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A assistência ao parto na visão do médico obstetra Roseli Nomura Professora Adjunta da Escola Paulista de Medicina - Universidade Federal de São Paulo Profa Associada da Faculdade de Medicina da USP

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A assistência ao parto na

visão do médico obstetra

Roseli Nomura

Professora Adjunta da Escola Paulista de Medicina -

Universidade Federal de São Paulo

Profa Associada da Faculdade de Medicina da USP

Assistência ao Parto: visão do médico Obstetra

Fev 1808 - Faculdade de Medicina da Bahia

Nov 1808 - Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro

Primeiras Faculdades de Medicina do Brasil

Assistência ao Parto: visão do médico Obstetra

Primeiras Faculdades de Medicina do Brasil

� 1808: Ensino oficial de Medicina deveria incluir a Cirurgia, a Anatomia e a Arte Obstétrica

� 1832: Reforma no ensino médico, as faculdades passam a conceder o título de Doutor em Medicina e é criado o Curso de Partos para mulheres

� Muitas deficiências no ensino prático da obstetrícia

� 1879: Matrículas de mulheres no curso médico

� 1894: Nova reforma – cria-se a cadeira deClínica Ginecológica e Obstétrica

Brenes AC. Cad Saúde Publ. 1991.

Assistência ao Parto: visão do médico Obstetra

“Mulher que pelo seu nome duradouro, concentra o

prestígio de todas as outras” (parteiras)Fernando de Magalhães, 1922

Mme. Durocher (1816-93)

� Parteira diplomada no Curso de Partos da Faculdade

de Medicina do Rio de Janeiro - 1834

� Nomeada parteira da Casa Imperial em 1866

� Viu nascer cerca de 5.500 súditos de Sua Majestade

� 1ª mulher membro da Academia Imperial de

Medicina

Mott MLB, 1994Belfort & Braga, 2004

Citação de trecho de carta do Prof. Cilmério de Oliveira, da cadeira deClínica Obstétrica e Ginecológica, da Faculdade de Medicina da Bahia, 1891:

Assistência ao Parto: visão do médico Obstetra

Criação de Maternidades

Para os cursos de formação de parteiras e ao ensino médico

Meados do séc XIX: Casas de Saúde

1894: Maternidade São Paulo1918: Maternidade Pro Matre – RJ

Até o final dos anos 1930:

O hospital era visto como um abrigo aos necessitados e desvalidos e a internação raramente era desejada pelas parturientes

Nos anos 30 e 40: surgem hospitais de ensino e maternidades

Assistência ao Parto: visão do médico Obstetra

Mott ML. Proj História São Paulo, 2002Barreto MRN. História, Ciências, Saúde - Manguinhos, 2011

A partir de 1930

“A hospitalização do parto passava a ser vista como um ideal a ser atingido,

um exemplo a ser seguido... Os médicos trabalhavam com alguma parteira.

(...)

A situação vivida pelas parturientes estava longe da ideal: falta de leitos...

Eram mal atendidas... Sofriam intervenções desnecessárias... Não

encontravam vagas... Condições dos estabelecimentos não eram

compatíveis com o que era preconizado”

Assistência ao Parto: visão do médico Obstetra

Mott ML. Proj História. São Paulo, 2002.

Mortalidade materna EUA 1900-97

Mortalidade infantil, neonatal, pós-neonatal EUA 1940-03

Assistência ao Parto: visão do médico Obstetra

Parto Natural - “Freebirth” Cesárea eletiva a pedido

X

Assistência ao Parto: visão do médico Obstetra

DomiciliarCasas de

parto

Centros

de parto

normal

Centro

obstétrico

hospitalar

Assistência ao Parto: visão do médico Obstetra

Cenários atuais na assistência ao parto

Conceito de saúde:

“Saúde é o estado de completo bem-estar físico, mental e social e não mera ausência de moléstia ou enfermidade" (WHO, 1948).

Constituição Federal

Estabelece a saúde como direito de todos e dever do Estado (art. 196) e as bases fundadoras do SUS, o Sistema Único de Saúde (art. 198).

O reconhecimento de direitos e obrigações é condição básica para estabilidade de um sistema social.

Assistência ao Parto: visão do médico Obstetra

Código de ética médica

Capítulo I

Princípios fundamentais

II - O alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional

V - Compete ao médico aprimorar continuamente seus conhecimentos e usar o melhor do progresso científico em benefício do paciente

XXI - No processo de tomada de decisões profissionais, de acordo com seus ditames de consciência e as previsões legais, o médico aceitará as escolhas de

seus pacientes, relativas aos procedimentos diagnósticos e terapêuticos por eles expressos, desde que adequadas ao caso e cientificamente reconhecidas

Assistência ao Parto: visão do médico Obstetra

Práticas reconhecidas e recomendadas

� Dieta durante o TP� Não utilização de enema e/ou

tricotomia� Respeito à privacidade� Apoio emocional contínuo� Escolha do acompanhante� Infusão EV quando indicada� Ocitocina quando necessário� Métodos p/ alívio da dor: não

farmacológicos e farmacológicos� Liberdade de posição e movimento

durante o TP� Monitoração fetal por ausculta ou

eletrônica� Estímulo a posições não supinas� Uso do partograma

� Amniotomia espontânea� Menor número possível de toques

vaginais (intervalos > 2h)� Puxos controlados no expulsivo� Preparo perineal no pré-natal� Uso restrito da episiotomia� Não utilização da manobra de

Kristeller� Clampeamento do cordão após

1min� Uso profilático de ocitocina na

dequitação� Contato cutâneo mãe/bebê após

expulsão e amamentação na 1ª h� Exame rotineiro da placenta

Assistência ao Parto: visão do médico Obstetra

Código de ética médica

Capítulo III

RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL

É vedado ao médico:

Art. 4º Deixar de assumir a responsabilidade de qualquer ato profissional que tenha praticado ou indicado, ainda que

solicitado ou consentido pelo paciente ou por seu representante legal.

Assistência ao Parto: visão do médico Obstetra

Quais devem ser os limites à autonomia materna quando

se trata de parto?

E quais são os riscos eticamente aceitáveis, uma vez que a

vida e a saúde, do bebê e da mãe, estão por vezes em jogo?

especialmente onde é baixa a probabilidade de ocorrer

resultado grave e ruim?

Deve-se encorajar os profissionais a prestarem menos

atenção a alguns riscos em nome da autonomia materna?

Assistência ao Parto: visão do médico Obstetra

http://www.febrasgo.org.br/site/?tag=parto-domiciliar

Embora o risco absoluto seja baixo, o parto domiciliar está associado com o aumento de

duas vezes de morte neonatal quando comparado ao parto hospitalar...

Jornal do CREMESP, ed 282, 06/2011

Assistência ao Parto: visão do médico Obstetra

Código de ética médica

Capítulo I

Princípios fundamentais

VII - O médico exercerá sua profissão com autonomia, não sendo obrigado a prestar serviços que contrariem os ditames de sua consciência ou a quem não deseje, excetuadas as situações de ausência de outro médico, em caso de urgência ou emergência, ou quando sua recusa possa trazer danos à saúde do paciente.

Assistência ao Parto: visão do médico Obstetra

Visão do Médico Obstetra:

O parto é visto como um evento essencialmente natural e normal, mas não isento de risco de complicações potencialmente danosas para a mãe e o bebê.

Quando o dano é previsível, não se pode alegar que seja fatalidade e, por vezes, pode configurar a perda de uma chance

de intervir para melhorar o resultado, ou, pelo menos, minimizar o dano.

Assistência ao Parto: visão do médico Obstetra

Formação do Médico Obstetra na

atualidade:

Apesar de muitos terem sido formados com uma visão fragmentada, medicalizada e patologizada do processo de parturição, a assistência ao parto está se modificando, pela maior participação das mulheres nas decisões sobre sua saúde e na especialidade, bem como pelas mudanças no ensino da Obstetrícia.

Assistência ao Parto: visão do médico Obstetra

Abordagem ecológica na Medicina

Passa-se da intervenção para o monitoramento.

“A vida, do início ao fim, é objeto de um tipo de intervenção

que busca uma contraposição à excessiva medicalização,

com a humanização tanto do parto quanto para a morte.” Chazan, 2010

O paciente passa a ser o indivíduo em conjunto com seu contexto familiar dentro de um sistema social.

Arney, 1982; Chazan, 2010

Assistência ao Parto: visão do médico Obstetra

Assistência ao Parto: visão do médico Obstetra

Caminhos...

Academia, sociedades profissionais, órgãos ministeriais:

Rever recomendações e práticas profissionais para o contexto nacional, que possibilitem atuação multiprofissional

Gestores do setor público e privado:

Garantir infraestrutura para atuação digna das equipes de saúde na assistência ao parto

Conselhos profissionais:

Apurar com rigor qualquer denúncia sobre a atuação de profissionais de saúde na assistência ao parto

Ministério da Educação:

Garantir o oferecimento de disciplinas que abordem direitos humanos, sexuais e reprodutivos em cursos da área de saúdeGarantir que o corpo discente tenha formação em cenários que ofereçam assistência ao parto

Obrigada!