a biblioterapia e a biblioteca infantil de londrina
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II Encontro de Pesquisa em Informação e Mediação (II EPIM): anais. Marília: Linha de Pesquisa “Gestão, Mediação e Uso da Informação”; Londrina: Grupo de Pesquisa “Interfaces: Informação e Conhecimento”, 2015.
A BIBLIOTERAPIA E A BIBLIOTECA INFANTIL DE LONDRINA
Jeferson Abilio da Silveira
Instituto Federal do Paraná (IFPR)
Sueli Bortolin
Universidade Estadual de Londrina
RESUMO
Aborda a atuação do aplicador de biblioterapia, especificamente no Projeto “Livro é o Melhor Remédio”, realizado nas décadas de 1980 e 1990 pela Biblioteca Infantil de Londrina, em hospitais desse município. O Projeto objetivava narrar histórias para crianças acamadas e utilizava, além do suporte livro, fantoches, músicas, entre outros. Sua equipe era composta de funcionários da referida Biblioteca, em diversas formações, que levavam cultura, alegria e conforto às crianças. A metodologia desta pesquisa tem o foco qualitativo, é exploratória e para a coleta de dados foi aplicada a entrevista narrativa. Foram entrevistadas duas aplicadoras de biblioterapia e, com suas respostas, foi possível concluir que, apesar do desconhecimento do termo biblioterapia, na época, a equipe da Biblioteca Infantil de Londrina realizava, com vigor e com resultados positivos, um trabalho biblioterapêutico. A principal constatação disso foi que, posteriormente, muitas das crianças passaram a frequentar o espaço da Biblioteca.
Palavras-chave: Biblioterapia. Biblioteca infantil. Leitura em hospitais.
THE BIBLIOTHERAPY AND THE CHILDREN'S LIBRARY OF LONDRINA
ABSTRACT
Addresses the performance of bibliotherapy applicator, more specifically the Project “Book is the Best Meddicine”, held in the 1980s and 1990s by the Children’s Library of Londrina, in hospitals that municipality. The Project aimed to narrate stories for bedridden children and used in addition to the book support, pippets, music and
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more. His team consisted of said library staff in various formations leading culture, joy and comfort to children. The methodology of this study is the qualitative, is exploratory focus and data collection was applied to narrative interview. We interviewed two applicators biblioterapy and their responses it was conclude that, despite the lack of the term biblioterapy, then results one bibliotherapeutic work. The main finding of this was that, later, many of the children started attending the space of the Library.
Keywords: Biblioterapy. Children’s library. Reading in hospitals.
1 INTRODUÇÃO
Dentro da Biblioteconomia, a biblioterapia é a prática responsável por utilizar
o livro como intervenção terapêutica. Nessa vertente da profissão, o bibliotecário
desempenha o papel de aplicador de biblioterapia, selecionando não apenas livros,
mas todo tipo de textos que serão trabalhados como forma de leitura terapêutica.
Para isso, o bibliotecário deve atuar em conjunto com profissionais das áreas de
Psicologia, de Terapia Educacional, entre outras.
A seleção do material a ser utilizado pelo aplicador de biblioterapia é uma das
preocupações da prática. O bibliotecário deve conhecer o texto que está
recomendando, a fim de evitar efeitos negativos no leitor. Ele precisa estar
preparado para trabalhar com a leitura e com os diversos gêneros da literatura, e
saber lidar com as reações e os efeitos que ela pode causar no leitor, especialmente
quando se propõe a trabalhar com a leitura terapêutica.
Os primeiros trabalhos envolvendo a biblioterapia surgiram por volta do século
XIX, antes mesmo da utilização do termo. Porém, foi somente a partir do início do
século XX, em bibliotecas hospitalares dos Estados Unidos, que a biblioterapia se
difundiu como intervenção terapêutica no tratamento de doentes mentais (RATTON,
1975, p.198-199).
Dentre os vários conceitos empregados por estudiosos, ao longo do tempo,
entendemos por biblioterapia a:
[...] seleção e prescrição de livros de acordo com as necessidades
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dos pacientes, condução da terapia baseada em comentários de leitura, e avaliação dos resultados. Sua utilização é considerada atualmente na profilaxia. Educação, reabilitação e na terapia propriamente dita, em indivíduos nas mais diversas faixas etárias, com doenças físicas ou mentais (RATTON, 1975, p.199-200).
Desde então, o livro vem sendo trabalhado como forma de terapia. Nos
hospitais, ele é muito utilizado por causa da sua capacidade de provocar no paciente
um estado de serenidade. A leitura possui caráter sedativo, que ameniza a dor e o
desconforto do paciente por meio do envolvimento construído com o texto. “A função
terapêutica da leitura admite a possibilidade de a leitura proporcionar a pacificação
das emoções. [...] A leitura do texto literário, portanto, opera no leitor e no ouvinte
efeito de placidez, e a literatura possui a virtude de ser sedativa e curativa.”
(CALDIN, 2001, p.32).
A criança, sujeito foco deste trabalho, pode ainda não apresentar uma
capacidade cognitiva e/ou emocional substancialmente desenvolvida, portanto,
trabalhar a leitura terapêutica com esse tipo de leitor exige do profissional
conhecimento da literatura e da condição em que a criança se encontra para que,
assim, seja feita a seleção de textos mais adequados a cada caso.
Oliveira et al. (2011) consideram que, somente a leitura de um livro por parte
do bibliotecário não fará dele um biblioterapeuta. O bibliotecário deve atuar em
parceria com outros profissionais, como psicólogos, assistentes sociais e
pedagogos, que o ajudarão na seleção correta da leitura para cada situação. Os
autores alertam para a importância do bibliotecário conhecer o seu leitor e estar
atento as suas angústias, para que possa propor um tratamento biblioterápico
adequado e eficiente.
Em virtude da dúvida por parte de alguns autores quanto ao bibliotecário
trabalhar com a biblioterapia, a presente pesquisa objetivou investigar a atuação de
aplicadores de biblioterapia, da Biblioteca Infantil de Londrina. Para tal, recorremos à
técnica da entrevista narrativa e entrevistamos membros do Projeto “Livro é o Melhor
Remédio”, criado em 1986 pela Biblioteca Infantil de Londrina, em comemoração à
Semana Nacional do Livro e da Biblioteca. O Projeto tinha como finalidade levar a
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arte e a leitura para crianças acamadas nos hospitais de Londrina por intermédio do
teatro de fantoches, do livro e da literatura infantil.
Ademais, objetivamos:
• Analisar o conhecimento teórico e prático do aplicador de biblioterapia.
• Levantar as experiências dos aplicadores de biblioterapia pela
Biblioteca Infantil de Londrina.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Ouaknin (1996, p.11) explica que, a palavra biblioterapia tem em sua
composição dois termos de origem grega: biblio, que significa livro, e therapeia, que
significa terapia. Biblioterapia seria, então, a prática da terapia por intermédio do
livro. “Em bibliotecas antigas e medievais encontravam-se inscrições sobre a
atuação do livro como remédio da alma.” (RATTON, 1975, p.198, grifo nosso).
Porém, não é somente o livro que se enquadra no processo terapêutico. O
aplicador de biblioterapia pode se valer de textos, contos, anedotas e outros escritos
registrados em suportes que não sejam o livro. Fantoches, brinquedos, jogos
recreativos e lúdicos também podem ser utilizados em conjunto com a leitura.
Também os textos que não estão registrados e que são propagados de boca em
boca devem ser apropriados e utilizados.
O termo biblioterapia foi utilizado pela primeira vez no ano de 1916, em um
artigo publicado no Atlantic Monthy, por Samuel Mechord Grothers. As bibliotecas
hospitalares dos Estados Unidos empregavam a prática biblioterapêutica em
programas que abordavam os aspectos psiquiátricos da leitura no tratamento de
seus pacientes, principalmente àqueles que sofriam de alguma doença mental
(RATTON, 1975, p.199).
De acordo com a autora supracitada (1975, p.199), em 1961, o Webster’s
Third International Dictionary apresentou como definição do termo biblioterapia,
posteriormente adotada como oficial pela Associação para Bibliotecas de Hospitais e
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Instituições, o uso de material de leitura selecionada como adjuvante terapêutico em
Medicina e Psicologia; e ainda, guia de solução de problemas pessoais por
intermédio da leitura dirigida.
Desta maneira, podemos dizer que biblioterapia é a prática da leitura dirigida
de textos selecionados pelos aplicadores de biblioterapia como forma de amenizar
uma situação dolorosa, ou um estado de angústia, e auxiliar no tratamento de
doenças e perturbações mentais.
A leitura é elemento indispensável e indissociável na biblioterapia. Na
literatura, encontramos inúmeros artigos que abordam o uso da biblioterapia em
hospitais como método terapêutico aplicado no tratamento de crianças acamadas.
Bernardino, Elliott e Rolim Neto (2012, p.199) acreditam que:
[...] a leitura dirigida de textos literários, e contato dialogado as ajudariam [as crianças] a superar o medo, a tristeza e a focalização na doença, proporcionando um alívio e melhor aceitação do tratamento, a partir da inserção ao universo da fantasia mediada pela contação de histórias.
A presença do aplicador de biblioterapia lendo um texto, ou contando uma
história, distrai a criança e a afasta da rotina do hospital. A leitura envolve a criança
em um “mundo imaginário”, fazendo com que ela se esqueça da sua condição,
mesmo que por alguns instantes, voltando a brincar e a sorrir. Quem conhece o
ambiente hospitalar sabe que momentos de alegria e descontração não são comuns.
Oliveira et al. (2011) consideram que, assim como as demais profissões, a
Biblioteconomia sofreu mudanças ao longo do tempo. Principalmente com o avanço
da tecnologia, profissionais de várias áreas tiveram que se adaptar para não se
tornarem obsoletos. O mesmo aconteceu com o bibliotecário que, além de
armazenar e disseminar informação, também assumiu um papel social e
humanístico perante a comunidade.
Dentro desse novo papel, o bibliotecário desenvolve várias funções, entre
elas a de aplicador de biblioterapia. Caldin (2010 apud GUEDES; BAPTISTA, 2013,
p.245) argumenta que, o bibliotecário que se dispõe a aplicar a biblioterapia precisa
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ter um perfil social. Ademais, esse profissional deve possuir estrutura emocional,
ética e moral para o trabalho. A autora ressalta que, o profissional que apresentar
essas características, poderá atuar como aplicador de biblioterapia, e não como
biblioterapeuta. Para atuar como biblioterapeuta, o bibliotecário também deverá
possuir formação na área de Psicologia.
Além de ser emocional e moralmente estável, o aplicador de biblioterapia
deve possuir artifícios capazes de envolver a criança e estimular a sua imaginação.
Especialmente a contação de histórias exige criatividade e sensibilidade por parte do
aplicador de biblioterapia. Não é tarefa fácil cativar a atenção da criança. Um
profissional apático e inerte enfrentará muitos obstáculos para trabalhar com esse
tipo de público.
Para poder proporcionar todas as emoções da história é necessário que o contador [aplicador de biblioterapia] crie um clima de envolvimento e de encanto. É preciso saber dar as pausas, o tempo para o imaginário de cada criança construir seu cenário, visualizar os seus monstros, criar os seus dragões, adentrar pela sua floresta, vestir suas princesas e príncipes, pensar na cara do rei, da rainha e seus súditos (BERNARDINO; ELLIOTT; ROLIM NETO, 2012, p.201).
É aceitável que alguns autores e profissionais questionem a atuação do
bibliotecário como aplicador de biblioterapia. Embora a graduação possa oferecer
disciplinas com conceitos básicos sobre Psicologia (isso se deve ao fato de que uma
das atividades do bibliotecário compreende traçar perfis de usuários por intermédio
dos estudos de usuários) a formação do bibliotecário não contempla estudos mais
aprofundados sobre a personalidade do indivíduo, embora seja possível encontrar
na literatura, pesquisas acerca dos aspectos motivacionais, entre eles o emocional,
que influenciam o comportamento do usuário no momento da busca pela
informação.
No entanto, Pinto (2005, p.42) salienta a prerrogativa de que, apesar da
biblioterapia ser um campo de atuação para o bibliotecário, é preciso que esse
profissional possua conhecimentos na área de Psicologia ou de Psicoterapia e
ressalta a necessidade do bibliotecário trabalhar em parceria com demais
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profissionais que pertençam a essas áreas. Nesse contexto, Almeida e Bortolin
(2013) ressaltam que:
Sendo a Biblioterapia um programa de atividades que envolve leituras e outros métodos de reflexões, planejados e conduzidos para um tratamento, pode ser acompanhada por uma orientação médica, e também ser mediada por um bibliotecário e outros profissionais preparados para as finalidades prescritas e propostas pela equipe médica.
Vale aqui reforçar que trabalhar com a biblioterapia exige uma equipe
multidisciplinar, no sentido de que os saberes de uma profissão complementam o da
outra.
2.1 BIBLIOTECA INFANTIL
Diversos são os gêneros de biblioteca. Abordaremos nesta investigação a
biblioteca infantil, ou infantojuvenil. Para Bortolin (2001, p.35), “[...] uma biblioteca
infanto-juvenil deve ser um ambiente de aprendizagem espontânea e lúdica, imersa
na ‘filosofia de aprender brincando’.”
A autora define a biblioteca infantil como sendo um espaço em que a criança
e o adolescente podem aprender brincando com as palavras, com os livros, com os
jogos e brinquedos recreativos que fazem parte do universo das bibliotecas infantis.
Do mesmo modo, Melo e Neves (2005) conceituam a biblioteca infantil como sendo:
[...] um espaço lúdico por excelência, pois é o lugar de brincar com os livros e com as letras, do faz de conta, do contar e do ouvir histórias. É o local onde se pode dançar, desenhar e ouvir músicas, ela deve ser um convite a brincadeiras, viajar no mundo da imaginação.
A biblioteca infantil trabalha com a faixa etária mais jovem de leitores, que
pouco ou nunca tiveram contato com o livro. A cultura brasileira não contempla a
prática da leitura. O brasileiro lê pouco e não incentiva o seu filho a ler. Muitas
crianças só têm contato com o livro quando ingressam na escola.
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Os principais frequentadores de uma biblioteca infantil são crianças que estão
na fase inicial de aprendizado (algumas delas ainda nem sabem ler). Nessa fase, é
imprescindível que a prática da leitura seja estimulada. A criança que cresce com
gosto pela leitura tende a se tornar um ser humano melhor, porque a leitura
desenvolve seu raciocínio e amplia a visão que tem do mundo.
O contato com o livro possibilita o desenvolvimento da linguagem, cultural e cognitivo nas crianças, pois estabelece novos padrões de raciocínio abrindo novos espaços através dos quais as crianças possam se expressar exercitando a criatividade. Nesse sentido, viabiliza a produção do conhecimento a partir do crescimento do seu repertorio (sic!) cultural tendo acesso a outras visões de mundo que possibilitem estabelecer novas relações com o mundo que o cerca (MELO; NEVES, 2005).
Corroborando com o pensamento de Melo e Neves, Panet (1985, p.62)
evidencia a importância da biblioteca infantil no desenvolvimento da criança. “Se for
concedida à criança oportunidade de frequentar a Biblioteca desde cedo, e se
houver na Biblioteca um ambiente agradável e um centro cultural recreativo aquela
crescerá intelectualmente e não ficará à mercê dos acasos da vida.”
Os autores supracitados concordam quanto ao fato da biblioteca possibilitar o
desenvolvimento intelectual e cognitivo da criança. No entanto, devemos ter em
mente que o principal objetivo de uma biblioteca infantil é incentivar a leitura. Bortolin
(2001, p.41) chama atenção para esse fato ao defender a ideia de que, “[...] a
biblioteca infanto-juvenil deve buscar satisfazer as necessidades de educação, lazer
e informação de seus usuários, mas em especial, responsabilizar-se em promover o
gosto pela leitura.”
Da mesma forma, Melo e Neves (2005) atentam para a verdadeira finalidade
desse gênero de biblioteca: “A Biblioteca Infantil tem como função essencial
desenvolver o gosto, e o hábito da leitura.” Nesse sentido, os autores chegam ao
consenso de que a biblioteca infantil deve promover a recreação e o aprendizado
para a criança, mas que sua maior preocupação seja estimular a prática e o gosto
pelo ato de ler.
Os profissionais que trabalham em bibliotecas infantis devem ser capacitados
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para lidar com esse tipo de público. A leitura não deve ser imposta pelo profissional
mediador de leitura, caso contrário ela será vista como obrigação, e não como
prazer. Desse modo, Bortolin (2001, p.40) descreve como sendo:
[...] prioritária a integração entre o público infanto-juvenil e os mediadores, pois julgamos que esta interação seja essencial na motivação para a leitura; nesse sentido, é necessário que o mediador estabeleça na biblioteca um “clima” de respeito e confiança, passando a sugerir leituras e também a acatar leituras sugeridas por este público.
Aceitar uma sugestão de leitura por parte da criança demonstra o interesse
que o bibliotecário tem por ela. A maioria das crianças gosta de atenção. Essa
atitude do bibliotecário pode ser fundamental para estabelecer um vínculo de
confiança com a criança, que o ajudará a desenvolver nela o gosto pela leitura.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A presente pesquisa caracteriza-se como um estudo exploratório.
Parafraseando Gil (2008, p.27), a pesquisa exploratória objetiva esclarecer e
desenvolver conceitos e ideias, formular hipóteses a respeito de um assunto
geralmente pouco explorado. Esse tipo de pesquisa apresenta certa flexibilidade
quanto ao planejamento e execução: exclui técnica quantitativa de coleta de dados,
envolve levantamento bibliográfico, entrevistas não padronizadas e estudos de caso.
A pesquisa é de abordagem qualitativa. Uma pesquisa é considerada de
abordagem qualitativa, na concepção de Silva e Menezes (2005, p.20), a partir do
momento em que:
[...] há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito [...] que não pode ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa. Não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a fonte de coleta de dados e o pesquisador é o instrumento-chave. [...] Os pesquisadores tendem a analisar seus dados indutivamente. O processo e seu significado são os focos principais de abordagem.
Em outras palavras, toda pesquisa que se propõe a investigar a subjetividade
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do sujeito-objeto da pesquisa segue a abordagem qualitativa, pois subjetividade não
se avalia em números, mas em interpretações e sentidos que se fazem a partir da
atuação desse sujeito na realidade.
Para a coleta de dados, utilizamos o método da entrevista narrativa, no lugar
da entrevista estruturada ou semiestruturada. A entrevista narrativa permite
respostas mais gerais, possibilitando a coleta de um número muito maior de
experiências subjetivas. Daí o fato de a questão da entrevista narrativa ser chamada
de questão gerativa de narrativa. “As narrativas [...] permitem ao pesquisador
abordar o mundo empírico até então estruturado do entrevistado, de um modo
abrangente.” (FLICK, 2009, p.164).
Hermanns (1995, p.183 apud FLICK, 2009, p.165) descreve a dinâmica da
entrevista narrativa da seguinte forma. Dela:
[...] solicita-se, na forma de uma narrativa improvisada, a história de uma área de interesse da qual o entrevistado tenha participado (...) (sic!) A tarefa do entrevistador é fazer com que o informante conte a história da área de interesse em questão como uma história consistente de todos os eventos relevantes, do início ao fim.
As considerações de Hermanns vêm corroborar com as de Flick no que se
refere à abrangência da técnica da entrevista narrativa. Ao solicitar que o
entrevistado relate a história da área de interesse de sua pesquisa, o pesquisador
espera obter como resposta uma narrativa de todos os fatos considerados
relevantes para o entrevistado. A partir disso, o pesquisador terá a liberdade de
trabalhar com os fatos que mais lhe forem pertinentes.
Com base no exposto, para a coleta de dados desta pesquisa foram aplicadas
duas questões gerativas de narrativas. Os participantes desta pesquisa foram dois
membros que fizeram parte do Projeto “Livro é o Melhor Remédio”, realizado pela
Biblioteca Infantil de Londrina. As questões giraram em torno da ciência do termo
biblioterapia, bem como de toda a dinâmica e funcionalidade do Projeto, incluindo a
trajetória de seus membros. A princípio, a intenção era entrevistar outros dois
profissionais com formação bibliotecária que fizeram parte do Projeto. Infelizmente,
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por motivos particulares os bibliotecários não puderam ser entrevistados.
Para tal procedimento, empregamos o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE). O TCLE, segundo Witter (2010, p.23-25), é um documento que
informa e esclarece o sujeito quanto aos motivos e objetivos da pesquisa, a
metodologia que será utilizada, a voluntariedade da participação (bem como a
possibilidade de desistência a qualquer momento), os riscos e benefícios da mesma,
o campo para consentimento em que o sujeito declara estar ciente e de acordo com
a realização da pesquisa, entre outros requisitos.
Após a coleta de dados, realizamos a transcrição das entrevistas e fizemos
uma síntese comparativa das respostas das duas participantes (que aqui
chamaremos de Participante A e Participante B, para preservar a identidade das
mesmas).
A síntese comparativa foi elaborada seguindo tópicos acerca do
conhecimento que as participantes tinham, ou não, sobre o termo biblioterapia, o
envolvimento dos membros da equipe com o Projeto “Livro é o Melhor Remédio”, a
importância do Projeto tanto para as crianças, quanto para os aplicadores e uma
relação das respostas com a revisão de literatura levantada a respeito do tema
biblioterapia.
Na próxima seção faremos um breve relato sobre a Biblioteca Infantil de
Londrina, lócus desta pesquisa. Logo depois, procederemos com a síntese
comparativa das respostas.
3.1 BIBLIOTECA INFANTIL DE LONDRINA
Em virtude da escassez de literatura e do fato de haver pouco registro
histórico sobre a Biblioteca Infantil de Londrina, nos apoiamos basicamente em
matérias do jornal Folha de Londrina, no Portal da Prefeitura de Londrina e um
material intitulado Programa de Necessidades para a Biblioteca Municipal Infantil de
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Londrina (PREFEITURA..., 2015). Desses documentos, foi possível caracterizar a
Biblioteca quanto a sua criação, objetivo, produtos e serviços oferecidos.
A Biblioteca Pública Municipal Infantil de Londrina foi criada e inaugurada no dia 10 de dezembro de 1984, pelo Governador José Richa e pelo então Prefeito do município Dr. Wilson Rodrigues Moreira. A Biblioteca Infantil localiza-se anexo à Biblioteca Pública Municipal de Londrina, à Avenida Rio de Janeiro n. 413, numa área de 200m2 (ALVES, 1989, p.1).
Inicialmente, a Biblioteca Infantil ocupava três salas de uma dependência
localizada nos fundos da Biblioteca Pública de Londrina. Posteriormente, uma das
salas foi cedida à Biblioteca Pública para abrigar o setor de Processamento Técnico.
Além de auxiliar na pesquisa escolar, a Biblioteca Infantil de Londrina oferece
aos alunos das escolas de primeiro grau, mediante visitas agendadas, diversas
atividades lúdicas, como a Hora do Conto, teatro de fantoches, oficinas de pintura,
modelagem e dobradura, jogos recreativos e música (ALVES, 1989, p.4).
Segundo diferentes matérias do jornal Folha de Londrina (WERLE, 2004;
SATO, 2008; ONOZATO, 2009, CARREIRA, 2012), nos primeiros anos de sua
criação, a Biblioteca Infantil costumava realizar, principalmente no período das férias
escolares, diversas atividades destinadas ao público infantojuvenil, entre elas a
contação de histórias, Campeonato de Ludo, oficinas de pintura e colagem, exibição
de filmes, Mostra "Poesia Visual", em comemoração ao Dia Nacional da Poesia, e
lançamentos de livros infantis de autores locais e nacionais. Todas as atividades
eram desenvolvidas com o propósito de incentivar o gosto pela leitura.
Conforme consta no Portal da Prefeitura de Londrina, as atividades culturais e
recreativas que a Biblioteca Infantil desenvolve têm por objetivo despertar e
incentivar o hábito da leitura, estimular a cultura, o lazer e a arte, incentivar o uso do
livro e da Biblioteca e promover a integração da Biblioteca Infantil com a
comunidade. O público-alvo da Biblioteca Infantil de Londrina são crianças e
adolescentes até a faixa etária dos 15 anos, da comunidade londrinense. Hoje, o
acervo da Biblioteca é composto por obras da literatura infantil e infantojuvenil, livros
didáticos, periódicos, gibis e pastas com datas comemorativas, totalizando onze mil
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volumes.
Ao longo dos seus 30 anos, a Biblioteca Infantil de Londrina continua a
atender crianças de toda a região londrinense, auxiliando no ensino e na pesquisa
escolar e, principalmente, promovendo e incentivando a leitura por meio de
atividades lúdicas e recreativas.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nesta seção apresentaremos uma síntese comparativa das respostas das
duas participantes desta pesquisa. Para permitir melhor compreensão e identificar a
importância do Projeto "Livro é o Melhor Remédio" tanto para as crianças acamadas,
quanto para os aplicadores de biblioterapia dividimos a síntese em subseções.
4.1 QUANTO AO CONHECIMENTO DO TERMO BIBLIOTERAPIA
A Participante A afirmou não conhecer o termo biblioterapia e que as ações
que realizou durante a época do Projeto foram por instinto. A Participante B afirmou,
inicialmente, conhecer o termo, dizendo que a prática da biblioterapia já a
acompanha desde algum tempo, mas que o mesmo soa como algo novo e até
diferente, o que nos causa a impressão da Participante B estar confundindo o
conhecimento atual do termo com a aplicação da prática que fez, independente da
terminologia.
4.2 QUANTO AO ENVOLVIMENTO DA EQUIPE
As Participantes A e B relataram a satisfação e a alegria dos membros que
fizeram parte do Projeto “Livro é o Melhor Remédio”. As duas Participantes também
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comentaram sobre a comoção e o envolvimento emocional que tiveram com as
crianças durante as visitas, por causa da situação em que essas crianças se
encontravam. A Participante A relatou o respeito que a equipe tinha com as crianças
nos dias em que não queriam participar das atividades e a preocupação por parte da
equipe em dar atenção para essas crianças que, aos poucos, acabavam se soltando
e interagindo.
A participante A enfatizou o seu interesse em revigorar o Projeto com visitas
semanais aos hospitais. As duas Participantes relataram a preocupação da equipe
em relação às crianças que estavam tomando soro, com sonda, levando atividades
especiais para elas. A Participante B comentou o interesse da equipe em levar
lembrancinhas para as crianças nos dias de visita. A Participante B afirmou que
foram anos felizes para toda a equipe e comentou a importância das parcerias que
tiveram no Projeto “Livro é o Melhor Remédio”, ressaltando a importância do Projeto
na vida de cada um dos envolvidos. A Participante B relatou que as visitas e o
estado das crianças eram temas de discussão depois do trabalho, demonstrando o
engajamento da equipe com o Projeto.
4.3 QUANTO A IMPORTÂNCIA PARA AS CRIANÇAS
Segundo as Participantes A e B, o Projeto “Livro é o Melhor Remédio” era
fonte de descontração e alegria para as crianças acamadas. A Participante A relatou
o silêncio que as crianças faziam e o brilho que tinham no olhar quando a equipe do
Projeto chegava no hospital. Mesmo aquelas crianças que não estavam se sentindo
muito bem naquele dia, se animavam e participavam das brincadeiras, sorrindo. A
Participante B comentou sobre a importância do Projeto para promover o acesso à
leitura, à brincadeira e à arte para essas crianças que passavam por um momento
tão delicado na vida.
A Participante B ressaltou, ao longo da entrevista, a emoção que as crianças
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sentiam quanto ao fato de saberem que, estando em um leito de hospital, havia
pessoas que se importavam com elas, com o estado delas, com a felicidade delas.
Muitas dessas crianças, segundo a Participante B, passaram a frequentar a
Biblioteca Infantil de Londrina depois de receberem alta dos hospitais, demonstrando
a importância que o Projeto teve em suas vidas.
4.4 QUANTO A IMPORTÂNCIA PARA OS APLICADORES
As Participantes A e B comentaram sobre o prazer que era fazer parte do
Projeto “Livro é o Melhor Remédio”. A Participante A afirmou que amava o que fazia
e que nunca se preocupou em receber algo em troca. Sua intenção apenas era
proporcionar momentos de descontração e alegria para as crianças que estavam
acamadas. A Participante A comentou a sua ida semanal aos hospitais com a Hora
do Conto, quando o Projeto já não estava bem, demonstrando a importância que
atribuía à continuidade do trabalho.
Em dado momento, a Participante A confessou ter saudade do tempo em que
trabalhou na Biblioteca Infantil e no Projeto “Livro é o Melhor Remédio” e que se
emocionou, dias antes, ao lembrar da sua trajetória de 35 anos de trabalho, em
conversa com uma amiga.
A Participante B manifestou a importância que atribuía ao Projeto “Livro é o
melhor Remédio” ao afirmar que sempre enxergou a leitura como fonte de
informação, conhecimento, lazer e atividade terapêutica, mencionando a forma como
o Projeto e as demais atividades desenvolvidas na Biblioteca Infantil de Londrina
contribuíram para a sua formação profissional e pessoal, bem como para o seu
desenvolvimento afetivo, emocional, psicológico e educacional.
A Participante B manifestou o seu desejo de que as visitas aos hospitais
fossem mais frequentes na época, porque percebia a importância do Projeto como
momentos de descontração para as crianças que estavam naquela rotina difícil de
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hospital. Segundo a Participante B, o Projeto “Livro é o Melhor Remédio” foi um
marco para a Biblioteca Infantil e para todos os seus membros e colaboradores.
4.5 COMPARATIVO DAS RESPOSTAS COM O REFERENCIAL TEÓRICO
A partir das entrevistas concedidas, pudemos comprovar a importância da
prática da leitura em nossas vidas. Os relatos das Participantes A e B corroboram
com o pensamento dos autores elencados para dar embasamento teórico a este
trabalho sobre a aplicação da biblioterapia como intervenção terapêutica, capaz de
proporcionar alívio e conforto para pessoas que se encontram em situação de
sofrimento, como o caso das crianças acamadas.
Em primeiro lugar, vimos que mesmo não conhecendo o termo biblioterapia e
não possuindo curso superior, que é o caso da Participante A, qualquer pessoa pode
trabalhar com a aplicação da biblioterapia, desde que esse trabalho seja executado
em parceria com profissionais qualificados e especializados nas áreas de Psicologia
e Assistência Social, como afirmou a Participante B.
A Participante B reforçou, ao longo da entrevista, que os livros são os nossos
melhores amigos, que os livros são remédios para a alma, assim como as inscrições
encontradas nas bibliotecas medievais, citando como exemplo certos momentos em
que, estando com a “cabeça quente”, ao ler um livro, passamos a enxergar nossos
problemas de outra forma. A Participante B também enfatizou que o livro é
fundamental para o desenvolvimento de todas as artes, as quais são responsáveis
por nos tornar pessoas melhores, mais sensíveis e harmônicas.
Comparando o pensamento das duas Participantes, percebemos que o
trabalho realizado nos hospitais por intermédio do livro, do teatro de fantoches, da
Hora do Conto, das brincadeiras e dos jogos lúdicos e recreativos proporcionava às
crianças acamadas momentos de prazer, de alegria, de felicidade e de conforto,
fazendo com essas crianças se esquecessem da sua dor, do seu sofrimento e
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voltassem a brincar e a sorrir.
Neste ponto, destacamos as considerações das Participantes A e B em
relação às atividades lúdicas que eram desenvolvidas tanto no Projeto “Livro é o
Melhor Remédio”, quanto pela Biblioteca Infantil de Londrina no intuito de possibilitar
a inclusão e o acesso à leitura e à literatura infantojuvenil a todas as crianças,
procurando desenvolver nelas o gosto pela leitura, objetivo principal de uma
biblioteca infantil, assim como apontaram os autores consultados para a realização
desta pesquisa.
Nos relatos das duas Participantes, nos chamou atenção o envolvimento
emocional que os membros do Projeto tiveram com as crianças acamadas. Tanto a
Participante A, quanto a Participante B confessaram que a imagem da criança no
leito do hospital mexia muito com o lado emocional de toda a equipe, ao mesmo
tempo que os motivava a continuar com o trabalho. As Participantes A e B relataram
a satisfação que era proporcionar alegria para aquelas crianças, mas demonstraram
certa tristeza pela situação em que algumas crianças se encontravam e que isso
afetava diretamente o estado de espírito de cada membro do Projeto.
Em relação à escolha dos livros, não obtivemos respaldo suficiente para
avaliar os critérios de seleção por parte dos aplicadores de biblioterapia. A
Participante A relatou que, quando trabalhou com a Hora do Conto, levava uma
caixa de livros cujos títulos eram selecionados por uma bibliotecária que trabalhava
na Biblioteca Infantil de Londrina e que eram livros bons, apenas. A Participante A
confessou que as próprias crianças ajudavam na escolha do livro, no momento da
leitura, citando “A Casa Sonolenta”, escrito por Audrey Wood e ilustrado por Don
Wood, como o preferido delas. A Participante B não fez referência quanto à seleção
dos livros, dizendo apenas que pertenciam à literatura infantil.
Complementando, destacamos a preocupação da Participante B em relação à
falta de leitura e a não procura do livro nos dias atuais, bem como os desafios
enfrentados para atrair os leitores, que estão cada vez mais conectados com a
internet. A Participante B fez referência às décadas de 80 e 90, quando a literatura
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infantil era responsável pela formação de cidadãos sensíveis e equilibrados,
engajados com a educação e com a cultura, comprovando a relevância da prática da
leitura na formação social, intelectual, educacional e cultural, como visto ao longo
desta pesquisa, na literatura consultada.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar da dificuldade em afirmar com exatidão, visto que não aprofundamos
por não ser o foco desta investigação, não há, nos cursos de Biblioteconomia
brasileiros, a oferta de uma disciplina que aborde a biblioterapia, com exceção da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em que há uma optativa que é
frequentada por discentes dessa Universidade e que a Profa. Dra. Clarice Caldin
também autoriza a participação de alunos da Universidade do Estado de Santa
Catarina (UDESC), ambas situadas na cidade de Florianópolis.
Embasados nos autores pesquisados, reforçamos a necessidade do aplicador
de biblioterapia estar preparado mental, emocional e psicologicamente para atuar
nesse campo de trabalho. Também o bibliotecário precisa atuar em parceria com
psicólogos, médicos, psiquiatras e pedagogos que irão trabalhar conforme cada
situação, desde a escolha do texto até o relacionamento pessoal com o “paciente”.
Ao final desta pesquisa, chegamos à conclusão de que cumprimos com o
objetivo proposto. Buscamos na literatura, subsídios para ressaltar a importância da
leitura na formação social, emocional, intelectual e consciente do indivíduo. Embora
não conseguimos entrevistar outros dois membros com formação bibliotecária, da
equipe do Projeto “Livro é o Melhor Remédio” (uma por estar em viagem e outra por
problemas de saúde), as participantes desta pesquisa apresentaram subsídios que
nos permitiu avaliar a necessidade de se ter profissionais qualificados e
especializados, trabalhando em parceria com o propósito de aplicar a biblioterapia.
Trabalhada como forma de intervenção terapêutica, a biblioterapia auxiliou no
tratamento de crianças acamadas, que passaram a aceitar melhor o tratamento e a
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sua condição por intermédio da leitura, de atividades lúdicas e da própria presença
das aplicadoras de biblioterapia, que foram capazes de retirar a criança de uma
realidade de angústia e sofrimento e proporcioná-la momentos de conforto e alívio
de suas dores.
Como resultado do Projeto “Livro é o melhor Remédio”, houve o
desenvolvimento do gosto pela leitura nas crianças, que passaram a frequentar a
Biblioteca Infantil de Londrina logo após se recuperam e receberem alta dos
hospitais.
Para terminar as nossas Considerações Finais, trazemos a frase carregada
de emoção da Participante A sobre um dos requisitos necessários que o aplicador
de biblioterapia deve ter quando se propõe a trabalhar com a prática da leitura
terapêutica: “Tem que gostar de fazer as pessoas felizes!”
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