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A CAPOEIRA NA ESCOLA: PERSPECTIVAS PARA A EDUCAÇÃO FISICA ESCOLAR – UMA ABORDAGEM TEORICA E PRATICA José Eduardo Segala de Medeiros 1 Luís Sérgio Peres 2 RESUMO A Capoeira, por suas características livres de expressividade corporal, atualmente já é classificada como uma dança cultural, sendo utilizada por grande parte dos professores a nível nacional. Assim, o presente estudo teve como objetivo a necessidade de discutir, debater e refletir sobre conceitos metodológicos utilizados pelos profissionais da área e o interesse em estabelecer parâmetros que tornem o ensino da Educação Física Escolar, verdadeiramente justo e democrático. O mesmo caracterizou-se do tipo descritivo exploratório. A amostra foi composta por treze professores da rede estadual de ensino, participantes do Grupo de Trabalho em Rede - GTR, onde se utilizou um questionário composto por treze perguntas, versando sobre a pratica da Capoeira no contexto escolar. Os resultados obtidos foram sobre a aplicação do plano de ensino da capoeira, pelos professores participantes da rede, sendo aceito por toda a comunidade escolar, onde concluiu- se que o conteúdo trabalhado é extremamente importante, não só pelo conjunto de atividades motoras e culturais, mas como exemplo de respeito ao ensino da técnica e à avaliação individualizada e qualitativa do desenvolvimento do educando. Palavras-chave: Metodologia. Prática Pedagógica. Capoeira. ABSTRACT The Capoeira, for its characteristics of free expression body, is currently classified as a cultural dance, being used by a large proportion of teachers nationally. Thus, this study aimed to the need to discuss, debate and reflect on methodological concepts used by professionals in the area and interest in setting parameters that make the teaching of Physical Education School, truly fair and democratic. The same feature is the type descriptive exploratory. The sample consisted of thirteen teachers from the state's education network, participants of the Working Network - GTR, where he used a questionnaire composed of thirteen questions, deal with the practice of Capoeira in the school. The results were on the implementation of education of poultry, by faculty members of the network, being accepted by the entire school community, where it was found that the content is working extremely 1 Professor Especialista Col. Est. João Maffei Rosa – Juranda, integrante PDE 2007. 2 Professor Doutor do Curso de Educação Física da UNIOESTE – Marechal Cândido Rondon, Orientador – PDE.

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A CAPOEIRA NA ESCOLA: PERSPECTIVAS PARA A EDUCAÇÃO FISICA ESCOLAR – UMA ABORDAGEM TEORICA E PRATICA

José Eduardo Segala de Medeiros1

Luís Sérgio Peres2

RESUMO

A Capoeira, por suas características livres de expressividade corporal, atualmente já é classificada como uma dança cultural, sendo utilizada por grande parte dos professores a nível nacional. Assim, o presente estudo teve como objetivo a necessidade de discutir, debater e refletir sobre conceitos metodológicos utilizados pelos profissionais da área e o interesse em estabelecer parâmetros que tornem o ensino da Educação Física Escolar, verdadeiramente justo e democrático. O mesmo caracterizou-se do tipo descritivo exploratório. A amostra foi composta por treze professores da rede estadual de ensino, participantes do Grupo de Trabalho em Rede - GTR, onde se utilizou um questionário composto por treze perguntas, versando sobre a pratica da Capoeira no contexto escolar. Os resultados obtidos foram sobre a aplicação do plano de ensino da capoeira, pelos professores participantes da rede, sendo aceito por toda a comunidade escolar, onde concluiu-se que o conteúdo trabalhado é extremamente importante, não só pelo conjunto de atividades motoras e culturais, mas como exemplo de respeito ao ensino da técnica e à avaliação individualizada e qualitativa do desenvolvimento do educando. Palavras-chave: Metodologia. Prática Pedagógica. Capoeira. ABSTRACT The Capoeira, for its characteristics of free expression body, is currently classified as a cultural dance, being used by a large proportion of teachers nationally. Thus, this study aimed to the need to discuss, debate and reflect on methodological concepts used by professionals in the area and interest in setting parameters that make the teaching of Physical Education School, truly fair and democratic. The same feature is the type descriptive exploratory. The sample consisted of thirteen teachers from the state's education network, participants of the Working Network - GTR, where he used a questionnaire composed of thirteen questions, deal with the practice of Capoeira in the school. The results were on the implementation of education of poultry, by faculty members of the network, being accepted by the entire school community, where it was found that the content is working extremely

1 Professor Especialista Col. Est. João Maffei Rosa – Juranda, integrante PDE 2007.

2 Professor Doutor do Curso de Educação Física da UNIOESTE – Marechal Cândido Rondon, Orientador –

PDE.

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important, not only by the number of motor activities and cultural, but as an example of respect for the teaching of technical and individualized assessment and qualitative development of the learner.

INTRODUÇÃO

A Educação dentro um contexto escolar pensada para uma política de cunho

democrático deveria voltar-se a condições e oportunidades para todos. Assim

também, com a unidade da Educação Física, que faz parte de um contexto de

ciências pertencentes a uma mesma Base Nacional Comum, onde norteia os

conhecimentos necessários para formar um sujeito completo e reflexivo.

Neste contexto poderia pensar a Educação Física também como Educação.

Por essa razão, indaga-se se o encaminhamento metodológico dos profissionais

da educação física na propagação dos conteúdos da disciplina, são ou não

aplicados numa concepção que privilegia a todos, indistintamente de suas

habilidades naturais, respeitando às diferenças individuais.

Ainda, sendo um ensino que contemple a todos, com um universo cada vez

maior de atividades físicas e mobilidade humana, para ampliar o vocabulário

motor, se deve basear-se numa concepção extremamente técnica, onde se pode

ganhar, por um lado, “alunos/atletas, alunos/dançarinos”, em potencial e, por outro

lado, “alunos/pseudo qualquer coisa”, com sentimentos de frustração, fracasso e

discriminação, por não atingirem as mesmas metas daqueles mais habilidosos.

Portanto, a opção por esse tema, visa encontrar e reconhecer a real identidade

da Educação Física, no contexto educacional, através da pesquisa de diversos

autores, sobre as teorias estudadas e as práticas adotadas e aplicadas nas

escolas.

Os estudos desse projeto de pesquisa estão concentrados nas concepções

metodológicas do ensino da Educação Física, tendo como objeto específico, a

diferenciação entre a teoria estudada no meio acadêmico e a prática pedagógica

utilizada na escola.

Pretende-se questionar se existe, de fato, essa diferenciação e, assim sendo, o

porquê dela existir e como deveria ser o ensino da Educação Física Escolar.

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CONTEXTUALIZAÇÕES DO TEMA

A partir da publicação da LDB (9394/96), a educação física foi regulamentada,

demonstrando assim, sua grande e real importância, não somente no contexto

educacional, como nas suas mais diversas áreas de atuação.

A importância do ser humano sobrepõe-se às dificuldades de execução do

trabalho docente, bem como a desvalorização do profissional da área e, mesmo

com novos avanços das tecnologias, o ambiente escolar pouco se modificou, pois

questões relacionadas à gênero, discriminação econômica, política e social, por

exemplo, ainda permeiam as aulas de educação física.

Além da relevância em se buscar a profissionalização na área da Educação

Física, é igualmente importante identificar os seus campos de atuação, através da

teorização de seus fundamentos, de acordo com Shigunov & Shigunov Neto

(2002. p 32).Teoria essa, que pudesse dar suporte à construção de novos

conceitos para a formação dos profissionais da área.

A discussão em torno de uma nova teoria geral para a Educação Física, passa

sempre sobre a perspectiva de duas abordagens: a primeira aborda o esporte

como campo de estudo disciplinar e é denominada por Bento (1994) e Sobral

(1992), apud Nascimento (2002), como Ciências do Esporte ou Ciência do Esporte

(Amádio, 1993; Gaya, 1994 a e b; Marques, 1990; apud Nascimento, 2002. p.34).

A segunda abordagem, tem como seu campo de estudo disciplinar, a atividade

física e o movimento humano (motricidade humana), chamada de Ciência do

Movimento Humano, por Arnold (1994), Coetzee (1994), Lawson & Morford

(1979), Newel (1990a, b, c), Renson (1990) e Teixeira (1993), apud Nascimento

(2002), ou ainda, segundo Cavalcanti (1996) e Sérgio (1987) apud Nascimento

(2002), Ciência da Motricidade Humana.

Essa discussão nos dá a dimensão da importância do presente trabalho, pois

nos remete diretamente à possibilidade de identificar em qual delas a educação

física pode ancorar suas bases conceituais e teóricas.

Há muito se critica a esportivização da Educação Física na escola e,

principalmente na década de 80, esse movimento se intensificou, tomando uma

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forma de denúncia, através de trabalhos de diversos autores, com Valter Bracht e

João Paulo Medina, por exemplo.

Essa crítica/denúncia ocorreu devido à orientação metodológica que se

dava no ensino da Educação Física, com vistas a manter o status quo de uma

sociedade capitalista, exploradora e, portanto, dominante.

A principal crítica dizia respeito à iniciação esportiva nas séries iniciais – 1ª

à 4ª séries, a qual não tinha aprovação nem mesmo do MEC - em legislação

específica para a Educação Física, de 1980, devido às crianças, nessa faixa

etária, estarem em processo de maturação biológica e que, portanto, ainda não

reuniam condições motoras e psíquicas necessárias para tanto.

Essa crítica, porém, também era passível de outras críticas, pois apenas

apontava os aspectos negativos sem, no entanto, apresentar possíveis soluções.

Surgiu então, vinda do exterior, uma Educação Física que parecia atender

às necessidades de desenvolvimento das habilidades básicas naturais da criança,

sem envolvê-las num processo precoce de iniciação esportiva. Era a

psicomotricidade.

A finalidade da psicomotricidade era a de trabalhar o indivíduo integral, em

sua totalidade, sendo que seu processo de apreensão do conhecimento se dava

através do ensino pelo movimento. Esse método também sofreu algumas críticas,

como de Bracht (1992, p 27), que diz que o ensino pelo movimento apenas

instrumentaliza o mesmo para as “tarefas fundamentais da escola”.

A diferença das duas críticas (ou tendências), portanto, é que a primeira

apenas apontava a negatividade de seus aspectos, sem propor soluções e/ou

sugestões, enquanto que a segunda, apresentava uma nova perspectiva

metodológica para substituir aquela que era usada até então.

O processo de ensino da Educação Física passa, a partir dai, por diversas

fases e discussões, com lançamentos de várias bibliografias, as quais tratam de

metodologias e concepções teórico-práticas, para serem aplicadas nas escolas.

Mas, bem antes dessas críticas, o esporte já vinha se tornando o carro-

chefe da Educação Física Escolar, começando pelo período Pedagogicista e,

principalmente, pelo Competitivista, onde o esporte de alto nível encontra seu

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espaço, com especial destaque e importância para o Estado, dentro da Escola. A

Educação Física passa a ficar, segundo Peres (2005, p. 58), “...reduzida a sua

forma de ensino pelo viés do desporto de rendimento”.

Durante este período a Educação Física tomou outros aspectos como fatores importantes dentro da escola sendo um deles, a seleção do atleta praticante de esportes de alto nível. O esporte se tornou a matéria-prima da Educação Física, meio por onde era possível descobrir os talentos esportivos capazes de representarem muito bem o país no exterior e trazer as tão sonhadas medalhas olímpicas (PERES, 2005, p. 58).

Fica evidente, pela narrativa do autor, a concepção metodológica adotada,

a qual retrata o período histórico brasileiro compreendido entre o estado novo e o

golpe militar, que instituiu a ditadura militar no Brasil. Apesar de muito tempo ter

passado, ainda hoje, encontramos ecos dessa metodologia, em muitas escolas de

nosso país.

Para Hurtado (1983, p. 195), o ensino deveria partir sempre das

experiências e conhecimentos que o aluno trás consigo. Dessa forma, a distância

entre sua cultura e o conhecimento sistematizado a ser apreendido, não seria tão

grande, estimulando-o a se interessar em aprender.

Considera também, que cada aluno é um ser distinto, por isso deve ter suas

necessidades, interesses e aptidões respeitadas, para que possa desenvolver

toda sua potencialidade, sendo a Educação Física na escola, a disciplina que

reúne as melhores condições para esse desenvolvimento.

Podemos compreender com essas afirmações, que a verdadeira

metodologia, enquanto prática pedagógica deve levar em conta também esses

aspectos, ou seja, a totalidade dos fatos que interferem no processo de ensino,

para que se tenha uma educação justa, livre e democrática.

Metodologia do ensino é “o conjunto de procedimentos didáticos, representados pelos seus métodos e técnicas de ensino, que visam levar a bom termo a ação didática, que é alcançar os objetivos do ensino e, consequentemente, da educação, com o mínimo de esforço do ensino e o máximo de rendimento.” (Nérici, apud HURTADO, 1983. p.196).

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A discussão metodológica entre teoria e prática pedagógica, se arrasta por

décadas e, o que temos visto ao longo dos anos, é uma grande multiplicidade de

concepções metodológicas, que fazem com que a Educação Física Escolar ainda

não tenha encontrado sua real definição, enquanto uma prática pedagógica, num

sistema educacional que também não sabe se quer formar cidadãos ou apenas

atletas.

Há que se pensar numa educação Física que questione essas posturas, que

quebre paradigmas, tomando atitudes mais críticas com relação a essas

realidades e, sem dúvidas, esse processo de mudanças deve passar por uma

grande reflexão junto à formação do profissional de Educação Física.

Essa reflexão, contudo, não significa que devamos abandonar, jogar fora o que

foi elaborado ao longo dos anos, pelo contrário, é com uma análise crítica dessas

posturas, que se vão construir novos conceitos. Não se pode esquecer que a

história de uma prática pedagógica é construída por fatos sociais, os quais formam

uma cultura, que por sua vez, não se modifica da noite para o dia, como mágica,

num estalar de dedos.

MATERIAL PEDAGÓGICO PRODUZIDO

A presente pesquisa produziu um material pedagógico para utilização pelos

professores participantes do Grupo de Trabalho em Rede – GTR, sobre o

conteúdo estruturante “Lutas”, mais especificamente, sobre o ensino da Capoeira

Escolar, nas aulas regulares de educação física, composto por um breve histórico

da Capoeira, como base de sustentação teórica para o estudo e análise da

realidade social do negro no Brasil, compreendendo toda sua trajetória, desde a

África, passando pelo período da escravidão, quando foi necessária a criação da

Capoeira e a formação de toda a cultura afro-brasileira, até os dias de hoje.

Também inclui um estudo sobre os elementos que justificam a inclusão da

capoeira na educação física escolar, propostas de atividades e pesquisa, entre

outros, como descrito a seguir.

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Capoeira: Um Pouco de sua História

Luta, dança, jogo, manifestação cultural de um povo sofrido e injustiçado,

que teve seu direito à liberdade caçado pela cobiça e prepotência de uma

sociedade preconceituosa e desumana.

Os povos da África foram trazidos à força para o Brasil, com o objetivo de

serem escravizados e, portanto, trabalharem, produzirem riquezas sem serem

pagos pelos serviços prestados. Não bastasse a violência de terem suas famílias

sendo separada pela escravidão, também sua cultura tentou-se escravizar,

impondo-os novos conceitos de sociedade, religião, costumes alimentares,

vestuários entre outros. Para aqueles “indomáveis”, que não aceitavam a

escravidão, eram castigados violentamente, tanto de forma física como moral.

Alguns fugiam e eram caçados como animais pelos Capitães do Mato, os quais

eram bem armados.

Diante dessa nova situação, os africanos, advindos principalmente da

Nigéria e Angola, mantinham suas tradições e culturas através de atos

disfarçados. Seus rituais religiosos foram transformando-se lentamente em festas,

onde havia a possibilidade de tocarem seus batuques, orar em forma de dança

para seus deuses – orixás – que, diga-se de passagem, foram associados aos

santos católicos para serem adorados de maneira mais livre e aberta.

Como forma de se defender dos ataques dos Capitães do Mato surgiu

então entre os negros, uma luta disfarçada de dança, na qual os pés moviam-se

de forma rápida, com muita agilidade, descrevendo movimentos acrobáticos de

equilíbrio e força.

Essa “Dança” foi sendo difundida rapidamente, sendo praticada e treinada

nas senzalas das fazendas, enquanto isso, as fugas e revoltas dos negros

aumentaram, ao mesmo tempo em que foram se fortificando, se organizando e

vencendo os Capitães do Mato com o próprio corpo. Os senhores de engenho

percebendo isto, passaram a proibir o treino da capoeira entre os escravos. Estes

tiveram, então, a idéia de disfarçar a capoeira para que pudessem exercitá-la,

incluindo a música como uma encenação e a coreografia que hoje conhecemos

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por dança afro, como a ginga da luta. Com isso, os escravos puderam se exercitar

até mesmo na frente de seus senhores sem que estes percebessem. Dessa

forma, a capoeira conseguiu sobreviver até a libertação dos escravos,

constituindo-se em peça de fundamental importância nas rebeliões negras.

Sua origem e denominação variam de acordo com literaturas da época,

sendo registradas em livros como o do Padre José de Anchieta (A Arte da Língua

Mais Usada na Costa do Brasil – 1595), onde é narrado que “os índios Tupi-

Guaranis divertiam-se jogando capoeira”. Guilherme de Almeida e Martin Afonso

de Souza (Silva – 1995), também registraram observações sobre o jogo da

capoeira entre os índios. Através dessas literaturas e de outros estudos da língua

indígena, chegou-se à origem da palavra capoeira, que, de acordo com Marinho

(Silva - 1995), vem do Tupi-Guarani “Caá + Puéra”, no qual Caá significa “mato” e

puéra do sufixo do pretérito nominal “que foi e já não é”, ou seja, a “mata extinta,

mato ralo, mato cortado”.

Além de ser praticada camufladamente nas fazendas, os escravos

utilizavam as clareiras das matas para treinarem essa luta, daí a denominação de

“Capoeira”, pois não era difícil de se ouvir falar que: “O negro fugiu para a

capoeira”, ou “Peguei os escravos vadiando na capoeira”. A associação dessas

frases com os movimentos que os brancos os viam executar, acabou por batizar

aquela manifestação, definitivamente como a conhecemos até hoje.

Muitos estudiosos pesquisaram e continuam pesquisando sobre a origem

da capoeira, preconizando e atribuindo sua criação como sendo genuinamente

brasileira, entre eles, um professor austríaco chamado Gerhard Kubic (Silva –

1995), o qual sempre estranhou o fato de ser chamada Capoeira de Angola, pois

não existe nada naquele País que se assemelhe ao fato. Waldeloir do Rego

(1968), afirma que a Capoeira foi criada no Brasil pelos negros africanos, posição

reforçada por Edson Carneiro (1936), que diz que “a Capoeira de Angola é assim

denominada porque era praticada pelos negros de Angola em seus rituais

místicos, utilizando inclusive instrumentos de percussão para embalar sua ginga e

seus saltos”. Câmara Cascudo registrou que os povos Banto-Congo-Angoleses

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tinham em seus rituais, danças litúrgicas cujos ritmos eram semelhantes, sendo

transformadas depois em luta.

Após a libertação dos escravos, ocorreu a imigração de europeus para o

Brasil, o que levou os escravos a ficarem sem emprego. Para sobreviver, muitos

passaram a usar a capoeira para cometer crimes horrendos. Foi surgindo com

isso, os Maltas, que começaram a assaltar e a servir partidos políticos como cabos

eleitorais armados de facas, navalhas e porretes, no qual eram imbatíveis,

praticando desde as desordens até assassinatos políticos.

Devido a isso, a capoeira passou a ser mais perseguida e proibida pelo

Código Penal de 1890, tendo que sobreviver precariamente. Com a repressão da

prática da capoeira, outras lutas e artes marciais orientais ganharam espaço,

dentre as quais o jiu-jitsu, o judô, o karatê, o aikidô e o tae-kon-dô. Além daqueles

que usavam a capoeira de forma errada, havia também grandes mestres que

amavam a capoeira e foram estes que deram a sua continuidade. Dentre estes

mestres destacam-se o Mestre Pastinha e o Mestre Bimba. Este último, por volta

de 1932, fundou a primeira Academia de Ensino de Capoeira, dando-lhe com isso

maior ascensão social.

A Capoeira, ao longo de sua existência, foi encarada pela sociedade como

agressiva, violenta, marginal, praticada por ociosos e vagabundos. Essa rotulação

é histórica, como vimos no período da escravidão e pós-escravidão, perpetuando-

se pelo mau uso que alguns praticantes fizeram desta arte, em atitudes como do

personagem “Firmo” de O Cortiço (Aloísio de Azevedo), que para defender-se de

adversários e de seus rivais amorosos, colocava uma navalha entre os dedos do

pé e, a cada golpe de pernas, feria com cortes profundos os seus oponentes.

A historicidade da capoeira persiste, porém seus conceitos originais voltam

a ser discutidos e trabalhados de forma teórica e prática, nas Academias, Escolas

e Universidades, com o objetivo de resgatar e resguardar a importância cultural

desta manifestação, como parte importante de nossa história, mostrando aos

jovens e a sociedade em geral, toda uma filosofia centrada no equilíbrio físico,

mental e emocional, combatendo a violência e preconizando a paz e harmonia

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entre os vários segmentos da sociedade, lembrando o que Marcos Vale disse: “...

o mesmo pé que dança o samba, se preciso, vai à luta capoeira...”, ou seja, o

grande mérito de quem conhece e domina a arte da capoeira está em não se

exibir e sim, utilizá-la com respeito, camaradagem e consciência, repetindo e

lembrando sempre seu juramento: “Mestre, eu juro aprender a Capoeira, somente

para a minha defesa pessoal e só fazer uso, quando a minha vida estiver em

jogo”, não deixando que maus exemplos contaminem e destruam esta página tão

sofrida e rica da História brasileira.

Pode-se dizer que a capoeira foi criada no Brasil e mesmo que seu

tratamento seja o folclore, coisa de povo, costume com trezentos anos de

existência, prática diária de resistência, repositório de tradições seculares, a

capoeira é, também, fator de transformação social, de conscientização pessoal,

sutil, questionadora e modificadora da estrutura política e econômica que

massacra os menos afortunados.

A Educação Física e a Capoeira na Escola

O desenvolvimento do educando é verificado através de seu

comportamento, de suas atitudes na sociedade e diante de si mesmo. É claro que

“o comportamento exterior, aquele que se pode observar, nem sempre reflete o

estado de espírito, o que se passa no interior do indivíduo, apesar de algumas

tendências considerarem que o homem exterior teria inspirado a criação do

homem interior” (Shigunov – 1991). De qualquer forma, o ambiente em que

vivemos colabora significativamente na mudança de comportamentos, sejam eles

internos ou externos.

A partir do momento em que há o interesse por determinada prática,

considerando-se aqui a capoeira, e esse interesse demonstra uma mudança de

atitudes e valores, segundo Shigunov (1991), através do domínio afetivo, que é

constituído pelos comportamentos observáveis nos diversos estágios emocionais,

o educando se colocará de maneira mais aberta, expressando mais livremente os

seus sentimentos.

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Mais uma vez se constata a importância de utilizar o jogo da capoeira como

elemento viabilizador das intenções de socialização e desenvolvimento afetivo do

educando, transformando-o em protagonista de sua própria história e não em um

mero coadjuvante.

Isso quer dizer, que tudo o que se faz deve ter um sentido, um significado e,

em se tratando de educação e ainda, de Educação Física, não se pode ignorar o

fato de a aprendizagem levar em conta os aspectos motores, cognitivos e afetivo-

sociais do indivíduo, porém, trabalhados em conjunto, como um todo e não

fragmentados.

A Capoeira, inserida na Escola através dos pressupostos da Educação

Física, encaixa-se perfeitamente em todos os aspectos que a norteiam, pois, além

de ter um sentido para tudo o que é feito dentro de sua prática, ela também foi

concebida a partir de fundamentos que permitem esse desenvolvimento no

educando, daí a razão para Mestre Xaréu ser um grande defensor da capoeira na

escola, pois ele acredita na sua prática dentro de um sistema globalizado, aberto,

dinâmico, que estimule a criatividade, integrando-se com a proposta pedagógica

da escola.

Mestre Xaréu (Campos – 1996), diz ainda ser a capoeira, um método de

ginástica genuinamente brasileira, porém, para que a mesma não perca sua

identidade, deve-se trabalhá-la em suas diversas formas:

- Capoeira luta;

- Capoeira dança e arte;

- Capoeira folclore;

- Capoeira educação;

- Capoeira como lazer;

- Capoeira como filosofia de vida.

Para que o aluno possa vivenciar todo esse contexto da capoeira, o

professor deverá, no decorrer do processo de ensino-aprendizagem, trabalhar a

seqüência dos fundamentos, o jogo, o toque dos instrumentos e o canto, como

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forma de estimular, motivar e envolvê-los de uma forma mais natural com a

capoeira.

Santos apud Campos (1996), justifica a capoeira na escola de 1º grau (hoje,

Ensino Fundamental), pelo fato dela trazer certa ordem social para os alunos,

envolvendo os aspectos afetivos e emocionais, ordem cultural por trabalhar o

folclore historicamente construído, ordem econômica por não necessitar de

instalações especiais para sua prática e, finalmente, ordem pedagógica, pois

trabalha recreativamente, despertando o lado artístico e a criatividade, através da

expressão corporal.

Ainda defendendo a capoeira na Educação Física da Escola, Campos

(1996), ou, Mestre Xaréu, cita um trabalho científico do professor Evilázio de

Azevedo, da Academia de Polícia Militar de Salvador que, em 1973, realizou um

teste de Cooper com seus alunos, obtendo significativos resultados. Submeteu

seus alunos a um treinamento somente de capoeira durante sete semanas. Após

este período, realizou novos testes e concluiu:

“... podemos afirmar que, efetivamente, atingimos nosso objetivo que era o de comprovar que a capoeira é realmente, um excelente meio de desenvolver a aptidão física geral de seus praticantes...”(CAMPOS, 1996, pág30).

Contextualizando a Capoeira

Desde sua criação, a capoeira tem atravessado por fases distintas, sendo

definida como dança, luta, jogo, manifestação místico-religiosa, sempre atendendo

a propósitos definidos, ora por seus praticantes, ora pela ideologia da classe

dominante do período vivido, a qual sempre teve por objetivo a manutenção e a

conquista do poder.

Desde que surgiu como forma de repressão aos brancos pela escravidão,

passando pela marginalidade dos guarda-costas políticos e eleitorais do final do

século XIX, pela obscuridade dos “leões de chácara” dos cassinos e cabarés do

Rio de Janeiro, os quais se fundem com a própria história da malandragem

carioca do início do século XX, até chegar às academias, escolas e Universidades

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dos dias de hoje, é que se busca mostrar a importância de sua prática, como

riqueza histórico-cultural de um país que, apesar de formado por uma grande e

diversificada mistura de raças, possui em suas raízes, traços fortes da cultura

negra africana.

Assim como a Educação Física Escolar brasileira busca a cada dia

repensar sua atuação, para transformar sua fundamentação teórica e filosófica em

uma prática científico-pedagógica, com o objetivo de encontrar definitivamente a

sua verdadeira identidade, este trabalho também objetiva re-estudar a prática da

capoeira, encontrando para ela, o espaço que merece como riqueza cultural e de

expressão humana.

Pretende-se então, democratizar este conhecimento através da difusão da

capoeira dentro da escola, como prática regular da Educação Física, dentro de

uma metodologia que propicie aos educandos de todas as faixas etárias, classes

sociais, credos religiosos e etnias, uma maior e melhor integração, objetivando

uma redução nas distâncias sócio-culturais institucionalizadas por essa sociedade

capitalista e injusta em que vivemos.

Quer-se demonstrar então, que é possível melhorar o desenvolvimento

afetivo, cognitivo e motor do educando, através do jogo/dança da capoeira, assim

como a contextualização de sua história e de seus fundamentos.

Perspectiva Interdisciplinar

Santos e Oliveira (2001), abordam a importância da inclusão da capoeira na

Educação Física Escolar, expondo os vários aspectos que justificam essa

inclusão, como por exemplo: a origem afro-brasileira e toda a sua expressão

cultural; o seu surgimento através de uma luta de classes; o combate a códigos

culturais dominantes, entre outros.

Outros aspectos apresentados são as múltiplas formas que a capoeira pode

ser explorada, ou seja, como forma de luta, dança, jogo, arte, esporte, educação,

lazer e o folclore, sempre trabalhando interdisciplinarmente, integrando-se com as

outras disciplinas incluídas na proposta pedagógica da escola.

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Como parte integrante no processo de inclusão da Capoeira na Escola, até

mesmo para atender ao disposto na Lei nº 10.639/2003, sobre o ensino da

temática “História e Cultura Afro-Brasileira” nas escolas públicas e particulares do

Brasil, faz-se necessária uma conduta interdisciplinar da Educação Física, com as

demais áreas do conhecimento, como por exemplo, a disciplina de História, pois é

de sua competência os estudos e análises de todo o contexto social, político,

econômico da vida dos povos africanos; a Geografia, pela importância em se

conhecer sobre as regiões de origem na África e os destinos a que foram levados

aqui no Brasil; a disciplina de Artes, pois, dentre tantos itens, podemos conhecer

melhor sobre a música, indumentária cotidiana, artesanato; a Biologia, que nos

proporciona estudos sobre as características físicas e biológicas dos africanos; a

Língua Portuguesa também é fundamental, pois possibilita uma melhor

contextualização sobre o tema.

Esses são apenas alguns exemplos de como podemos explorar um tema

tão vasto e rico de nossa cultura. Outras sugestões serão sempre bem-vindas,

pois, o mais importante de tudo, é darmos a possibilidade aos nossos alunos, de

terem acesso a toda a forma de conhecimento, principalmente quando este, está

intimamente ligado a sua história, a sua cultura.

Atividades para Investigação

A Capoeira, por tudo o que significa, poderia ser trabalhada, a nível escolar, até mesmo como uma disciplina, tamanha sua riqueza, em termos de história, cultura, arte, folclore, motricidade humana, entre outros.

Por essa razão, sugerimos aos professores, a ampliação desses conhecimentos, através da busca por mais informações, tais como:

1 – Em relação aos povos africanos, trazidos ao Brasil para serem escravizados, eram habitantes de tribos, comunidades rurais, cidades? 2 – E a classe social desses povos? Como viviam? 3 – Como era ensinada a Capoeira, antes de Mestre Bimba sistematizar uma metodologia para esse fim? 4 – O que dizem os Psicólogos, Pedagogos, Educadores, a respeito da influência da Capoeira inserida regularmente na Escola, com relação à aprendizagem, comportamento e socialização?

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Proposta de Atividades

A metodologia de ensino preconizada por Mestre Bimba, coloca esse processo organizado, a partir de uma seqüência, que combina golpes de ataque com golpes de defesa.

Partindo desse pressuposto, gostaria de propor uma pequena seqüência, simples e básica, para quem desejar iniciar com o Ensino da Capoeira na Escola.

Atividade 1: Fundamentos Básicos da Capoeira 1 - Ginga: Principal Fundamento; é a alma da Capoeira; sem aprender a ginga, não há jogo. - Exercícios: a. Demonstrar qual letra é descrita no solo ( X ), com os pés, quando executamos a ginga. b. Espelho: dois a dois, frente a frente. 2 - Cocorinhas: Movimento básico de defesa. - Exercícios: a. Agachado, planta dos pés totalmente em contato com o solo; apoiar as mãos no solo entre as pernas e por fora; alternar. b. Idem, apoiando uma das mãos no solo ao lado do corpo e a outra, protegendo o rosto; 3- Exercícios Combinados: Repetir os movimentos da Ginga e do cocorinhas, juntos, para memorização; 4- Aú: Movimento acrobático bastante conhecido. Assemelha-se à roda (estrela) da ginástica de solo. - Exercícios: a. Apóiam-se as duas mãos no solo, lateralmente, elevando as pernas para cima. Um colega limita, com as mãos, a altura em que as pernas são elevadas. Executar para os dois lados. b. Idem, sem o colega auxiliando. 5- Exercícios Combinados: Repetir os exercícios do item 3, acrescentando o Aú. 6- Meia-Lua de Frente: Movimento de ataque caracterizado pelo lançamento da perna, por sobre o oponente, descrevendo um giro, no sentido de fora para dentro. - Exercícios: a. Posição inicial da ginga; realizar com a perna posicionada atrás, um giro de 180º à frente do corpo, no sentido de fora para dentro;

b. Idem, com a outra perna;

c. Idem, chutar a mão do colega.

7- Exercícios Combinados:

- Ginga/Aú/Meia-Lua de Frente /Cocorinhas (individual; dois a dois)

8 – Queixada: Movimento de ataque caracterizado pelo lançamento da perna, por sobre o oponente, descrevendo um giro, no sentido de dentro para fora. - Exercícios:

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a. Perna esquerda à frente e direita atrás; perna direita lançada à frente e ao alto, descrevendo um círculo de dentro para fora, voltando à posição inicial. Repetir várias vezes, com ambas as pernas. a. Idem ao exercício anterior, incluindo agora, a ginga. 9 – Exercícios Combinados: - Ginga/Aú/Meia-lua de Frente/Cocorinhas/Queixada/Cocorinhas - Ginga/Aú/Meia-lua de Frente/Queixada/Cocorinhas 10 – Bênção: Movimento de ataque, onde o capoeira lança seu pé de encontro ao seu oponente, num movimento de flexo-extensão da perna, com o pé em flexão, como se quisesse mostrar a sola, para o companheiro de jogo. 11 – Exercícios Combinados: - Ginga/Aú/Ginga/Bênção (individual) 12 – Cadeirinha: Movimento de defesa,onde o capoeira se agacha, mantendo-se apoiado na planta dos pés, juntando suas mãos à frente do rosto, palma com palma, porém com um pequeno afastamento, descrevendo a figura da letra “U”. 13 – Exercícios Combinados: - Ginga/Bênção/Cadeirinha (individual; dois a dois) - Ginga/Aú/Bênção/Cadeirinha (dois a dois) - Ginga/Aú/Meia-lua de Frente/Cocorinhas/Queixada/Cocorinhas/Bênção/Cadeirinha Atividade 2: Pesquisa e Descoberta 1 – Propor aos alunos que descubram outros golpes, tanto de ataque como de defesa, para serem trabalhados; 2 – Indicar pesquisa aos alunos, sobre a música de Capoeira; como são as melodias e o que dizem as letras; 3 – Após a pesquisa sobre música, indicar aos alunos, de forma individual, em duplas ou em trios, que componham suas músicas, de acordo com temas referentes à Capoeira.

. Atividade 3: O Ensino da Técnica e a Avaliação 1 – O ensino da técnica de cada um dos movimentos da Capoeira, deve ser preservado, de acordo com sua origem, até mesmo em respeito ao contexto em que foram criados. 2 – Quanto à avaliação, a proposta é que a mesma seja flexível o suficiente, porém, sem descaracterização dos movimentos, mas, dando liberdade para que os alunos possam se expressar, de acordo com a leitura que cada um fez daquilo que aprendeu. A criatividade e a improvisação são fundamentais na Capoeira.

APLICAÇÃO DO PLANO DE ENSINO (ainda por transcrever)

Os resultados obtidos pelos professores, na aplicação do projeto em suas

escolas, no que diz respeito à aceitação por parte do aluno, do corpo docente da

escola e da comunidade em geral, foram extremamente positivos. Os aspectos

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negativos ficaram por conta da falta de experiência e de conhecimentos sobre o

tema, o que gerou alguma insegurança, porém, todos ultrapassaram seus

obstáculos, gerando relatos que vão desde a formação acadêmica, metodologias,

técnicas e estratégias de ensino, os quais destaco em suas narrativas originais,

resguardando as identidades de cada profissional participante, representados

aqui, por letras. O professor “M”, diz que “Em minha vida profissional, apenas

recentemente acrescentei o conteúdo Lutas em meus planejamentos. Entendo

que a dificuldade que sinto tem origem em falhas ocorridas na minha formação

acadêmica que tratou do assunto de maneira superficial e resumida (as

discussões e apresentações sobre o assunto não passaram de 1 mês).

Para atender ao tema, aos poucos fui agregando jogos com um caráter mais

combativo como por exemplo "cabo de guerra", "briga de galo", entre outras

dinâmicas de contato, que utilizam esquivas, giros rápidos, perda e recuperação

do equilíbrio corporal, movimentos de explosão muscular, entre outros, mas sem

trabalhar alguma tipo específico de arte marcial. Além dessa movimentação

diferenciada, a capoeira , assim como as outras lutas, são contempladas em sala

de aula, por meio de textos e imagens que ilustram movimentos específicos.

Entendo que as vivências sobre esses temas seriam mais completas com a

experimentação dos movimentos de cada luta, incluindo a capoeira, mas

reconheço que me falta uma vivência corporal mais direcionada para isso. Por

outro lado, tento compensar essas limitações oferecendo uma combinação com

outros movimentos gerando uma nova “coreografia” de luta.” A professora “Z”, já

havia trabalhado anteriormente com a capoeira e expôs sua experiência, dizendo

“...realizei trabalhos com a capoeira e os resultados vejo até o presente, pois

ainda tenho alunos que ainda praticam esse esporte com muito orgulho do que

aprendeu, a minha cidade é muito pequena com apenas 4.800 habitantes e em

todas as datas comemorativas é apresentada a capoeira, e sinto-me orgulhosa

disso. Recomecei o trabalho com os alunos do ensino médio; utilizei a sua

metodologia que se assemelha com a que antes trabalhava, hoje temos um toque

de tecnologia ao alcance de quase todos por intermédio da escola e isso favorece

no momento da pesquisa, então como já foi exposto, estou retomando as

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metodologias anteriores e acrescentado as suas idéias, com o objetivo de

despertar o interesse pela história e pela prática.” A professora “G”, além de

demonstrar sua experiência, também relatou sua metodologia, com alunos de 5ª

série: “Levei 3 aulas, pois só dei uma noção da capoeira. Na primeira aula contei

um pouco da história da capoeira e coloquei algumas músicas de capoeira (o cd,

como o berimbau, o atabaque, o caxixi eu trouxe da Bahia em uma viagem que fiz)

e mostrei os objetos. Na segunda aula, comecei a ginga. No 1º momento, trabalhei

um pega-pega simples, sempre utilizando as músicas da capoeira de fundo.

Depois demonstrei a ginga e fizemos todos juntos. Fiz uma atividade onde todos

deveriam se movimentar pelo local e, ao sinal da música deveriam parar e gingar

no lugar. No 2º momento, coloquei os alunos de dois em dois e pedi para fazerem

a ginga. E para finalizar a aula fiz a roda e jogamos a capoeira só com a ginga. Na

terceira aula, o objetivo era o movimento da cocorinha e meia lua de frente. Nessa

aula tive auxílio de alguns alunos que fazem aula de capoeira. Primeiro comecei

com o pega-pega onde os alunos que fossem pegos precisavam agachar e para

serem salvos, um colega precisava passar a perna por cima da sua cabeça

(exercício já pensando nos movimentos a serem aprendidos). Depois com a

demonstração dos alunos fizemos o movimento da cocorinha e em seguida o da

meia lua. Fizemos a ginga, cocorinha e meia lua em dupla e no final fizemos a

roda para executarmos os movimentos. Fiquei um pouco insegura, mas acredito

que foi uma experiência válida e os alunos participaram e gostaram.” A professora

“E” foi mais sucinta em seu relato, citando que “Foram feitas várias aulas com

mestres de capoeira e o rendimento foi excelente! Porém, sem a ajuda dos

mesmos acredito que seria difícil o trabalho com esses alunos! Através desta

experiência, percebi que é possível trabalhar com o conteúdo lutas na escola,

contudo com profissionais capacitados e experientes! Quanto à professora “C”,

além de elogiar o OAC produzido, como um dos materiais mais completos que já

havia visto, destaca que “O tema me desperta a atenção, pois a capoeira além de

toda história que possui, de tudo o que representa para nós brasileiros, é também

um assunto que desperta o interesse dos alunos, logo, uma brecha para

introduzirmos. Confesso também que tenho dificuldade em trabalhar a prática da

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capoeira com os alunos, e após a leitura do seu OAC muitas idéias me surgiram,

vamos ver se colocamo-nas em prática...” O professor “F” inicia seu relato,

dizendo “ minha experiência foi com o 1º ano do EM, 2 aulas trabalhamos a

história da capoeira, 2 aulas trabalhei com algumas letras de músicas, formamos

grupos e cada grupo compôs a sua música, cantando para a turma, nas outras

aulas começamos a parte prática, ginga, instrumentos, golpes, roda, 2 aulas para

praticarem, somente com o som de cd. Já nas 2 aulas seguintes as duplas que

foram formadas na aula anterior, começavam a aula demonstrando a seqüência

de golpes ensaiados por eles durante a semana; para finalizar o conteúdo, na

semana seguinte todos deveriam participar da grande roda, entrando primeiro as

duplas, em seguida ficava livre. Toda aula tinha uma avaliação no final,

diagnóstica e contínua, sendo 2 pontos por aula, participação envolvimento,

pratica... este conteúdo foi desenvolvido em um bimestre...” A professora “H” foi

bastante sincera com relação a sua realidade, citando “primeiramente gostaria de

reafirmar que achei interessante sua proposta. Quanto a se colocar em prática em

nossas aulas , gostaria de dizer que trabalho com o ensino fundamental (5ª e 6ª

séries), vejo que sua proposta é feita em cima do ensino médio. No entanto por

ser uma atividade que tem suas origens culturais afrodescendentes e que hoje faz

parte das propostas a serem trabalhadas já no ensino fundamental, considero que

o assunto possa ser trabalhado já nestas séries em função dos conhecimentos

que tenho e dos que obtive com sua colaboração e dos previstos no planejamento,

usando a seguinte metodologia: Passar um breve histórico com explicações para

os alunos (utilizando xerox ou folhas mimeografadas, ou ainda utilizando-se do

quadro de giz, 01 aula teórica); Verificar se existe algum aluno das minhas turmas

que jogam capoeira e pedir para que demonstrem em uma aula prática; Verificar

com estes alunos que jogam capoeira, se existem alguns movimentos que os

outros possam imitá-los com segurança dentro de suas possibilidades, e que

possam ser realizados; Com a ajuda dos praticantes, fazer uma aula prática com

os demais alunos.” Em mais um relato interessante, a professora “R” diz que,

“Primeiramente, solicitamos aos alunos uma pesquisa sobre os aspectos gerais da

capoeira. Em seguida, fizemos com cada turma uma discussão e algumas

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abordagens sobre o tema, momento em que os alunos tiveram oportunidade de

expor seu aprendizado e suas experiências práticas sobre o mesmo. Como não

tínhamos conhecimento prático sobre o tema, solicitamos aos alunos que já

haviam praticado capoeira que demonstrassem na prática seus conhecimentos. A

partir dos conhecimentos trazidos pelos alunos, nós professores fomos

direcionando, juntamente com os alunos os movimentos e as etapas da capoeira.

Através da motivação dos alunos, os mesmos, trouxeram instrumentos para as

aulas e participaram da roda, do ritmo e dos golpes de forma espontânea de

acordo com o conhecimento e a habilidade de cada aluno. Na finalização do

projeto convidamos um grupo de capoeiristas que fizeram uma apresentação e em

seguida eles convidaram os alunos para interagirem com o grupo. Como em todas

as modalidades encontramos alunos que fizeram resistência em relação a alguns

movimentos e golpes propostos.” O relato da professora “J”, diz o seguinte: “Bom,

o conteúdo foi dado teoricamente, comentado.Os alunos pesquisaram também

sobre o tema proposto.Na prática fizemos uma roda, e também comentamos e

debatemos na roda para melhor interação com os demais. Foram demonstrados

movimentos básicos e gingado na roda, com duplas, cada um que tinha mais

habilidade pegava um aluno com mais dificuldade. E assim foi se desenrolando e

os alunos se soltaram, outros não queriam de jeito nenhum, mais no final,

tentaram para experimentar. No final teve apresentação do grupo convidado. Foi

legal e aproveitador!!!”

Durante o transcorrer da aplicação do plano, outros relatos também foram

surgindo, inclusive de professores que ainda não haviam iniciado a aplicação

devido a insegurança pela falta de domínio prático dos conteúdos, mas que a idéia

tinha tido boa aceitação pela escola e que estariam se preparando melhor,

montando projetos para por em prática as atividades propostas.

ANÁLISE DA PESQUISA

O questionário proposto pela pesquisa visou levantar dados sobre a

metodologia de trabalho dos professores da rede pública estadual de ensino, em

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seus diversos aspectos, como plano de aula, métodos e estratégias, avaliação,

motivação, entre outros. Os relatos são aqui apresentados, de forma qualitativa,

sintetizando as respostas apresentadas pelos pesquisados.

QUESTIONÁRIO

1 – Como é o seu planejamento de aula (diário, semanal, mensal, bimestral...)?

- Todos os entrevistados responderam como sendo anual o planejamento principal, porém, com revisões bimestrais, ajustes por semana e até mesmo diariamente, de acordo com a resposta dos alunos. 2 – Como é dividida a aula?

- Com relação à parte técnica, todos os entrevistados respeitam a seqüência de aquecimento, parte principal e relaxamento, sendo também consenso, discussões e debates sobre o conteúdo das aulas e seus objetivos. Isso pode ocorrer no início, no final de cada aula, ou até mesmo, na aula seguinte.

3 – Como são dadas as orientações a respeito dos conteúdos?

- As orientações são dadas através da teorização dos conteúdos, de sondagens, explanações do professor e troca de experiências com os alunos, antes do início da prática. As dúvidas são sanadas durante as práticas.

4 – O professor aceita e/ou pede a opinião aos alunos antes ou durante a

atividade?

- A resposta a essa questão foi unânime: Sim! A participação dos alunos é muito importante, em todos os momentos da aula, principalmente na troca de experiências entre os mesmos.

5 – Existe um momento de discussão a respeito do conteúdo abordado na aula?

- A opinião dos professores também é unânime no que diz respeito à importância da participação do aluno em questionamentos, sugestões e críticas, independente do momento em que a aula esteja, ou seja, sempre que for necessário.

6 – Como age com aqueles alunos que não querem fazer aula?

- Em geral os professores conscientizam os alunos sobre a importância da prática, estimulando-os a participarem, inclusive com atividades alternativas. Nos casos em que o aluno se recusa a participar, é cobrado trabalho ou relatório e, por vezes, descontada a nota da prática.

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7 – Que metodologia (s) utiliza na aplicação dos conteúdos? Por quê?

- Quanto à metodologia utilizada para a aplicação dos conteúdos, verificou-se certa confusão conceitual por parte dos professores pesquisados, pois as respostas foram as mais variadas possíveis, indicando tendências, conteúdos e estratégias, como metodologia. Assim sendo, para uma melhor compreensão das respostas, tornou-se necessário uma mudança de critérios para análise, sendo: - Metodologia enquanto Tendências: resposta de cinco (05) professores, citando as tendências Crítico-superadora, histórico-crítica, inclusiva e conceitual; - Metodologia enquanto Conteúdos: duas (02) respostas, explicitando a variação de conteúdos numa mesma aula: esportes, dança, xadrez, entre outros; - Metodologia enquanto Estratégias: Seis (06) professores indicaram essa resposta, exemplificando aulas com vídeos, nas salas, apostilas, palestras, excursões e visitas.

8 – Há diferenciação de metodologia, de acordo com o conteúdo trabalhado? Por

quê?

- A visão do professor nessa questão, também sofre certa distorção, pois as respostas, em sua maioria, atrelam a metodologia à socialização e principalmente aos conteúdos, demonstrando, mais uma vez, deficiências conceituais. - Sim, há diferenciação - 10 respostas; - Por que? - Conteúdos são diferentes - 08 - Socialização, estímulo e prazer - 02 - Não há diferenciação - 03 - Por que? - Mesma Metodologia - 03

9 – Nas estratégias metodológicas utilizadas, como fica o ensino da técnica?

- Todas as respostas indicam a importância da técnica, pois a mesma faz parte dos conteúdos, porém, numa visão geral da maioria dos professores, indicam um valor secundário no ensino da mesma, utilizando-se de jogos pré-desportivos e recreativos, por exemplo, para sua aplicação. Quando é considerada foco principal da aprendizagem, é feita de forma gradativa, de acordo com a faixa etária e o desenvolvimento natural do aluno. - Não ensinam técnica - 02 - Ensino gradativo da técnica - 03 - Ensino da técnica não é foco principal - 08

10 – Quais as formas de avaliação utilizadas? Por quê?

- A avaliação, enquanto técnica, teve maioria das respostas associada apenas à execução prática e teórica dos conteúdos, citando o desenvolvimento motor, participação, responsabilidade quanto a trabalhos, pesquisas e vistos no caderno,

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acreditando que, dessa forma, oferecem as mesmas oportunidades a todos os alunos, indistintamente de suas habilidades. Enquanto método, alguns poucos professores citaram a avaliação contínua (04) e a avaliação diagnóstica (02), independente de serem práticas e/ou teóricas, apontando ser mais importante, no primeiro caso, o desenvolvimento integral (global), do educando e, no segundo caso, compreender quais as aquisições que o aluno teve durante o período avaliado. Consenso nas respostas foi a preocupação em oportunizar formas e técnicas diferentes de avaliação, com o objetivo de respeitar as individualidades e capacidades de cada aluno.

11 – O que quer avaliar?

- As respostas, numa comparação entre Aluno X Professor, revelaram como maior preocupação e foco da avaliação (09), somente o aluno, sendo citada a avaliação também do professor, apenas em duas respostas. Dois professores não responderam a essa questão. Quanto ao conteúdo, a maior relevância dos professores à avaliação, fica por conta da aquisição do conhecimento, expresso sob diversas formas, valorizando não somente a prática, mas as demais formas de produção do conhecimento pelos alunos. Outras respostas significativas dizem respeito ao desenvolvimento do aluno nos aspectos de participação, interesse, responsabilidade e sociabilização. Avaliação enquanto conteúdo: - Participação/responsabilidade/interesse - 03 - Conhecimento (adquirido ou não) - 06 - Sociabilização - 02 - Sem resposta - 02 12 – E a técnica, como é avaliada? - Em geral a técnica não é avaliada, pois os professores não acreditam ser importante. Têm a visão de que nas aulas de Ed. Física todos os alunos tem o direito de participação, sem ser discriminados pela sua performance. A técnica não é muito relevante na avaliação, e sim o entendimento de como é feita; por exemplo, se o aluno não tem a técnica dos exercícios, mas sabe descrever como é feito, então esse aluno aprendeu o conteúdo. Quando a técnica é avaliada, ocorre na participação e desempenho dos alunos nas atividades, na ludicidade e na coletividade. 13 – Sente-se estimulado a planejar e aplicar suas aulas? Se não, por quê?

- Com relação ao estímulo, os professores foram unânimes em responder que sim, pois gostam e acreditam na educação física como meio pedagógico de formação do ser humano e transformação do meio social, assim como também, nos aspectos que, por vezes, os deixam desestimulados, ou seja, a falta de espaço

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físico nas escolas, falta de materiais, horários de dois ou mais colegas que se chocam, limitando os espaços de atuação, entre outros.

Fonte: Adaptações de: José Ângelo Garíglio – 2004

Antônio Marcos Diniz - 2007

CONCLUSÃO

Mais importante que discutir o ensino dos esportes e sua técnica ou não, na

educação física escolar, é compreender que o mesmo faz parte dos conteúdos da

disciplina e que, é através dele e das demais formas de movimento humano, que a

educação física se utiliza para atingir seus objetivos, ou seja, o de levar ao ser

humano o conhecimento teórico e prático de suas capacidades, possibilidades e

limitações, para torná-los cidadãos reflexivos diante de uma situação social que

possa vir a prejudicar os vários aspectos que envolvem sua qualidade de vida.

Trabalhar com o ensino dos esportes e suas técnicas e regras, não pode

ser confundido como esportivização, pois, se assim for, não se poderá trabalhar,

por exemplo, com o ensino das danças e lutas com suas respectivas técnicas, que

estaremos transformando a educação física numa atividade jazistica ou pugilista e

teríamos aulas como se estivéssemos em uma academia de dança ou de lutas, ao

invés de uma escola. Seria uma forma reducionista e demasiadamente

equivocada de conceituar os preceitos que regem nossa prática pedagógica

escolar.

Toda forma de movimento humano, cientificamente pesquisada ou não,

pode ser objeto de estudo e prática da educação física, sobretudo a escolar, pois

assim poderemos interligar e interagir melhor com a realidade de nossos alunos,

diminuindo distâncias sociais e aproximando os conhecimentos científicos e

acadêmicos, da cultura popular da comunidade a qual se pertence.

Quanto ao ensino da técnica, este pode e deve ser preservado, pois não

podemos privar nossos alunos do correto conhecimento sistematizado, porém,

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vale ressaltar, a variação deste ensino de acordo com os objetivos propostos, as

técnicas de ensino e, principalmente, a metodologia utilizada para tal.

Quanto ao processo avaliativo, a técnica ensinada deve ser considerada

como parte de um todo, pois se for analisada de forma isolada e específica, corre-

se o risco de estar avaliando a performance, o desenvolvimento do gesto técnico

como nas sessões de treinamento desportivo. A avaliação como um todo,

possibilita as mesmas oportunidades de acesso e domínio do conhecimento, seja

ele teórico ou prático, respeitando-se as possibilidades e limitações dos alunos, os

quais irão de fato se apropriar desse conhecimento, através da leitura e

interpretação que faz dos mesmos.

REFERENCIAIS BIBLIOGRÁFICOS

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