a ciÊncia normal e seus perigos – karl popper
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7/23/2019 A CINCIA NORMAL E SEUS PERIGOS Karl Popper
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HomeBiblioteca, Filosofia Contempornea, Lgica, Epistemologia e Filosofia da Linguagem, Popper, Thomas Kuhn.Autor:Karl Popper
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A CINCIA NORMAL E SEUS PERIGOS Karl Popper
A CINCIA NORMAL E SEUS PERIGOS
Fonte: A Crtica do Desenvolvimento do Conhecimento, Editoria Cultrix, 1979
Extrado das atas do Colquio Internacional sobre Filosofia da Cincia (Londres, 1965)
A crtica do Professor Kuhn s minhas opinies sobre cincia a mais interessante que j encontrei at agora. H, reconhecidamente, alguns pontos,
mais ou menos importantes, em que ele no me entende ou me interpreta mal. Kuhn, por exemplo, cita com desaprovao um trecho do incio do
primeiro captulo do meu livro, The Logicof Scientific Discovery (A Lgica da Descoberta Ceintfica). Pois eu gostaria de citar uma passagem que ele deixou
passar, constante do Prefcio da Primeira Edio. (Na primeira edio a passagem em apreo vinha logo antes do trecho citado por Kuhn; mais tarde
inseri o Prefcio da Edio Inglesa entre as duas passagens.) Ao passo que breve trecho citado por Kuhn poder soar, fora do contexto, como se eu no
estivesse a par do fato, destacado por ele, de que os cientistas desenvolvem necessariamente suas idias dentro de uma estrutura terica definida, seu
imediato predecessor de 1934 soa quase como uma antecipao desse ponto central da opinio de Kuhn.
Depois de duas epgrafes tiradas de Schlick e de Kant, meu livro comea com as seguintes palavras: "Um cientista empenhado numa pesquisa, digamos
no campo da fsica, pode ataca r diretamente o seu problema. Pode ir logo ao mago do assunto: isto , ao corao de uma estrutura organizada. Pois j
existe uma estrutura de doutrinas cientficas; e, com ela, uma situao problema geralmente aceito. por isso que ele pode deixar para outros o ajuste
de sua contribuio estrutura do conhecimento cientfico." E, a seguir, prossigo dizendo que o filsofo se encontra em posio diferente.
Agora parece muito claro que a passagem citada descreve a situao "normal" do cientista de modo muito semelhante a Kuhn: h um edifcio, uma estrutura organizada da cincia que fornece ao cientista
uma situao problema geralmente aceito a que o seu prprio trabalho pode ajustarse. Isso se parece muito com um dos pontos principais de Kuhn: a saber, que a cincia "normal", como ele a chama,
ou o trabalho "normal" do cientista, pressupe uma estrutura organizada de suposies, ou uma teoria, ou um programa de pesquisas, necessrio comunidade de cientistas a fim de poderem discutir
racionalmente o seu trabalho.
O fato de haver Kuhn passado por alto esse ponto de concordncia e de haverse aferrado ao que vinha imediatamente depois, e que ele supunha fosse um ponto de discordncia me parece significativo.
Mostra que s lemos e compreendemos um livro com expectativas definidas em nossa mente. Isso, de fato, pode ser considerado uma das conseqncias de minha tese de que abordamos tudo luz de
uma teoria preconcebida. Assim tambm um livro. Em conseqncia disso, estamos sujeitos a escolher as coisas de que gostamos ou desgostamos ou que desejamos, por outros motivos, encontrar no
livro; e assim fez Kuhn ao ler o meu livro.
Entretanto, apesar desses pontos secundrios, Kuhn me compreende muito bem melhor, creio eu, do que a maioria dos crticos que conheo; e suas duas crticas principais so muito importantes.
A primeira dessas crticas sustenta, em poucas palavras, que passei totalmente por alto o que ele denomina cincia "normal", e me empenhei exclusivamente em descrever o que ele denomina "pesquisa
extraordinria" ou "cincia extraordinria".
Creio que a distino entre as duas espcies de atividades talvez no seja to ntida quanto o quer Kuhn; entretanto, estou pronto para admitir que, na melhor das hipteses, no tive mais que uma obscura
conscincia dessa distino; e o que mais, que a distino aponta para algo de suma importncia.
Nessas circunstncias, relativamente secundrio serem ou no os termos de Kuhn, cincia "normal" e cincia "extraordinria", at certo ponto peties de princpio e (no sentido de Kuhn) "ideolgicos".
Creio que so tudo isso; o que, porm, no diminui meus sentimentos de gratido a Kuhn por haver assinalado a distino e por haver assim aberto meus olhos para uma srie de problemas que eu ainda
no tinha visto com clareza.
A cincia "normal", no sentido de Kuhn, existe. a atividade do profissional norevolucionrio, ou melhor, no muito crtico: do estudioso da cincia que aceita o dogma dominante do dia; que no deseja
contestlo; e que s aceita uma nova teoria revolucionria quando quase toda a gente est pronta para aceitla quando ela passa a estar na moda, como uma candidatura antecipadamente vitoriosa a
que todos, ou quase todos, aderem. Resistir a uma nova moda exige talvez tanta coragem quanto criar uma.
Vocs talvez digam que, ao descrever dessa maneira a cincia "normal" de Kuhn, eu o estou criticando implcita e subrepticiamente. Afianarei, portanto, mais uma vez, que o que Kuhn escreveu existe, e
precisa ser levado em considerao pelos historiadores da cincia. O fato de tratarse de um fenmeno de que no gosto (porque o considero perigoso para a cincia), ao passo que Kuhn, aparentemente,
no desgosta dele (porque o considera "normal") outro assunto; assunto, alis, muitssimo importante.
A meu ver, o cientista "normal", tal como Kuhn o descreve, uma pessoa da qual devemos ter pena. (Consoante as opinies de Kuhn acerca da histria da cincia, muitos grandes cientistas devem ter sido
"normais"; entretanto, como no tenho pena deles, no creio que as opinies de Kuhn estejam muito certas.) O cientista "normal", a meu juzo, foi mal ensinado. Acredito, e muita gente acredita como eu,
que todo o ensino de nvel universitrio (e se possvel de nvel inferior) devia consistir em educar e estimular o aluno a utilizar o pensamento crtico. O cientista "normal", descrito por Kuhn, foi malensinado. Foi ensinado com esprito dogmtico: uma vtima da doutrinao. Aprendeu uma tcnica que se pode aplicar sem que seja preciso perguntar a razo pela qual pode ser aplicada (sobretudo na
mecnica quntica). Em conseqncia disso, tornou se o que pode ser chamado cientista aplicado, em contraposio ao que eu chamaria cientista puro. Para usarmos a expresso de Kuhn, ele se contenta
em resolver "enigmas"1. A escolha desse termo parece indicar que Kuhn deseja destacar que no um problema realmente fundamental o que o cientista "normal" est preparado para enfrentar: , antes,
um problema de rotina, um problema de aplicao do que se aprendeu; Kuhn o descreve como um problema em que se aplica a teoria dominante (a que ele d o nome de "paradigma"). O xito do
cientista "normal" consiste tos em mostrar que a teoria dominante pode ser apropriada e satisfatoriamente aplicada na obteno de uma soluo para o enigma em questo.
A descrio do cientista "normal" feita por Kuhn lembrame claramente uma conversa que tive com meu falecido amigo, Philipp Frank, por volta de 1933. Nessa ocasio Frank se queixava amarga mente
do enfoque da cincia sem esprito crtico caracterstico da maioria dos estudantes de engenharia. Eles queriam simplesmente "conhecer os fatos". Rejeitavam as teorias ou hipteses problemti cas, que
no fossem "geralmente aceitas": elas intranqilizavam os estudantes, que s queriam conhecer as coisas, os fatos, que pudessem aplicar em s conscincia e sem anlises introspectivas.
Admito que esse tipo de atitude existe; e existe no s entre engenheiros, mas tambm entre pessoas educadas como cientistas. S posso dizer que vejo um grande perigo nisso e na possibilidade que
tem de tornarse normal (assim como vejo um grande perigo no aumento da especializao, outro fato histrico inegvel) : um perigo para a cincia e, na verdade, para nossa civilizao. O que mostra por
que considero to importante a nfase dada por Kuhn existncia desse tipo de cincia.
Acredito, porm, que Kuhn se equivoca quando sugere que normal o que ele chama de cincia "normal".
Claro est que eu nem sonharia brigar por causa de um termo. Mas gostaria de sugerir que poucos cientistas lembrados pela histria da cincia foram "normais" no sentido de Kuhn, se que houve algum
que o fosse. Em outras palavras, discordo de Kuhn no s no tocante a certos fatos histricos, mas tambm no tocante ao que caracterstico da cincia.
Tomese por exemplo Charles Darwin antes da publicao de The Origin of Species (A Origem das Espcies). Mesmo depois dessa publicao ele foi o que se poderia descrever como um "revolucionrio
relutante", para usarmos a bela descrio de Max Planck feita pelo Professor Pearce Williams; antes dela, Darwin no tinha nada de revolucionrio. Nada se assemelha a uma atitude revolucionria cons
ciente em sua descrio de The Voyage of the Beagle (A Viagem do Beagle). Mas ela est cheia de problemas; problemas autnticos, no vos e fundamentais, e engenhosas conjeturas conjeturas que
competem freqentemente umas com as outras a respeito de possveis solues.
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Dificilmente haver uma cincia menos revolucionria do que a botnica descritiva. No obstante, o botnico descritivo enfrenta constantemente problemas autnticos e interessantes: problemas de
distribuio, problemas de localizaes caractersticas, problemas de diferenciao de espcies ou subespcies, problemas como os da sim biose, inimigos caractersticos, doenas caractersticas,
variedades resistentes, variedades mais ou menos frteis, e assim por diante. Muitos problemas descritivos obrigam o botnico a empregar um enfoque experimental; e isso leva fisiologia das plantas e,
assim, a uma cincia terica e experimental (em lugar de uma cincia puramente "descritiva"). As vrias fases dessas transies fundemse de modo quase imperceptvel e surgem em cada fase problemas
autnticos em lugar de "enigmas".
Mas talvez Kuhn chame "enigma" ao que eu chamaria "problema"; e o fato que no queremos brigar por causa de palavras. Seja me, portanto, permitido dizer alguma coisa mais geral a respeito da
tipologia dos cientistas de Kuhn.
Afirmo que entre o "cientista normal" de Kuhn e o seu "cientista extraordinrio" h muitas gradaes; e preciso que haja. Tomese Boltzmann, por exemplo; haver poucos cientistas maiores do que ele.
Dificilmente, porm, se poder dizer que sua grandeza consiste em haver ele preparado uma revoluo importante porque era, em extenso considervel, um seguidor de Maxwell. Mas estava to longe
de ser um "cientista normal" quanto se pode estar; lutador corajoso, resistiu moda imperante em seu tempo moda que, a propsito, s imperou no continente e teve poucos seguidores, na quela
Acredito que a idia de Kuhn de uma tipologia dos cientistas e dos perodos cientficos importante, mas necessita de restries. O seu esquema de perodos "normais", dominados por uma teoria impe
rante (um "paradigma", segundo a terminologia de Kuhn) e segui dos de revolues excepcionais, parece ajustarse muito bem astronomia. Mas no se ajusta, por exemplo, evoluo da teoria da
da teoria das cincias biolgicas desde, digamos, Darwin e Pasteur. Em relao ao problema da matria, sobretudo, tivemos pelo menos trs teorias dominantes que competi
ram desde a Antigidade: as teorias da continuidade, as teorias atmicas e as teorias que tentavam combinar as duas primeiras. Alm disso, tivemos por algum tempo a verso de Berkeley feita por Mach
a teoria de que a "matria" era um conceito mais metafsico do que cientfico: de que no havia nada parecido com uma teoria fsica da estrutura da matria; e de que a teoria fenomenolgica do calor
o paradigma por excelncia de todas as teorias fsicas. (Emprego aqui a palavra "paradigma" num sentido um pouco diferente do que lhe d Kuhn: no para indicar uma teoria dominante,
um modo de explicao considerado to satisfatrio por alguns cientistas que eles exigem a sua aceitao geral.)
Conquanto eu considere importantssimo o descobrimento de Kuhn do que ele chama de cincia "normal", no concordo com a afirmativa de que a histria da cincia lhe apia a doutrina (essencial sua
teoria da comunicao racional) segundo a qual "normalmente" temos uma teoria dominante um paradigma em cada domnio cientfico, e ainda segundo a qual a histria de uma cincia consiste
numa seqncia de teorias dominantes, com perodos revolucionrios intervenientes de cincia "extraordinria"; perodos que ele descreve como se a comunicao entre cientistas se houvesse in
terrompido merc da ausncia de uma teoria dominante.
Essa imagem da histria da cincia conflita com os fatos tais como os vejo. Pois sempre houve, desde a Antigidade, constante e proveitosa discusso entre as teorias dominantes concorrentes da
matria.
Agora, em seu atual ensaio, Kuhn parece propor a tese de que a lgica da cincia tem pouco interesse e nenhum poder explanatrio para o historiador da cincia.
Afiguraseme que, vinda de Kuhn, essa tese quase to paradoxal quanto o foi a tese "Eu no uso hipteses" exposta na Optics de Newton. Pois assim como Newton usava hipteses, assim Kuhn usa a
lgica no s para argumentar, mas tambm no mesmssimo sentido em que me refiro Lgica da Descoberta. Ele emprega, todavia, uma lgica da descoberta que, em certos pontos, difere radi
calmente da minha a lgica de Kuhn a lgica do relativismohistrico.
Permitamme mencionar primeiro alguns pontos de concordncia. Acredito que a cincia essencialmente crtica; que consiste em conjeturas audazes e, portanto, pode ser descrita como revolucionria.
Sempre acentuei, todavia, a necessidade de algum dogmatismo: o cientista dogmtico tem um papel importante para representar. Se nos sujeitarmos crtica com demasiada facilidade, nunca
descobriremos onde est a verdadeira fora das nossas teorias.
Mas Kuhn no quer saber desse dogmatismo. Acredita no domnio de um dogma imperante por perodos considerveis; e no acredita que o mtodo da cincia seja, normalmente, o mtodo de
conjeturas audazes e de crtica.
Quais so os seus principais argumentos? No so psicolgicos nem histricos so lgicos: Kuhn sugere que a racionalidade da cincia pressupe a aceitao de uma referencial comum. Sugere que a
racionalidade depende de algo como uma linguagem comum e um conjunto comum de suposies. Sugere que a discusso racional e a crtica racional s sero possveis se estivermos de acordo sobre
questes fundamentais.
Essa uma tese amplamente aceita e, com efeito, est na moda: a tese do relativismo. E uma tese lgica.
Consideroa equivocada. Admito, naturalmente, que muito mais fcil discutir enigmas dentro de um referencial comum aceito e ser levado pela mar de uma nova moda imperante a um novo referen
cial, do que discutir princpios fundamentais isto , o prprio referencial de nossas suposies. Mas a tese relativista de que a estrutura no pode ser discutida criticamente pode ser discutida critica
mente e no resiste crtica.
Deilhe o nome de O Mito do Referencial, e discutia em vrias ocasies. Consideroa um equvoco lgico e filosfico. (Lembrome de que Kuhn no gosta do meu emprego da palavra "equvoco"; mas essa
averso simplesmente parte do seu relativismo.)
Eu gostaria de dizer em poucas palavras por que no sou relativista:2 acredito na verdade "absoluta" ou "objetiva", no sentido de Tarski (embora, naturalmetne, no seja um "absolutista", pois no penso
que eu, nem qualquer outra pessoa, temos a verdade no bolso). No duvido de que este seja um dos pontos em que estamos mais profundamente divididos; e um ponto lgico.
Admito que a qualquer momento somos prisioneiros apanhados no referencial das nossas teorias; das nossas expectativas; das nossas experincias passadas; da nossa linguagem. Mas somos prisioneiros
num sentido pickwickiano; se o tentarmos, poderemos sair de nosso referencial a qualquer momento. verdade que tornaremos a encontrarnos em outro referencial, mas este ser melhor e mais espa
oso; e poderemos, a quaisquer momento, deixlo tambm.
O ponto central que sempre possvel uma discusso crtica e uma comparao dos vrios referenciais. No passa de um dogma e um dogma perigoso o que estatui que os diversos referenciais so
como linguagens mutuamente intradutveis. O fato que nem lnguas totalmente diferentes (como o ingls e o hopi, ou o chins) so intraduzveis, e que existem inmeros ndios ou chineses que
aprenderam a dominar perfeitamente o ingls.
O Mito do Referencial, em nosso tempo, o baluarte central do irracionalismo. A tese que lhe oponho que ele simplesmente exagera a dificuldade, transformandoa numa impossibilidade. No se pode
deixar de admitir a dificuldade da discusso entre pessoas educadas situadas em diferentes referncias. Mas nada mais proveitoso que uma discusso dessa natureza; do que o embate cultural que
estimulou algumas das maiores revolues intelectuais.
Admito que uma revoluo intelectual se assemelha com fre qncia a uma converso religiosa. Uma nova viso das coisas pode apanharnos como o fuzilar de um raio. Mas isso no quer dizer que no
podemos avaliar, crtica e racionalmente, nossos pontos de vista anteriores luz dos novos.
Seria, desse modo, simplesmente falso dizer que a transio da teoria da gravidade de Newton para a de Einstein um salto irracio nal e que as duas no so racionalmente comparveis. Existem, ao
contrrio, inmeros pontos de contato (tais como o papel da equao de Poisson) e pontos de comparao: seguese da teoria de Einstein que a teoria de Newton uma excelente aproximao (a no ser
no que concerne aos planetas e cometas que se movem em rbitas elpticas com excentricidades considerveis).
Nessas condies, em cincia, diferena do que acontece na teologia, sempre possvel o confronto crtico das teorias concorrentes, dos referenciais que competem entre si. E a negao dessa
possibilidade representa um equvoco. Na cincia (e s na cincia) podemos dizer que fizemos progressos genunos e que sabemos mais agora do que sabamos antes.
Assim sendo, a diferena entre mim e Kuhn remonta, de manei ra fundamental, lgica. E o mesmo acontece com toda a teoria de Kuhn. sua proposta: "A Psicologia em lugar da Lgica da Descoberta"
podemos responder: todos os seus argumentos advm da tese de que o cientista logicamente obrigado a aceitar um referencial, visto que nenhuma discusso racional possvel entre referenciais. Eis a
uma tese lgica mesmo que seja uma tese equivocada.
De fato, como j expliquei alhures, o "conhecimento cientfico" pode ser considerado como destitudo de objeto.3 Pode ser encarado como um sistema de teorias do qual trabalhamos como trabalham os
pedreiros numa catedral. A meta descobrir teorias que, luz da discusso crtica, cheguem mais perto da verdade. Desse modo, a meta o aumento do contedo de verdade das nossas teorias (o que,
como j demonstrei4, s pode ser conseguido pelo aumento do seu contedo).
No posso concluir sem assinalar que, no meu entender, sur preendente e decepcionante a idia de recorrer sociologia ou psi cologia (ou ainda, como Pearce Williams recomenda, histria da
cincia) a fim de informarse a respeito das metas da cincia e do seu progresso possvel.
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De fato, cotejadas com a fsica, a sociologia e a psicologia esto cheias de modas e dogmas nocontrolados. A sugesto de que pode mos encontrar aqui algo parecido com uma "descrio pura,
objetiva" est claramente equivocada. Alm disso, como pode o retrocesso a tais cincias, a mido esprias, ajudarnos a resolver essa dificuldade? No ser sociolgica (nem psicolgica, ou histrica) a
cincia a que vocs desejam recorrer a fim de decidir quanto monta a pergunta "Que cincia?"ou "Que , de fato, normal em cincia?" Pois vocs, evidentemente, no querem recorrer orla luntica
sociolgica (ou psicolgica ou histrica)? E a quem desejam consultar: ao socilogo (ou psiclogo, ou historiador) "normal" ou ao "extra ordinrio"?
Por isso considero to surpreendente a idia de recorrer socio logia ou psicologia. E consideroa to decepcionante porque ela mostra que foi baldado tudo o que eu disse at agora contra as
tendncias e processos sociologistas e psicologistas, especialmente na histria.
No, esta no a maneira, como a simples lgica pode mos trar; e assim a resposta pergunta de Kuhn "Lgica da Descoberta ou Psicologia da Pesquisa?" a seguinte: enquanto que a Lgica da
Descoberta tem muito pouca coisa para aprender com a Psicologia da Pesquisa, esta tem muito que aprender com aquela.
Notas
. No sei se o emprego do termo "enigma" por parte de Kuhn tem alguma coisa que ver com o emprego de Wittgenstein. Wittgenstein, naturalmente, empregouo em conexo com sua tese de que no
em filosofia apenas enigmas, isto , pseudoproblemas ligados ao uso imprprio da linguagem. Seja como for, o emprego do termo "enigma" em lugar de "problema" indica, por
certo, um desejo de mostrar que os problemas assim descritos no so muito srios nem muito profundos.
. Veja, por exemplo, o Captulo 10 das minhas Conjectures and Refutations, e o primeiroAddendum 4. (1962) e ltima edio do volume de minha Open Society.
. Veja agora minha palestra intitulada "Epistemology Without a Knowing Subject" estampada nas Atas do Terceiro Congresso Internacional de Lgica, Metodologia e Filosofia da Cincia, que se realizou em
4. Veja meu estudo intitulado "A Theorem on TruthContent", publicado na obra Mind, Matter, and Method, de Feigl Festschrift, organizado por P. K. Feyerabend e Grover Maxwell, em
1966.
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Adorei a imformacao presente
Responder Curtir 8 de setembro de 2012 s 11:322
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4 05/05/2013 10:47
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4 05/05/2013 10 47