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EDIÇÃO DE ANIVERSÁRIO ESPECIAL CADERNO DE IDÉIAS CANUDOS. IMPRENSA. ELEIÇÕES. ÉTICA. A SEMANA EUCLIDIANA VISTA PELOS PRÓPRIOS MARATONISTAS Versos satânicos A história de um "Febeapardo" A ASSOCIAÇÃO DE ESTUDOS EUCLIDIANOS Ano III - Nº 5 Outubro/1994 O B e r r a n t e (Edição fechada no divã enquanto os redatores estavam em crise)

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EDIÇÃO DE ANIVERSÁRIO

ESPECIALCADERNO DE IDÉIAS

CANUDOS.IMPRENSA.ELEIÇÕES.

ÉTICA.

A SEMANAEUCLIDIANA VISTAPELOS PRÓPRIOSMARATONISTAS

Versossatânicos

A história de um"Febeapardo"

A ASSOCIAÇÃODE ESTUDOSEUCLIDIANOS

Ano III - Nº 5Outubro/1994

OBerrante

(Edição fechada no divãenquanto os redatores

estavam em crise)

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Proudhon,o ombudsman

Quando se diz que a SemanaEuclidiana está a serviço deinteresses e crenças pessoais,alguns se exaltam e até seofendem; taxam os maratonistasde “radicais” e “subversivos”,mas a grande verdade é que,cada vez mais, ocorrem fatosque evidenciam a falta dedemocracia, pluralidade deopiniões e, principalmente,respeito pelos que pensamdiferente. Caso dos mais absurdos foiprotagonizado pelo prof. AdelinoBrandão, coordenador da ÁreaII do Ciclo de Estudos. Durantea palestra da profª MariaTerezinha Ventura (“Euclides eo momento histórico daliteratura”), Brandãoliteralmente tomou a palavradela para contrariá-la de formaveemente. A professora deve terficado estupefata. Ela foiconvidada pelo próprio Ciclo deEstudos. Resultado: Adelino foivaiado pela grande platéia demaratonistas presentes. Umaatitude igualmente condenável.Mas são os mestres que devemdar o exemplo.*** A publicação de CânticosEuclidianos foi ingênua. Nãotinha a menor intenção de ofensa.Apenas atendia dezenas depedidos dos própriosmaratonistas. A AEE extrapolouem suas tarefas pró-associativas.*** Depois de “radicais” e“subversivos”, “freudianos”.Waal!

EDITORIALO Berrante - 3

"Aos vencedores,as batatas"

"Estamos fartosde semideuses.Será que só nósé que somos vise errados?"

É extremamente infrutífero, para se dizer apenas omenos, ficar batendo na mesma tecla, naquele monocórdico“éprecisomudarépreciso!!...”, sem oferecer uma propostaconcreta e factível para a Semana Euclidiana. Os acontecimentos recentes sãoum retrato triste que, a contragosto,nos fazem retornar à mesmice e aodiscurso considerado panfletário.Estamos de volta à pré-História, àestaca zero. Com ares de doutíssimos, ossenhores de fraques intelectuaisapresentam a sua arrogância e seapossam de um movimento cultural,se tornando verdadeiros coronéis,daqueles mesmos que, a rigor,causaram o morticínio canudense. Levam, anexos, algumasunidades de inocentes úteis e fúteis que, qual papagaios,versam sobre quantas vírgulas há na página 123 da 3ªedição com a mesma erudição de quem faz um descobertanobeliana. Esse grupelho fantasmagórico que usa e abusado direito à mediocridade - direito este assegurado, sediga de passagem, pela sociedade que perpetua essamaneira tacanha e canhestra de pensar (sic!) - qualificaqualquer proposta, que não a própria, de absurda, deinconsistente. Pois “está fundado o desvairismo!”, a insubserviênciaaos dogmas burocrático-intelecto-fascistas!Independência ou Morte! Estamos fartos de semideuses.Será que só nós é que somos vis e errados nesse mundo? Ao pé dos fatos, a evolução dos acontecimentos convergepara a ruptura: que venham os inquéritos! No final, nãorestará mesmo muito para os vencedores, quiçá, comogostaria Machado de Assis, algumas míseras e incultasbatatas ao lado dos corpos estatelados da cultura e daconsciência nacionais. “É tempo de murici, cada qual cuide de si.”

André Luiz de Lima DaibesPresidente d’A AEE

CartasA RESSURREIÇÃO DO ANJO- Passaram-se nove anos de minhamaratona euclidiana, onde noinício mantive correspondênciacom muitos companheiros, numaexperiência realmentehipnotizadora. Veio o tempo, afaculdade, o casamento, e adistância tornou-se cada vez maiorde cada um daqueles que,interessante, não me esqueço. Qual não foi, então, minhasurpresa, ao saber da existênciadesta Associação, com boletim ediretoria! Que alegria ver estedinamismo e esta disposição! Deixo meus cumprimentos e umgrande abraço!(José Gabriel Bloes de Meira, o“Anjo”, Itapetininga, SP)PAU NELES - Fui maratonista noano de 93, achei uma cachorrada oque aconteceu lá, e não concordonem um pouco com os “anciões”da SE... Precisávamos fazeralguma coisa em favor da SemanaEuclidiana, e o principal seriarenovar a diretoria da CasaEuclidiana.(Carla Cristina Hartung, RioClaro, SP)A VOLTA DE BETH CIDA -Venho (...) lamentar até ir protúmulo com Euclides por não terpodido participar [da SE-94]. Asaudade, as cartas dos amigos

feitos em Sanzé em 93, aseveridade do Adelino e atémesmo as refeições e o péssimoalojamento são doces, doceslembranças que cortam o coraçãoao pensar que não estaria vivendotais momentos ao lado dos amigosque aí fiz e gritando “volta,Euclides!” (...) Vi uma coisa n’O Berranteque está me preocupando, é ofato dos diretores da SEexcluírem os participantes daspalestras paralelas. Eu fui umadelas, será que em 95 tambémseremos excluídos? (...) Porfavor, dêem uma luz a esta pobremaratonista desesperada eexcluída.(Elizabeth Aparecida de Souza,São João da Boa Vista, SP)RECADINHOS DO BELELÉU- Estou escrevendo para AAssociação pedindo que mandemum beijão para toda a galera departicipou do Ciclo de EstudosEuclidianos de 1994. Beijosespeciais para a galera deCantagalo (principalmente para aPatrícia), para a Simone (VargemGrande do Sul), para a “Meg”(Mogi Guaçu), para a “Margarida”(São João Del Rei), para a turmade São José do Rio Pardo, e abraçospara o “Ladrão” (Guaxupé), “BoaVista” (São João), “Louco”

(Mococa), “Hiparid” [sic] (Salto),para a galera de Cantagalo,principalmente o Tobias (viadão[sic] do Ciclo de Estudos), e paraa galera de Jundiaí e Franca. Umabraço e um beijão para a “Vovó”(apelido que dei para ela - RosauraEscobar).(Luís Fabiano E. Bernardes,Campinas, SP)MAGIA DA S.E. - A SemanaEuclidiana foi muito gratificante.Nunca imaginei encontrar tal climade harmonia e amizade compessoas que eu nunca tinha vistoantes. Achei muito interessante oespírito de coletividade e a lutad’A AEE pela dinamização da SE.(Wanderléa Sad Ballarini, Franca,SP)PAU EM NÓIS - Aproveito aocasião para demonstrar o meurepúdio aos “CânticosEuclidianos”. Estouprofundamente decepcionado comA AEE, uma entidade que nasceucom o propósito de enriquecer,com o brilhantismo dos seusfundadores, a própria estruturacultural da Semana Euclidiana.(Paulo Herculano, São José doRio Pardo, SP)Recebemos também carta deLilian Spalding (Itú, SP) que, noentanto, pediu para não publicá-la. Uai, por que?

DatasNovembro: dia 4, Elaine Cintra(Franca); dia 9, Humberto da SilvaSauro (SP, from Franca); dia 11,Andréa Cristina (Dois Córregos);dia 20, Priscilla Gomes (SãoPaulo); dia 21, Fabrissa (Franca).Dezembro: dia 4, Maria Cecíla

Aniversários - Outubro: dia 1,Mariana (Cordeirópolis); dia 13,Mário (Botucatu); dia 14,Lucimar (Cantagalo); dia 15, Laís(SP); dia 17, Raquel, (Sanzé);dia 19 Luís Fabiano “Beleléu”(Campinas); dia 25, Guilherme(Sanzé) e Inês Maria (Itú); dia28, Patrícia Boro (Campinas);dia 31, Niédila (Mogi Guaçu).

(Rio Claro); dia 7, AntinarbiPadilha (Sanzé); dia 9, MarceloRibeiro (Caconde); dia 10, FábioMarcelo (Rio Claro); dia 19, AnaCláudia (Casa Branca); dia 22,Soraya “Tomatinho” (SP); dia 27,Fernando “Mascote” (Campinas,from Itobi); dia 29, Danilo(Franca); dia 31, Janaína Cristina(Campinas).

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O ofício da Casa Euclidiana“Senhor Vereador,

Passo às mãos de Vossa Excelência panfleto distribuído em SãoJosé do Rio Pardo pela Associação de Estudos Euclidianos, com sedeem São Paulo. Trata-se, a meu ver, de um atestado de ofensa -devidamente assinado - aos bons costumes e à moral. Mais que isso,uma deturpação - para dizer o mínimo - do culto que a cidade dedicacom seriedade ao imortal Euclides da Cunha, configurando umatradição que deve ser preservada a todo custo, que deve ser respeitadaintegralmente em todos os seus aspectos já que por seu valor intrínsecotem superado dificuldades, vontades pessoais, tendências políticas, eépocas, desde o início do século. Quem desmerece o euclidianismo,ofende a cidade. Sendo a Câmara uma instituição que sempre valorizou os costumese tradições da nossa São José do Rio Pardo, notadamente no que serefere à SEMANA EUCLIDIANA, julguei oportuno dar conhecimentodeste triste episódio aos vereadores para que, eventualmente, sejatomada alguma medida. Da mesma forma serão enviadas cópias ao Prefeito Municipal, aoDepartamento de Cultura do DECET e ao DECET. Atenciosamente,

ÁLVARO RIBEIRO DE OLIVEIRA NETODIRETOR DA CASA DE CULTURA EUCLIDES DA CUNHA”

O protesto dos vereadores Requeremos à Mesa, ouvido o Plenário na forma regimental, que seoficie à Associação de Estudos Euclidianos, com sede em São Paulo,apresentando-lhe MOÇÃO DE PROTESTOS pela forma desrespeitosae agressiva com que se portou na recém-finda Semana Euclidiana, emSão José do Rio Pardo. Através da distribuição de um panfleto denominado ironicamente“Cânticos Euclidianos nº 1”, a referida entidade revelou atitudes eidéias avessas aos objetivos do evento, capengas na contribuição aoeuclidianismo, manquitolas no desenvolvimento da cultura, retardadasna reflexão da mensagem que se estuda e se pereniza, indecentes naproposta que se executa e freudianas na análise profunda de suascausas. Aprovada esta propositura, que por cópia se dê ciência à Casa deCultura Euclides da Cunha, de São José do Rio Pardo, ao GrêmioEuclides da Cunha (SJRP), ao Departamento de Cultura do Decet, aoPrefeito Municipal, aos jornais e rádios locais, para que conheçam adeliberação desta Casa tomada em nome do euclidianismo de 82 anose de uma comunidade tradicional, culta, respeitosa e respeitada.Sala das Sessões, 23 de agosto de 1994.Ass. Vereadores Antonio Fernando Torres, Luiz Osvaldo Merli e JoséCarlos Xavier.

nossa diretora. A matéria saiu comalguns equívocos. Reduziu AAssociação a uma entidade“formada por universitários ex-maratonistas, todos de São Paulo.”Na verdade, nossos quadrospossuem universitários,secundaristas, professores, merossimpatizantes, e espalhados porinúmeras cidades de São Paulo,Rio e Minas. O texto tambémrelembra pendengas entre AAssociação e a Casa Euclidiana,que são antigas. “Com esses‘Cânticos Euclidianos’ o contatoestá interrompido”, diz ÁlvaroNeto. Que contato?, perguntamos.Seguem-se algumas alusões ànecessidade de se promovermudanças na Semana Euclidiana.Relembramos as dificuldades dopassado, como em 93, quandotentamos produzir um seminário efomos taxados de “paralelos”.Álvaro insiste em dizer que foi “aprópria Associação que quis fazerum movimento (sic) paralelo.” AAEE já desmentiu e esclareceuisso seguidas vezes, como no jácélebre artigo “Encontro deparalelos”, assinado pelo diretorMário Baldini (O Berrante nº 3,jan./fev. 94). Mário, aliás, achaque toda essa "polêmica" só servepara encobrir a discussão dos reaisproblemas da SE, e diz que hácoisas mais importantes com quese preocupar. (V. artigo na pág. 9). Mas parece que Rio Pardo aindanão achou assunto maisimportante, e dá sinais de que anovela continuará. No momentode fechamento da edição chegou ainformação de que a Promotoriada cidade mandou abrir uminquérito contra A AEE. E quesiga o “Febeapardo”. Numa alusãoà obra de Stanislaw Ponte Preta(Febeapá - Festival de Besteirasque Assola o País...).

O Berrante - 5

VERSOS SATÂNICOS

Moções,mocinhos

e bandidosCânticos Euclidianos escandaliza Sanzé e

provoca tempestade em copo d'águatempos imemoriais. A AEE é umaentidade quase queexclusivamente formada pormaratonistas e, somente por isso,resolveu atender os pedidos deseus representados. Passaram a transitar por Sanzéinterpretações equivocadas doocorrido. Primeiro os Cânticosforam considerados como umamaneira deliberada d’A AEEatingir os organizadores da SE.Embora eles não acreditem, nãohouve a menor intenção de ofensa.Em seu discurso na Câmara, overeador Fernando Torres(propositor da moção À AEE) disseque a divulgação das músicas “nãose pode simplesmente atribuir auma impensada e despretensiosaatitude jovem.” Mas o pior é que éisso mesmo. Em segundo lugar, ao contráriodo que as pessoas estão pensando,A Associação não é autora dasmúsicas, e não pode serresponsabilizada pelos seusconteúdos. As canções são deautoria desconhecida, e forampassando, pelos tempos, de umageração de maratonistas para outra.

A iniciativa da CâmaraMunicipal de nos protestar foiderivada de um ofício enviado pelodiretor da Casa Euclidiana, ÁlvaroRibeiro Neto, aos vereadores(página ao lado). A diretoria d’AAssociação considerou isso umamanobra política para continuaremnos mantendo distantes daorganização do Ciclo de Estudos.Álvaro diz que apenas defendeu oeuclidianismo: “Eu achei asmúsicas ofensivas e dei ciência àCâmara e ao prefeito, porque, naminha opinião, elas ofendem umacoisa muito significativa nacidade”, disse ele em entrevista àGazeta do Rio Pardo. Apesar denão ter existido o direito de defesad’A AEE, a entidade resolveuexercê-lo por sua conta e risco.Mandou um ofício de desagravo àCâmara (V. páginas 6 a 9). Até ofechamento desta edição, nada deresposta. A novela (dramalhão?) da“polêmica dos Cânticos” renderiamais capítulos. Ocupou duaspáginas da edição de 24 desetembro da Gazeta do Rio Pardo,que entrevistou também a Raquel,

ofensivo ao islamismo por seusdirigentes. Rushdie foi condenadoà morte pelo Aiatolá, e tem queviver escondido para escapar dacaça dos fanáticosfundamentalistas. Se os versosforam ofensivos ou não, isso é umaoutra história. O que há aí é umgrave atentado à liberdade deexpressão, garantida naDeclaração Universal dos Direitosdo Homem. Os Cânticos Euclidianos foramconsiderados ofensivos pelosgovernantes riopardenses. ACâmara de Vereadores da cidadenos oficiou com uma Moção deProtestos (página ao lado), o quecaracterizou uma atitudecondenatória à revelia, pois nemfomos procurados para darqualquer esclarecimento eproceder a nossa defesa. Não é o caso de compararmoseste episódio com o do livro VersosSatânicos. Trata-se apenas de umametáfora. Como ocorreu a Rushdie,A AEE não teve oportunidade dese defender, se explicar, ou atémesmo se retratar. A sociedaderiopardense criou a sua versão dosfatos e se fechou com ela. SeRushdie causou celeumas ao cultoislâmico, e por isso é perseguido,A Associação é abominada em RioPardo por ter “abalado os pilaresdo culto euclidiano, a moral e osbons costumes.” A AEE reconhece o equívoco depublicar os Cânticos. Nos últimosmeses recebemos dezenas depedidos para editar as músicasque são, tradicionalmente,cantadas pelos maratonistas desde

livro Versos Satânicos, doescritor inglês SalmanRushdie, foi consideradoO

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referidas músicas, facilitando, assim, o acesso dosmaratonistas às mesmas. Elucidada a procedência das solfas, restaesclarecer a sua razão de ser. Como bem disse o Professor Márcio Lauria, nadata em que foi proferida a Conferência Oficial daSemana Euclidiana de 1988, a impetuosidade dos

jovens é muitas vezes injusta, mas éela que move a humanidade. Estachamada impetuosidade é, narealidade, uma necessidade constantede revolucionar os valores, a moral,os costumes. Necessidade essa que,jamais, nenhum professor, diretor,vereador ou protesto conseguirádeter. A mentalidade da juventude guia-se por si só. Cabe aos educadorespossibilitar o seu crescimento edesenvolvimento, mas jamaispretender tolhê-la, detê-la, julgá-laou censurá-la. Não há razão quejustifique os termos constantes dasmúsicas, mas não é papel doseducadores censurá-las ou se ofendercom as mesmas. É preciso saberentendê-las e principalmente respeitá-

las. O mesmo jovem que compõe as músicas é capaz deelogiar e ajudar a melhorar o Euclidianismo, desdeque estimulado a fazê-lo. Não se pode esperar dosjovens uma resposta positiva ante algo que em nada,repita-se, em nada, se adequa aos seus interesses. As letras não manifestam nenhum ódio oudesrespeito a pessoas, entidades ou ídolos.Manifestam, sim, a ridicularização dos jovens anteà total inadequação dos mesmos aos seus própriosinteresses. Cabe aos educadores, enquanto operáriosna formação desses jovens, adequar-se aos seusanseios, respeitar as suas reações e, principalmente,abrir espaço para que os seus representantes possamcontribuir para a melhoria de suas próprias vidas. Podemos citar ainda o próprio Euclides da Cunhacom seu conhecido “ou progredimos oudesaparecemos”, que bem retrata a situação impostaà Semana Euclidiana pelos pseudo-educadores quea tem como objeto de seu próprio patrimônio, masque, por não saber sequer entender a forma demanifestação do seu público alvo, permitem-se,absurdamente, censurá-la e, o que é ainda pior,

principalmente A Associação de EstudosEuclidianos, que, aí sim, estaria sendo submetida aum verdadeiro julgamento, extraordinariamenteocorrido perante o poder legislativo, mas que deveria,de qualquer maneira, estar submetido aos princípiosconstitucionais da ampla defesa e do contraditório. Isto posto, entendemos ser imprescindível que essanotável casa, na vã tentativa deemendar o seu incomensuráveltropeço, venha a oficiar-nosnovamente, bem como a todas asautoridades e órgãos de imprensa jáoficiados, para declarar írrito oequivocado julgamento a que fomossumariamente submetidos. Não obstante entendermos que nosfoi negado por V.Exas., de formainaceitável, o direito constitucionaldo contraditório, passaremos, pornossa conta e risco, a proceder àreferida defesa, como se nos houvessesido atribuído tal direito, nos moldesdo disposto pela Carta Magna. Preliminarmente devem serelucidados a procedência, a razão deser e os escopos de referidapublicação, para que, dessa forma,possam V.Exas. entender as razões de sua edição. Os Cânticos Euclidianos, como V.Exas. podemfacilmente comprovar mediante a simples oitiva dequalquer maratonista ou ex-maratonista, são, narealidade, mera compilação de solfas cuja lavra é,na maioria das vezes, absolutamente ignorada e datade Semanas Euclidianas remotas, tendo sidoelaboradas por ex-maratonistas no transcurso dasrespectivas Semanas. Não se pode atribuir, portanto, À Associação aautoria das letras, mas tão somente a sua divulgação. Tornou-se necessária, no entanto, a compilaçãodas músicas, por exigência dos próprios maratonistasque, demonstrando enorme interesse em conhecê-las, solicitaram À Associação que as publicasse,para que pudessem ter acesso facilitado às letras emelodias. Deve ser esclarecido que muito antes da edição dosCânticos, as músicas já eram cantadas e divulgadaspelos maratonistas, boca a boca, cabendo ÀAssociação, enquanto única entidade composta porex-maratonistas e também única entidade próxima obastante para conhecer os seus anélitos, publicar as

"A mentalidadeda juventude

guia-se por si só.Cabe aos educa-dores possibili-tar o seu cresci-mento e desen-

volvimento, masjamais preten-der tolhê-la"

O Berrante - 7

A respostad'A AEE

São Paulo, 21 de setembro de 1994

À Câmara Municipal de São José do Rio PardoA.c.: Exmo. Sr. Luiz Osvaldo MerliPresidente da Câmara Municipal

Prezados Senhores,

Repletos de aflição estão nossos íntimos, ao mirar-nos coagidos a confutar as ignomínias a nósassacadas por essa tão insigne instituiçãodemocrática. Incontáveis são as razões que nos incitam, noentanto, a retorquí-las, o que se faz necessário; a umpara impedir que tão célebre entidade, esteio dasociedade democrática, cometa tal inenarrávelatentado à própria democracia; a dois para exigir deV.Exas. o indispensável direito de contestação,contraditório e ampla defesa; e, finalmente, a trêspara elucidar a procedência, a causa de ser e oescopo da malfadada publicação que, mais sério doque melindrar a sociedade Riopardense, teve o condãode consumir o precioso tempo de V.Exas., o que, emtempo algum, foi intuito desta agremiação. Não nos permitimos, entretanto, quedar silente,ante a tamanha injustiça e a tais impropérios, vezque muito se distanciam da realidade,consubstanciando-se em repugnante manobra, daqual somos todos vítimas,tanto esta associação,quanto essa nobreinstituição. A realidade, Exas., ébem diversa daquela,c a l u n i o s a m e n t eapresentada a V. Exas. ei m p e r d o a v e l m e n t eadotada por essa casa.

Acaso fosse-nos concedido o direito constitucionalde defesa, ter-se-ia elucidado os reais acontecimentose, dessa forma, obstado o injusto, unilateral, e, emrazão disso, inadmissível julgamento a que fomossubmetidos, no qual foram utilizadas práticas queremontam o triste período em que nossa Pátriarestou submetida aos terrores da ditadura militar. Não há que se admitir que essa instituição,sustentáculo da democracia, tenha praticado ato detal maneira anti-democrático, pois o princípio daampla defesa está consagrado na própria CartaPolítica, promulgada em 5 de Outubro de 1988, queem seu Artigo 5º, inciso LV, assim dispõe: “LV - aoslitigantes, em processo judicial ou administrativo, eaos acusados em geral são assegurados ocontraditório e ampla defesa, com os meios e recursosa ela inerentes.” Como bem puderam V.Exas. verificar, a CartaMagna é perfeitamente explícita e inequívoca aoinvocar e consagrar a ampla defesa e o contraditório,inclusos nos Direitos e Garantias Fundamentais,elencados no seu Artigo 5º. Em se tratando de Direitos e GarantiasFundamentais, não se pode admitir que essainstituição tenha deixado de se ater aos mesmos,julgando e, o que é ainda pior, proferindo umadecisão condenatória, sumária e à revelia destaagremiação.

Cabia a V.Exas.,enquanto representantesda sociedadeRiopardense e defensoresda democracia, antes deadotar qualquer juízoacerca da situaçãoapresentada, ouvir,necessariamente, todasas partes envolvidas e

"Não nos foi concedido o direi-to constitucional de defesa e docontraditório. Não nos permiti-mos, entretanto, quedar silente

ante tamanha injustiça."

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através dos professores que já aí estão. Entendemos,no entanto, ser imprescindível uma totalreformulação, remodelagem do que já existe,objetivando exclusivamente a melhoria e a perenidadedo movimento. Não nos cabe julgar os atos praticados peladiretoria da Casa, mas nos cabe denunciar asmanobras efetuadas para nos impedir de participardo movimento EuclidianoRiopardense. O que não conseguimosentender é que, a nossainiciativa e participação,ao invés de ocasionar oorgulho de nossosmestres, iniciadores,provoca o seu ciúme, asua reprovação, a suaoposição. Pergunta-se: queeducador é esse que aover o seu próprio alunoparticipando, ajudando,cooperando, não só deixade estimulá-lo e de sesentir orgulhoso, mas, pelo contrário, o coloca naposição de inimigo, opositor e, assim, impede o seuacesso, sufoca a sua iniciativa, desaprova as suasposições? Não se pode, definitivamente, chamar essesindivíduos de educadores. Sua única e verdadeiraintenção é a auto-promoção, a divulgação de seutrabalho, o que seria praticamente impossível emoutros lugares, mas que está garantido, enquantoperdurar a atual situação do movimento Euclidiano. Concluindo. Nossa única intenção é a participaçãopara salvar o movimento da decadência e dos pseudo-educadores. No que diz respeito à Moção a nósenviada esperamos que V.Exas. tentem, pelo menos,corrigir a enorme injustiça que fizeram. Quanto àPublicação, cremos ter esclarecido não só as suasrazões, mas também a razão de tamanha revolta porparte da direção da Casa Euclidiana. Sendo só o que tínhamos e nos colocando àdisposição de V.Exas. para os esclarecimentos quese fizerem necessários, subscrevemo-nos. Atenciosamente, A Associação de Estudos Euclidianos André Luiz de Lima Daibes - Presidente Humberto Luiz Balieiro - Vice-presidente

ARTIGO

Estaríamos nos rindo à larga de toda essa celeumaplantada em torno dos Cânticos Euclidianos, seela não nos parecesse ter por objetivo maiorsimplesmente fazer poeira em torno da questãofundamental da Semana Euclidiana, aquela qualque A Associação tem posto em pauta desde suacriação: a questão da SE enquanto evento geradorde cultura. Não perdemos o respeito pela nobre edilidaderiopardense, a despeito dela nos ter - à revelia -mocionado protestantemente. Louvamos o espíritode corpo da Casa, aprovando tal moção porunanimidade, mas perguntamos: teria por acaso aedilidade aprovado - ainda que por maioria simples- alguma moção de protesto pelo descaso com quea Secretaria de Estado da Cultura vem tratando assucessivas Semanas Euclidianas? Se sim, somosos primeiros a dizer: bravo! Se não, ora,... As músicas contidas nos Cânticos Euclidianosnão foram por nós - enquanto Associação -inventadas. Elas seguem, na boca dos maratonistas,desde tempos imemoriais. O que A Associação fezfoi dar forma concreta, palpável, legível, cifradapara violão, à boa e velha tradição mnmônica. Sefoi uma iniciativa louvável ou deplorável, isso équestão de ponto de vista. O fato é que os Cânticosse esgotaram, chegando hoje a serem disputados apeso de ouro no mercado negro euclidiano. Da nossa parte este assunto está encerrado,porque temos coisas mais úteis a fazer do que ficardiscutindo música. Aqueles que não têm sobre oque mais dizer que o façam.

Mário Eduardo B. Baldini(Secretário-Geral d’A AEE)

"What shall do a man but tomerry..."

Cantigas demaldizer

"Nossa parti-cipação, ao

invés de oca-sionar o orgu-lho de nossosmestres, pro-

voca o seuciúme"

O Berrante - 9 Manisfestado o nosso repúdio à ausência depossibilidade de defesa anterior à nossa condenaçãoe esclarecidas a procedência, razão de ser e osescopos da publicação, cabe, agora, elucidar asrazões que, na realidade, levaram o Diretor da CasaEuclidiana a reclamar de V.Exas. uma atitudecontrária À Associação, tendo como pretexto apublicação de tais músicas. Desde a Semana Euclidiana de 1987 A Associaçãode Estudos Euclidianos vem tentando obter junto àCasa Euclidiana espaço para cooperar na realizaçãodo evento, trazendo consigo propostas, planos,contatos e, principalmente, disposição, que poderiam,e muito, ajudar a Casa na organização das SE’s. A reação da diretoria da Casa, no entanto, desdeo começo, tem sido afastar-nos e impedir a nossaparticipação, por entender que a nossa presençadesestabiliza a situação de total inércia, na qual estáafundado o movimento euclidiano, mas que favoreceos interesses pessoais mesquinhos de seus dirigentes. As nossas propostas são claras, diretas, prevêema participação da iniciativa privada noengrandecimento de um evento de renome nacional,mas que, no nosso entender está fadado aodesaparecimento, face à sua submissão total a essesinteresses pessoais, que nada têm de próximo com omovimento Euclidiano em si. Não somosRiopardenses. Não somosprofessores. Nãoescrevemos nemvendemos livros. Nãoganhamos nempretendemos ganharprestígio ou dinheiro coma Semana Euclidiana.Somos advogados,jornalistas, bancários euniversitários, mas, antesde tudo, fomoscontaminados peloEuclidianismo queconhecemos em São Josédo Rio Pardo, do qualestamos assistindo o fim, sem, contudo, podermosevitá-lo. Queremos participar! Queremos contribuir!Queremos melhorar! Não queremos desmerecer o que já existe, atémesmo porque nos encantamos pelo Euclidianismo

utilizá-la em seus objetivos politiqueiros, desprezíveise inescrupulosos. Por último resta elucidar os escopos de referidapublicação. Como se disse, A Associação de Estudos

Euclidianos é umaentidade, a única,formada exclusivamentepor ex-maratonistas eque tem por objetivo oaprimoramento doeuclidianismo enquantomeio de se ampliar osestudos e conhecimentosdos jovens, estimulandoo seu pensamento críticoe raciocínio. Entendemos, por isso,que a figura maisimportante de todo omovimento Euclidiano éo seu público, o jovem,sem o qual de nadaadiantaria o própriomovimento. Assim sendo,não nos cabe atender osinteresses dos

Euclidianos de carteirinha, dos políticos, nemtampouco dos tais pseudo-educadores. Nos interessasim atender os desejos dos maratonistas, obter a suaatenção, o seu apoio. Assim é que, em decorrência das solicitaçõesdesses maratonistas, compilamos as antigas músicas,editando os Cânticos Euclidianos que, muito antes dese tornarem causa de escandalização da sociedadeRiopardense, tinham o único objetivo de reunir osmaratonistas, facilitar a sua aproximação,possibilitar a sua transformação em um grupo coeso,único, impetuoso e lutador. Referido objetivo, absolutamente distorcido pelospseudo-educadores e por V.Exas., felizmente surtiuefeito. Tivemos uma Semana Euclidiana com mais decem maratonistas e conseguimos uní-los. Fazer delesum grupo de amigos. Amigos nas aulas, mas amigostambém na hora das bagunças, na hora das cantorias.Infelizmente, não conseguimos agradar a todos, masnos contentamos com o objetivo alcançado.Esperamos, isso sim, que V.Exas. revejam suasposições e entendam nossas razões. Não lhes pedimosque aprovem as músicas, mas que saibam respeitá-las e entender a sua razão.

"Os CânticosEuclidianostinham o úni-co objetivo dereunir osmaratonistas,facilitar a suaaproximação,fazer deles umgrupo deamigos"

"Não lhespedimos queaprovem as

músicas, masque saibam

respeitá-las eentender a sua

razão"

8 - O Berrante

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“Amor de maratonista éassim mesmo. Hoje beija,amanhã não beija, depois deamanhã só Deus sabe...”

Rildo (São Paulo), norescaldo da SE/86

De ontem

“O martírio do homemnasce do martírio secular daterra”

Rachel (Campinas), numatarde de arroubo inspirador

“Palmas galotianas!”“Tia” Regiane (Jundiaí/São

Carlos), evocando o Fli, ocântico euclidiano preferido

do dr. Galotti“Porra, essa SemanaEuclidiana é mesmo muitoboa!”

Ricardo (Cristais Paulista),no momento exato em que era

contagiado pelo víruseuclidiano

“Somos todos jagunços. Eusou um jagunço daeducação”

Prof. Stênio, na sua palestra“Eles são da turma dobarulho”

Rachel (Campinas), falandodos diretores d’A AEE ao

prof. Adelino Brandão“Eles são da turma daavacalhação. Nós é quesomos a turma do barulho”Resposta de Adelino a Rachel,momentos antes dele confiscar

um exemplar d’O Berrante“Menas!”

Danilo (Franca), a qualquermomento, a qualquer motivo

FrasesSE-94

Somos TODOSjagunços

Definitivamente, o meio não determina o homem. Sorte dosmaratonistas-jagunços que, apesar da má qualidade do alojamento

e da alimentação, fizeram da Semana Euclidiana um momentomuito especial de suas vidas

h, Rio Parrrdo! Lá se foi aSE-94. A Semana quemarcou a vida de muita

alimentação e dos alojamentos.Ambos os itens foram reprovados,respectivamente, por 52,1% e47,8% dos maratonistas, empesquisa realizada pel’O Berrantejunto àqueles que foramcadastrados pel’A AEE durante aSE. Outros 21,7% consideraram oalojamento e a alimentação apenasregulares. “Pessoas dormiram embanheiros fedidos”, sintetiza ocolega Luís Fabiano Bernardes(Campinas). “Aprendi que meuquarto é o máximo e minha camamelhor ainda, que a comida deminhã mãe é deliciosa, e a valorizarmais minha cidade”, diz Niédilado Carmo Aguiar (Mogi Guaçu).Não será surpresa se surgir maisalgum “cântico” sobre isso... Mas mesmo assim a SemanaEuclidiana foi considerada válida,inesquecível, revolucionária,gratificante, e modificou visões demundo, ampliou o universo deamizades, abriu horizontesculturais, enfim, os maratonistaspassaram a se sentir mais vivos.São todas elas expressões e

palavras criadas e reveladas pormaratonistas de todos os anos, eem 94 não foi diferente. Por isso,quase todos (95,6%) queremretornar em 95 (contra 4,4% quenão o pretendem). Ter contato com o euclidianismofoi, para muitos colegas, umaoportunidade ímpar. “É uma coisaque vou levar para o meu túmulo”,radicalizou Rodrigo Simão Alvares(Ourinhos). “Nunca imaginariaque teria a sorte de conhecer coisasnovas, pessoas diferentes que seinteressam pela cultura. Esperoter sorte de voltar”, resume todo oseu encantamento Viviane Martinsde Andrade (Cantagalo). De fato,a maioria gostou do que viu eouviu. Conteúdo das palestras enível dos palestrantes foramaprovados (entre ótimo e regular),respectivamente por 91,2% e95,5% dos entrevistados. Deve-seregistrar que 82,6% participaramda SE pela primeira vez. Apesar desse alto nível deaceitação, choveram críticas esugestões à forma como as aulas

gente. A Semana do Ranchão, obar recém-inaugurado que setornou o novo point dosmaratonistas. A Semana dosCânticos Euclidianos que, apesarde serem cantados há anos, destavez escandalizaram a sociedaderiopardense. A Semana que foirecordista em participantes - cercade 150, segundo a Casa Euclidiana,sem incluir o pessoal local. ASemana em que A Associação maisque dobrou o seu quadro de filiadose esgotou as tiragens d’O Berrante,inclusive dos números antigos. Foi,enfim, uma Semana em que seaprendeu muito e se viu surgirnovos jovens euclidianos de valor. Foi também a Semana dos velhosproblemas. Criou-se o triatlo(“ironman”) euclidiano. Além damaratona das conhecidas palestras,em sua maioria difíceis de seabsorver, o maratonista teve queenfrentar duas outras provasdesgastantes: a má qualidade da

E

“O ideal seria que o euclidianismo, além de um projeto cultural,fosse reconhecido, sobretudo, pela convivência social entre

jovens”Emilene, Itú

“O futuro do euclidianismo deve ser a integração das épocas, dostemas e das atitudes, e não a fragmentação das idéias”

Luciana, São Paulo

EFEITOS DO VÍRUS“Alguns esperam ansiosos o ano todo até que chegue agosto;

outros chegam a São José sem saber de nada do que os espera,perdidos... Será uma semana. No primeiro dia os calouros

pensam na falta da comidinha da mamãe, saudade de casa!!!Outros já começam a curtir desde o primeiro dia a liberdade.São brincadeiras, namoros, amigos, noites de insônia, olheiras,ressaca total. Não pense você que é uma coisa passageira, uma

semana e pronto. Tenha certeza de que é inesquecível epermanente a aventura da SE. Momentos esses que só trazemuma sensação: ‘saudade!!!’ E quem é que queria ir embora no

final???”Leila Lotti M. de Oliveira, São José do Rio Pardo

“Os sete dias da Semana Euclidiana foram os melhores da minhavida.”

Emilene Oliveira de Souza, Itú“É uma experiência inesquecível, você sempre tem vontade de

voltar no próximo ano, mesmo que seja por conta própria, pois émuito bom conhecer pessoas novas. Oh, bosta! Mas a gente

gosta!”Gustavo O. Nakabayashi, Campinas

“Fazer novas amizades e estudar sobre Euclides da Cunharepresentou para mim como se fosse a semana do outro mundo.

Em um lugar totalmente diferente de onde moro.”Paulo César Rabelo Flores, Cantagalo

“A Semana Euclidiana foi um marco na minha juventude. (...)realmente muda muito nossa maneira de ver as coisas, deixando-

nos mais loucos do que já somos!”Vivian Rondon, Mogi Mirim

"A Semana Euclidiana significou(a): pensar, criticar, amar,odiar, adaptar(-se), valorizar, conhecer, sorrir, chorar

(principalmente na rodoviária) e, acima de tudo, ANDAR."Luciana Martinez Ceccato, São Paulo

“O que radicalizou legal é que antes eu não bebia cerveja e agorabebo”

Niédila do Carmo Aguiar, Mogi Guaçu

"NEO-EUCLIDIANISMO"

10 - O Berrante O Berrante - 11

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ARTIGOS

"VASTASemoções

e PENSAMENTOS IMPER-FEI-

TOS"Cinco diferentes artigos com aspectos e visões

distintas sobre a Semana Euclidiana

uma história. Em nossa sala de espera havia somenteuma simples porta, mas foi por ali que entrou a vida. Sei que é o “vírus euclidiano”. Sei que estou febril.É a febre e o delírio da paixão - a emoção da vida. Écomo diz a música: “... a beira do caos, 42 graus defebre contente...”. Sim, eu estou perdido. Deponhoas minhas armas. Sim, eu quero mais. Quero adelícia do delírio. O brilho juvenil. O clarão dosolhos. A explosão da boca. O poder do gesto. Não háresistência, não há cura, não quero a cura. Querosentir a dor e me satisfazer com ela. Quero provar deseu choro e de sua alegria. Quero olhar em frente eseguir. “Amar se aprende amando”, diz Drummond. Hoje é 16 de agosto. O resto é imperfeito.

Marcelo Lopes (São Paulo)

Chegou ao fim mais uma Semana Euclidiana.Cada ônibus que parte da rodoviária, levando osamigos, é como um pedaço que se arranca de mim. Éa dor do parto... Os anos passam (e já se passaram oito desde aminha primeira SE) mas a dor é sempre a mesma. Oh,shit, mas que dor gostosa é essa? Após 15 de agostotudo é tão frio, pálido e desinteressante. O mundo jánão parece o mesmo. As pessoas, menos ainda. O queera certo já se torna duvidoso. O que era bom virouapenas tédio. O que era importante perdeucompletamente o valor. Mas o que era complicadoficou simples. O que era improvável virou realidade.O que era desejo virou ação. Onde estava vazio ficoua saudade. Onde havia apenas um cenário, agora há

A dor do parto

O Berrante - 13Mas não é só isso. É necessárionão deixar nada disso morrer coma imposição do tempo e do espaço.Foram feitas diversas sugestõespara A AEE aprimorar o seutrabalho e para promover aintegração dos maratonistas noperíodo pós-SE. A propostacampeã (62,5% das idéias) érealizar encontros periódicos emdiferentes cidades. Essa já é umavontade antiga, e que se salientoude 93 para cá. Em fevereiro desteano se convocou os maratonistaspara um encontro/reunião em Rio

Pardo. A idéia nãov i n g o u ,c o m p a r e c e r a mapenas QUATROcolegas! Mesmoassim o projeto nãofoi abandonado.Está sendoorganizado um novoencontro, desta vezem Franca, marcadopara fins denovembro (V.página 17). Outra sugestão dedestaque foi abrir O

Berrante para a participação dossócios. Nem precisaria ser dito.Este periódico é, desde sempre,completamente aberto àparticipação dos leitores, seja porcartas, artigos, ilustrações,poemas, crônicas, pequenos contosetc. O Caderno de Idéias (queestréia nesta edição) é um espaçoampliado para colaborações sobrequalquer tema de interesse geral.Estão todos convidados. No box da página 11,manifestações típicas dosmaratonistas que foramcontaminados pelo incurável “víruseuclidiano”, e que resume muitobem o que todos sentimos apósmais uma SE. Oh, fudega!

são conduzidas. Na maioria sãoidéias há muito defendidas pel’AAEE, revelando que a entidadecontinua sintonizada com asaspirações dos maratonistas.Somente 5,7% das críticas/sugestões diziam que nadaprecisaria mudar. Mas na maiorparte delas os colegas reclamamda falta de uma ponte doeuclidianismo com a atualidade,pediram mais dinamismo às aulas,organização de debates eatividades extras, realização deseminários e grupos de trabalho,convite depalestrantes comdiferentes visõespara provocar oconfronto dei d é i a s ,diminuição dacarga horária dasaulas, maiori n t e g r a ç ã op r o f e s s o r /maratonista, usode métodosáudio-visuais ,m a i o rtranscendência aoeuclidianismo através da discussãode outros temas (educação,história, política etc), e por aí vai.“O Euclidianismo deveria estarmais voltado à atualidade, àrealidade nacional, já que sepressupõe que um novomaratonista tenha informaçõesbiobibliográficas sobre Euclides”,diz William Gonçales Cardoso(Osvaldo Cruz), que participou damaratona pela terceira vez. LilianSpalding (Itú) reclama por “maisdebates, porque só despejarinformações não leva a nada.” Agora que a Semana Euclidianaacabou é hora de pensar em tudo oque ficou. Cultura, vivência,amigos, histórias, sentimentos.

PESQUISAOs números

Recepção:Ótimo/Muito bom - 30,4%Bom - 13%Regular - 34,8%Ruim/Péssimo - 21,7%Alojamento:Ótimo/Muito bom - 8,7%Bom - 21,7%Regular - 21,7%Ruim/Péssimo - 47,8%Alimentação:Ótimo/Muito bom - 8,7%Bom - 17,4%Regular - 21,7%Ruim/Péssimo - 52,1%Local e infra-estrutura daspalestras:Ótimo/Muito bom - 34,7%Bom - 39,1%Regular - 13%Ruim/Péssimo - 13%Conteúdo das palestras:Ótimo/Muito bom - 52,1%Bom - 17,4%Regular - 21,7%Ruim/Péssimo - 8,7%Nível dos palestrantes:Ótimo/Muito bom - 52,1%Bom - 30,4%Regular - 13%Ruim/Péssimo - 4,4%Adequação dos temasdiscutidos:Ótimo/Muito bom - 43,4%Bom - 30,4%Regular - 17,4%Ruim/Péssimo - 8,8%Atividades culturais extras:Ótimo/Muito bom - 43,4%Bom - 26%Regular - 21,7%Ruim/Péssimo - 8,8%Trabalho desenvolvido pel’AAssociação:Ótimo/Muito bom - 78,2%Bom - 21,7%

"É necessárionão deixar queas lembranças

da SemanaEuclidiana mor-ram com a impo-sição do tempo e

do espaço"

12 - O Berrante

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ARTIGOSO Berrante - 15

O que levamos da SE Oi, turma, tudo “well”? Claro que não, afinal a SE acabou e tudo voltou aoque era antes, ou melhor, nem tudo. Ainda bem! Nós já não somos os mesmos que éramos no dia 8de agosto de 1994. Fizemos novos amigos e muitazoeira, mas não foi só isso. Aprendemos o que é“strike”, “caverna”, “fudega”, e à nossa bagagemcultural somamos os “Cânticos Euclidianos”, tudoisso regado a uma grande paixão por Sanzé. A sensação ao terminar uma SE é sempre a mesma,mas com o passar dos anos e das SE’s descobrimosque sempre há esperanças de um novo encontro nopróximo ano. Participando desde 1980 vi muitos amigos aolongo desses anos continuarem em contato, comovocês tiveram a oportunidade de conhecer. Outrospermanecem apenas na lembrança e alguns (pasmem)até já partiram deste mundo. Mas o que importa é oque levamos para nossas vidas de um encontro comoesse. Dentre aulas, palestras e conferências aprendemosmuito sobre companheirismo, solidariedade e

respeito. Acredito também que deu para perceberque não há uma verdade única e que ninguém podequerer ser dono dela. Saber conviver com aquelesque não compartilham da mesma opinião que anossa não é fácil, mas é uma lição de respeito ehumildade que temos obrigação de aprender, maiscedo ou mais tarde. Quanto à obra de Euclides da Cunha estou certaque muito dela todos nós temos que estudar, mas jádeu para perceber algumas coisas, principalmentecom relação aos problemas sociais deste país. Asdenúncias feitas no século passado e início destecontinuam atuais. É como se disséssemos “a históriase repete” (ou nunca mudou). E por falar em “a história se repete”, não vamosnos esquecer em momento algum que estamosdespertando para uma nova consciência. Em outubro/novembro teremos eleições, fiquemos alertas, nãonos deixemos enganar por boa aparência, falareloqüente ou falsas promessas, não vamos permitirque a história se repita. Um grande beijo a todos cheio de saudades.

Rachel Ap. Bueno da Silva (Campinas)

A força da juventude Antes que pareça redundante, estetexto se pontua pela necessidade demostrar aos novos maratonistas -nossos filiados a partir da SE-94 -alguns acontecimentos que têmmarcado as relações (?) entre nossaAAEE e a diretoria da CasaEuclidiana. Todos os maratonistas de 1993ainda se lembram dos embates quecaracterizaram aquela “Semana”.Interessada e disposta a contribuirpara o enriquecimento qualitativodo evento, fazendo dele palco dediscussões mais abrangentes, nossaAAEE convidou pessoasinsuspeitas e de alto gabaritointelectual para desenvolver um

ciclo de estudos. Inicialmenteprevisto para constar naprogramação oficial, nosso esforçoacabou boicotadoinexplicavelmente peloscoordenadores oficiais, pelo jeitoreceosos com a dimensão einovação incutidas na novaproposta. Temeu-se pela perda docontrole do evento, hoje limitado auma esfera de influência erepercussão quase que somenteregional, servindo principalmentepara massagear os egos do pseudo-intelectualismo que se apoderoudas rédeas de sua realização. Tachado de “alternativo”,“paralelo” e “ilegítimo”, aquele

ciclo foi um sucesso, observadasas circuntâncias que permearamsua existência. Palestrantes comoPaulo Sérgio Pinheiro, FranciscoFoot Hardman, Edgar Carone, LuísSérgio Modesto e outros contaramcom a presença de entusiasmadosmaratonistas, que tambémacharam mais interessante oparalelo traçado entre o massacrede Canudos com o dos 111 presosdo Carandiru, e o dos meninos daCandelária. Mais interessante doque só saber dia, mês e ano donascimento e morte de Euclides daCunha. Corajosos, essesmaratonistas desafiaram aspunições anunciadas, e passaram

ARTIGOS

Ultramaratona Era uma da madrugada e, àsvésperas de mais uma SemanaEuclidiana, lá estava eu na estaçãoferroviária da minha pequenacidade do interior (Osvaldo Cruz,oeste paulista), com a cara e acoragem, pronto para enfrentarmais uma longa e nem semprebensucedida viagem. Destino:SANZÉ DO RIO PARDO. Sabia oproblema que teria pela frente, afudega estava apenascomeçando... Subi ao vagão e enquantoarrumava as malas no lugar certo,prestava atenção na limpeza dolugar. Como estava vazio, acheiaquilo um tanto quanto estranho.E o chefe do trem também. Aquelaera a primeira classe e, por acaso,a minha passagem era de segunda.

Então aquele senhor gordo, comcara de bonachão, me convidou“gentilmente” para que fosse aolugar indicado no bilhete, comfrases do tipo “corre que aindatem banco sem ninguém lá nasegundona”. Quando cheguei ao último vagãodo trem, o cheiro azedo de cachaçamisturado com cigarro de palha,vindo de uma senhora que tinha láseus cinqüenta anos, fez com queeu pensasse seriamente em descerna próxima parada, masmaratonista é maratonista, nãotem medo de cara feia (que o digaFélix, o Malvado), e segui em frentedividindo o banco com um molequepentelho, do qual o pai, que estavatomando “umas e outras” logoatrás, se livrara havia algumas

estações. Já havia passado quase dezhoras de viagem quando, em RioClaro, o chefe passa avisando queum vagão do trem que ia à frentetinha descarrilado num lugarchamado Tatú (?), e ficaríamosparados por tempo indeterminado.O Euclidão não estava mesmoquerendo ajudar... Minhapaciência de maratonista emalojamento acabava ali. Em RioClaro fui à rodoviária e peguei umônibus para Campinas. Lá fiqueiesperando uma hora por outroque me levaria a Sanzé, onde,depois de dezesseis horas, chegavaeu para minha outra maratona...A volta? Vim de ônibus.

William Gonçales Cardoso(Osvaldo Cruz)

A grandeza de um evento Falar da Semana Euclidiana é tão difícil quantofalar de nós mesmos. Dada a complexidade de ambasas tarefas, é perfeitamente compreensível todo tipode equívoco, bem como qualquer colocação que nãoseja bem expressa. Mas não delonguemos a introdução. Diante daproposta de comentar a SE de forma geral, e da suarepercussão em São José em particular, esbarramosem prós e contras que refletem toda a grandeza doevento. Uma grandeza, aliás, que, em si, já nosremete a divagações maiores. Trata-se de umagrandeza edificada sobre ruínas. Diante do desprezocultural no qual o país se aflige, manter um eventopor tanto tempo é, no mínimo, digno de atenção. Grandeza edificada sobre ruínas é, também, oadjetivo cabível à própria obra debatida na SE. “OsSertões”, Canudos, Antônio Conselheiro, o próprioEuclides, o sertanejo, enfim, são todos elementosque, em si, de pouco valem, tal como se fossempingos, gotículas de chuva dispersas em cantos

diferentes e distantes. Mas a SE é uma chuva que não atinge a todos. Umacoisa é você criar um evento que seja aberto aopúblico, e outra, completamente diferente - e mais,muito mais difícil - é você dar condições de todosparticiparem desse evento. Mas esse é um assunto que merece analista maisexperiente e imparcial. Sendo riopardense nato soususpeito tanto para elogiar a SE quanto para criticá-la. Cabe a nós debruçarmos sobre a SE, unidos, parafazer com que ela seja uma grandeza construídasobre grandezas maiores ainda. Fazer com que a SE,bem como o seu espírito de reflexão acerca dosproblemas sociais do Brasil, seja atingível a todos,e que todos, aos poucos, se conscientizem daimportância de tudo aquilo que é discutido durantea SE.

Paulo Herculano (São José do Rio Pardo)

14 - O Berrante

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O Berrante - 17PROJETO HERMA

Em Franca, o reencontrodos maratonistasÉ o primeiro de umasérie de eventos queA AEE pretendefazer nessa e emoutras cidades

desejem participar. Se é o seucaso, entre em contato com o Danilo(nosso diretor que mora em Fran-ca), pelo telefone (016) 722-9816,ou escreva para a nossa Central deInformações. A princípio o Encontro incluiriaum evento cultural aberto aos es-tudantes de Franca (uma mini-Semana Euclidiana), conforme jáfizemos em novembro de 1987. A"Semaninha" de Franca serviu paraselecionar maratonistas que parti-ciparam da SE-88, além de difun-dir o euclidianismo na região. AAEE, desta vez, elaborou um pro-jeto e o enviou para a PrefeituraMunicipal de Franca e dois colégi-os da cidade (o Objetivo e oOswaldo Cruz - COC). O projetofoi bem recebido, mas acabou en-contrando algumas dificuldades depatrocínio. Além disso o tempopassou a ser exíguo para se

Está no ar o Projeto Herma (H-encontro Regional dosMaratonistas). Criado no ano pas-sado, o Projeto ainda não vingou,mas agora pode ser uma boa opor-tunidade para ele decolar. A orga-nização de encontros periódicosdurante fins-de-semana foi a pro-posta quase unânime entre as su-gestões feitas pelos maratonsitas. Franca foi a cidade escolhidadesta vez, e o Encontro será reali-zado em 26 e 27 de novembro.Apesar de ser regional, o eventoestá aberto a todos os colegas que

contactar palestrantes de nível(como também propusemos para oCiclo de Estudos da SE). Dessamaneira, o Encontro Cultural deFranca só deverá ser realizado emmarço.

O fechamento desta edição d'OBerrante foi retardado até quese tivesse uma definição sobre arealização ou não do EncontroCultural. Somente no iníco denovembro é que se decidiu adiara proposta e marcar apenas umencontro social dos maratonistas.Pedimos desculpas aos leitorespor esse atraso.

Indefinição doevento atrasa o

jornal

?????E a SE-95?

Nestes difíceis tempos pós-Cânticos, não há comose prever como será a participação d'A AEE naSemana Euclidiana de 95. Durante a SE deste ano AAssociação se reuniu com autoridades riopardensesda área cultural, como o vereador Agenor RibeiroNeto, e as perspectivas de implantarmos nossasidéias eram boas. Mas isso foi antes das músicascausarem todo aquele auê. "A participação do grupo[d'A AEE] na Semana é fundamental, mas necessita,agora, de uma retomada de negociações", disse Agenorem entrevista à Gazeta do Rio Pardo. Veremos.

Informações: tel.: (016) 722-9816, c/Danilo (ou escreva - rapidinho - para a

Central de Informações)

Encontro Regional dosMaratonistas

Franca, SP26 e 27 de novembro

16 - O Berranteincólumes pela presençaameaçadora postada na entradado local onde as “duas” Semanasse realizaram, qual guardiãmedieval da tradição intocável.Tentou-se impedir ocasionaisdesvios de rotas paralelas queacabaram sendo freqüentes. Apesar de conturbada, a SE-93foi a mais produtiva entre as cincoúltimas realizadas. Provou-sedefinitivamente que muitaspessoas que não sãonecessariamente “euclidianos decarteirinha” têm muito acontribuir para transformar oevento em algo maior, foro dediscussões, debates e reflexões quepartam sim da valiosa e inegávelobra euclidiana, mas trascendamseus limites de forma a englobaras situações do Brasil e do mundohoje! O temor de perda que vemacompanhando os diretores da SEé, no entanto, plenamente coerentee sério. Eles estão perdendo defato algo extremamenteimportante, mas que não está nadarelacionado ao controleabsolutista da “Semana”. O queestá se perdendo é a oportunidadevaliosa de compor com o jovemque de uma forma ou de outramantém estreito relacionamentocom o euclidianismo. Aquelemesmo jovem “alienado” da

geração Coca-Cola que pintou acara e impediu um presidente e,por isso, desautorizou o uso doadjetivo anterior. “A gente nãosomos mais inútil!”, dizia o cartaz,mas o pior cego é aquele que nãoquer ver, nem que seja o óbvioululante. Desperdiça-seirresponsavelmente einconseqüentemente a chance demovimentar uma forçainteressada, disposta e de grandevitalidade. Entre a riquezaresultante da soma da experiênciae tradição dos antigos euclidianoscom a disposição dos novos,infelizmente eles parecem preferirficar apenas com a primeiraparcela. Guimarães Rosa, nossomaravilhoso escritor, disse umavez: “...- A juventude? É umamaravilha. A juventude é quasetudo. É a humanidade e aesperança recomeçando.” Talveza Semana Euclidiana esteja fadadaa não recomeçar se depender deles,mas nós, maratonistas“subversivos”, continuaremossubvertendo a ordem e resistindoaos baldes d’água fria jogados.Porque o que está em jogo é muitomais importante do que osaplausos consagradores (?) daAcademia Jundiaiense de Letras.Continuaremos sempre na luta edo lado certo da luz!

Danilo M. Peroni (Franca)

Diretores d'A AEEsão agredidosdurante SE Os diretores d'A AEE que esta-vam no Baile de Encerramento daSemana Euclidiana tiveram quese retirar do salão mais cedo. Éque lá pelas tantas eles foram agre-didos (verbalmente e fisicamente)pelo filho de Álvaro Ribeiro Neto,diretor da Casa Euclidiana, e quetambém se chama Álvaro. Muitoalcoolizado, ele ofereceu resistên-cia aos seguranças que tentaramretirá-lo. A agressão aos diretoresprosseguiu, e o presidente AndréLuiz acabou revidando. Álvaro teveque ser retirado à força pelos pró-prios amigos.

A Semaninha de Franca, em87, foi preparatória para a SE/88, e não para a SE/87, como dáa entender a matéria ‘Ouprogredimos oudesaparecemos’ (O Berrante 4,págs. 6-7).

*** A SE/94 foi a 82ª, e não 83ª,conforme anunciado na pág. 5d’O Berrante 4.

Esclarecimento

Procura-se umilustrador Você quer ser desenhista e cari-caturista d'O Berrante? Então nosescreva. Precisamos de colabora-dores na área. Para conferirmos oseu talento, mande-nos dois dese-nhos: um retratando algum perso-nagem conhecido do mundo polí-tico. Outro, retratando Euclidesda Cunha, mas SEMSACANAGEM! Os melhores tra-balhos serão publicados.

"HERRAMOS"Níver d'O Berrante Outubro é o mês de aniversáriod'O Berrante, que completa doisanos. Como presente aos leitores,criamos nesta edição o Cadernode Idéias & Ideais, desde já aber-to à participação de todos, a exem-plo do que ocorre no restante dojornal. O novo caderno pretendeser um espaço aberto aos temaspolíticos, sociais, econômicos,culturais, artísticos etc etc etc.

A partir de algumas respostasencontradas no questionário queA AEE enviou aos maratonistas de94, desconfiamos que muitos co-legas confundem A Associaçãocom os organizadores da SemanaEuclidiana. A SE é de inteira res-ponsabilidade da Casa Euclidiana,e nós não tivemos nada a ver coma coisa, mesmo porque não nospermitem qualquer participação.

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NOVOS SÓCIOS D'A AEE Durante a SE/94 A AEE fez 46novos sócios: Agenor RibeiroNeto* (São José do Rio Pardo),Patrícia Fernando Boro*(Campinas), Wanderléa SadBallarini (Franca), Rachel LanzaFinatti (Franca), Paulo AraújoPrado (Franca), Ricardo de CastroPaganucci* (Cristais Paulista),Cristiane Pereira Ropero* (SãoPaulo), Flávia Cristina Fanelli*(São João da Boa Vista), GiovanaCiacco de Melo* (São João daBoa Vista), Melisa GiãoMarques* (Mogi Guaçu), Niédilado Carmo Aguiar (Mogi Guaçu),Vivian Rondon (Mogi Mirim),Sílvio Eduardo Pasqüini* (RioClaro), Alessa Siviero HungriaCecci (Franca), Patrícia BarrosMoreira* (Campinas), JanaínaCristina Silveira* (Campinas),Thiago Romeira Menegão*(Campinas), Samia Amin AbdoElhmid (São João Del Rei), NádiaMaria Martins* (São Paulo),Valéria L.C. Ferrari* (São Paulo),Tobias Barros Ismério(Cantagalo), Fábio Freire Peres*(Itú), Mariana Pereira deOliveira* (Cordeirópolis),Rodrigo Fraga Leandro de

Figueiredo* (Mogi Mirim), LilianSpalding de Paula Monteiro (Itú),Priscilla G. de L. Gomes (SãoPaulo), Elisângela C. Bannwart*(Campinas), Miguel Orlando daSilva* (São José do Rio Pardo),William Gonçales Cardoso(Osvaldo Cruz), Paulo C. Rosseto*(Caconde), Émerson Borges deSousa* (Caconde), Lívia SantiagoPeroni* (Franca), Paulo CésarRabelo Flores (Cantagalo),Marcilene Regina Blanco*(Lençóis Paulista), SimoneCalderari* (Vargem Grande doSul), Dilzaléia Cristina Angélico*(Lençóis Paulista), Carlos TadeuCarvalho Azevedo* (Cantagalo),Marcelo Antonio Ribeiro*(Caconde), Hildete MartinsMoreira* (São João Del Rei),Rachel Ap. Bueno da Silva*(Campinas), Gustavo OideNakabayashi (Campinas), LucianoCésar da Fonseca (Caconde),Patrícia Judite Jardim Gardelo(Cantagalo), Rodrigo SimãoAlvares (Ourinhos), Fábio MarceloPires de Andrade (Rio Claro) eIrani Pereira de Souza (São Joãoda Boa Vista). Após a SE/94 AAEE já ganhou mais 17 sócios:

Emilene Oliveira de Souza (Itú),Mônica Oide Nakabayashi(Campinas), Viviane Martins deAndrade (Cantagalo), Leila LottiMarques de Oliveira (São Josédo Rio Pardo), Carla CristinaHartung (Rio Claro), MariaCecília Hitomi Kuzuoka (RioClaro), Maria Célia SaticoKuzuoka (Rio Claro), JoséGabriel Bloes de Meira(Itapetininga), Elisângela Gicosde Andrade (Botucatu), ElizabethAparecida de Oliveira (São Joãoda Boa Vista), Daniela Bianchini(Jundiaí), Luís Fabiano E.Bernardes (Campinas), CláudiaPacheco (Tambaú), DaniellaSerrano Martelletti (São Paulo),Dirceu Villa Nova Pinto*(Cantagalo), Lucimar BarrosGomes (Cantagalo) e MartaAndréa Pasquini de Castro* (SãoPaulo). Pede-se daqueles que estejamindicados com um asterisco queenviem o quanto antes uma foto3x4, para regularizar a situaçãocom nossos cadastros. Caso já otenham feito, desconsiderem estepedido. A todos, boas-vindas aoreino dos céus!

O Berrante - 19

Assinatura:no(s) ano(s) de: , na função de:Profissão:Data de nasc.: RG:

Tel.: ( )CEP:Cidade:

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18 - O Berrante

nos escrever autorizando a publi-cação de seu endereço, e contandoquais são as suas preferências. Para o futuro, A AEE planejapublicar um guia contendo o ende-reço de todos os maratonistas.

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Rua Antonio Abdo, 99, V. dasMercês, CEP 04164-060, SãoPaulo, SP. O preço estipulado nãoinclui as despesas de envio. Além da camiseta oficial d’AAssociação (que possui o nossologotipo na frente), estamosvendendo também a camiseta doMOREC (MovimentoRevolucionário Euclides da Cunha,“o braço armado d’A AEE” - lay-out ao lado). Antes que asoldadesca defensora do cultoeuclidiano (sic) se exalte, é precisoesclarecer o seguinte: o MOREC éuma entidade fictícia, viu? Elasurgiu, há anos, como uma respostairreverente aos rótulos querecebemos (e continuamosrecebendo) dos “inimigos” aolongo dos tempos( " c o m u n i s t a s " , “ r a d i c a i s ” ,“subversivos”, “destruidores doculto euclidiano” - sic, de novo -etc). O preço da camiseta doMOREC também é R$ 8,00.

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IDÉIAS

&IDEAIS

Cadernode

O BerranteAno III - Nº 5Outubro/1994

HISTÓRIA

Belo Monte,101 anos...

Caderno de Idéias e Ideais - 1

á passou mais de um século e, definitivamente, BeloMonte - ou Canudos, na voz dos poderosos - não serendeu. Belo Monte era bem mais do que uma cidade.Representava um sonho coletivo de um mundo justo,onde havia terra e trabalho para todos. A cidade foi“expugnada palmo a palmo”, como disse Euclides.Suas ruínas foram submersas pelas águas dahidrelétrica de Paulo Afonso. Mas o sonho continuou.Resistiu às quatro expedições (ou cinco, já que aquarta, à beira do colapso, só conseguiu reverter asituação ao receber na hora “H” um reforço de trêsmil homens). Resistiu ao esquecimento das águas eàs agruras da seca e da miséria. A Canudos de ontemestá viva no espírito do sertanejo de hoje. 101 anos depois de fundada por AntonioConselheiro, às margens do Vaza-Barris, a cidade éconsiderada o palco de um dos acontecimentos maisexcitantes de nossa História. É crescente o número depesquisadores, intelectuais em geral e artistas, quetêm se interessado pelo assunto. Belo Monte - overdadeiro nome que vai se resgatando - está sendo

J

O mês de outubro marca o aniversário deBelo Monte (rebatizada de Canudos). Cres-ce, cada vez mais, o interesse das pessoaspor um dos capítulos mais fascinantes da

História brasileira.

Notíciasdas

Cavernas

O BerranteCentral de Informaçõesd'A AEE - O Berrante -Redação: Rua Antonio

Abdo, 99, V. das Mercês,CEP 04164-060, São

Paulo, SP, tel.: (011) 946-5573.

Editor responsável: MarceloLopes. Editora adjunta:

Andréa Pasqüini. Secretáriade Redação: Luciana

Martinez. Correspondentes -Sucursal Oeste Paulista:

William Gonçales (OsvaldoCruz), Sucursal NordestePaulista: Léa Ballarini eDanilo Peroni (Franca),

Sucursal Rio Pardo: PauloHerculano. Diretoria d’A AEE

- Presidente: André (SãoPaulo), 1º-2º-3º vice-

presidente: Humberto (SãoPaulo/Franca), SecretárioGeral: Mário (Botucatu),

Secretária Adjunta: Raquel(São Paulo/São José do Rio

Pardo), 1º tesoureiro: Newton(São Paulo), 2º tesoureiro:

Newber (São Paulo/Botucatu),Diretores: Marcelo (São

Paulo), Danilo (Franca), Rildo(São Paulo), Elvis (Brasília).

Números atrasados ecorrespondência em geral:

contatar a Central deInformações. Cartas e artigos

enviados para publicaçãopoderão ser editados em

função do espaço disponível.Os artigos assinados não

refletem necessariamente aopinião do jornal. Tiragem:

170 exemplares.

20 - O Berrante

CAMPINAS - Em toda SE aparececada figura! Esse ano, entre tantas quesurgiram, duas estão dandotrabalho em Campinas. São elas,digo eles, o Laleska (conhecidotambém pela alcunha mentirosade “Punhetinha”), e o Beleléu. Laleskainiciou ump r o g r a m aintenso denutrição paraum dia crescere ficar fortecomo oHumberto daSilva Sauro, e osegundo chorapelos cantos desaudades daR o s a u r aE s c o b a r( “ V o v ó ” ) .Pode?!

*** Enquantoisso, lá em SãoJoão Del Rei,terra deTancredo, mastambem a terrada Sâmia (aMargarida), omomento é dec o n s c i ê n c i ap o l í t i c a .Durante aseleições ela

ficou pelas ruas da cidade dando...o folheto "E se depender de você?"(reprodução abaixo), numacampanha junto à população emprol de um voto consciente.

*** Nosso presidente André estourouo pezinho. Ficou, literalmente,capenga e manquitola.

*** A EPTV de São Carlos(retransmissora da Globo) nosprocurou para saber nossa opiniãosobre a "polêmica" dos CânticosEuclidianos. É o "Febeapardo"...

*** Não haverá CânticosEuclidianos 2.

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2 - Cad. I&I Caderno de Idéias e Ideais - 3

revisitada em todos osaspectos. Já se foi otempo em que osrebeldes sertanejoseram tratados pelahistoriografia comoadversários daRepública, bem comoo tempo em que eleseram caracterizadoscomo meros“ f a n á t i c o sreligiosos”. Omessianismo é, semdúvida, uma questãochave para sec o m p r e e n d e rCanudos. Mas nãobasta. É necessárioque se reflita sobre assuas causas conexas. A primeira reflexão- e talvez principal -está sendo feita pelopróprio sertanejo.Mais do que ninguém,ele sabe do valorhistórico e social daexperiência lideradapelo Conselheiro.Eles mesmos agiram,insconscientementeaté, como verdadeiroshistoriadores, lutandopara preservar amemória da antigacidade. Os moradoresda atual Canudos (munícipiodesmembrado de Euclides daCunha na década de 80, e situadanum local próximo à original)passaram a reunir e guardar objetosremanescentes da Guerra, numaespécie de museu. Até hoje é muitocomum encontrar nas cercanias

marcas e indícios do conflito, taiscomo cápsulas vazias de projéteis. Anualmente o sertanejo revive ahistória canudense. Desde 1988,sempre em outubro, ocorre naregião uma romaria para lembrar ecomemorar a fundação da cidade.No ano passado, quando ela

completou um século, participaramda caminhada milhares de pessoas,gente que é marginalizada pelosque detêm o poder, e sofrem com afalta d’água, a fome e,principalmente, com os conflitosde terra. No ano passado osromeiros se reuniram junto à Cruz

Antonio Conselheiro é umpersonagem quecada vez mais fascina oshistoriadores

do Conselheiro (ali fincada pelopróprio), saíram em carreata atéBendengó (20 km de distância) eseguiram a pé por mais oito até oaçude de Cocorobó. Celebrou-seuma missa no local e se fez umaencenação teatral lembrando oConselheiro. Enquanto isso, livros, teses eestudos diversos sobre Canudosvão sendo feitos. Por ocasião docentenário da cidade, a RevistaUSP, em sua edição número 20,publicou o “Dossiê Canudos”, comquase 100 páginas de textosassinados por pesquisadores eescritores como José Calasans,Paulo Dantas, Renato Ferraz,Walnice Nogueira Galvão, MariaIsaura P. de Queiroz e Jorge Coli.São debatidas a figura doConselheiro (incluindo cópia dorelatório feito por Frei JoãoEvangelista, que em 1895 foienviado pela Igreja a Canudos,com o objetivo de “pacificar” opovoado), a questão dosebastianismo no movimentomessiânico canudense, a realidadesertaneja, e a configuração dosertão nas obras de Euclides daCunha e Guimarães Rosa, entreoutros temas. Na última Bienal do Livro deSão Paulo, em setembro, tambémhavia à disposição variado materialsobre Canudos para todas asidades. Até crianças poderiam

de Canudos, produzido peloalemão Uli Mueller e dirigido porsete cineastas brasileiros, traz umaaproximação muito grande entre opassado histórico e a atualidade,onde os problemas sociais aindasão enfrentados com a força brutada repressão. Às vésperas de umaintervenção militar nos morroscariocas, imediatamente vem àmemória um dos episódios dofilme, A comunhão, dirigido porSandra Werneck, e destacadopel’O Berrante em sua últimaedição. Sandra faz exatamente umaanalogia entre Canudos e as favelasdo Rio. Guardadas as devidasproporções e deixando de lado otrocadilho, seria o morro um novoBelo Monte? É coisa para sepensar...

conhecer a História, através delivros ricamente ilustrados quecontavam de forma simples, masprofunda, quem foi AntonioConselheiro e o que aconteceu nosertão da Bahia. Para os iniciantes de nívelsecundário, uma boa dica é o livrodo professor, historiador e escritorJosé Antônio Sola, Canudos, umautopia no sertão. Sola, um“fascinado” pelo tema, descreve,em linguagem bastante acessível,todos os acontecimentos ligados aCanudos, desde os seusprecedentes até o último casebredestruído pelo Exército ao final daGuerra. Com lançamento previsto noBrasil para o começo do ano quevem, o filme Os Sete Sacramentos

CANUDOS, UMA UTOPIANO SERTÃO - José

Antônio Sola. Ed. Con-texto, 2ª ed., 1991. 80

págs. R$ 5,00

REVISTA USP - nº 20 -Dez. 93/Jan. Fev. 94.

Coordenadoria de Comu-nicação Social da USP.

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IMPRENSA

4 -Cadernos de Idéias e Ideais

democracia. As paixões, antes reprimidas, explodemcom força e, não raro, os ânimos de radicalizam,denunciando a existência de resquícios doautoritarismo. Foi-se o regime, ficou a sua cultura. Esses resquícios ainda permeiam as atividades denossa imprensa. Os “filhos da Revolução” lotam asredações. Participam do exercício das liberdadesdemocráticas - que justamente propicia o seuaperfeiçoamento. Erram aqui, acertam mais adiante.Passo a passo, aprendem a ganhar e, sobretudo, aperder. A imprensa, hoje, participa ativamente daHistória política deste país. Volta e meia, entretanto,o autoritarismo reaparece. Nesta época de eleições (a maior que já tivemos),as paixões político-ideológicas se acirram. A isençãona cobertura jornalística, muitas vezes, vai para oespaço. Isso ocorre entre aqueles que realmente sãoparciais, e também entre aqueles que querem mostrarque não são (não vou ficar filosofando sobre aexistência ou não da imparcialidade. Não é o caso). A imprensa representa o Quarto Poder. Como emqualquer outro, o seu exercício traz o perigointrínseco das tentações totalitárias. De repente ojornalista pode achar que faz e acontece e, pior, quedomina a verdade. Daí vem a presunção de querercatalogar o mundo (e neste caso específico, oscandidatos) em certo/errado, bom/ruim, moderno/atrasado etc etc. Trata-se de uma arrogânciamaniqueísta preocupante. O seu tom já é dado pelaspróprias campanhas eleitorais. Fernando Henriqueera colocado como o “bom”, o “moderno”. Lulaera o “ruim”, o “atrasado”, ao mesmo tempo emque tentava se mostrar representante da “verdade”,em oposição à “mentira”, personificada nacandidatura tucana. São todos conceitos ideológicosque a imprensa usa para definir as próprias regrasdaquilo que é certo e errado, e que elas adaptam de

Brasil viveu duas décadas mergulhado natragédia da ditadura (a última), quando aspaixões político-ideológicas foram sufocadaspela censura. Agora, com a retirada do véuobscurantista, voltamos a conviver com a

acordo com as necessidades do discurso. Nessecaso, Lula era combatido por usar um carro de somda CUT. Mas a imprensa não chiou quando FHCrecebeu apoio oficial e documentado da ForçaSindical. O jornalista que se vê no Olimpo, mas não querser taxado de parcial, acaba fazendo ainda pior. Noesforço (quase doentio) de apregoar (legitimar)uma suposta independência política, eles fazem usode uma metralhadora giratória: atiram para todosos lados. A receita do jornalismo ético (?) e sem orabo preso é meter o pau em todo mundo. É ojornalista acima de tudo e de todos, no cúmulo desua arrogância, e que ainda se justifica em nome daliberdade de expressão! A ética que se dane. O resultado disso é o “denuncismo”, onde o maisimportante não é a denúncia em si, mas a necessidadediária de se denunciar. No calor imediato dacampanha, as corretas apuração e comprovaçãodos fatos são freqüentemente desprezadas. Aimprensa, numa só penada, denuncia e condenasumariamente à execração pública, transformandoo Quarto Poder num tribunal supremo, onipotente,intangível, inquestionável e de exceção. Antes de encerrar, é necessário um alerta aospatrulheiros ideológicos. Não há, aqui, intençãoalguma de defender qualquer partido ou candidato.Há, sim, a preocupação de defender os princípioséticos que devem nortear o exercício jornalístico(dentro e fora de uma campanha eleitoral, se digade passagem). Muitos foram os casos, algunsextremamente absurdos, em que isso não foirespeitado. Não vou ficar dizendo que a mídiafavoreceu candidato A ou B. Seria tocar em um sólado da ferida e, talvez, engrossar o coro daspaixões maniqueístas. O que desejo dizer é oseguinte: a ética vai mal. Estão em alta a arrogânciae o totalitarismo. Abram os olhos.

Marcelo Lopes(Editor d’O Berrante)

Tentações totalitáriasArrogância põe em xeque a ética jornalística

O