a aprendizagem matemática baseada nas atividades lúdicas a partir

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FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS DE ALEGRE CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM PEDAGOGIA JANAINA GUILHERME RESENDE DE MORAES LUCIANA DE ANDRADE A APRENDIZAGEM MATEMÁTICA BASEADA NAS ATIVIDADES LÚDICAS A PARTIR DE UM ATENDIMENTO INDIVIDUALIZADO ALEGRE 2014

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FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS DE ALEGRE

CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM PEDAGOGIA

JANAINA GUILHERME RESENDE DE MORAES

LUCIANA DE ANDRADE

A APRENDIZAGEM MATEMÁTICA BASEADA NAS

ATIVIDADES LÚDICAS A PARTIR DE UM ATENDIMENTO

INDIVIDUALIZADO

ALEGRE

2014

JANAINA GUILHERME RESENDE DE MORAES

LUCIANA DE ANDRADE

A APRENDIZAGEM MATEMÁTICA BASEADA NAS

ATIVIDADES LÚDICAS A PARTIR DE UM ATENDIMENTO

INDIVIDUALIZADO

Monografia apresentada ao Colegiado do curso de Licenciatura

em Pedagogia, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de

Alegre, na área de Formação de Professores.

Orientadora: Prof.ª Esp. Simone de Melo Sessa.

ALEGRE

2014

FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS DE ALEGRE

AUTARQUIA MUNICIPAL

CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM PEDAGOGIA

JANAINA GUILHERME RESENDE DE MORAES

LUCIANA DE ANDRADE

A APRENDIZAGEM MATEMÁTICA BASEADA NAS

ATIVIDADES LÚDICAS A PARTIR DE UM ATENDIMENTO

INDIVIDUALIZADO

Monografia apresentada ao Colegiado de Pedagogia da Faculdade de Filosofia,

Ciências e Letras de Alegre – FAFIA, como requisito parcial para obtenção do grau

de Licenciatura Plena em Pedagogia.

Aprovada em___de dezembro de 2014.

COMISSÃO EXAMINADORA

_________________________________

Prof.ª (Esp.)Simone de Melo Sessa

Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Alegre.

(Orientadora)

_____________________________________________

Prof.ª Maria Alice Santos de Araújo Costa Freitas.

Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Alegre

__________________________________

Profª. Vera Lúcia de Souza Vieira

Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Alegre

Dedico esta monografia ao meu esposo Victor; aos meus

familiares e amigos; à Luciana, minha amiga e companheira

nesse projeto.

Dedico - Janaina Guilherme Resende de Moraes

Dedico este trabalho ao meu esposo e filho; aos meus

familiares e amigos; à minha amiga do projeto Janaina.

Dedico - Luciana de Andrade

AGRADECIMENTOS

Primeiramente а Deus, por ter permitido qυе tudo isso

acontecesse ао longo de nossas vidas, е não somente nestes

anos como universitárias, mas em todos os momentos. É o

maior mestre qυе alguém pode conhecer.

À professora e orientadora Simone de Melo Sessa, pela

paciência na orientação e incentivo que tornaram possível a

conclusão desta monografia.

Aos nossos professores, pela maneira com que nos

incentivaram a trilhar esse caminho repleto de novos saberes.

As nossas famílias, pelo apoio, incentivo, cooperação,

cumplicidade e amor incondicionais e por nos mostrar o valor

da justiça e igualdade em todos os momentos de nossas

vidas.

.

“Dificuldades existem, não podemos duvidar; mas as reais

podem ser resolvidas; apenas as imaginárias são

insuperáveis.”

Theodore N. Vail

RESUMO

Este trabalho teve como finalidade compor um cenáriopara identificação de uma

prática deensino de matemática de forma diferenciada a três alunos que encontram

dificuldades na aprendizagem da disciplina. Diante do que foi observado em nossos

estágios com relação ao ensino de matemática considerou-se como interessante

este tema,porvislumbrar a oportunidade de realizar um trabalho diferenciado com

alunos que apresentassem deficiência na aprendizagem de conceitos matemáticos.

Seria essenciala utilização de uma metodologia diferente da que os alunos

estivessem acostumados no cotidiano da sala de aula. A justificativa para a adoção

dessas medidas se sustenta na impossibilidade de um atendimento individualizado a

esses alunos na sala de aula Esse ensino foi feito com base em atividades lúdicas e

fora da escola. A pesquisa teve como objetivo levantar dados sobre alguns

conhecimentos não adquiridos pelos alunos pesquisados durante seus estudos

regulares na escola e fornecer a eles oportunidades de aprendizagem desses

conteúdos por meio de estratégias diferenciadas de ensino, baseadas na

ludicidade.Para embasamento teórico da pesquisa, utilizamos autores

comoAntunes,Grando, Smole e Diniz, Kishimoto, Winnicott e outros. Para que se

cumprisse o propósito, o que mais pareceu indicado foi a aprendizagem de

conceitos matemáticos por meio do lúdico, fazendo com que os alunos

selecionados, pudessem deixar de considerar a disciplina de matemática como de

difícil assimilação. Os resultados apontaram para a aquisição de aprendizagens por

parte dos alunos, de modo tímido, pela limitação imposta pelo tempo, porém foram

aprendizagens com muito significado.

Palavras-chave: Dificuldades de Aprendizagem. Educação Matemática. Lúdico.

Atendimento individualizado.

ABSTRACT

This study aimed to compose a scenario to identify a math teaching practice

differently to three students who have difficulties in learning the discipline. Based on

what was observed in our stages with respect to teaching math was considered

interesting this subject , to glimpse the opportunity for a unique work with students to

submit disabilities in learning mathematical concepts. It would be essential to use a

different methodology than the students were used in the classroom every day . The

justification for the adoption of these measures is based on the impossibility of

personalized customer service to these students in the classroom This teaching was

based on play activities and out of school. The survey aimed to collect data on some

knowledge not acquired by the students surveyed during their regular studies in

school and provide them with learning opportunities such content through

differentiated teaching strategies, based on playfulness. For theoretical basis of the

research, authors use as Antunes ,Grando , Smole and Diniz , Kishimoto , Winnicott

and others. To fulfill the purpose, what else seemed indicated was the learning of

mathematical concepts through playful, causing the selected students could fail to

consider the mathematical discipline as difficult to assimilate. The results pointed to

the acquisition of learning by students, shy way, the limitation imposed by time, but

were learning very meaningful.

Keywords:Learning Disabilities. Mathematics Education. Playful. Individualized care.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 8

1.1 O DESEJO DE ABRIR JANELAS: COMO ENCONTRÁ-LAS ................................................ 8

1.2 JANELAS ENCONTRADAS: O QUE ELAS MOSTRAM? ....................................................... 9

1.3 O QUE FAZER COM AS JANELAS AGORA ABERTAS? .................................................... 11

1.3.1 Por que a opção pelos jogos .................................................................................................. 12

2 QUEM NOS AJUDA A OLHAR POR ESSAS JANELAS:

FUNDAMENTANDO NOSSAS ESCOLHAS ............................................. 16

2.1 A OCORRÊNCIA DE PESQUISAS SOBRE A UTILIZAÇÃO DE JOGOS EM

MATEMÁTICA ..................................................................................................................................... 16

2.2 DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM ................................................................................... 18

2.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE O LÚDICO .................................................................................. 20

2.4 OS JOGOS E A APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA ......................................................... 22

3 INTERFERINDO NA PAISAGEM MOSTRADA PELAS JANELAS:

METODOLOGIA ........................................................................................... 25

4 LANÇANDO SEMENTES AO SOLO E OBSERVANDO FLORES E

FRUTOS: A ANÁLISE DOS DADOS ......................................................... 27

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................... 36

6 REFERÊNCIAS .......................................................................................... 38

7 APÊNDICE .................................................................................................. 41

8 ANEXOS ..................................................................................................... 43

8

1 INTRODUÇÃO

1.1 O DESEJO DE ABRIR JANELAS: COMO ENCONTRÁ-LAS

Antes de iniciar nosso relato, gostaríamos de situar o leitor na metáfora que

escolhemos para discorrer sobre nossa pesquisa. Trata-se da metáfora das janelas.

Por que janelas? Porque antes de ingressarmos no curso de Pedagogia, nosso

ângulo de visão era outro. Tínhamos menos idade, menos estudos de teorias

importantes no campo educacional e menos experiência com a educação em si, ou

seja, com o chão da escola. Isso tudo foi proporcionado pelo curso por meio das

aulas e do estágio supervisionado.

A partir do momento em que nos fizemos estudantes, essa visão foi se ampliando e

cada descoberta que fazíamos no campo educacional. Era como se estivéssemos

contemplando coisas novas por uma janela nova.Janela significa comunicação com

o mundo! Lugar de se ver o mundo e o que nele acontece! Por isso a metáfora das

janelas.

Eu sou Janaina Guilherme Resende de Moraes cursei o ensino fundamental e médio

em escolas municipais e estaduais no Estado do Rio de Janeiro. Vim para o Espírito

Santo trabalhar como voluntária em uma comunidade na cidade de Guaçuí onde

participei ativamente da vida de algumas crianças carentes que tinham inúmeras

dificuldades na escola e percebi que eu sabia muito pouco e precisava me capacitar

para poder ajudar aquelas crianças a completar suas tarefas, a melhorar sua

autoimagem e alcançar seus objetivos.

Motivada a ajudar crianças com dificuldades na escola, busquei oportunidade de

graduação. Prestei o vestibular para Licenciatura em Pedagogia na Faculdade de

Filosofia, Ciências e Letras de Alegre no ano de 2011. Fui aprovada, me matriculei

e me dediquei à pedagogia nos dois primeiros anos de curso, pensando em ser

pedagoga, porém nos estágios obrigatórios, ao perceber que as crianças tinham

muita dificuldade para compreender a matemática eu mudei meu foco para o

ensino das crianças dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Quanto mais as

crianças achavam difícil a matemática, mais eu buscava aprender para ajudar

9

quem não sabe. Assim, continuei meu curso, já focada na profissão de professora

e não mais de pedagoga.A dificuldade das crianças relatada acima foi que

impulsionou a realizar a presente pesquisa.

Sou Luciana de Andrade, residente em Muniz Freire onde cursei o ensino

fundamental e médio em escolas municipais e estaduais. Hoje curso a Licenciatura

em Pedagogia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Alegre, desde o ano

de 2011.

Durante todo esse tempo de estudo, por meio do meu estágio obrigatório e do

Programa Bolsa Estágio do qual faço parte, pude observar que a maioria dos

professores dos anos iniciais sente-se angustiada com o ensino de matemática

dentro de sala de aula porque esta é rotulada como uma disciplina de difícil

compreensão e entendimento.

Diante dessas observações e dentro do aprendizado que adquiri no decorrer do

curso de Pedagogia, penso que por meio da utilização de diferentes metodologias e

estratégias em sala de aula é possível potencializar o ensino e aprendizagem de

matemática de uma forma mais interessante e satisfatória.

De forma diferente da minha companheira de pesquisa, eu observei a dificuldade

dos professores, enquanto ela foi tocada pelas dificuldades dos alunos. A partir da

minha observação, interessei-me pela pesquisa pela oportunidade de me colocar no

lugar de uma professora, ensinando conteúdos matemáticos para alunos com déficit

de aprendizagem.

1.2 JANELAS ENCONTRADAS: O QUE ELAS MOSTRAM?

Diante do exposto no item anterior, surge em nós o desejo de realizar a presente

pesquisa colocando em prática o que foi observado em nossos estágios, com

relação ao ensino de matemática. Surgiu então a ideia de realizar um trabalho

diferenciado com alunos que apresentassem deficiência na aprendizagem de

conceitos matemáticos e que este trabalho fosse baseado em uma metodologia

10

diferente daquela que os alunos já vivenciavam em suas salas de aula na

educação formal.

Pensamos inicialmente em um trabalho com jogos que envolvessem conceitos

matemáticos observação, análise, e outras.

Foram encontradas barreiras para o início de nossa pesquisa. Uma delas foi

encontrar alunos para o desenvolvimento do trabalho e o outro foi o espaço físico.

Assim, precisávamos resolver: com quem desenvolver nossa pesquisa e onde

realizá-la?

Pensamos em buscar os alunos no Lar Espírito-santense da Criança – LESC1.

Fomos orientadas a procurar a Secretaria Municipal de Ação Social e Direitos

Humanos do município de Alegre. Assim fizemos e nos colocamos à disposição

como voluntárias para oferecer atendimento individualizado aos alunos que

precisassem.

Não houve interesse na efetivação do trabalho. Procuramos várias vezes a citada

secretaria e não conseguimos formalizar nossa proposta. Nessa ocasião, a

coordenação da entidade estava sendo trocada e este fato pode ter sido um

elemento dificultador do processo.

Em vista de tais obstáculos, foi necessária nova estratégia na busca pelos alunos e

decidimos nos candidatar como voluntárias na igreja evangélica Ágape,

conseguindo três alunos que seriam os primeiros a desfrutar do atendimento

individualizado e, com isso, terem oportunidade de ver supridas suas deficiências

na aprendizagem da matemática.

Com relação ao espaço físico, foi disponibilizado um espaço pela Igreja Evangélica

Ágape, localizada à rua 13 de maio, mas os alunos que fazem parte da pesquisa se

recusaram a fazer uso desse espaço, por se tratar de uma igreja, não apropriada

para estudar Então houve concordância entre nós e os alunos de que o espaço

1 O Lar Espírito-santense é uma espécie de orfanato da cidade de Alegre, mantido pela Prefeitura Municipal e por doações.

11

físico, seria na residência da pesquisadora Janaina, localizada à rua Jose Xavier de

Mendonça, n° 102 Loteamento Bilau – Alegre.

1.3 O QUE FAZER COM AS JANELAS AGORA ABERTAS?

Estava definido então quem seriam os alunos com os quais iríamos desenvolver a

pesquisa e o local onde aconteceriam nossos encontros.

A pergunta diretriz dessa pesquisa foi: que aprendizagem, no âmbito da

matemática, é evidenciada a partir de um atendimento baseado em atividades

lúdicas, de forma individualizada, a alunos com déficit de aprendizagem?

Em busca de respostas a essa pergunta diretriz, temos como objetivo geral desse

estudo, levantar dados sobre alguns conhecimentos não adquiridos pelos alunos

pesquisados durante seus estudos regulares na escola e fornecer a eles

oportunidades de aprendizagem desses conteúdos por meio de estratégias

diferenciadas de ensino, baseadas na ludicidade.

Na busca do alcance desse objetivo geral, traçamos como objetivos específicos de

nossa pesquisa:

• Identificar as mais efetivas dificuldades dos alunos participantes da pesquisa

com relação ao conhecimento matemático;

• planejar reuniões semanais com os alunos para o desenvolvimento das

atividades lúdicas que envolvam conceitos matemáticos;

• analisar as aprendizagens desenvolvidas por eles a partir das atividades

realizadas.

A justificativa para a adoção dessas medidas se sustenta na impossibilidade de um

atendimento individualizado na sala de aula. Esse tipo de atendimento, apesar de

necessário, torna-se inviável pela atenção que deve ser dispensada aos demais

alunos. Além disso, é preciso sempre imaginar que existe algo novo e positivo em

matéria de reformulação dos processos clássicos de ensinar Matemática.

12

A pesquisa é um estudo de caso e para o trabalho foi adotada a metodologia de

ensino baseada em jogos.

De acordo com Antunes (2004), a percepção da utilidade dos jogos aplicados à

educação foi se desenvolvendo pouco a pouco e chegou à escola, com atraso, mas

de qualquer forma, trazendo modificações positivas alterando o sistema de

aprendizagem e tornando-a aceitável por parte dos alunos. A eficácia dos jogos no

ensino da Matemática há décadas vem sendo discutida, sendo constantes os

questionamentos sobre o fato de os alunos que apresentam dificuldades, de

maneira lúdica, podem aprender mais efetivamente os conceitos matemáticos.

Para Macedo (2008) Noque se refere aos aspectos psicológicos, o jogo é essencial

para que se processe um bom relacionamento entre o educador e o aluno,

alicerçado no respeito, na admiração, que também são importantes na

aprendizagem. Isso possibilita um aprendizado onde mutuamente os dois

aprendem e dessa forma o aluno passa a ter consciência de que ganhar, ou perder

são fatores que fazem parte do jogo

1.3.1 Por que a opção pelos jogos

Kishimoto (2009) ajuda a olhar em direção à opção pelos jogos quando apresenta

algumas características da criança relacionadas a essa prática.

A discussão sobre a opção pelos jogos no ensino da matemática vem

tomando rumos favoráveis à prática pedagógica, tendo em vista que as

crianças apresentam uma considerável capacidade de raciocinar e praticar

tais capacidades na resolução de problemas que se apresentam, antevendo

perspectivas de resolução, tendo por base suas próprias explicações

(KISHIMOTO, 2009).

Além desses fatores, pode-se considerar a proposta de jogos em sala de aula como

relevante para que o aluno se desenvolva socialmente, uma vez que alguns se

sentem constrangidos em expor suas dúvidas a respeito de determinados

13

conteúdos, em especial na disciplina de matemática considerada por eles como de

difícil assimilação.

Considera-se importante assinalar que no momento em que se propõem aos alunos,

atividades com jogos, esses reagem de uma forma que leva o professor a sentir na

maioria, a euforia gerada pela atividade proposta. O interesse pelo jogo, o

conhecimento das regras, ou ainda as possibilidades de viver um novo desafio criam

um envolvimento entre os alunos, elaborando estímulo em cada um. Alguns

professores asseguram que o simples fato de o aluno demonstrar interesse pelos

jogos no ensino, seu envolvimento na ação de jogar, é uma garantia de

aprendizagem.

Segundo Grando(acesso em 02 nov.2014, p.17),

As posturas e estados emocionais demonstrados pelos alunos, no

momento em que eles jogam, não são diferentes dos que buscam para

adquirir conhecimento escolar. O que se deseja é um aluno de alto grau

de participação e envolvimento na atividade da escola, concentrado,

capaz de interagir buscando soluções alternativas. Um aluno com

capacidade de seguir normas e regras e capaz de manter uma

comunicação eficaz sobre seus pensamentos e circunstâncias para a

solução de questões.

Para Kishimoto (2009), nos jogos, as crianças apresentam uma motivação especial

quando se sentem estimuladas a utilizar o raciocínio, pois são incitadas a jogar bem

e dessa forma, se esmeram na superação dos obstáculos cognitivos e emocionais.

A partir da motivação para os jogos as crianças se tornam mentalmente mais ativas.

Porém, é necessário também um preparo do professor para o uso de jogos.

Sobre isso, destacam Smole e Diniz (2007) a importância que tem o conhecimento

do professor sobre as várias possibilidades em sua função pedagógica para motivar

os alunos e construir sua parcela no ensino. O jogo mediado pelo educador propicia

aos alunos, uma motivação a mais lhes dando a oportunidade de conhecer seus

limites e as possibilidades de encontrar o êxito. Embora o efeito lúdico dos jogos

14

leve à agitação na sala de aula, tal efeito é compensado pela interação e

participação.

A intervenção do professor é fundamental, uma vez que sendo conhecedor do jogo,

passa a ser o intermediário entre os que jogam, fazendo que com sua função, se

desenvolva um trabalho de equipe, levantando questões que levam os alunos a

averiguar as jogadas tirando delas as conclusões que serão relevantes para sua

aprendizagem. Neste caso, afirma Borin (2004), que o professor pode proceder a

uma análise dos procedimentos elaborados pelos alunos para resolver os

problemas, criando uma relação com os conceitos matemáticos e fazer a verificação

do seu raciocínio.

Ressaltam Smole e Diniz (2007) que “o jogo conduz o aluno ao desenvolvimento de

circunstâncias que levam à resolução de problemas, ao mesmo tempo em que

possibilita a exploração do conceito através da estrutura matemática subjacente ao

jogo” (SMOLE E DINIZ, 2009, p. 78). E completam as autoras:

Em se tratando de aulas de matemática, o uso de jogos implica uma

mudança significativa nos processos de ensino e aprendizagem, que

permite alterar o modelo tradicional de ensino, o qual muitas vezes tem no

livro e em exercícios padronizados seu principal recurso didático. O trabalho

com jogos nas aulas de matemática, quando bem planejado e orientado,

auxilia o desenvolvimento de habilidades como observação, análise,

levantamento de hipóteses, busca de suposições, reflexão, tomada de

decisão, argumentação e organização, que estão estreitamente

relacionadas ao chamado raciocínio lógicas.

Segundo Huizinga (2004) as habilidades dos alunos têm seu desenvolvimento

assegurado no momento em que pratica os jogos, pois assim os alunos praticam o

caminho da solução de problemas, escolhem a melhor jogada, analisam as regras

pertinentes, estabelecem relações entre característica do jogo e os conceitos

matemáticos. Dessa forma, o jogo favorece uma situação de contentamento e

aprendizagem nas aulas de matemática. É inegável que a metodologia do uso de

jogos favoreça a aprendizagem de matemática, pois brincando e sendo desafiado o

15

aluno vai se esforçar para realizar as tarefas propostas, vai jogar para ganhar. Isso é

um componente estimulante para a criança.

No caso dessa pesquisa, os jogos e atividades lúdicas foram realizados com três

alunos, por duas professoras pesquisadoras: (Janaína e Luciana), então, a

oportunidade de atendimento individualizado é potencializada e favorecedora das

aprendizagens.

16

2 QUEM NOS AJUDA A OLHAR POR ESSAS JANELAS:

FUNDAMENTANDO NOSSAS ESCOLHAS

Iniciamos nossa fundamentação teórica mostrando que a utilização de jogos no

ensino de matemática é objeto de outras pesquisas, para isso faremos um breve

levantamento dessas pesquisas como forma de demonstrar a relevância do tema.

2.1 A OCORRÊNCIA DE PESQUISAS SOBRE A UTILIZAÇÃO DE

JOGOS EM MATEMÁTICA

A pesquisadora Regina Célia Grando (2000) teve como objetivo investigar os

processos que desencadeiam o resgate de conceitos e habilidades matemáticas

quando se intervém com os jogos de regras, dando-lhes o aspecto pedagógico.

Destaca a expressão cognitiva presente nos jogos com relação à aprendizagem

matemática, além das situações analisadas durante a intervenção.

Observa que os jogos são parte de um contexto comum à cultura. Sua pesquisa

aborda o interesse pelo jogo pedagógico, direcionado ao ensino da matemática.

Usando a sala de aula como ambientação e o jogo como ferramenta, investiga as

condições que podem surgir, no âmbito cognitivo, para o aprendizado da

matemática. O destaque fica por conta dos processos que são desencadeados

quando se constroem os conceitos matemáticos a partir da ação pedagógica com os

jogos.

A pesquisadora, em todo seu estudo, considera a sala de aula como um local de

investigação e com a finalidade de contribuir para uma reflexão sobre a prática

pedagógica e a didática da matemática, com o intuito de melhorar o ensino da

disciplina, aproximando sempre o aluno do conhecimento. A pesquisa procurou

evidenciar os processos que levam à utilização de jogos no ensino da matemática e

ao considerar o momento de jogar como um espaço para a aprendizagem, Grando

(2000) colaborou com a nossa pesquisa que é a operacionalização da teoria das

atividades lúdicas.

17

Por sua vez, a pesquisadora Anelise Diehl Fabrício (2006), baseia sua pesquisa nas

situações que surgem no ensino e aprendizagem de matemática nos Anos Iniciais

do Ensino Fundamental, e busca analisar a percepção dos indivíduos envoltos na

prática educativa. Seu estudo tem por base três categorias convertidas em dois

eixos essenciais: a aprendizagem baseada no lúdico e a relevância dos jogos na

aprendizagem da matemática. Destaca ainda o professor como objeto de conciliação

tendo a função de organizar situações no processo de aprendizagem dos alunos.

Resulta dessa prática, a motivação do aluno em aprender no momento em que as

aulas dão espaço ao lúdico, difundido nos jogos, fundamentais para a

aprendizagem.

O principal objetivo da pesquisadora foi investigar as concepções crenças sobre a

educação matemática, identificando eixos norteadores de suas ações, na pesquisa

realizada em 2006, numa escola privada de ensino em Porto Alegre – RS.

Participaram da pesquisa a professora da turma de 1ª série da escola, cinco alunos

da 1ª série, cinco pais de alunos da turma, a diretora da escola e a supervisora

escolar.

Concluiu a pesquisadora que as atividades lúdicas na escola são indispensáveis

para a aprendizagem significativa, não mecanizada, onde vai existir uma situação

prazerosa direcionada ao conhecimento. Os alunos percebem o desafio e se

colocam como aprendizes, novos pesquisadores. Sem dúvida, a pesquisa destaca

os benefícios dos materiais concretos e dos jogos na educação matemática dos

anos iniciais do Ensino Fundamental e isso reforça em nós o desejo de pesquisar

nessa direção: uso de jogos.

As pesquisadoras Paula Cristina Moura e Ana Júlia Viamontetiveram como principal

objetivo apresentar os jogos matemáticos como um recurso didático adicional, dos

quais os professores podem se utilizar nas aulas de matemática ou nas aulas de

apoio. Abordam ainda a relação entre o jogo e a matemática, assim como a

relevância do jogo no ensino da matemática.

Acreditam ser preciso desenvolver o raciocínio lógico e incitar o pensamento, assim

como a criatividade e a aptidão de resolver as questões relativas a ampliação da a

motivação para a aprendizagem. Assim, os professores de matemática devem

convergir seus esforços no sentido de ampliar a motivação dos aprendizes, fazendo

com que sejam amparados pela autoconfiança, concentração, raciocínio lógico-

18

dedutivo e senso de cooperação, acrescidos da socialização e inter-relacionamento.

Considerando esses aspectos e que grande parte dos alunos possui aversão ao

estudo da matemática, torna-se relevante a adoção de jogos para facilitar o estudo

da disciplina e o acesso aos seus conteúdos. Por meio dos jogos, se consegue

adquirir experiências, aceitar conduta, alavancar o trabalho em equipe e o respeito

aos demais.

A pesquisa enfatizou que já é consenso entre professores de matemática, que um

dos fatores mais marcantes na obtenção dos resultados mais efetivos na

aprendizagem da disciplina é a pouca motivação dos alunos. Diante disso, concluiu

que a utilização de jogos cria condições que possibilitam maior disposição para a

aprendizagem.

Após a leitura dessa pesquisa, nos convencemos ainda mais que a opção pelos

jogos seria adequada no sentido de despertar os alunos participantes dessa

pesquisa para o aprendizado de conceitos matemáticos.

2.2 DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

Com base em estudos realizados sobre o tema dificuldades de aprendizagem,

Antunes (2004) afirma que a história da educação e o desenvolvimento dos alunos,

até meados do século XX apontam que as dificuldades de aprendizagem eram

consideradas como fato anormal. Nos anos 30, essas dificuldades na infância

foram atribuídas aos obstáculos emocionais e a criança que apresentava

dificuldade para ser alfabetizada era considerada como criança-problema.

De acordo com Fernandez (2010), na década de 60, a falta de sucesso na escola foi

considerada oriunda de fatores orgânicos e psicológicos. Diante disso, a criança

deveria ser encaminhada à escola por profissionais qualificados. A partir de 1970,

estudiosos afirmavam que as dificuldades de aprendizagem eram provenientes das

más condições de vida da criança imputando a maior carga de responsabilidade da

educação à escola.

19

Segundo Coelho (2007), os transtornos de aprendizagem são a falta de habilidade

específica como leitura, escrita e demais disciplinas em crianças que apresentam

resultados abaixo do que se espera para o seu nível de desenvolvimento. Os

transtornos de aprendizagem podem se originar em distúrbios na interligação de

informações em regiões do cérebro, problemas esses que podem ter surgido

durante a gestação.

Guerra (2008) assegura que juntamente ao um mínimo grupo de crianças portadoras

de dificuldades de aprendizagem em decorrência de falta de maturidade no

desenvolvimento, há um grupo muito maior de crianças que possui um sofrível

rendimento na escola por circunstâncias próprias ou de interação entre alunos e

educadores. As situações alteradas na vida desses alunos em quantidade superior

podem ser consideradas como dificuldades de aprendizagem. Esse conceito

engloba o mau desempenho escolar motivado pelo desinteresse, questões

emocionais, ausência de adequação aos métodos pedagógicos ou até mesmo

modificações no padrão de funcionamento da escola.

Afirma Silva (2006) que “existem fatores sociais que também são determinantes na

manutenção dos problemas de aprendizagem, e, entre eles, o ambiente escolar e

contexto familiar são os principais componentes desses fatores” Constata-se que

realmente, com relação ao ambiente escolar, é preciso que sejam verificadas a

motivação e a capacitação dos educadores, a qualidade do relacionamento entre

professor, aluno e família, assim como a proposta pedagógica. Segundo Moriz

(2005, p.90):

(...) Os problemas de aprendizagem não se encontram restritos, nem a causas

físicas ou psicológicas, nem a análises das conjunturas sociais. É preciso

compreendê-los a partir de um enfoque multidimensional, que amalgame fatores

orgânicos, cognitivos, afetivos, sociais e pedagógicos, percebidos dentro das

articulações.

Para Antunes (2004), o importante é que se proceda ao estabelecimento de uma

diferenciação entre o que é dificuldade de aprendizagem e é transtorno de

aprendizagem. Algumas crianças em fase escolar possuem alguns obstáculos em

realizar uma tarefa e esses podem surgir por vários motivos, como questões

pedagógicas, capacitação do professor e problemas familiares.

20

Segundo Mazzota (2006), uma demonstração de dificuldade de aprendizagem não

quer dizer necessariamente que a criança possui um transtorno. Este só será efetivo

no caso de o portador apresentar perturbações no seu processo de aprendizagem,

interferindo na assimilação das informações. De qualquer forma, tanto a dificuldade

como o transtorno, possuem condições de serem suplantadas diante do interesse da

equipe pedagógica e da família.

Ainda segundo o autor acima, o aprendizado da matemática também se enquadra

dentro desse processo complexo e as dificuldades podem ocorrer de diversos

modos, devendo por isso serem analisadas sob o dito enfoque multidimensional. A

deficiência na aprendizagem matemática dificulta a aquisição de conceitos que são

alicerce para aquisição de novos conhecimentos, novos conceitos e novos

aprendizados. O estudante fica prejudicado, pois a matemática oferece ferramentas

para a compreensão do mundo.

2.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE O LÚDICO

Segundo Piaget (1975) os jogos e as brincadeiras fazem com que se torne mais

acessível o conhecimento, tornando-se objeto de prazer. Dessa forma, a criança

demonstra segurança no que diz respeito à interação com as demais crianças,

assim como com relação a sim própria, sendo capaz de capaz de promover

hipóteses e curiosidades sobre o meio.

Brincar é a maneira que os seres humanos e animais encontram para, com suas

experiências, criar atividades que lhe possam transmitir prazer em diferentes

situações. “O brincar é uma atividade humana na qual as crianças são introduzidas

constituindo-se em um modo de assimilar e recriar a experiência sociocultural dos

adultos” (WAJSKOP,2001, p. 25).

Para Smith (2001), a criança sempre objetiva o próprio ato de brincar, embora não

tenha como preocupação o resultado que isso lhe proporciona. O brincar é livre e,

por isso, não existe, para ela, uma programação como se opera e sobre o que

ocasionará a brincadeira. Winnicott (2005) assegura que a brincadeira faz parte do

21

universo da criança e lhe proporciona a facilitação do crescimento e, com isso,

promove a saúde. O brincar leva aos relacionamentos que envolvem os grupos,

podendo ser uma forma de comunicação onde a oportunidade para o exercício da

simbolização e é também uma característica humana.

Vygotsky (1998) afirma que o brincar é um espaço de aprendizagem onde a criança

pratica suas ações além do seu comportamento individual. No brincar, suas ações

se situam acima da sua realidade, elaborando simbolicamente, o que,

posteriormente, vai realizar. Embora, se manifeste de muitas formas diante de uma

brincadeira, a criança se interesse mais pelo que mais aprecia, quando brinca,

aprende a aceitar as regras das situações que reconstrói. Essa condição de se

sujeitar as normas, que a situação imaginada lhe impõe, é uma das fontes de prazer

no brincar.

Brincar é envolvente, interessante e informativo. Envolvente porque coloca a

criança em um contexto de interação em que as atividades físicas e fantasiosas,

bem como os objetos que servem de projeção ou suporte delas, fazem parte de

um mesmo contínuo topológico. Interessante porque canaliza, orienta, organiza

as energias da criança dando-lhes forma de atividade ou ocupação. Informativo

porque, neste contexto, ela pode aprender sobre características dos objetos, os

conteúdos pensados ou imaginados (MACEDO, 2005, p. 13).

Segundo Macedo (2008)o ato de brincar, para a criança, é um processo relevante na

edificação de conhecimentos e na sua formação mental, podendo ser inclusive

desconsiderado seu grupo e cultura, podendo ser o lúdico, a mediação entre a

realidade e tudo que a criança imagina, com sua criatividade. Proporciona a

concentração e a atenção, mesmo que haja estímulo ao raciocínio, uma vez que a

criança libera o que existe em matéria de imaginação.

Macedo (2005), afirma ainda que o brincar é agradável por si próprio, na perspectiva

da criança, brinca-se pelo prazer proporcionado pela brincadeira e não pelo fato de

suas consequências serem eventualmente positivas ou iniciadoras de algum outro

fato. Brincando, a criança desenvolve significativa interação lúdica que leva ao

amadurecimento, construindo seu universo social.

De acordo com Moura (2006) embora a forma de brincar não obedeça a regras

padronizadas, é interessante que surja sempre de forma organizada, na qual a

22

obedeça a um número de regras e decisões, mesmo que sejam indeterminadas,

comum nas brincadeiras das crianças pequenas. É destacada sua importância no

desenvolvimento da mente da criança, pelo fato da facilidade com que determina

seu autocontrole.

É por meio do lúdico que a criança desenvolve e elabora estruturas mentais para

utilizar na formação da personalidade. De acordo com Winnicott (2005), quando se

brinca, organiza-se o mundo interior e se abre espaço para a aprendizagem.

Se os brinquedos são sempre suportes de brincadeiras, sua utilização deveria

criar momentos lúdicos de livre exploração, nos quais prevalecem as incertezas

do ato e não se buscam resultados. Porém, se os mesmos objetos servem como

auxiliar da ação docente buscam-se resultados em relação à aprendizagem de

conceitos e noções ou, mesmo, ao desenvolvimento de algumas habilidades.

Nesse caso, o objeto conhecido como brinquedo não realiza sua função lúdica,

deixa de ser brinquedo para tornar-se material pedagógico. (KISHIMOTO, 2009,

p.14)

Afirma Vasconcelos (2003) que a criança brinca por ser isso algo normal na

infância. Na brincadeira ela extravasa suas ansiedades, esquece as questões

familiares, além de ser a melhor ferramenta para satisfazer suas necessidades de

afeto e interação. Revela-se ainda indispensável para suprimir as necessidades

que surgem no cotidiano infantil. Ela não tem noção do “pedagógico” inserido no

jogo, no lúdico, mas por meio das interações e das oportunidades de reflexão que o

jogo propicia, satisfaz uma necessidade da infância, aprendendo durante as

brincadeiras.

2.4 OS JOGOS E A APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA

A eficácia dos jogos no ensino da matemática, há décadas vem sendo discutida,

sendo constantes os questionamentos sobre o fato de o aluno, de maneira lúdica,

desvendar os conceitos da matemática.

Quando se trabalha a matemática através dos jogos: “o professor deve levar em

conta a importância dos conteúdos e das habilidades presentes nas brincadeiras e o

23

planejamento de sua ação com o objetivo de o jogo não ser mero lazer” (BORIN,

2004, p.98).

Ainda segundo o mesmo autor, a matemática sempre esteve presente em diversas

atividades e se destacou ao oferecer ao ser humano situações que possibilitem o

desenvolvimento do raciocínio lógico, das ações criativas e da capacidade de

solucionar questões. Seu ensino apresenta condições de desenvolver as

capacidades, onde os alunos podem ver ampliadas suas condições de compreender

e transformar a realidade em que vivem.

Entre os vários objetivos do ensino de matemática, um é especial; o de ensinar a

resolver problemas. Guzman (2004) nos afirma que as situações que fazem parte

de jogos constituem uma boa situação-problema, a partir do momento em que o

professor demonstra capacidade em propor boas questões aos alunos,

intensificando suas capacidades para aprender e explicar os fatos e conceitos da

matemática.

Guzman (2004) alerta ainda para o fato de que a utilização dos jogos para o ensino

de matemática, não tem finalidade apenas de diversão, mas também deles a

extração de atividades capazes de promover conhecimento, interesse e proporcionar

aos alunos uma condição motivadora e eficaz onde as brincadeiras são uma

maneira de aprender sem que a aula se torne cansativa e monótona.

É importante que o ensino da matemática priorize o avanço do conhecimento

perante situações de aprendizagem de valor significativo, sendo que o ensino por

meio dos jogos deve acontecer de forma a auxiliar no ensino do conteúdo,

propiciando a aquisição de diversas habilidades. Os jogos matemáticos dão ao aluno

condições de avaliar aspectos tais como

Compreensão: facilidade para entender o processo do jogo assim como o

autocontrole e o respeito a si próprios; facilidade: possibilidade de construir uma

estratégia vencedora; possibilidade de descrição: capacidade de comunicar o

procedimento seguido e da maneira de atuar; estratégia utilizada: capacidade de

comparar com as previsões ou hipóteses (BRASIL, 1998, p. 46).

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de matemática consideram que os

jogos são uma maneira interessante na proposição da resolução de problemas, uma

24

vez que proporcionam sua apresentação com características atrativas favorecendo a

criatividade na busca por soluções (BRASIL, 1998, p.46).

De acordo com Lorenzato (2006) pode ser observado em algumas escolas de

Ensino Fundamental, que ao surgirem dúvidas nos alunos, a preocupação dos

professores de matemática normalmente é apenas encontrar números, ou seja,

buscar a resposta sem se preocupar em analisar junto com os alunos, as situações

e as condições que envolviam os respectivos problemas e ou conteúdo em questão.

Para Antunes (2004), assim que o professor dá liberdade ao aluno, cria um

intercâmbio entre a exploração e a busca por suas respostas, despertando no aluno

o interesse por seus ensinamentos. Pode ser o momento de reflexão e de valorizar o

jogo como espaço. Dentro dele os alunos podem mais que jogar, podem criar o seu

jogo individual, vinculando-o ao conteúdo. As aulas de matemática, desde que bem

ministradas com conteúdo diversificados e interessantes, podem gerar satisfação e

descobertas.

Costa (2006) destaca a importância de se vivenciar prematuramente a matemática

com o emprego de jogos e brincadeiras em sala de aula. Afirma ainda que a leitura

de autores que pesquisam jogos pedagógicos com o objetivo de buscar outras

formas para ensinar matemática faz com que os alunos, que já não acreditam na

sua capacidade de aprender os conteúdos de matemática comecem a perceber de

forma mais efetiva, os benefícios dos jogos.

A leitura dos autores citados deu a percepção de que diante de um quadro de

dificuldades com a aprendizagem de matemática e diante dos apontamentos sobre a

ludicidade e os jogos como forma de aproximar os alunos da aprendizagem da

disciplina fez com que houvesse uma maior decisão em busca da estratégia que

pensada para proceder à pesquisa. Assim foi feito e no capítulo seguinte

descrevemos os caminhos metodológicos para a realização da mesma.

25

3 INTERFERINDO NA PAISAGEM MOSTRADA PELAS JANELAS:

METODOLOGIA

Segundo Malheiros (acesso em 02 set. 2014), a pesquisa exploratória ocorre

quando não se tem teorias nem conhecimentos já definidos para o que se quer

desvelar. Assim, essa pesquisa classifica-se como exploratória, do tipo estudo de

caso, de abordagem qualitativa.

Foi realizada em encontros com os alunos onde se desenvolviam as atividades de

ensino de matemática por meio de atividades lúdicas. Os encontros começaram a

acontecer aos sábados, no horário de 13 às 14h e 30minutos. No primeiro encontro

explicamos aos alunos qual era nosso objetivo e como seria toda a dinâmica dos

nossos encontros.

Os participantes foram três alunos: João, de 14 anos, Pedro, 13 anos e Felipe com

9 anos de idade, todos cursando o 3° ano do ensino fundamental.2

Eles estudam na Escola Municipal de Ensino Fundamental de Tempo Integral

“Luciano Alves Duarte”, no turno matutino. Quando chegam em casa, vindo da

escola, fazem suas tarefas domésticas para ajudar na higiene da casa e tem como

diversão a televisão e a música. A situação socioeconômica é precária, a mãe é

semianalfabeta, mas não deixa de estimular os filhos.

Os dois mais velhos são repetentes, demonstram inúmeras dificuldades de

socialização e aprendizagem. João já pensou em interromper seus estudos para

trabalhar, levado pela ideia de que possui muitas dificuldades para aprender. Pedro

tem uma deficiência física na mão esquerda, e isso o constrange muito e embora

os dois mais velhos estejam mais avançados nos estudos, desconhecem muitas

noções matemáticas. Felipe está em fase compatível com a de alfabetização e

conhece alguns conteúdos que já foram aplicados em sua turma, além de dominar

a leitura, o que não ocorre com os irmãos mais velhos.

O quadro abaixo nos traz um panorama geral dos encontros e das atividades

realizadas em cada um deles.

2 Os nomes dos alunos são fictícios.

26

DATA CONTEÚDO ABORDADO

CONCEITOS RECURSO

02/08/2014 Dinâmica quem sou eu. Aproximação inicial entre pesquisadores e

pesquisados.

09/08/2014 Espaço e Forma Observação e identificação das

formas geométricas.

Utilização de historias

16/08/2014 Números e Operações Identificação de

números e numerais

Caixa de contagem, fichas com algarismos e

Jogo Tira-Põe

23/08/2014

Números e Operações

Reconhecimento dos números no contexto

diário,

Reconhecimento do bairro.

30/08/2014 Espaço e Forma

Identificação e representação das

formas geométricas por meio do desenho

Conto e reconto Trabalho com o

Tangram

06/09/2014 Espaço e Forma Formas Geométricas Mosaico

13/09/2014 Números e Operações Cálculo utilizando estratégias pessoais

para somar e subtrair.

Jogo da corrida maluca

20/09/2014 Números e Operações

Medida de Tempo Contando e registrando

o tempo

Confecção de calendário, enfatizando as datas de aniversário

da família.

27/09/2014 Espaço e Forma Uso dos espaços e

formas no dia-a-dia Construção de pipas

04/10/14 Grandezas e Medidas Relações de proporcionalidade entre unidades de

comprimento, massa, capacidade.

Confecção de bolo e suco

Os dados que serão analisados no próximo capítulo do trabalho incidem sobre nove

encontros com os alunos, realizados entre 02 de agosto e 04 de outubro de 2014.

27

4 LANÇANDO SEMENTES AO SOLO E OBSERVANDO FLORES E

FRUTOS: A ANÁLISE DOS DADOS

O primeiro encontro foi realizado na casa da aluna pesquisadora Janaína.

Optamos por conhecer mais os alunos e seus conhecimentos prévios, para isso

nos baseamos em Freire (1983), e buscamos saber o que achavam da matemática

como disciplina, seus anseios e suas experiências com a escola e a com a

matemática.

De acordo Freire (1983),

“Cabe ao professor conhecer o seu aluno, as dificuldades e fatores que o

cercam, para poder dispensar sobre ele um olhar diferente, [...] que

enxergue as reais possibilidades de aprendizagem e possa adotar

metodologias também diferenciadas de ensino, oportunizando a todos

chegarem ao seu objetivo”.

Nesse encontro trabalhamos com os alunos uma dinâmica, que consiste em uma

rápida apresentação dizendo o nome, o que gosta de fazer quando está fora da

escola, o que gosta na escola e se gosta de matemática.

João, ao se apresentar afirmou gostar muito de televisão, e não sentir prazer em ir à

escola, uma vez que sente dificuldade para entender o que a professora explica.

Também relatou que preferia trabalhar para ajudar em casa e com isso, comprar

coisas novas e gostosas. Perguntado sobre se gosta de matemática disse que não,

pois considera a disciplina difícil e chata. Declarou ainda que se sente constrangido

com denominações pouco agradáveis por parte dos colegas.

Pedro, por sua vez, disse que gosta muito de cantar, desenhar e ir à escola,

embora tenha problemas com os colegas, por causa de um apelido que faz

referência a uma deficiência física na mão esquerda, sendo chamado pelos

colegas de “mãozinha”, o que lhe causa constrangimento. Perguntado se gosta de

Matemática respondeu que gostava há tempos atrás, mas agora acha a matéria

muito difícil por isso não gosta mais.

28

Felipe disse que gosta de cantar, tocar bateria e até dançar, de ir à escola, mantém

simpatia pela professora, pelos colegas principalmente pela merenda. Quanto à

matemática, embora goste, afirma não entender muito, preferindo a Língua

Portuguesa e com os livros emprestados pela professora, reúne a família para

contar histórias.

Diante desse pequeno depoimento percebe-se que os alunos com os quais se

pretende trabalhar, apresentam acima de tudo, uma grande dificuldade no

entendimento da disciplina de matemática, gerando um grande desinteresse na

escola. Diante disso, pretende-se com esse trabalho, que os alunos cheguem ao

final compreendendo a matemática de maneira diferente e sabendo fazer uso dos

conhecimentos adquiridos na sua vida escolar e no cotidiano.

O segundo encontro foi realizado no dia 09 de agosto na casa dos alunos, a pedido

da mãe para que ela pudesse verificar de perto nosso trabalho e nos conhecermos

melhor. Ao chegarmos ao bairro Loteamento Boa Fé, os alunos nos aguardavam

ansiosos, juntos ao pai e a mãe.

Houve um pouco de dificuldade para dar início ao trabalho, pois a mãe e o pai

permaneceram no mesmo ambiente fazendo com que os alunos, diante da timidez

não colaborassem com o trabalho. Assim que perceberam isso, ambos se retiraram

da sala, tornando os alunos mais atenciosos e participativos.

Trabalhamos com eles as formas geométricas, usando como recurso a História do

Quadrado de Alexandra Prasinos Bernal, sendo utilizados palitoches para

representara história. Com a história e atividades, tivemos a intenção de examinar

a possibilidade de os alunos reconhecerem as figuras planas apresentadas pela

pesquisadora (círculo, triângulo, quadrado e retângulo) e relacioná-las a outros

objetos presentes no cotidiano. Desse modo, os alunos deveriam identificá-las,

reconhecer semelhanças e diferenças entre elas.

Os alunos alcançaram os objetivos, sendo capazes de identificar as formas

geométricas em objetos no seu cotidiano.

Terceiro encontro foi realizado no dia 16/09/2014 e nesse detectou-se que dois dos

alunos tinham dificuldades com algarismos. João estava com dificuldades para

diferenciar o algarismo 1 do 3. Pedro também apresentou dificuldades com os

algarismos Felipe, ao contrário demonstrou saber identificá-los muito bem.

29

Para que os alunos reconhecessem os algarismos, foi usado o material de

matemática confeccionado no 6°período de pedagogia a caixa de contagem e o

jogo tira-põe. Para que fosse reforçado o conceito de quantidade e sua

representação por meio da escrita, utilizamos fichas com quantidades e algarismos

representados na mesma.

E o jogo Tira-Põe 3 ,adaptado pelas pesquisadoras com objetivo de reforçar o

aprendizado. Foram explicadas as regras do jogo, João e Felipe entenderam as

regras, Pedro não entendeu a princípio e questionou a maneira de dar início,

achava que tinha que ser do mais velho para o mais novo, o que o levava a ser o

segundo, porém de acordo com as regras do jogo ele foi o que tirou menor número

no dado ficando em terceiro nas jogadas.

De acordo com a ordem de jogada, Felipe foi o primeiro a jogar o dado, tirando o

algarismo 6 e a ficha Põe, colocando então 6 das suas tampinhas no centro do

jogo, assim cada um fez segundo a sua vez, porém precisou-se verificar as regras

do jogo, por questionamentos dos jogadores.

Para Muniz (2008) embora existam regras que são componentes primordiais para a

matemática, elas podem ser discutidas, e(criadas), e elaboradas da maneira que o

jogador achar mais conveniente.

Pedro deu a ideia de cada um anotar em um papel quantas tampinhas estariam

devendo para o jogo, caso não tivessem tampinhas para colocar ao retirar a

palavra Põe, todos foram de acordo e cada um pegou lápis e papel para anotar.

Percebemos que João não colocava algarismos na sua folha, e sim desenhos

similares ao número de tampinhas a qual ele devia ao jogo. Pedro percebeu que as

fichas estavam em cima da mesa e fez uso das mesmas para suas anotações, Já

Felipe não teve dificuldades. O ganhador desse jogo foi João, pois ficou com maior

número de tampinhas.

Com o término do jogo, foi proposta uma nova atividade, na qual a pesquisadora

mostra um algarismo variado de 1 a 10 e os alunos pegam palitos de picolé para

demonstrar quantidade e anotam no caderno o algarismo e nome. Na segunda

3 A explicação das regras do jogo encontra-se nos anexos.

30

atividade João fez uso das fichas com os algarismos algumas vezes, e em outras

tentou escrever sozinho os algarismos e seus nomes

Ao final desse encontro percebemos que os alunos conhecem alguns conteúdos de

matemática, mas encontram dificuldades, porém, quando estimulados com jogos e

atividades diferentes do cotidiano compreendem de forma mais efetiva e

conseguem fazer atividades com mais agilidade.

No próximo encontro os alunos foram para a casa da pesquisadora e é importante

assinalar que a cada novo encontro as crianças demonstravam ansiedade, ávidos

por novas experiências. Foi explicado que nesse encontro eles assistiriam a um

vídeo na internet, o que os deixou mais ansiosos pelo fato de não possuírem

acesso a computador em casa.

O vídeo é narrado por um menino que conta a lenda do Tangrame embora os

alunos ficassem curiosos para saber do que se tratava, Felipe queria saber a razão

do nome Tangram Achamos oportuno que vissem todo o vídeo, deixando as

explicações para depois do término do mesmo. Ao terminar a exibição deixamos

que fizessem as perguntas. A curiosidade de Felipe foi satisfeita, pois, o vídeo é

bem explicativo, revelando que o Tangram é um quebra-cabeça chinês formado por

7 peças (5 triângulos, 1 quadrado e 1 paralelogramo). Com essas peças podemos

formar várias figuras, utilizando todas elas sem sobrepô-las.

Felipe associou o trabalho com oTangram, ao mosaico ensinado por sua

professora na sala de aula, gerando curiosidade em João e Pedro, que não sabiam

o que era.

Segundo Haydn “o professor deve aproveitar a curiosidade natural do educando

para despertar seus interesses e mobilizar seus esquemas cognitivos”. (HAYDN,

2006, p. 98)

Aproveitamos os questionamentos dos alunos, nos valendo dos diferentes pontos

de vista e suas opiniões, criando um ambiente de discussão, debates e formulação

de novas definições. Usamos a internet para pesquisar sobre o assunto e alunos

foram estimulados a fazer a pesquisa.

Descobriram na pesquisa que o Mosaico é uma técnica milenar, utilizada para

decoração ou registro de fatos e lendas, de grande valor histórico. Durante a

pesquisa os alunos viram muitas imagens, dentre essas descobriram uma bandeira

31

do Brasil feita com tampinhas, levando-os a perceberem as formas geométricas na

bandeira.

Diante da descoberta, os alunos tiveram a intenção de elaborar uma bandeira,

porém como o encontro não foi programado para isso, não havia material

disponível para a confecção da bandeira em forma de mosaico, nos levando a

marcar um próximo encontro para essa finalidade. Os alunos se comprometeram a

levar as tampinhas para que o mosaico fosse elaborado em outro encontro.

Retornamos então para o trabalho com o Tangram, que consistia em trabalhar

confecção de figuras diferentes utilizando as formas geométricas. Foi sugerido que

se fizessem personagens para uma história, utilizando o Tangram.Os alunos

gostaram da ideia e resolveram fazer o reconto do vídeo. Foram observados aqui a

cooperação e a pesquisa, proporcionados pelo aspecto lúdico do trabalho e

também por ser um trabalho coletivo.

Assim, nossas avaliações dos resultados obtidos pelos alunos durante o trabalho

foram consideradas do ponto de vista qualitativo, pois eles não foram submetidos a

avaliações escritas ou orais. A cada encontro, os alunos se dedicam mais ao

aprendizado, associam o que está sendo trabalhado com os conteúdos da escola e

se mostram cada vez mais motivados a aprender.

No encontro posterior houve um destaque para o mosaico e como combinado, os

próprios alunos levaram as tampinhas, para a elaboração da bandeira. O primeiro

momento foi de uma apresentação mais ampla do que era o mosaico; como era

feito, tipos de materiais, diferentes técnicas que podiam ser utilizadas para fazê-lo.

Os alunos demonstraram muito interesse.

Para enriquecer a aula, utilizamos como recursos, alguns slides, contendo fotos da

casa de um artista baiano chamado Estevão Silva da Conceição, jardineiro de

profissão que para proteger uma rosa em sua casa, construiu uma estrutura de

ferro. A rosa morreu, mas Estevão gostou tanto da estrutura que decidiu continuá-

la. Desde então a estrutura acabou se tornando a sua própria casa. Juntando

pedras, azulejos, tampinhas e os mais diversos cacarecos, Estevão molda esses

materiais juntamente com cimento dando a forma que bem entende.

Enquanto os alunos observavam os slides, perceberam que os mosaicos podem

ser feitos de inúmeros materiais, formas e tamanhos diferentes. Discutiram o que

32

queriam, como haviam pensado em fazer a bandeira e foi feito um esboço do um

pedaço para ver se gostavam, iniciaram a colagem. Acompanhamos a todos

durante o processo, para perceberem e aprenderem a deixar a quantidade certa de

cola para cada tampinha e também para entenderem como organizar as peças e os

espaços deixados entre elas e assim dar forma ao que haviam imaginado.

Pedro, que tem dificuldades com movimentos no membro superior direito, em

alguns momentos necessitava de auxílio para colar, mas logo se adaptou a colocar

a tampinha sobre a cola com a mão esquerda. Ao ver o trabalho pronto, Felipe

ficou admirado, fato demonstrado em sua espontânea frase: “Nossa que lindo!”.

Pedro disse que se fizer o trabalho bem feito dá até para vender.

A cada encontro víamos os alunos mais dispostos e participativos, esperando

sempre algo diferente do aprendizado da escola. Nesse encontro buscamos

trabalhar números e operações, para tal usamos o Jogo Corrida maluca4de nossa

própria autoria.

Quando os alunos ouviram o nome do jogo logo se interessaram.

Fato curioso aconteceu após a explicação do jogo: os alunos perderam o interesse

por jogar, pois teriam que realizar os cálculos, João e Pedro disseram não saber.

Diante das dificuldades dos alunos, buscamos nova estratégia para desenvolver a

atividades.

Para Barbosa (2009) podem ser propostas situações tais em que a criança tenha

condição de brincar com a matemática com seriedade, valorizando as regularidades,

registrando processos e resultados e incluindo a matemática nas situações lúdicas,

de maneira que essas persistam junto à satisfação de aprender matemática.

Desse modo nos colocamos também como jogadoras para motivá-los e fazer com

que tivessem uma reação ativa, crítica e criativa.

4 As regras do jogo encontram-se nos apêndices.

33

Observamos que nas primeiras jogadas os alunos tiveram dificuldades para fazer

as operações. Pedro pediu para fazer uso da caixa de contagem5, o que levou os

outros alunos a também utilizarem.

Com a utilização da caixa de contagem os alunos ganharam mais confiança para a

realização dos cálculos.

Nas últimas jogadas Pedro, conseguia fazer alguns cálculos mentais.

Sobre o cálculo mental, Grando (2006) diz que o mesmo cálculo pode ser feito de

diferentes formas e que cada situação de cálculo mental se coloca como um

problema em aberto, que pode ser solucionada de diferentes maneiras, sendo

necessário ao sujeito recorrer a procedimentos originais, construídos por ele

mesmo, a fim de chegar ao resultado. A autora acrescenta que a satisfação do

sujeito frente a criação de suas próprias estratégias de cálculo mental favorecem o

constante exercício e a sistematização dos procedimentos de cálculo mental,

podem vir a favorecer, ao longo do tempo, como estratégias de resolução e

controle do cálculo escrito, satisfação do sujeito frente à Matemática. Joao e Felipe

continuaram a utilizar a caixa de contagem, porém faziam os cálculos mais rápidos.

Observamos que os alunos embora demonstrem dificuldades na efetuação dos

cálculos, por meio da utilização desse jogo foram estimulados abusar estratégias

para jogar e ganhar.

Ao término do encontro, Pedro nos pediu para levar o jogo para casa. Ao ser

questionado para que queria levar ele respondeu: “Se tivéssemos um desses seria

mais fácil aprender as contas”.

Percebendo a importância do jogo para o aluno, entregamos o jogo para que ele

levasse para casa e jogando aprendesse ainda mais.

No oitavo encontro trabalhamos com o calendário, e como se mede o tempo. Esse

conteúdo é muito presente na vida cotidiana e sabemos que os alunos já tinham

algum conhecimento dele, porém, pelas dificuldades apresentadas pelos alunos

com relação aos numerais utilizamos essa estratégia como forma de abordar um

conteúdo importante, relacionado a saberes anteriores dos alunos e levando em

5 A caixa de contagem é uma caixa subdividida e, em suas divisões, encontram-se materiais concretos para contagem.

34

conta instrumentos de medida de tempo comuns ao cotidiano de todos. De acordo

com os Parâmetros Curriculares,

Para que uma aprendizagem significativa possa acontecer, é necessário investir

em ações que potencializem a disponibilidade do aluno para a aprendizagem, o

que se traduz, por exemplo, no empenho em estabelecer relações entre seus

conhecimentos prévios sobre um assunto e o que está aprendendo sobre ele

(BRASIL, 1998, p. 93).

Observamos que nossos alunos não sabiam ver as horas em relógios analógicos e

não conseguiam relacionar dia e mês de seus aniversários.

Para a realização desse trabalho utilizamos como recurso um software,6 que tem por

objetivo ensinar as crianças olhar as horas em relógios com ponteiros, pois reforça a

aprendizagem dos números e desenvolve o raciocínio de cálculos relacionados à

divisão/fração.Como só tínhamos um computador à disposição, ficou combinado que

cada aluno jogaria e, casoerrasse, passaria a vez para o outro.

Deu-se início ao jogo. O aluno tinha que utilizar o mouse para colocar o horário que

o jogo pedia. Felipe foi o primeiro a utilizar o jogo, sua maior dificuldade foi com as

horas acrescidas de meia hora, ou seja, 17horas e 30 minutos.

João teve muita dificuldade, mas conseguiu acertar alguns horários.Pedro teve

dificuldades para dar início ao jogo, pois, devido a sua limitação física não conseguia

utilizar o mouse, porém fizemos alterações nas configurações, para que o mouse

fosse usado por canhotos, mesmo assim o aluno não conseguiu utilizar o mouse.

Diante das dificuldades apresentadas por Pedro, trabalhamos o mesmo jogo do

relógio, antes apresentado como software, agora impresso.

Percebemos que através da nova proposta de jogo, Pedro conseguiu realizar os

comandos de horas, demonstrando ter compreendido como verificar as horas em

relógio analógico.

6 Sequência de instruções escritas para serem interpretadas por um computador com o objetivo de executar

tarefas específicas.

35

Por meio do novo jogo, João conseguiu realizar alguns comandos, o que nos faz

perceber que ambos aprenderam a verificar as horas, porém tinham como maior

dificuldade a utilização do computador e mouse.

A cada dificuldade apresentada, nós fazíamos a intervenção no sentido de ajudá-los

e promover aprendizagem. Com esse atendimento mais individualizado, nós

conseguimos observar o progresso dos alunos com relação ao conteúdo.

No nono encontro trabalhamos a construção de pipas, sendo que relacionamos o

prazer desse tipo de brincadeira, ao aprendizado. Para esse encontro foi preparado

a confecção de pipas, instigando os alunos à compreensão das diferentes formas

encontradas no cotidiano.

No início do trabalho os alunos estranharam as formas, pois, as pipas não tinham o

formato comum das conhecidas em suas brincadeiras. Mas ao confeccioná-las,

perceberam que, embora diferentes do seu cotidiano eram interessantes e fáceis de

identificar as formas por eles conhecidas.

Com esse encontro, percebemos que os alunos sabem identificar as formas em

diferentes objetos e lugares.

No décimo encontro trabalhamos com os alunos grandezas e medidas, através

utilizando-nos de uma receita e confecção de bolo.

Para melhor compreensão dos alunos sobre o tema, buscamos estimulá-los a

produzir um bolo. Para isso apresentamos a receita do bolo de Iogurte natural

A receita do bolo encontra-se em anexo.

No princípio, os alunos apresentaram muitas dificuldades por reconhecerem as

medidas como usá-las na receita.

Trabalhamos com os alunos a receita passo a passo, explicando sobre cada

ingrediente e sua quantidade.

O bolo foi confeccionado, porém, ao fazermos questionamentos sobre a confecção

do bolo, os alunos não souberam responder.

Verificamos que mesmo em contato com os ingredientes e diante da explicação

sobre as medidas e quantidades, os alunos apresentaram deficiência com relação a

medidas.

36

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pergunta diretriz dessa pesquisa foi: que aprendizagem, no âmbito da

matemática, é evidenciada a partir de um atendimento baseado em atividades

lúdicas, de forma individualizada, a alunos com déficit de aprendizagem?

Em busca de respostas a essa pergunta o objetivo desse estudo foi levantar dados

sobre alguns conhecimentos não adquiridos pelos alunos pesquisados durante seus

estudos regulares na escola e fornecer a eles oportunidades de aprendizagem

desses conteúdos por meio de estratégias diferenciadas de ensino, baseadas na

ludicidade.

Assim, iniciamos a pesquisa conforme os relatos feitos nesse trabalho, e

conhecendo as dificuldades dos alunos, agimos, de acordo com o previsto em nossa

metodologia, no sentido de dar aos três alunos a oportunidade de apreenderem

noções de matemática.

Também, conforme havíamos planejado a partir das leituras que nos deram base

para esse trabalho, demos continuidade à pesquisa com a realização de

intervenções junto aos alunos, utilizando-nos de estratégias lúdicas para a

abordagem dos conteúdos de matemática.

As dificuldades foram identificadas conforme o desenrolar dos nossos encontros e, a

partir daí, fazíamos o planejamento dos encontros seguintes.A ideia principal foi

levar aos alunos a ideia de que matemática não é tão difícil como parece,

principalmente quando podemos nos utilizar dela na prática e em situações lúdicas.

Consideramos que o objetivo foi atingido parcialmente e podemos, então responder

à pergunta diretriz da pesquisa pontuando que as aprendizagens foram em torno

dos conteúdos: Números e Operações, Espaço e Forma e Sistema de Medidas.

Dizemos que a pesquisa atingiu seus objetivos apenas parcialmente porque não

houve tempo suficiente para realizarmos um trabalho onde se efetivassem mais

aprendizagens de matemática. Esse fato deve-se, principalmente, à falta de mais

tempo para intervenções junto aos alunos, pois a aquisição de conhecimentos

significativos e duradouros não acontece em pouco tempo. Demanda construção de

conhecimento, isso se não se consegue rapidamente, mas é uma edificação lenta.

37

Porém, podemos considerar que, ofertadas as condições lúdicas para a

aprendizagem dos conteúdos abordados, essa aconteceu, mesmo sendo em escala

menor do que gostaríamos.

Hoje podemos afirmar com certeza sobre o papel dos jogos e das estratégias

lúdicas, somadas ao atendimento individualizado: são eficazes; demandam tempo;

exige preparo do professor; exige dedicação e vontade.

Muito importante assinalar que, mesmo com todos os problemas enfrentados, houve

a participação dos alunos, houve aprendizagem e o trabalho transformou a visão

que os alunos tinham da matemática. Esse fato trouxe novo alento, tanto aos alunos

participantes quanto a nós, pesquisadoras.

As janelas foram abertas, vislumbramos a paisagem que ela mostrava e que não era

muito agradável. Ela se parecia com árvores sem frutos e sem folhas, nascentes

sem água e chão sem mato. A terra, com diferentes níveis de fertilidade, foi

remexida, foi arada. Recebeu pequenas, muito pequenas porções de água e

algumas sementes. Outras sementes por certo serão lançadas ao longo da vida

dessas crianças que continuarão a frequentar a escola e os meios

sociais.Esperamos serem essas, boas sementes.

Veremos os frutos? Talvez! Mas, como as mãos que ofertam ficam com o cheiro

daquilo que se ofertou, podemos afirmar que nós fomos as mais agraciadas com

essa semeadura. Temos em nós as mesmas sementes que tentamos plantar, só

que vistas de outro ângulo.Agora, resta-nos dar os nossos frutos.

38

6 REFERÊNCIAS

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Vozes, 2004.

BARBOSA, R. M. Conexões e educação matemática: brincadeiras, explorações e

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WINNICOTT, D. W. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1985.

41

7 APÊNDICE

APÊNDICE A – Regras do Jogo Tira-Põe

Cada jogador recebe 10 tampinhas e18 fichas que seriam embaralhadas e

colocadas no centro do jogo.

Para dar início ao jogo cada um joga o dado uma vez, a ordem de jogada será de

quem tirar o maior número.

De acordo com a ordem o jogador jogará o dado e retirará uma carta, se a palavra

retirada for Põe o jogador, coloca o número de tampinhas relativas ao número tirado

no dado, no centro da mesa. Se for a palavra TIRA, ele tirará do centro o número de

tampinhas indicado pelo dado que ele jogou.

O jogo termina quando todas as fichas acabam e o ganhador é aquele que tem o

maior número de tampinhas na mão.

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APÊNDICE B – Regras do Jogo Corrida Maluca

O jogo consiste em uma pista numérica, cinco personagens e dois dados diferentes,

um com os símbolos de subtração e Adição e outro comum com números.

Explicamos que para jogar é necessário escolher o personagem, verificar como será

a ordem de jogada dos participantes e fazer uso dos dois dados, o primeiro dado a

ser lançado é o dado que contem algarismos, em seguida o de símbolos e

novamente o de algarismos, levando o jogador a realizar o cálculo, seja de

subtração ou adição

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8 ANEXOS

ANEXO 1 – A HISTÓRIA DO QUADRADINHO

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ANEXO 2 – Receita do bolo de iogurte natural

Receita

Bolo de iogurte natural

1 copo de iogurte natural

2 copos de açúcar refinado

1 copo de óleo de girassol

4 ovos

1 colher de sal – pitada

Modo de Fazer

Bater tudono liquidificador acrescentar 1 colher de sopa de pó Royal

Untar bem a forma com margarina e salpicar açúcar misturado com canela.

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ANEXO 3 - Fotos

Foto 1. Alunos, mãe e pesquisadoras.

Foto 2. (a) Pesquisadora contando a História do Quadradinho de

Alexandra Prasinos Bernal e; (b) Reconto da história usando objetos da

própria residência dos alunos.

(a)

(b)

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Foto 3. (a) Caixa de Contagem e; (b) Jogo Tira-Põe.

Foto 4. (a) Alunos assistindo a foto do Tanfran e; (b) Alunos

construindo o Tangran.

Foto 5. (a – b) Construindo mosaicos.

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Foto 6. Jogo corrida maluca.

Foto 7. (a - b) Produção de pipas.

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Foto 8. (a - b) Confecção de bolos – trabalhando medidas.