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Universidade Federal do Pará Evento Interdisciplinaridade: processo educativos e de pesquisa na pós graduação A Arquivologia e a jornada pela sua identidade acadêmica. Roberto Lopes dos Santos Junior

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Universidade Federal do ParáEvento Interdisciplinaridade: processo educativos e de pesquisa na pós graduação

A Arquivologia e a jornada pela sua identidade acadêmica.

Roberto Lopes dos Santos Junior

Introdução

As duas faces do cenário arquivístico contemporâneo brasileiro:

• Campo disciplinar com relativa consolidação epistemológica e expansão de cursos em graduação nas regiões Norte e Nordeste.

• Uma área ainda presa a indefinições sobre seu campo de atuação e escopo teórico, e onde polêmicas e atritos com profissionais de outros campos de pesquisa ocorrem com certa regularidade (mesmo que pouco registrada na produção bibliográfica da área).

Objetivos

• Discorrer sobre como a Arquivologia apresenta suas relações interdisciplinares com outras áreas de pesquisa e como isso influiu em seu desenvolvimento.

• Analisar o desenvolvimento do curso em Arquivologia na UFPA, realçando a relação entre diferentes escolas e cursos existentes na Universidade.

Arquivologia: breve histórico • Consolidação da arquivologia data da França pós-revolução de 1789:

criação do primeiro arquivo nacional entre 1791 e 1794. tentativas de reorganização, reclassificação e reavaliação em documentos de arquivo.

• Durante o século XIX outros importantes marcos de consolidação da área: promulgação do princípio do respeitos aos fundos na França (1841) e da ordem original na Alemanha (1881), consolidação de cursos na Europa e publicação do Manual dos Arquivistas Holandeses (1898), considerada a obra que solidificou a prática em arquivos.

• Pós segunda guerra: Os Estados Unidos, entre outros países anglo-saxônicos elaboram o conceito de gestão de documentos (records management) cuja ótica, inicialmente, era mais administrativa e econômica. Em 1956, o norte-americano Theodore Schellenberg publica Arquivos modernos – princípios e técnicas .

Arquivologia no Brasil: breve histórico

• Criação e evolução do Arquivo Nacional, a partir de 1838, com um desenvolvimento, nas décadas seguintes, irregular, instável e fortemente baseado no método europeu.

• Direção de José Honório Rodrigues (1958-1964) reorganiza o Arquivo Nacional e faz a ponte para ideias e autores anglo-saxônicos.

• Anos 1970: criação da Associação dos Arquivistas Brasileiros (1971), do periódico Arquivo e Administração (1972), do congresso brasileiro de arquivologia (o primeiro ocorrido em 1972), criação os primeiros cursos em graduação em Arquivologia –Unirio (RJ) e Santa Maria (RS), ambos em 1977-, e a lei que regulamenta a profissão de arquivista em 1978.

Arquivologia no Brasil: breve histórico

• Consolidação da lei 8.159/1991: que regulamenta os organismos em arquivo no Brasil e a gestão de documentos arquivísiticos. Legislações subseqüentes entre 1994 e 2002. Consolidação do Conselho Nacional de Arquivos.

• Formação de gerações de arquivistas, ou profissionais ligados a arquivos, com mestrado e pós-graduação em diferentes áreas de pesquisa. Surgimento, a partir dos anos 1990, de periódicos diretamente relacionados a Arquivística. Aumento do número de concursos para profissionais em arquivo.

• Expansão dos congressos em Arquivologia (CNA, CBA e REPARQ). • Criação do primeiro mestrado profissional em Arquivologia e

gestão de documentos na UNIRIO (RJ) em 2011.

Arquivologia: uma ciência, diferentes origens

• Inicialmente, a Arquivologia apresentou relação direta com os conceitos de “memória e patrimônio”, sendo os arquivos, até meados do século XIX adquirindo um status de “guardião de documentos”, onde disciplinas ligadas a diplomática e direito encontrariam um local para desenvolvimento de suas teorias e práticas.

• Século XIX: adquire importância para áreas ligadas a história, sendo o documento de arquivo considerado importante “patrimônio” que permite a pesquisa científica.

• Século XX: com a gestão de documentos a Arquivologia adquire uma identidade própria, porém trocando informações e experiências com a administração e informática, e não cortando laços com a história e memória.

Arquivologia: uma ciência, diferentes origens e relações

• Após 1945: com a ascensão das novas tecnologias e do conceito informação, a Arquivologia, a partir dos anos 1980, encontra relação com a Ciência da Informação e áreas correlatas como a biblioteconomia e Museologia, tendência essa que continuaria no início do século 21. Outras disciplinas ligadas as tecnologias da informação e comunicação também encontrariam ponte com a Arquivologia em alguns momentos.

Arquivologia e seu caráter interdisciplinar:definições na área

No contexto brasileiro, desde os anos 1960, a Arquivologia, ao definir o escopo de sua atuação, indicava o caráter interdisciplinar ou da utilização de elementos de outras disciplinas em sua estrutura:

• “[Arquivologia é] uma disciplina auxiliar da administração e da história, que se refere a criação histórica, organização e função dos arquivos e seus fundamentos legais ou jurídicos” (Esposel, 1968; 1994)

• “ Disciplina cuja razão de ser situa-se no seio da gestão da informação, recurso vital das informações” (Universidade de Quebec, 1987)

• “A Arquivística é uma das disciplinas que atuam e se propõe a preservar e organizar intelectualmente a informação arquivística contida em um arquivo, a disponibilizá-la de modo rápido e seguro, e a garantir o acesso do usuário, para que efetivamente esta informação venha a gerar conhecimento.(...) Isto caracterizaria a Arquivística como uma das ciências da informação” (Brito, 2005).

Arquivologia e seu caráter interdisciplinar: polêmicas

Contudo, algumas polêmicas e debates sobre a relação da arquivologia com outros ramos de conhecimento estendem-se até hoje:

• Existem críticas sobre a Arquivologia ainda ser considerada por alguns autores como uma “ciência auxiliar” da história e administração.

• Dúvidas e má interpretações sobre o papel da arquivologia numa possível inserção em um campo relacionado a Ciência da Informação, conforme proposto por alguns autores portugueses (e.g. Armando Malheiro). A própria inclusão da Arquivologia como subalterna a CI na tabela de áreas do CNPQ possui críticas de pesquisadores brasileiros.

• Questionamentos sobre o papel dos conceitos memória, patrimônio e informação no escopo teórico da Arquivologia, por vezes sendo usadas de forma equivocada pela área, usando definições não arquivísticas para identificá-los.

• Instabilidades com profissionais ligados a história e biblioteconiomia sobre a constituição dos cursos de graduação em Arquivologia e da atuação profissional (reserva de mercado? Preferência aos arquivistas a de outros profissionais?)

Arquivologia e seu caráter interdisciplinar: questionamentos

Dúvidas, ainda não totalmente esclarecidas e discutidas (apesar de haverem publicações analisando esse aspecto) sobre se a relação da Arquivologia com outras disciplinas pode ser considerada:

• Interdisciplinar, ou identificada pela “intensidade das trocas entre especialistas e pelo grau de interação real das disciplinas, no interior de um projeto específico de pesquisa” (JAPIASSÚ,1976; PINHEIRO, 1997; SANTOS JUNIOR, 2011).

• Aplicação de teoria e práticas entre diferentes disciplinas, onde apesar de poder haver relação entre profissionais de diferentes áreas de conhecimento, não significa que exista ali uma relação interdisciplinar (SANTOS JUNIOR, 2011).

Escola de Arquivologia na UFPA• Constituído em 2012, atualmente (final de 2014)

possuindo ligação com a Faculdade de Biblioteconomia, porém em gradativo processo de “separação”, com a construção e consolidação de grade e programa próprio.

• No momento com 3 docentes, todos com graduação em Arquivologia, em atividade

• Roberto Lopes dos Santos Junior• Luiz Eduardo Ferreira da Silva • Thiago Henrique Bragato Barros

• Ementas e horários reformulados pelo atual coordenador do curso (Thiago Barros).

Escola de Arquivologia UFPA: disciplinas em Arquivologia

• Introdução a Arquivologia• Gestão de Doc. e Sistemas de Arquivos I e II• Classificação Arquivística• Avaliação de Documentos• Representação Arquivística I e II• Diplomática e Tipologia Documental• Preservação e Conservação de Documentos• Tecnologia de Reprod. e Armazenam. de Documentos• Política e Legislação Arquivística• Paleografia• Gestão de Instituições Arquivísticas• Preservação e Conservação de Documentos

Escola de Arquivologia UFPA:Matérias de outras escolas

• Formação Soc.Econ.Pol. do Brasil e da Amazônia.• Língua Estr. Instrumental Espanhol• Fundamentos Teóricos da Ciência da Informação*• Teoria Geral da Administração• Ética e Informação• Fundamentos da Filosofia e da Lógica• Planejamento de Bases de Dados• Linguagem de Indexação *• História do Brasil e Acervos Documentais• Memória, Cultura e Patrimônio• Introdução ao Dir. Const. e Administrativo

Escola de Arquivologia UFPA:Matérias de outras escolas

• Memória, Cultura e Patrimônio• Introdução ao Dir. Const. e Administrativo• Tecnologias da Informação e Comunicação• Instituições de Direito Público E Privado• Pesquisa Aplicada à Ci. da Informação *• Organização e Métodos

Arquivologia na UFPA: práticas atuais • Reformulação: professor Thiago reorganizou todas as disciplinas,

onde tanto as ementas quanto a bibliografia básica foi modificada, no sentido em que houvesse algum tipo de relação com o curso de arquivologia. No caso das disciplinas de outras escolas, as mudanças são feitas tendo a sensibilidade em não distorcer o conteúdo original oferecido em seus institutos e cursos de origem.

• Professores de outros cursos têm uma breve conversa junto a coordenação, onde é sugerido ajustes para que haja interação entre os alunos da Arquivologia com o material a ser oferecido pela disciplina.

• Discussões sobre possíveis expansões na grade de disciplinas e na inclusão de outras matérias ligadas a arquivo. Contudo, esses aspectos serão vistos e inseridos de forma gradativa, a medida em que o curso expandir ser corpo docente.

Arquivologia na UFPA: questionamentos e desafios

• Apesar das polêmicas, a Arquivologia é uma área interdisciplinar que dialoga com diferentes campos do conhecimento. Como fazer com que a Arquivologia, em sua grade, consiga estabelecer uma interrelação eficiente e proveitosa com diferentes cursos e campos do conhecimento, enriquecendo teoricamente seus alunos?

• Até que ponto deve-se pautar a relação da escola de arquivologia com os de outros cursos ? E caso outras escolas e faculdades precisarem dos serviços dos professores da escola? Como os arquivistas deverão pautar suas disciplinas e práticas?

• Expansão de docentes e disciplinas de arquivo = afastamento e diminuição do número de disciplinas e professores de outros cursos na grade da escola?

Arquivologia na UFPA: questionamentos e desafios

• A escola de arquivologia deve ter a sensibilidade de não ignorar os questionamentos referentes aos aspectos epistemológicos e profissionais que norteiam a área, ainda envoltos em certa confusão e indecisão, porém cada vez mais esclarecidos com a ascensão de um número cada vez maior de arquivistas profissionais em atividade, com mestrado e doutorado, e da consolidação de cursos em graduação em arquivos ao redor do Brasil.

• Troca de informação e práticas com outros cursos sempre serão necessários, onde deverão ser evitados atritos e trocas desiguais e instáveis de dados e experiências.

Bibliografia• BRITO, D. M de. A informação arquivística na arquivologia pós-custodial.

Arquivística.net, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p. 31-50, jan./jun. 2005.• ESPOSEL, J. P. Arquivos: uma questão de ordem. Niterói: Muiraquitã,

1994.• JAPIASSÚ, H. A Interdisciplinaridade e a patologia do saber. Rio de

Janeiro: Imago, 1976.• PINHEIRO, L.V.R. A ciência da informação entre luz e sombra: domínio

epistemológico e campo interdisciplinar. Rio de Janeiro. 278f. Tese (Doutorado em Comunicação) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1997

• SANTOS JUNIOR, R. L.. A abordagem teórica de Lena Vania Ribeiro Pinheiro sobre os conceitos inter e transdisciplinaridade. Transinformação, v. 23, p. 227-234, 2011.

• OBRIGADO PELA ATENÇÃO