desafios, assim como propostas para superá-los. A Secretaria opera a política pública por meio de editais temáticos que, por sua vez, resultam em convênios com diversas orga-nizações da sociedade civil, instituições de ensino e pesquisa e órgãos governa-mentais, que buscam estratégias para fortalecer a capacidade econômica dos empreendimentos solidários. Um desses editais foi o de número 004/2012, lançado com o objetivo de apoiar projetos que tornassem mais eficaz o apoio, o fortalecimento e a organização de Redes de Cooperação Solidária, constitu-ídas por empreendimentos econômicos solidários como estratégia de fomen-

IntroDução

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A comerciAlizAção nA economiA solidáriA em empreendimentos urbAnos de produção ArtesAnAl liderAdos por mulheres

to às cadeias produtivas e aos arranjos econômicos territoriais e setoriais de produção, comercialização e consumo solidários. Vários projetos selecionados neste edital geraram diagnósticos a respeito da comercialização dos empre-endimentos econômicos solidários, entretanto, a maioria desses diagnósticos esteve focada no universo da agricultura familiar, trazendo informações sobre as organizações desse campo de atuação na economia solidária.

Embora esse conjunto de diagnósticos focasse os empreendimentos econô-micos solidários do campo e ainda que a realidade e soluções indicadas para certo grupo não possam ser aplicadas de maneira automática a outro, sem a precedência de pesquisas e informações rigorosas, alguns pontos se destacam e podem ajudar a compreender as questões de comercialização dos empreen-dimentos econômicos solidários urbanos liderados por mulheres e em ativida-des de produção artesanal. Nos diagnósticos:

1. Aponta-se a importância da constituição de redes como forma de acesso a mercados institucionais;

2. Salienta-se a importância do poder público como ofertante de espaços e infraestrutura, assim como de equipamentos administrativos;

3. Refere-se ao acúmulo histórico em discussões relativas à produção e ao acesso a mercados institucionais e também, em alguns casos, à partici-pação em organizações políticas, como sindicato de trabalhadores rurais, como fatores importantes para constituição de redes de apoio às coopera-tivas singulares;

4. Destaca-se que algum aporte financeiro, por meio de cooperativas de cré-dito e por políticas específicas de governos, compôs campo de apoio e legitimação ao cooperativismo e associativismo no meio rural.

A análise dos diversos diagnósticos feitos para apoio ao cooperativismo e as-sociativismo da agricultura familiar revela, portanto, aspectos importantes que fortaleceram esse tipo de organização na economia solidária, entre eles a possibilidade de acesso ao mercado institucional; a constituição de redes para facilitar a entrada nesse tipo de mercado e a possibilidade de acesso ao crédito. Portanto, uma ambiência favorável, apoiada em estímulo à oferta, por meio das compras institucionais, organização política e acesso a crédito, assim

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Introdução

como programas de fomento e assistência técnica, podem fornecer pistas para entender como a política pública pode ter papel estratégico na capacidade de ampliação da economia solidária.

Quando se olha para a realidade urbana e o quadro de uma economia popular, verifica-se que a realidade sugere dificuldades cuja raiz pode estar na ausência de uma ambiência1 que permita aos EESs dessas áreas o pleno desenvolvimen-to de suas possibilidades. Em oficinas realizadas pelo Onesc, a pretexto de discussão com entidades de representação e de redes da economia solidária, os participantes foram enfáticos na afirmação de que o problema dos empreendi-mentos, em geral, e especificamente daqueles situados em áreas urbanas, não estava vinculado ao processo final do ciclo econômico, ou seja, à comercializa-ção, mas à etapa anterior, relacionada às condições para a produção2.

Em outras atividades, com a presença de especialistas, destinadas a debater in-formações e indicadores de interesse da economia solidária, uma ideia ganhou destaque no que diz respeito às condições que garantam a sustentabilidade e perenidade dos EESs em seus territórios. Para o professor Gabriel Krayche-te, da Universidade Católica de Salvador (UCSal), não é possível pensar em sustentabilidade dos EESs sem pensar em uma ambiência favorável ao seu desenvolvimento. De acordo com Kraychete (2015, p. 6):

Os empreendimentos não levitam num espaço vazio, mas localizam-se em

determinados territórios. Em que medida estes territórios, como palcos de

determinadas relações sociais, restringem ou potencializam a escala e as

condições necessárias à sustentabilidade dos empreendimentos econômi-

cos associativos?

Ainda, de acordo com o pesquisador, quando se pensa nos espaços de atuação dos empreendimentos, no que diz respeito às áreas urbanas e rurais, verifica-se que:

As condições de existência dos empreendimentos associativos realizados

por agricultores familiares ou por trabalhadores urbanos são bem diferen-

tes. A dimensão territorial em espaços rurais ou urbanos é a mais imedia-

tamente visível, mas essa inscrição das atividades esconde uma diferença

maior e mais fundamental, qual seja, a natureza da relação entre o traba-

lho e os meios de produção. Os mecanismos de gestão e as condições de

1. Para uma discussão mais aprofundada sobre as questões de ambiência na economia solidária, ver Kraychete (2012) e DIEESE (2016).

2. Ver relatório metodológico das oficinas em (DIEESE, 2017).

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A comerciAlizAção nA economiA solidáriA em empreendimentos urbAnos de produção ArtesAnAl liderAdos por mulheres

sustentabilidade dos empreendimentos são determinados pela relação de

propriedade pré-existente dos trabalhadores com os meios de produção

(KRAYCHETE, 2015, p. 6).

No primeiro caderno metodológico do Onesc, as reflexões teóricas acumula-das também apontam a distinção marcante entre áreas de atuação dos empre-endimentos da economia solidária e suas condições de sustentabilidade:

A diferença entre o espaço rural e o urbano marca a própria relação entre

o trabalhador e seu meio de produção. No espaço rural, a agricultura fa-

miliar possui, com maior ou menor precariedade, o próprio meio de pro-

dução e, no geral, o empreendimento tem fortes razões para desenvolver

suas atividades de forma associativa, mesmo que cada um esteja agindo em

interesse próprio, como no caso do aumento de possibilidade de adquirir

financiamento. Nas cidades, a questão é mais complexa. A urgência do

empreendimento associativo em dar certo é muito maior, principalmente

se a unidade produtiva for a principal fonte de renda da família (DIEESE,

2016, p. 38).

Portanto, constituem-se em ambiência necessária à expansão da economia solidária, e mais especificamente dos empreendimentos urbanos, as condi-ções para que os EESs superem problemas que são de natureza interna, que podem garantir a autonomia econômica dos empreendimentos, quanto de ordem externa, vinculados a políticas de tributação, limitações legais e de desenvolvimento tecnológico, que se tornam barreiras relevantes à organiza-ção dos empreendimentos. De qualquer modo, como salientado na referida oficina, esses problemas são de ordem política e, portanto, a solução passa pela organização e articulação política para a intervenção na realidade, pois “não há condições de resolução individual de problemas que são de ordem coletiva” (DIEESE, 2016, p. 40).

Em 2008, o DIEESE, por meio de contrato estabelecido com a Agência de Desenvolvimento Solidário da CUT (ADS-CUT), realizou um trabalho de diagnóstico, a partir de um levantamento de campo com empreendimentos da base da Unisol3, acompanhado de oficinas setoriais para uma discussão qualitativa, cuja base foram os dados quantitativos do levantamento. Entre os setores produtivos que participaram da pesquisa e da oficina de discussão está o de artesanato. O trabalho de diagnóstico foi parte de convênio estabelecido 3. Com base em uma amostra por

conveniência.

19

Introdução

entre ADS e Petrobras, chamado de Programa de Comércio Solidário, com o objetivo de estabelecer entre os empreendimentos autogestionários a consti-tuição de uma rede de comercialização que pudesse viabilizar a sustentabilida-de econômica, financeira e social dos empreendimentos e da rede, numa ação que se apoiasse em três eixos: produto, processo e mercado (DIEESE, 2008).

Portanto, o objetivo do programa já revela uma preocupação que tem sido destacada ao longo da presente análise, qual seja, a compreensão de que é preciso criar mecanismos de articulação entre os empreendimentos a fim de proporcionar condições de sustentabilidade econômica a eles. De acordo com o diagnóstico:

Ficou evidenciado pela pesquisa que há uma demanda real e muito rele-

vante, por parte dos empreendimentos, de estruturar iniciativas coletivas

para ocupar espaços em mercados e mesmo na constituição de um mercado

interno, ou seja, que estabeleça relações comerciais de complementaridade

entre os empreendimentos solidários pesquisados (DIEESE, 2008, p. 130).

Desse modo, tais reflexões apontam para uma compreensão de que os pro-blemas da comercialização entre empreendimentos econômicos solidários, particularmente os urbanos, não se encerram no ato da comercialização, mas na conformação de um ambiente que seja propício ao desenvolvimento sus-tentável deles. O professor Genauto França, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), também participante da oficina de indicadores promovida no âm-bito do Onesc, em 2015, traz um aporte teórico indispensável a essa reflexão, segundo o qual a sustentabilidade do empreendimento deve ser observada pela capacidade que ele tem de se relacionar socialmente com todas as formas econômicas no território, sem deixar de lado o estímulo às relações com ou-tros empreendimentos, pois não é possível assegurar a sustentabilidade de um EES isolado. Logo, a ideia de redes deve ser tomada como uma estratégia de viabilização econômica no contexto da economia solidária (DIEESE, 2016).

De toda forma, a essas dificuldades de ambiência externa também devem ser somados problemas provocados pelo próprio ambiente interno aos empreendi-mentos que, no caso das cooperativas, associações e grupos informais de em-preendimentos de artesãos em áreas urbanas, possuem vínculos com a própria forma de organização, bastante alicerçada, em muitos casos, em iniciativas individuais, em detrimento das formas coletivas.

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A comerciAlizAção nA economiA solidáriA em empreendimentos urbAnos de produção ArtesAnAl liderAdos por mulheres

A própria condição de empreendimentos majoritariamente organizados sob a forma de associações, juridicamente, um modo inadequado para quem pre-tende comercializar, dado que associações não possuem fins lucrativos, aponta para essas dificuldades internas. Muitas vezes, as associações são criadas para tomar parte em feiras, em espaços públicos, frequentemente apoiadas pelas gestões locais, mas o processo de produção e comercialização é predominan-temente individual, com venda direta ao consumidor final.

A análise estatística dos dados, apoiada em outras referências (DIEESE, 2008), mostra que as atividades econômicas de mulheres, maioria absoluta em empreendimentos de produção artesanal, são, muitas vezes, formas de complementação da renda do lar. Embora não explícito no diagnóstico já realizado pelo DIEESE, torna-se bastante provável que essa produção indivi-dual seja feita de forma precária, com o uso de capital, que também é parte dos equipamentos de uso doméstico, aproximando, em alguma medida, essa forma de organização da própria condição da economia popular urbana.

A essas condições precarizadas de produção somam-se as jornadas exaustivas enfrentadas por essas mulheres cotidianamente, dedicadas que estão às tarefas domésticas, à realização da produção, o que envolve ter de buscar insumos e, por fim, a dispensa de tempo para exposição dos produtos nas feiras, muitas vezes com infraestrutura insatisfatória, sem proteções suficientemente adequadas para lidar com questões climáticas (chuvas, ventos ou sol excessivo) até a ausência de banheiros apropriados para o uso feminino. Em todas as oficinas realizadas durante os diagnósticos participativos, esses dados surgiram como informações importantes no desenvolvimento da atividade produtiva dessas mulheres.

Finalmente, essas condições, relacionadas a problemas de ambiência interna, como gestão de finanças e de qualidade da produção, também passam a ter peso relevante nas possibilidades de ampliação das melhoras de condições de comercialização desses produtos. Ademais, como resultado de uma produção individual, voltada particularmente para consumidores finais, considerar ex-periências de criação de centros públicos4, acompanhados de processos de for-mação, indicam saídas com potencial de favorecimento, em termos de política pública, a esses empreendimentos.

4. Para conhecer algumas dessas experiências, consultar Ribeiro; Galizoni; Assis (2012), especialmente a experiência do Centro Público de Economia Solidária (Cepesi), de Itajaí, p. 52-57.

O estudo, denominado A comercialização na economia solidária em empreendi-mentos urbanos de produção artesanal liderados por mulheres tem como escopo de análise os desafios relacionados aos processos produtivos e de comercialização nesses EESs. No estudo, consideram-se como atividade de produção artesanal as informações advindas da categoria social artesãos, pertencente à variável de “ca-tegoria social” na base do Sistema de Informações da Economia Solidária (Sies).

Para ser desenvolvido, o trabalho se apoia em três fontes de informação: 1) Sistema de Informações da Economia Solidária (Sies), com o resultado do segundo mapeamento dos Empreendimentos Econômicos Solidários no Bra-sil, realizado entre 2009 a 20131; 2) Mapeamento realizado entre empreen-dimentos econômicos solidários da Rede de Economia Solidária Feminista (Resf), executado pela organização Guayí, no período de novembro de 2012 a dezembro de 2015; 3) Sistema de Informações Geográficas do Observatório Nacional da Economia Solidária e do Cooperativismo (SIG-Onesc)2.

Sobre a base do Sies, vale mencionar que o estudo sobre a informalidade na economia solidária, desenvolvido no primeiro ano do Onesc, contém infor-mações detalhadas sobre as possibilidades e limitações da base.

notas metoDológIcas

1. Para mais informações e questões de ordem metodológicas, como limites e possibilidades do Sies, consultar o estudo a “A informalidade na economia solidária” à disposição no SIG-Web do Observatório Nacional da Economia Solidária em: http://ecosol.dieese.org.br/estudos-e-analises.php. Acessado em 26/06/2016.

2. Sobre o desenvolvimento e uso do SIG-Web do Onesc, consultar http://ecosol.dieese.org.br/.

22

A comerciAlizAção nA economiA solidáriA em empreendimentos urbAnos de produção ArtesAnAl liderAdos por mulheres

No que tange às questões relativas às dificuldades de comercialização aponta-das pelos empreendimentos solidários, é preciso considerar que as respostas po-dem sofrer a influência dos ciclos econômicos. Em outras palavras, dificuldades alegadas pelas unidades econômicas, tais como ausência de crédito, questões relativas à infraestrutura ou incapacidade de atender a demanda, por exemplo, podem refletir fortemente o contexto de uma economia que cresce ou que está em crise. Neste caso, as informações provenientes do Sies são relativas a um período de pelo menos três anos antes da realização do estudo, uma vez que as tomadas de campo se deram em 2009 a 2013, o que acrescenta como elemen-to da análise desses dados o fato de a conjuntura econômica no momento da elaboração do estudo ser diversa daquela de quando a informação foi captada.

Ademais, as respostas ao pesquisador foram dadas por um indivíduo repre-sentante do empreendimento e não pelo grupo, o que abre a possibilidade de haver elevado grau de subjetividade. Assim, os resultados apresentados nesse estudo, em relação às principais dificuldades de comercialização captadas no Sies, devem ser considerados com cautela.

O esforço analítico desse trabalho será o de ampliar o escopo de investigação para além dos empreendimentos que declaram como atividade principal a comercialização ou organização da comercialização, dado que o resultado do diálogo entre o DIEESE e organizações mostrou que há uma compreensão bastante estabelecida entre as entidades de representação da economia solidá-ria, com base em diagnósticos próprios, que indicam haver problemas tam-bém ligados à esfera produtiva. Logo, são analisados todos os EESs compostos por mulheres, ligados à produção artesanal, atuando em áreas urbanas, e em todas as atividades econômicas vinculadas à economia solidária.

Algo importante a se destacar em relação ao Sies é que o mapeamento contem-pla uma questão específica que procura levantar informações sobre as princi-pais dificuldades de comercialização entre os empreendimentos de economia solidária. No entanto, o número de categorias disponíveis nessa variável abre um leque amplo de dificuldades sobre o qual se torna difícil estabelecer uma análise comparativa mais estruturada entre um conjunto de empreendimen-tos, pois as respostas se desagregam em nível bastante micro.

Considerando essa particularidade, nesse trabalho, propõem-se um reagrupa-mento, com base nas categorias de dificuldades presentes no Sies, de modo a

23

Notas metodológicas

possibilitar uma análise macro e comparada dos principais impeditivos para que os EESs alcancem níveis de comercialização satisfatórios. As dificuldades passam, desse modo, a corresponder ao seguinte agrupamento:

1. Infraestrutura logística1.1 Dificuldade ou custo elevado do transporte.1.2 Precariedade das estradas para escoamento da produção.

2. Capacidade de fornecimento2.1 Dificuldade em manter a regularidade do fornecimento.2.2 Os compradores só compram em grande quantidade.

3. Estrutura para comercialização (local, espaço, equipamentos etc.) inadequada.

4. Estrutura do mercado4.1 A concorrência, os atravessadores, a existência de monopólios.4.2 Os preços praticados são inadequados.

5. Questões regulatórias/fiscais5.1 Falta de registro legal para comercialização.5.2 Falta de registro sanitário ou alvará.

6. Problemas de demanda6.1 O empreendimento tentou, mas não conseguiu encontrar número sufi-

ciente de clientes.6.2 Os produtos não são conhecidos.

7. Acesso a crédito e planejamento/gestão financeira7.1 O empreendimento já sofreu muitos calotes e não sabe como evitá-los.7.2 Falta de capital de giro.7.3 Os clientes exigem um prazo para pagamento.

8. Gestão e planejamento8.1 Não há sócios disponíveis para cuidar da comercialização.8.2 Ninguém do empreendimento sabe como se faz uma venda (argumen-

tação, negociação etc.).

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A comerciAlizAção nA economiA solidáriA em empreendimentos urbAnos de produção ArtesAnAl liderAdos por mulheres

Entre 2010 e 2012, a Guayí estabeleceu convênio com a Senaes, dentro do projeto Brasil Local, com objetivo de fortalecimento produtivo da Rede de Economia Solidária Feminista. Parte do projeto constituiu-se no mapeamen-to de iniciativas de mulheres na economia solidária, em nove estados: RS, PR, SP, RJ, DF, PA, CE, RN, PE. O mapeamento deu origem à base da rede feminista, que será usada como parte do estudo, para conhecimento da rea-lidade de empreendimentos econômicos solidários compostos por mulheres, que atuam em atividades de produção artesanal em áreas urbanas.

Embora o Brasil seja reconhecidamente um país com grande produção de estatís-ticas, particularmente sobre o trabalho, pelas dimensões territoriais, a produção de estatísticas com temas próprios implicam custos muito elevados, tornando-se, na prática, impeditivo para que a maioria das organizações sociais possa conduzir pesquisas que abordem questões de seu interesse. A base resultante do mapeamento conduzido pela Resf reflete esse esforço de conhecer determinada realidade que, no entanto, esbarra nas condições, na maioria, de ordem finan-ceira, de manter uma pesquisa em campo como inicialmente planejado.

O mapeamento da Resf foi a campo em novembro de 2012 e foi encerrado apenas em dezembro de 2015, com a pesquisa em 201 empreendimentos, dos quais 153 estavam ativos. O estudo se deterá sobre esses EESs da rede que estavam em atividade no momento da pesquisa.

Um período tão extenso, com tomadas descontínuas, leva a restrições de análi-se de certas variáveis, particularmente aquelas que dizem respeito a agregações ou desagregações territoriais, por exemplo, de grandes regiões e entre unidades da Federação. Pelo tamanho da pesquisa e extensão do tempo do mapeamen-to, o estudo faz a opção para olhar os dados com agregação nacional. Ademais, deve-se destacar que os indicadores relacionados devem ser admitidos com a precaução de que se referem a realidades muito dinâmicas, com mudanças frequentes em curtos períodos de tempo e que, portanto, podem ter sofrido alterações significativas ao longo do mapeamento.

À análise quantitativa dos dados nesse estudo também está agregada a sis-tematização dos resultados de três oficinas de diagnóstico participativo rea-lizadas com grupos econômicos solidários com o perfil já detalhado para o presente estudo. O objetivo desse diagnóstico foi o de construir coletivamen-te uma identificação da atividade produtiva dessas trabalhadoras, partindo

25

Notas metodológicas

do conhecimento socialmente acumulado pelos atores sociais, resultando em novo conhecimento.

A metodologia de realização e condução de oficinas de diagnóstico partici-pativo foi desenvolvida pelo DIEESE (ver DIEESE, 2006). Para a realização do trabalho, constituiu-se uma equipe de dois técnicos, com funções de coor-denação e execução da atividade. A equipe então passou a desenvolver infor-mações e conhecimento acerca do contexto político, econômico e social dos EESs, convertendo parte dessa competência em indicadores, com o objetivo de estabelecer um diálogo sobre a realidade das trabalhadoras em atividades de produção artesanal.

Ademais, uma das prerrogativas para a condução das oficinas era a de que os técnicos deveriam ser sensíveis não apenas aos valores subjetivos e culturais da economia solidária e do cooperativismo como condição importante para a condução da atividade, mas também às condições socioeconômicas dessas trabalhadoras.

Deve-se destacar que as oficinas não representam o universo dessas traba-lhadoras em empreendimentos econômicos solidários, em áreas urbanas, dedicados às atividades de produção artesanal, mas um estrato que, embo-ra pequeno em termos de representatividade da totalidade desse grupo, traz subsídios indispensáveis para ajudar na reflexão que os dados estatísticos pro-põem ou que neles estão ausentes, para entender a dinâmica macrossocial dentro desses empreendimentos.

Embora as oficinas tenham se proposto a realizar o diagnóstico participativo reunindo pontos de vista formados pelas trabalhadoras e por gestores, dificul-dades referentes aos períodos em que as atividades ocorreram (durante o final de 2016 e início de janeiro de 2017) inviabilizaram a participação dos traba-lhadores das administrações públicas municipais, em função, principalmente, das reestruturações de equipes pelas gestões que viriam a assumir as prefeitu-ras a partir de 2017. No caso de Salvador, município onde a equipe de gesto-res do governo do estado diretamente envolvida com as políticas públicas de apoio aos grupos de artesãs tomou parte na organização da atividade, houve uma participação extremamente rica de técnicos e gestores, que puderam au-xiliar em uma compreensão ainda maior sobre as questões de comercialização na economia solidária. Ademais, nos contatos feitos com muitos gestores, foi

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A comerciAlizAção nA economiA solidáriA em empreendimentos urbAnos de produção ArtesAnAl liderAdos por mulheres

possível fazer algumas conversas que subsidiaram o planejamento da oficina, particularmente nos desafios postos a esses grupos.

A oficina realizada em São Paulo apresentou uma limitação metodológica rela-cionada ao número de participantes. Estiveram presentes apenas quatro mulheres dedicadas às atividades de produção artesanal e apenas uma com experiência de grupo. Os educadores que conduziram a atividade tiveram de readequar o pla-nejamento, que previa dois momentos de interação. Assim foi realizada apenas uma atividade de grupo, como proposta de conhecer a realidade e identidade das trabalhadoras. No segundo momento, foi proposta uma roda de diálogo a fim de provocar as trabalhadoras sobre os desafios da comercialização, após destacados alguns indicadores previamente selecionados pelos educadores.

Nos municípios de Salvador e do Rio de Janeiro, esse não foi um problema. Nessas capitais, participaram da atividade quase 30 mulheres com experiência de organização em grupos ou em redes, entretanto com propósitos distintos. Um dos limitadores para o desenvolvimento pleno das atividades nos dois municípios diz respeito ao local onde ocorreram: em auditório com cadeiras fixas, o que traz prejuízos relevantes para o estabelecimento de um círculo dialógico e as atividades em grupo.

Por fim, ainda é necessário destacar a opção feita pelo uso do termo “ativida-de de produção artesanal” e não artesãs. Para tal, verificou-se que as bases de informação utilizadas no estudo trazem informação sobre diversas formas de desenvolvimento da atividade produtiva classificada como “artesão”, mas que implica um conjunto de fazeres que envolvem processos que não são estrita-mente artesanato.

De acordo com o Programa do Artesanato Brasileiro, vinculado ao Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços3, o artesão:

É o trabalhador que de forma individual exerce um ofício manual, trans-

formando a matéria-prima bruta ou manufaturada em produto acabado.

Tem o domínio técnico sobre materiais, ferramentas e processos de produ-

ção artesanal na sua especialidade, criando ou produzindo trabalhos que

tenham dimensão cultural, utilizando técnica predominantemente manu-

al, podendo contar com o auxílio de equipamentos, desde que não sejam

automáticos ou duplicadores de peças. (BRASIL, 2012, p.11) 3. Conforme Brasil (1995), compondo a estrutura da Secretaria de Comércio e Serviços.

27

Notas metodológicas

Isso significa dizer que, embora haja uma dimensão manual no trabalho do artesão, ela não se restringe a essa dinâmica, pois envolve capacidades para produzir peças únicas, com um desenho próprio, por meio da transforma-ção de matérias-primas, dispensando o uso predominante de máquinas, com produção em série, e, naturalmente o trabalho assalariado. Desse modo, o artesanato passa a ser

[...] toda a produção resultante da transformação de matérias-primas, com

predominância manual, por indivíduo que detenha o domínio integral

de uma ou mais técnicas, aliando criatividade, habilidade e valor cultural

(possui valor simbólico e identidade cultural), podendo no processo de sua

atividade ocorrer o auxílio limitado de máquinas, ferramentas, artefatos e

utensílios. (BRASIL, 2012, p.12)

Ou seja, estrito senso, atividades que implicam simples montagem de outras peças, algumas previamente industrializadas, desse ponto de vista conceitual, não poderiam ser consideradas artesanato.

As oficinas de diagnóstico participativo mostraram que uma parte significa-tiva das trabalhadoras em atividades de produção artesanal têm se envolvido com trabalhos manuais não a partir de um contexto tradicional, mas como alternativas encontradas para geração de ocupação e renda. Nesse sentido, a definição típico-ideal utilizada no conceito de artesanato se distancia da realidade de várias dessas trabalhadoras. Em vários casos, não há o domínio integral de técnicas aplicadas ao produto. Também não está sempre presente a identidade cultural e simbólica associada a determinada localidade ou po-pulação tradicional, embora não se possa dizer que os produtos trabalhados por essas pessoas são carentes de valor simbólico ou cultural, visto que não há produto ou trabalho humano que escape a algum valor cultural e simbólico. Dado, portanto, que as bases possuem suas limitações para identificar apenas as trabalhadoras efetivamente artesãs no sentido típico-ideal do termo, optou-se por uma categoria mais ampla, englobando todas as trabalhadoras que dis-ponibilizam produtos no mercado, classificando-os como resultados de uma atividade de produção artesanal.

O Sistema de Informações da Economia Solidária (Sies) mapeou, entre 2009 e 2013, um total de 19.708 Empreendimentos de Economia Solidária (EES)1. O número de EESs voltados à atividade de produção artesanal correspondia a 17,9% desse universo, o que significa 3.534 empreendimentos desse tipo. De fato, os empreendimentos de economia solidária se concentram em duas cate-gorias sociais: agricultores familiares e artesãos. Somados, ambos respondiam, no período investigado, por mais de 2/3 (73,2%) do total de empreendimen-tos mapeados. Todavia, deve-se destacar que na economia solidária predomi-nam empreendimentos cujos sócios disseram pertencer ou ter pertencido à agricultura familiar, sendo de 55,3% em todo o país (10.899 EESs).

Entretanto, essa dinâmica nacional não se repete do mesmo modo em todas as regiões do país. Particularmente no Sudeste, onde a proporção de empreendi-mentos dedicados à produção artesanal registra percentual de 32,5%, ao passo que o número de EESs cujos sócios pertenciam à agricultura familiar somava 28,3%. Este dado indica um aspecto importante relacionado às atividades de produção artesanal, qual seja, a de que se organizam em maior quantidade em áreas urbanas, ao mesmo tempo em que, por conta da dinâmica, a agricultura familiar se estabelece com maior frequência em áreas rurais2, principalmente

os empreenDImentos econômIcos solIDárIos DeDIcaDos às atIvIDaDes De proDução artesanal no contexto geral Da economIa solIDárIa

1. Para mais detalhes consultar o Sistema de Informações Geográficas do Observatório Nacional da Economia Solidária e do Cooperativismo (SIG-Web Onesc): www.ecosol.dieese.org.br.

2. De acordo com o segundo mapeamento, dos 3.534 empreendimentos, 2.789 (aproximadamente 80,0%) eram de artesãos, em áreas urbanas. Dos 10.899 empreendimentos, nos quais os sócios pertenciam à agricultura familiar, 8.868 ou 81,4% estavam em áreas rurais (Anexo 1).

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A comerciAlizAção nA economiA solidáriA em empreendimentos urbAnos de produção ArtesAnAl liderAdos por mulheres

na região Nordeste. O Sudeste foi onde os EESs dedicados à produção artesa-nal apareceram em maior quantidade, seguido do Centro Oeste (21,2%) e do Sul (19,7%) – Tabela 1.

TABELA 1Distribuição dos Empreendimentos Econômicos Solidários por Categoria Social Brasil e Grandes Regiões(1) – 2009 a 2013 (em %)

Categoria SocialRegião do país

BrasilNorte Nordeste Sudeste Sul Centro Oeste

Agricultores familiares 52,2 70,7 28,3 51,9 47,3 55,3

Artesãos 18,1 10,5 32,5 19,7 21,2 17,9

Artistas 1,0 1,0 1,9 0,6 1,6 1,1

Assentados da reforma agrária 4,7 4,8 4,1 2,7 14,1 5,2

Catadores de material reciclável 0,9 0,7 10,1 4,8 1,7 3,1

Garimpeiros ou mineiros 0,1 0,1 0,0 0,0 0,2 0,1

Técnicos, profissionais de nível superior 1,1 0,7 1,5 1,3 0,6 1,0

Outros trabalhadores autônomos / por conta própria 9,8 4,4 8,0 7,5 4,8 6,4

Desempregados (desocupados) 3,9 2,6 4,9 4,9 1,1 3,4

Não se aplica ou não há predominância 8,2 4,4 8,7 6,5 7,4 6,4

Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Fonte: MTb/Senaes.Sies

Elaboração: DIEESE

Nota (1) Como a coleta de dados no país não foi realizada simultaneamente (o trabalho de campo de algumas regiões pode sido finalizado quatro anos antes de ter terminado em outras), recomenda-se que, para

efeito de comparação nacional, a análise dessa questão seja feita com cautela

Quando se observam os empreendimentos econômicos solidários, tanto na média de todas as categorias sociais, quanto entre os empreendimentos volta-dos à produção artesanal, com respeito ao limite geográfico da comercializa-ção de seus produtos, verifica-se que essa ação está basicamente circunscrita às fronteiras dos municípios, sendo comum a atividade comercial em espaços intramunicipais, comércio local ou comunitário. Também é percebida a pre-valência de uma relação de comércio que se realiza em contato direto com o consumidor final, com participação relativamente pequena de revendedores atacadistas, principalmente entre os EESs na produção artesanal.

De acordo com o segundo mapeamento, do total de respostas3 acerca do lo-cal onde se realiza a venda ou troca dos produtos do empreendimento, mais

3. Esta é uma questão de múltipla escolha no questionário do segundo mapeamento. Portanto, os percentuais dizem respeito ao número total de respostas, que é, por sua vez, maior que o número de empreendimentos.

31

Os empreendimentOs ecOnômicOs sOlidáriOs, dedicadOs às atividades de produção artesanal no contexto geral da economia solidária

de 2/3 (71,1%) indicava o comércio local, comunitário ou municipal como mercado para produção. Essa realidade não é diferente quando se observa a área em que os empreendimentos econômicos solidários dedicados à produção artesanal atuam em relação às vendas. Nesse caso, 69,5% dos produtos tem essa destinação.

Por outro lado, deve-se considerar relevante o percentual de empreendimentos, em termos gerais ou EESs de produção artesanal, cuja fronteira de mercado se expande para além do município. Quando se trata da produção artesanal, uma proporção de 18,0% das respostas destacou o mercado estadual, nacional e internacional como espaço de realização de venda ou troca da produção, percentual um pouco maior que aquele verificado na média entre todas as categorias sociais (15,6% – Gráfico).

GRÁFICO 1Distribuição dos Empreendimentos Econômicos Solidários por local de venda/troca dos produtosBrasil – 2009 a 2013 (em %)

36,135,0

13,3

10,2

3,9

1,4

38,6

31,0

12,511,0

5,1

1,9

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

65,0

40,0

45,0

Mercado/comércio localou comunitário

Mercado/comércio municipal Mercado/comércio territorialou microrregional

Mercado/comércio estadual Mercado/com´´rcio nacional Mercado/comércio externo

Total categorias sociais Produtos artesanais

Fonte: MTb/Senaes.Sies

Elaboração: DIEESE

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A comerciAlizAção nA economiA solidáriA em empreendimentos urbAnos de produção ArtesAnAl liderAdos por mulheres

O fato de ter uma dimensão de mercado de extensão predominantemente municipal marca outra característica de alcance para a produção dos EESs e diz respeito aos destinatários dos produtos. Na produção artesanal, o contato direto com os consumidores é o destaque, perfazendo 64,7% do total de res-postas. Esse percentual chega a ser 14,1 pontos percentuais acima do verifica-do na média das respostas de todos os empreendimentos.

Com esse percentual de vendas destinadas diretamente ao consumidor final, ao mesmo tempo em que a venda para revendedores/atacadistas perfaz um total de 14,8%, verifica-se que apenas 4,0% dos destinatários do produto des-ses estabelecimentos são adquiridos por meio de órgãos governamentais, por meio do chamado mercado institucional. Ao mesmo tempo em que esse dado aparece como dificuldade, por outro lado, pode sugerir a possibilidade de um campo ainda a ser explorado para um desenvolvimento mais sustentável des-ses empreendimentos com apoio governamental4 e de políticas públicas para esse campo (Gráfico 2).

A informalidade é uma condição presente entre os empreendimentos de eco-nomia solidária5 e, de forma ainda mais marcante, entre os EESs dedicados à produção artesanal. A parcela nessa condição é superior a 2/3 do total6.

A análise individual das dificuldades indicadas pelos empreendimentos, de acordo com a condição de formalização, revela que o acesso ao crédito e planejamento financeiro continuam o principal problema dos EESs, para a média de todas as categorias sociais (24,6%) ou entre os empreendimentos voltados à produção artesanal (30,1%). Porém, para a média de todas as ca-tegorias sociais, a dificuldade que mais aparece depois de acesso ao crédito e planejamento financeiro, é a estrutura de mercado (16,6%), enquanto entre os empreendimentos de produtores artesanais, é estrutura para comercialização inadequada (14,7%). Verifica-se que questões de ordem de infraestrutura lo-gística afetam com menor intensidade os produtores artesanais, apresentando uma proporção de 8,4% contra 14,2% da média de todas as categorias sociais. Esse fato pode ser explicado pelo fato de a maior parte dos EESs em atividades de produção artesanal se localizar em áreas urbanas (75,0%), onde os serviços de infraestrutura e logística já estão, de algum modo, estabelecidos (Anexo 4).

Do conjunto de dificuldades por que passam os EESs, segundo declaração feita pelos empreendimentos no segundo mapeamento, destacam-se, predominan-

4. Apenas como referência, na agricultura familiar, a proporção de respostas que indicaram a venda a órgão governamental como destino da produção foi de 12,5% (Anexo 2).

5. Em 2015, o Onesc trabalhou em um estudo abordando o tema da informalidade na economia solidária, disponível no Sistema de Informações Geográficas do Observatório (www.ecosol.dieese.org.br). No estudo, na seção dedicada a notas metodológicas, foi destacado o conceito de informalidade adotado no estudo, que prevê a ausência de instrumentos jurídicos que permitam relações formalizadas com entidades públicas ou privadas, nesse caso, o Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica. Para mais detalhes, consultar DIEESE (2016).

6. Ver Anexo 3.

33

Os empreendimentOs ecOnômicOs sOlidáriOs, dedicadOs às atividades de produção artesanal no contexto geral da economia solidária

temente, problemas, como visto na Tabela 2, relacionados ao acesso ao crédito e planejamento financeiro, à estrutura de mercado e à infraestrutura logística.

Na média de todas as categorias sociais, o percentual de empreendimen-tos formalizados que indicou sofrer mais com problemas de infraestrutura logística foi de 16,7%, enquanto para os informais, esse problema atingia 12,0%. Algo similar ocorre com os produtores artesanais. Os empreendi-mentos formais indicam com maior frequência o problema de infraestrutura logística (10,3%), contra 7,8% dos informais. A possibilidade de atingir mais mercados, ao serem formais, pode levar esses empreendimentos a terem de encarar questões de logísticas às quais os informais estão expostos em menor intensidade (Tabela 2).

GRÁFICO 2Distribuição dos Empreendimentos Econômicos Solidários por destinatário da comercialização Brasil – 2009 a 2013 (em %)

50,6

23,6

9,36,7

5,12,2 2,4

64,7

14,8

4,0 3,0

7,9

3,71,8

0.0

10,0

20,0

60,0

40,0

50,0

60,0

70,0

Venda direta aoconsumidor �nal

Venda e revendedores/atacadistas

Venda a órgãogovernamental

Venda para empresasprivadas de produção

Venda a outros EES Troca com outros EES Outros

Total categorias sociais Produtores artesanais

Fonte: MTb/Senaes. Sies

Elaboração: DIEESE

Embora essas três categorias de dificuldades se destaquem, somando mais da metade dos problemas declarados, uma análise mais territorializada,

34

A comerciAlizAção nA economiA solidáriA em empreendimentos urbAnos de produção ArtesAnAl liderAdos por mulheres

até o nível dos municípios, pode apontar para uma diversidade maior de dificuldades não observada em uma investigação a partir de números agre-gados para o Brasil.

TABELA 2Distribuição dos Empreendimentos Econômicos Solidários por tipo de categoria social e condição de formalidade por tipo de dificuldade Brasil – 2009 a 2013 (em %)

DificuldadesTodas as categorias sociais Produtores artesanais

Formal Informal Total Formal Informal Total

Infraestrutura logística 16,7 12,0 14,2 10,3 7,8 8,4

Capacidade de fornecimento 11,5 8,8 10,1 8,8 6,7 7,2

Estrutura para comercialização inadequada 11,3 11,5 11,4 16,8 14,0 14,7

Estrutura do mercado 20,5 13,3 16,6 13,9 10,2 11,1

Questões regulatórias ou fiscais 9,0 11,7 10,4 4,9 10,0 8,8

Problemas de demanda 0,4 11,7 6,5 3,3 15,2 12,4

Acesso ao crédito e planejamento financeiro 24,7 24,6 24,6 32,6 29,3 30,1

Gestão e planejamento 6,0 6,3 6,2 9,4 6,8 7,4

Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Fonte: MTb/Senaes.Sies

Elaboração: DIEESE

Nota: Não considera outro tipo de dificuldade

O Mapa 1 evidencia que, de fato, os problemas de acesso a crédito e planeja-mento financeiro, infraestrutura logística e estrutura de mercado aparecem de forma mais disseminada pelo território brasileiro.

Entretanto, embora se observe na Tabela 3 que os problemas de demanda apa-reçam predominantemente em 6,9% dos municípios brasileiros, onde empre-endimentos econômicos solidários declararam alguma dificuldade, na região Sudeste, esse percentual cresce para 11,1%, enquanto no Sul chega a 10,0%. Nas demais regiões, o percentual de municípios onde esse problema predomi-nava fica abaixo da média (6,9%), e, no caso do Norte, alcançou 2,5%.

Nas regiões Sul e Centro-Oeste, aparecem percentuais relevantes de municí-pios com prevalência de questões regulatórias/fiscais, de 10,7% e 11,1%, tam-bém acima da média verificada para o Brasil (6,9%).

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Os empreendimentOs ecOnômicOs sOlidáriOs, dedicadOs às atividades de produção artesanal no contexto geral da economia solidária

Embora haja predominância de dificuldades de infraestrutura logística, estrutura de mercado e acesso a crédito e planejamento/gestão financeira, (a Tabela 3 mostra que esses problemas predominavam em 74,7% dos mu-nicípios com empreendimentos que declararam alguma dificuldade7), em uma parcela relevante dos municípios (aproximadamente 25,0%), as difi-culdades predominantes eram de outro tipo: no Sudeste, somavam 35,9% e, no Sul, eram 34,8%. Portanto, uma visão uniforme acerca desses pro-blemas pode levar a conclusões ou conduções de políticas que não estejam alinhadas com algum grau de heterogeneidade observada no universo dos municípios do país.

MAPA 1Mapa de predominância de dificuldades de comercialização por municípios Brasil – 2009 a 2013

Fonte: MTb/Senaes.Sies

Elaboração: DIEESE

7. Dos mais de 5 mil municípios brasileiros, em 1.298 havia empreendimentos econômicos solidários que declararam passar por algum tipo de dificuldade. Em 4.272 municípios não havia essa informação.

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A comerciAlizAção nA economiA solidáriA em empreendimentos urbAnos de produção ArtesAnAl liderAdos por mulheres

TABELA 3Dificuldades declaradas pelos EES por percentual dos municípios onde as dificuldades predominam Brasil – 2009 a 2013 (em %)

Dificuldade de comercialização declarada Norte Nordeste Sudeste SulCentro--Oeste

Brasil

Infraestrutura logística 37,5 25,9 12,8 15,6 27,4 23,0

Capacidade de fornecimento 0,6 5,2 8,1 7,4 3,4 5,5

Estrutura para comercialização inadequada.  1,9 3,7 5,6 4,8 1,7 3,9

Estrutura do mercado 10,6 19,5 17,9 17,4 17,1 17,5

Questões regulatórias/fiscais 5,0 5,8 4,3 10,7 11,1 6,9

Problemas de demanda 2,5 5,2 11,1 10,0 5,1 6,9

Acesso a crédito e planejamento/gestão financeira 41,3 33,7 33,3 32,2 34,2 34,3

Gestão e planejamento 0,6 1,0 6,8 1,9 0,0 2,1

Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Fonte: MTb/Senaes.Sies

Elaboração: DIEESE

Nota: Não considera outro tipo de dificuldade

Nesta parte do estudo será feita uma análise mais detalhada dos empreen-dimentos econômicos solidários voltados à produção artesanal, buscando encontrar as particularidades que podem marcar adversidades diferentes das demais categorias sociais, além daquelas já apontadas na primeira parte des-te trabalho, e que definem as condições de produção e as dificuldades de comercialização.

Consoante ao objetivo da investigação, que é aprofundar conhecimento acer-ca dos EESs liderados por mulheres, em áreas urbanas e dedicados à produção artesanal, verifica-se que do total de trabalhadores na categoria social artesãos, 78,1% são mulheres (81.486). A segunda categoria com maior número de mulheres é a de catadores de material reciclável (59,9%), que fica 18,2 pontos percentuais atrás da primeira.

Deve-se destacar que, em número de sócios, a agricultura familiar, com 947.071 trabalhadores, responde por 66,5% de um total de mais de 1,4 mi-lhão, de acordo com o segundo mapeamento. Nessa categoria, as mulheres representavam 38,0% do total de trabalhadores (Tabela 3).

os empreenDImentos econômIcos solIDárIos urbanos, lIDeraDos por mulheres e em atIvIDaDes De proDução artesanal

38

A comerciAlizAção nA economiA solidáriA em empreendimentos urbAnos de produção ArtesAnAl liderAdos por mulheres

Como já observado, a agricultura familiar pertence a um mundo rural. Por outro lado, a produção artesanal está vinculada predominantemente ao espa-ço urbano, o que leva a uma reflexão sobre o local ocupado por essas traba-lhadoras que têm no exercício da produção artesanal, em muitos casos, uma atividade que é extensão dos afazeres domésticos. Em relatório final de diag-nóstico realizado pela ADS-CUT/DIEESE destaca-se que

[...] há também uma questão decorrente do lugar que o ofício de artesão

tem na vida destes trabalhadores. Muitos, especialmente as mulheres, tem

no artesanato uma atividade secundária – que pode ser inclusive ao traba-

lho doméstico. (ADS-CUT/DIEESE, p. 118-119)

TABELA 4Distribuição absoluta e percentual dos Empreendimentos Econômicos Solidários por sexo dos sóciosBrasil – 2009 a 2013

Categoria SocialHomens Mulheres

TotalAbsoluto Percentual Absoluto Percentual

Agricultores familiares 587.130 62,0 359.941 38,0 947.071

Artesãos 22.792 21,9 81.486 78,1 104.278

Artistas 5.979 49,4 6.116 50,6 12.095

Assentados da reforma agrária 41.494 62,1 25.345 37,9 66.839

Catadores de material reciclável 6.442 40,1 9.631 59,9 16.073

Garimpeiros ou mineiros 4.400 75,7 1.411 24,3 5.811

Técnicos, profissionais de nível superior 15.448 56,1 12.085 43,9 27.533

Outros trabalhadores autônomos / por conta própria 45.530 52,3 41.443 47,7 86.973

Desempregados (desocupados) 22.567 49,2 23.330 50,8 45.897

Não se aplica ou não há predominância 51.591 46,5 59.470 53,5 111.061

Total 803.373 56,4 620.258 43,6 1.423.631

Fonte: MTb/Senaes.Sies

Elaboração: DIEESE

Um componente importante na forma de organização das trabalhadoras em atividade de produção artesanal na economia solidária está vinculado a uma dificuldade delas para se agrupar em formas cooperativistas. Por característi-cas dessa atividade, a produção frequentemente ocorre de forma individual, fazendo com que elas optem por formas menos burocráticas, como as associa-ções, ou ainda, em maior número, por grupos informais1.

1. Grupos informais no Sies dizem respeito aos empreendimentos que assim se classificavam pela ausência de documentação. Não é o mesmo que o indicador de condição de formalidade adotado nesse estudo, que considera informal o empreendimento sem CNPJ.

39

Os empreendimentOs ecOnômicOs sOlidáriOs urbanOs, liderados por mulheres e em atividades de produção artesanal

Novamente, o relatório de diagnóstico elaborado pela ADS-CUT/DIEESE, aqui citado, pode oferecer pistas para o entendimento dessa opção feita pelas produtoras artesanais, quando afirma que uma jornada flexível ainda é pre-ferível “a ter um empreendimento econômico que exige dedicação central”. Também a falta de informações adequadas pode desestimular essas traba-lhadoras a optar pela forma cooperativista. Ainda de acordo com o relatório, “muitos empreendimentos são organizados como associações pela falta de in-formação por parte dos trabalhadores para poder optar pela melhor forma” (ADS-CUT/DIEESE, p. 118-119).

De fato, entre os grupos informais de produtores artesanais, predominam em-preendimentos de até seis sócios2 (1.116). À medida que se eleva o número de sócios no empreendimento, diminui o número de grupos informais e cresce o total de associações. Com até seis sócios, o número de associações era de 70, passando a 358 entre 7 e 19 sócios e a 399, quando a quantidade de trabalha-doras se estabelece entre entre 20 a 39 sócios. Embora a quantidade de grupos informais seja relevante nos empreendimentos de 7 a 19 sócios (723), fica evi-dente que o aumento no quadro societário leva, por sua vez, a uma mudança na forma de organização (Gráfico 3).

Os empreendimentos econômicos solidários em atividades de produção arte-sanal são, na maioria, urbanos e também se localizam, com maior frequência, nas regiões metropolitanas de capitais. Do total de empreendimentos (3.585), 38,8% ou 1.392 estão nessas áreas urbanas. A Região Metropolitana com maior percentual desses empreendimentos é a RM Belo Horizonte, com 5,0%, enquanto o menor percentual é observado na RM Goiânia (0,1%) – Anexo 5.

Na análise que segue, optou-se por um olhar específico para os empreendi-mentos em atividades de produção artesanal nas regiões metropolitanas, já que esses espaços somam parte importante do universo dos empreendimentos econômicos solidários em atividade de produção artesanal (aproximadamen-te 40,0% do total). Entender as formas de atuação desses EESs nessas áreas responde a uma tentativa de encontrar as particularidades de condições de inserção econômica em áreas densamente urbanizadas em confronto com a realidade em território nacional.

Como já verificado anteriormente, o espaço de comercialização da economia solidária é predominantemente local até as fronteiras do município, inclusive

2. De acordo com a Lei 12.690, as cooperativas de trabalho poderão ser constituídas com, no mínimo, sete pessoas.

40

A comerciAlizAção nA economiA solidáriA em empreendimentos urbAnos de produção ArtesAnAl liderAdos por mulheres

para os EESs em atividade de produção artesanal, liderados por mulheres (69,6%, ver Gráfico 1). Ao analisar esse mesmo indicador, novamente para os empreendimentos de produtores artesanais, liderados por mulheres, mas que estejam situados nas regiões metropolitanas (RMs), observa-se elevação do percentual de empreendimentos que têm o espaço municipal, local e co-munitário como a área de comercialização, passando a 76,3%. Nota-se que a principal alteração se dá exatamente na diferença percentual dos que dizem que o comércio local ou comunitário é o principal mercado. Na média de todos os EESs em produção artesanal, o percentual era de 38,6%, enquanto para aqueles nas RMs, ficava em 44,9% (Gráficos 1 e 4).

GRÁFICO 3Distribuição absoluta dos Empreendimentos Econômicos Solidários (1) por forma de organização e faixa de número de sóciosBrasil – 2009 a 2013

1116

723

197

58 22 26

2142

70

358 399

135 100 125

1187

10 25 5811 8 9

121

8 5 1 1 0 1 160

500

1000

1500

2000

2500

Até 6 sócios 7 a 19 sócios 20 a 39 sócios 40 a 59 sócios 60 a 99 sócios 100 ou mais sócios Total

Grupo informal Associação Cooperativa Sociedade mercantil

Fonte: MTb/Senaes.Sies

Elaboração: DIEESE

Nota:(1) Diz respeito apenas a empreendimentos compostos por mulheres e em atividade de produção artesanal; (2) As capitais do Acre, Roraima, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul não possuem definição de RM pelo IBGE

São muitas as possíveis explicações para o fato de a comercialização desses em-preendimentos estar circunscrita ao mercado local. Esta realidade pode estar ligada ao tamanho do empreendimento, predominantemente pequeno, como

41

Os empreendimentOs ecOnômicOs sOlidáriOs urbanOs, liderados por mulheres e em atividades de produção artesanal

já visto, com até seis sócios; também ao tipo de produto, voltado a uma co-mercialização varejista, com destino imediato ao consumidor final e vendido majoritariamente em feiras ou em locais próprios (ver análise das informações do Gráfico 5). Por outro lado, deve-se ter em conta que o tipo de produto, por suas especificidades, pode encontrar limites para a comercialização para além das fronteiras locais, constituindo-se em problema de oferta.

GRÁFICO 4Distribuição dos Empreendimentos Econômicos Solidários(1) por dimensão do mercadoRegiões Metropolitanas(2) – 2009 a 2013 (em %)

44,9

31,4

7,5

10,3

4.4

1,5

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

35,0

40,0

45,0

50,0

Mercado/comércio localou comunitário

Mercado/comércio municipal Mercado/comércio territorialou microrregional

Mercadi/comércio estadual Mercado/comércio nacional Mercado/comércio externo

Dimensão de mercado

Fonte: MTb/Senaes.Sies

Elaboração: DIEESENota: (1) Diz respeito apenas a empreendimentos compostos por mulheres e em atividade de produção artesanal; (2) As capitais do Acre, Roraima, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul não possuem definição de RM pelo IBGE

Há algumas particularidades que marcam diferenças com relação ao local da comercialização dos produtos entre o total de Empreendimentos Econômicos Solidários e os EESs liderados por mulheres, em atividade de produção artesa-nal, localizados em regiões metropolitanas do país. Para 62,6% dos EESs das trabalhadoras em atividade de produção artesanal, o principal local de venda são feiras, com destaque para as feiras livres (22,4%) e feiras e exposições even-tuais/especiais (22,2%). No geral da economia solidária, as feiras respondem

42

A comerciAlizAção nA economiA solidáriA em empreendimentos urbAnos de produção ArtesAnAl liderAdos por mulheres

por 52,2% dos locais de venda. Entretanto, para a média geral da economia solidária, os principais locais de venda são a entrega direta ao cliente (25,5%) e as feiras livres (25,4%). Apenas esses dois espaços somam 50,9% do total.

Em relação às lojas ou espaços próprios, as diferenças percentuais entre a mé-dia dos EESs no país e aqueles situados nas RMs e liderados por mulheres em atividade de produção artesanal não são significativas, de 14,1% contra 13,6%. O mesmo ocorre com os espaços de venda coletivos, de 8,3% contra 6,8%. De toda forma, deve-se destacar que os espaços próprios ou coletivos respondem por 1/5 (20,4%) dos locais de comercialização das trabalhadoras em atividades artesanais nas regiões metropolitanas do país (Gráfico 5).

GRÁFICO 5Distribuição dos Empreendimentos Econômicos Solidários(1) por local de comercializaçãoBrasil e Regiões Metropolitanas(2) – 2009 a 2013 (em %)

14,1

8,3

25,4

15,5

11,2

25,5

13,6

6,8

22,4 22.2

18,016,9

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

Lojas ou espaços próprios Espaços de venda coletivos(centrais de comercialização,

CASA)

Feiras livres Feiras e exposições eventuais/especiais

Feiras de Economia Solidáriae/ou agroecologia

Entrega direta a clientes

Total EES Produtoras artesanais

Fonte: MTb/Senaes.Sies

Elaboração: DIEESE

Nota: (1) A categoria Produtoras Artesanais é estruturada apenas por empreendimentos compostos por mulheres; (2) As capitais do Acre, Roraima, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul não possuem definição de RM pelo IBGE

O estudo sobre a informalidade na economia solidária, desenvolvido pelo Onesc, já havia indicado que os empreendimentos econômicos solidários mais precarizados, marcados, entre outros problemas, pela condição de informali-

43

Os empreendimentOs ecOnômicOs sOlidáriOs urbanOs, liderados por mulheres e em atividades de produção artesanal

dade, possuíam comportamento pró-cíclico na economia. A maior parte sur-giu em períodos de crescimento econômico, enquanto os que nasceram em momentos de ciclo negativo na economia correspondiam a um percentual menor3. Associado ao movimento econômico, também é preciso destacar o papel ativo de políticas públicas do período e que, por meio de ações de apoio e fomento, particularmente em processos de incubação, consolidaram um movimento de expansão de empreendimentos econômicos solidários.

Em relação ao ciclo, esse movimento é semelhante ao que se observa entre os empreendimentos em atividades de produção artesanal liderados por mulheres, situados em regiões metropolitanas de capitais. Nesse caso, 68,9% desses empre-endimentos surgiram entre 2003 e 2013, momento marcado pelo crescimento do emprego e da renda foi uma das principais marcas4. A maioria dos empreen-dimentos com menor número de sócios, nas faixas com até 19, surgiu no último período em análise. Até seis sócios, o percentual correspondeu a 74,1%; de 7 a 9 sócios, a proporção foi de 69,6%. Na faixa de 20 a 39 sócios, o percentual de em-preendimentos surgidos nos anos posteriores a 2003 também é relevante: 61,3%.

Ao mesmo tempo, o percentual de novos empreendimentos com número mais elevado de sócios é maior em período anterior a 2003, com exceção dos EESs com 60 a 99 sócios, entre os quais 58,1% dos empreendimentos surgiram após 2002. Entre os EESs de 40 a 59 sócios, a proporção dos que surgiram até 2002 predomina (56,9%), assim como aqueles com 100 sócios e mais (52,6%).

Esses números possivelmente indicam que a dinâmica de surgimento dos em-preendimentos em atividade de produção artesanal, liderados por mulheres, em áreas urbanas e com menor número de sócios, pode ser mais sensível aos movimentos macroeconômicos que causem efeitos positivos ao mercado de trabalho, em termos de emprego e renda. Por serem empreendimentos asso-ciativos que, possivelmente, assim se articulam a fim de garantir espaços de exposição dos produtos, voltados especialmente ao consumidor final. Nas áre-as urbanas, a possibilidade de realização de vendas pode estar muito suscetível aos choques de renda que os trabalhadores sofrem em períodos de expansão ou retração econômica, ampliando o número de organizações quando a eco-nomia tem desempenho positivo.

Analisando as dificuldades de comercialização relatadas, nesse caso, durante o segundo mapeamento pelos empreendimentos examinados neste estudo,

3. Conferir Dieese (2016), disponível em http://ecosol.dieese.org.br/.

4. Ver DIEESE (2012).

44

A comerciAlizAção nA economiA solidáriA em empreendimentos urbAnos de produção ArtesAnAl liderAdos por mulheres

observa-se que também predominam aqueles mesmos problemas relacionados ao todo da economia solidária e dos empreendimentos em produção artesa-nal, novamente com destaque em relação às dificuldades de acesso ao crédito e planejamento financeiro.

TABELA 5Distribuição absoluta e percentual dos Empreendimentos Econômicos Solidários em atividades de produção artesanal(1) por classe de número de sócios segundo ano de surgimentoRegiões Metropolitanas de Capitais(2) – 2009 a 2013 (em %)

Períodos de início Até 6 7 a 19 20 a 39 40 a 59 60 a 99 100 e mais Total

Até 1980 1,0 0,8 4,9 0,0 6,5 2,6 1,5

De 1981 a 1991 2,9 5,5 9,2 12,3 12,9 23,7 5,5

De 1992 a 2002 22,0 24,1 24,6 44,6 22,6 26,3 24,1

De 2003 a 2013 74,1 69,6 61,3 43,1 58,1 47,4 68,9

Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Fonte: MTb/Senaes.Sies

Elaboração: DIEESE

Nota: (1) Diz respeito apenas a empreendimentos compostos por mulheres e em atividade de produção artesanal; (2) As capitais do Acre, Roraima, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul não possuem definição de RM pelo IBGE

Os problemas relativos à demanda, seja de desconhecimento do produto ou o fato de o empreendimento não conseguir encontrar clientela, aparecem como a segunda principal dificuldade para comercialização da produção, com 13,0% das citações. Esse problema tende a se agravar à medida que diminui o número de sócios do empreendimento. Em EES com até seis sócios, as dificul-dades com demanda passam a somar 15,5% do total (Tabela 6). Consideran-do que o principal lócus de comercialização dos produtos das trabalhadoras em atividades de produção artesanal são as feiras em que existe contato direto com os clientes, há, em princípio, duas eventualidades para que esse proble-ma efetivamente ocorra: a primeira está ligada à ausência, ou à existência, de espaços de exposição, contudo sem frequência significativa de compradores; a segunda é vinculada ao produto e sua capacidade de ser atrativo ao público comprador. Os números apontam necessidade de olhar essas duas questões de forma mais aprofundada em estudos futuros.

Como já observado, a aquisição de crédito para financiamento de operações constitui-se na principal dificuldade dos empreendimentos econômicos soli-dários e também dos empreendimentos em atividades de produção artesanal

45

Os empreendimentOs ecOnômicOs sOlidáriOs urbanOs, liderados por mulheres e em atividades de produção artesanal

cuja liderança é exercida por mulheres. Esse não é um problema qualquer e tem relação direta com a estrutura do sistema financeiro nacional, que esta-belece condições excessivamente rígidas para concessão de crédito, particular-mente para a população que esteja fora dos padrões de gestão segura de riscos instituídos pelo sistema financeiro nacional.

TABELA 6Distribuição dos Empreendimentos Econômicos Solidários(1) por tipo de dificuldade de comercialização segundo classe de número de sóciosRegiões Metropolitanas(2) – 2009 a 2013 (em %)

Dificuldades de comercialização Até 6 7 a 19 20 a 39 40 a 59 60 a 99100 e

maisTotal

Infraestrutura logística 9,9 10,3 11,0 18,6 18,0 16,5 11,3

Capacidade de fornecimento 5,6 9,5 12,4 8,2 7,7 9,2 8,5

Estrutura para comercialização inadequada 14,7 12,4 10,7 14,1 9,5 11,7 12,9

Estrutura do mercado 8,4 11,5 14,7 14,4 12,6 16,1 11,4

Questões regulatórias ou fiscais 8,5 9,9 8,2 6,5 7,7 5,9 8,7

Problemas de demanda 15,5 11,7 12,1 11,0 13,1 10,6 13,0

Acesso ao crédito e planejamento financeiro 28,8 27,5 25,2 21,0 24,8 23,4 27,0

Gestão e planejamento 8,5 7,2 5,7 6,2 6,8 6,6 7,3

Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Fonte: MTb/Senaes.Sies

Elaboração: DIEESE

Nota: (1) Diz respeito apenas a empreendimentos compostos por mulheres e em atividade de produção artesanal; (2) As capitais do Acre, Roraima, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul não possuem definição de RM pelo IBGE

Um olhar sobre as condições de busca de crédito desses empreendimentos revela que, embora o acesso ao crédito seja indicado como questão relevante, nada menos que 83,0% desses grupos não tomaram qualquer iniciativa para buscar crédito em instituições habilitadas (Gráfico 6).

É muito difícil para esses empreendimentos acessarem o crédito, seja para capital de giro ou investimento, pois, de acordo com dados do Banco Central do Brasil, o volume de crédito total no país declina desde 2012, chegando a apresentar queda no comparativo entre 2015 e 2016 (Anexo 7)5.

Naturalmente, o que isso indica é que se já ficou difícil acessar o crédito para quem possui certa estrutura, para quem não tem tais condições, como

5. Essa análise tem o objetivo de ilustrar as dificuldades para acessar o crédito a partir do sistema financeiro nacional e, de certo modo, impeditivo para quem não possui o mínimo de estrutura, como a formalidade da iniciativa econômica.

46

A comerciAlizAção nA economiA solidáriA em empreendimentos urbAnos de produção ArtesAnAl liderAdos por mulheres

é o caso de grande parte dos empreendimentos em atividades de produção artesanal, muitos na informalidade, a dificuldade de acesso seria ainda mais ampla. Ou seja, os números podem fazer supor que muitos empreendimentos nem mesmo buscariam crédito por questões diretamente ligadas às condições desfavoráveis de acesso ao crédito oficial disponível no mercado.

GRÁFICO 6Distribuição percentual dos Empreendimentos Econômicos(1) Solidários por condição de busca de créditoRegiões Metropolitanas de Capitais(2), 2009 a 2013 (em %)

84,3

8,1 7,5

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

80,0

90,0

Não buscou crédito ou �nanciamento Buscou e obteve crédito ou �nanciamento Buscou crédito ou �nanciamento, mas não obteve

Condição de busca de crédito

Fonte: MTb/Senaes.Sies

Elaboração: DIEESE

Nota: (1) Diz respeito apenas a empreendimentos compostos por mulheres e em atividade de produção artesanal; (2) As capitais do Acre, Roraima, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul não possuem definição de RM pelo IBGE

Entretanto, de acordo com as próprias trabalhadoras, 32,2% dos empreen-dimentos não buscam o acesso ao crédito porque não precisam desse tipo de recurso. Se somado ao percentual dos que disseram não haver acordo sobre a necessidade e oportunidade (10,3%), o total de respondentes que, de um modo ou outro, não tomou a iniciativa de procurar o sistema financeiro nacional para busca de crédito chega a 42,5%. Os que disseram não procu-rar crédito por receio de realizar contrações de dívidas soma menos de 1/3 (32,0%) do total de respostas (Tabela 6).

47

Os empreendimentOs ecOnômicOs sOlidáriOs urbanOs, liderados por mulheres e em atividades de produção artesanal

TABELA 7Distribuição dos Empreendimentos Econômicos Solidários em atividades de produção artesanal(1) por tipo de dificuldade de comercializaçãoRegiões Metropolitanas(2) – 2009 a 2013 (em %)

Condição não busca de crédito Total

Não houve necessidade 32,2

Não houve acordo sobre a necessidade e oportunidade 10,3

Houve aconselhamento de assessoria para não buscar crédito 1,6

O empreendimento ainda está inadimplente (endividado) 1,2

Experiência fracassada de outro empreendimento 1,3

Os investimentos foram feitos com recursos próprios 16,8

O empreendimento obteve recursos de outras fontes não-reembolsáveis 3,3

Medo ou receio de contrair dívidas 32,0

Outros motivos 1,2

Total 100,0

Fonte: MTb/Senaes.Sies

Elaboração: DIEESE

Notas: (1) Diz respeito apenas a empreendimentos compostos por mulheres e em atividade de produção artesanal; (2) As capitais do Acre, Roraima, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul não possuem definição de RM pelo IBGE

O que se observa, portanto, dos EESs de mulheres em atividades artesanais, em áreas urbanas, é que a forma de organização predominante são os grupos informais, com até seis sócios. Por outro lado, a ampliação da quantidade de trabalhadoras faz com que as associações passem a prevalecer. Essa realidade pode sugerir que o maior número de grupos informais pode estar associado às dificuldades que a legislação impunha para a criação de cooperativas de tra-balho, exigindo, antes da lei 12.690, um mínimo de 20 trabalhadores para a criação desse tipo de associação. Ou seja, os grupos informais prevalecem não por indisposição associativa, mas devido às dificuldades legais para se associar.

O quadro geral desses EESs é de produzir predominantemente para a venda em mercados locais ou comunitários e nos quais os espaços de feiras livres e exposições cumprem um papel determinante na comercialização. É possível que a escolha ou a limitação a esses espaços se vincule às condições próprias do produto, com especificidades que respondem com maior eficiência às de-mandas locais.

Por outro lado, o crescimento da economia e aumento da renda nos anos 2000 exerceram impacto na potencialização do consumo das famílias e tornou as

48

A comerciAlizAção nA economiA solidáriA em empreendimentos urbAnos de produção ArtesAnAl liderAdos por mulheres

comunidades locais mercado de comercialização importante para essas traba-lhadoras. Mesmo considerando que a criação da Senaes, em 2003, tenha dado impulso relevante para o surgimento de novos empreendimentos de trabalha-doras em atividades artesanais, o aumento do número EESs a partir de então parece dever muito às melhoras experimentadas pelos brasileiros em relação às condições econômicas.

Com a análise sobre a base oriunda do diagnóstico participativo realizado pela Rede de Economia Solidária e Feminista (Resf-Guayí), este trabalho não pretende dar um panorama geral das condições de desenvolvimento da ativi-dade de produção artesanal de todo o Brasil. Todavia, a experiência, mesmo com dificuldades já detalhadas nas notas metodológicas desse estudo, consti-tui-se em rico material, que auxilia a ampliar o escopo de investigação sobre as mulheres que lideram EESs dedicados a atividades de produção artesanal em áreas urbanas, ainda que reconhecendo que os resultados extraídos da análise desses dados não possam, de nenhuma maneira, ser automaticamente referidos ao universo dos empreendimentos singulares ou em redes da econo-mia solidária.

O mapeamento da Resf resultou na investigação de 153 empreendimentos ativos, organizados em diversas redes, que são articulações com o propósito de facilitar o processo de comercialização dos produtos da economia solidária. Do total de empreendimentos ativos mapeados, 23 ou 15,0% estavam orga-nizados na Rede Estrela de Iracema. Dentro da Rede de Economia Solidária e Feminista de Pernambuco (Resf-PE) encontravam-se 12 empreendimentos (7,8%), mesmo número da Rede Xique-Xique (Tabela 7).

os empreenDImentos econômIcos solIDárIos em atIvIDaDe De proDução artesanal, lIDeraDos por mulheres e organIzaDos na reDe De economIa solIDárIa e femInIsta

50

A comerciAlizAção nA economiA solidáriA em empreendimentos urbAnos de produção ArtesAnAl liderAdos por mulheres

TABELA 8Distribuição absoluta e percentual dos Empreendimentos Econômicos Solidários na Resf, por rede em que se organizamBrasil(1) – 2012 a 2015

Rede de articulação Total de EESs Part. %

Rede Estrela de Iracema 23 15,0

Rede de Economia Solidária e Feminista do Pernambuco (Resf-PE) 12 7,8

Rede Xique-Xique 12 7,8

Associação das Mulheres na Economia Solidária do Estado de São Paulo (Amesol) 10 6,5

Rede de Educação Popular do Paraná e Economia Solidária (REDP) 10 6,5

Arranjo Produtivo Local de Pelotas 9 5,9

Rede Quilombola de Economia Solidária e Feminista 9 5,9

Rede Cabocla de Economia Solidária e Feminista 8 5,2

Arranjo Produtivo Local Sítio das Torres 7 4,6

Rede Arte na Praça 7 4,6

Rede Artesanato RS 7 4,6

Articulação de Mulheres do Vale do Ribeira 6 3,9

Associação dos Empreendimentos Solidários EMREDE do Rio Grande do Sul (EMREDE-RS) 6 3,9

Rede de Economia Solidária e Feminista do Rio de Janeiro (Resf-RJ) 6 3,9

Rede de Mulheres Produtoras do Recife e Região Metropolitana 4 2,6

Rede Industrial de Confecção Solidária (RICS) 4 2,6

Rede Candanga de Confecção; Rede Pequi de Comercialização 3 2,0

Rede Pequi de Comercialização 3 2,0

Arranjo Produtivo Local de Bagé 1 0,7

Arranjo Produtivo Local de Bagé; Rede Quilombola de Economia Solidária e Feminista 1 0,7

Associação Agroecológica de Teresópolis (AAT) 1 0,7

Associação de Mulheres Produtoras de Olinda (AMPO) 1 0,7

Rede de Educação Popular do Paraná e Economia Solidária (REDP); Rede Pinhão de Clube de Trocas 1 0,7

Rede Sopapo de Comunicação e Produção Cultural 1 0,7

Ignorado 1 0,7

Total 153 100,0

Fonte: Resf/Diagnóstico Produtivo

Elaboração: DIEESE

Nota (1): Refere-se aos empreendimentos mapeados pela Resf nas nove unidades da Federação onde foi aplicado o levantamento

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Os empreendimentOs ecOnômicOs sOlidáriOs em atividade de prOduçãO artesanal, liderados por mulheres e organizados na rede de economia solidária e feminista

De acordo com o mapeamento, os empreendimentos econômicos solidá-rios pesquisados no contexto da Resf reuniam 1.772 sócios. Desses, 83,7% eram mulheres. Entre os EESs dedicados às atividades de produção artesanal, 85,3% eram trabalhadoras. Como já visto anteriormente, a agricultura fami-liar é o segmento1 com a menor participação feminina (67,5%), mesmo nos empreendimentos da Rede (Tabela 8).

TABELA 9Distribuição absoluta e percentual dos Sócios em Empreendimentos Econômicos Solidários na Resf por Segmento Principal Segundo sexoBrasil(1) – 2012 a 2015

Segmento principalMulheres Homens Total

Abs. % Abs. % Abs. %

Agricultura Familiar 137 67,5 66 32,5 203 100,0

Agroindústria 20 100,0 0 0,0 20 100,0

Alimentação 195 78,3 54 21,7 249 100,0

Artesanato 896 85,3 154 14,7 1050 100,0

Confecção 178 93,2 13 6,8 191 100,0

Reciclagem 26 92,9 2 7,1 28 100,0

Serviços 25 100,0 0 0,0 25 100,0

Outros 6 100,0 0 0,0 6 100,0

Total 1483 83,7 289 16,3 1772 100,0

Fonte: Resf/Diagnóstico Produtivo

Elaboração: DIEESE

Nota (1): Refere-se aos empreendimentos mapeados pela Resf nas nove unidades da Federação onde foi aplicado o levantamento

A etapa da comercialização é, de longe, aquela em que os empreendimentos que atuam na produção artesanal, liderados por mulheres, mais têm dificul-dades para o desenvolvimento pleno de suas atividades. São 47,0% os em-preendimentos que apontam a comercialização como principal dificuldade. A própria organização em redes tem o objetivo, como já destacado, de criar ambientes mais favoráveis, nos quais os empreendimentos consigam melhores condições de venda dos produtos. Por outro lado, é significativo o número de respostas indicando ser a etapa de produção o segundo maior problema, compondo 24,2% do total (Gráfico 7).

Dificuldades com a produção podem se vincular a muitas restrições. Pelo menos duas informações importantes, oriundas dos diagnósticos participativos feitos

1. Segmento, na base do mapeamento da Resf tem o mesmo sentido de categoria social na base do Sies. No entanto, por se estar trabalhando com bases diferentes, a decisão foi manter a nomenclatura original do Diagnóstico Produtivo da Resf.

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A comerciAlizAção nA economiA solidáriA em empreendimentos urbAnos de produção ArtesAnAl liderAdos por mulheres

em oficinas específicas para o levantamento de subsídios para entender a dinâmi-ca econômica desses empreendimentos, deveriam ser objeto de aprofundamento analítico: a primeira diz respeito a jornadas extensas cumpridas por essas mulhe-res nos afazeres econômicos associados às responsabilidades domésticas por elas assumidas; a segunda, que também está ligada às longas jornadas, corresponde à própria dificuldade em desassociar as etapas de produção, como compras de insumos e matérias-primas e a confecção do produto, da comercialização, isto é, as horas dedicadas para a venda do que é produzido. Naturalmente, o período dispendido em muitos afazeres pode subtrair um tempo precioso dessas traba-lhadoras, no qual elas poderiam estar dedicadas ao produto ou a questões de organização interna, que são o terceiro problema mais citado (18,2%).

GRÁFICO 7Distribuição Percentual Empreendimentos Econômicos Solidários(1) na Resf por Dificuldades Declaradas2012 a 2015

47,0%

18,2%

24,2%

10,6%

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

35,0

40,0

45,0

50,0

Comércialização Organização interna Produção Outros

Di�culdades declaradas

Fonte: Resf/Diagnóstico Produtivo

Elaboração: DIEESE

Nota (1): Apenas empreendimentos em atividades de produção artesanal, composto por mulheres, ativos na Resf, atuando em áreas urbanas

A resposta das mulheres artesãs organizadas na Resf sobre a comercialização dos produtos é diferente do respondido pelas produtoras artesãs no segundo mapeamento da economia solidária (Gráfico 5). Observa-se que, no caso das

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Os empreendimentOs ecOnômicOs sOlidáriOs em atividade de prOduçãO artesanal, liderados por mulheres e organizados na rede de economia solidária e feminista

trabalhadoras da Resf, os produtos feitos sob algum tipo de encomenda, es-pecificamente para clientes fixos, são o destino de 25,9% da produção dessas mulheres (Gráfico 8). Esse percentual é 9 pontos percentuais superior ao ve-rificado em atividades artesanais no Sies, na média das respostas dadas pelas mulheres, e é também um pouco maior ao verificado para a totalidade dos EES na mesma base de dados, cujo percentual de entrega direta a clientes respondia por 25,5% dos locais onde esses EESs comercializavam.

GRÁFICO 8Distribuição Percentual dos Empreendimentos Econômicos Solidários(1) na Resf por Destino da Produção2012 a 2015

25,9 25,9

33,3

11,1

3,7

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

35,0

Cliente �xo Feira eventual Feira �xa Outros

Destino da produção

Fonte: Resf/Diagnóstico Produtivo

Elaboração: DIEESE

Nota (1): Apenas empreendimentos em atividades de produção artesanal, composto por mulheres, ativos na Resf, atuando em áreas urbanas

As oficinas de diagnóstico participativo puderam trazer luz a questões que, analisadas apenas a partir de indicadores específicos, poderiam permanecer no campo das suposições. Tornaram-se, portanto, subsídio relevante para entender aquilo que as informações estatístico-quantitativas apontavam, mas que não incorporavam a história e as práticas cotidianas dessas traba-lhadoras.

Nas oficinas foi possível entender com maior clareza a maneira como essas trabalhadoras se organizam – prevalecem formas individuais (especificamente para o processo de produção) e grupos associativos. A organização em grupos pode ocorrer por meio de associações ou mesmo no estabelecimento de redes e, na prática, apenas eventualmente por meio de cooperativas, dado o desco-nhecimento sobre esse tipo de organização. Ao mesmo tempo, frequentemente a condição de produtora em atividade artesanal está relacionada a uma inicia-tiva econômica individual, o que constitui uma espécie de subjetividade das trabalhadoras, pela qual elas se reconhecem. Para a maioria das trabalhadoras participantes das oficinas, a produção individual se opõe a algumas formas de organização coletiva devido ao receio da perda do significado simbólico desse tipo de produção.

ofIcInas De DIagnóstIco partIcIpatIvo: o olhar Das trabalhaDoras sobre a comercIalIzação nas atIvIDaDes De proDução artesanal em ambIente urbano

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A comerciAlizAção nA economiA solidáriA em empreendimentos urbAnos de produção ArtesAnAl liderAdos por mulheres

Em São Paulo, uma das trabalhadoras, uma jovem participante das incu-badoras do município, que, ao mesmo tempo, mantinha um negócio em estágio relativamente desenvolvido, propôs uma reflexão acerca da preva-lência da produção individual como elemento fundante da natureza dessa atividade, segundo a qual, diferenças geracionais e interesses particulares, além das especificidades de cada produto, impõem limites para tomada de iniciativas associativas1.

No Rio de Janeiro, também se acentuou a ideia de que a atividade individual é a expressão da subjetividade da trabalhadora, porém, apenas na etapa de pro-dução. Para a comercialização, a ação é coletiva. Essa segunda compreensão parece ser decisiva na organização das trabalhadoras em atividade de produ-ção artesanal que participaram da oficina em Salvador, que têm nos centros públicos de comercialização da economia solidária e nas feiras organizadas pelo governo do estado espaços importantes de ação coletiva.

No entanto, em todas as oficinas realizadas para esse estudo, ficou claro que as trabalhadoras se envolvem individualmente nas etapas de produção (provi-denciar insumos e materiais e confeccionar o produto). No processo de comer-cialização, o que as diferencia é a forma como se organizam para participar de feiras. Em alguns casos, a ideia de associação está vinculada à forma de co-brança das vendas nos eventos de que elas participam, isto é, estabelecimento de um caixa único; em outros, as trabalhadoras se organizam coletivamente para a organização da feira. Embora haja casos em que se organizam espaços coletivos para a execução da comercialização da produção, como em Salvador e em Osasco, por meio de centros públicos de comercialização, o mais comum é a produtora se dedicar também à venda. Em nenhum dos casos apareceu experiência de grupos organizados para resolver problemas que são comuns a todas, como a possibilidade de compras coletivas, reduzindo as dificuldades de acesso a matérias-primas.

Dividir as etapas de envolvimento com o produto não é uma questão trivial para essas trabalhadoras, pois, além de enfrentar intensas jornadas para cada um dos processos, as mulheres estão profundamente envolvidas com o traba-lho doméstico. Embora algumas tenham sugerido haver conveniência entre as atividades laborais e a possibilidade “democrática” que a produção artesanal viabiliza para o cuidado da casa, filhos, netos etc., verifica-se que, para a con-secução desse trabalho, essas mulheres podem estar submetidas a horas de tra-

1. De acordo com gestores das administrações de São Paulo e Osasco, o monitoramento e a avaliação das ações voltadas para a economia solidária, sobretudo em relação à incubação, mostraram ser necessário valorizar e fomentar ainda mais os processos organizativos fundados na perspectiva da economia solidária e cooperativismo.

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Oficinas de diagnósticO participativO: O Olhar das trabalhadOras sobre a comercialização nas atividades de produção artesanal em ambiente urbano

balho extremamente exaustivas, como relatado em uma das oficinas “Acorda, faz o trabalho de casa e vai para a oficina. Trabalha dia e noite”.

As condições de exercício da produção e de comercialização dos produtos das trabalhadoras são, no geral, bastante precárias. Muitas precisam transportar produtos, alguns de difícil movimentação, em transportes públicos, que, qua-se sempre, são também precários. Uma das produtoras relatou a necessidade de fazer três “viagens” para montar o espaço de venda: primeiro, ela leva a barraca; depois, bancadas e cadeiras; e, por fim, os produtos. Outra produtora artesã indicou que ter estabelecido o negócio na própria residência foi um grande avanço. Mas afirmou que, por ser um imóvel alugado, não é possível identificar o espaço do empreendimento, pois isso alteraria o preço do aluguel. Há relatos associados à péssima infraestrutura das feiras, expostas sempre às mais diversas condições climáticas. No Rio de Janeiro, uma das participantes afirmou que passar o dia de trabalho sob um sol extenuante, cotidianamente, era vender “em condições desumanas”.

É preciso destacar também outro fator, presente em áreas urbanas, que im-pacta as formas de organização coletiva. No caso do Rio de Janeiro, foram marcantes os relatos sobre a violência urbana como fator limitante para o livre exercício de muitas atividades para essas trabalhadoras. Tal violência impõe horários de chegada nas residências ou cuidados com a mobilidade em locais desconhecidos. O seguinte relato expressa com muito realismo essas dificuldades: “Quando tem tiroteio ninguém trabalha. A violência policial atrapalha nosso trabalho”. Consideradas as longas jornadas com trabalho e as restrições decorrentes da violência urbana, é possível concluir que propostas de organização que exijam rotinas frequentes de encontros para a discussão e encaminhamentos de assuntos do grupo poderiam ser recebidas com muitas resistências por parte das trabalhadoras. No entanto, os dados do Sies e da pesquisa de diagnóstico da Resf mostram exatamente o oposto. A rotina de reuniões dessas trabalhadoras chega a ser mais fre-quente do que o observado na média do total de empreendimentos econô-micos solidários.

A partir do Gráfico 9, comparando dados de trabalhadoras em atividades de produção artesanal com informações de todos os empreendimentos econômi-cos solidários, os dois tipos mapeados no Sies, observa-se que, na produção artesanal, as rotinas de encontros para a realização de assembleias ou reuniões

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A comerciAlizAção nA economiA solidáriA em empreendimentos urbAnos de produção ArtesAnAl liderAdos por mulheres

coletivas dos sócios são mais comuns. Mais de 1/3 desses empreendimentos (37,9%) responderam que se reúnem com frequência semanal ou quinzenal e até diariamente. Na média de todos os EESs, esse percentual chegava a 13,9%. Por outro lado, a proporção de empreendimentos em atividades arte-sanais, com realização de encontros em períodos maiores de tempo (bimestral ou trimestral; semestral; anual ou mais de 1 ano), corresponde a 19,6%, en-quanto, na média de todos os EESs no Sies, essa razão é de 34,3%.

GRÁFICO 9Distribuição Percentual dos Empreendimentos Econômicos Solidários (1) por período de realização de assembleias ou reuniões coletivasRegiões Metropolitanas(2), 2009 a 2013

4,0

6,98,7

41,1

29,4

8,5

1,4

10,48,7

15,2

49,5

10,7

3,2 2,3

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

Anual ou mais de 1 ano Semestral Bimestral ou trimestral Mensal Semanal ou quinzenal Diariamente Não realiza assembleiageral

Produtoras artesãs (SIES) Média EESa (SIES)

Fonte: MTb/Senaes.Sies

Elaboração: DIEESE

Nota: (1) Diz respeito apenas a empreendimentos compostos por mulheres; (2) As capitais do Acre, Roraima, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul não possuem definição de RM pelo IBGE.

Uma das explicações possíveis para esse fato pode estar relacionada às condi-ções de precariedade existente entre esses grupos, para o exercício das ativi-dades, o que levaria à necessidade de um maior número de reuniões para a tomada de decisões. Para as trabalhadoras, isso explica parte da questão. No entanto, em Salvador, foi explicitado que existe relação entre a frequência de reuniões e o tamanho dos grupos que, em geral, são pequenos, com a predo-

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Oficinas de diagnósticO participativO: O Olhar das trabalhadOras sobre a comercialização nas atividades de produção artesanal em ambiente urbano

minância dos que têm até seis sócios, o que permitiria rotina de atividades coletivas mais frequentes.

Jornadas exaustivas, que incluem tanto as horas dedicadas ao processo de produção quanto de comercialização dos produtos, além da violência urbana, são alguns dos desafios enfrentados por essas trabalhadoras. Sem dúvida, as condições para que grupos ou coletivos de mulheres em atividades artesanais tornem-se menos dependentes da estrutura de governo, no que diz respeito às políticas de incubação ou de organização de feiras, surgiram nas três oficinas de diagnóstico.

Tanto os dados estatísticos quanto os diálogos nas oficinas evidenciaram que as feiras e o contato direto com os consumidores são os principais locais e meios para a comercialização nas atividades de produção artesanal. O que, no entanto, ficou bastante evidente na oficina de São Paulo, ou na conversa com gestores nas prefeituras dos municípios de Osasco e São Paulo, é a de que a realização das feiras está vinculada aos programas de incubação dessas gestões. Nesse sentido, percebeu-se que as trabalhadoras tinham a tendência de permanecer em processos de incubação para além do planejado, dado que a incubadora se transformava no apoio de comercialização e logística.

No município do Rio de Janeiro, a realidade era totalmente distinta. As mulheres optaram por se organizar em redes para viabilizar as feiras. A participação dos governos do município e do estado se limitava à cessão de espaços públicos para que as feiras acontecessem. Logo, fica sob a responsabilidade das trabalhadoras toda a organização da logística, como aluguel de barracas, de banheiros quími-cos, distribuição de energia elétrica, entre outros, e a própria disponibilização das barracas na feira. Nessa oficina, a questão do espaço e as condições de trabalho nele apareceram de forma bastante acentuada, com demanda de se estruturar locais de comercialização mais acessíveis e de logística mais “humanizada”. Ade-mais, também há reclamações sobre a disponibilização de áreas para montagem das feiras comumente localizadas em pontos que não favorecem a venda.

Na Bahia, as trabalhadoras possuem, além dos centros públicos de comercia-lização, alguns deles em locais privilegiados como os localizados em dois dos principais shoppings da cidade de Salvador, as feiras de economia solidária, orga-nizadas também pela gestão governamental. Entretanto, ali já foram identificadas iniciativas de grupos na montagem de espaços próprios para a comercialização

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A comerciAlizAção nA economiA solidáriA em empreendimentos urbAnos de produção ArtesAnAl liderAdos por mulheres

dos produtos. Em Salvador, algo interessante surgiu quando essas trabalhadoras foram provocadas a refletir sobre como o espaço onde vivem influencia o tra-balho. Algumas mulheres que residem em áreas mais estruturadas, com menos violência e cercadas da natureza, disseram que esses lugares influenciam o pro-cesso criativo. Desaparece qualquer menção às dificuldades de locomoção para compra de insumos ou desenvolvimento da produção, o que se opõe ao relatado por outros grupos locais e aos de São Paulo e Rio de Janeiro, que, em geral, vivem em áreas periféricas e extremamente carentes de serviços públicos.

Embora o fato de ter o próprio negócio dê às trabalhadoras a sensação de in-dependência em relação aos vínculos estabelecidos pelo mercado de trabalho, com o elo de obrigações e reponsabilidades existente ente patrão e emprega-dos, as oficinas evidenciaram que essas mulheres eram também aquelas que, quando se encontravam no mercado de trabalho formal, estavam em condi-ções muito precarizadas e a maioria, já em idade avançada. Parte delas, como afirmou uma trabalhadora, já se julgava “cuspida do mercado de trabalho” e encontrou na atividade de produção artesanal um retorno à vida profissional e a oportunidade de dedicação ao que realmente gostava ou a “liberdade de criação”. Portanto, tais condições se mostram como um desafio ao poder pú-blico, pois o fato de essas trabalhadoras se sentirem “livres” não anula a reali-dade de também atuarem em condições frágeis, necessitando de políticas de apoio e fomento que lhes auxiliem a avançar em direção ao desenvolvimento econômico sustentável do empreendimento.

Algo verificado pela análise dos indicadores foi que, embora o principal pro-blema apontado pelos empreendimentos seja a ausência de crédito, parte considerável disse não ter buscado crédito por não precisar (mais de 2/5 das respostas diz que não há necessidade). A oficina realizada em São Paulo traz algumas contribuições que podem ajudar a esclarecer essa contradição. De acordo com as participantes, uma das razões para não procurarem crédito decorria da falta de orientação nesse sentido por parte das incubadoras das quais faziam parte. Na verdade, essa foi identificada como uma ação correta da incubadora pelas participantes, dado que elas, de fato, acreditam não ter capacidade de acessar esse sistema. De acordo com uma das falas:

“Quando se chega a uma incubadora, ela não fala para você pegar emprés-

timo. O que ela orienta é que para você começar algo você deve começar

com o que já tem e a incubadora vai ajudando a gente a lapidar isso. A

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Oficinas de diagnósticO participativO: O Olhar das trabalhadOras sobre a comercialização nas atividades de produção artesanal em ambiente urbano

pessoa não deve usar os recursos para além dela. A incubadora mostra

para você que é possível fazer as coisas com os seus recursos. Eu acho que

o conselho deles pode ser o empréstimo. Mas, entende que não é palpável?

O que é palpável: eu tenho uma mexerica e quero fazer suco. Em vez de

fazer o suco, você vende os gomos que saem mais caros. Pelo menos é o

que a incubadora fala. Ela (incubadora) nunca fala de empréstimo. Se os

educadores estimulassem isso, a pessoa que está na incubadora, que tem

dificuldade financeira, que entrou lá fazendo crochê e que está ganhando

20 reais nos finais de semana, como ela vai pegar empréstimo? E essa pes-

soa que está fazendo crochê, e que é 80% da incubadora, que depende das

feiras pra vender, se ela fizer um empréstimo daqui a dois meses essa pessoa

vai voltar culpando a incubadora pela dívida e dizendo para incubadora:

você vai cobrir o meu débito. ”

A fala do educador reforça a fala da trabalhadora: “O banco assusta. E a gen-te não tem uma política de crédito para artesão. Por outro lado, a gente não orienta que, para o negócio crescer, a artesã deva ir ao banco. Pelo contrário, ir ao banco significa que seu negócio irá acabar.” O fato de se reconhecer que não há condições de recebimento de crédito, como ainda pontuado pelo educador, situação geralmente discutida em formações sobre gestão e planeja-mento financeiro, não significa dizer que essas pessoas não necessitem de cré-dito. Por outro lado, dadas as difíceis condições de acesso ao crédito no país, as trabalhadoras são formadas para que consigam desenvolver sua atividade independentemente do uso de linhas de financiamento público ou privado.

O receio em contrair crédito em um mercado altamente restritivo em termos de documentação e segurança de pagamento exigidas, além das altas taxas de juros normalmente associadas a esse serviço parece, no entanto, ser um grande entrave para a movimentação dessas trabalhadoras em direção à busca de crédito. Em todas as oficinas, esse medo foi destacado, receio muito vin-culado às instabilidades econômicas do país, que não permitem uma previsão de médio e longo prazo de manutenção da renda para honrar compromissos com esses agentes financeiros. No Rio de Janeiro, as participantes salientaram a experiência com fundos rotativos, como alternativa ao acesso restritivo ao crédito comum. O fundo rotativo se constitui como uma espécie de poupança comunitária, formada a partir de recursos do próprio grupo. Os recursos são geridos coletivamente e são disponibilizados de forma rotativa, circulando entre as participantes.

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A comerciAlizAção nA economiA solidáriA em empreendimentos urbAnos de produção ArtesAnAl liderAdos por mulheres

Por outro lado, também foi apontado que os agentes financeiros utilizam uma linguagem técnica inacessível a esse perfil de demanda de crédito. Informa-ções como as linhas de crédito disponíveis, a forma como deve ser pago, como o nome fica envolvido nessa operação, quais os documentos necessários, na maior parte das vezes, ficam obscuras para esse público popular, colocando as demandantes em situação de constrangimento diante dos operadores fi-nanceiros. Somam-se ao embaraço, a insegurança que se estabelece entre as trabalhadoras sobre a capacidade de operar o crédito e de executar o plano de aplicação dos recursos.

No tocante ao desafio da organização, verifica-se, como já anteriormente des-tacado, que esses grupos de trabalhadoras são, na maioria, informais (pouco mais de 60,0%) e se estruturam predominantemente em pequeno número de sócias (ver Gráfico 3). Essa condição de informalidade refletia a dificuldade colocada às iniciativas de organização cooperativa antes da atual legislação que regulamenta esse tipo de empreendimento e que passou a possibilitar a fundação de cooperativas de trabalho com, no mínimo sete sócios2. Não por outro motivo, trabalhadoras afirmaram que uma das questões para o deses-tímulo em avançar rumo à estruturação de cooperativas seria a “burocracia”. Desse ponto de vista, seria interessante analisar com os grupos de economia solidária o nível de conhecimento da legislação.

Ainda em relação à organização, outras falas indicaram, por outro lado, dificul-dades em assumir o compromisso de estabelecimento de vínculos associativos com grupos grandes devido aos temores de que nem todos os membros assumam as responsabilidades e os compromissos devidos para o desenvolvimento da ativi-dade, dificultando a manutenção de laços de confiança permanentes que garan-tem, independente da presença do outro, que as coisas na organização ocorram dentro de uma normalidade esperada, algo possível em coletivos menores.

Nas feiras ou nos espaços de centros públicos organizados para exposição e venda dos produtos da economia solidária, coloca-se um debate que diz res-peito à natureza da produção: se ela de fato é artesanal ou não, assim como a qualidade do produto. De fato, essa não é uma discussão pacífica entre as trabalhadoras, cuja preocupação com a qualidade do produto, em relação aos conceitos nele embutidos, que expressam identidades, equivale à inquietação provocada pela possibilidade de excluir outras trabalhadoras do circuito de comercialização, se houver uma avaliação inadequada desses produtos.

2. Lei 12.690, de 19 de julho de 2012. Antes, de acordo com a lei 5.764, de 16 de dezembro de 1971, sociedades cooperativas seriam formadas com no mínimo 20 sócios.

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Oficinas de diagnósticO participativO: O Olhar das trabalhadOras sobre a comercialização nas atividades de produção artesanal em ambiente urbano

Também não é simples para os gestores que, em casos específicos, procuram estabelecer curadorias para avaliação dos produtos que deverão ser expostos em feiras ou centros públicos. Se a equipe técnica que compõe o grupo de avaliadores não tiver um olhar especializado e sensível em relação às tipologias artesanais, corre-se o risco de realizar seleções que farão com que o cliente des-qualifique o produto, o que pode desestimular a artesã. Portanto, fica-se em um impasse acerca da necessidade de se informar que determinado produto pode não atender a determinado perfil de consumo, isto é, de que a expressão subjetiva artesã pode estar distante da demanda local, sem, no entanto, pro-vocar a ruptura identitária entre a artesã e o fazer artesanal.

A visitação a três centros públicos, dois em Salvador e um em Osasco, mos-trou que, nesses municípios, há um esforço dos poderes públicos para instru-mentalizar com conhecimentos técnicos as trabalhadoras em atividades de produção artesanal, particularmente em design. O propósito é agregar valor aos produtos, sem que eles percam características culturais, originalidade e criatividade, além da identidade subjetiva.

Finalmente, não há dúvida entre as trabalhadoras que, ainda que haja uma discussão em aberto sobre o que é ser uma trabalhadora artesã e como definir precisamente os produtos, a etapa de qualificação do produto é fundamental no ciclo de desenvolvimento da atividade. Ademais, nesse ciclo é preciso pre-parar as trabalhadoras no que diz respeito ao produto e a relação dele com os interesses da sociedade.

Este estudo fez uma análise das condições de produção e de comercialização com as quais as trabalhadoras em atividade de produção artesanal, em empreendi-mentos econômicos solidários, situados em áreas urbanas, lidam no desenvolvi-mento de sua atividade econômica. Para a elaboração dessa análise, recorreu-se a duas fontes de dados, o Sistema de Informações da Economia Solidária (Sies) e o Diagnóstico da Rede de Economia Solidária Feminista (Resf). Embora ambas tenham algumas limitações, devidamente indicadas nas notas metodológicas, foram fontes de informações preciosas para a consecução da pesquisa.

Além das bases de dados citadas, para a elaboração do estudo foram realizadas oficinas de diagnóstico participativo com trabalhadoras em grupos ou empre-endimentos de produção artesanal, marcando uma contribuição decisiva para o conhecimento das circunstâncias presentes no dia a dia da atividade produ-tiva, particularmente definido por extensas jornadas de trabalho, períodos em que se associam as etapas de produção e comercialização do negócio com os afazeres domésticos.

O quadro geral dessas organizações, apontado pela análise dos dados estatísti-cos, e confirmado nos diagnósticos, é de que, de fato, a atividade de produção

consIDerações fInaIs

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A comerciAlizAção nA economiA solidáriA em empreendimentos urbAnos de produção ArtesAnAl liderAdos por mulheres

artesanal na economia solidária é realizada predominantemente por mulhe-res, em áreas urbanas, com grande participação em áreas metropolitanas. A base do Sies não possui uma informação com consistência para idade, todavia, as oficinas demonstraram que essas mulheres pertencem, majoritariamente, a grupos etários mais velhos (já acima de 50 anos). Os espaços de comer-cialização são as feiras e o alcance das vendas vai dos mercados locais até as fronteiras do município, com maior frequência. Em termos de organização jurídica, esses grupos operam comumente na informalidade e o resultado do trabalho, no caso, a remuneração, é utilizado como complemento da renda total da família.

Ao longo da análise, outra característica particular dessas trabalhadoras, li-gadas ao ciclo econômico de sua atividade, surge e evidencia-se ao olhar do investigador: uma dificuldade de se associar em grupos, ou pelo menos em grupos com muitos membros, com o objetivo de encontrar saídas que dina-mizem e aumentem a produtividade do trabalho. Esta dificuldade, ao que o estudo indica, está bastante relacionada a um desconhecimento das possíveis vantagens de dividir etapas da produção com outros membros, sem, no en-tanto, interferir no processo de criação dos produtos confeccionados por essas trabalhadoras e que, pela natureza da atividade, não poderiam ser feitos se não de uma forma individualizada.

No geral, percebe-se que a opção pela organização em pequenos grupos asso-ciativos ou informais está condicionada a enfrentar as dificuldades de comer-cialização, mas não do próprio processo produtivo. Os proveitos eventuais de uma estruturação em grupos sob os paradigmas cooperativistas são ignorados. Dificuldades como ausência de infraestrutura logística para a compra de in-sumos, vendas e entregas de produtos poderiam ser minimizadas por meio de organizações cooperativas que pudessem praticar compras coletivas ou por estruturação de ações coletivas com vistas ao atendimento de necessidades de logística, por exemplo, nas formas de entregas de produtos.

Por outro lado, os grupos cooperativos também podem buscar soluções de crédito (um dos grandes gargalos para os empreendimentos econômicos soli-dários) por meio do estabelecimento de mecanismos de financiamento solidá-rio, como já experimentado por grupos de artesãs no Rio de Janeiro, através dos fundos rotativos. Com isso, essas trabalhadoras puderam mobilizar recur-sos monetários e não monetários lastreados em um sistema de débito e crédi-

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Considerações finais

to alimentado e gerido de forma compartilhada e no qual os compromissos devolutivos são acordados coletivamente e respeitando as condições sociais e econômicas de suas participantes.

Ademais, a possibilidade de poder separar o local de produção do local da residência poderia ter impacto positivo: na redução das horas dedicadas ao tra-balho, possibilitando o uso do espaço para horas de lazer ou para participação em processos que resultem na melhora da qualidade do produto; no processo de transformação da matéria-prima e do acabamento dela; no estabelecimento de princípios de gestão nos quais sejam previstos fluxos de entrada e saída de ma-teriais com o objetivo de minimizar perdas e; na precificação de produtos que contabilizem custos que, provavelmente, ao se trabalhar em casa não são pre-vistos, como aluguéis, usos de recursos como energia elétrica, gás, entre outros.

Além de ganhos em termos produtivos, a organização cooperativa também poderia contribuir para que essas trabalhadoras pudessem se estruturar me-lhor em relação à representatividade diante do poder público. Durante as ofi-cinas de diagnóstico participativo, o problema da ausência do poder público na elaboração de políticas que contribuam com o desenvolvimento desse seg-mento apareceu. Por outro lado, o poder público, nos três municípios onde foram realizadas as oficinas, tem sido determinante em duas frentes: a dispo-nibilização de espaços de comercialização, por meio de feiras eventuais, prin-cipalmente, e nos processos de formação por meio de incubadoras ou outros centros formativos.

A ausência de gestores municipais ou estaduais nas oficinas de São Paulo e Rio de Janeiro não permitiu aprofundamento sobre as políticas de apoio à economia solidária que essas localidades têm desenvolvido, além de auxílio à realização de feiras, e, no caso da capital paulista, da política de incubação.

No caso da Bahia, com a presença de gestores, verificou-se o desenvolvimento de uma importante política baseada na estruturação de Centros Públicos de Economia Solidária (Cesols), metodologia inicialmente difundida pelo Minis-tério do Trabalho, por intermédio da Senaes. Os Centros Públicos são espaços organizados para a comercialização, de forma comunitária, dos produtos do segmento do artesanato da economia solidária. As estruturas são criadas e mantidas em parceria entre o poder público e a sociedade civil organizada. A Senaes e a Rede Brasileira de Gestores Públicos da Economia Solidária são

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A comerciAlizAção nA economiA solidáriA em empreendimentos urbAnos de produção ArtesAnAl liderAdos por mulheres

os principais difusores. Em Salvador, foram estruturadas duas lojas em dois shoppings: Salvador Shopping e Shopping Paralela. São áreas muito bem loca-lizadas, pelas quais passa uma população de perfil de renda bastante elevado.

A disponibilização de espaços confortáveis e atrativos, com produtos de alta qualidade artesã, tem contribuído de forma decisiva para as vendas e o fatu-ramento dessas trabalhadoras. Ademais, como as trabalhadoras se organizam em rodízio para a venda, com um caixa único, não é necessário que quem comercializa seja produtora.

Sobre a questão da separação dos processos de produção e comercialização, o relato de um dos grupos participante da oficina de Salvador contribuiu sobremaneira para entender as vantagens na separação do processo produti-vo do circuito da comercialização. O antigo Instituto Mauá, transformado pelo governo baiano em uma coordenação de fomento ao artesanato, ligada à Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre), possui duas lo-jas de comercialização, uma no porto da Barra e a outra no Pelourinho, sob gestão de dois grupos de artesanato, totalmente dedicados à comercialização: Cultuarte e Baianas Caprichosas. Ambos adicionam um percentual sobre os produtos vendidos nesses espaços, valor que paga as despesas relacionadas à administração da loja e à remuneração das trabalhadoras na comercialização.

Separar a etapa da produção da comercialização, como indicam as experiên-cias da Bahia, pode trazer benefícios do ponto de vista da qualidade de vida das trabalhadoras, por reduzir a jornada de trabalho, mas também ajuda a tornar mais efetivo o processo de venda, dado que há artesão cuja habilidade para o comércio é bastante deficiente. O educador participante da oficina de diagnóstico em São Paulo ilustrou esse tipo de indisponibilidade relatando que, em muitas feiras organizadas pela incubadora do município, é comum o artesão montar a barraca, mas não ficar na venda, e sim ao lado, trabalhando em um novo produto. Esse dado não foi contestado em nenhuma oficina.

É preciso destacar também que as dificuldades relativas ao estabelecimento de uma divisão mais nítida entre processos distintos, produção e comercializa-ção, que exigem diferentes tipos de conhecimentos, não estão atreladas apenas ao ambiento interno dos grupos de trabalhadoras em atividades de produção artesanal, como se fossem problemas que pudessem ser resolvidos apenas por uma melhor adequação dos processos de gestão dos empreendimentos. A au-

69

Considerações finais

sência de políticas públicas que estimulem ou apoiem a criação de espaços específicos para essas trabalhadoras, e que possam ir além das feiras eventuais, tem papel decisivo para a configuração dessa realidade.

O retrato passado pelas trabalhadoras do Rio de Janeiro no tocante à carência quase que absoluta de apoio governamental para a organização de feiras, res-tringindo-se à cessão de espaços públicos, coloca uma questão que deve ser con-siderada. Algumas mulheres nas atividades de produção artesanal vivem uma rotina de autonomia em relação ao poder público para a organização de espa-ços de comercialização, majoritariamente feiras. Todavia isso não é, necessaria-mente, algo positivo. Como indicado por essas trabalhadoras, esses espaços de comercialização são comumente privados de algumas estruturas mínimas que possibilitem maior conforto para o comércio dos produtos. Ademais, a preo-cupação com tarefas logísticas traz mais uma sobrecarga de trabalho a essas mulheres. A participação e o apoio da prefeitura nesses momentos poderiam trazer vantagens às artesãs, com o fornecimento, por exemplo, de estrutura ou de pontos fixos. Por outro lado, também poderia estar no âmbito da gestão municipal o papel de mediador dos conflitos existentes entre as redes que or-ganizam as feiras, de modo a estabelecer mecanismos de solução de conflitos e de apoio aos coletivos. Portanto, o desafio da autonomia, muito discutido pelas participantes das oficinas, não deve significar um afastamento do estado em relação aos empreendimentos, mas a criação de políticas que fortaleçam esses grupos nas suas perspectivas de desenvolvimento econômico e social.

Para esse fim, é preciso desvendar e entender, com maior profundidade, em que medida questões vinculadas à fragilidade de organização, como a infor-malidade, as longas jornadas, entre outros, têm impacto direto na produtivi-dade dessas artesãs, reduzindo a capacidade de atender demandas maiores, ampliar mercados, expandir as redes de apoio social, aumentar a capacidade de intervir politicamente a favor dos próprios interesses. A informalidade, por exemplo, impede a emissão de nota para compradores institucionais, como governos e empresas privadas, entre outros.

Uma das explicações surgidas na oficina de Salvador a respeito da resistência dessas trabalhadoras a se profissionalizarem estaria ligada ao fator renda, que, no caso dos grupos populares de produção artesanal, serve como comple-mento doméstico. Por essa não ser a renda principal da família, haveria uma desobrigação com o aperfeiçoamento do produto, não haveria necessidade de

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A comerciAlizAção nA economiA solidáriA em empreendimentos urbAnos de produção ArtesAnAl liderAdos por mulheres

verificar se a marca está adequada, se os meios de comunicação estão sendo usados e se são os mais adequados para garantir o acesso ao consumidor.

É preciso destacar que há também entre essas trabalhadoras um comporta-mento individual, não apenas ligado ao ato produtivo, mas de visão quanto à forma de fazer renda com base no negócio e que apareceu em todas as oficinas. Essa forma de se colocar surgiu em momentos nos quais algumas falas valorizavam o empreendedorismo individual conjugado à dificuldade em estabelecer processos de construção coletivos nos quais os indivíduos es-tivessem em etapas de formação diferentes. Também foi apresentada, em al-guns momentos, quando foram colocadas as dificuldades para se constituir grupos com muitos membros, impedimento na maior parte das vezes criado pela desconfiança em estar em coletivos grandes e cujos membros nem sem-pre compartilham dos mesmos compromissos, mas, similarmente, quando se estabelecem disputas que resultam na confecção de um mesmo objeto para disputar a mesma clientela, muitas vezes dentro do mesmo espaço coletivo, ou de se pensar processos mútuos que reduzissem a carga de trabalho de partici-pantes desses locais de venda, como logística compartilhada para transporte de materiais. Isso não quer dizer que não seja possível tratar da organização cooperativa como elemento fundamental para o aumento da eficiência econô-mica dessas trabalhadoras, contudo, esse não pode ser um tema banal, algo a ser colocado em segundo plano nos processos formativos envolvendo traba-lhadoras do ramo de artesanato.

Por fim, a predominância desses empreendimentos em ambiente urbano, no-tadamente em regiões metropolitanas, deve remeter a reflexões que têm sido desenvolvidas no âmbito da produção de conhecimento acerca da economia solidária e do cooperativismo e que, mais especificamente, diz respeito aos locais em que os empreendimentos exercem as atividades e como esses espaços atuam para ampliar ou restringir a capacidade de desenvolvimento econômi-co dos empreendimentos. Parte desses fatores limitantes está justamente vin-culada a uma ambiência desfavorável, para retomar um conceito do professor Gabriel Kraychete Sobrinho, que estabelece fontes de privação relevantes que têm condições de comprometer a existência das iniciativas econômicas soli-dárias. Desse ponto de vista, não seria possível imaginar a sustentabilidade de empreendimentos atuando de modo isolado em seus territórios, mas, pelo contrário, na estruturação de ações que permitam a constituição de uma am-biência na qual o resultado seja o fortalecimento do conjunto.

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Considerações finais

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Base conceitual do artesanato brasileiro. Brasília, DF, 2012. 60 p.

DIEESE. Metodologia para a realização de diagnósticos de mercado de trabalho com a participação dos atores sociais. São Paulo, 2006.

______. Programa Comércio Solidário: diagnóstico de empreendimentos solidários: relatório final. São Paulo, 2008.

______. Subsídios para a economia solidária. São Paulo, 2014.

______. Informalidade na economia solidária: conhecendo e discutindo. São Paulo, 2015. (Coleção Cadernos de Debates do Observatório Nacional da Economia Solidária e do Cooperativismo, 1)

______. A produção de informações no Observatório Nacional da Economia Solidária e do Cooperativismo. São Paulo, 2016. (Coleção Cadernos Metodológicos do Observatório Nacional da Economia Solidária e do Cooperativismo, 1).

DZIMIRA, Sylvain; FRANÇA FILHO, Genauto Carvalho de. Economia solidária e dádiva. Organizações e Sociedade, Salvador, v. 6, n. 14, p. 141-183, jan./abr. 2017. Disponível em: <https://portalseer.ufba.br/index.php/revistaoes/article/view/10397>. Acesso em: 04 jan. 2017.

FRANCA FILHO, Genauto Carvalho de. A problemática da economia solidária: um novo modo de gestão pública?. Cadernos EBAPE.BR, Rio de Janeiro, v. 2, n. 1, p. 01-18, mar. 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-39512004000100004&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 04 Jan. 2017.

INSTITUTO KAIRÓS CARPINA. Práticas de comercialização: uma proposta de formação para a economia solidária e a agricultura familiar. [s.l.], 2013.

referêncIas bIblIográfIcas

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A comerciAlizAção nA economiA solidáriA em empreendimentos urbAnos de produção ArtesAnAl liderAdos por mulheres

KRAYCHETE, Gabriel (Org.). Economia popular solidária: indicadores para a sustentabilidade. Porto Alegre: Tomo Editorial, 2012.

______. Escala e sustentabilidade dos empreendimentos econômicos solidários: uma ambiência necessária. Cadernos do CEAS, Salvador, n. 235, p. 186-206, 2015. Disponível em: <https://cadernosdoceas.ucsal.br/index.php/cadernosdoceas/article/view/31>. Acesso em: 30 jan. 2017.

RIBEIRO, Eduardo Magalhães; GALIZONI, Flavia Maria; ASSIS, Thiago de Paula (Orgs.). Comercialização solidária no Brasil: uma estratégia em rede. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2012.

anexos

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Anexos

ANEXO 1Número de Empreendimentos Econômicos Solidários por Categoria Social segundo área de atuaçãoBrasil – 2009 a 2013

Categorias sociaisÁrea de atuação

BrasilRural Urbana Rural e Urbana

Agricultores familiares 8.868 834 1.196 10.899

Artesãos 397 2.789 348 3.534

Artistas 17 178 30 225

Assentados da reforma agrária 932 23 78 1.033

Catadores de material reciclável 24 556 26 606

Garimpeiros ou mineiros 8 9 3 20

Técnicos, profissionais de nível superior 27 136 31 194

Outros trabalhadores autônomos / por conta própria 160 970 131 1.261

Desempregados (desocupados) 84 536 57 677

Não se aplica ou não há predominância 276 825 158 1.259

Total 10.793 6.856 2.058 19.708

Fonte: MTb/Senaes.Sies

Elaboração: DIEESE

ANEXO 2Número de Empreendimentos Econômicos Solidários da Agricultura Familiar por destinatário da comercializaçãoBrasil – 2009 a 2013 (em %)

45,7

27,4

12,5

6,6

3,51,5 2,5

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

35,0

40,0

45,0

50,0

Venda direta aoconsumidor �nal

Venda a revendedores/atacadistas

Venda a orgãogovernamental

Venda para empresasprivadas de produção

Vebda a outros EES Taxa com outros EES Outros

Agricultura familiar

Fonte: MTb/Senaes.Sies

Elaboração: DIEESE

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A comerciAlizAção nA economiA solidáriA em empreendimentos urbAnos de produção ArtesAnAl liderAdos por mulheres

ANEXO 3Distribuição absoluta e percentual dos Empreendimentos da Economia Solidária por categoria social segundo condição de formalizaçãoBrasil – 2009 a 2013

Categorias sociaisFormais Informais Total

Abs. % Abs. % Abs. %

Agricultores familiares 6.536 60,0 4.363 40,0 10.899 100,0

Artesãos 897 25,4 2.637 74,6 3.534 100,0

Artistas 62 27,6 163 72,4 225 100,0

Assentados da reforma agrária 617 59,7 416 40,3 1.033 100,0

Catadores de material reciclável 252 41,6 354 58,4 606 100,0

Garimpeiros ou mineiros 9 45,0 11 55,0 20 100,0

Técnicos, profissionais de nível superior 116 59,8 78 40,2 194 100,0

Outros trabalhadores autônomos / por conta própria 462 36,6 799 63,4 1.261 100,0

Desempregados (desocupados) 239 35,3 438 64,7 677 100,0

Não se aplica ou não há predominância 585 46,5 674 53,5 1.259 100,0

Total 9.719 49,6 9.895 50,4 19.614 100,0

Fonte: MTb/Senaes.Sies

Elaboração: DIEESE

ANEXO 4Distribuição dos Empreendimentos Econômicos Solidários por tipo de dificuldade declarada segundo área de atuaçãoBrasil, 2009 a 2013 (em %)

63,6

48,0 49,1

42,3

38,4

35,6

33,9

482

22,1

40,5

39,4

34,1

48,8 53

,4 60,3

39,0

14,2

11,5

11,5

23,7

12,7

11,0

5,7

12,814

,5

13,8

10,3

9,1

12,3

9,8

13,0

12,4

65,0

78,5

72,0

57,3

75,9 81

,1 82,6

75,0

20,5

7,7

17,7

33,6

11,8

9,1

4,3

12,6

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

80,0

90,0

Infraestruturalogística

Capacidadede fornecimento

Estruturado mercado

Questões regulatóriasou �scais

Problemasde demanda

Acesso à créditoe planejamento �nanceiro

Gestãoe planejamento

Total

Total as categorias sociais: rural Todas as categorias sociais: urbana

Todas as categorias sociais: rural e urbana Produtores artesanais: rural

Produtores artesanais: urbana Produtoes artesanais: rural e urbana

Fonte: MTb/Senaes.Sies

Elaboração:DIEESE

77

Anexos

ANEXO 5Distribuição absoluta e percentual dos Empreendimentos Econômicos Solidários em produção artesanal por áreas selecionadasBrasil – 2009 a 2013

Áreas Absoluto Percentual

RM de Belo Horizonte 179 5,0

RM de Porto Alegre 167 4,7

RM de Macapá 111 3,1

RM de Rio de Janeiro 111 3,1

RM de São Paulo 109 3,0

RM de Recife 103 2,9

RM de Curitiba 95 2,6

RM de Belém 94 2,6

RM de Manaus 79 2,2

Distrito Federal 57 1,6

RM de Fortaleza 47 1,3

RM de Natal 40 1,1

RM de Cuiabá 40 1,1

RM de Vitória 39 1,1

RM de Salvador 29 0,8

RM de Teresina 27 0,8

RM de João Pessoa 24 0,7

RM de Maceió 16 0,4

RM de São Luis 12 0,3

RM de Florianópolis 9 0,3

RM de Aracaju 2 0,1

RM de Goiânia 2 0,1

Total RMDemais localidades

Total

1.3922.1933.585

38,861,2100,0

Fonte: MTb/Senaes.Sies

Elaboração: DIEESE

Nota: (1) As capitais do Acre, Roraima, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul não possuem definição de RM pelo IBGE

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A comerciAlizAção nA economiA solidáriA em empreendimentos urbAnos de produção ArtesAnAl liderAdos por mulheres

ANEXO 6Distribuição absoluta e percentual dos Empreendimentos Econômicos Solidários em produção artesanal por áreas selecionadasBrasil – 2009 a 2013

Áreas Absoluto Percentual

Porto Velho 10 0,3

Rio Branco 50 1,4

Manaus 72 2,1

Boa Vista 6 0,2

Belém 75 2,2

Macapá 50 1,4

Palmas 6 0,2

São Luis 4 0,1

Teresina 20 0,6

Fortaleza 35 1,0

Natal 25 0,7

João Pessoa 21 0,6

Recife 24 0,7

Maceió 10 0,3

Aracaju 1 0,0

Salvador 21 0,6

Belo Horizonte 143 4,1

Vitória 8 0,2

Rio de Janeiro 57 1,6

São Paulo 42 1,2

Curitiba 48 1,4

Florianópolis 2 0,1

Porto Alegre 57 1,6

Campo Grande 47 1,4

Cuiabá 27 0,8

Goiânia 2 0,1

Distrito Federal 38 1,1

Total capitaisDemais localidades

Total

9012.5653.466

26,074,0100,0

Fonte: MTb/Senaes.Sies

Elaboração:DIEESE

79

Anexos

ANEXO 7Evolução da taxa de variação do volume de crédito total concedidoBrasil – 2011 a 2016(1)

26.3

11.6

5.1

–3.1

–8.1

–10

–5

0

5

10

15

20

25

30

2012 2013 2014 2015 2016

Taxa de variação

Fonte: BCB

Elaboração: DIEESE

Nota (1): 2016 com valores acumulados até novembro