a atividade de inteligência da pmmg e o combate ao delito de homicídio

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Gustavo de Castro Ferreira A ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA DA PMMG E O COMBATE AO DELITO DE HOMICÍDIO Belo Horizonte Centro Universitário Newton Paiva Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais 2010

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Autor: Gustavo de Castro Ferreira. Fundação Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais (FESMPMG). Orientador: Prof. Dr. Denilson Feitoza Pacheco. O tema de nossa pesquisa é a atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio. O problema de pesquisa do presente estudo pode ser formulado como indagação: qual o papel da atividade de inteligência da PMMG no controle de homicídios na região metropolitana de Belo Horizonte?

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Page 1: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

Gustavo de Castro Ferreira

A ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA DA PMMG

E O COMBATE AO DELITO DE HOMICÍDIO

Belo Horizonte

Centro Universitário Newton Paiva

Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais

2010

Page 2: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

Gustavo de Castro Ferreira

A ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA DA PMMG

E O COMBATE AO DELITO DE HOMICÍDIO

Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação

Lato Sensu de Especialização em Inteligência de

Estado e Inteligência de Segurança Pública,

oferecido pela Escola Superior do Ministério

Público de Minas Gerais em parceria com o Centro

Universitário Newton Paiva, como requisito parcial

à obtenção do título de Especialista em Inteligência

de Estado e Inteligência de Segurança Pública

Orientador: Prof. Dr. Denilson Feitoza Pacheco

Belo Horizonte

Centro Universitário Newton Paiva

Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais

2010

Page 3: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

Centro Universitário Newton Paiva

Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais

Curso de Pós-Graduação de Especialização em Inteligência de Estado e Inteligência de

Segurança Pública

Monografia intitulada “A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de

homicídio”, de autoria de Gustavo de Castro Ferreira, considerado aprovado, com a nota

80 (oitenta), pela banca examinadora constituída pelos seguintes professores:

____________________________________________________________

Prof. Dr. Denilson Feitoza Pacheco – Orientador

____________________________________________________________

Prof. Mestre Sérgio Antônio Teixeira

____________________________________________________________

Prof. Especialista Wilson Chagas Cardoso

Belo Horizonte/MG, 19/maio/2010.

Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais

Rua Timbiras, 2928, 4º andar, Bairro Barro Preto

30140-062 - Belo Horizonte - MG

Tel: 31-3295-1023

www.fesmpmg.org.br

Page 4: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

Para Antônio, meu pai, exemplo de vida!

Page 5: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, a DEUS, pai misericordioso, por tudo que me

tem dado.

Agradeço à minha família, pelo amor, apoio, carinho e companheirismo.

Agradeço ao Dr. Denilson, pela oportunidade de confeccionar o trabalho,

mas mais ainda pela oportunidade de conviver com os professores e colegas ao longo do

curso.

Agradeço aos meus professores pelos conhecimentos ministrados. Esta obra

materializa o conhecimento e tempo que eles dedicaram aos alunos.

Agradeço aos meus colegas de trabalho e de estudo, pelo incessante auxílio

e companheirismo nas horas de maior necessidade. A amizade plantada em tempos

difíceis certamente dará frutos no futuro.

Agradeço ao Ricardo Foureaux, pelo companheirismo e pela revisão do

texto.

Agradeço ao pessoal da dança e da luta pelas horas de lazer entre uma e

outra leitura e pesquisa realizada, ajudando a manter o equilíbrio, vital para todo ser

humano.

Page 6: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

"Cessem do sábio Grego e do Troiano

As navegações grandes que fizeram;

Cale-se de Alexandre e de Trajano

A fama das vitórias que tiveram;

Que eu canto o peito ilustre Lusitano,

A quem Neptuno e Marte obedeceram.

Cesse tudo o que a musa antiga canta,

Que outro valor mais alto se alevanta."

Luís de Camões

Page 7: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

RESUMO

O tema de nossa pesquisa é a atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito

de homicídio. O problema de pesquisa do presente estudo pode ser formulado como

indagação: qual o papel da atividade de inteligência da PMMG no controle de

homicídios na região metropolitana de Belo Horizonte? A técnica utilizada neste

trabalho foi a pesquisa bibliográfica. O objetivo deste trabalho é apontar a participação

do sistema de inteligência da PMMG no tocante à prevenção dos delitos de homicídio.

O universo selecionado para o presente trabalho é a região metropolitana de Belo

Horizonte, porque, além de ser uma região em que os limites entre os municípios se

confundem, apresenta cinco dos municípios com a maior taxa de homicídios do estado

de Minas Gerais. No desenvolver do trabalho, foi feito, inicialmente, um breve estudo

sobre o delito de homicídio na óptica jurídica, policial e sociológica, sendo constatado

que, embora o conceito corriqueiro de homicídio seja facilmente entendível, os

conceitos nas três esferas estudadas são mais complexos. Posteriormente é analisado o

conceito de atividade de inteligência, desde sua origem até os dias atuais, sendo

inclusive citados casos em que o serviço de inteligência exerceu importante papel em

conflitos bélicos. O trabalho aborda um importante projeto de redução de homicídios,

denominado programa Fica Vivo, que foi executado em um aglomerado urbano de Belo

Horizonte. Finalmente o trabalho aponta a importância do SIPOM no controle de

homicídios, destacando a previsão de investimentos na área, citados no plano

estratégico da PMMG, bem como de técnicas utilizadas para minimizar ocorrências

dessa natureza.

Palavras-chave: controle, homicídio, inteligência, polícia militar, segurança pública.

Page 8: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

ABSTRACT

The theme of our research is the activity of intelligence at PMMG and the combat

against the crime of murder. The problem of this study can be formulated as a question:

what is the role of the intelligence activities of PMMG in homicides control in the city

of Belo Horizonte? The technique used in this study was the literature. This paper aims

to show the involvement of the intelligence system from PMMG for the prevention of

crimes of murder. The universe selected for this study is the metropolitan area of Belo

Horizonte that, besides being a region where the boundary between the municipalities

are confused, has five cities with highest homicide rate in the state of Minas Gerais. It

was done a brief study on the offense homicide with legal, political and sociological

approaches, and it revealed while the ordinary concept of murder is easily

understandable, the concepts studied in the three spheres are more complex. Later, it

was examined the concept of intelligence activities, from its origins to the present day,

quoting cases in which the intelligence service had an important role in conflicts. This

paper addresses an important project to homicides reduction, called "Fica Vivo"

program, which was performed in an urban area of Belo Horizonte. Finally, this work

shows the importance of SIPOM in control of homicides, by highlighting the investment

forecast in the area mentioned at PMMG Plan Strategic and techniques used to

minimize such occurrences.

Keywords: control, murder, intelligence, military police, public safety.

Page 9: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

LISTA DE SIGLAS

ABIN Agência Brasileira de Inteligência

AISP Área Integrada de Segurança Pública.

Blt ROTAM Batalhão de Rondas Táticas Metropolitana

CAD Centro de Atendimento e Despacho

CE/1989 Constituição do Estado de Minas, promulgada em 1989

CIA Central Intelligence Agency

CISA Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica

CPAD Comissão de Processo Administrativo-Disciplinar

CPPM Código de Processo Penal Militar

CPM Código Penal Militar

CR Constituição da República, promulgada em 1988

CRISP Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Publica

CSN Conselho de Segurança Nacional

CSSN Conselho Superior de Segurança Nacional

CTInt Centro de Treinamento de Inteligência da Polícia Militar

DD/QOD Detalhamento e Desdobramento do Quadro de Organização e

Distribuição

DIAO Diretriz Auxiliar de Operações

DInt Diretoria de Inteligência

DNISP Doutrina Nacional de Inteligência de Segurança Pública

DOU Diário Oficial da União

DPSSP Diretriz para a Produção do serviço de Segurança Pública

EC Estória-cobertura

ERB Estação Rádio-Base

EsNI Escola Nacional de Informações

EUA Estados Unidos da América

FBI Federal Bureau of Investigation

GSI Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

Page 10: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

IGESP Integração da Gestão em Segurança Pública

IME Instituição Militar Estadual

MP Ministério Público

NuTIPM Núcleo de Treinamento de Inteligência da Polícia Militar

OMD Observação, memorização e descrição

ONG Organização não-governamental

PMMG Polícia Militar de Minas Gerais

RCAT Regimento de Cavalaria Alferes Tiradentes

REDS Registro de evento de Defesa Social

RMBH Região Metropolitana de Belo Horizonte

SAE Secretaria de Assuntos Estratégicos

SEDS Secretaria Estadual de Defesa Social

SENASP Secretaria Nacional de Segurança Pública

SFICI Serviço Federal de Informações e Contra-informação

SIPOM Sistema de Inteligência da Polícia Militar

SISBIN Sistema Brasileiro de Inteligência

SNI Serviço Nacional de Informações

SSI Subsecretaria de Inteligência

UFMG Universidade Federal de Minas Gerais

URSS União das Repúblicas Socialistas Soviéticas

Page 11: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 14

2 O FENÔMENO HOMICÍDIO ............................................................................................................. 19

2.1 NOÇÃO DE HOMICÍDIO ...................................................................................................................... 19

2.2 VISÃO JURÍDICA DE HOMICÍDIO ......................................................................................................... 20

2.3 VISÃO DA PMMG DE HOMICÍDIO ...................................................................................................... 23

2.4 VISÃO SOCIOLÓGICA DE HOMICÍDIO.................................................................................................. 29

2.5 EVOLUÇÃO DOS DELITOS DE HOMICÍDIO NA REGIÃO METROPOLITANA DE BELO HORIZONTE ........... 32

3 A ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA ................................................................................................. 39

3.1 CONCEITOS ....................................................................................................................................... 39

3.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA ...................................................................................................................... 40

3.3 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA INTELIGÊNCIA NO BRASIL ....................................................................... 47

3.4 INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA ........................................................................................... 53

3.5 SISTEMA DE INTELIGÊNCIA DA POLÍCIA MILITAR ............................................................................. 56

4 PROGRAMA DE CONTROLE DE HOMICÍDIOS .......................................................................... 59

5 A INTELIGÊNCIA DA PMMG NO CONTROLE DE HOMICÍDIOS ........................................... 64

5.1 DIRETRIZES PARA A PRODUÇÃO DE SERVIÇO DE SEGURANÇA PÚBLICA ........................................... 64

5.1 PLANO ESTRATÉGICO DA PMMG ANO 2009-2011 ............................................................................ 67

5.2 ESTRATÉGIAS RELEVANTES AO CONTROLE DE HOMICÍDIOS .............................................................. 69

5.3 TÉCNICAS DE INTELIGÊNCIA APLICÁVEIS AO CONTROLE DE HOMICÍDIOS .......................................... 72

5.4 INFILTRAÇÃO .................................................................................................................................... 76

6 CONCLUSÃO ....................................................................................................................................... 81

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................................... 83

Page 12: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

14

1 INTRODUÇÃO

O tema da presente pesquisa é a atuação do serviço de inteligência da

Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) em face do fenômeno social do homicídio.

O problema de pesquisa do presente estudo pode ser formulado como

indagação: qual o papel da atividade de inteligência da PMMG no controle de

homicídios na região metropolitana de Belo Horizonte?

O trabalho delimitou-se na região metropolitana de Belo Horizonte, uma vez

que os limites entre os municípios que as compõe é impreciso, formando aeras

conurbadas, e problemas decorrentes de uma área influenciam diretamente na sensação

de segurança de uma localidade próxima. Além disso, como características de centros

urbanos conurbados, diversos cidadãos trabalham em um município, mas residem em

outro adjacente, o que também interfere na sensação de segurança.

A PMMG possui a missão constitucional de garantir e preservar a ordem

pública, a paz social, a segurança do Estado e da Sociedade. Este papel é resguardado

constitucionalmente, uma vez que as diferenças sociais deságuam na Segurança Pública.

A Constituição da República de 1988 (CR/1988) estabelece em seu artigo

144:

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de

todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das

pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:

I - polícia federal;

II - polícia rodoviária federal;

III - polícia ferroviária federal;

IV - polícias civis;

V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.1.

Ao tratar especificamente das polícias militares, determina:

§ 5º - às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da

ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições

definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil.

1 CR/88.

Page 13: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

15

§ 6º - As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares

e reserva do Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos

Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios 2.

Destaca-se no parágrafo quinto o papel de policiamento ostensivo. Este se

faz por meio de viaturas caracterizadas e agentes uniformizados que trabalham de forma

visível para evitar que a ordem pública seja quebrada. Do parágrafo sexto pode ser

extraído seu papel de força auxiliar e reserva do exército, o que vincula as polícias

militares à função militar mais abrangente, referida à segurança nacional.

A Constituição do Estado de Minas Gerais de 1989 (CE/89), em seu artigo

136, detalha o previsto no citado artigo 144 da Constituição da República. Na esfera

estadual, fica ampliado o papel da instituição Polícia Militar. De fato, nesse documento

constitucional lê-se:

Art. 136 - A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade

de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade

das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:

I - Polícia Civil;

II - Polícia Militar;

III - Corpo de Bombeiros Militar 3.

A ênfase a responsabilidade geral da PMMG é abordada em seguida:

Art. 142 - A Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros Militar, forças públicas

estaduais, são órgãos permanentes, organizados com base na hierarquia e na

disciplina militares e comandados, preferencialmente, por oficial da ativa

do último posto, competindo:

I - à Polícia Militar, a polícia ostensiva de prevenção criminal, de segurança,

de trânsito urbano e rodoviário, de florestas e de mananciais e as

atividades relacionadas com a preservação e restauração da ordem pública,

além da garantia do exercício do poder de polícia dos órgãos e entidades

públicos, especialmente das áreas fazendária, sanitária, de proteção

ambiental, de uso e ocupação do solo e de patrimônio cultural;

[...]

III - à Polícia Militar e ao Corpo de Bombeiros Militar, a função de polícia

judiciária militar, nos termos da lei federal.

§1º - A Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros Militar são forças auxiliares e

reservas do Exército 4.

2 CR/88. 3 CE/89. 4 CE/89.

Page 14: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

16

O artigo 142 reforça o caráter permanente e militar desta instituição

estadual. No inciso “I”, reitera-se o papel ostensivo do policiamento, dando ênfase

maior à prevenção criminal. São enumeradas também outras funções da Polícia Militar

em relação à segurança no trânsito urbano e rodoviário, preservação do meio ambiente e

a sua atuação na preservação e restauração da ordem pública, quando esta for quebrada.

Cabe à Polícia Militar, por ser um braço armado do Estado, garantir o exercício do

poder de polícia dos órgãos e entidades públicas nas suas atividades específicas.

Em síntese, o papel do Policial Militar constitucionalmente previsto é:

Garantir a Segurança Pública;

Preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do

patrimônio;

Força auxiliar e reserva do Exército, subordinada ao Governador do

Estado;

Polícia ostensiva de prevenção criminal e de segurança;

Polícia de trânsito urbano e rodoviário;

Polícia de florestas e de mananciais;

Polícia de atividades relacionadas com a preservação e restauração

da ordem pública;

Garantir o exercício do poder de polícia dos órgãos e entidades

públicos, especialmente das áreas fazendária, sanitária, de proteção

ambiental, de uso e ocupação do solo e de patrimônio cultural;

Polícia judiciária militar;

Policiamento ostensivo, fardado, a fim de assegurar o cumprimento

da lei, a manutenção da ordem pública e o exercício dos poderes

constituídos;

Força de dissuasão em locais ou áreas específicas, onde se presuma

ser possível a perturbação da ordem;

Atender à convocação, inclusive mobilização, do Governo Federal,

em caso de guerra externa ou para prevenir ou reprimir grave

Page 15: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

17

perturbação da ordem ou ameaça de sua irrupção, e como

participante da defesa interna e da defesa territorial;

Proteção e salvamento de vidas e materiais no local do sinistro, bem

como o de busca e salvamento, prestando socorros em caso de

afogamentos, inundações, desabamentos, acidentes em geral,

catástrofes e calamidades públicas;

Contato contínuo e sustentado com as pessoas da comunidade, de

modo que possam, em conjunto, explorar soluções para as

preocupações locais, bem como desenvolver e monitorar iniciativas

abrangentes e de longo prazo, que envolvam toda a comunidade

num esforço de melhorar a qualidade de vida local;

Respeitar, garantir, preservar e proteger os direitos humanos de

todos os cidadãos.

Movimentos sociais, manifestações de qualquer natureza, discussões

comerciais, de trânsito, acidentes e outras calamidades: todas essas atividades

repercutem diretamente no serviço prestado pelas polícias. Embora tenha que dar

atenção a todos os fenômenos acima citados, o combate ao homicídio é uma das

prioridades de qualquer órgão de segurança, por diversas razões.

O aumento do índice de homicídios em determinada localidade gera uma

sensação de insegurança mesmo a quem não tenha vivenciado ou de alguma outra forma

tenha sido diretamente atingido pelo delito.

À medida que o crime evolui, bem como os criminosos sofisticam suas

formas de ação delituosa, é preciso que o Estado aperfeiçoe, instrumentalize, treine e

modernize suas Polícias, seus métodos de prevenção e repressão de delitos.

Os altos índices de violência nos centros urbanos vêm, ao longo dos anos,

ocupando cada vez mais espaço no cenário político nacional. Reduzir a violência é uma

das tarefas mais importantes do governo e mais almejadas pela população.

O conceito de homicídio, embora facilmente identificado como a ceifação

de vida, será analisado tanto sob a ótica jurídica tanto quanto da ótica sociológica e

policial.

Page 16: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

18

Após a análise conceitual da terminologia de homicídio, o trabalho discorre

sobre os crimes de homicídio ocorridos na Região Metropolitana de Belo Horizonte

(RMBH).

Concomitantemente, o trabalho passa a estudar a atividade de inteligência,

passando pela sua evolução histórica até se chegar ao conceito de inteligência de

segurança pública (ISP).

Vistos estes conceitos iniciais, o trabalho irá analisar o “Programa Fica

Vivo”; qual atividades envolvendo entes estatais e a própria sociedade conseguiram

reduzir, substancialmente, o índice deste tipo de ocorrência em determinada região da

capital mineira.

Por fim, o trabalho pretende mostrar técnicas de inteligência que podem

auxiliar na prevenção, combate e controle dos delitos de homicídios na Região

Metropolitana de Belo Horizonte.

Page 17: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

19

2 O FENÔMENO HOMICÍDIO

2.1 Noção de homicídio

Homicídio é a morte de uma pessoa praticada por outra, é um assassínio.

Para o senso comum esse conceito simples basta; contudo, na atividade jurídica ou

mesmo policial, tal definição demonstra ser incompleta e superficial, uma vez que ela

não analisa as motivações e circunstâncias do delito, nem mesmo quando realmente

pode se considerar o bem jurídico “vida” como o alvo da ação delituosa.

O homicídio está entre os crimes de maior expressão de gravidade, pois

atenta contra a fonte da ordem e segurança geral, desde que todas as

instituições se baseiam na incolumidade da vida dos componentes do

agregado social5.

O professor Rogério Greco cita que “a Bíblia nos relata a história do

primeiro homicídio, cometido por Caim contra seu irmão Abel, em Gênesis, Capítulo 4,

versículo 8”6.

Com efeito, na Bíblia encontramos o registro de tal homicídio: “[...] e falou

Caim com seu irmão Abel; e sucedeu que, estando eles no campo, se levantou Caim

contra o seu irmão Abel, e o matou”7.

O homicídio serve como uma referência para a avaliação de determinada

sociedade, no que se refere ao grau de violência desta.

Existem vários indicadores de violência, mas, nenhum carrega maior senso

de urgência do que os homicídios. Trata-se de um crime cujas medidas são

razoavelmente acuradas e que pode ser tomado como barômetro para todos os

crimes violentos, colocando-se no ápice de uma escala de violência8.

5 BADARÓ apud ASSIS, 2006. 6 GRECO, 2008a, p. 378. 7 BÍBLIA, 1993. 8 SILVEIRA, 2007, p. 17.

Page 18: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

20

2.2 Visão jurídica de homicídio

O delito homicídio está tipificado no art. 121 do Código Penal Brasileiro

(CP). Embora o texto legal tenha redação simples, matar alguém, é importante que

sejam feitas algumas considerações.

O direito à vida é um direito relativo, uma vez que, no Brasil, é possível pena

de morte no caso de guerra declarada9.

Damásio de Jesus, em sua classificação sobre o homicídio, afirma tratar-se

de um delito que tem como objeto jurídico o direito à vida, tendo como sujeito ativo e

passivo qualquer pessoa10

.

Primeiramente, a definição do bem jurídico tutelado quando da prática da

infração é de suma importância, não somente para o devido enquadramento legal, e

consequente aplicação de eventual pena, como também na definição de qual será o juiz

natural11

para aquele caso.

O resultado naturalístico morte pode ocorrer em outros delitos, sem,

contudo, que o bem jurídico tutelado seja a vida. Dependendo do crime, o órgão

julgador será um ou outro.

Os crimes dolosos contra a vida são de competência do tribunal do júri.

Neste contexto, Rogério Greco ensina:

O tribunal do júri é o competente para julgar os crimes dolosos contra a vida,

destacando-se entre eles o homicídio, em todas as suas modalidades –

simples, privilegiado e qualificado, conforme se verifica pela alínea d, do

inciso XXXVIII, do art. 5º da Constituição Federal [grifo nosso] 12

.

Ainda, o mesmo autor afirma:

A partir das modificações trazidas pela lei Nº 9.299/96, se um militar vier a

causar a morte de um civil, a competência para o processo e julgamento será

do tribunal do júri.

A emenda Nº 45, de 8 de Dezembro de 2004, dando nova redação ao §4º do

art. 125 da Constituição Federal, ratificando o posicionamento anterior,

9 Art. 56, CPM. 10 JESUS, 2005, p. 399. 11 Art. 5º, XXXVII - Não haverá Juízo ou tribunal de exceção; e LIII - ninguém será processado nem sentenciado

senão pela autoridade competente – ambos da Magna Carta. 12 GRECO, 2008a, p. 388.

Page 19: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

21

asseverou: “§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os

militares dos estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações

judiciais contra atos disciplinares, ressalvada a competência do júri quando a

vítima for civil [...] 13

.

A conduta de matar alguém é prevista em outros dispositivos legais, quer

pela natureza do sujeito ativo (art. 205, CPM), sujeito passivo (Lei 7.170/1983), ou do

meio onde se deu o delito (art. 302, lei 9503/1997).

Rogério Greco, analisando o tipo penal homicídio, explica:

É composto, portanto, pelo núcleo “matar” e pelo elemento objetivo

“alguém”. Matar tem o significado de tirar a vida; alguém, a seu turno, diz

respeito ao ser vivo, nascido de mulher. Somente o ato de ser humano vivo

pode ser vítima do delito homicídio. Assim, o ato de matar alguém tem o

sentido de ocisão da vida de um homem por outro homem14

.

Embora o renomado professor tenha salientado que somente um ser humano

pode ser vítima de homicídio15

, destaca-se que tanto o sujeito passivo quanto ativo do

delito em lide possa ser qualquer pessoa, não apenas o homem como ser do sexo

masculino. Em outros delitos que tutelam o bem jurídico “vida” essa qualidade especial

é visualizada no agente, como o crime previsto no art. 124 do Código Penal (CP).

É necessário apontar no presente trabalho o que irá diferenciar o crime de

homicídio de outros delitos em que a vítima venha a falecer, além de outras tipificações

que também protegem a vida.

A vida intrauterina é defendida pela tipificação encontrada nos arts. 124, 125

e 126, todos do Código Penal, ao passo que a vida extrauterina é defendida pelas

tipificações dos arts. 121, 122 e 123, respectivamente o homicídio, instigação,

induzimento ou auxílio ao suicídio e infanticídio, todos do CP.

O infanticídio seria apenas uma modalidade especial de homicídio, pois

determina, para a sua prática, uma qualidade especial do agente, qual seja, estar sob

influência do estado puerperal. Já o delito tipificado no art. 122 não se confunde com

esse, pois, embora trate da tutela do bem jurídico “vida”, a ação de encerrar a vida é da

13 GRECO, 2008a, p. 394. 14 GRECO, 2008b, p. 141. 15 “O importante é que o matar alguém seja entendido como a morte de um homem produzido por outro homem,

afastando-se, portanto, por absurdo e atípico, o folclore que se escuta no meio forense de casos em que já houve

denúncia em face de alguém que provocou a morte de uma vaca, um cachorro, etc.” (GRECO, 2008b, p.142).

Page 20: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

22

própria vítima, que age sob a instigação, induzimento ou auxílio de terceira pessoa.

Mas o que irá diferenciar o crime homicídio, e suas formas qualificadas, de

delitos como genocídio, latrocínio ou mesmo da tortura seguida de morte?

Embora o resultado naturalístico possa ser o mesmo (o bem jurídico) o

animus do agente será diverso.

Diferença entre grupo de extermínio e genocídio: o genocídio16

está definido

na Lei 2889/1956, em seu artigo primeiro, bem como no Código Penal Militar, no art.

208.

O genocídio não exige a existência de grupo, é a intenção de destruir, no

todo ou em parte, grupo nacional, étnico racial e religioso. É um crime contra a

existência do grupo, ao passo que o homicídio trata da vida.

Com efeito, o genocídio pode ocorrer independentemente de ceifação da

vida, v. g., através de ações como transferência forçada de crianças, obrigação de

determinado grupo racial em adotar métodos contraceptivos.

Da mesma forma, para se diferenciarem outros delitos do homicídio, será

analisada também a intenção do agente.

No homicídio qualificado pela tortura – 121, § 2º, III, CP – seu fim é a

morte, o meio é a tortura.

Na tortura qualificada pela morte (art. 1º, §3º, lei 9455/1997), seu fim é a

tortura, a morte é resultado culposo. É crime preterdoloso17

.

16 “O vocábulo genocídio constitui uma palavra híbrida, formada de genos (raça, nação ou tribo), do grego, e do

sufixo latino cidio (matar).

A repressão ao crime de genocídio partiu da 6ª Comissão de Assuntos Jurídicos da 1ª Assembléia Geral da

Organização das Nações Unidas, ao aprovar um Projeto de Resolução encaminhado à Cuba, Índia e Panamá, de

autoria de Raphael Lemkin, o qual foi aprovado em 11 de dezembro de 1946, constituindo a Resolução nº 96 da

ONU. Em 1948 foi encaminhado à Assembléia Geral da ONU um projeto que se tornou definitivo, aprovado em 9 de

dezembro de 1948, pela Resolução nº 260, cujo artigo 2º dispõe como crime de genocídio qualquer dos seguintes

atos, cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico ou religioso, como tal: a)

matar membros do grupo; b) causar lesão grave à integridade física ou mental de membros do grupo; c) submeter

intencionalmente o grupo à condições de existência, capazes de ocasionar-lhe a destruição física total ou parcial; d)

adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo; e) efetuar a transferência forçada de crianças

do grupo para outro.”(NETO, 2001, p. 191 e 192). 17 “É aquele em que a conduta produz um resultado mais grave que o pretendido pelo sujeito. O agente quer um

minus e seu comportamento causa um majus, de maneira que se conjugam o dolo na conduta antecedente e a culpa no

resultado (conseqüente). Daí falar-se que o crime preterdoloso é um misto de dolo e culpa: dolo no antecedente e

culpa no conseqüente.” (JESUS, 2005, p. 84).

Page 21: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

23

A tortura seguida de homicídio é possível, pois o animus de cada conduta é

diferente. Será concurso formal impróprio ou concurso material. Neste caso, se cometeu

o homicídio para ocultar a prática da tortura, v.g., incide a qualificadora do §2º, art. 121

– CP “para assegurar a ocultação de outro crime”.

Já o crime de latrocínio é uma conduta contra o bem jurídico patrimônio.

Trata-se de um roubo qualificado pelo resultado morte.

Destaca-se, por fim, a súmula 60518

da suprema corte, não admitia

continuidade delitiva nos crimes contra a vida. Essa súmula está ultrapassada, sua

redação é anterior à reforma da parte geral do código penal, em 1984. Hoje, com o

artigo 71, parágrafo único do CP, é possível continuidade delitiva nos crimes contra a

vida.

Assim, foram destacados diversos delitos em que, embora tenham um

tratamento jurídico diverso, pode-se chegar ao resultado morte. O que for considerado

homicídio por um membro do ministério público (MP) pode não o ser para um membro

da magistratura. Além dessa divergência na definição do delito, cabe destacar que, para

um cidadão comum da população, sem esse conhecimento jurídico, o fato de um ser

humano ter causado a perda da vida de outro é um fato grave, que causa comoção e

merece um tratamento eficaz e enérgico por parte do Estado.

2.3 Visão da PMMG de homicídio

A Polícia Militar é a primeira agência pública a ser acionada quando de uma

morte violenta elaborando o Boletim de Ocorrência – BO, do qual constam

informações sobre o contexto de ocorrência do homicídio, sobre a vítima, e

sobre seu autor (quando é possível identificá-los). Cabe ainda a PM o

isolamento e preservação da cena de um crime. E seguida é acionada a

Polícia Civil que te atribuição de investigar o crime, instaurar inquérito e

enviá-lo ao Ministério Público19

.

Embora os trabalhos da PMMG e da justiça estejam intimamente ligados,

uma vez que toda atividade das polícias militares é pautado na legalidade e tem como

destinatários a justiça, além do controle externo exercido pelo ministério público sobre

18 Súmula 605, STF: não se admite continuidade delitiva nos crimes contra a vida. 19SILVEIRA, 2007, p. 18.

Page 22: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

24

as polícias, a PMMG possui uma classificação própria dos crimes, tipificados de acordo

com normas da instituição.

A exposição anteriormente feita sobre o delito de homicídio, comparando-o

com os demais delitos em que ocorre ceifação da vida humana, é justamente porque

nem sempre a classificação de homicídios utilizada pela polícia militar é a que irá

prevalecer no transcorrer do processo penal até o trânsito em julgado da sentença. Ou

seja, embora na ocorrência o militar se enquadre determinada conduta como homicídio,

durante o inquérito policial o delegado pode apontar outra tipificação, que também pode

ser diferente da apontada pelo membro do ministério público. O juiz, por sua vez, no

momento de proferir a sentença, pode apontar uma natureza distinta.

Essa diferença na tipificação do delito, que pode variar durante a persecução

penal, influi diretamente no mapeamento de zonas de criminalidade, e até mesmo nos

índices de criminalidade, podendo gerar diferenças significativas entre os dados

apresentados e a real incidência do delito.

Em 1994, a fim de padronizar condutas, a PMMG editou a Diretriz Auxiliar

das Operações (DIAO) NR 01/94. No referido documento, a instituição define uma

classificação e codificação de ocorrências em que foi empenhada uma patrulha policial.

A DIAO NR 01/94 elenca uma série de medidas que o militar deve adotar

em local de infração penal, onde se destaca:

Merece consideração especial, a providência de isolamento e preservação do

local, face à grande importância que esta medida representa para a polícia

investigatória. Em princípio, nada deve ser tocado ou arrecadado, a fim de

que as provas e os vestígios não sejam destruídos ou alienados.

[...]

Em local de homicídio, por exemplo, o militar não deve, sob o pretexto de

identificar a vítima, colher subsídios para rastreamento, etc., promover

qualquer ação que prejudique a idoneidade do local, pois não basta à Justiça a

identificação e prisão do criminoso; é preciso que existam provas

consistentes da autoria. Deve-se buscar a identificação da vítima e outros

dados necessários ao rastreamento através de testemunhas, sem prejuízo para

a preservação do local, ficando expressamente vedado ao militar alterar ou

violar o local da infração penal, modificando posição de cadáveres,

Page 23: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

25

promovendo busca nos corpos, apreendendo ou tocando em armas ou outros

instrumentos encontrados no local20

.

A diretriz recomenda ainda que o militar levante maiores informações sobre

o caso junto a testemunhas. Porém, a primeira orientação nos casos de ocorrências em

que há vítima é justamente o socorro a esta. Ou seja, para constatar se o delito é de

homicídio tentado ou consumado, ou seja, se a vítima ainda está viva, o militar irá fazer

contato com esta, evidentemente perturbando o local do crime. Além disso, diversas

outras recomendações são passadas no mesmo documento, e nem sempre o efetivo

disponível terá condições de cumprir todas.

Sobre a codificação das ocorrências, observa-se o seguinte:

O Sistema de Classificação e Codificação de ocorrências estrutura-se em

categorias, grupos, classes e subclasses.

Os grupos terão como designativos as letras do alfabeto (A, B, C etc...); as

classes serão definidas por dois dígitos numéricos (01, 02, 03 etc...) e as

Subclasses por três dígitos numéricos (001, 002, 003 etc...). 21

Referente aos registros nos quais existe uma perda, ou tentativa de perda de

vida humana, em que há empenho de uma patrulha policial militar, a DIAO 01/94

estabelece as seguintes naturezas e suas respectivas codificações:

B 04.000 – homicídio, sendo o B 04.001, tentado e B 04.002 o

homicídio consumado. Não há uma tipificação exclusiva para o

delito de infanticídio, sendo este delito também tipificado como B

04.000;

B 06.000 – lesão corporal. Aqui não há distinção entre a tentativa e o

crime consumado, nem mesmo entre a lesão qualificada pelo

resultado morte de uma lesão simples;

C 13.000 – latrocínio, sendo que aqui não há qualquer subdivisão.

Destaca-se o seguinte: as ocorrências referentes ao delito de roubo

consumado estão qualificadas no grupo C 05.000, variando apenas o

local onde a prática efetivamente ocorreu (ex.: C 05.004 – roubo

20 PMMG, 1997, p. 9 e 10. 21 PMMG, 1997, p. 27 e 28.

Page 24: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

26

consumado a coletivo / C 05.027 - roubo consumado a transeunte);

as ocorrências de roubo à mão armada consumado e tentado estão

respectivamente codificadas em C 09.000 e C 10.000, incluindo-se

aqui as subdivisões do local da prática delituosa; as ocorrências de

roubo tentado estão codificadas em C 11.000, também com as

respectivas subdivisões de local;

As ocorrências referentes ao trânsito urbano em que há vítimas,

inclusive fatais, são todas codificadas no grupo H. Ou seja,

homicídio na direção de veículo automotor pode ser enquadrado

aqui;

T 03.000 – encontro de cadáver. Enquadra-se nesta codificação

inclusive a descoberta de fetos.

Nota-se que tal codificação facilitou o início do georreferenciamento dos

delitos e demais atividades exercidas pela PMMG, como uma ferramenta para auxiliar

na adoção de procedimentos que pudessem diminuir tais práticas, especialmente as

codificações que definiam em quais locais os ilícitos ocorriam, se ocorriam em padarias,

ônibus ou mesmo a transeuntes.

Ocorre que, no caso de homicídios, essa subdivisão não ocorria, dificultando

o mapeamento qualificado destes delitos, para a adoção de medidas adequadas em cada

circunstância.

Além disso, se um militar equivocadamente registrasse um delito de

homicídio com natureza diversa, aquele dado não era indicado em posterior

georeferenciamento.

Essa mesma sistemática da DIAO NR 01/94 foi novamente aplicada pela

Resolução Conjunta Nr 03, de 31 de agosto de 2004, na qual as instituições da

Secretaria de Estado de Defesa Social (SEDS) (polícia civil e militar e corpo de

bombeiros) adotam uma codificação única, para confecção do Registro de Evento de

Defesa Social (REDS).

Nas ocorrências típicas da atividade policial (ocorrências típicas de polícia),

a codificação segue a lógica dos diplomas legais. Ou seja, conforme o artigo ou o texto

Page 25: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

27

legal, ou mesmo de acordo com o bem jurídico tutelado, é dada determinada

codificação.

As infrações contra a pessoa, entre elas o homicídio, é agrupada na categoria

B. Já infrações contra o patrimônio, na categoria C.

A identificação do embasamento legal na codificação é dada por dois

dígitos, sendo que cada legislação é identificada por dois algarismos. O Código Penal é

identificado pelos algarismos 01, a Lei das Contravenções Penais por 08, o Código de

Trânsito, pelos algarismos 10.

Dessa forma, referente a registros em que havia o encontro de corpos

humanos, é dada a seguinte codificação:

B 01.121 – homicídio;

B 01.123 – infanticídio;

B 01.129 – lesão corporal;

B 02.010 – tortura;

C 01.157 – roubo;

K 16.290 – matar o Presidente da República ou do Senado Federal,

Câmara dos Deputados ou do Supremo Tribunal Federal;

T 10.302 – homicídio culposo na direção de veículo automotor;

A 17.001 – encontro de cadáver;

A 17.002 – encontro de feto;

A 17.003 – encontro de parte de cadáver/órgãos/ossada humana.

Nessa nova tipificação, todas as naturezas possuem uma série de

complementos, que irão definir o local do crime, se houve emprego de arma de fogo, ou

outro meio qualquer.

Observa-se que a natureza de um delito define sua tipificação. Nos demais

delitos, ou ainda, nos demais registros da PMMG, pode ocorrer a ceifação da vida

humana, sem que este dado seja registrado como homicídio, em um primeiro momento,

durante a confecção do Registro de Evento de Defesa Social (REDS).

Page 26: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

28

Em alguns casos, o militar que encontra um corpo sem vida, dependendo

das demais informações que obtiver no momento do registro, sem uma investigação

adequada, ele poderá registrar esse evento como um latrocínio, um encontro de cadáver,

ou mesmo uma lesão corporal seguida de morte.

Essa natureza é definida precariamente no “teatro de operações” de atuação,

sendo que esses dados que foram registrados como natureza diversa da de homicídio

não serão posteriormente computados, para fins de estatísticas, geoprocessamento e

análise criminal, como delito de homicídio.

Sendo assim, o registro de uma ocorrência de encontro de cadáver, v.g., não

será avaliado como um crime de homicídio, e não fará parte de uma análise criminal

sobre a causa de ocorrências de homicídio naquela localidade.

Além disso, nos demais casos de registros com uma natureza diversa, tal

registro não vincula a autoridade policial, ao presidir um inquérito, nem mesmo o

membro do ministério público ou o magistrado. Dessa forma:

[...] o número de homicídios apontados pela PM é sempre menor do que

aquele apontado pela Polícia Civil. Contribuem para estas diferenças as

tentativas de homicídios que se transforma e homicídios diante deo insucesso

dos tratamentos médicos neste caso o homicídio aparece nas estatísticas da

PC, mas não da PM) e o fato de muitas vozes o Boletim de ocorrência da PM

contabilizar o registro de um evento, e não as vítimas (um mesmo registro

pode envolver várias vítimas), gerando subestimação do número de

homicídios.

[...]

No que toca a utilização dos registros policiais, deve-se atentar ainda que

homicídios cometidos por policiais ou que ocorrem no curso de roubos,

aparecem nas estatísticas policiais como autos de resistência e nas estatísticas

de mortalidade de alguns estados como intervenção legal (Código

Internacional de Doenças versão 10 = Y 35, Y 36) e latrocínio (crime contra

a propriedade) respectivamente, não figurando entre os dados referentes a

homicídios22

.

Com isso, uma taxa de homicídios apresentada pela PMMG pode ser maior,

como também menor, que a real incidência dessa prática delituosa, contudo o Estado de

22 SILVEIRA, 2007, p. 23.

Page 27: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

29

Minas Gerais aprovou como taxa oficial de registro de homicídios a estatística da

Divisão de Crimes contra a vida (Polícia Civil), após chancela do CINDS.

Outro fato que pode diferenciar o controle do real número de homicídios

registrados pela PMMG é a chamada “cifra negra”, ou seja, casos em que há

efetivamente a morte de alguém causada por outrem sem que, contudo, haja o

acionamento de uma viatura da PMMG para o registro. Nesse caso citado, não há o

lançamento no REDS desse evento. Embora acredita-se que este número, nos casos de

homicídio, não seja muito significativo, ele interfere no geoprocessamento do delito e,

consequentemente, no planejamento e adoção de medidas para a prevenção.

2.4 Visão sociológica de homicídio

O que motiva a prática delituosa, a ceifação de vida alheia? Diversos estudos

são elaborados tentando identificar as causas que motivam uma pessoa, um cidadão, a

atacar outro.

Nesse sentido, Jason Albergaria, em citação a outros autores, nos ensina:

PINATEL, inspirado nas pesquisas de DE GREEF, classifica os crimes em:

crime primitivo, crime utilitário, crime pseudojusticeiro, crime organizado.

Essa classificação facilita o estudo do processo da passagem ao ato.

HESNARD e DI TULLIO estudam diferentes tipos de crimes do ponto de

vista psicológico. PINATEL e HESNARD, na análise do ato criminológico,

têm como ponto de partida a contribuição trazida à criminologia por E. DE

GREEF23

.

Após essa divisão, o mesmo autor define, em tese, quais tipos de delito são

praticados em cada um destes grupos.

PINATEL parte da classificação de SEELIG, que distingue dois tipos de

crime primitivo: por agressividade e por reação primitiva. Por agressividade,

o crime será expressão de um estado crônico de tensão ou excitação; por

reação primitiva, o crime por vingança de ódio acumulado, do incendiário, do

infanticídio.

[...]

No crime utilitário, o delinqüente por meio do crime livra-se de uma situação

específica ou perigosa, no sentido de KINBERG. Segundo DE GREEF, o

crime utilitário consiste em desembaraçar-se de um ser incômodo, por que

23 ALBERGARIA, 1988, p. 160.

Page 28: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

30

toda a existência do criminoso estaria orientada para a morte da pessoa que

lhe embaraça a vida24

.

Cabe destacar que, para o referido autor, o crime utilitário apresenta três

fases: o assentimento ineficaz, em que, basicamente, o delito se encontra na fase da

idéia; assentimento formulado, em que o autor já enxerga a possibilidade de agir, sem

ainda uma decisão firme. Esta fase pode demorar até anos. Por fim, a terceira fase é

denominada período de crise, sendo este o momento decisivo.

Temos ainda:

O crime pseudojusticeiro se define pelo seu caráter desinteressado, o que o

distingue do crime utilitário. O crime passional é um crime pseudojusticeiro.

O crime passional, para DE GREEF, é motivado por uma paixão que somente

é satisfeita pelo crime. Outro tipo de crime pseudojusticeiro: o crime por

ideologia, o crime por vingança e o crime simbólico, o tiranicídio.

[...]

O crime organizado cumpre-se numa situação não específica ou amorfa

(KIMBERG). São tipos de crimes organizados: o crime profissional, o crime

de colarinho branco. O crime profissional organiza-se em bando de adulto e

em bando de adolescente. O mais famoso crime de bando é a máfia ou la cosa

nostra25

.

Andrea Maria Silveira, estudando o homicídio, apresenta, ainda, como chave

para análise do homicídio, a relação autor/vítima. Segundo Andrea:

Fesbach (1964 apud Salfati) afirma que a agressão é o ingrediente básico do

crime violento e propõe dois tipos de agressão: a hostil (expressiva) e a

agressão instrumental, as quais se distinguem por seus objetivos e pelas

recompensas que oferecem ao autor.

O tipo expressivo ocorre em resposta a situações que geram raiva tais como

insultos, ataques físicos, fracasso. O objetivo é fazer a vítima, enquanto

indivíduo específico, sofrer. A maioria dos homicídios, estupros, e outros

crimes violentos estão direcionados para machucar a vítima e são

precipitados por hostilidade e raiva. O tipo instrumental de agressão vem do

desejo por objetos ou status possuído por outra pessoa, tais como jóias,

dinheiro, território. Aqui, o agressor tenta obter o objeto desejado sem

consideração do custo26

.

Klarissa Almeida Silva, analisando os tipos de homicídios, cita:

24 ALBERGARIA, 1988, p. 160-162. 25 ALBERGARIA, 1988, p. 164-166. 26 SILVEIRA, 2007, p. 22-23.

Page 29: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

31

[...] o homicídio não é um fenômeno unidimensional, mas sim um fenômeno

qualitativamente distinguível através da relação existente entre vítima e

agressor, a exemplo de Wolfgang (1958) e Curtis (1974), Parker e Smith

(1979) classificaram os homicídios em primário e não primário, baseando-se

principalmente na relação entre vítima e agressor. Os homicídios primários

são aqueles que envolvem familiares ou conhecidos e estão usualmente

ligados ao ato passional. A segunda categoria – homicídios não primários –

liga-se freqüentemente aos instrumentos utilizados quando do cometimento

de outros crimes. Os homicídios da primeira categoria são geralmente

movidos pela paixão ou impulso, enquanto os da segunda são premeditados

ou programados27

.

O sociólogo Emile Durkhein definia que as práticas delituosas, entre elas o

homicídio, eram um fenômeno social normal, devido à interação entre os indivíduos.

Para Durkhein, um fenômeno é “normal quando encontrado de maneira geral em certo

tipo de sociedade”28

.

Ainda que códigos religiosos, estatuto legais, e comunais tenham tentado

evitar que um homem mate outro, nenhum deles logrou absoluto sucesso,

constituindo este ato, crime em praticamente todos os lugares e culturas. As

definições legais de homicídio parecem ter mudado pouco desde a idade

média, girando a maioria em torno da “morte de um ser humano por outro”29

.

Além disso, da mesma forma que a normalidade é caracterizada pela

generalidade, a explicação é definida pela causa. E a causa dos fenômenos sociais

devem ser buscadas no meio social. “A origem dos fenômenos que a sociologia

pretende explicar encontra-se na estrutura da sociedade”30

.

Já um fenômeno que extrapola a naturalidade do ambiente em que houve tal

incidência, torna-se uma patologia social.

Ou seja, o fenômeno social homicídio, enquanto em taxas aceitáveis,

considerando-se determinada localidade, como um centro urbano, é um fato normal e

que sempre estará inserido nessa sociedade. Quando tais taxas extrapolam valores

aceitáveis, neste caso é diagnosticada uma doença social, que deve ser combatida.

27 SILVA, 2006, p. 9. 28 ABRIL, 1972, p. 1392-1393. 29 SILVEIRA, 2007, p. 16. 30 ABRIL, 1972, p. 1392-1393.

Page 30: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

32

Resta saber qual a taxa aceitável de homicídios, em particular na região

metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), além de quais das formas de homicídio

efetivamente a atividade de inteligência da polícia mineira deve atuar.

Em crimes passionais, ocorridos em ambientes particulares e cometidos por

armas impróprias, como uma pedra, uma faca, ou seja, casos em que não há

premeditação ou em que o crime é cometido por acessos de fúria, de descontrole

emocional, o trabalho de prevenção é inviável, para não dizer impossível, uma vez que

prevenir e prever não se confundem.

Além disso, algumas medidas de combate ao delito de homicídio

evidentemente auxiliam na redução de outros delitos, como o latrocínio.

Exemplificando: uma vez que se retiram de circulação armas de fogo, o termo à vida

humana provocado por armas de fogo também tende a reduzir, quer seja por motivações

patrimoniais, ou seja, latrocínio, quer seja pela disputa entre gangues por supremacia em

determinada área.

2.5 Evolução dos delitos de homicídio na região metropolitana de Belo

Horizonte

A PMMG possui um banco de dados de controle de ocorrências,

denominado Armazém, que capta os registros de ocorrências de dois bancos de dados: o

sistema do Centro de Operações Policiais Militares (COPOM) e o sistema do Centro de

Atendimento e Despacho (CAD).

O Sistema COPOM é um sistema implementado na PMMG que

acompanhava a antiga natureza da DIAO01/94. É um sistema mais antigo, que está

sendo gradativamente substituído pelo CAD. O Sistema COPOM é um sistema de

grande porte, sendo que nele eram inseridas informações como local da ocorrência,

nome dos envolvidos, natureza da ocorrência, viaturas empenhadas etc.

Com a implementação do Registro de Evento de Defesa Social (REDS) e

com as novas codificações apresentadas para os serviços prestados pela PMMG, foi

necessário desenvolver o Sistema CAD. Neste sistema, são inseridas praticamente as

Page 31: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

33

mesmas informações do Sistema COPOM, contudo a programação do sistema CAD

comporta o novo modelo de gestão territorial do Estado, dividido em Áreas Integradas

de Segurança Pública (AISP), enquanto o sistema COPOM atua sobre as denominadas

“quadrículas”.

Para avaliar a evolução dos delitos de homicídio consumado na região

metropolitana foram selecionados os cinco municípios que apresentaram maiores

registros de ocorrência dessa natureza, entre os anos de 2000 a 2008, sendo eles Belo

Horizonte, Contagem, Betim, Ribeirão das Neves e Santa Luzia. O ano de 2009 foi

descartado, uma vez que até a presente pesquisa o ano ainda não havia terminado, o que

poderia causar uma errônea interpretação dos dados, por avaliar um período de tempo

menor do ano de 2009 em relação aos anos anteriores. Os dados foram plotados no

gráfico abaixo:

Fonte: Sistema Armazém

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

200

400

600

800

1.000

1.200

Belo Horizonte

Betim

Contagem

Ribeirão das Neves

Santa Luzia

Ano

COMP ARATIVO DO REGIS TRO DE HOMICÍDIO CONS UMADO NA RMBH

Page 32: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

34

Analisando o gráfico, verifica-se que Belo Horizonte apresenta o maior

número bruto de registros de ocorrências dessa natureza. Uma vez que o município de

Belo Horizonte possui uma população maior, ocorre maior incidência de crimes contra a

pessoa.

Destaca-se que até o ano de 2004 a tendência das ocorrências de homicídio

era um aumento gradativo, em todos os municípios. Após o ano de 2005, verifica-se

uma queda ou tendência de queda.

Para explicar este fenômeno, a pesquisa apresenta algumas razões.

Primeiramente, o aumento considerável do registro nos primeiros 5 (cinco)

anos deve-se a um aumento das condições da PMMG efetuar o registro. O aumento

deve-se também, obviamente, a um crescimento da criminalidade, mal este que assola

não só a RMBH, como todos os entes federativos. O aumento do confronto entre

gangues, a impunidade, a disputa pelo ponto de venda de drogas, o aumento da

população, tudo isso aliado à desigualdade social e à degradação do ambiente social,

geram, consequentemente, condições de proliferação ao crime.

Após esse aumento foram adotadas novas políticas públicas, não apenas no

investimento das polícias em reprimir o crime, como também ações voltadas à

prevenção de delitos.

O crime passou a ser assunto não só “de polícia”, como também de toda a

sociedade. Neste período, além das políticas voltadas para a segurança pública

propriamente dita, outras estratégias foram traçadas, como participação da União,

através da Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP), na atuação na

segurança pública.

Passou a haver a participação da sociedade civil organizada, especialmente

através de Organizações não-Governamentais (ONG's), na assistência a ambientes que

propiciavam a prática delitiva.

Dentre os órgãos específicos responsáveis pela segurança pública, destaca-

se, em Minas Gerais, a criação da Secretaria Estadual de Defesa Social (SEDS), que

coordena os trabalhos tanto da Polícia Militar como também da Polícia Civil, Corpo de

Page 33: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

35

Bombeiros e Superintendência de Assuntos Prisionais. Desta forma, os órgãos que

compõem o Sistema de Defesa Social em Minas Gerais passaram a “falar a mesma

língua”.

Paralelo à criação da SEDS, houve e criação das Áreas Integradas de

Segurança Pública (AISP), nas quais, um mesmo espaço territorial é de responsabiliade

de um Batalhão da PMMG e uma Delegacia Seccional, sendo os dois órgãos trabalando

de forma integrada na prevenão de delitos.

A avaliação do serviço de segurança pública, bem como da incidência dos

delitos de homicídio, dar-se-á através da Integração da Gestão em Segurança Pública

(IGESP).

O IGESP é um modelo de gestão em segurança pública, de forma integrada,

que compõe um dos eixos da política da Secretaria de Estado de Defesa Social de Minas

Gerais, inaugurado em 2005. A formulação do IGESP tem como base o modelo de

gerenciamento policial COMPSTAT, implementado pela polícia de Nova York no

início dos anos 1990, e em experiências de gestão das polícias em Bogotá, na Colômbia.

A especificidade do IGESP é a de propiciar a interlocução sistemática e a

ação integrada entre as diversas agências do sistema de defesa social na identificação

qualificada, por exemplo, de criminosos reincidentes em áreas integradas específicas,

bem como de problemas que ultrapassam os limites dessas áreas e perpassam as

cidades, como o furto e o roubo de carros, o assalto e roubo à transeunte e o

envolvimento de adolescentes ou crianças em várias atividades criminosas. Assim, de

forma estratégica, pretende-se intensificar a comunicação direta e integrada com o

Poder Judiciário, Ministério Público, o Sistema Prisional, o Sistema Socioeducativo e a

Prevenção Social. Esse modelo é posto em prática de forma estratégica, através da

realização de reuniões regulares com a participação de todos os comandantes e chefes

em níveis estratégico e tático-operacional das polícias Militar e Civil, incluindo suas

unidades especiais e especializadas, e representantes do Ministério Público, do Poder

Judiciário Estadual e dos Sistemas Prisional e da Prevenção Social.

O IGESP pressupõe a criação de regiões e áreas integradas de segurança

pública para que a atuação das polícias militar e civil ocorra de forma articulada. Dessa

Page 34: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

36

forma, a responsabilidade sobre um homicídio ocorrido em Belo Horizonte, v.g., é

compartilhada entre a 1ª Região de Polícia Militar (1ª RPM), comandada por um

coronel, e o Departamento de Polícia (DP), chefiado por um delegado, além da

delegacia especializada em homicídios, e das Unidades especializadas da PMMG, como

o Batalhão de Rondas Táticas Metropolitana (Blt ROTAM). As cobranças e estratégias

para combater o delito, que antes da criação das áreas integradas era individualizada,

agora são tomadas de forma coletiva, dentro da competência de cada órgão envolvido na

determinada área onde ocorreu o delito.

Fonte: Sistema Armazém

Conforme demonstrado no gráfico nº 2, há um pico na taxa de homicídios

nos municípios relacionados no ano de 2004.

Embora o número bruto de homicídios consumados em Belo Horizonte seja

maior que das demais cidades analisadas, quando este valor é relativizado pela

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

Belo Horizonte

Betim

Contagem

Ribeirão das Neves

Santa Luzia

Ano

TAXA DE HOMICÍDIO CONS UMADO P OR GRUP O DE 1.000 HABITANTES

Page 35: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

37

população, Belo Horizonte permanece, por vezes, com valores inferiores aos dos outros

municípios.

Novamente, no período analisado verifica-se um aumento das ocorrências

até o ano de 2004, sendo que, após esta data, os valores se estabilizam e chegam a

reduzir.

Dos municípios analisados, em 2008, Betim teve um aumento considerável,

contrariando os demais municípios que estabilizaram ou apresentaram queda.

Destaca-se aqui que, para o lançamento destes dados, foi considerada a

natureza em que as ocorrências foram geradas nos sistemas COPOM e CAD,

desprezando-se, portanto, ocorrências que tiveram natureza diversa entre o trabalho da

polícia militar, civil e da justiça.

Neste contexto, embora esteja apresentando este resultado, o gráfico pode

sofrer mudanças se forem confrontadas as informações destes órgãos: com os registros

de saúde pública; com as denúncias ofertadas pelo MP pela prática de homicídio; ou,

ainda, com o número de condenações pelo judiciário. O ideal seria a comparação entre o

número de casos registrados pelas polícias com o número de condenações, pois só estas

definiriam, com ceretza, se o fato foi realmente tipificado como homicídio ou outro

delito com resultado morte.

Foi feita uma comparação entre os homicídios solucionados nos Estados

Unidos e no Brasil. O resultado mostra a ineficiência do Brasil na repressão ao delito

em lide.

Nos Estados Unidos em média 65% dos homicídios são elucidados

(Sheinkaman, 2006). No Brasil estes percentuais são baixíssimos, para

exemplificar, o indiciamento de suspeitos de homicídios no Rio de Janeiro

não ultrapassa 3 a 5% das ocorrências registradas (Misse, 2005). Estudo

realizado por Silva, 2006, em Belo Horizonte aponta que entre dezembro de

2003 e dezembro de 2005 foram apresentadas ao Ministério Público de

Minas Gerais, Comarca de Belo Horizonte 265 denúncias por homicídios

consumados e tentados, muitas das quais referentes a assassinatos ocorridos

na década anterior. No mesmo período ocorreram 2.471 homicídios

consumados na cidade, o que dá uma medida assustadora da incapacidade de

apuração destes crimes e da conseqüente impunidade de seus autores.31

31 SILVEIRA, 2007, p. 21.

Page 36: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

38

Além disso, os gráficos apresentados não demonstram a real gravidade dos

delitos na RMBH. Klarissa Almeida Silva ensina-nos:

Das 265 denúncias coletadas nos Primeiro e Segundo Tribunais do Júri do

Ministério Público de Minas Gerais, comarca de Belo Horizonte, e oferecidas

entre dezembro de 2003 e dezembro de 2005, 34,7% envolviam mais de duas

pessoas, ou seja, havia mais de 1 vítima e/ou mais de 1 agressor. A média de

tempo decorrido entre a data dos crimes de homicídios consumados e

tentados e a data de oferecimento da denúncia pelo promotor de justiça

correspondeu a 1,5 anos, com concentração entre menos de 1 ano e 2 anos

(77,4%)32

.

Ou seja, mesmo com investimentos específicos na área de repressão, na

segurança pública, o Estado se mostra ineficiente na persecução penal, quer seja por

ocorrências mal-atendidas, por inquéritos falhos ou pelas estruturas do MP e do

judiciário, que são pequenas para o grande volume da demanda.

Os dados meramente frios de número de ocorrências não refletem a

quantidade de pessoas vítimas dessas ocorrências, nem a quantidade de autores,

motivações e outras peculiaridades, que auxiliariam no combate destes.

Além disso, uma vida tirada não pode ser reparada. Por mais que o Estado

possa punir o cidadão infrator que cometeu o delito, aquela vida, diferente de um

prejuízo patrimonial, não pode ser reposta.

O homicídio também trás uma repercussão negativa para os dependentes da

vítima, para a seguridade social, para o produto interno bruto do país etc. enfim, uma

série de consequencias que transcendem à mera captura, punição e ressocialização do

criminoso.

Repressão, portanto, ao delito de homicídio, torna-se onerosa e ineficaz.

Cabe avaliar se a prevenção, aliada às técnicas de inteligência, a um trabalho de

inteligência bem realizado, irá atingir os anseios sociais de segurança pública e bem

estar social.

32 SILVA, 2006, p. 32.

Page 37: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

39

3 A ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA

A atividade de inteligência é a busca e análise de dados e informações, a fim

de produzirem o conhecimento necessário para auxiliar na tomada de decisões.

A atividade de inteligência não é uma atividade que visa somente à tomada

de decisões. Antes disso, é uma parte deste processo, que lidará, inclusive, com dados

sigilosos.

Nunca é demais afirmar que conhecimento é fonte de poder. Quem detém

conhecimento tem capacidade de decidir com acerto, na razão direta da

quantidade e da qualidade dos conhecimentos que possui.33

3.1 Conceitos

O termo inteligência evoluiu com o passar do tempo. Antigamente, na ceara

do estado brasileiro, era utilizada a nomenclatura informação

A Lei nº 9.883, de 7 de dezembro de 1999, que instituiu o Sistema

Brasileiro de Inteligência (Sisbin) e criou a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN),

apresenta, em seu artigo 1º, § 2º , o seguinte conceito de inteligência:

Art. 1º [...]

§ 2º Para os efeitos de aplicação desta Lei, entende-se como inteligência a

atividade que objetiva a obtenção, análise e disseminação de conhecimentos

dentro e fora do território nacional sobre os fatos e situações de imediata ou

potencial influência sobre o processo decisório e a ação governamental e

sobre a salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado 34

.

A Resolução nr 01, de 15 de julho de 2009, descreve a inteligência como

[...] a atividade que objetiva a obtenção, análise e disseminação de

conhecimentos, dentro e fora do território nacional, sobre fatos e situações de

imediata ou potencial influência sobre o processo decisório e a ação

governamental e sobre a salvaguarda e a segurança da sociedade e do

Estado35

.

O professor Joanisval Brito Gonçalves explica que, para entender o

significado do termo inteligência:

33 DOLABELLA, 2009, p. 132. 34 Lei nº 9.883/99. 35 Art. 1º, § 4º, I, res. 01, de 15 de Julho de 2009 – SENASP.

Page 38: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

40

[...] é fundamental que se entenda que se trata de um conhecimento

processado – a partir de matéria bruta, com metodologia própria -, obtido de

fontes com algum aspecto de sigilo e com o objetivo de assessorar no

processo decisório. Atente-se para o fato de que a inteligência lida também

com fontes abertas, ostensivas, mas para que se tenha um conhecimento de

i9nteligência é necessário, de maneira geral, que haja alguma parcela de

dados sigilosos em sua produção. Claro que pode haver produção de

conhecimento de inteligência que seja sigiloso não necessariamente pelos

dados nele utilizados, mas pela análise realizada.36

O termo “Atividade de Inteligência”, que anteriormente se

chamava “Atividade de Informações”, tem como objetivo a coleta de dados ou de

informações que depois de passar por um processo de análise, transforma-se no produto

final, chamado de “produto de inteligência”. Essa inteligência é toda informação

trabalhada e serve de suporte para as tomadas de decisões.

Pacheco ensina:

Segundo o art. 1°, § 2°, do Decreto 4.376/2002, que regulamentou a Lei

9.883/1999, inteligência é a atividade de obtenção e análise de dados e

informações e de produção e difusão de conhecimentos, dentro e fora do

território nacional, relativos a fatos e situações de imediata ou potencial

influência sobre o processo decisório, a ação governamental, a salvaguarda e

a segurança da sociedade e do Estado.

Contra-inteligência é a atividade que objetiva prevenir, detectar, obstruir e

neutralizar a inteligência adversa e ações de qualquer natureza que

constituam ameaça à salvaguarda de dados, informações e conhecimentos de

interesse da segurança da sociedade e do Estado, bem como das áreas e dos

meios que os retenham ou em que transitem (art. 3°, do Decreto

4.376/2002)37

.

3.2 Evolução histórica

Observa-se desde os primórdios da humanidade a importância da Atividade

de Inteligência, já citada em trechos da Bíblia, v.g., quando diz em Números 13, 1-2, 17-

20:

Senhor disse a Moisés: Envia gente para explorar o país de Canaã, que eu

vou entregar aos israelitas; envia um de cada tribo, e que todos sejam chefes.

Moisés os enviou para explorar o país de Canaã, dizendo-lhes: Subi por este

deserto até chegar a montanha. Observai como é o país e seus habitantes, se

são fortes ou fracos, poucos ou numerosos; como é a terra, boa ou ruim;

36 GONÇALVES, 2009, p. 19. 37 PACHECO, 2005.

Page 39: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

41

como são as cidades em que habitam, se de tendas ou amuralhadas; como é a

terra, fértil ou estéril, com vegetação ou sem ela. Sede corajoso, e trazei-nos

frutos do país38

.

Com efeito,

[...] as primeiras evidências escritas do uso da inteligência remontam aos

sumérios e aos egípcios. As informações estavam relacionadas tanto a

assuntos militares quanto a matérias de administração do Estado. Um dos

primeiros registros de relatórios de inteligência produzidos remonta a 3.000

anos antes de Cristo: trata-se de um documento produzido para o Faraó por

uma patrulha da fronteira sul do Egito, em que é informado que

“encontramos o rastro de 32 homens e 3 jumentos”39

.

O general Sun Tzu dizia que “os espiões são os elementos mais importantes

de uma guerra, porque neles repousam a capacidade de movimentação de seu exército”

(2007). Para ele:

Se conhecemos o inimigo e a nós mesmos, não precisamos temer o resultado

de uma centena de combates. Se nos conhecemos, mas não ao inimigo, para

cada vitória sofreremos uma derrota. Se não nos conhecemos nem ao

inimigo, sucumbiremos em todas as batalhas40

.

Naquela época o general Sun Tzu utilizava-se de espiões para buscar dados

sobre os inimigos e sobre o local das pelejas, a fim de subsidiar tomadas de decisões

que levassem à vitória no campo de batalha.

Desde os tempos mais remotos os reis, os comandantes e generais,

permanentemente em conflito com reinos vizinhos ou sob constantes

ameaças, procuraram meios para descobrir as intenções do inimigo, conhecer

o efetivo de suas forças, a riqueza dor reinos adversários, as particularidades

dos campos de batalha.41

Ainda, o mesmo general afirma:

O que possibilita ao soberano inteligente e seu comandante conquistar o

inimigo e realizar façanhas fora do comum é a previsão, conhecimento que só

pode ser adquirido através de homens que estejam a par de toda

movimentação do inimigo. Por isso, deve-se manter espiões por toda parte e

informar-se de tudo. Existem cinco tipos de espiões que podem ser usados:

espiões locais, agentes internos, agentes duplos, espiões dispensáveis e

espiões indispensáveis. Quando os cinco tipos de espiões estão ativos e

ninguém pode descobrir o sistema secreto, chama-se a isso “teia

imperceptível42

.

Na antiguidade existiam formas de proteger o conhecimento

(contrainteligência). Os espartanos utilizavam o citale como um aparelho criptográfico.

38 BÍBLIA, 1993. 39 GONÇALVES, 2008, p. 133-134. 40 SUN TZU, 2007. 41 DOLABELLA, 2009, p. 134. 42 SUN TZU, 2007.

Page 40: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

42

O citale era um bastão de madeira, onde se enrolava uma tira de couro e se

escrevia a mensagem em todo o comprimento desse bastão. Para enviar a

mensagem, de forma despercebida, a tira de couro era desenrolada do citale e

utilizada como um cinto, com a mensagem voltada para dentro. Como na tira

de couro a mensagem ficava sem sentido para decifrá-la era necessário que o

receptor tivesse um citale de mesmo diâmetro para enrolar a tira de couro e

ler a mensagem. 43

Com a finalidade de enviar uma mensagem secreta, ou mesmo proteger o

conteúdo de uma mensagem de pessoas não autorizadas a acessá-la, Júlio César, cônsul

romano, utilizava a cifra para codificar mensagens.

Júlio César utilizava-se da cifra para fins militares, existem registros em que

César descreve como enviou uma mensagem para Cícero, que estava cercado

pelos inimigos e prestes a se render. Nesta mensagem Júlio César substituiu

as letras do alfabeto romano por letras gregas (Singh, 2003).

Outro tipo de cifra utilizada por Júlio César consistia em substituir cada letra

da mensagem original por outra que estivesse três casas à frente no mesmo

alfabeto. César utilizava o alfabeto normal para escrever a mensagem e o

alfabeto cifrado era utilizado para codificar a mensagem que mais tarde seria

enviada.

Esse método de criptografia ficou conhecido como Cifra de César44

.

Cepik relata que “as primeiras organizações permanentes e profissionais de

inteligência e de segurança surgiram na Europa moderna a partir do século XVI [...] no

contexto da afirmação dos Estados nacionais como forma predominante de estruturação

da autoridade política moderna”45.

Um exemplo claro da importância histórica da atividade de inteligência e da

consequência danosa de se desprezar este trabalho foi o ocorrido com o tenente coronel

Georg Armstrong Custer.

O citado militar comandava a Sétimo Regimento de Cavalaria, uma fração

pertencente ao exército americano, que estava voltada para a caça aos índios norte-

americanos, notadamente da nação Sioux (Oglala, Hunkpapa, Cheyenes, Sans Arcs e

Minneconjou).

Em 1876, durante uma caçada aos índios nos vales do rio Power e Tongue,

enquanto o Major Reno fazia um reconhecimento do local com parte da 7ª Cavalaria, o

43 OLGIN, et al, 200?, p. 3. 44 OLGIN, et al, 200?, p. 3. 45 CEPIK (2003, p. 86)

Page 41: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

43

Coronel Custer deveria aguardar o grosso da tropa militar americana a fim de proceder

um ataque contra os índios.

Após o reconhecimento, o major Reno encontrou vestígios de um grande

número de índios na região, contudo, o coronel Custer entendeu que o major deveria ter

atacado, impedindo que os índios se dispersassem, afinal de contas não era costume dos

índios se concentrarem em número tão elevado.

Após reunião no barco “Far West”, em 21 de Junho de 1876, reuniram-se o

major general John Gibbon, o general Terry e o coronel Custer, sendo que chegaram à

conclusão de que não existiria nenhuma tropa indígena capaz de enfrentar um esquadrão

de cavalaria do exército em campo aberto.

Dessa forma, o Coronel Custer foi escolhido pelo General Terry para se

deslocar em direção ao Vale Little Bigorn, para que alcançasse os indígenas e impedisse

que eles aumentassem suas forças, ou que fugissem. Para as tropas do Coronel Custer

poderem deslocar mais rápido, elas abandonaram as pesadas metralhadoras Gatling,

marchando somente com armamentos leves, uma vez que acreditavam não existir

dificuldade alguma em enfrentar os silvícolas.

O tenente Charles Varnum comandava os batedores da 7ª Cavalaria, sendo

que ficou responsável por explorar o acampamento indígena.

O espetáculo era inquietante e fascinante. As barracas estendiam-se até o

horizonte; uma imensa manada de ponies pastava ao longe. Lá em baixo

havia mais índios do que o velho Mitch Bouyer tinha visto nos seus trinta

anos de batedor de planícies. Reno tinha pressentido bem: o acampamento

dos peles vermelhas estava situado precisamente nas margens do rio Little

Bighorn.

Na manhã do dia 25 de Junho, Varnum decidiu prosseguir mais ao perto, por

sua própria conta, a missão de reconhecimento, de modo que mandou que

Bouyer e os exploradores regressassem para o acampamento. Quando os

guias contaram a Custer o que tinham visto, aconselhando-lhe que não fizesse

nada antes da chegada de Terry e de Gibbon, este, incrédulo, quis comprovar

pessoalmente como estavam realmente as coisas, por cujo motivo também ele

subiu ao pico de Crow's Nest, embora uma densa neblina lhe tenha impedido

calcular exactamente as dimensões do acampamento.

Convencido de que se tratava de um dos habituais exageros dos batedores,

decidiu passar imediatamente à acção, tanto mais que Varnum, depois de

regressar da sua exploração, lhe tinha contado que os índios estavam a pontos

de desmontar o acampamento, com a evidente intenção de ir para outra parte.

Page 42: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

44

Porém, não só Varnum tinha visto alguns Sioux dirigir-se para eles. Sem

dúvida, teriam descoberto os soldados azuis e dado o alarme.

Apesar de os seus homens terem sido submetidos a uma extenuadora marcha

noturna, Custer decidiu atacar imediatamente o acampamento índio.

Recomendou aos seus oficiais que se assegurassem de que cada soldado tinha

uma dotação de, pelo menos, 100 balas cada um, e dividiu as suas forças para

poder atacar simultaneamente o inimigo de vários pontos.

Custer confiou três esquadrões ao capitão Frederick Benteen; outros três ao

Major Reno; os cinco restantes ficaram com ele. O que mais temia era ver

fugir a presa entre seus dedos, de modo que a sua estratégia visava em

primeiro lugar, não tanto derrotar os índios, o que já dava como certo, mas

impedir que se separassem, pondo a salvo mulheres e as crianças. Por isso,

ordenou a Benteen que se dirigisse para o sul, procurando que os índios não

fugissem por aquela parte, e ordenou a Reno que atacasse frontalmente o

acampamento, reservando os seus esquadrões para a missão de rodear os

flancos inimigos, orientando-o para o norte, impedindo assim que fugissem

para as margens do Little Bighorn. Custer não sabia que os índios seguiam

atentamente, muitas horas antes, cada manobra do 7º de Cavalaria e que não

tinham nenhuma intenção de fugir, senão que estavam decididos a combater.

Muito em breve o caçador se transformaria em caçado.

Apesar de os exploradores Sioux terem os soldados sob controle, não tinham

notado a separação de Reno e de Bernteen, de modo que seguiram

exclusivamente os passos de Custer. Por isso foram apanhados por surpresa

quando os três esquadrões de Reno irromperam entre as barracas de

Hunkpapa.46

.

Nota-se nesta passagem relatada tanto as falhas da sétima cavalaria, ao não

dar a devida importância as palavras de seus batedores, interpretar erroneamente a

movimentação dos índios e utilizar um exército extenuado para um combate, como

também da inteligência dos índios, ao não perceberem a separação da cavalaria, sendo

apanhados de surpresa. O resultado foi que uma cavalaria composta por 611 homens,

dividida em três frontes de batalha, foi aniquilada por uma força de combate de mais de

1500 índios. Somente o corneteiro sobreviveu.

Na 2ª Guerra mundial, destaca-se a participação dos serviços de espionagem

da inteligência clássica, em especial o agente duplo Juan Pujol García.

Juan Pujol Garcia era um agente que atuava ao lado do Eixo com o

codinome Arabal, Alaric ou V-319, e ao lado dos aliados utilizando o codinome Garbo.

Este catalão foi quem mais destacou-se no mérito de prover desinformação à

Alemanha nazista: além de ter criado uma rede totalmente fictícia que chegou

a ter 28 sub-agentes; desempenhou, juntamente com seu controlador do MI5,

Thomas Harris, um papel fundamental na Operação Fortitute, fazendo com

que os nazistas acreditassem que o iminente desembarque no continente

46 MARTÍNEZ, 1996, p. 24-25.

Page 43: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

45

europeu (Operação Overlord) se daria na região de Pas-de-Calais com um

contingente ainda maior do que aquele que foi realmente utilizado no Dia D

na Normandia47

.

Joanisval Brito Gonçalves destaca a participação da atividade de

inteligência em conflitos bélicos. Para o renomado professor:

[...] um dos componentes centrais para a vitória nas guerras tem sido recurso

à inteligência, de modo que o planejamento e as ações militares devem

sempre considerar os aspectos consagrados pela expressão C4I (comando,

controle, comunicações, computadores e inteligência)48

.

Já Priscila Antunes assevera:

A inteligência militar desenvolveu-se muito a partir do século XIX para

orientar a atuação de segmentos das forças armadas na obtenção de

informações essenciais na guerra moderna. Para países como os EUA, essa

modalidade de inteligência ocupa também papel de destaque em tempos de

paz, sobretudo por determinar as necessidades e capacidades de potenciais

inimigos, para avaliar as necessidades de ação do país em defesa de aliados e

para avaliar o equilíbrio de poder entre nações cujas condutas possam afetar

os interesses estadunidenses49

.

No mundo moderno os serviços responsáveis pela coleta e processamento

de informações são conhecidos como agências de inteligência. Dentre elas, as de maior

destaque são: Central Intelligence Agency (CIA, agência dos Estados Unidos da

América); Komitet Gossudarstvennoi Bezopasnoti (KGB, agência da extinta União

Soviética). Essas agências se notabilizaram pela disputa travada que se denominou

Guerra Fria, logo após a 2ª Guerra Mundial.

Ferro Júnior destaca essa disputa:

Um exemplo de aplicação da atividade de Inteligência na diplomacia foi a

política externa formulada por JOHN DULLES (1965), ex-ministro das

relações exteriores dos EUA, durante a chamada Guerra Fria. Talvez não

coincidentemente, o irmão de John, Allen DULLES, foi diretor da CIA de

1953 a 1961. John Dulles ficou célebre por sua doutrina de política externa

de “contenção” da influência da União Soviética no resto do mundo. Ele

defendia que a habilidade de chegar ao limite da confrontação sem entrar em

guerra, seria uma “arte necessária”. Seu estilo de política externa, baseado em

um “risco calculado”, parece só ter sido possível graças às estimativas norte-

americanas de Inteligência acerca do poder militar e do processo decisório da

política externa da extinta União Soviética.50

47 WIKIPÉDIA, acesso em 23 dez 09. 48 GONÇALVES, 2009, p. 26. 49 GONÇALVES, 2009, p. 27. 50 FERRO JÚNIOR, 2008, p. 41.

Page 44: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

46

Em que pese o esforço dessas potências no tocante à inteligência clássica,

destaca-se o surgimento de um novo foco na atividade de inteligência exercida nos

EUA, voltada para a questão da segurança pública.

De 1900 a 1950, a inteligência criminal foi utilizada de forma muito limitada.

Apenas na segunda metade do século XX, a inteligência criminal mostrou sua

efetividade.

A Unidade de Inteligência de “Segurança Pública” (L.E.I.U – Law

Enforcement Intelligence Unit) foi formada por 26 agências estatais e locais

de “segurança pública”, em 1956, como uma organização cujos membros

trocam informações criminais confidenciais não disponíveis prontamente por

meio de outros canais policiais normais, tendo como agência central de

coordenação o Departamento de Justiça da Califórnia. Atualmente, possuiu

mais de 250 agências dos Estados Unidos, Canadá, Austrália e África do Sul.

Em 1971, foi produzida a primeira versão da obra Basic Elements of

Intelligence (Elementos básicos de inteligência), por Don R. Harris. Pouco

depois, em 1976, foi publicada a edição revisada, Basic Elements of

Intelligence – Revised, publicada, em Washington/DC, pela Law

Enforcement Assistance Administration. Essa obra foi um esforço de

padronização e melhoria da inteligência criminal e serviu de referência para

toda uma geração, sendo considerada uma obra clássica.

Em 2000, a Unidade de Inteligência de “Segurança Pública” (Law

Enforcement Intelligence Unit – L.E.I.U.) e a Associação Internacional de

Analistas de Inteligência “de Segurança Pública” (International Association

of Law Enforcement Intelligence Analysts – IALEIA) publicaram uma

revisão da obra clássica Basic Elements of Intelligence, entitulada

Intelligence 2000: Revising the Basic Elements, editada por Marilyn B.

Peterson, Bob Morehouse e Richard Wright

Essas obras representam um importante modelo de adaptação da atividade de

inteligência “clássica” à atividade de inteligência “criminal”51

.

Referente à evolução da atividade de inteligência no século XX, Antunes

cita:

No século XX, após o fim da II Guerra, [...] emergiram os departamentos

criminais de investigação [...] O crescimento internacional das organizações

de segurança e o medo da espionagem estrangeira ainda levaram os países a

desenvolverem suas agências de contra-espionagem. [...] A partir de meados

dos anos 1940 firmou-se a crença de que a inteligência seria uma atividade

fundamental para o processo de tomada de decisões governamentais.

[...] A organização do sistema de inteligência passou a fazer parte do

planejamento governamental como mais um mecanismo capaz de atribuir

racionalidade ao funcionamento do Estado, não obstante um governo poder

51 PACHECO, 2005.

Page 45: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

47

funcionar sem uma atividade de inteligência, que, afinal, é apenas uma

atividade subsidiária ao processo decisório52

.

3.3 Evolução histórica da inteligência no Brasil

No Brasil, a atividade de inteligência teve início quando o ex-presidente

Washington Luiz baixou um decreto em 1927, dando forma legal ao Conselho de

Defesa Nacional.

Nessa época a atividade de inteligência ainda era nomeada como atividade

de informação.

Esse decreto definia que o citado conselho tinha como tarefa coordenar

informações financeiras, econômicas, bélicas e morais relativas à defesa da pátria.

Dessa forma, ficava claro o interesse do governo em produção de informações

vinculadas a interesses estratégicos de segurança do Estado.

O Conselho de Defesa Nacional era um órgão diretamente subordinado ao

Presidente da República e era composto por todos os ministros de estado e pelos chefes

dos estados-maiores tanto da marinha quanto do exército.

Sobre essa origem da atividade de inteligência, Lucas Figueiredo, em sua

obra “Ministério do silêncio: a história do serviço secreto brasileiro de Washington Luís

a Lula 1927-2005”, nos ensina:

Os primeiros passos para o estabelecimento de um serviço secreto no Brasil

foram dados em 1927, no governo de Washington Luís. Naquele ano, foi

criado um órgão civil federal, o Conselho de Defesa Nacional, que tinha

como missão exclusiva produzir e analisar informações relativas à proteção

do Estado. Estava longe de ser um serviço secreto, mas foi seu embrião 53

.

Em 1934 o governo editou o Decreto nr. 23.873, no qual era reorganizado o

Conselho de Defesa Nacional, sendo criadas Seções de Defesa Nacional em cada

ministério civil, sendo que estas seções foram encarregadas de produzir conhecimentos

relativos à defesa nacional. Nota-se que a ideia de inteligência, ainda conhecida como

informação, ainda era restringida somente à Inteligência de Estado.

52 ANTUNES, 2002, p.40. 53 FIGUEIREDO, 2005, p. 13.

Page 46: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

48

Em 1934, foi promulgada nova constituição, sendo que, referente à

segurança nacional, em seu art. 159, dizia “todas as questões relativas à segurança

nacional serão estudadas e coordenadas pelo Conselho Superior de Segurança Nacional

e pelos órgãos especiais criados parta atender às necessidades da mobilização”54

.

O presidente general Eurico Gaspar Dutra organiza o Serviço Federal de

Informações e Contra-Informações (SFICI), em 1946, com poder legal de, inclusive,

atuar na censura à imprensa e censura de correspondências.

Nesse período ocorria a dicotomia mundial entre o bloco socialista, liderado

pela extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), e o bloco capitalista,

liderado pelos Estados Unidos da América (EUA). Dessa forma, como havia uma luta

ideológica entre os dois blocos, o serviço de inteligência da época foi estruturado para

atuar neste cenário, ou seja, com a finalidade de patrulhamento ideológico.

A lei 4.341/1964 extingue o SFICI, criando o Serviço Nacional de

Informação (SNI). Nessa época o Brasil acabara de ingressar em um regime de governo

militar, sendo que, mais tarde, dois chefes do SNI viriam assumir a Presidência da

República, sendo eles os generais Emílio Garrastazu Médici, de 1969 a 1974, e João

Baptista Figueiredo, de 1980 a 1985.

Nota-se, neste período, a clara influência concomitante à relevante

importância do serviço de inteligência para o governo brasileiro.

O SNI tinha por finalidade “superintender e coordenar, em todo o território

nacional, as atividades de informação e contra informação, em particular as que

interessem à Segurança Nacional.”55

.

Analisando o SNI, Gonçalves afirma:

Ao longo do período militar, o SNI foi adquirindo cada vez mais prestígio, ao

mesmo tempo em que também cresceu seu poder. Logo, a singela estrutura

do SFICI deu lugar a um amplo sistema de informações, com órgãos

vinculados nos diferentes níveis de governo e com capilaridade que cobria

todo o território brasileiro, tendo alguns postos também no exterior.

No contexto da Guerra Fria, o SNI seguiu o modelo doutrinário ocidental,

tendo mantido um constante intercâmbio com os órgãos congêneres do

Ocidente. Uma particularidade era que cada vez mais o SNI voltava-se para a

segurança interna, estruturando-se muito mais como os serviços do bloco

socialista, em especial como a KGB soviética. Apesar de nele trabalharem

54 Constituição de 1934. 55 Artigo 2º, lei 4341/69.

Page 47: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

49

civis e militares, o órgão era dirigido e orientado pelos militares. A partir do

final da década de 1960, com início da luta armada em reação ao regime

militar, no que ficou conhecido como “os anos de chumbo”, o SNI passou a

envolver-se cada vez mais com a repressão. A eficiência e eficácia de seus

agentes na vigilância e detenção dos oponentes do regime e a violência de

alguns de seus métodos deixariam feridas na sociedade brasileira que

levariam anos para cicatrizar, com algumas ainda abertas. A atuação do

serviço naquele período contribuiria para o estigma que acompanha a

atividade de inteligência no Brasil até nossos dias 56

.

Durante o regime militar brasileiro a atividade de informação foi

organizada, mediante a definição de um ordenamento jurídico peculiar, com a

composição de um sistema central e subsistemas setoriais de informação, além da

criação da Escola Nacional de Informação (EsNI) e a formulação de uma doutrina

nacional para este serviço.

Em 1967 foi editado o decreto nr 60.417, no qual foi aprovado o

Regulamento para a Salvaguarda de Assuntos Sigilosos (RSAS). Tal regulamento só foi

revogado em 1977, pelo decreto nr 79.099, que aprovou um novo RSAS.

Em 02 de Maio de 1967 foi criado o Centro de Informações do Exército,

através do decreto nr 60.664.

O foco da atividade de inteligência, tanto das forças armadas como também

das polícias militares, vinculadas ao exército por força de lei, ainda era em grande parte

voltado ao patrulhamento ideológico com vistas a combater principalmente os

pensamentos marxistas.

Em uma passagem, durante a guerrilha na Serra do Caparaó, fica claro a

atuação das agências de inteligência no combate principalmente a pensamentos

comunistas, ou apenas contrários ao Estado

Em Novembro de 1966, os órgãos militares começaram a receber informes a

respeito de elementos estranhos que estavam circulando pela SERRA DO

CAPARAÓ, particularmente, no PARQUE NACIONAL DO CAPARAÓ,

denominado, regionalmente, de campo.

A princípio, os informes que eram bem imprecisos, passaram a ser mais

objetivos, provenientes de maior número de fontes e interessando a diversas

OM do I Ex, entre elas a 4ª RM e ID 4.

Com base nos informes recebidos, foi desencadeada a busca, conseguindo-se

definir como área suspeita a parte do Alto da Serra do Caparaó, próximo à

localidade de PRÍNCIPE-ES, situada na divisa com MG, envolvendo

56 GONÇALVES, 2009.

Page 48: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

50

elementos suspeitos classificados como Comunistas e um militar do Exército,

demitido pelo AI 5.

A PMMG, por intermédio do seu 11º BI, de Manhuaçu e seus Destacamentos

do Caparaó Velho e Espera Feliz, iniciou reconhecimento e forneceu

informações preciosas, tendo, posteriormente, apoiado o falso “Grupo de

Excursionistas” enviado pela 4ª RM e ID 4, constituído por militares do

Exército.

Os “Excursionistas” conseguiram confirmar as informações anteriores da

PMMG e percorrer a área, fazendo um reconhecimento para coleta de dados

os mais diversos, a fim de possibilitar o desencadeamento de uma Operação

Militar, se necessário57

.

Os relatos produzidos pelos militares infiltrados noticiavam a composição

do grupo, entre comunistas, elementos civis cassados, militares cassados, demitidos e

mesmo reformados e pessoas recrutadas na região. Além disso, citava também a

estrutura dos acampamentos, o armamento e mais diversas informações sobre a

localidade, a fim de subsidiar atuação das forças públicas.

Seguindo a evolução da atividade de inteligência no decorrer do regime

militar, foi criado o Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica (CISA) em

1970, através do decreto nr 66.608. Neste mesmo ano, foi adotada a sistemática de

elaboração de Planos Nacionais de Informações (PNI), da qual decorreu a implantação

formal do sistema Nacional de Informações (SISNI), com o objetivo de efetivar a

coordenação e o planejamento que regulamentasse, disciplinasse a produção do serviço

de inteligência, qual seja: o conhecimento.

Em 1976 foi aprovado o Manual de Informações, através da portaria nr 626,

sendo consolidada a Doutrina Nacional de Informação.

Nota-se que ainda nesta época somente se falava em serviço de informação,

não se utilizava da terminologia inteligência.

A técnica da infiltração de um agente em organizações tidas como

subversivas ou com potencial adverso foi bastante utilizada, numa fase de

nossa história (anos 1960 a 1980), pelos serviços de informações (atualmente

serviços de inteligência), os quais atuavam por meio de seus setores de

operações, na busca de informações que pudessem antecipar os

procedimentos de contra-informação (ou contra-inteligência) necessários para

obstruírem ou neutralizarem as ações ou atividades das organizações

infiltradas.58

57 MARCO FILHO, 1999, p. 88. 58 PACHECO, 2005.

Page 49: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

51

Além disso, o serviço de informação era voltado para questões de Estado,

mesmo nos órgãos policiais. Contudo nestes também era utilizado o serviço de

informação para o acompanhamento de seus efetivos e controle de desvios de conduta.

Após a volta do regime democrático ao Brasil, a queda do Muro de Berlim e

a consequente exposição e posterior queda do bloco soviético, esse sistema de

inteligência voltado para o patrulhamento ideológico da sociedade mostrava-se

ultrapassado.

Em 1990, o presidente civil eleito Fernando Collor de Mello, após os anos

do regime militar, acreditando que não necessitava de dados negados, ou dos serviços

de um forte sistema voltado à atividade de inteligência, extingue o SNI, acreditando ser

este um órgão de repressão estatal, incompatível com a democracia do Estado

Brasileiro. Por este ato do Chefe do Executivo, foi colocado termo à toda a rede de

serviços e atividades do SNI culminando inclusive na perda do status de Ministério,

sendo reduzido a um pequeno departamento da Secretaria de Assuntos Estratégicos da

Presidência da República (SAE).

Nota-se, neste período, a perda do prestígio do serviço de inteligência, que

tinha sua imagem erronemanete vinculada à repressão. O serviço de inteligência era

visto como resquício do regime militar. O governo daquela época, ao reduzir o status do

serviço de ineligência acabou por retroceder na evolução desta atividade.

Durante o “regime militar” no Brasil, o Serviço Nacional de Inteligência

(SNI) mobilizou profundamente os “serviços de informação” (atuais serviços

de inteligência) das polícias, especialmente voltados para a repressão aos

opositores políticos do governo militar então no poder. Assim, disseminou-

se, no meio policial, uma atividade de inteligência “clássica”, voltada para a

“segurança nacional”, a qual estaria ameaçada pelos “dissidentes” políticos.

Isso dificultou que os serviços de inteligência policial evoluíssem para uma

inteligência criminal que atendesse especificamente às suas funções policiais.

Com o fim do governo militar, houve serviços de inteligência que

continuaram com a “inteligência clássica” e serviços que passaram a fazer a

“repressão” interna aos seus próprios quadros (“polícia interna”, com fins

disciplinares), e outros que passaram a fazer as duas coisas. De qualquer

forma, não se disseminou logo a idéia de se adequarem os serviços de

inteligência à produção de provas para investigações criminais e processos

penais.

Mesmo atualmente, vários serviços de inteligência policial se mantêm na

linha restritiva da inteligência “clássica”, destinados ao processo decisório de

suas chefias máximas, como, conforme o caso, o chefe da Polícia Civil, o

comandante-geral da Polícia Militar, o secretário de Estado de segurança etc.

Page 50: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

52

Há, em certos casos, até mesmo uma resistência à sua utilização em

investigações criminais59

.

Sobre a extinção do SNI, Gonçalves tece o seguinte comentário:

Em 15 de março de 1990, entre os primeiros atos do novo Presidente

Fernando Collor de Mello estava a extinção do SNI, em um contexto de

reestruturação da Administração Pública Federal. Tinha início um dos

períodos mais infaustos para a atividade de inteligência no Brasil. Por meio

de um ato do Chefe do Executivo, a superestrutura do sistema de informações

em torno do SNI desapareceu, e o órgão central perdeu seu mandato, seus

objetivos e seu status de Ministério, sendo reduzido a um pequeno

departamento da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da

República (SAE). A ESNI5 foi também extinta e o Manual de Informações

banido. Muitos documentos foram perdidos, outros tantos destruídos60

.

No lugar do extinto órgão é criado um departamento de inteligência,

subordinado à Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE). Foi nessa época que houve a

mudança da nomenclatura informação por inteligência.

O então presidente Fernando Henrique Cardoso autorizou em 1995, através

da medida provisória nr 813, a criação da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN).

A ABIN foi criada como uma autarquia federal vinculada à Presidência da

República, com a finalidade de planejar e executar atividades de natureza permanente

relativas ao levantamento, coleta e análise de informações estratégicas, planejar e

executar atividades de contrainformação e executar atividades de natureza sigilosa

necessárias à segurança do Estado e da Sociedade.

Em 1999, através da lei nr 9.883, foi criada definitivamente a ABIN e

instituído o Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN), competindo a este sistema

integrar as ações de planejamento e execução da atividade de inteligência no Brasil.

Sobre a criação definitiva da ABIN, Pacheco explica:

A Lei 9.883/1999 instituiu o Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN) e

criou a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), que sucedeu, numa versão

democrática, ao extinto Serviço Nacional de Informação (SNI). O Decreto

4.376/2002 regulamentou a referida lei. A ABIN é o órgão central do SISBIN

e é subordinada ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da

República. Nos termos do art. 4º deste Decreto, além dela, vários outros

órgãos do Poder Executivo compõem o SISBIN:

[...]

59 PACHECO, 2005. 60 GONÇALVES, 2009.

Page 51: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

53

O Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN) desempenha especialmente o

que aqui denominamos inteligência “clássica” ou “de estado” conforme o art.

1º da Lei 9.883/1999, o SISBIN, que integra as ações de planejamento e

execução das atividades de inteligência do País, tem a finalidade de fornecer

subsídios ao presidente da República nos assuntos de interesse nacional 61

.

Celso Moreira Ferro Júnior destaca, como fundamentos do SISBIN:

[...] a Preservação da soberania nacional; a Defesa do Estado Democrático de

Direito; a Dignidade da pessoa humana; a Preservação dos direitos e

garantias individuais e o cumprimento dos dispositivos constitucionais. A

atividade de inteligência tem por objetivo as ações de planejamento e

execução da atividade de produção de conhecimento com a finalidade de

fornecer subsídios aos dirigentes para tomada de decisões nos assuntos de

interesse do Estado62

.

3.4 Inteligência de segurança pública

A inteligência de segurança pública é o ramo da atividade de inteligência

voltado para analisar o fenômeno social crime, oferecendo o conhecimento necessário

para que o agente público adote as medidas adequadas no controle dos delitos e na

preservação da ordem pública.

Inteligência de segurança pública é

[...] a atividade permanente e sistemática via ações especializadas que visa

identificar, acompanhar e avaliar ameaças reais ou potenciais sobre a

segurança pública e produzir conhecimentos e informações que subsidiem

planejamento e execução de políticas de Segurança Pública, bem como ações

para prevenir, neutralizar e reprimir atos criminosos de qualquer natureza, de

forma integrada e em subsídio à investigação e à proteção de

conhecimentos63

.

Ferro Júnior cita que atividade de inteligência de segurança pública:

[...] é o exercício sistemático de ações especializadas para identificação,

acompanhamento e avaliação de ameaças reais ou potenciais na esfera da

Segurança Pública, bem como para obtenção, produção e salvaguarda de

conhecimentos, informações e dados que subsidiem ações para neutralizar,

coibir e reprimir atos criminosos de qualquer natureza64

.

Para Pacheco

61 PACHECO, 2005. 62 FERRO JÚNIOR, 2008, p. 35. 63 Art. 1º, § 4º, III, Res. 01, de 15 de Julho de 2009 - SENASP 64 FERRO JÚNIOR, 2008, p. 36.

Page 52: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

54

O Decreto 3.695/2000 criou o Subsistema de Inteligência de Segurança

Pública (SISP), estabelecendo como seu órgão central a Secretaria Nacional

de Segurança Pública (SENASP). O SISP é um subsistema por ser parte do

Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN). Compõem o SISP, além da

SENASP, os Ministérios da Justiça, da Fazenda, da Defesa e da Integração

Nacional e o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da

República. Também podem integrar o SISP os órgãos de inteligência de

Segurança Pública dos Estados e do Distrito Federal.

A SENASP criou a Rede Nacional de Inteligência de Segurança Pública

(RENISP), que é uma rede tecnológica para a comunicação segura dos

integrantes do SISP, basicamente composta por um módulo de criptografia de

mensagens (MCX-27), um aparelho de criptografia de fax ou fac-símile (UD-

7) e um telefone que criptografa a voz (TSG).

[...]

Há, portanto, um grande esforço para se adequar (melhor se diria:

complementar) a inteligência dita de estado (ou seja, relativa à segurança

nacional, isto é, do Estado e da sociedade como um todo) à área de segurança

pública. A inteligência de segurança pública ou inteligência criminal é um

conceito em construção.

[...]

Todavia, a rigor, a questão é de aplicabilidade da inteligência na área de

segurança pública (ou, mais amplamente, na área criminal), pois se trata

sempre de inteligência de estado e não de governo, uma vez que tais serviços

não estão (melhor se diria: não devem estar) a serviço de um governante ou

grupo político determinado, mas da Sociedade e do Estado nos seus mais

relevantes interesses públicos 65

.

As práticas delituosas, a partir da década de 1970, evoluíram sua forma de

atuação, criando organizações criminosas66

complexas, com atuação em diversas

modalidades criminosas, em diversas localidades.

Gonçalves cita:

As atividades criminosas têm passado por uma série de mudanças, que

culminaram em ações cada vez mais organizadas por parte de delinquentes e

organizações criminosas. A partir da segunda metade da década de 1970, com

o fortalecimento do narcotráfico e o desenvolvimento de grandes mercados

consumidores – em especial EUA e Europa Ocidental - , as organizações

criminosas aperfeiçoaram seu modus operandi, atualmente com caráter muito

mais complexo e transnacional.

65 PACHECO, 2005. 66 “O rápido crescimento da criminalidade no país pode ser creditado, também, em grande parte, à organização cada

vez mais sofisticada do crime.

Como a nenhum delinqüente ocorreria organizar as sua prática delituosa para chegar a resultado inferior ao que

poderia ser obtido sem tal providência, chega-se à óbvia conclusão de que a organização potencializa o crime.

Quando se fala em crime organizado, a Falange Vermelha, a Máfia e o Cartem de Medelim, surgem logo como

exemplos. Essas organizações criminosas se caracterizam pelas seguintes posições em relação ao Estado: o

enfrentamento eventual, o desafio ostensivo, a substituição informal ou oportuna e a corrupção.” (DOPM nr 11)

Page 53: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

55

Assim, os últimos 25 anos presenciaram o fortalecimento do crime

organizado, com ramificações nos mais diversos tipos de atividades ilícitas,

do narcotráfico à extorsão e corrupção, passando pela prostituição, tráfico de

pessoas e órgãos, tráfico de armas e lavagem de dinheiro67

.

Com esse aumento e incremento dos mais diversos delitos, os órgãos

públicos necessitam buscar meios que possibilitem o controle e a redução dos índices de

criminalidade, além da identificação, prisão e condenação dos agentes desses delitos,

em especial delitos mais graves, com maior repercussão, que prejudicam não só as

pessoas diretamente afetadas pelo crime, como também geram uma sensação de

insegurança em toda a sociedade.

É com este intuito que nos dias atuas a inteligência de segurança pública,

inteligência policial ou inteligência criminal vem se desenvolvendo.

A inteligência policial tem como escopo questões táticas de repressão e

investigação de ilícitos e grupos infratores. Essa inteligência está a cargo, e

deve aí permanecer, das polícias – no Brasil, estaduais (civis e militares), e

polícia federal. É por meio desse tipo de atividade que se podem levantar

indícios e tipologias que auxiliam o trabalho da polícia judiciária e do

Ministério público. No combate ao crime organizado, é muito mais com

atividades de inteligência do que com grandes operações ostensivas que se

consegue identificar esquemas ilícitos e desbaratar quadrilhas68

.

Neste contexto, não há que se falar em discussões ocorridas no meio

policial, no que se refere a quem pode investigar. O trabalho da inteligência vai além de

uma investigação, embora algumas técnicas sejam utilizadas por ambas atividades.

A investigação policial refere-se a um crime específico, já ocorrido, em que

se busca a autoria e materialidade dos fatos para futura persecução penal.

A Inteligência de Segurança Pública (ISP), embora em diversos casos atue

comprovando-se a autoria e materialidade dos fatos, também irá lidar com perspectivas.

Ou seja, um monitoramento de uma quadrilha, de membros de uma gangue ou facção

criminosa não é somente para apontar autores do delito de quadrilha ou bando, mas,

sobretudo, para verificar potenciais ações futuras destes grupos, suas relações com

outros agentes e associações criminosas, de forma a prevenir outros delitos. A

inteligência de segurança pública é uma ferramenta para que os órgãos de segurança

pública otimizem seus esforços na prevenção, para melhor atendimento ao cidadão.

67 GONÇALVES, 2009, p. 29. 68 GONÇALVES, 2009, p. 28.

Page 54: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

56

A inteligência policial, portanto, atua na prevenção, obstrução, identificação e

neutralização das ações criminosas, com vistas à investigação policial e ao

fornecimento de subsídios ao Poder Judiciário e ao Ministério Público nos

processos judiciais. Buscam-se informações necessárias que identifiquem o

exato momento e lugar da realização de atos preparatórios e de execução de

delitos praticados por organizações criminosas, obedecendo-se aos preceitos

legais e constitucionais para a atividade policial e as garantias individuais.69

3.5 Sistema de Inteligência da Polícia Militar

O Sistema de Inteligência da Polícia Militar (SIPOM) é constituído pelo

conjunto de órgãos da corporação que têm como objetivos a coordenação, a orientação,

a supervisão técnica, a fiscalização e a execução da atividade de inteligência na PMMG,

visando a manutenção permanente do fluxo de conhecimentos entre os integrantes do

sistema, visando ao assessoramento dos diversos níveis de comando nos processos

decisórios, no planejamento e execução do policiamento.

Sendo assim, o SIPOM tem papel fundamental para o bom desempenho do

policiamento ordinário e extraordinário na preservação, manutenção e restauração da

ordem pública, com a responsabilidade de garantir o maior número de dados e

informações sobre um fenômeno social que afete a segurança pública e a paz social.

Considerando a capilaridade da PMMG em todo o estado de Minas Gerais, e

a inserção de agências de inteligência em todas as unidades e subunidades da milícia

mineira, o SIPOM se faz presente em todos os 857 municípios mineiros, conseguindo

obter um grande fluxo de informações sobre os mais diversos assuntos atinentes à

segurança pública.

É através do SIPOM que a PMMG participa do SISBIN, mantendo com os

demais órgãos que participam da atividade de inteligência no Brasil um importante e

integrado relacionamento.

O Decreto-lei nr 88.777/1983 (R-200) vincula os órgãos de inteligência ao

Exército Brasileiro, sendo que a vinculação da PMMG ao exército, bem como a

69 GONÇALVES, 2009, p. 28.

Page 55: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

57

vinculação das demais polícias militares do Brasil, já era vislumbrada pelo decreto-lei

667, de 1969.

A relação das polícias militares com o Exército foi ratificada na

Constituição da República, que em seu art. 144, § 6º cita “as polícias militares e corpos

de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do Exército”70

.

Em 1975, a Lei estadual nr 6.624, e suas posteriores alterações, previam a

Seguna Seção de Estado-Maior da Polícia Militar de Minas Gerais (EMPM2), a seção

responsável para gerir o SIPOM, sendo que em cada unidade da PMMG existia agência

de área, a exercer a atividade de inteligência, prestando informações à agência central.

Compete ao SIPOM o acompanhamento e análise de conjuntura, visando o

atendimento das necessidades de assessoramento dos diversos níveis de comando; a

produção de conhecimento necessária ao planejamento, que retratem um diagnóstico

preciso de fato ou situação, para o correto desencadeamento de ações ou operações;

além de levar aos seus comandantes os elementos necessários às decisões adequadas e

oportunas para o emprego do efetivo e recursos, de forma a obter os melhores resultados

na missão constitucional da PMMG de manutenção e preservação da ordem pública.

A agência central coordena toda a atividade de inteligência no âmbito da

PMMG, coordenando também a inteligência de segurança pública no estado de Minas

Gerais.

Segundo a Resolução 01, de 15 de Julho de 2009, que regulamenta o

Subsistema de Inteligência de Segurança Pública (SISP):

O subsistema de Inteligência de Segurança Pública – SISP, que compõe o

Sistema Brasileiro de Inteligência – SISBIN, constituído de rede própria e

responsável pelo processo de coordenação e integração das atividades de

inteligência de segurança pública no âmbito do território nacional, tem por

objetivo fornecer subsídios informacionais aos respectivos governos para a

tomada de decisões no campo da segurança pública, mediante a obtenção,

análise e disseminação da informação útil, e salvaguarda da informação

contra acessos não autorizados71

.

A referida resolução estabelece como elementos constituintes do SISP, entre

outros, os Organismos de Inteligência de Segurança Pública e suas agências, o

70 CR/88. 71 Art. 1º, res. 01, de 15 de Julho de 2009 - SENASP

Page 56: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

58

respectivo pessoal e estrutura material, bem como as Agências de inteligência – AI – a

ele vinculadas, respectivo pessoal e material72

.

Recentemente ocorreram duas importantes mudanças no SIPOM,

demonstrando a importância que a atividade de inteligência vem obtendo, não só no

meio policial, como também político. A primeira delas foi a criação, através da

resolução 4.031/09, do Núcleo de Treinamento de Inteligência da Polícia Militar

(NuTIPM), que tem como atribuição principal a capacitação de militares para atuarem

no exercício de funções no sistema de inteligência da polícia militar.

A outra mudança foi a promulgação da Resolução 4.062/2010, criando,

assim, a Diretoria de inteligência (DInt) e alteração no Detalhamento e Desdobramento

do Quadro de Organização e Distribuição (DD/QOD). Dessa forma, a PM/2, que era o

órgão central de Inteligência do SIPOM, passa a ter somente a função de

assessoramento do Comando Geral, enquanto a DInt passa a funcionar como órgão

central do SIPOM. Essa mesma resolução criou o Centro de Treinamento de

Inteligência da Polícia Militar (CTInt), subordinando-o à Diretoria de Inteligência,

extinguindo o NuTIPM.

Este Centro de Treinamento de Inteligência é subordinado

administrativamente à Academia de Polícia Militar, que irá gerir os recursos do Centro,

como ocorre com qualquer outro centro de formação e treinamento da PMMG, contudo

a subordinação técnica do CTInt é a DInt.

72 Art. 1º, § 4º, III, res. 01, de 15 de Julho de 2009 - SENASP

Page 57: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

59

4 PROGRAMA DE CONTROLE DE HOMICÍDIOS

No ano de 2007, Andrea Maria Silveira apresentou junto à universidade

Federal de Minas Gerais a tese “Prevenindo homicídios: Avaliação do Programa Fica

Vivo no Morro das Pedras em Belo Horizonte”.

Segundo a pesquisadora:

O aglomerado Morro das Pedras situado na região oeste de Belo Horizonte,

apresentava no ano de 2000, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística – IBGE, 15.833 habitantes distribuídos em sete vilas, Apesar de

constituir uma comunidade relativamente pequena o aglomerado apresentou

no ano de 2002, 32 homicídios, o que corresponde a uma taxa de

202,2/100.000 habitantes, número este, bastante distante da taxa de 37,8

homicídios/100.000 habitantes registrada para a cidade como um todo.73

Ou seja, a pesquisadora aponta uma anomalia social naquela comunidade.

Os números de crimes contra a vida apontados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE) extrapolavam, e muito, o valor do restante da capital mineira.

Vários fatores contribuíam para a concentração de homicídios naquela

região e em apenas mais quatro outros aglomerados da cidade, afinal:

[...] pesquisadores das áreas de saúde e segurança pública para o restante do

Brasil e de outros países da América Latina que apontam a distribuição

heterogênea da violência, dos homicídios em particular, no interior destes

países e das cidades, principalmente nos grandes centros urbanos onde a

morte violenta tende a se concentrar em áreas fisicamente deterioradas e que

compartilham outros indicadores de vulnerabilidade social, tais como baixos

índices de escolaridade de suas populações, taxas elevadas de desemprego e

informalidade no mercado de trabalho, acesso precário a serviços públicos

essenciais, baixo padrão de acabamento das moradias, grande percentual de

jovens na população, alta densidade populacional dentre outros74

.

Além disso:

[...] estas áreas se caracterizam por constituir foco de atividade intensa do

tráfico de drogas, atividade esta, que emprega grande número de jovens. Os

conflitos em torno desta atividade ilegal transforma os jovens nos maiores

envolvidos na epidemia de homicídios, seja na posição de vítimas ou de

autores75

.

73 SILVEIRA, 2007, p. 13. 74 SILVEIRA, 2007, p. 13. 75 SILVEIRA, 2007, p. 14.

Page 58: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

60

O trabalho da doutora apresenta como causa principal da incidência de

homicídios o abandono do poder público e, por que não dizer, o descaso da própria

comunidade em determinados locais da cidade, o que contribuíam, em um primeiro

momento com a deterioração de determinada localidade, passando pela proliferação de

delitos, em especial o uso e tráfico de drogas, até o aumento exorbitante do

cometimento de homicídios.

Sendo assim, o Programa Fica Vivo, implementado no aglomerado Morro

das Pedras, trata-se de um programa que visava

[...] minimizar os fatores de risco identificados para a participação de jovens

em interações violentas, baseado em pressupostos derivados da teoria da

desorganização social de que comunidades que são incapazes de

supervisionar e controlar seus jovens, comumente testemunham a adesão dos

mesmos a gangues envolvidas no tráfico de drogas ilegais e no porte de

armas76

.

O objetivo do programa traduz-se na redução de ocorrências de homicídio,

através de ações que buscavam capacitar a própria comunidade local a exercer um

controle social informal, oferecendo suporte social e supervisão aos jovens, além do

emprego de recursos externos nessa comunidade.

Inicialmente a autora faz uma exposição sobre comportamentos especiais,

notadamente em zonas de risco, demonstrando situações de degradação social, que

culminavam na concentração de ações delinquentes nessas localidades.

Ao abordar um estudo sobre gangues no Distrito Federal, a autora expõe:

Armas e drogas circulam livremente pelas gangues, e curiosamente é

relativamente alta a participação de meninas nas atividades, ainda que isto

ocorra em atividades subalternas e coadjuvantes.

Nestas gangues, andar armado constitui condição que impõe respeito e

consideração dos pares e das meninas (jovens armados supostamente podem

garantir proteção às moças). Ter sido preso, não é motivo de vergonha, mas

uma demonstração de valentia e fonte de status e respeito. Outra maneira de

ser respeitado e temido é cometendo homicídios (quanto maior o número,

maior o respeito e o temor).77

Sobre as condições sociais que implicariam em uma heterogeneidade na

distribuição de delitos, a doutora expõe uma realidade do mundo capitalista: a

76 SILVEIRA, 2007, p. 14. 77 SILVEIRA, 2007, p. 32.

Page 59: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

61

desigualdade social. Contudo, após abordados diversos delitos, ela apresenta que há

uma dissenso entre estudiosos da área, não chegando a nenhuma conclusão se os

homicídios estão de fato relacionados com desigualdade social, ou mesmo com a

pobreza em si, estando mais relacionados com a falta da presença do Estado.

[...] a relação entre desigualdade social ou privação econômica e homicídios

desafia criminólogos, sociólogos e epidemiológos sem um consenso a vista,

uma vez que os estudos apresentam conclusões discordantes78

.

Outro aspecto importante sobre os delitos de homicídio abordado no

trabalho da professora é a relação destes com armas de fogo.

Obviamente, o potencial lesivo de uma arma de fogo aumenta

consideravelmente os riscos de que uma ocorrência com resultado morte ocorra,

aumentando a capacidade lesiva de um autor e diminuindo a capacidade de auto-

proteção das vítimas.

Portanto, com base no estudo sobre o projeto no aglomerado Morro das

Pedras, chegou-se a algumas conclusões: O objetivo principal do programa do programa Fica Vivo é a redução do

número de homicídios. A avaliação do cumprimento deste objetivo encontra

as dificuldades que dizem respeito a possibilidade de isolar os efeitos do

programa de outras intervenções públicas e privadas implementadas na área

alvo no período estudado, e que poderiam interferir na redução daqueles

eventos.

No período de implementação do programa no aglomerado do Morro das

Pedras nenhuma outra política pública de proteção social com a envergadura

do Fica Vivo, seja de iniciativa dos Governos Federal, Estadual ou Municipal

foi implementada. Da mesma forma, iniciativas de Organizações não

Governamentais que tiveram por área de atuação o Aglomerado foram de

pequeno porte, e algumas não se sustentaram ao longo do período estudado,

motivo que não me levou a considerá-las como possíveis hipóteses rivais

para explicar a queda nos homicídios ocorridos na região.

Do ponto de vista de intervenções de natureza policial foram implementados

o Programa de Prevenção Ativa – PPA – a partir de novembro de 2004 e o

IGESP - Integração e Gestão de Segurança Pública a partir maio de 2005 em

todo o município de Belo Horizonte.

O IGESP é um modelo de gestão integrada de segurança pública que tem

como objetivo gerenciar, monitorar, e avaliar as estratégias policiais de

controle e prevenção da criminalidade no estado de Minas Gerais. Inspirado

no modelo de gerenciamento policial COMPSTAT implementado pela

policia de Nova York no inicio dos anos 90, e em experiências de gestão das

polícias adotadas em Bogotá, na Colômbia, o sistema tem foco de atenção

78 SILVEIRA, 2007, p. 40.

Page 60: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

62

nas informações que definem a natureza dos problemas que comandantes de

distritos policias tem de enfrentar diariamente.

O modelo combina o uso de tecnologia de geo-processamento na

identificação de zonas quentes de criminalidade, com análises criminais que

tentam explicar o por que do aumento ou redução dos crimes, seus padrões e

tendências, informando e orientando um policiamento voltado para solução

de problemas específicos. Permite ainda a discussão e planejamento conjunto

de ações entre policiais civis e militares, além de aumentar a responsabilidade

de comandantes de distritos policiais no controle e prevenção da

criminalidade local e dos policiais de ponta e detetives nos seus respectivos

setores. O modelo busca uso compartilhamento de informações precisas e

atualizadas dos eventos criminais; alocação rápida de recursos humanos e

materiais; planejamento tático efetivo e flexível; monitoramento e avaliação

continuada (Beato et al.2007).

O PPA opera através de viaturas de policiamento comunitários que orientam

suas atividades no território da comunidade a partir das informações sobre

ocorrência de crimes na região, priorizando a presença policial nas áreas onde

a ocorrência destes crimes é mais freqüente.79

Ainda: O Programa Fica Vivo funciona. Se nos ativermos aos seus impactos sobre a

ocorrência de homicídios no Morro das Pedras temos de reconhecer que o

programa foi responsável por reduções importantes e sustentadas destes

eventos desde sua implementação em 2002.

A grande queda dos homicídios nos primeiros meses de implementação,

quando as ações de proteção social praticamente não ocorriam aponta a

importância, naquele momento das ações de natureza policial e repressiva

para redução dos homicídios. Além das atividades de policiamento

comunitário que iniciaram no segundo semestre de 2002, aquele período foi

marcado por grandes ocupações policiais, que certamente tiveram forte efeito

não apenas no sentido de cumprir mandados de prisão e realizar buscas, mas

de sinalizar que a presença do Estado, da polícia em particular, naquele

território se daria de outra forma a partir daquele momento. Arrisco ainda a

dizer que sem esta intervenção inicial teria sido muito difícil a

implementação bem sucedida de atividades de proteção social. Pois a

implementação destas atividades exige um patamar mínimo de garantias de

liberdade de circulação e segurança.

Além disto, a literatura aponta que programas de prevenção à criminalidade

bem sucedidos, obtiveram reduções no crime no curto prazo as custas de

ações de natureza repressiva. Estes resultados são importantes para a quebrar

o círculo vicioso da violência sinalizando aos potenciais infratores que o

crime, no nosso caso o homicídio não será tolerado, e permitir a

implementação das medidas preventivas de proteção social, as quais

garantem reduções adicionais no número de eventos criminosos, criam um

círculo virtuoso e asseguram a manutenção de bons resultados no longo prazo

(Braga, 2001; Veloso e Ferreira, 2007). Esta lógica é tributária da idéia de

equilíbrios múltiplos em economia. Assim, as medidas repressivas/punitivas

seriam importantes para sair de um equilíbrio perverso para um equilíbrio

caracterizado por menor criminalidade. Já as medidas de prevenção seriam

79 SILVEIRA, 2007, p. 251-252.

Page 61: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

63

importantes para garantir que o novo equilíbrio seja estável (Corman e

Mocan, 2002, Veloso e Ferreira, 2007)80

.

Nota-se claramente, com o estudo apresentado, que ações repressivas têm

seu papel para o impacto imediato, como a prisão de marginais, operações de busca e

apreensão, mas o resultado duradouro da redução da incidência de delitos deve-se

também, e principalmente, à atuações do Estado na área de prevenção de delitos.

Em um local ocupado pelo poder público, local salubre, iluminado, com

uma sociedade que confia na sua polícia e que entende a percebe a coerção e a coação

no caso de práticas delituosas apresenta uma redução nos registros de ocorrências.

No caso da redução de homicídios no citado aglomerado, destaca-se a

participação efetiva do serviço de inteligência da PMMG, através do monitoramento de

agentes e de guangues que agiam no local, de modo a possibilitar a prisão de infratores,

e a atuação do policiamento preventivo no local.

80 SILVEIRA, 2007, p. 258-259.

Page 62: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

64

5 A INTELIGÊNCIA DA PMMG NO CONTROLE DE

HOMICÍDIOS

5.1 Diretrizes para a Produção de Serviço de Segurança Pública

Como foi citado anteriormente, cada homicídio teve um fator que o motivou

a ocorrer. Uma vez que a motivação varia, o combate à forma delituosa também deve se

adequar àquela realidade.

[...] tratar mortes que envolvem motivações, atores e cenários tão diversos,

como homicídios relacionados ao uso ou comércio de drogas, crimes

passionais, latrocínios, estupros seguidos de morte, crimes motivados por

preconceito racial, religioso ou homofobia etc. como eventos idênticos pode

não ser a forma ótima de identificação de regularidades que nos permitam

entender as causas e os mecanismos que geram estes eventos81

.

A Polícia Militar de Minas Gerais padronizou as Diretrizes para a Produção

de Serviços de Segurança Pública (DPSSP), normatizando o Papel da Polícia Militar e

dos Policiais Militares na sua relação com os cidadãos e a segurança pública

(DPSSP01). Atualmente, essas diretrizes norteiam o serviço policial segundo os

princípios de Polícia Comunitária (DPSSP04), a filosofia dos Direitos Humanos

(DPSSP08), segundo a tendência atual de globalização (DPSSP06), e também em

relação à prevenção (DPSSP09) e ao combate ao tráfico de drogas (DPSSP03), um dos

mais graves problemas das sociedades contemporâneas. As principais diretrizes estão

abaixo detalhadas:

DPSSP01 - EMPREGO DA POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS NA

SEGURANÇA PÚBLICA (MARÇO DE 2002)

O papel da PMMG

No contexto sistêmico da Defesa Social, a Polícia Militar assume papel de

relevância na preservação da ordem pública, prevenindo ou inibindo atos

anti-sociais, atuando repressivamente na restauração da ordem pública,

adotando medidas de proteção e socorro comunitários ou atuando em apoio

aos órgãos da administração pública, no exercício do poder de polícia que

lhes couber.82

81 SILVEIRA, 2007, p. 22 e 23. 82 DPSSP01

Page 63: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

65

Para isto, desenvolve técnicas específicas entre as quais destaca-se o

geoprocessamento. Segundo essa diretiva:

O geoprocessamento compreende as atividades de aquisição, tratamento e

análise de dados. Envolve desde um conjunto de tecnologias para a coleta de

imagens da superfície do planeta, conhecido como sensoriamento remoto, até

o processamento e análise desses dados, em forma de mapas digitais, usando-

se os Sistemas de Informações Geográficas, um ambiente computacional

orientado à análise e interpretação de diversos fatos e fenômenos

relacionados à Terra.

De caráter transdisciplinar, esse poderoso conjunto instrumental se aplica a

diversos campos profissionais, tornando-se imprescindível para projetos que

lidam com questões voltadas à organização, planejamento e gestão do

território geográfico ou que envolvam análises espaciais em seus estudos,

como é o caso da segurança pública.83

Nesse trecho da diretriz em tela, é definida a necessidade de o policial atual

ter conhecimento especializado sobre geoprocessamento, dada a importância que

alcançou seu papel na preservação da segurança pública. Inicialmente, o

geoprocessamento mostrou-se uma importante ferramenta no auxílio ao monitoramento

e controle de delitos, contudo somente a ferramenta não serve, se o operador da

ferramenta não souber interpretar o resultado de seu trabalho. É neste contexto que a

atividade de inteligência acompanha a evolução dos serviços apresentados pela PMMG

para o combate aos delitos e aos crimes violentos, em especial o homicídio.

A diretriz DPSSP04 define o papel do Policial Militar a partir da filosofia de

Polícia Comunitária, introduzida na PMMG no ano de 1993:

DPSSP04 - A FILOSOFIA DE POLÍCIA COMUNITÁRIA NA POLÍCIA

MILITAR DE MINAS GERAIS (DEZEMBRO DE 2002)

[...]

INTRODUÇÃO

[...]

A filosofia de Polícia Comunitária, [...] foi estabelecida pela Polícia Militar,

no ano de 1993, quando o Comando-Geral publicou a Diretriz de

Planejamento de Operações n.º 3008, normatizando o assunto.

[...]

O policial comunitário ultrapassa a visão limitada de atender ocorrências ou

efetuar prisões, embora estas também sejam de sua competência. Seu papel

exige um contato contínuo e sustentado com as pessoas da comunidade, de

modo que possam, em conjunto, explorar soluções para as preocupações

locais, bem como desenvolver e monitorar iniciativas abrangentes e de longo

83 DPSSP01.

Page 64: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

66

prazo, que envolvam toda a comunidade num esforço de melhorar a

qualidade de vida local.

O relacionamento, baseado no respeito e na confiança mútuos, sugere que a

polícia atue como elemento catalisador, incentivando as pessoas a

reconhecerem na participação social, o resultado pela qualidade geral de vida

do seu ambiente local. Nesse sentido, a policia comunitária amplia o papel da

polícia, de modo que essa produza um maior impacto na realização de

transformações que venham ao encontro das expectativas de tornar as

comunidades mais seguras e mais atraentes para nelas se viver84

Essa diretriz mostra a preocupação da polícia mineira em manter um estreito

laço com a comunidade, compartilhando a responsabilidade de produção de segurança

com o cidadão, e o envolvendo no processo de produção desta.

Desta forma, com um laço estreito com a comunidade, novamente a PMMG

busca, entre outros objetivos, aumentar o fluxo de informação de seus órgãos de

inteligência para a preservação de segurança e prevenção de delitos.

A diretriz DPSSP06, por sua vez, reconhece a necessidade de adaptação do

papel do Policial Militar na nova ordem mundial, pós-globalização:

DPSSP06 - REGULA O PAPEL DO ADMINISTRADOR DA POLÍCIA

OSTENSIVA DE PRESERVAÇÃO DA ORDEM PÚBLICA, SOB OS

EFEITOS SOCIAIS, POLÍTICOS E ECONÔMICOS DA NOVA ORDEM

MUNDIAL (GLOBALIZAÇÃO), (MAIO DE 2003)

[...]

Visão globalista

MOTTA (1997) aponta a visão globalista como condição para que o

administrador consiga lidar com a multiplicidade de contextos envolvidos

nos desafios enfrentados pela organização. Para o autor, a visão sistêmica e

globalista liberta a organização de paradigmas, modelos e metáforas.

Num momento em que a Instituição percebeu sua importância social, do

ponto de vista de seu papel de mobilização de potencialidades sociais para a

prevenção do crime, tônica da Polícia Comunitária, fica patente o valor da

visão globalista no administrador da segurança pública, porque essa visão

conduzirá a fazer com que de fato a PMMG cumpra seu papel social,

ajudando a comunidade a resolver os problemas subjacentes à atividade

criminosa.

Referindo-se à importância dessa atitude organizacional, OSBORNE &

GAEBLER (1998:53) afirmam que a chave “é a capacidade que tem a polícia

de atuar como catalisadora e reunir os recursos comunitários, fornecendo

meios, apoio e treinamento”. Segundo os autores, a polícia pode ser mais

efetiva se ajudar as comunidades a ajudarem a si mesmas e, quando as

comunidades têm o poder de resolver seus problemas, é natural que

84DPSSP04.

Page 65: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

67

funcionem melhor do que aquelas que dependem de serviços fornecidos por

outrem.

Considerando que o Estado tem o dever de prover a segurança pública, mas o

texto constitucional paralelamente a considera “responsabilidade de todos”, a

visão globalista permite ao administrador público na PMMG entender-se

como parte de um contexto social múltiplo em problemas e potencialidades, e

agir segundo um propósito catalisador de esforços, essencialmente

preventivos.85

A diretriz DPSSP08, em conformidade com o que preconiza o Comitê

Internacional da Cruz Vermelha, introduz a questão do novo referencial ético no

exercício das funções do Policial Militar, segundo a filosofia dos Direitos Humanos:

DPSSP08 - ATUAÇÃO DA POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS

SEGUNDO A FILOSOFIA DOS DIREITOS HUMANOS (2004)

Procedimento Policial Militar

[...]

O policial deve, no uso de suas atribuições legais, respeitar, garantir,

preservar e proteger os direitos humanos de todos os cidadãos, como veículo

pleno de promoção desses direitos, no momento em que o policial atua no

atendimento a ocorrências nas ruas ou qualquer outro lugar, quando e onde o

cidadão lesado encontra-se mais vulnerável.86

Verifica-se, portanto, que o exercício da profissão de Policial Militar inclui

atualmente componentes complexos, que vêm evoluindo e acompanhando o

desenvolvimento da sociedade. O exercício da atividade policial ao pode ficar estagnado

no tempo, uma vez que os agentes de delitos evoluem o seu modus operandi, e a polícia

deve estar preparada para qualquer que seja a conduta criminosa, tanto para preveni-la,

como também para combatê-la.

5.1 Plano estratégico da PMMG ano 2009-2011

Com o intuito de implementar um modelo de gestão baseado nos resultados,

a PMMG editou um plano estratégico, englobando o período de 2009 a 2011.

Dentro do plano estratégico é prevista a missão da PMMG, qual seja,

assegurar a dignidade da pessoa humana, as liberdades e direitos fundamentais,

85DPSSP06. 86 DPSSP08.

Page 66: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

68

contribuindo para a paz social e para tornar Minas Gerais o melhor estado para se viver.

Esta missão abrange a proteção à vida e a sensação de segurança.

Dentro dos objetivos estratégicos estabelecidos é possível notar a

preocupação da PMMG no combate aos delitos de homicídio. O primeiro objetivo

apresentado no plano estratégico é justamente o de reduzir a violência, a criminalidade,

a desordem e a sensação de insegurança, nas áreas urbanas, rurais e rodovias.

Um dos focos deste trabalho de reduzir a sensação de insegurança é o

monitoramento de crimes violentos, uma vez que tais crimes com emprego de violência

e risco à vida e integridade física geram impacto direto na sensação de medo de toda a

sociedade.

Já no sexto objetivo apresentado pelo versa justamente sobre o sistema de

inteligência da PMMG, em especial a área de inteligência de segurança pública (ISP).

Este objetivo prevê a modernização do sistema de inteligência, com ênfase na

inteligência de segurança pública.

Uma instituição capacitada técnica e tecnologicamente para identificar,

analisar, intervir e monitorar o fenômeno criminal em suas diversas

modalidades: organizado, sistêmico ou eventual. Neste contexto, a atividade

de Inteligência de Segurança Pública assume papel fundamental, porquanto

deve ser um dos principais direcionadores do emprego operacional e de

obtenção de resultados.

A efetiva participação do Sistema de Inteligência no emprego racional dos

recursos da Corporação objetiva subsidiar as ações policiais no sentido de

produzir resultados eficientes na execução da prevenção e repressão

qualificada da criminalidade e da violência.87

Sobre os resultados esperados a serem alcançados, estes também são

divididos por assunto.

O primeiro resultado a ser alcançado, relativo à incidência de eventos de

defesa social destaca a redução da taxa de homicídios por cada grupo de 100 mil

habitantes, além da redução da taxa de homicídios entre os jovens de 15 a 24 anos e a

redução do número de homicídios relacionados ao consumo e tráfico de drogas, além de

outras metas relacionadas aos demais crimes. Essa divisão já demonstra um tratamento

qualitativo sobre os casos de homicídio, ou seja, uma meta de redução genérica, outra

87 MINAS GERAIS, 2009.

Page 67: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

69

de redução abrangendo determinado grupo de vítimas e uma terceira abrangendo uma

motivação específica para a prática de homicídios.

No tocante à estratégias e ações por área de resultado, o plano estratégico,

em seu item 8.2 trata da gestão da inteligência de segurança pública.

ESTRATÉGIA 8.2.1 Aperfeiçoar a rede de captação (coleta e busca),

circulação, processamento e disseminação de informações e conhecimentos

de Segurança Pública.

Descrição: A Inteligência de Segurança Pública (ISP) busca, através de ações

especializadas, produzir e proteger conhecimentos necessários para prever,

prevenir e reprimir atos delituosos de qualquer natureza ou relativos a outros

temas de interesse da Segurança Pública e da Defesa social. Para o

aperfeiçoamento da produção do conhecimento em todas as suas fases,

visando à otimização da ISP, faz-se necessário o aprimoramento dos recursos

humanos, logísticos e tecnológicos, e da gestão do conhecimento no Sistema

de Inteligência da Polícia Militar.88

Com essa estratégia, a PMMG visa ao aprimoramento da atividade

inteligência, como forma de ampliar ações de prevenção e repressão qualificada, ou

seja, do levantamento de informações, para analisá-las e produzir o conhecimento

necessário a auxiliar aos comandantes das diversas unidades responsáveis pelo

policiamento a tornarem este mais eficiente.

Além disso, o incentivo às ações de inteligência busca também a produção

integrada de conhecimento com demais órgãos que possuam informações importantes e

pertinentes à segurança pública, como a polícia civil, o sistema prisional, policia federal,

a agência brasileira de inteligência (ABIN), dentre outros.

Por fim, o plano estabelece como estratégia o fomento a cooperação entre o

poder judiciário, ministério público e demais órgãos no planejamento, coordenação e

desenvolvimento de ações e operações policiais para o controle e redução da

criminalidade e da violência em Minas Gerais.

5.2 Estratégias relevantes ao controle de homicídios

A teoria norte-americana, que subsidiou o programa “tolerância zero” em

Nova York e está sendo amplamente difundida no seio da PMMG é a teoria da Broken

88 MINAS GERAIS, 2009, p. 37.

Page 68: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

70

Windows (tradução livre – janelas quebradas). Nesta teoria, um ambiente já degradado

torna-se mais propenso a práticas de novos delitos.

Com efeito, a redução de índices de criminalidade violenta, especialmente

nas cidades de Bogotá, na Colômbia, e Nova York, nos Estados Unidos foram em

decorrência de uma série de medidas, tanto preventivas quanto repressivas, que foram

implementadas com base na teoria acima citada e com ênfase no policiamento

comunitário.

Essas estratégias adotadas pressupõem que, em um ambiente seguro gera-se

segurança. Ou seja, enquanto ambientes degradados são um antro, um aglomerado de

indivíduos a margem da lei, por se sentirem impunes, um ambiente com a presença de

todo o Estado, e não só da polícia, o cidadão respeita as leis ali estabelecidas.

A mistura de coerção (subjetiva) e coação (objetiva) é o que torna

determinada região propensa ou não a delitos premeditados. Em contrapartida, a

sensação de impunidade favorece para que mais pessoas pratiquem delitos. Essa

sensação de impunidade aumenta à medida que a população local não confia mais nos

mecanismos legais de segurança, fazendo assim, um ciclo vicioso, perceptível em

aglomerados urbanos. Ou seja, uma determinada população não denuncia, ou colabora

de qualquer maneira com os órgãos que compõe o sistema de defesa social por temerem

represálias por parte de determinado cidadão infrator. Dessa forma, o sistema de defesa

social não consegue atuar repressivamente contra tal cidadão, deixando-o impune e livre

para continuar coagindo a população local contra o Estado.

A aproximação, portanto, do Estado com a sociedade civil, como foi

mostrado no trabalho desenvolvido no aglomerado Morro das Pedras, em Belo

Horizonte, auxilia no combate à violência. O policial militar que atua junto à

comunidade e que a conhece tem mais facilidade em obter informações sobre os delitos

que ali ocorrem, seus autores, vítimas e as demais circunstâncias que circulam a condita

delitiva.

Cabe, porém, ao serviço de inteligência coletar estas informações junto aos

militares, fazendo um trabalho sobre demais dados obtidos, tanto de fontes disponíveis,

Page 69: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

71

como também os dados negados, processando essas informações e produzindo o

conhecimento necessário para auxiliar seus respectivos comandantes na tomada de

decisão sobre o melhor meio de combater determinadas condutas delitivas, sobre a

melhor forma de otimizar os recursos humanos e logísticos disponíveis naquela unidade

para o controle e redução de delitos e a manutenção da paz social.

A PMMG possui uma capilaridade em seu sistema de inteligência, até o

nível de pelotão policial militar, fazendo a utilização de agentes de inteligência e

agentes velados para coleta de informação e para atuação repressiva, respectivamente.

É importante destacar aqui a diferença, no seio da PMMG, entre agente de

inteligência e policiamento velado. O agente de inteligência irá ingressar no ambiente

de atuação, coleta e busca de dados (inclusive negados), interagir no local, sem, contudo

que se saiba de sua presença ou de suas reais motivações. Já o policial velado, em um

primeiro momento, também irá interagir no ambiente de forma não-ostensiva, contudo,

caso haja necessidade, ele deverá desempenhar o papel policial, efetuando uma

abordagem, uma prisão em flagrante, ou, de alguma outra forma, se identificando como

agente do Estado em serviço, conforme necessitar o caso concreto. O policiamento

velado é, também, uma forma de policiamento, assim como o policamento ostensivo

geral.

Especificamente sobre o controle de homicídios, e demais delitos que

resultem em ceifação da vida, o serviço de inteligência da PMMG deve interagir

buscando identificar autores, potenciais vítimas, meios empregados, local de atuação e

demais circunstâncias comuns entre os delitos, de forma a auxiliar o sistema de defesa

social na captura e responsabilização dos autores e partícipes, como também fornecer

elementos para que a unidade policial responsável por aquela área tenha elementos para

atuarem preventivamente, coibindo a ação humana.

O combate a pequenos delitos, a ambientes degradados, gera uma sensação

de segurança, além de demonstrar ao cidadão que, caso a lei não seja respeitada, haverá

uma punição. Dessa forma, combater pequenos delitos impõe um receio na prática de

delitos.

Page 70: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

72

Nesse contexto, e considerando a relação entre o homicídio e o tráfico de

drogas/disputa de gangues, e entre a relação deste com o usuário de droga, é correto

afirmar que, ao combater o porte para o uso de drogas, combate-se o tráfico e, por

conseguinte, o homicídio relacionado ao tráfico.

É importante observar que o combate a delitos secundários irá interferir não

só no controle de homicídios, como também em demais delitos com resultado morte.

Como exemplo: se o porte ilegal de arma de fogo é combatido, não só o delito de

homicídio causado por armas ilegais tende a cair, como também o delito de latrocínio.

Sendo assim, é possível que homicídios causados no calor da emoção, em que o agente

não fez um planejamento prévio de suas ações não seja reduzido. Contudo, um

homicídio que tem como causa a disputa por venda de drogas, a cobrança de uma

dívida, o emprego de armas ilegais, sejam fatalmente reduzidos se estes outros delitos

também o forem.

5.3 Técnicas de inteligência aplicáveis ao controle de homicídios

Nas atividades de inteligência, a coleta é a consulta a fontes abertas, como

internet, livros etc. A busca é o levantamento de dados negados, que se

referem a fontes não-abertas.

A idéia de busca, na atividade de inteligência, antecedeu historicamente à

própria investigação criminal. Já nos tempos antigos eram enviadas pessoas

para fazer levantamento da estrutura dos exércitos, características da

economia, da população e da tecnologia etc.

O procedimento de busca (operação de inteligência) pode ser utilizado na

investigação criminal, desde que sujeito às limitações de conteúdo e de forma

estabelecidas pela lei processual penal.

Quanto à validade das provas obtidas na busca (operações de inteligência),

todas as “provas” obtidas pelas atividades de inteligência em geral e pelas

operações de inteligência podem, em princípio, ser utilizadas na investigação

criminal, desde que sujeitas às limitações de conteúdo e de forma

estabelecidas pela lei processual penal.

Essa possibilidade de utilização decorre do princípio da liberdade probatória

do processo penal.89

Em uma situação do emprego da inteligência clássica, voltada para a

inteligência militar, em uma situação extrema, como guerras, para se evitar o homicídio

89 PACHECO, 2005.

Page 71: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

73

de cidadãos seria possível sugerir, inclusive, que os autores das condutas fossem

executados previamente. Ocorre que, em um Estado democrático de direito, como no

caso do Brasil, é inadmissível que uma conduta praticada pelo Estado, através de seus

agentes, não esteja respaldado pelo ordenamento jurídico em vigor.

Dessa forma, o trabalho de inteligência, observando regras estabelecidas

pela legislação, pode, e deve, compor elementos probatórios no escopo do processo

penal.

No tocante à inteligência de segurança pública, as técnicas de inteligência

devem observar os ditames legais, a fim de poderem ser utilizadas como meio de prova

em processos penais e até mesmo administrativos-disciplinares, para exclusão de

agentes públicos envolvidos em delitos.

As operações de inteligência são ações realizadas com a finalidade de obter

dados não-disponíveis em fontes abertas. Elas podem ter por alvo pessoas,

locais, objetos ou canais de comunicação. As operações de inteligência se

utilizam de várias técnicas operacionais, como comunicações sigilosas,

disfarce, eletrônica, entrada, entrevista, estória-cobertura, fotografia,

infiltração, OMD, reconhecimento, recrutamento operacional e vigilância.

O neófito se deixa fascinar com facilidade pelo glamour dos agentes de

inteligência cinematográficos, bem como pelos equipamentos eletrônicos e

softwares que supostamente podem ser utilizados em operações de

inteligência. Efeito semelhante têm os termos ingleses e acrônimos que a

literatura internacional utiliza para classificar os meios de busca e de coleta

de informações, como humint (human intelligence), sigint (signals

intelligence), imint (imagery intelligence), masint (measurement and

signature intelligence) ou osint (open sources intelligence).

Objetivando a realização de operações de inteligência, muitas organizações

gastam vultosos recursos financeiros adquirindo softwares e materiais,

especialmente eletrônicos, sem avaliar criticamente a adequação destes meios

aos fins específicos do órgão de inteligência concretamente considerado.

As operações de inteligência não são uma panacéia para “satisfazer”

necessidades informacionais, razão pela qual devem ser cuidadosamente

sopesadas sua necessidade, adequação aos fins, viabilidade, custos e riscos.90

As técnicas de inteligência são inúmeras, como a vigilância, fotografia e

filmagem, OMD, estória-cobertura, entrevista, recrutamento, contravigilância,

infiltração, disfarce, entrada, comunicação sigilosa. Como são técnicas variadas, o

agente de inteligência acaba se tornando um especialista com conhecimento geral.

90 PACHECO, 2005.

Page 72: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

74

Embora pareça antagônica essa especialidade, o agente de inteligência necessitará, v.g.,

de um conhecimento em geografia se quiser se passar por um estudante do curso de

geografia, e assim por diante. Por isso a sua especialização em atividade de inteligência

irá requerer, cada vez mais, um preparo e conhecimento sobre áreas de atuação.

O mais importante sobre as técnicas de inteligência aplicáveis ao combate

dos delitos de homicídio é que os dados e informações por elas obtidas deve chegar ao

destinatário-fim de forma a se produzir um efeito desejado.

Obviamente este é o objetivo de toda a atividade de inteligência, qual seja,

produzir um conhecimento útil. No entanto, essa importância ganha destaque no

combate ao delito de homicídio porque, uma vez que ocorra o resultado morte, por mais

que os autores do delito sejam presos, processados, julgados, condenados e cumpram

toda a pena, o bem jurídico vida não será reparado.

Quanto às técnicas operacionais citadas, nenhuma delas

[...] é exclusiva da atividade de informações, nem mesmo a criptografia,

comumente empregada nas comunicações diplomáticas, por exemplo. A

polícia judiciária faz uso de algumas delas nas investigações criminais.

Setores de RH (Recursos Humanos) das grandes empresas têm na Entrevista

uma importante ferramenta de seleção de candidatos. Empresas particulares

de rastreamento de veículos fazem uso da Vigilância Técnica. Um sofisticado

emprego do Disfarce, com uso de avançadas técnicas de maquiagem, embora

com objetivo absolutamente diverso, é comumente utilizado em programas

humorísticos de televisão para a caracterização de tipos cômicos. Outras

técnicas existem, como a Infiltração, cujo emprego e uso não é comum, pelas

enormes dificuldades que apresenta.91

Sobre as técnicas e operações de inteligência utilizadas para o combate ao

homicídio, é importante frisar que elas visam a situações anteriores ao início da

execução do delito. Ou seja, as técnicas estarão voltadas para crimes precedentes, ou

pré-delitos, como uma formação de quadrilha, tráfico de entorpecentes, posse/porte

irregular de arma de fogo, e até mesmo ameaça.

As técnicas e operações de inteligência devem se adequar a cada delito

cometidos anteriormente ao delito de homicídio, e associados a este, de acordo com

determinações legais. No caso de uma interceptação telefônica, por exemplo, é

91 DOLABELLA, 2009, p. 367.

Page 73: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

75

imprescindível que o delito que seja alvo de uma agência de inteligência seja punível

reclusão, por imposição legal92.

No combate ao crime, especialmente das organizações criminosas, é

necessário esforço diuturno por parte dos agentes encarregados de aplicação da lei, além

de investimentos em inovações, treinamentos e tecnologia.

Sistemas informatizados, programas de computador, armamentos e veículos

adequados são ferramentas que pouco auxiliam caso o agente público não conheça o

potencial de cada ferramenta e saiba utilizá-las de forma adequada à cada demanda.

Dessa forma, de nada adianta um programa de computador, com tecnologia

de ponta, monitorando um aparelho telefônico móvel, se o agente que acompanhar as

conversações e a localização deste aparelho, através das Estações Rádio-base(ERBs),

não analisar estes dados e cruzá-los com demais informações, como um antecedente do

alvo, vigilâncias realizadas por uma equipe de campo, uma placa de um veículo, além

de próprias gírias utilizadas durante a conversação deste alvo ao telefone.

Dentre as técnicas de operações de inteligência, Celso Moreira Ferro Júnior,

delegado da polícia civil do Distrito Federal e mestre em gestão do conhecimento e

tecnologia da informação, cita:

As técnicas operacionais são ações especializadas devido ao emprego de

pessoal capacitado e possuidor de habilidades para a utilização de

equipamentos eletrônicos. Englobam orientações técnicas, práticas e

racionais sobre pessoal e material empregados na ação e se destinam a

ordenar procedimentos operacionais necessários para atingir de maneira

eficaz os objetivos pretendidos. As técnicas tradicionais são: estória

cobertura, reconhecimento, entrevista, vigilância, disfarce, entrada,

recrutamento, infiltração e aplicação de equipamentos eletrônicos. Algumas

habilidades também podem ser consideradas como: técnica de Observação,

Memorização e Descrição (OMD), confecção de croquis descritivos,

fotografias e filmagens.93

Embora didaticamente estas técnicas sejam citadas separadamente, não há

que se falar em técnicas mais ou menos importantes, melhores, piores, uma vez que são

todas parte de um trabalho de inteligência visando um objetivo que, no caso do presente

estudo, é o combate ao delito de homicídio na região metropolitana de Belo Horizonte.

92 Art. 2º, lei 9296/96: Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer das

seguintes hipóteses.

[...]

III – o fato investigado constituir infração penal punida, no máximo, com pena de detenção. 93 FERRO JÚNIOR, 2008, p. 100.

Page 74: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

76

Considerando os delitos de homicídios, a teoria das broken windows e as

técnicas de inteligência citadas anteriormente, entende-se no presente trabalho que uma

destas técnicas que possam melhor contribuir ainda mais na redução destes delitos na

região delimitada, por ser esta uma região limítrofe territorialmente, formando uma

conurbação geográfica dos municípios, dificultando a definição prática dos municípios

seria a infiltração.

5.4 Infiltração

A infiltração, resumidamente, é uma técnica que se consiste na introdução

de um membro da agência de inteligência no grupo, entidade, comunidade ou

organização a ser acompanhado, a fim de que este tenha acesso aos dados negados que

circulam pelos referidos grupos, e possa alimentar a agência de informações

privilegiadas, de caráter sigiloso, para que sua agência, por sua vez, possa assessorar o

tomador de decisões.

A infiltração é uma operação de Inteligência bastante complexa. Consiste em

colocar uma pessoa (agente de inteligência) junto ao alvo ou fazer parte de

seu círculo social. O agente necessita de treinamento e preparação para

assumir uma identidade e ter condições psicológicas para dissimulação,

geralmente atuando em ambiente de risco e hostil, fazendo parte de grupos de

pessoas e até de organizações. Utilizando técnicas de estória cobertura,

recrutamento e também o disfarce, tem de assimilar uma condição fictícia, se

fazer passar por algo ou alguém, permanecendo nesta situação pelo período

de tempo necessário para a obtenção da informação desejada.94

Infiltração – Também relacionada à Busca Sistemática, é técnica de pouco

uso, porque, em geral, depende de estória Cobertura muito bem planejada e

executada. É sempre preferível recrutar alguém que já está no meio do que

infiltrar um estranho. Encerra um alto risco e demanda um longo tempo.95

Para o Pacheco:

A Lei 9.034/1995 (art. 1º) define e regula meios de prova e procedimentos

investigatórios que versem sobre ilícitos decorrentes de ações praticadas por

quadrilha ou bando ou organizações ou associações criminosas de qualquer

tipo.

A Lei 9.034/1995 (com a redação da Lei 10.217/2001) estabelece o seguinte:

94 FERRO JÚNIOR, 2008, p. 105. 95 DOLABELLA, 2009, p. 373.

Page 75: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

77

Art. 2º Em qualquer fase de persecução criminal são permitidos, sem prejuízo

dos já previstos em lei, os seguintes procedimentos de investigação e

formação de provas:

[...]

V – infiltração por agentes de polícia ou de inteligência, em tarefas de

investigação, constituída pelos órgãos especializados pertinentes, mediante

circunstanciada autorização judicial.

A supracitada lei não define infiltração, nem o conceito de organizações

criminosas para as quais foi prevista a infiltração como meio de obtenção de

prova.

Como a lei se refere genericamente aos ilícitos decorrentes de ações

praticadas por quadrilha ou bando ou organizações ou associações criminosas

“de qualquer tipo”, a infiltração também se aplica, além dos crimes comuns,

aos crimes militares e aos crimes eleitorais.96

Ou seja, a Lei 9034/95, ao tratar da infiltração, limita esta técnica a uma

ordem judicial fundamentada, não considerando qual, ou quais, delitos serão praticados

por determinada organização. Dessa forma, um agente infiltrado pode atuar em uma

organização de roubo de cargas, ou tráfico de pessoas, monitorando assim a quadrilha, e

repassando os locais onde esta guarda o produto do crime, onde guarda as armas da

quadrilha e, sobretudo, os locais onde a quadrilha pretende atuar, levando essas

informações para que os agentes policiais possam atuar repressivamente no tocante à

essas quadrilhas, contudo atuar preventivamente no tocante a possíveis homicídios, ou

qualquer outro delito com resultado morte que tais quadrilhas iriam cometer. Essa seria

a maneira do Estado prevenir crimes de homicídios.

No caso da região metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), por possuir

conglomerados urbanos que inviabilizam a divisão prática, para fins de policiamento, e

em situações que cidadãos infratores residem em uma área, mas atuam em outra, o

serviço de inteligência de cada unidade policial que atua na região deve atentar para esta

possibilidade de terem seus agentes atuando em áreas adjacentes, contudo tendo como

reflexo deste empenho a redução de delitos em suas respectivas áreas de atuação.

A infiltração, no processo penal, é um meio de obtenção de provas,

consistente na introdução de um agente policial ou agente de inteligência

96 PACHECO, 2005.

Page 76: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

78

numa quadrilha, bando, organização criminosa ou associação criminosa, a

fim de obter provas que possibilitem desvendá-los ou destruí-los.

Apesar de não haver regulamentação legal, mas, tendo em vista o princípio

da liberdade probatória, não se pode, a priori, afirmar a impossibilidade da

infiltração no processo penal.

A infiltração é possível se tiver como parâmetros legais os princípios da

proporcionalidade e do devido processo legal.

O princípio da proporcionalidade estabelece os limites materiais da

infiltração, especialmente no que tange ao subprincípio da proporcionalidade

em sentido estrito, que nos remete a uma ponderação dos

interesses/direitos/valores em conflito.

O princípio da proporcionalidade em sentido estrito impõe que a infiltração

apenas possa ser utilizada quando os direitos a serem protegidos forem

superiores àqueles que serão violados com a infiltração (por exemplo, serão

violados os direitos fundamentais de intimidade/privacidade, imagem, honra

etc.).

Assim, quanto ao crime a investigar, na falta de regulamentação, o princípio

da proporcionalidade em sentido estrito faz a limitação pelo máximo de

gravidade, somente permitindo a infiltração quanto a crimes graves.

Quanto aos “crimes” que o agente infiltrado pode praticar, também tendo em

vista a falta de regulamentação, o princípio da proporcionalidade em sentido

estrito faz a limitação pelo mínimo de gravidade. Portanto, o agente infiltrado

pode praticar aquelas condutas típico-penais que sejam inerentes ao conceito

de infiltração e instrumentalmente ligadas à infiltração concretamente

realizada, como falsidade documental, falsa identidade, falsidade ideológica

etc. Se executar a infiltração conforme o plano de operações de infiltração, o

agente infiltrado estará agindo no estrito cumprimento do dever legal de

descobrir as atividades da organização criminosa infiltrada, seus integrantes e

redes de contato, seu modus operandi, sua área geográfica de atuação, seus

objetivos de curto, médio e longo prazo, a quantidade de recursos financeiros,

materiais e humanos que possui etc.97

A técnica da infiltração deve ser utilizada com muito critério, com agentes

bem preparados, a fim de evitar desvios, uma vez que é difícil manter a vigilância sobre

um agente infiltrado, e separar se a atividade e benefícios a que ele executou e está

usufruindo são efetivamente para cumprir seu papel enquanto agente infiltrado, ou se o

agente infiltrado se contaminou com o meio no qual ele está vivendo, perdendo, assim,

a sua real finalidade.

No caso do presente trabalho, que versa sobre a tutela de um bem jurídico

indisponível, infungível e impossível de reparar a sua perda, a infiltração deve ser

encarada como uma medida viável e, mais que isso, fundamental.

97 PACHECO, 2005.

Page 77: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

79

Desarmar bandidos e gangues, impedindo que estas levem à execução e

exaurimento do delito de homicídio, é uma das mais, se não for a mais importante,

tarefa a ser desempenhada pelos agentes de inteligência policial.

Para o emprego de tal técnica, o chefe da agência, além da confiança em

seus subordinados para autorizar a operação, deve se preocupar com o treinamento e

aperfeiçoamento doas agentes que se infiltrarem, formas de contato, recursos

disponíveis, mas principalmente, com o monitoramento e controle deste e com o

posterior desligamento do agente ao término da operação, a fim de não prejudicar o

agente nem expor a agência.

Desse modo, o planejamento da infiltração, baseado em prévio estudo da

situação, deve ser suficientemente rigoroso para se possibilitar a execução e

controle da infiltração, bem como sua avaliação contínua e final. O

planejamento deve, inclusive, antecipar as possíveis medidas posteriores ao

encerramento da infiltração.

No estudo da situação, devem ser feitas análise da organização, análise do

ambiente operacional, análise do agente (perfil adequado para o desempenho

da missão, compreensão da missão e dos riscos dela decorrentes,

entendimento das normas e das ordens a que está submetido, provas de

idoneidade, credibilidade e confiança demonstradas em missões ou operações

anteriores etc.), análise de risco (custo/benefício da infiltração do agente,

riscos quanto à pessoa do agente infiltrado, riscos institucionais, medidas de

segurança específicas e alternativas, medidas de controle especiais,

ligações/comunicações de informações com oportunidade e segurança etc.).

Um produto necessário do planejamento da infiltração é o plano de operações

de infiltração, que deve conter situação (elementos fáticos disponíveis, alvo e

ambiente operacional), missão (objetivo da infiltração, provas a serem

obtidas), especificação dos recursos materiais, humanos e financeiros

disponíveis, treinamentos necessários, medidas de segurança da infiltração a

serem observadas, coordenação e controle precisamente definidos com

pessoa de ligação, prazos a serem cumpridos, formas seguras de

comunicação, restrições etc.

O plano de infiltração, no processo penal, deverá conter as espécies de

condutas típico-penais que eventualmente o agente infiltrado poderá praticar,

dependendo das circunstâncias concretas, dentro da linha restritiva acima

exposta. Em outras palavras, o plano deve definir o que o agente pode ou não

fazer.98

No que tange à polícia militar, o agente de inteligência, na teoria, não deve

nunca se expor. Contudo, é possível fazer uso de agentes velados, que atuam em campo,

em um primeiro momento de forma dissimulada, podendo atuar de forma ostensiva

98 PACHECO, 2005.

Page 78: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

80

como policiais militares se o caso assim o exigir, para efetuar a prisão de um cidadão

infrator, ou impedir que um delito se consume.

Vale ressaltar a diferença entre o agente infiltrado e o informante recrutado,

no que tange à credibilidade do dado obtido.

O informante, sendo recrutado no meio, não tem o compromisso com a

informação passada, ao passo que o agente infiltrado está inserido no meio justamente

para passar informações com maiores credibilidades. Ou seja, se uma determinada

organização criminosa planeja o contrabando de armas para posteriormente entrar em

confronto, quer seja com a PMMG, quer seja com outra organização criminosa, fato

esque irá repercutir no índice de homicídios, o agente infiltrado tem maior compromisso

com que essa informação circule entre a agência de inteligência, e produza um efeito

eficaz no que tange ao contrabando de armas. Já o informante, uma vez que não se trata

de agente de inteligência, pode passar a informação por algum interesse diverso do

interesse da agência, como enfraquecer um grupo rival, ou ainda, passar uma

informação de forma tardia, para que esta não surta o efeito desejado. Sendo assim, o

informante ganha mais confiança do órgão que o recrutou, por ter passado uma

informação real, mas este não se comprometeu com o resultado, por passar uma

informação intempestiva.

Page 79: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

81

6 CONCLUSÃO

O tema segurança pública tem sido discutido atualmente por toda a

sociedade. Com o agravamento do quadro de violência, especialmente nos centros

urbanos, a sociedade é motivada a se colocar de maneira mais contundente, e a exigir

dos órgãos responsáveis pela segurança pública a apresentarem soluções efetivas e

eficazes que venham a reduzir a sensação de insegurança reinante no meio social.

Sendo a segurança pública uma função eminentemente governamental, o seu

sistema de inteligência deve produzir conhecimento visando à tomada de decisões. Deve

estar, portanto, diuturnamente, em condições de atender, com eficiência, as

necessidades da instituição, do governo e da sociedade.

O serviço de inteligência, de um modo geral, vem acompanhando a

evolução social. Se, antigamente, a inteligência era voltada basicamente à inteligência

clássica, ou de estado, hoje a inteligência de segurança pública ganha cada vez mais

importância no anseio social por segurança. No Brasil a situação não é diferente, sendo

verificada a importância de investimentos nessa área.

Um fator que aumenta a segurança subjetiva (a sensação de segurança da

população) é o controle do índice de ocorrências de homicídios. Padronizar codificações

e acompanhar os processos de homicídios é, portanto, uma necessidade.

Diversas são as técnicas de inteligência que o SIPOM tem a seu alcance

(infiltração, informante, colaborador, estória-cobertura etc.) para auxiliar no combate a

ocorrências dessa natureza. As informações obtidas através de um serviço de

inteligência eficiente são fundamentais para um bom planejamento do recurso a ser

empregado. Na segurança pública não é diferente. Com uma boa coleta e busca de

dados, uma análise eficaz e uma distribuição adequada, o combate à criminalidade, e

consequentemente ao delito de homicídios obterá melhor resultado.

Levantamento de gangues, de pontos de venda de droga, perfil de homicidas

e de vítimas dessas ocorrências, monitoramento de circulação de armas ilegais,

juntamente com o acompanhamento de áreas carentes da presença do poder público,

enfim, todas essas tarefas fazem parte do portfólio de serviço dos agentes de

inteligência.

Page 80: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

82

O combate à criminalidade, especialmente os crimes violentos, é um dever

constante, uma luta do Estado e da Sociedade. Os criminosos, em busca de facilidades

para cometerem suas atrocidades, seja em crimes do colarinho branco, tráfico de

entorpecentes ou mesmo em homicídios, acabam por se infiltrar em órgãos públicos.

Por sua vez, os agentes públicos, em especial os policiais, podem e devem

fazer uso da técnica de inteligência, entre elas a infiltração, a fim de monitorarem o

planejamento e as ações de criminosos, conhecerem as motivações e os envolvidos nos

delitos.

Os dados e informações obtidos pelo serviço de inteligência devem chegar

ao destinatário fim de forma a se produzir um efeito desejado. Este é o objetivo de toda

a atividade de inteligência, qual seja, produzir um conhecimento útil. No entanto, essa

importância ganha destaque no combate ao delito de homicídio porque, uma vez que

ocorra o resultado morte, por mais que os autores do delito sejam presos, processados,

julgados, condenados e cumpram toda a pena, o bem jurídico vida não será reparado.

Portanto, assim como a inteligência militar se mostrou vital na resolução de

conflitos bélicos, a inteligência de segurança pública, suas técnicas e operações

devidamente executadas pelo SIPOM, são de importância no controle e prevenção dos

delitos de homicídio.

Sendo assim, o papel da atividade de inteligência da PMMG, no combate ao

delito de homicídios na RMBH é atuar de forma integrada entre as agências de área, de

forma que a informação referente a possíveis aurores, locais e eventuais vítimas seja

devidamente processada de forma a produzir um conhecimento tal que impessa a

consumação dos referidos delitos.

Page 81: A atividade de inteligência da PMMG e o combate ao delito de homicídio

83

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