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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO A APLICABILIDADE DA PENHORA ON-LINE COMO FORMA DE SATISFAÇÃO DO CRÉDITO NAS EXECUÇÕES POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE DÉBORA KÜHL Itajaí, outubro de 2007

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

A APLICABILIDADE DA PENHORA ON-LINE COMO FORMA DE SATISFAÇÃO DO CRÉDITO NAS EXECUÇÕES POR QUANTIA

CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE

DÉBORA KÜHL

Itajaí, outubro de 2007

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

A APLICABILIDADE DA PENHORA ON-LINE COMO FORMA DE SATISFAÇÃO DO CRÉDITO NAS EXECUÇÕES POR QUANTIA

CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE

DÉBORA KÜHL

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Professor Doutor Diego Richard Ronconi

Itajaí, outubro de 2007

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AGRADECIMENTO

Agradeço à instituição Univali – Universidade do Vale do Itajaí, em especial ao meu orientador, Professor Doutor Diego Richard Ronconi, por me honrar sua competência e atenção, aos professores que me acompanharam no decorrer desta caminhada, aos meus pais, que me proporcionaram o alcance desta conquista, bem como aos amigos da Justiça Federal de Joinville-SC, por me inspirarem na escolha do tema desta monografia, e me apoiarem, auxiliando na pesquisa.

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DEDICATÓRIA

Dedico a presente principalmente aos meus amados pais, que me possibilitaram este aprendizado, sempre orientando e torcendo pelo meu sucesso; à turma de Direito 2007-II, especialmente às minhas amigas 4x4, Gê, Ké e Suzy, pelos ótimos momentos juntas, os quais jamais serão esquecidos.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí, 16 de outubro de 2007

Débora Kühl Graduanda

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Débora Kühl, sob o título A

Aplicabilidade da Penhora On-line Como Forma de Satisfação Do Crédito Nas

Execuções Por Quantia Certa Contra Devedor Solvente, foi submetida em 12 de

novembro de 2007 à banca examinadora composta pelos seguintes professores:

Professora Fernanda Goulart, Professor Eduardo Campos e Professor Doutor

Diego Richard Ronconi, e aprovada com a nota 10 (dez).

Itajaí, 16 de outubro de 2007

Professor Doutor Diego Richard Ronconi Orientador e Presidente da Banca

Professor Mestre Antônio Augusto Lapa Coordenação da Monografia

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ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ART. Artigo

ARTS. Artigos

BACEN Banco Central

CF Constituição Federal

CPC Código de Processo Civil

ED. Edição

P. Página

REG. Regimento

REV. Revisada

V. Volume

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ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que a Autora considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

Bacen-Jud

O Bacen-Jud é um sistema de consultas on-line, que atende às solicitações do

Poder Judiciário ao Banco Central do Brasil. Esta requisição de informações é

feita em relação às contas do devedor e tem disposição legal nos artigos 655, I e

655-A, do Código de Processo Civil. O Código Tributário Nacional, em seu artigo

185-A, autoriza a penhora eletrônica através do uso deste sistema, bem como o

Provimento n.º 05/2006, da Corregedoria Geral do Tribunal de Justiça de Santa

Catarina dispõe sobre o a utilização do procedimento.

Crédito

“O crédito tem seu fundamento na fidúcia, na idéia da confiança aplicada aos

negócios; nasce da qualidade da pessoa que promete e a ele se obriga. A própria

palavra crédito, do latim creditum, que decorre da expressão credere, significa

"confiar", "ter fé". Segundo Ciccone, há maior confiança em um homem honesto

do que no rico _ se não o faz com relação ao pobre é porque este não poderia,

provavelmente, pagar seus débitos. A garantia do poder se traduz na capacidade

e na riqueza: a capacidade, como dote pessoal, assegura a boa direção do

negócio, e a riqueza, como fundo real, pode suprir a perda1”.

Devedor Solvente

“Devedor Solvente é aquele cujo patrimônio apresenta ativo maior do que o

passivo2”.

1 Inoponibilidade das exceções ao terceiro de boa-fé nos títulos cambiais . Disponível em:

<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=747&p=3>. Acesso em 14 out.2007. 2 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Processo de Exe cução

e Processo Cautelar : Humberto Theodoro Júnior , 2 v. Rio de Janeiro : Forense, 2006. p. 266.

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Execução

“É freqüente, na doutrina clássica, ouvir falar de execução como a transferência

de valor jurídico do patrimônio do réu para o do autor. Isto está correto quando se

pensa na execução que objetiva o pagamento de dinheiro ou de qualquer

prestação que envolva transferência de patrimônio, bem como a coisa imóvel ou

móvel, seja em virtude de direito real ou obrigacional. Há casos, porém, que, para

a efetivação da tutela jurisdicional do direito, não se retira qualquer patrimônio do

demandado. Assim ocorre quando se efetiva a tutela que impede a prática de ato

contrário ao direito e, especialmente, quando é efetivada a tutela que remove os

efeitos concretos derivados de ato contrário ao direito. (...).Portanto, a execução,

no Estado constitucional, não pode ser reduzida a um ato de transferência de

riquezas de um patrimônio a outro, devendo ser vista como a forma ou ato que,

praticado sob a luz da jurisdição, é imprescindível para a realização concreta da

tutela jurisdicional do direito, e assim para a própria tutela prometida pela

Constituição e pelo direito material3”.

Execução por Quantia Certa

“Consiste a execução por Quantia Certa em expropriar bens do devedor para

apurar judicialmente recursos necessários ao pagamento do credor. Seu objetivo

no texto do Código, “expropriar bens do devedor, a fim de satisfazer o direito do

credor (art. 646)4”.

Penhora

“A Penhora (...) pode ser conceituada como o ato executivo que afeta

determinado bem à Execução, permitindo sua ulterior expropriação, e torna os

atos de disposição do seu proprietário ineficazes em face do processo. (...). É ato

público e estatal, praticado pelo oficial de justiça como longa manus do juiz. Não é

ato privado do credor, ainda que se diga que a penhora é feita no seu interesse. O

credor recorre ao Estado, através da ação executiva, e este penhora o bem.

3 MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de processo civil, volume 3: execução / Luiz Guilherme

Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. p. 69-70. 4 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Processo de Exe cução

e Processo Cautelar : Humberto Theodoro Júnior , 2 v. Rio de Janeiro : Forense, 2006. p. 262.

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Também não é ato de disposição do devedor: a este apenas se dá a faculdade

limitada de indicação de bem para sofrer a constrição; não se lhe outorga, porém,

a possibilidade de não a aceitar5”.

Penhora On-line

“A penhora, on-line trata de um sistema inovador utilizado pelo Poder Judiciário, o

qual permite que os magistrados através de uma solicitação eletrônica bloqueiem

instantaneamente as contas-correntes do executado para que seja garantida a

execução, buscando dessa forma, um feito executivo mais célere6”.

Penhor

“O penhor possui natureza jurídica de direito real de garantia sobre coisa alheia.

Tem caráter acessório e, como tal, sua existência subordina-se à sorte da

obrigação principal. Assim é que, em perecendo aquela, por qualquer forma, não

subsiste o penhor. Para que haja o penhor, necessário se faz seja instituído

contratualmente. Regra geral, não basta a manifestação volitiva para que se

aperfeiçoe. Exige instrumento escrito (escritura pública ou instrumento particular)

e a entrega física da coisa, a tradição, além, é claro, da inscrição no registro

correspondente, para valer contra terceiros7”.

5 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso avançado de processo civil, v. 2: processo de execução.

8. ed. Ver., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006. p. 169. 6 PEGINI, Adriana Regina Barcellos. O Princípio da Proporcionalidade e a Penhora On-line .

Disponível em: <http://www.guiatrabalhista.com.br/tematicas/penhoraonline.htm>. Acesso em: 05 out.2007.

7 DAL COL, Helder Martinez. Penhor agrícola: a natureza jurídica dos bens empenhados e as conseqüências do desvio. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1677>. Acessado em 04.10.2007.

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SUMÁRIO

RESUMO.......................................................................................... XII

INTRODUÇÃO ................................................................................... 1

CAPÍTULO 1 ......................................... ............................................. 4

CONSIDERAÇÕES GERAIS ACERCA DO PROCESSO DE EXECUÇÃO ....................................................................................... 4 1.1 BREVE HISTÓRICO SOBRE O PROCESSO DE EXECUÇÃO ... ....................4 1.2 CONCEITO E OBJETIVOS DO PROCESSO DE EXECUÇÃO... .....................8 1.3 ESPÉCIES DE PROCESSO DE EXECUÇÃO................................................11 1.3.1 EXECUÇÃO PARA ENTREGA DE COISA CERTA ....................................................11 1.3.2 EXECUÇÃO PARA ENTREGA DE COISA INCERTA ..................................................12 1.3.3 EXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES DE FAZER E DE NÃO FAZER ..................................14 1.3.4 EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE ........................16 1.3.5 EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR INSOLVENTE ......................18 1.3.6 EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA ........................................................20 1.3.7 EXECUÇÃO DE PENSÃO ALIMENTÍCIA ...............................................................23 1.4 OS EMBARGOS DO DEVEDOR......................... ...........................................25 1.5 A SUSPENSÃO E A EXTINÇÃO DO PROCESSO DE EXECUÇÃ O.............27

CAPÍTULO 2 ......................................... ........................................... 32

BREVES NOÇÕES SOBRE O PROCESSO DE EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE.............. ........ 32 2.1 OBJETIVO DA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA ......... ..........................32 2.2 A CITAÇÃO DO DEVEDOR E A INDICAÇÃO DE BENS ..... .........................33 2.3 A PENHORA E O DEPÓSITO A PENHORA DE CRÉDITOS E OUTROS DIREITOS PATRIMONIAIS .............................. ....................................................38 2.4 A AVALIAÇÃO .................................... ...........................................................42 2.5 A ADJUDICAÇÃO, A ALIENAÇÃO POR INICIATIVA PARTI CULAR E A ALIENAÇÃO POR HASTA PÚBLICA........................ ..........................................44 2.6 O PAGAMENTO AO CREDOR .......................... ............................................48

CAPÍTULO 3 ......................................... ........................................... 52

A PENHORA ON-LINE E SUA APLICAÇÃO NO PROCESSO DE EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE ...................................................................................... 52 3.1 CONCEITOS E OBJETIVOS DA PENHORA ON-LINE .................................52 3.2 ESPÉCIES DE PENHORA ON-LINE ..............................................................56 3.2.1 PENHORA ON-LINE DE DINHEIRO (ART. 655-A E ART. 659, §6º, CPC) .................56 3.2.2 PENHORA ON-LINE DE BENS IMÓVEIS (ART. 659, § 6º, CPC) ..............................58

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3.2.3 PENHORA ON-LINE DE BENS MÓVEIS (ART. 659, § 6º, CPC) ...............................61 3.3 REGRAS DO BACEN-JUD 2.0 PARA REALIZAÇÃO DA PENHORA ON-LINE ......................................................................................................................63 3.4 AS VANTAGENS DA UTILIZAÇÃO DA PENHORA ON-LINE PELO PODER JUDICIÁRIO ......................................... ................................................................67 3.5 A JURISPRUDÊNCIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA E A PENH ORA ON-LINE ...............................................................................................................69

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................... ............................... 77

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ...................... .................... 80

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RESUMO

A presente monografia tem como objeto de estudo A

Aplicabilidade da Penhora On-line Como Forma de Satisfação do Crédito Nas

Execuções Por Quantia Certa Contra Devedor Solvente, sendo composta de três

capítulos. No primeiro, inicia-se o estudo do processo de Execução em geral,

fazendo um breve histórico, conceituando e apresentando seus objetivos,

relacionando as espécies de processo de Execução, com suas respectivas

características, abordando os embargos à Execução e como se dá a suspensão e

a extinção do processo de Execução. No segundo capítulo mostram-se os

objetivos da Execução Por Quantia Certa Contra Devedor Solvente, como ocorre

a citação do devedor e a indicação de bens à Penhora, discorrendo sobre a

Penhora e o depósito de créditos e outros direitos patrimoniais, sobre a avaliação,

a adjudicação, a alienação por iniciativa particular e por iniciativa pública, e, por

fim, a respeito do pagamento feito ao credor. No terceiro e último capítulo, trata-se

da Penhora On-line, como esta é aplicada dentro do processo de Execução Por

Quantia Certa Contra Devedor Solvente, seus conceitos e objetivos, suas

espécies, as regras do sistema Bacen-Jud, as vantagens na utilização desta

inovação e a visão da jurisprudência brasileira contemporânea acerca deste

procedimento. Observa-se a relevância do estudo deste tema, por ser atual e

possuir diversos posicionamentos a respeito de sua aplicação, sendo, por alguns,

considerado um avanço tecnológico, enquanto, para outros, uma insegurança

descabida.

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INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto o estudo da

Aplicabilidade da Penhora On-line Como Forma De Satisfação Do Crédito Nas

Execuções Por Quantia Certa Contra Devedor Solvente.

O seu objetivo, no campo institucional, é produzir monografia

para obtenção do Título de Bacharel em Direito, pela Universidade do Vale do

Itajaí – UNIVALI. Quanto aos objetivos investigatórios, na parte geral é identificar

as características da Penhora On-line no ordenamento jurídico brasileiro, e na

parte específica é verificar as características da Penhora, analisar a privacidade

on-line, verificar as vantagens deste procedimento e, por fim, analisar as críticas a

respeito do tema.

Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando do processo

de Execução em geral, fazendo um breve histórico a respeito, conceituando e

expondo seus objetivos, relacionando as diversas espécies de processo de

Execução com suas respectivas características, bem como abordando os

embargos à Execução e como se dá a suspensão e a extinção do processo de

Execução.

No Capítulo 2, tratando dos objetivos da Execução Por

Quantia Certa Contra Devedor Solvente, como ocorre a citação do devedor e a

indicação de bens à Penhora, discorrendo sobre a Penhora e o depósito de

créditos e outros direitos patrimoniais, sobre a avaliação, a adjudicação, a

alienação por iniciativa particular e por iniciativa pública, e, por fim, a respeito do

pagamento feito ao credor.

No Capítulo 3, tratando da Penhora On-line, como esta é

aplicada dentro do processo de Execução Por Quantia Certa Contra Devedor

Solvente, seus conceitos e objetivos, suas espécies, quais sejam, Penhora On-

line de dinheiro, de bens imóveis e de bens móveis, as regras do sistema Bacen-

Jud, através do qual é realizada a Penhora On-line, as vantagens na utilização

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2

desta inovação do Poder Judiciário e a visão da jurisprudência brasileira

contemporânea acerca deste procedimento.

A presente monografia foi desenvolvida tendo como base os

seguintes problemas:

Primeiro problema: O que é Penhora On-line? Qual o seu

objetivo dentro do processo de Execução?

Hipótese: Penhora On-line é uma constrição, mas com um

diferencial, que é a forma eletrônica, objetivando celeridade ao processo

executivo.

Segundo problema: Qual o procedimento para efetuar a

Penhora por meio eletrônico?

Hipótese: O procedimento adotado é realizado através do

sistema Bacen-Jud, de criação do Banco Central em convênio com o Poder

Judiciário.

Terceiro problema: Qual a vantagem trazida pela Penhora

On-line para o mundo jurídico?

Hipótese: A Penhora On-line proporcionou celeridade e

efetividade aos processos, o que permite a parte credora satisfazer seu direito de

forma mais rápida.

A área da concentração restringe-se ao “Direito Público”. A

linha de pesquisa é “Direito Civil”, “Direito Processual Civil” e “Direito Tributário”.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos

destacados, demonstrando se as hipóteses básicas da pesquisa foram ou não

confirmadas, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões

sobre a Aplicabilidade da Penhora On-line Como Forma de Satisfação do Crédito

Nas Execuções Por Quantia Certa Contra Devedor Solvente.

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3

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase

de Investigação foi utilizado o Método Indutivo, na Fase de Tratamento de Dados

o Método Indutivo, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente

Monografia é composto na base lógica Indutiva.

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as

Técnicas, do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da Pesquisa

Bibliográfica.

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CAPÍTULO 1

CONSIDERAÇÕES GERAIS ACERCA DO PROCESSO DE EXECUÇÃO

1.1 BREVE HISTÓRICO SOBRE O PROCESSO DE EXECUÇÃO

O Processo de Execução tem sua base histórica

fundamentada no direito romano. Desta forma, Moacyr Amaral Santos8 ensina:

No direito romano, à execução sempre e necessariamente devia preceder sentença condenatória do devedor. a) No período das legis actionis, decorridos trinta dias da prolação do julgado (tempus iudicati), sem que o devedor satisfizesse a condenação, podia o credor conduzir o devedor, mesmo à força, até o magistrado, que o autorizava lançar-lhe a mão (manus iniectio) e encarcerá-lo. Cabia, então, ao credor mandar apregoar o prisioneiro em três feiras, de nove em nove dias, visando a obter seu resgate, pelo pagamento do valor correspondente à condenação, e, quando a isso ninguém a dispusesse, vendê-lo fora da cidade (trans Tiberim) ou mesmo matá-lo.

Misael Montenegro Filho9 aduz que:

Historicamente falando, com os olhos voltados para a Lei das XII Tábuas, anote-se que o não-cumprimento espontâneo da obrigação conferia ao credor o direito de encarcerar o devedor pelo prazo de 60 dias, dentro do qual comparecia com o devedor por três dias ao mercado na presença do pretor, na tentativa de que alguém se apresentasse para solver a dívida, o que liberaria o devedor. Isto não ocorrendo, e com a fluência dos 60 dias, passava o credor a ser o proprietário do devedor, podendo vendê-

8 SANTOS, Moacyr Amaral, 1902-1983. Primeiras linhas de direito processual civil / Moacyr

Amaral Santos. – São Paulo: Saraiva, 2003. Vol. 3: 21. ed. atual.; v. 1:22. ed. rev. E atual.; v. 2: 20. ed. rev. / por Aricê Moacyr Amaral Santos. p. 214.

9 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil , volume 2: teoria geral dos recursos em espécie e processo de execução / Misael Montenegro Filho. – 2. ed. – São Paulo: Atlas, 2006. p. 265.

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lo ou fazê-lo escravo. Alguns autores afirmam que o credor poderia matar o devedor e retalhar o seu corpo, oferecendo a cada um dos credores pedaço correspondente à extensão da dívida não adimplida.

A pessoa do devedor continuou sendo por muito tempo a

garantia do direito do credor, mesmo na época clássica, perdurando a manus

iniectio como processo de execução, mas já então, em virtude da Lei Poetelia,

quando o devedor não fosse resgatado, era ele adjudicado ao credor para pagar-

lhe com o produto do seu trabalho10.

Ainda nesse período, no ano de 636 de Roma, substituiu-se

a prisão do devedor pela pignoris capio: todos os bens do devedor eram vendidos

em praça (bonorum venditio) e o preço obtido entregue ao credor ou repartido

entre os credores concorrentes11.

Já na época do Império, conquanto todos os bens do

devedor fossem penhorados, podiam eles, a pedido do devedor, ser vendidos

parceladamente (distractio bonorum), de modo a se não vender senão o bastante

para o pagamento da dívida12.

Sobre a sentença que condenava o devedor, Moacyr Amaral

Santos13 descreve que:

Proferida a sentença condenatória, contavam-se trinta dias (tempus iudicati), durante os quais o vencido poderia

voluntariamente satisfazer o julgado. Esgotado esse prazo, o credor devia propor a actio iudicati, pela qual pedia, com

fundamento na condenação, lhe fosse entregue a pessoa do devedor, ou o seu patrimônio. Ao pedido, que era formulado ao pretor, presentes o credor e o devedor, podiam suceder duas atitudes do devedor: a) reconhecia a validade da condenação e a falta de pagamento; ou b) contestava a

10 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p. 215. 11 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p. 215. 12 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p. 215. 13 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p. 215.

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6

ação, argüindo nulidade da sentença ou alguma exceção (pagamento, novação etc.).

Quando o devedor admitia sua dívida, era considerado

condenado e colocava-se fim ao processo da actio iudicati, ordenando-se ao

pretor que procedesse à execução através da manus iniectio ou pela pignoris

capio.

A respeito da contestação do devedor, Moacyr Amaral

Santos14 ensina que:

(...), contestada a ação, redigia-se a fórmula, que era entregue às partes (litiscontestatio), dando lugar a novo procedimento in iudicium. Entretanto, o objeto da nova ação, em tudo idêntica às demais ações do processo formulário, era o dobro da condenação anterior. Proferida nova sentença condenatória e decorrido o tempus iudicati sem

que o vendido houvesse satisfeito a condenação, cabia ao credor, novamente, promover-lhe outra actio iudicati, na qual

o devedor podia assumir as mesmas atitudes já referidas, e, assim, no caso de contestar a ação, o objeto seria o dobro

da condenação anterior. Nessa terceira sentença condenatória se fundamentaria uma terceira actio iudicati e assim sucessivamente, sempre duplicando-se o seu objeto em relação à condenação anterior. A série de actiones iudicati tinha paradeiro quando: a) o próprio devedor,

temendo a duplicação da dívida, se conformava com o julgamento, pagando ou confessando a dívida; b) o pretor, usando dos poderes discricionários de que dispunha in iure, atendendo a que a contestação era desprovida de razões e, pois, que o réu agia de má-fé, a repelia liminarmente e autorizava o credor a dar início à execução.

Quanto ao processo germano-barbárico, posteriormente à

queda de Roma, em muito se distinguia do processo romano. Ao passo que no

processo romano somente se executava o devedor quando não restassem

14 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p. 215-216.

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dúvidas a respeito de sua obrigação e ainda com base em uma sentença

condenatória, no processo germano-barbárico o descumprimento de uma

obrigação era considerado uma ofensa em relação ao credor, podendo este,

independente de qualquer autorização, procurar o devedor e penhorar seus bens,

ou, então, submetê-lo ao pagamento da obrigação.

Com o passar do tempo, limitou-se essa liberdade do credor,

que não mais podia penhorar sem autorização da autoridade competente. Ao

devedor foi concedido o direito de fazer uma oposição à Penhora, instaurando-se,

desta forma, um processo, cujo julgamento determinava a manutenção da

Penhora, ou o seu levantamento, aplicando-se ocasionalmente multas ao credor.

A partir do renascimento do direito romano, no século XI,

houve um confronto entre os dois sistemas, o romano, e o germânico, os quais

foram ajustados por juristas da Idade Média, criando-se um terceiro sistema

procedimental chamado: executio per officium iudicis. Os juristas concordaram em

a Execução preceder a condenação, conforme o direito romano, porém uma vez

proferida a sentença condenatória, entenderam dispensável a actio iudicati, de

acordo com à presteza do sistema germânico15.

Diante do veloz desenvolvimento do comércio, quando

certos créditos fossem representados por instrumentos de dívida, lavrados

perante tabelião, na ocorrência de escritura contendo o reconhecimento da dívida

por parte do devedor, este produzia os efeitos equiparados à sentença. Estes

instrumentos, uma vez considerados sentenças, permitiam ao credor proceder

com a Execução, chamada de ação executiva16.

Com exceção da actio iudicati, que no princípio do Império já

não cabia mais, os demais sistemas procedimentais perduraram no direito

brasileiro, no regime das Ordenações, do Reg. Nº 737, do ano de 1850, e dos

códigos estaduais17.

15 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p. 216-217. 16 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p. 217. 17 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p. 218.

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O Código de Processo Civil do ano de 1939 manteve

somente a execução de sentença e, inserida às ações especiais, a ação

executiva.

Atualmente, o Código de Processo Civil traz diversas

mudanças, inclusive no que tange a unificação das vias executivas, o que

significa que ação executiva e ação executória são unidas em uma ação só, a de

Execução.

1.2 CONCEITO E OBJETIVOS DO PROCESSO DE EXECUÇÃO

Para Misael Montenegro Filho18:

A execução é o instrumento processual posto à disposição do credor para exigir o adimplemento forçado da obrigação através da retirada de bens do patrimônio do devedor ou do responsável, suficientes para a plena satisfação do exeqüente, o que se operará em seu benefício e independentemente da vontade do executado – e mesmo contra a sua vontade – conforme entendimento doutrinário unânime.

Moacyr Amaral Santos19 entende que:

O processo que se instaura com a ação de execução destina-se a realizar a sansão, e, assim, a assegurar a eficácia prática do título executivo. Desenvolve-se por meio de atos consistentes em medidas coativas, por via dos quais se transforma a situação de fato existente na situação ordenada pelo título executivo. Se este ordena a entrega do imóvel, imite-se o exeqüente na sua posse; se ordena demolir uma obra, faz-se sua demolição; se ordena construir um muro, procede-se à sua construção; se ordena pagar certa quantia, apreendem-se bens do devedor para sua transformação em dinheiro e pagamento do credor etc.

A ação de Execução é qualificada como a ação judicial ou a

fase de conhecimento direcionada em face do executado, e que se concretiza

pela adoção de medidas coercitivas, que têm por finalidade o cumprimento da

18 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil. p.264. 19 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p. 221-222.

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obrigação específica ou da obrigação genérica, ainda que contra, e normalmente

contra a vontade do devedor, que se submete aos atos do processo de execução,

tendo em vista o não cumprimento da obrigação de forma voluntária.

Esta prática coercitiva é de função estatal, que vem

substituir a manifestação voluntária que se esperava do devedor. O representante

do Poder Judiciário é autorizado a tomar posturas desagradáveis, como efetuar a

Penhora de bens do devedor, por exemplo, amparado pela premissa de que o

título que dá suporte à pretensão do credor contém os requisitos de liquidez,

exigibilidade e certeza.

Para Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart20, a

Execução não pode ser simplesmente denominada como a transferência de valor

jurídico do patrimônio do réu para o do autor, muito embora seja esta a

caracterização encontrada na doutrina clássica, conforme explicam:

É freqüente, na doutrina clássica, ouvir falar de execução como a transferência de valor jurídico do patrimônio do réu para o do autor. Isto está correto quando se pensa na execução que objetiva o pagamento de dinheiro ou de qualquer prestação que envolva transferência de patrimônio, bem como a coisa imóvel ou móvel, seja em virtude de direito real ou obrigacional. Há casos, porém, que, para a efetivação da tutela jurisdicional do direito, não se retira qualquer patrimônio do demandado. Assim ocorre quando se efetiva a tutela que impede a prática de ato contrário ao direito e, especialmente, quando é efetivada a tutela que remove os efeitos concretos derivados de ato contrário ao direito.

Por conseguinte, concluem que21:

Portanto, a execução, no Estado constitucional, não pode ser reduzida a um ato de transferência de riquezas de um patrimônio a outro, devendo ser vista como a forma ou ato que, praticado sob a luz da jurisdição, é imprescindível para a realização concreta da

20 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3:

execução. p. 69. 21 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3:

execução. p. 70.

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tutela jurisdicional do direito, e assim para a própria tutela prometida pela Constituição e pelo direito material.

Quanto ao objeto da Execução, este é sempre o seu pedido,

o qual visa a concretização da disposição sentencial, ou então do que contém o

título extrajudicial.

Moacyr Amaral Santos22 define:

No pedido está o objeto de todo o processo. No processo de conhecimento, o pedido consiste numa sentença de dado conteúdo (meramente declaratória, constitutiva, condenatória), decidindo o juiz sobre a procedência ou improcedência do mesmo. No processo de execução, o pedido não visa a uma decisão sobre uma pretensão daquela natureza, mas a realização prática da sansão formulada na sentença que, por disposição de lei, se contém no título executivo extrajudicial.

Acrescenta Moacyr Amaral23 Santos:

Como o título executivo extrajudicial, por presunção que a lei lhe confere, traz em si a certeza do direito do credor, a liquidez e a exigibilidade da obrigação do devedor, e contém a sansão para o caso do inadimplemento deste, também tem a eficácia de poder exigir do órgão jurisdicional “a realização das medidas práticas e coativas necessárias à efetivação da regra sancionadora” contida no título executivo (LIEBMAN). Esse é o objeto imediato da execução.

Na hipótese de uma ação de Execução consistir em coisa

certa, esta é retirada do patrimônio do devedor para satisfazer o credor; já no

caso de a coisa ser incerta, ou se não é encontrada, retiram-se outros bens do

patrimônio do devedor, para que sejam convertidos em dinheiro e pagos ao

credor. Desta forma, o objeto mediato é caracterizado pelos bens do patrimônio

do devedor.

22 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p. 230. 23 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p. 230.

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1.3 ESPÉCIES DE PROCESSO DE EXECUÇÃO

Para Misael Montenegro Filho24:

A execução é gênero que se desdobra nas espécies de execução por quantia certa (contra devedor solvente e contra devedor insolvente), execução para entrega de coisa (certa e incerta), execução das obrigações de fazer e de não fazer. Na espécie da execução por quantia certa, temos as subespécies da execução de prestação alimentícia, da execução contra a Fazenda Pública e da execução fiscal.

O que classifica cada espécie de Execução é o seu objeto,

ou seja, o que o devedor deve cumprir, se deve pagar, entregar coisa, fazer ou

não fazer.

Quanto às subespécies, estas possuem normas

particulares, uma vez que possuem particularidades. A Execução de prestação

alimentícia possui a necessidade de ser realizada da maneira mais célere

possível e a Execução contra a Fazenda Pública torna-se específica por serem

impenhoráveis os bens da parte devedora.

Nos próximos subtítulos, observar-se-á cada espécie de

Execução, incluindo-se as subespécies: Execução contra a Fazenda Pública e a

Execução de pensão alimentícia, exceto a subespécie denominada Execução

fiscal.

1.3.1 Execução para entrega de coisa certa

Entende Misael Montenegro Filho25:

(...) a entrega de coisa certa determinada por sentença judicial não reclama o ajuizamento da ação de execução como processo autônomo, sendo a satisfação do credor garantida nos autos do próprio processo de conhecimento, em instante seguinte ao da

24 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil. p. 406. 25 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil. p. 409.

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prolação da decisão judicial e desde que o devedor não tenha adimplido a obrigação de forma voluntária.

A Execução para entrega de coisa certa, na forma de ação

judicial, é resguardada somente para a exigibilidade dos títulos executivos

extrajudiciais. No caso de exigibilidade de um título judicial (sentença), basta que

sejam praticados alguns atos instrumentais, dentro do próprio processo de

conhecimento, posteriormente à sentença. Conta-se, por vezes, com medidas de

apoio para exigir do devedor o cumprimento da obrigação, tais como multa,

imissão na posse, busca e apreensão, etc, a depender do que a execução tratar,

em conformidade com o artigo 461, §4º e §5º, do Código de Processo Civil.

O objetivo da ação de Execução para entrega de coisa certa

é coagir o devedor a entregar a coisa, o que é possibilitado através da sentença

que determinar a entrega da coisa em litígio, no prazo que esta dispuser.

Quando a sentença for favorável ao autor, ou mesmo na

hipótese de interposição de recurso pela parte devedora, mas apenas recebido

pelo efeito devolutivo, o devedor não necessita mais ser citado. O cumprimento

da obrigação disposta na sentença se dá através da intimação do réu para efetuar

a entrega da coisa de forma voluntária, podendo o magistrado fixar multa, para o

caso de descumprimento da ordem judicial, sendo esta previsão de multa objeto

de discussão doutrinária e jurisprudencial.

1.3.2 Execução para entrega de coisa incerta

O artigo 629 do CPC prevê:

“Art. 629. Quando a execução recair sobre coisas determinadas

pelo gênero e quantidade, o devedor será citado para entregá-las individualizadas se lhe couber a escolha; mas, se essa couber ao credor, este a indicará na petição inicial.”

O que define a coisa incerta é o gênero e a quantidade,

através de um procedimento simples, que depende da escolha feita pelo credor,

ou pela pessoa do devedor, este último sendo regra geral, com base no artigo 224

do CPC.

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Dispõe o artigo 224 do CPC:

“Art. 224. Nas coisas determinadas pelo gênero e pela

quantidade, a escolha pertence ao devedor, se o contrário não resultar do título da obrigação; mas não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a prestar a melhor.”

Em caso de um contrato estipular um prazo para a entrega

da coisa incerta, e este se expirar, sem que o devedor a entregue, deve-se

observar a quem cabia a escolha, ou se o contrato foi omisso quanto à isto. Em

tendo sido previsto que a escolha cabia ao devedor, como em regra cabe ao

devedor, procede-se a sua citação para que entregue a coisa devidamente

individualizada, tendo para tanto o prazo de 10 (dez) dias, podendo o credor

suscitar um incidente processual para fins de impugnar a escolha efetuada pelo

devedor. Por outro lado, se a escolha cabia ao credor, este deverá proceder a

individualização da coisa na petição inicial da Execução, e daí por diante, o

procedimento é igual ao da execução para entrega de coisa certa, com disposição

legal prevista no artigo 631, do Código de Processo Civil.

Observa-se que a individualização da coisa pelo credor, é

requisito específico da petição inicial, apesar de que a maioria da doutrina

defende que a não individualização da coisa pelo credor neste momento, não

extingue o processo, apenas transfere o direito de escolha para o devedor.

Ainda, destaca-se que a individualização da coisa pelo

credor na petição inicial, não importa na obrigação do devedor de aceitá-la, e

conseqüentemente de ter que entregar a coisa ou fazer seu depósito, com o

objetivo de apresentar embargos à Execução. Assim que receber o mandando de

citação, o devedor pode suscitar um incidente processual, conforme previsto no

artigo 630, do Código de Processo Civil, que corre dentro dos próprios autos da

Execução, não necessitando entregar a coisa ou então depositá-la em juízo. Tal

incidente processual suspende o prazo para entrega da coisa ou para o seu

depósito.

Por fim, salienta-se que, na hipótese de o devedor entregar

a coisa individualizada pelo credor, ou efetuar seu depósito em juízo, para fins de

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interpor embargos à Execução, estará aceitando tacitamente a individualização da

coisa efetuada pelo credor.

1.3.3 Execução das obrigações de fazer e de não faz er

Misael Montenegro Filho26 ensina que:

As execuções das obrigações de fazer (positiva) e de não fazer (negativa) podem-se apoiar em título judicial ou extrajudicial. Contudo cabe-nos anotar que na hipótese de a obrigação constar de sentença judicial, o seu não-cumprimento não dá ensejo à formação de nova relação jurídico-processual, apenas reclamando sejam desencadeados atos instrumentais para plena satisfação do credor, independentemente de nova citação a ele dirigida, da apresentação de uma petição inicial e da prática dos demais atos vistos no panorama da execução como ação judicial autônoma.

As execuções das obrigações de fazer e de não fazer,

proveniente de processo de conhecimento anteriormente resolvido, exigido com

base no título judicial gerado, possui duas fases: a primeira, a de conhecimento,

voltada à certificação do direito, e a segunda, que provém da sentença da

primeira, voltada apenas ao cumprimento do disposto no título judicial.

Posteriormente à sentença, o devedor é intimado para

adimplir a obrigação, o que não garante que este vá cumpri-la espontaneamente.

Em caso de não-cumprimento da decisão proferida, o Código de Processo Civil

dispõe de algumas medidas de apoio, que têm por finalidade constranger o

devedor a efetuar a obrigação a ele imposta. São estas medidas, dependendo da

situação: incidência de multa, busca e apreensão, remoção de pessoal e de

coisas, desfazimento de obras, impedimento do exercício de atividades nocivas,

se necessário com requisição de força policial, etc.

Apesar da imposição dessas medidas, pode, ainda, o

devedor se manter inerte, não restando outra alternativa ao credor, senão

requerer que a obrigação específica (de dar coisa, de fazer ou de não fazer) seja

26 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil. p. 421.

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transformada em perdas e danos, somando-se o valor da multa até o momento

em que foi requerida a conversão em referência.

Diante dessa hipótese, o credor requer a citação do devedor,

objetivando que este pague o débito devido, dentro do prazo legal (valor

correspondente à obrigação específica, juros, correção monetária, custas

processuais, honorários advocatícios e o valor da multa), sob pena de ter seus

bens penhorados de maneira suficiente ao cumprimento integral da obrigação.

Sobre a Execução das obrigações de fazer e de não fazer,

apoiada em título extrajudicial, acrescenta Misael Montenegro Filho27:

Na execução das obrigações de fazer ou de não fazer apoiada em título extrajudicial, temos relação jurídica processual autônoma, observando-se o princípio da inércia (art. 2º do CPC), o que reclama a citação do réu, a observância dos requisitos gerais do art. 282 do CPC e de outros específicos, a juntada do título à inicial e a prática de todos os demais atos da ação de execução, com início, meio e fim, coincidindo este instante com a satisfação plena do credor.

Observa-se, então, que a tutela nas execuções das

obrigações de fazer ou de não fazer, embasadas em título extrajudicial, deve ser

buscada mediante uma ação autônoma, necessitando de citação do devedor,

bem como do efetivo cumprimento dos requisitos legais para formação de uma

relação jurídica processual.

Sobre os meios executivos empregados, quando necessário,

ao cumprimento das obrigações de fazer e de não fazer, descreve Luiz Guilherme

Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart28:

O não fazer e o fazer têm a sua disposição, além da multa, todo e qualquer meio de execução idôneo e necessário a determinado caso concreto. É o que está expresso nos § § 4.º e 5.º do art. 461 do CPC, o primeiro relativo ao uso da multa e o segundo

27 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil. p. 422. 28 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3:

execução. p. 65.

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autorizando a utilização de qualquer meio executivo necessário e apenas exemplificando com a busca e apreensão e a remoção de pessoas e coisas.

Ainda, Misael Montenegro Filho29 aponta alguns exemplos

das obrigações de fazer e de não fazer, conforme segue adiante:

a) imposição voltada ao réu para que realize intervenção cirúrgica objeto de contrato assinado entre credor e devedor; b) imposição voltada ao réu para que realize a construção prometida em contrato assinado entre as partes; c) imposição voltada ao réu para que se abstenha de criar animal em ambiente doméstico; (...).

Conforme exemplos citados, fica claro que o cumprimento

das obrigações de fazer e de não fazer são mais complicadas para serem

efetuadas, já que, ausente a disposição de vontade do réu, acaba sendo difícil a

obtenção do resultado pretendido pelo credor.

1.3.4 Execução por Quantia Certa contra Devedor Sol vente

Segundo Misael Montenegro Filho30:

A execução por quantia certa contra devedor solvente é movida em atenção ao credor, partindo da premissa de que o patrimônio do devedor é maior ou igual ao valor do débito. Não se confirmando a equação, mostrando-se a impossibilidade de ser efetuada a penhora em bens do devedor em face da sua insolvência civil (que guarda traços que aproximam da falência comercial), estaremos diante da hipótese de execução por quantia certa contra devedor insolvente, instaurando-se a execução universal, (...).

Observa-se, por vezes, que a Execução por Quantia Certa

contra Devedor Solvente é substitutiva de outra que se caracterizava como

específica (§1º do art. 461 do CPC), ou seja, a Execução pode ter iniciado através

do procedimento da Execução de dar coisa, de fazer ou de não fazer,

29 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil. p. 422. 30 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil. p. 430.

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transformando-se, posteriormente, em Execução por Quantia Certa contra

Devedor Solvente, momento em que é procedida a Penhora de bens do devedor

para garantia do pagamento do valor pretendido.

Misael Montenegro Filho31 ensina:

Encontramo-nos diante das situações que denotam ser impossível a observância da obrigação específica, ou que o credor prefere obter a sua satisfação através do cumprimento da obrigação em pecúnia, liberando o devedor da execução da obrigação de dar, de fazer ou de não fazer.

Exemplo de uma situação em que o credor prefere reverter

sua pretensão inicial em Execução por Quantia Certa contra Devedor Solvente é

quando, em uma ação de Execução para entrega de coisa certa, ele se depara

com um bem deteriorado, que não atinge mais os objetivos esperados.

Acrescenta Misael Montenegro Filho30:

A execução por quantia certa contra devedor solvente apresenta um início (petição inicial e citação do réu para pagar ou para nomear bens à penhora), um meio (oposição dos embargos e abreviada instrução probatória) e um fim (avaliação de bens penhorados, designação de dia e hora para a realização da hasta pública, alienação judicial etc.), o que nos faz concluir que o processo é orientado por atos instrumentais, e não por atos de cognição, reclamando-se a análise individualizada de todo o iter procedimental.

Contudo, a Lei nº 11.232/05 modificou significantemente a

Execução por Quantia Certa contra Devedor Solvente. Na hipótese da Execução

com base em um título judicial, não é mais necessário que o credor se submeta a

uma nova ação judicial (ação de Execução). O devedor não é mais citado, o que

ocorre é a sua intimação, após a sentença, para cumpri-la, sob pena de ter seus

bens penhorados e levados à hasta pública. O sistema do processo de

conhecimento tornou-se bifásico, apresentando, portanto, duas fases: a primeira,

31 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil. p. 430. 30 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil. p. 431.

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que certifica o direito do credor, e a segunda que exige o cumprimento da

disposição sentencial.

1.3.5 Execução por Quantia Certa contra devedor ins olvente

Misael Montenegro Filho31 entende que:

A insolvência civil, no plano processual, corresponde à constatação real e objetiva (na maioria das vezes) de que o patrimônio do devedor é insuficiente para garantir o pagamento de todos os seus débitos, com desequilíbrio patrimonial que prejudica não a um credor isoladamente, mas a uma universalidade de credores.

Apesar de a Execução por quantia certa contra devedor

insolvente em muito se parecer com a falência, há distinções entre elas, pois a

insolvência civil recai sobre a pessoa do devedor não-empresário, enquanto a

falência atinge ao devedor empresário. Ainda, a decretação de falência do

empresário pode acarretar o ingresso de ações criminais contra ele, o que não

ocorre quando da decretação da insolvência civil.

Para Misael Montenegro Filho32:

No que se refere à insolvência civil, incidente sobre a figura do devedor não-comerciante, observamos que o estado de fato exige uma demonstração de que as dívidas excedem a importância dos bens do devedor, não se contentando a lei com o só fato de este não ter adimplido dívida líquida, certa e exigível na data do seu vencimento. Este é um requisito próprio da execução por quantia certa contra devedor insolvente, a demonstração de que o patrimônio do devedor não é suficiente para honrar o pagamento de todos os seus débitos, atacando-se aos requisitos de toda e qualquer execução, a saber: título executivo e inadimplemento do devedor, com a sujeição de todos os bens presentes e futuros.

Na Execução por quantia certa contra devedor insolvente,

observa-se que, sendo o patrimônio insuficiente para garantir o pagamento de

31 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil. p. 505. 32 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil. p. 506.

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todos os credores, não quer dizer que não há como o devedor efetuar o

pagamento a um credor, ou a alguns credores, isoladamente.

Ao passo que a Execução por quantia certa contra devedor

solvente é singular, a Execução por quantia certa contra devedor insolvente é

universal, tendo por finalidade satisfazer a um maior número de credores que

tenham direito ao pagamento dos créditos de que são titulares.

Orienta Misael Montenegro Filho33:

Por último, nas notas introdutórias, observe-se que a execução por quantia certa contra devedor insolvente reclama a instauração de uma fase prévia, que se qualifica como de conhecimento, para certificar se o devedor é (ou não) enquadrado como insolvente (se o seu patrimônio é insuficiente para o pagamento de todos os seus débitos). Esta fase é ultimada através da declaração judicial de insolvência, a partir desse instante autorizando-se o desencadeamento de atos, com o objetivo de que vários credores sejam satisfeitos, o que se dará através da arrecadação dos bens do falido, de sua alienação e rateio posterior.

A insolvência, conforme foi visto, em regra decorre de uma

constatação real e objetiva, porém, há casos em que a insolvência é presumida.

Segundo Misael Montenegro Filho34, pode-se instaurar o

processo de insolvência, sendo ela presumida:

a) Mediante a demonstração de que as dívidas excedem a importância de bens do devedor. b) Mediante a demonstração de que o devedor não possui outros bens livres e desembaraçados para nomear a penhora, pelo fato de todos os bens já terem sido penhorados em outras execuções singulares ou por efetivamente não dispor de patrimônio. c) Mediante a demonstração de que foram arrestados bens do devedor, em face de não ter domicílio certo, intentando ausentar-se ou alienar os bens que possui ou deixando de pagar a obrigação no prazo estipulado. d) Mediante a demonstração de que, tendo domicílio certo, ausenta-se ou tenta se ausentar furtivamente ou quando, possuindo bens de raiz,

33 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil. p. 507. 34 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil. p. 508-509.

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intenta aliená-los, hipotecá-los ou dá-los em anticrese, sem ficar com algum ou alguns, livres e desembargados, equivalentes às dívidas.

Conforme visto, a insolvência presumida ocorre quando o

devedor não possui bens livres e desembaraçados para nomear à Penhora, o que

está previsto no artigo 750, inciso I, do Código de Processo Civil, valendo lembrar

que um exemplo dessa hipótese é os bens do devedor já estarem penhorados,

arrestados ou gravados com garantia real. Também há insolvência presumida na

seguinte situação: quando o próprio credor a declara, ou quando qualquer outro

efetua o arresto em bens do devedor para garantir a dívida líquida e certa.

1.3.6 Execução contra a Fazenda Pública

A Fazenda Pública compreende a União, o Distrito Federal,

os Estados, os Municípios, os Territórios, as autarquias e as fundações instituídas

pelo Poder Público.

Para as execuções contra a Fazenda Pública não se aplicam

a maioria das regras procedimentos comuns, relacionadas à Execução contra

particulares. Aplicam-se normas próprias, especiais35.

O art. 100 da Constituição Federal dispõe que os bens da

Fazenda Pública são impenhoráveis, portanto, não é expedido mandado de

citação para que esta pague, em vinte e quatro horas, ou nomeie bens à Penhora.

O procedimento que rege a Execução contra a Fazenda Pública está previsto na

Constituição Federal e nos artigos 730 e 731 do Código de Processo Civil.

Misael Montenegro Filho36 apresenta as características

procedimentais desta espécie de Execução:

a) recebida a petição inicial, exigida em face do princípio da inércia (art. 2º do CPC), e como não cabe a penhora de bem público afetado, será determinada a citação da Fazenda Pública para opor embargos à execução, no prazo de trinta dias, por força

35 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil. p. 491. 36 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil. p. 492-493.

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da Lei nº 9.494/97, inclusive se a execução for movida contra o INSS, que tem prerrogativa para oposição dos embargos no mesmo prazo, por força de lei específica, não se podendo defender o argumento de que o prazo para a oposição dos embargos deveria ser contado em dobro ou em quádruplo, em face da regra que emana do art. 188 do CPC, posto que a manifestação da Fazenda Pública se qualifica como ação judicial autônoma, não assumindo o formato de defesa ou de recurso; b) não sendo apresentados os embargos, será requisitado o pagamento do crédito ao presidente do tribunal competente, através do magistrado, por meio de precatório judicial, respeitando-se a ordem de apresentação dando-se preferência ao pagamento de créditos alimentares, procedendo-se com a inclusão da verba em orçamento para satisfação até o último dia do ano subseqüente, exclusivamente para a hipótese de o crédito ter sido até o dia 1º de julho do ano anterior; c) considerando que o pagamento não é realizado na data da inscrição do crédito em precatório, mas meses depois, permite-se a inscrição de precatório complementar, para fins de cobrança de juros de correção monetária, sem excluir a possibilidade de ser sobrada a diferença pelo pagamento a menor, não se exigindo, neste caso, seja novamente providenciada a citação da pessoa jurídica de direito público, devendo ser tão-somente intimada para e pronunciar sobre os cálculos apresentados pelo exeqüente; d) em sendo descumprida a ordem cronológica de pagamento, poderá o credor requerer o seqüestro da quantia necessária para satisfazer o débito, após regular ouvida do representante do Ministério Público (art. 731 do CPC), que atuará na condição de custos legis.

Destaca-se que a Lei nº 11.232/05 alterou o previsto no

artigo 741, do Código de Processo Civil, passando a dispor o seguinte sobre os

embargos:

“Art. 741. Na execução contra a Fazenda Pública, os embargos só poderão versar sobre: I – falta ou nulidade da citação, se o processo correu à revelia; V – excesso de execução; VI – qualquer causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição, desde que superveniente à sentença.”

Em caso de oposição de embargos pela Fazenda Pública,

suspende-se o processo de Execução, já que os bens desta são considerados

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impenhoráveis. Ou seja, sendo a sentença desfavorável à Fazenda Pública e

esta opondo embargos à Execução, submete-se o processo ao duplo grau de

jurisdição.

Em caso de não interposição de embargos pela Fazenda

Pública, proceder-se-á com a inscrição do crédito em precatório. Sobre esta forma

diferenciada que a Fazenda Pública possui de se proceder ao pagamento do

débito, comentam Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart37:

(...) todas as dívidas da Fazenda Pública originárias de condenação judicial somente serão pagas mediante precatório, expedido pelo Judiciário e dirigido à entidade condenada, que deverá incluir o débito em seu orçamento para pagamento em futuro exercício financeiro, conforme a possibilidade da pessoa de direito público.

Os débitos da Fazenda Pública são todos limitados ao que

consta no orçamento, ou seja, só poderão ser cumpridos se o montante devido

estiver previamente incluído no orçamento do órgão em questão.

No entanto, apresenta-se uma exceção à inscrição do

crédito em precatório, qual seja, nas obrigações de pequeno valor, que são

aquelas com valor até 60 (sessenta) salários mínimos.

Sobre tal exceção, defendem Luiz Guilherme Marinoni e

Sérgio Cruz Arenhart38 que:

Nos termos do texto constitucional, apenas se esquivam do procedimento de precatórios os créditos de pequeno valor (art. 100, §3º, da CF), hoje fixados para a Fazenda Pública federal em sessenta salários mínimos (art. 17, §1º, c/c art. 3º, Lei 10.259/2001). Outrossim, embora pareça desnecessário dizer, o regime de precatórios apenas se aplica para a condenação de prestação pecuniária devida pela Fazenda Pública, não incluindo, portanto, imposições de fazer, não fazer ou de entregar coisa.

37 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3:

execução. p. 391. 38 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3:

execução. p. 392.

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Ainda, importante destacar que, nas causa com valor inferior

a sessenta salários mínimos, não há recurso de ofício, em conformidade com o

artigo 475, II e §2º, do Código de Processo Civil.

1.3.7 Execução de Pensão Alimentícia

A Execução para fins de prestar alimentos pode derivar-se,

dentre outras situações, das seguintes: a) alimentos decorrentes de relação jus

sanguinis; b) alimentos decorrentes de relação matrimonial desfeita; c) alimentos

decorrentes de união estável desfeita; alimentos decorrentes da prática de ato

ilícito; alimentos decorrentes do descumprimento de regra contratual.

Na área da família, em caso de não-cumprimento da

obrigação alimentar, do pai em favor do(s) filho(s), e de cônjuge ou companheiro

em favor do outro (e vice-versa), é admissível a propositura de ação de alimentos,

em conformidade com a Lei nº 5.474/68, que possui rito especial.

Sobre a forma mais célere de se promover a tutela

jurisdicional dos alimentos, argumentam Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz

Arenhart39:

Por sua própria natureza, o crédito alimentar não é compatível com o procedimento amplo e garantístico da execução comum de prestação pecuniária. Se a função dos alimentos é prover necessidades básicas, é mais do que evidente que o beneficiário não pode esperar por todo o ciclo da execução tradicional, composta pela penhora, avaliação, alienação e pagamento. Exatamente por isso, oferece o direito processual amplo leque de instrumentos para efetivação dos créditos alimentares, tudo na intenção de que o valor seja prestado da forma mais exata e pronta possível.

Pode o autor requerer junto a petição inicial, a concessão de

alimentos provisórios, desde que deles necessitar. Os alimentos provisórios se

distinguem dos alimentos provisionais, previstos no art. 852, do Código de

39 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3:

execução. p. 372.

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Processo Civil, como medida cautelar, ainda que em ambas as hipóteses o

devedor seja obrigado a efetuar o pagamento imediato da obrigação.

Misael Montenegro Filho40 descreve três situações em que a

determinação judicial obriga o devedor a pagar a parcela de alimentos:

a) como resultado do deferimento de liminar nos autos de medida cautelar de alimentos provisionais; b) como resultado do pronunciamento judicial que arbitra os alimentos provisórios no início da tramitação da ação de alimentos, de natureza antecipatória da pretensão de mérito; c) como resultado da sentença final proferida na ação em exame. Nas duas primeiras situações, encontramo-nos diante de pronunciamentos qualificados como decisões interlocutórias, enquanto na terceira hipótese concluímos que o pronunciamento judicial assume o status de sentença judicial. O não-atendimento a qualquer das três situações pode gerar a propositura da ação de execução, não nos autos da medida cautelar ou da ação de alimentos, ensejando a formação de autos em apenso, com a formação de nova relação jurídico-processual.

Portanto, o não-pagamento da parcela alimentar enseja uma

nova ação judicial, a Execução de alimentos, que depende do pagamento de

custas processuais, da observância dos requisitos da petição inicial, não se

caracterizando meramente como fase do processo que ocasiona a manifestação

processual referida.

Verifica-se que a Execução de alimentos possui duas

espécies, a disposta no art. 732 e a prevista no art. 733, ambas do Código de

Processo Civil. A primeira objetiva o pagamento de parcelas vencidas há longos

meses, não se exigindo as três últimas parcelas vencidas, impossibilitando a

imposição da prisão em caso de o executado não adimplir a obrigação. A

segunda permite apenas a cobrança das três últimas parcelas não adimplidas

que, por se presumirem de necessidade imediata, objetivam o pagamento da

dívida sob pena de prisão do executado.

40 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil. p. 484.

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A Lei 11.232/05 também alterou as disposições relativas à

execução de alimentos, no que diz respeito ao cumprimento da sentença. Não há

mais a necessidade de se proceder à citação do devedor, procede-se diretamente

à expedição de mandado de penhora e avaliação, concedendo-se ao devedor o

direito de opor-se à Execução através da apresentação de impugnação, restando

os embargos à Execução previstos apenas para as execuções com base em

títulos executivos extrajudiciais.

1.4 OS EMBARGOS DO DEVEDOR

Sobre o assunto, argumentam Luiz Guilherme Marinoni e

Sérgio Cruz Arenhart41:

No regime anterior à Lei 11.232/2005, a defesa do executado era reservada a uma ação de conhecimento, autônoma e incidente sobre o processo de execução, chamada de embargos do executado. O executado que tivesse interesse em se opor à execução deveria ajuizar embargos do executado, tornando-se autor de ação de conhecimento em face do exeqüente.

No entanto, Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz

Arenhart42 deixam claro que:

(...) na Exposição de Motivos do Anteprojeto que deu origem à Lei 11.232/2005, restou pacífica esta idéia, afirmando-se que “não haverá embargos do executado na etapa de cumprimento da sentença, devendo qualquer objeção do réu ser veiculada mediante mero incidente de impugnação”.

Ou seja, diante da alteração que a lei ocasionou, os

embargos à Execução ficam restritos somente à impugnação de Execução com

base em título executivo extrajudicial.

41 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3:

execução. p. 288. 42 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3:

execução. p. 290.

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Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart43 comentam

acerca das duas teses entendidas sobre a impugnação:

No primeiro caso, o legislador teria apenas alterado o nome dos embargos do executado para impugnação, sem abrir mão da sua essência de ação. Sua substância e sua disciplina continuariam a ser idênticos aos conferidos aos embargos à execução, de modo que ainda haveria a constituição de relação jurídica distinta com a formação de processo novo. (...) A outra tese, no sentido de que a impugnação constitui ação incidental, argumenta que a decisão que define a impugnação, porque deve ser marcada pela coisa julgada material, é uma sentença. A admissão deste ato jurisdicional como sentença imporia a aceitação de que a impugnação constitui ação. Porém, esta posição incorre no erro de pretender qualificar a essência de algo olhando para a expectativa de sua conseqüência. Ou melhor, para pensar na estabilidade da decisão que julga a impugnação, evidentemente não é preciso transformá-la em ação.

Vicente de Paula Ataíde Junior44, Juiz Federal Substituto do

Paraná, faz sua crítica acerca da impugnação como novo meio de defesa utilizado

pelo executado, descrevendo:

A impugnação é o meio de defesa do executado, a qual não mais se faz por meio de ação de embargos à execução (salvo quando se tratar de execução contra a Fazenda Pública, art. 730, CPC). Mas persiste a necessidade de penhora como condição para apresentar impugnação, ou seja, não é admissível impugnação antes de seguro o juízo pela penhora. O conteúdo da impugnação é restrita às hipóteses taxativamente previstas no art. 475-L, CPC, pelo que a cognição judicial é parcial. Caso o impugnante não respeite essa limitação, pode o juiz rejeitar liminarmente a impugnação, por analogia com o art. 739, II, CPC, autorizada pelo art. 475-R, CPC. Também se imporá a rejeição liminar da impugnação nos demais casos do art. 739, CPC e na hipótese em que o executado alegue que o exeqüente, em excesso de execução, pleiteia quantia superior à resultante da sentença e não

43 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3:

execução. p. 288-289. 44 JÚNIOR, Vicente de Paula Ataíde. Cumprindo a sentença de acordo com a Lei nº

11.232/2005. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8653>. Acesso em 01 abr.2007.

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declara, de imediato, o valor que entende correto (art. 475-L, § 2º, CPC). Nesses casos, não é possível emendar a impugnação, pois a lei impõe a rejeição liminar.

Ao expor as duas teses sobre a impugnação e ainda

acrescentar o entendimento acima, importante deixar claro que o pensamento de

Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart acompanha o entendimento

majoritário atual.

No que tange aos embargos à Execução, entendem Luiz

Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart:

(...) o processo de execução foi pensado para não ter cognição sobre o crédito exigido em seu bojo, mas apenas para realizar direito já reconhecido. O título executivo faz presumir a existência do direito, não tendo o seu titular a necessidade de demonstrar ao juiz a existência do direito antes de requerer a sua realização ou a execução. Porém, a presunção resultante do título executivo é relativa, de forma que é possível que se venha a demonstrar a inexistência do direito. Entretanto, esta demonstração não se insere na função do processo de execução, devendo ser feita em outra sede.

Assim sendo, mesmo sabendo que hoje são admitidas

outras formas de defesa, dentro do próprio processo de Execução, estas se dão

de maneira excepcional, sendo os embargos à Execução considerados a via de

defesa verdadeira do executado, nas execuções de títulos extrajudiciais.

1.5 A SUSPENSÃO E A EXTINÇÃO DO PROCESSO DE EXECUÇ ÃO

Segundo Misael Montenegro Filho45:

Durante o iter procedimental da execução, notamos que obstáculos podem surgir, determinando a paralisação momentânea da marcha processual, apenas sendo admitida a continuação da tramitação na hipótese de ser afastada a causa que impôs a paralisação em referência. Não obstante as colocações, temos de anotar que a paralisação não pode ser

45 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil. p. 518.

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indefinida, sob pena de comprometer a função assumida pelo Estado, no sentido de pacificar os conflitos de interesses, razão pela qual a lei prevê prazos máximos de paralisação do processo em situações específicas.

Enquanto durar a suspensão, é vetada a prática de qualquer

ato processual, exceto os denominados de atos de urgência, em conformidade

com o artigo 793, do Código de Processo Civil.

A respeito da duração do prazo da suspensão no processo

de Execução, dispõem Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart46:

Como regra geral, a suspensão do processo por convenção das partes pode ocorrer por período máximo de seis meses (art. 265, §3º, CPC). Na execução, todavia, esta limitação não se opera, podendo as partes acordar o prazo de suspensão livremente (art. 792, CPC). A exceção justifica-se porque, comumente, a suspensão da execução é feita para permitir a satisfação extraprocessual da obrigação executada. É comum que, nestes casos, o acordo extrajudicial para cumprimento inclua moratória da prestação ou o parcelamento da dívida. Diante disso, seria inconveniente fixar-se prazo para a reativação do processo.

No entanto, existem casos de suspensão próprios da

Execução, os quais estão dispostos no art. 791 do CPC, nos incisos I e III. O

inciso I trata da suspensão da Execução por motivo de interposição de embargos

à Execução, aos quais se tenha deferido o efeito suspensivo; e o inciso III fala da

hipótese de suspensão caso não sejam encontrados bens passíveis de Penhora.

Neste último caso, disposto no inciso III, a suspensão só

pode ocorrer até o prazo prescricional, ou seja, até a caracterização da prescrição

intercorrente, o que importará na extinção da exigibilidade judicial da prestação.

Quanto à suspensão do processo de Execução, em razão da

interposição de embargos, Misael Montenegro Filho47 ensina:

46 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3:

execução. p. 337. 47 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil. p. 519.

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A suspensão da ação de execução na hipótese estudada vem merecendo repulsa da doutrina nacional, que clama pelo desfecho do processo no menor espaço de tempo possível, na consideração de que o credor já suportou todos os percalços do processo de conhecimento que formou o título (na hipótese de a execução ser apoiada em título executivo judicial).

Apesar do acima descrito, verifica-se, em alguns casos, que

a matéria tratada dentro dos embargos está diretamente relacionada com a

própria existência da ação de Execução, tornando essencial a suspensão da

Execução até que se tenha o desfecho dos embargos.

Existem exceções, em que há o prosseguimento da

Execução, sem que os embargos a suspendam. Contudo, a regra geral é a de

que suspende-se completamente a Execução, no caso de os embargos versarem

sobre a totalidade das matérias deduzidas pelo autor, dos pedidos formulados e

das partes em litígio.

A respeito da extinção do processo de Execução, Misael

Montenegro Filho48 afirma:

A extinção da ação de execução é tratada de forma acanhada no art. 794 do CPC, que sugere a sua materialização quando: a) O devedor satisfaz a obrigação. b) O devedor obtém a remissão total da dívida por transação ou por qualquer outro meio. c) O credor renuncia ao crédito. A previsão da lei encontra-se de modo aberto, e não numerus clausus, anotando-se várias outras hipóteses nas quais a ação de execução é igualmente extinta, a saber: a) Quando for acolhida a exceção de pré-executividade oferecida pelo devedor, para o combate de execuções nulas, sendo o vício detectado sem a necessidade de ampla investigação probatória. b) Quando houver a procedência dos embargos à execução, opostos pelo devedor. c) Quando o juiz deparar com a prescrição, sendo argüida pela parte interessada. d) Quando houver o reconhecimento da ilegitimidade de uma das partes da execução. e) Quando se verificar a ausência de interesse de agir, em face de a obrigação não ser ainda exigível. f) Quando houver desistência da ação de execução etc.

48 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil. p. 523-524.

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Sobre o tema, argúem Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio

Cruz Arenhart49:

A extinção da execução se dá por ato judicial, caracterizado como sentença. (...). Tratando-se de sentença, contra este ato poderá o prejudicado, se houver interesse para tanto, insurgir-se mediante apelação. Eventualmente, neste recurso poderá apresentar defesas que não ofereceu anteriormente, ensejando a possível modificação da execução ou o desfazimento (total ou parcial) de seus atos. Os arts. 794 e 795 do CPC aludem às sentenças que põem fim à execução. Diz o art. 794 que se extingue a execução quando: “I – o devedor satisfaz a obrigação; II – o devedor obtém, por transação ou por qualquer outro meio, a remissão total da dívida; III – o credor renunciar ao crédito”. A par destes casos, pode-se obter a extinção da execução por qualquer outra razão hábil, o que, todavia, só surtirá efeitos depois de reconhecido por sentença (art. 795, CPC).

Em todas as disposições verificadas, observa-se que a

extinção só produz efeitos quando declarada por sentença (art. 795, do Código de

Processo Civil).

Discute-se se a sentença que põe fim ao processo de

Execução, obriga, ou não, a extinção do processo com julgamento do mérito.

No entendimento de Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz

Arenhart50:

Em princípio, a sentença de extinção da execução não constituirá sentença de mérito, especialmente no caso de títulos judiciais, até porque este mérito já foi julgado pela sentença prolatada na fase de conhecimento ou em outra sede (de onde se originou o título). Isto não significa dizer que não exista mérito na execução; ele existe e é representado pela pretensão executiva. Não há, porém, ao menos em princípio, sentença de mérito, já que não é objetivo da execução “julgar” a pretensão do credor, mas apenas realiza-la materialmente. Não havendo mérito a ser decidido, mas direito a

49 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3:

execução. p. 333. 50 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3:

execução. p. 334.

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ser realizado, a sentença da execução é, normalmente, apenas extintiva do processo. Seu escopo é reconhecer o exaurimento da função executiva, dando, formalmente, fim ao processo.

Contudo, há exceções ao que acima foi descrito e

denominado como regra, conforme comentam Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio

Cruz Arenhart51:

(...) esta regra comparta exceções, que hoje se espraiam em duas ordens: a) admite-se sentenças de mérito no julgamento da impugnação à execução, (...). b) também se pode cogitar da existência de sentenças de mérito nos casos em que o juiz é compelido a apreciar, a partir de exceção de pré-executividade, algum vício do título (por exemplo), capaz de tornar a obrigação inviável. Assim, por exemplo, quando o executado alega a prescrição (intercorrente) da dívida. (...).

No capítulo a seguir será visto de forma mais detalhada os

aspectos, características e objetivos próprios da Execução por Quantia Certa

Contra Devedor Solvente, incluindo como se procede a citação do devedor, a

indicação de bens, a Penhora e seu depósito, a avaliação, a adjudicação, a

alienação e o pagamento ao credor.

51 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3:

execução. p. 335.

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CAPÍTULO 2

BREVES NOÇÕES SOBRE O PROCESSO DE EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE

2.1 OBJETIVO DA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA

Esta espécie de Execução é aplicada quando existir uma

obrigação de pagar proveniente de sentença condenatória ou de título

extrajudicial que verse sobre o mesmo objeto.

Sobre o tema, argumenta Misael Montenegro Filho52:

O pedido do credor não é o de que o devedor seja condenado a pagar soma em dinheiro (pretensão própria da ação de conhecimento), mas de que sejam praticados atos instrumentais que permitam a satisfação do credor através do procedimento expropriatório. Em outro dizer, o credor requer que o Estado sujeite o patrimônio do devedor à penhora judicial, para posterior alienação em hasta pública, com a entrega do correspondente produto ao credor, anotando-se que a satisfação também pode ocorrer por meio da adjudicação de bens ou pelo usufruto de imóvel ou de empresa, situação que se mostra inegavelmente menos gravosa para o devedor, por não ter de conviver com a perda de bens em caráter definitivo, respeitando-se o princípio da menor onerosidade excessiva para o devedor (art. 620 do CPC).

Quanto ao objeto da Execução por Quantia Certa, aduz

Moacyr Amaral Santos53:

(...) nos bens que constituem o patrimônio do devedor está o objeto mediato da execução (...). A execução por quantia certa tem por objeto expropriar bens do patrimônio do devedor a fim de satisfazer o direito do credor, isto é, pagar o credor: “A execução

52 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil. p.429. 53 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p. 281.

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por quantia certa tem por objeto expropriar bens do devedor, a fim de satisfazer o direito do credor” (Cód. Proc. Civil, art. 646).

Cabe informar que o devedor poderá ser solvente ou

insolvente, e tal característica determinará o procedimento a ser aplicado. É

solvente o devedor que possui bens suficientes para o cumprimento de sua

obrigação, ou seja, que possui um ativo maior que o passivo. Já o insolvente é

aquele que tem dívidas que superam seu patrimônio, o que significa que possui

um ativo inferior ao passivo.

2.2 A CITAÇÃO DO DEVEDOR E A INDICAÇÃO DE BENS

A respeito do objetivo do ato de citação, Moacyr Amaral

Santos54 descreve:

A citação do devedor tem a finalidade de qualquer outra citação; é o ato pelo qual se lhe dá conhecimento da ação de execução que lhe é proposta. Por ela se completa a formação da relação processual de execução. Dando-se ao devedor conhecimento da execução, não só se lhe cria oportunidade para defender-se, como se lhe confere a faculdade de acompanhar o processo até final.

Quanto aos requisitos que devem ser observados antes do

ordenamento da citação do réu pelo magistrado, entende Misael Montenegro

Filho55:

Na realidade do processo civil brasileiro, observamos que a ação de execução é iniciada através da distribuição da petição inicial, seguida do encaminhamento dos autos a fim de que o magistrado ordene a citação do devedor. Embora esta seja a dinâmica mais vista na realidade das ações de execução, apenas se observando uma avaliação detida dos autos por parte do magistrado em momento processual seguinte, defendemos a tese de que o juiz do processo apenas pode ordenar a citação do réu após verificar que se encontram (aparentemente) presentes as condições da

54 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p. 283-284. 55 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil. p. 433.

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ação, dizendo respeito à legitimidade das partes, ao interesse de agir e à possibilidade jurídica do pedido.

Na Execução por Quantia Certa de títulos judiciais, a

necessidade de citação ou não dependerá do título judicial em questão e em

conformidade com a necessidade de proceder-se a sua liquidação.

Sobre o assunto, argumentam Luiz Guilherme Marinoni e

Sérgio Cruz Arenhart56:

(...) nos casos em que a execução forma processo novo, ultimada a penhora de bens do devedor deverá ser promovida a citação pessoal do executado (art. 475-N. parágrafo único, do CPC). Note-se que, em tais casos, o devedor não tem advogado constituído nos autos, o que impede a intimação do executado, na pessoa de seu advogado, como prevê o art. 475-J, §1.º. A citação deve ser por mandado ou edital, proibida a citação por correio (art. 222, d, do CPC). Serve à citação o próprio mandado de penhora e avaliação, não sendo necessária a elaboração de mandado específico (art. 475-N, parágrafo único, do CPC). A citação terá, de todo modo, a mesma finalidade da intimação, ou seja, de comunicar ao executado de que dispõe do prazo de quinze dias para apresentar impugnação. Porém o devedor poderá promover o imediato pagamento da dívida, deixando de impugnar a execução. (...) Tratando-se de execução de sentença penal condenatória, de sentença arbitral ou de sentença estrangeira homologada, obviamente é dispensada a citação em caso de anterior fase de liquidação da dívida, já que, em nestas situações, a citação já ocorreu.

Acerca da alteração que a Lei 11.232, de 22 de dezembro

de 2005 ocasionou, já foi mencionado no título anterior, quando se abordou sobre

a Execução por Quantia certa contra Devedor Solvente (subtítulo 1.3.4) que, no

caso de ação de Execução com base em sentença judicial que reconheceu

obrigação de pagar, o credor não necessita mais ingressar com uma nova ação

judicial. O devedor não é mais citado e sim intimado para o cumprimento do que

56 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3:

execução. p. 414-415.

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foi determinado pela sentença, o que, em caso de não o fazer, opera-se a

Penhora de bens de seu patrimônio.

Já nas execuções por quantia certa de títulos extrajudiciais,

tem-se a ação de Execução em forma de ação judicial. A respeito do tema,

aduzem Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart57:

Recebida a petição inicial, fixado o valor dos honorários do advogado do exeqüente e determinada a citação, é necessário promove-la. A via regular de citação do devedor é o mandado – que pode ou não gerar a necessidade da citação com hora certa –, admitindo-se eventualmente o edital, nos casos do art. 231 do CPC. Não se aceita, no processo de execução, a citação por correio (art. 222, d, do CPC). Nos casos de citação ficta – citação por edital ou com hora certa –, se o devedor não comparecer no prazo que a lei lhe concede, deverá o juiz nomear curador especial (art. 9.º, II, do CPC), que terá autorização para representá-lo, inclusive podendo apresentar embargos à execução.

Ainda, quanto aos efeitos da citação, argumentam Luiz

Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart58:

A citação válida do executado produz os efeitos gerais da execução, como delineados no art. 219 do CPC. Deste modo, realizada a citação, torna-se prevento o juízo, induz-se litispendência e torna-se litigiosa a coisa. Outrossim, ainda quando realizada por juiz incompetente, a citação constitui em mora o devedor e interrompe a prescrição (art. 617 do CPC). A constituição em mora, por conta da citação, só ocorrerá se outro fato anterior já não tiver induzido este efeito.

O art. 652, caput, prevê que o executado será citado para no

prazo de três dias promover o pagamento da dívida, enquanto o regime anterior

conferia ao devedor o prazo de vinte e quatro horas para pagar ou nomear bens à

Penhora. Além disso, contava-se o prazo de vinte e quatro horas a partir da

57 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3:

execução. p. 440-441. 58 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3:

execução. p. 441.

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citação do devedor, ao passo que, com a atual redação, que vigora desde o ano

de 1994, conta-se o prazo da efetiva juntada do mandado de citação cumprido,

em conformidade com o art. 241, II, do Código de Processo Civil. Na hipótese de

edital de citação, proceder-se-á de acordo com a regra do art. 738 do Código de

Processo Civil, contando-se o prazo do término do interregno.

É importante destacar que o art. 652-A, parágrafo único, do

Código de Processo Civil, dispõe que “no caso de integral pagamento no prazo de

03 (três) dias, a verba honorária será reduzida pela metade”, o que é um estímulo

para o devedor. Diante disso, o mandado ou edital de citação deve valer-se da

informação desse benefício.

Sobre o caso de o oficial de justiça não encontrar o

executado para citá-lo, argumentam Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz

Arenhart59:

Não encontrando o executado para realizar a citação, o oficial de justiça, antes de restituir o mandado aos autos, realizará o arresto de bens em quantidade suficiente para que a execução possa ser satisfeita (art. 653 do CPC). Este arresto não se confunde com o arresto cautelar, tratado nos arts. 813 e ss. do CPC. Possui natureza executiva e não cautelar, sendo irrelevante a presença ou não da aparência do direito ou do perigo de dano irreparável para a sua concessão. (...) Trata-se de medida que independe de decisão judicial, incidindo diante da simples não localização do executado para a citação.

Após a efetivação do arresto, o oficial, nos dez dias que

seguirem o arresto, procurará o devedor, em pelo menos três vezes em dias

diferentes, para tentar realizar a citação. Caso não o encontre, certificará no

mandado o que for necessário, restituindo-o para que seja o credor intimado para

em dez dias, requerer a citação do executado via edital. Após a citação do edital e

o decurso do prazo nele estabelecido, o devedor tem três dias para efetuar o

pagamento da dívida. Não havendo manifestação do devedor, o arresto será

convertido em Penhora, prosseguindo-se a execução, hipótese em que será 59 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3:

execução. p. 442.

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nomeado um curador para defender o devedor que não foi encontrado. Estas

situações estão regradas nos arts. 653, § único, 232, IV e 654, todos do Código

de Processo Civil.

A respeito da indicação de bens, dispõem Luiz Guilherme

Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart60:

No direito revogado, o devedor era citado para pagar ou nomear bens à penhora (art. 652, em sua redação anterior à Lei 11.382/2006), o que poderia suscitar a dúvida sobre se o devedor ainda tem o direito de nomear bens. Porém, diante da nova redação do art. 652, que afirma que o executado deve ser citado para pagar a dívida em três dias, sem fazer qualquer menção à possibilidade de nomeação de bens à penhora, resta claro que o executado não tem mais uma opção entre pagar ou nomear bens à penhora.

Sobre a nomeação de bens, Luiz Guilherme Marinoni e

Sérgio Cruz Arenhart61 entendem o seguinte:

Percebe-se que a possibilidade de nomear bens à penhora não tem sentido em um sistema executivo que confere ao exeqüente o direito de indicar os bens penhoráveis na própria petição inicial e, ainda, permite o processamento da execução na pendência dos embargos à execução. Caso a nomeação de bens fosse suficiente para impedir o curso da execução na pendência dos embargos, até seria possível sustentar a racionalidade da nomeação de bem à penhora para se evitar a imediata disponibilização de dinheiro. Porém, como a execução deve prosseguir ainda que apresentados os embargos, o exeqüente tem o direito de exigir o pagamento (a entrega de dinheiro devido) desde logo, requerendo, em caso de não pagamento no prazo de três dias (art. 652 do CPC), a penhora on line sobre o valor depositado pelo executado em conta corrente ou em aplicação financeira (arts. 655, I, e 655-A, do CPC), pouco importando a intenção em apresentar embargos do executado.

60 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3:

execução. p. 442. 61 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3:

execução. p. 443.

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Portanto, após a citação, o executado tem a escolha de

pagar o débito no prazo previsto em lei; não pagar e ter seus bens (caso possua)

submetidos à Penhora; reconhecer a existência do crédito demandado pelo

credor, dentro de quinze dias, efetuando o depósito de trinta por cento do valor

total da dívida, incluídas as custas e honorários advocatícios, podendo, desta

forma, parcelar o restante do débito, em até seis parcelas mensais, acrescidas de

juros de um por cento ao mês e correção monetária, tudo conforme o art. 745-A

do Código de Processo Civil. Além disso, pode o executado opor embargos à

Penhora ou peticionar uma exceção de pré-executividade, a depender do caso.

2.3 A PENHORA E O DEPÓSITO A PENHORA DE CRÉDITOS E OUTROS

DIREITOS PATRIMONIAIS

Misael Montenegro Filho62 define a penhora da seguinte

forma:

A penhora é o instituto que pertence ao direito processual, tendo por objetivo efetuar a apreensão de bens do patrimônio do devedor e/ou do responsável, com vista a permitir a posterior satisfação do credor, considerando que a execução por quantia certa contra devedor solvente é marcada pelo fato de ser expropriatória (art. 646 do CPC), atuando o Estado de forma substitutiva, mediante atos de sujeição impostos ao devedor, com a autorização para que o seu patrimônio seja invadido mesmo contra a sua vontade.

Apesar de ser uma medida drástica, tendo em vista os

efeitos que gera, é necessária, uma vez que o objetivo é a satisfação do credor.

Diferentemente das medidas cautelares, a ato de Penhora na Execução não

depende da demonstração do fumus boni juris e do periculum in mora, é ato

característico dos autos de Execução.

Para Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart63:

62 FILHO, Misael Montenegro. Curso de direito processual civil. p. 445. 63 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3:

execução. p. 251.

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A penhora é o procedimento de segregação dos bens que efetivamente se sujeitarão à execução, respondendo pela dívida inadimplida. Até a penhora, a responsabilidade patrimonial do executado é ampla, de modo que praticamente todos os seus bens respondem por suas dívidas (art. 591 do CPC e art. 391 do CC). Por meio da penhora, são individualizados os bens que responderão pela dívida objeto da execução. Assim, a penhora é o ato processual pelo qual determinados bens do devedor ( ou de terceiro responsável) sujeitam-se diretamente à execução.

Ainda, acrescentam64:

Realizada a penhora, os bens constritos tornam-se indisponíveis para o devedor – que não pode aliená-los ou onerá-los eficazmente. A penhora não retira do titular a propriedade do bem, mas torna inoperante o poder de disposição sobre ele. Vale dizer que qualquer ônus real, alienação ou, enfim, qualquer ato que retire o valor de comercialização de bens penhorados é ineficaz em relação à execução em que a penhora se deu.

Ainda, é importante tecer sobre a alteração da posse do bem

penhorado, assim comentando sobre o depósito, conforme o fazem Luiz

Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart65:

Decorre ainda da penhora a alteração no regime da posse ostentada em relação ao bem penhorado. Feita a penhora, o bem deve ser depositado em mãos de uma das partes da execução ou em mãos de terceiros, a fim de que seu estado seja preservado para a futura alienação. Este depósito, mesmo quando o depositário seja o devedor – sem, portanto, que haja alteração fática da localização da coisa – implicará modificação na situação da posse do bem. Aquele que tiver consigo a coisa penhorada (seja o devedor, seja outra pessoa), terá posse na condição de depositário, não podendo dela se utilizar livremente, ou perceber inadvertidamente os frutos do bem etc.

64 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3:

execução. p. 251. 65 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3:

execução. p. 252.

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Ainda sobre o depósito dos bens penhorados, aduzem Luiz

Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart66:

Afirma o CPC que o depósito deve ser feito, em regra, em mãos de terceiro, não devendo o bem ficar nem com o credor nem com o devedor (art. 666). A conservação da posse sobre a coisa – na pendência da execução – estimula o devedor a empregar expedientes protelatórios com o fito de manter o status quo. Diante disso, o art. 666, §1.º - na redação da Lei 11.382/2006 –, admite que o executado seja nomeado depositário apenas em duas hipóteses: i) quando houver expressa anuência do exeqüente ou ii) nos casos de difícil remoção do bem (aí incluída a hipótese de penhora de imóvel, prevista no art. 659, §5.º, do CPC). Ressalvadas essas situações, o depósito dar-se-á sempre em mãos de terceiros.

Conforme dispõe o art. 666, §3.º, Código de Processo Civil,

o depositário é obrigado a restituir a coisa imediatamente após ser advertido pelo

magistrado para tanto. Caso não restitua, enquadrar-se-á na condição de

depositário infiel, estando sujeito a prisão civil, independentemente de ação de

depósito.

É importante mencionar que a Penhora é considerada

efetivada a partir do momento da lavratura do auto ou do termo de Penhora, não

importando se a coisa já foi removida ou depositada.

Sobre estas duas formas de se proceder a Penhora,

conceituam brevemente Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart67:

A penhora de bens pode se dar por duas vias: por termo ou por auto de penhora. O auto de penhora é o documento elaborado pelo oficial de justiça, relacionando os bens que encontrou e penhorou. O termo de penhora é documento assinado pelo próprio devedor, formado ao indicar bens à penhora que são aceitos pelo credor.

66 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3:

execução. p. 278-279. 67 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3:

execução. p. 263.

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Quanto à Penhora de créditos e de outros direitos

patrimoniais, descreve Humberto Theodoro Júnior68:

Os direitos do devedor contra terceiros, quando de natureza patrimonial, são penhoráveis, desde que possam ser transferidos ou cedidos, independentemente de consentimento do terceiro. A penhorabilidade dos direitos exige dois requisitos, portanto: a) o valor econômico; e b) a livre cessibilidade.

Sobre a Penhora de créditos do executado, o artigo 671,

primeira parte, do Código de Processo Civil, dispõe que habitualmente é feita por

intimação do terceiro obrigado, para que não efetue a obrigação senão em razão

de ordem do Poder Judiciário e ainda para torná-lo depositário da coisa ou

quantia devida, ficando sob sua responsabilidade tudo o que for inerente ao cargo

de depositário judicial. De acordo com o artigo 671, segunda parte, do Código de

Processo Civil, o credor do terceiro, no caso o executado, também deve ser

intimado, para que fique ciente de que não pode praticar ato que disponibilize o

seu Crédito.

A respeito da Penhora de direitos e ações, explica Humberto

Theodoro Júnior69:

Incluem-se entre os direitos e ação penhoráveis as dívidas ativas, vencidas e vincendas, as ações reais, reipersecutórias ou pessoais, para cobrança de dívidas, as quotas de herança em inventários, os fundos líquidos do devedor em sociedade civis ou comerciais e todos os demais direitos similares.

Apesar disso, importante destacar que, não podem ser

penhorados os direitos do arrendatário de gleba rural, bem como o direito real de

usufruto, pois é bem jurídico inalienável. Todavia, a Penhora do exercício do

usufruto, em forma de direito pessoal transferível e de valor econômico, é

permitida, e ainda a Penhora de título de sócio de sociedade civil, quando

68 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Processo de

Execução de Processo Cautelar : Humberto Theodoro J únior , 2 v. Rio de Janeiro : Forense, 2006. p. 298.

69 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Processo de Execução de Processo Cautelar : Humberto Theodoro J únior. p. 298.

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negociável, igualmente de direito de uso de telefone, ou dos direitos provenientes

do compromisso de compra e venda de imóvel70.

2.4 A AVALIAÇÃO

Sobre a questão da avaliação dos bens penhorados,

argumentam Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart71:

A avaliação constitui ato logicamente vinculado à penhora. Se a penhora deve se estender apenas sobre o volume de bens suficiente para saldar o crédito executado é evidente que a extensão da penhora é determinada na medida em que se avalia os bens arrecadados. Não se justificaria tomar todo o patrimônio do devedor para, só então, avaliar a parcela necessária para a satisfação da execução, com a liberação do restante. Precisamente por isto, o sistema atual determina que o oficial de justiça, ao tempo em que promove a penhora de bens, deve avalia-los (art. 475-J do CPC), cessando as diligências, por conseqüência, assim que o produto chegar a valor suficiente para saldar a dívida executada.

Algumas situações dispensam a avaliação, conforme

argumentam Guilherme Luiz Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart72:

Claro que algumas situações dispensarão avaliação. É o que ocorre com a penhora de dinheiro e de títulos ou mercadorias que têm cotação em bolsa (art. 684, II, do CPC), cujo valor será o da cotação respectiva. Nos demais casos, haverá a necessidade de dimensionar a extensão da penhora, sendo imprescindível a avaliação dos bens penhorados.

Normalmente a avaliação dos bens é efetuada pelo próprio

oficial de justiça, não podendo este rejeitar fazê-la se o bem em questão tiver

características comuns. Caso o bem possua características especiais, como uma

70 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Processo de

Execução de Processo Cautelar : Humberto Theodoro J únior. p. 298. 71 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3:

execução. p. 280. 72 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3:

execução. p. 280.

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obra de arte, por exemplo, admite-se que o oficial fique responsável somente pela

penhora, cabendo ao juiz nomear um avaliador especialista na área, de acordo

com a disposição do art. 475-J, §2º, do Código de Processo Civil.

A regra é fazer a avaliação uma única vez, contudo o art.

683 do Código de Processo Civil, permite que haja uma nova avaliação quando: “I

– qualquer das partes argüir, fundamentadamente, a ocorrência de erro na

avaliação ou dolo do avaliador; II – se verificar, posteriormente à avaliação, que

houve majoração ou diminuição no valor do bem; ou III – houver fundada dúvida

sobre o valor atribuído ao bem (art. 668, parágrafo único, inciso V)”.

A respeito da finalidade da avaliação, entendem Luiz

Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart73:

A finalidade essencial da avaliação é fixar parâmetro para a futura alienação judicial. Na primeira hasta pública, o bem não será alienado por preço inferior ao da avaliação (art. 686, VI, do CPC). Na mesma linha, afirma-se que os bens não podem ser adjudicados por valor inferior à avaliação (art. 685-A, caput, do CPC). Ademais, a avaliação é a base do caput do art. 701, que diz que “quando o imóvel de incapaz alcançar em praça pelo menos 80% (oitenta por cento) do valor da avaliação, o juiz o confiará à guarda e administração de depositário idôneo, adiando a alienação por prazo não superior a 1 (um) ano”.

Ainda, há de se destacar outra finalidade da avaliação:

determinar a suficiência dos bens levados à Penhora para quitar o débito

exeqüendo. Verificando-se que os bens penhorados não são suficientes para a

satisfação total da dívida, ou então ao contrário, que excedem o valor desta,

ampliar-se-á, ou diminuir-se-á a Penhora.

73 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3:

execução. p. 281.

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2.5 A ADJUDICAÇÃO, A ALIENAÇÃO POR INICIATIVA PARTI CULAR E A

ALIENAÇÃO POR HASTA PÚBLICA

O art. 647, do Código de Processo Civil, dispõe sobre as

formas de expropriação, sendo uma delas a adjudicação. No atual regime, dá-se

preferência a adjudicação, deixando em segundo plano os demais mecanismos

(art. 685-C e 686, do Código de Processo Civil).

Conceituam Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz

Arenhart74:

Corresponde ao recebimento do bem penhorado pelo exeqüente, descontando-se o valor da execução do valor da coisa. Trata-se de forma de pagamento da dívida executada, pelo qual há transferência direta de patrimônio do devedor para o credor. A responsabilidade patrimonial poder-se-ia dizer, é linear, autorizando o credor a tomar parte do patrimônio do devedor por conta da dívida não paga.

A mudança do novo regime fez com que a adjudicação se

tornasse mais importante. O ato de adjudicar o bem facilita o processo de

Execução, pois além do exeqüente ter a escolha de ficar com o bem em troca da

dívida, ainda pode tentar vendê-lo para terceiro, sem a interrupção da jurisdição,

ou seja, caso haja alienação judicial, ele não é obrigado a aceitar o valor

decorrente desta.

O art. 686, do Código de Processo Civil, não prevê prazo

para o exeqüente requerer a adjudicação, apenas dispõe que, em não havendo

tal pedido, nem o de alienação particular, é procedida a alienação do bem em

hasta pública, sobre a qual será relatado em seguida.

A respeito da alienação em hasta pública, descrevem Luiz

Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart75:

74 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3:

execução. p. 314.

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O caminho mais tradicional de satisfação do credor é a arrematação judicial. A alienação em hasta pública requer a oferta do bem penhorado, objetivando despertar os terceiros e gerar competição pela aquisição do bem. Espera-se que esta competição possa otimizar o preço do bem em benefício da execução, que chegará ao seu objetivo mais rapidamente.

Existem duas formas de hasta pública: o leilão e a praça. A

praça é a alienação de bens imóveis, já o leilão é para os demais casos,

ressalvados os bens que são negociados em Bolsa de Valores (art. 704, do

Código de Processo Civil), ainda que para a alienação antecipada de bens,

mesmo que de imóveis (art. 1.113, do Código de Processo Civil). A diferença mais

importante entre estas duas formas de se proceder a hasta pública é que o

leiloeiro é alguém indicado pelo exeqüente, enquanto a praça é efetuada por um

serventuário da justiça (art. 694, do Código de Processo Civil).

Valentin Carrion76 conceitua leilão e praça, diferenciando-os,

conforme dispõe:

Leilão. É a forma de alienação de bens, pelo maior lanço, por leiloeiro oficial, no lugar designado pelo juiz; a praça, ao contrário, é realizada no átrio do fórum, por um serventuário de justiça. No processo comum, o leilão é próprio dos móveis; no processo laboral, o leilão é previsto facultativamente, quando não houve licitante na praça. No CPC a escolha do leiloeiro é do credor (art. 706); essa exigência não se aplica ao processo laboral. Se não houver leiloeiro oficial na localidade ou o juiz trabalhista não o julgar conveniente (“poderão os mesmos...”), o leilão será realizado pelo oficial porteiro.

Ainda, Gérson Marques77 ensina:

75 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3:

execução. p. 318. 76 CARRION, Valentin, 1931. Comentários à consolidação das leis do trabalho / Valentin

Carrion. – 31. ed. atual. por Eduardo Carrion. – São Paulo: Saraiva, 2006. p. 762. 77 MARQUES, Gérson. Processo do trabalho anotado: CLT e legislação comp lementar

atualizado até 31.05.2001 / Francisco Gérson Marques de Lima. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001. p. 396.

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Conforme esclarece Amauri Mascaro Nascimento, “os bens, penhorados e avaliados, serão vendidos judicialmente, ato denominado praça, precedida de edital, anunciando dia, hora e local de sua realização, bens a serem vendidos e avaliação. A praça é realizada nas Juntas, através de um funcionário, o porteiro de auditório ou outro servidor, por designação. Nada impede a realização da praça em outro local, desde que devidamente anunciado. Os bens, vendidos em praça, podem ser adquiridos pelo próprio exeqüente, caso em que a esse ato de compra dá-se o nome de adjudicação, ou por terceiro estranho ao processo, quando teremos a arrematação. (...) No processo trabalhista, ao contrário do processo civil, a adjudicação tem preferência (CLT, art. 888, §1.º). Os bens são vendidos pelo maior lance (CLT, art. 888, §1.º). Não havendo licitantes, os bens são vendidos por leiloeiro (CLT, art. 888, §3.º)” (Curso de Direito Processual do Trabalho. 10.ª ed. SP: Saraiva, 1989. p. 284).

Apesar disso, a pedido do exeqüente, estas formas de

alienação podem ser substituídas, conforme destacam Luiz Guilherme Marinoni e

Sérgio Cruz Arenhart78:

As duas formas de hasta pública podem ser, a requerimento do exeqüente, substituídas pela alienação dos bens penhorados por meio da rede mundial de computadores (internet), “com uso de páginas virtuais criadas pelos Tribunais ou por entidades públicas ou privadas em convênio com eles firmado” (art. 689-A). O Conselho da Justiça Federal e os Tribunais de Justiça, no âmbito das suas respectivas competências, deverão regulamentar tal modalidade de alienação, “atendendo aos requisitos de ampla publicidade, autenticidade e segurança, com observância das regras estabelecida na legislação sobre certificação digital” (art. 689-A, parágrafo único).

Esta novidade tem feito sucesso, devido ao número de

pessoas que hoje tem acesso à internet, conferindo, assim, uma nova dimensão à

alienação pública de bens. Contudo, a dificuldade que se tem visto está em este

novo mecanismo manter o respeito à publicidade, proporcionar segurança e

autenticidade, o que é indispensável em um procedimento público.

78 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3:

execução. p. 319.

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Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart79 emitem

seu parecer:

Os grandes problemas desta forma de satisfação do credor são a sua demora e o seu formalismo. O detalhamento do procedimento de alienação, o excesso de cautelas adotadas e o seu elevado custo tornam a hasta pública desinteressante diante das outras opções hoje existentes. Ainda assim, seu histórico como meio padrão para a satisfação do credor faz crer que o seu uso continuará intenso.

Ainda, existe a alienação por iniciativa particular, sobre a

qual argumentam Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart80:

Outra forma predisposta pela lei para satisfação do crédito – uma novidade, em relação ao regime anterior à Lei 11.382/2006 – consiste na alienação dos bens penhorados, por iniciativa particular do próprio exeqüente ou por intermédio de corretor credenciado perante o Poder Judiciário (art. 685-C do CPC). Trata-se de forma de alienação que, ao contrário do procedimento da alienação em hasta pública, é confiada a um particular, cuja atividade é controlada pelo juiz.

O pedido de alienação particular deve ser feito após a

avaliação, assim como funciona na adjudicação, sendo este requerimento

privativo do exeqüente. Feito tal pedido, o magistrado fixa o prazo em que a

alienação deverá ser finalizada, bem como a forma e a extensão de sua

publicidade, o preço mínimo para alienar o bem, as condições de pagamento e as

garantias exigidas, tudo em conformidade com o art. 685-C, §1.º, do Código de

Processo Civil.

79 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3:

execução. p. 319. 80 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3:

execução. p. 317.

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2.6 O PAGAMENTO AO CREDOR

Trata-se da fase final da Execução, momento este que

caracteriza-se pelo pagamento pelo órgão judicial ao credor através do que foi

alcançado pela expropriação dos bens penhorados ao devedor.

Normalmente o que ocorre é a entrega ao credor do dinheiro

arrecadado mediante a alienação judicial do bem, o que acarreta a extinção da

Execução, em conformidade com o artigo 794, I, do Código de Processo Civil.

O pagamento pela entrega do dinheiro é a forma mais

autêntica de finalizar a Execução por Quantia Certa, esta ocorre mediante a

expropriação dos bens do devedor, através da remição ou da arrematação,

resultando no depósito do preço à ordem judicial. Também deve-se considerar a

hipótese de esta forma de pagamento ocorrer quando a Penhora recair

primeiramente sobre dinheiro, ou ainda quando o devedor efetuar a quantia da

dívida exeqüenda.

Contudo, não há apenas a hipótese de se pagar mediante

entrega de dinheiro, conforme aduz Humberto Theodoro Júnior81:

A entrega do dinheiro ao credor, porém, não é a única forma de pagamento prevista no sistema da execução por quantia certa. Representa a realização da obrigação originária, ou seja, o pagamento da quantia a que se obrigou o devedor, na mesma substância prevista no título executivo. Mas o Código prevê formas alternativas de satisfazer o direito do credor, mesmo sem lhe entregar a importância de dinheiro inicialmente reclamada em juízo. Assim é que o art. 708 indica três maneiras de pagamento, com que se pode encerrar essa modalidade de execução, a saber: I – a entrega do dinheiro; II – a adjudicação dos bens penhorados; III – o usufruto de bem imóvel ou de empresa.

As demais formas de satisfação do credor, elencadas no

artigo 708, do Código de Processo Civil, são admitidas somente no caso de ser

81 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Processo de

Execução de Processo Cautelar : Humberto Theodoro J únior . p. 338.

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inviável ao devedor efetuar o pagamento em dinheiro. Sobre o pagamento por

adjudicação de bens, descreve Humberto Theodoro Júnior82:

A adjudicação é uma figura assemelhada à dação em pagamento, uma forma indireta de satisfação do crédito do exeqüente, que se realiza pela transferência do próprio bem penhorado ao credor, para extinção de seu direito. Em lugar da soma de dinheiro, que é objeto específico da execução por quantia certa, na adjudicação o credor recebe bens outros do executado, numa operação, porém, que nada tem de contratual, pois participa da mesma natureza da arrematação, como ato executivo ou de transferência forçada de bens, sob a forma de expropriação. Conceitua-se, portanto, a adjudicação como ato de expropriação executiva em que o bem penhorado se transfere in natura para o credor, fora da arrematação.

O Código de Processo Civil enuncia as formas de

pagamento, mencionando, entre elas, a “a adjudicação dos bens penhorados”,

porém só regula a “adjudicação de imóvel”. Sobre esta questão, comenta

Humberto Theodoro Júnior83:

(...) a exegese que tem prevalecido, doutrinária e jurisprudencialmente, é a de que não se deve excluir a possibilidade de adjudicação, também, das coisas móveis. Se não houve regulamentação legal especificada para a adjudicação desses bens foi porque o legislador a considerou singela a ponto de dispensar maior disciplinamento. Além disso, a lacuna da lei pode, perfeitamente, ser suprida pela analogia, visto que inexistindo vedação à adjudicação dos móveis, nada impede que se lhes apliquem as regras pertinentes aos imóveis, no que for cabível.

82 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Processo de

Execução de Processo Cautelar : Humberto Theodoro J únior . p. 343. 83 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Processo de

Execução de Processo Cautelar : Humberto Theodoro J únior. p. 343.

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Ainda, há de se falar sobre o pagamento por usufruto de

bem móvel ou imóvel, sobre o qual versam Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz

Arenhart84:

O último instrumento previsto no CPC para a satisfação do crédito pecuniário é o usufruto judicial de bens móveis ou imóveis85. Através dele não se expropria o bem, mas apenas, por período limitado de tempo, o poder de fruir que lhe é inerente, objetivando-se realizar o crédito executado com os frutos e rendimentos do bem. A figura constitui forma de direito real limitado, dotado de características próprias, decorrentes de sua origem judicial. A sua constituição gera efeitos perante terceiros – a partir da publicação da decisão concessiva (art. 718 do CPC) e independentemente de registro na matrícula do imóvel –, produzindo a separação dos poderes inerentes à propriedade. O bem permanece de titularidade de seu primitivo dono, mas alguns dos poderes da propriedade são entregues ao exeqüente, eventualmente representado por administrador.

Tal instituto possui um pressuposto básico, que é a

existência de bem penhorado apto a produzir frutos ou rendimentos. Já que o

usufruto incide sobre este produto, se não houver esta capacitação de produção

de frutos ou rendimentos, torna-se inviável tal forma de pagamento.

Ainda, importante destacar que esta maneira de

expropriação deve respeitar os princípios do resultado e do menor sacrifício do

executado, em conformidade com o artigo 716, do Código de Processo Civil, o

que significa que, existindo forma diversa e igualmente eficiente, que seja menos

onerosa ao executado, esta deve ter preferência sobre o usufruto judicial.

Por conseguinte, no próximo capítulo, será abordada,

especificamente a Penhora On-line e a forma de sua aplicação, objetivando

elucidar a respeito de suas espécies, das regras do sistema Bacen-Jud, das

84 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3:

execução. p. 326. 85 Não existe, no sistema atual, o usufruto de empresa, anteriormente previsto. Agora, somente os

bens poderão ser objeto de usufruto, o que se justifica em razão da possibilidade de alienação de empresa e pela permissão expressa de penhora e alienação do seu faturamento e dos seus bens.

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vantagens de valer-se deste novo instituto, demonstrando o que entende a

jurisprudência brasileira a respeito.

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CAPÍTULO 3

A PENHORA ON-LINE E SUA APLICAÇÃO NO PROCESSO DE EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR

SOLVENTE

3.1 CONCEITOS E OBJETIVOS DA PENHORA ON-LINE

A Penhora On-line é o bloqueio de contas bancárias para o

pagamento de débitos por ordem da Justiça. Tal medida é realizada graças ao

sistema Bacen-Jud, de criação do Banco Central (Bacen), e em vigor desde o ano

de 2001, através de convênios assinados entre o Banco Central e o Judiciário.

A respeito,comentam Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz

Arenhart86:

A penhora de dinheiro é a melhor forma de viabilizar a realização do direito de crédito, já que dispensa todo o procedimento destinado a permitir a justa e adequada transformação de bem penhorado – como o imóvel – em dinheiro, eliminando a demora e o custo de atos como a avaliação e a alienação do bem a terceiro.

Ainda, percebe-se outra vantagem em tal espécie de

Penhora, qual seja, oportunizar ao exeqüente exatamente a quantia de que

necessita para ter seu direito satisfeito, o que é difícil quando ocorre Penhora de

bens móveis ou imóveis, já que estes possuem valor muito relativo e vão à leilão

público, podendo ser arrematado até mesmo por valor inferior ao de mercado.

A interpretação do art. 655, I, do Código de Processo Civil,

permitia apenas que o devedor fizesse a nomeação de bens, obedecendo a

ordem prevista, que falava em “dinheiro em espécie”, não mencionando o dinheiro

que pudesse estar depositado em banco. Com isso, o devedor ficava livre para

86 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3:

execução. p. 270.

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indicar outro bem, dando-o a oportunidade de protelar o pagamento de seu

débito.

Todavia, a mudança trazida pela Lei 11.382/2006, dá nova

redação ao inciso I, do art. 655, do Código de Processo Civil, a qual deixa

explícito que o primeiro bem da ordem legal a ser nomeado é o “dinheiro, em

espécie ou em depósito ou aplicação em instituição financeira”.

A fim de possibilitar a efetividade do inciso I, do art. 655, do

Código de Processo Civil, a referida lei instituiu o art. 655-A, nos termos

seguintes: “Para possibilitar a penhora de dinheiro em depósito ou aplicação

financeira, o juiz, a requerimento do exeqüente, requisitará à autoridade

supervisora do sistema bancário, preferencialmente por meio eletrônico,

informações sobre a existência de ativos em nome do executado, podendo no

mesmo ato determinar sua indisponibilidade, até o valor indicado na execução”.

A respeito do sistema que possibilitou a Penhora On-line,

argumentam Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart87:

Ora, se o exeqüente, para penhorar dinheiro, necessita saber se o executado possui – e em que local – dinheiro depositado em instituição financeira, ele deve ter ao seu dispor uma forma que lhe garanta esta verificação. Para viabilizar o acesso a tais informações, o Superior Tribunal de Justiça, o Tribunal Superior do Trabalho e o Conselho da Justiça Federal firmaram convênio com o Banco Central – há bastante tempo “Juízes Federais têm acesso on-line às bases de dados da PF e do Bacen. O magistrado da Justiça Federal do Brasil pode ter acesso on-line às bases de dados do Departamento de Polícia Federal e do Banco Central do Brasil – Bacenjud, mediante convênios firmados entre essas instituições e o Superior Tribunal de Justiça, o Conselho da Justiça Federal, os Tribunais Regionais Federais e suas respectivas Seções Judiciárias. Apesar da utilidade das informações que se podem obter com o acesso a esses serviços, muitos juízes federais não sabem da existência desses acordos de cooperação técnico-institucional que possibilitam o acesso aos sistemas da autoridade monetária, desde maio de 2001, e da

87 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3:

execução. p. 271-272.

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Polícia Federal, desde agosto de 2002, com cadastramento prévio dos magistrados (...)” (notícia do STJ do dia 25.05.2003; www.stj.gov.br). –, por meio do qual os juízes com senhas cadastradas têm acesso, através da internet, a um sistema de consultas – desenvolvido pelo Banco Central do Brasil e denominado de Bacenjud.

Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart88

argumentam sobre a importância da Penhora através de meio eletrônico:

Não há dúvida de que a penhora on-line é a principal modalidade executiva destinada à execução pecuniária, razão pela qual não se pode negá-la ao exeqüente, argumentando-se, por exemplo, não ter o órgão judiciário como proceder a tal forma de penhora ou não possuir o juiz da causa a senha imprescindível para tanto. Como é óbvio, qualquer uma destas desculpas constituirá violação do direito fundamental do exeqüente e falta de compromisso do Estado ao seu dever de prestar a justiça de modo adequado e efetivo.

Ainda, Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart

entendem que tal medida não implica em ofensa aos princípios da ampla defesa e

do contraditório, já que, como de praxe, o executado é intimado sobre a

constrição, tendo o direito de apresentar embargos ou impugnação no prazo legal.

A respeito, dispõem89:

Como é óbvio, não há qualquer violação de intimidade ao se obter informações a respeito da existência de conta corrente ou aplicação financeira. Ora, se o exeqüente não tivesse direito de saber se o executado possui conta corrente ou aplicação financeira, o executado certamente não teria o dever de indicar à penhora dinheiro depositado ou aplicado em instituição financeira. Ou melhor, todos teriam o direito de esconder da justiça as suas contas correntes e aplicações financeiras!!

88 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3:

execução. p. 273-274. 89 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3:

execução. p. 272.

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Há igualmente quem defenda que a Penhora On-line coloca

em risco a atividade empresarial, ao passo que compromete a realização de

investimentos imprescindíveis à manutenção do negócio, bem como o pagamento

dos salários dos empregados. Sob esta linha de pensamento, dispõe Gustavo

Villar Mello Guimarães90:

Ao passo que devem ser criadas formas de agilizar o pagamento das ações trabalhistas, diminuindo o tempo de vida útil destas ações nos tribunais, é certo também que estas medidas devem dar um mínimo de segurança jurídica aos executados. As medidas a serem implantadas devem ser sinônimo de agilidade, e não de insegurança.

Da mesma forma, argumenta João Ricardo Jordan91:

(...) a prática da penhora on-line de forma temerária e indiscriminada merece reflexão, ante o risco de bloqueio de quantia imprescindível para as empresas manterem seu negócio em atividade, principalmente colocando em risco o pagamento dos salários de empregados ativos, privilegiando o individual em detrimento do coletivo.

Ainda aduz que92:

A sistemática processual cível brasileira assenta-se sobre a premissa de que a constrição judicial deve ser efetuada na forma menos onerosa ao devedor, respeitando-se o princípio da “execução menos gravosa para o devedor”, conforme já falara Enrico Liebman Alhures. Este princípio foi consolidado para que se preservasse o interesse social e coletivo sobre o interesse individual, evitando-se que a execução da dívida fosse impiedosa contra o devedor.

É perceptível o conflito de entendimentos sobre a Penhora

On-line. Existem questionamentos sobre se seria possível proceder a esta como

primeira medida para a satisfação do Crédito exeqüendo. Os que vão contra,

90 Ordem dos Advogados do Brasil/Seção Santa Catarina, N. 115, Setembro 2004, p. 24. 91 Ordem dos Advogados do Brasil/Seção Santa Catarina, N. 113, Abril 2004, p. 12. 92 Ordem dos Advogados do Brasil/Seção Santa Catarina, N.113, Abril 2004, p. 11-12.

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argumentam que é um absurdo admitir a Penhora On-line como primeira forma de

satisfazer o exeqüente, defendendo que esta medida agride o princípio da menor

onerosidade da execução e viola a garantia à privacidade e ao sigilo bancário. Em

contrapartida, quem defende a Penhora On-line, sustenta que esta medida é um

grande avanço, uma vez que proporciona celeridade e economia processual às

execuções, na procura pela satisfação do exeqüente.

3.2 ESPÉCIES DE PENHORA ON-LINE

Conforme o §6.º, do art. 659, do Código de Processo Civil,

instituído pela Lei n.º 11.382, de 2006, é permitido que a Penhora de Crédito

(numerário), a Penhora de bens imóveis e a Penhora de bens móveis se efetue

através de meios eletrônicos.

Desta maneira, será abordada, nos próximos subtítulos, a

Penhora On-line, nas três formas em que é admitida: de crédito, de bens imóveis

e de bens móveis, com suas respectivas características procedimentais.

3.2.1 Penhora on-line de dinheiro (art. 655-A e art. 659, §6º, CPC)

O art. 655-A, do Código de Processo Civil, acrescentado

pela Lei n. 11.382 de 06 de dezembro de 2006, trata da Penhora de dinheiro ou

Crédito, dispondo que o juiz pode, a requerimento do exeqüente, requisitar ao

Banco Central, de preferência através do Sistema Bacen-Jud, informações

atinentes à existência de valores em conta do executado, podendo, ainda, neste

mesmo ato, determinar o bloqueio de eventual valor encontrado, o quanto baste

para a satisfação da Execução.

O §1.º, do art. 655-A, do Código de Processo Civil, dispõe

que: “as informações limitar-se-ão à existência ou não de depósito ou aplicação

até o valor indicado na execução”, garantindo ao executado que a medida de

bloqueio recairá apenas sobre o valor de sua dívida, respeitando este limite.

Como não cabe ao exeqüente obter informações a respeito

dos movimentos bancários anteriores, o §2.º, do art. 655-A, do Código de

Processo Civil, dispõe que: “Compete ao executado comprovar que as quantias

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depositadas em conta corrente referem-se à hipótese do inciso IV do caput do art.

649 desta Lei ou que estão revestidas de outra forma de impenhorabilidade”. Por

sua vez, o art. 649, caput, e seu inciso IV, do Código de Processo Civil,

demonstra: “são absolutamente impenhoráveis: (...) IV – os vencimentos,

subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria, pensões,

pecúlios e montepios; as quantias recebidas por liberalidade de terceiros e

destinadas ao sustento do devedor e sua família, os ganhos de trabalhador

autônomo e os honorários de profissional liberal, observado o disposto no §3.º

[vetado] deste artigo”.

Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart93

complementam, argumentando, que:

Como é evidente, no momento em que a penhora on-line é realizada, é impossível saber se o valor está gravado por alguma forma de impenhorabilidade. Em razão disto, e como não poderia ser de outra forma, a lei posterga o exame desta questão, impondo ao devedor o ônus de alegar e provar a existência de razão que inviabilize a penhora do valor indisponibilizado (art. 655-A, §2º, do CPC).

Pelas razões acima expostas, além de caber ao devedor

alegar e comprovar que o valor, se for o caso, é impenhorável por alguma razão,

das dispostas no artigo 649, caput e inciso IV, do Código de Processo Civil, cabe

a este o dever de, caso haja excesso de Penhora, requerer a sua correção, seja

por impugnação, seja através de embargos à Execução.

Ainda, a fim de evitar prejuízos à pessoa jurídica, estabelece

o §3.º, do art. 655-A, do Código de Processo Civil que: “Na penhora de percentual

do faturamento da empresa executada, será nomeado depositário, com a

atribuição de submeter à aprovação judicial a forma de efetivação da constrição,

bem como de prestar contas mensalmente, entregando ao exeqüente as quantias

recebidas, a fim de serem imputadas no pagamento da dívida”.

93 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil, volume 3:

execução. p. 273.

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3.2.2 Penhora on-line de bens imóveis (art. 659, § 6º, CPC)

Uma das mudanças trazidas pela Lei nº 11.382, de 2006, foi

a possibilidade de, além de a penhora de dinheiro, a penhora de bens imóveis e

móveis ser realizada por meio eletrônico. Sobre esta questão, o Conselho

Nacional de Justiça94, em 03 de maio deste ano, publicou o seguinte:

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) estuda a criação de um sistema de informações que integre cartórios extrajudiciais e magistrados de todo o País. O sistema possibilitará, por exemplo, a penhora online de bens imóveis. O projeto será apresentado pelo juiz auxiliar da Presidência do CNJ Alexandre Azevedo às 16h30 desta quinta-feira (03/05), no Encontro Nacional de Corregedores de Justiça, que se realiza na sede do Supremo Tribunal Federal (STF).

No dia seguinte, em 04 de maio, o Conselho Nacional de

Justiça publicou informações acerca do Encontro Nacional de Corregedores de

Justiça95, conforme segue:

Corregedores de Justiça de todo o País concluem encontro na tarde desta sexta-feira (04/05) com manifestação sobre assuntos como impunidade e fundo de recuperação do Judiciário. O evento, promovido pela Corregedoria Nacional de Justiça, órgão do Conselho Nacional de Justiça, reúne desde quarta-feira (02/05) cerca de 150 magistrados de quatro ramos do Judiciário (Estadual, Federal, Trabalhista e Militar). Agora pela manhã, os participantes debatem o funcionamento de cartórios judiciais e extrajudiciais. Uma das propostas é a formalização de convênio entre CNJ e cartórios extrajudiciais, com o objetivo de interligar as bases de dados dos cartórios de todo o País, com acesso aos magistrados. Esta iniciativa permitirá ao Judiciário ações mais efetivas na agilização de execuções, como a penhora online de veículos e de imóveis. "É um anseio de todo o Poder Judiciário

94 Conselho quer acesso de juízes a informações dos ca rtórios. Disponível em:

<http://www.cnj.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=2937&Itemid=167>. Acesso em 13 out.2007.

95 Corregedores apresentam conclusões. Disponível em: <http://www.cnj.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=2942&Itemid=167>. Acesso em 13 out.2007.

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que o convênio seja firmado," diz a juíza Maria do Céo de Avelar, corregedora do Tribunal Regional do Trabalho de Santa Catarina.

Tem-se a notícia de que a cidade de São Paulo começará a

implantar a Penhora On-line de bens imóveis dentro de pouco tempo, conforme

artigo datado de 23 de agosto deste ano, a seguir96:

A cidade de São Paulo deve implantar a penhora on-line de imóveis no prazo entre um e dois meses, segundo o presidente da Associação dos Registradores Imobiliários de São Paulo (Arisp), Flauzilino Araújo dos Santos. A iniciativa, pioneira no Brasil, deve começar com um projeto piloto com duração de seis meses , que será acompanhado pela Corregedoria Geral do Tribunal de Justiça de São Paulo. Depois disso, será estendido para outras cidades do estado. Enquanto ocorrem os testes, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) já começou a organizar um projeto de interligação de dados dos cartórios ainda mais abrangente e que será usado obrigatoriamente em todo o País.

Com esta implantação, será possível que o bloqueio de

venda de imóveis, que antes demandava um período de três a quatro meses, seja

feito em poucos minutos. Esta inovação tem por objetivo acelerar o procedimento

de penhora de bens imóveis, evitando que haja mais fraudes em execução, e

garantindo que os credores satisfaçam sua tutela jurisdicional com menos atos

burocráticos. Espera-se, também, que o negócio imobiliário se torne mais seguro,

já que haverá menos casos de venda de imóveis que são alvos de execução97.

A cidade de São Paulo já possui em funcionamento um

sistema de ofício eletrônico, portanto o que se pretende é aprimorar este sistema.

Após a implantação do sistema no Estado de São Paulo, a intenção é que os

demais estados também implantem. O Conselho Nacional de Justiça inclusive já

96 São Paulo começa a implantar penhora on-line de imó veis . Disponível em:

http://www.escrevente.com/index.php?option=com_content&task=view&id=30&Itemid=32. Acesso em10 out.2007.

97 São Paulo começa a implantar penhora on-line de imó veis . Disponível em: http://www.escrevente.com/index.php?option=com_content&task=view&id=30&Itemid=32. Acesso em 10 out.2007.

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criou um grupo de discussão com as entidades dos segmentos dos cartórios, para

avaliar como esse projeto será implantado98.

A respeito da implantação do sistema de Penhora eletrônica

de bens imóveis no restante do Brasil, tem-se a informação de que99:

Segundo o membro do CNJ, na última reunião, ocorrida semana passada, ficou decidido que todas as entidades de segmentos de cartórios deverão procurar nos seus estados o que já existe de sistema eletrônico que pudesse servir de base para a interligação. Daqui a um mês o grupo deverá se reunir para apresentar os resultados encontrados. Com a escolha do sistema de base, a área de tecnologia deverá ser consultada para avaliar qual será o prazo para que sejam desenvolvidos os outros instrumentos que ainda não existem. "O sistema deverá ser implantado obrigatoriamente em todos os cartórios do Brasil". (...). Para garantir a credibilidade do sistema, o processo de autorização de bloqueio de bens só poderá ser feito pelos juízes que forem habilitados pelo processo de certificação eletrônica da Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileiras (ICP-Brasil). Segundo o diretor da ICP-Brasil, Mauricio Coelho, "é preciso que haja segurança de que aquela ordem de penhora partiu mesmo do juiz da causa, e não de terceiros".

Em relação a forma pela qual este sistema fará a Penhora

On-line de bens imóveis, no estado de São Paulo, observa-se o seguinte100:

A implantação do sistema será feita a partir de uma comunicação entre os servidores da Justiça paulista e os cartórios de imóveis. "Queremos minimizar a burocracia", diz Carlos Fonseca Monnerat, juiz responsável pelo setor de informática da Corregedoria da Justiça de São Paulo. Segundo Flauzilino Araújo dos Santos, presidente da Arisp, a penhora on line estará funcionando em até 30 dias. O sistema eletrônico permitirá a averbação da penhora e

98 São Paulo começa a implantar penhora on-line de imó veis . Disponível em:

http://www.escrevente.com/index.php?option=com_content&task=view&id=30&Itemid=32. Acesso em 10 out.2007.

99 São Paulo começa a implantar penhora on-line de imó veis . Disponível em: http://www.escrevente.com/index.php?option=com_content&task=view&id=30&Itemid=32. Acesso em 10 out.2007.

100 Penhora on line de imóveis sai em um mês . Disponível em: <http://www.juspodivm.com.br/noticias/noticias_1749.html>. Acesso em 10 out.2007.

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seu cancelamento posterior. Os emolumentos - taxas cobradas pelos serviços de cartórios - poderão ser pagos através de um boleto emitido pelo sistema eletrônico. A Arisp será a responsável pelos custos referentes à operação do novo sistema. De acordo com Flauzilino, o órgão já possui uma infra-estrutura de informática que dará suporte à penhora, além de uma equipe de tecnologia. Por enquanto, a penhora on line de imóveis será facultativa, mas a intenção da corregedoria da Justiça paulista é, após a fase de adaptação, proibir a emissão de ofícios de penhora em papel.

O Conselho Nacional de Justiça discute a forma de

disponibilizar a Penhora On-line de bens móveis, para que esta siga o exemplo da

Penhora On-line de contas bancárias, realizada através do sistema Bacen-Jud,

criado no ano de 2001, afinal tanto a Penhora On-line de dinheiro, como a de

bens imóveis e móveis, possui autorização legal, nos termos do §6.º, do art. 659,

do Código de Processo Civil.

3.2.3 Penhora on-line de bens móveis (art. 659, § 6º, CPC)

Sobre a Penhora On-line de bens móveis, o Conselho

Nacional de Justiça101, em 04 de setembro de 2006, se manifestou da seguinte

forma:

Em breve, a Justiça poderá restringir a circulação de veículos por meio de procedimentos on-line. Essa foi uma das definições do grupo de trabalho do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que trabalha juntamente com o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), com o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) e com da Secretaria da Reforma do Judiciário, do Ministério da Justiça, para a implementação do sistema on-line de penhora de veículos. Assim que for implementado o sistema, magistrados poderão restringir, além da circulação, também a transferência, o licenciamento e a penhora de veículos. Além disso, discutiu-se na reunião como será a implementação do sistema e como será utilizada a base de dados do Registro Nacional de Veículos Auto motores, o Renavam.

101 Justiça poderá restringir on-line a circulação de v eículos. Disponível em:

<http://www.cnj.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=2534&Itemid=167>. Acesso em 14 out.2007.

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O objetivo da implementação deste sistema é o mesmo do

Bacen-Jud, que procede a Penhora On-line de dinheiro, e do sistema que

estabelecerá a Penhora On-line de bens imóveis: facilitar o andamento dos

processos, tornando a Justiça mais eficaz.

O sistema virtual de bloqueio de transferência de veículos

permite que o juiz determine pela internet, em tempo real, a restrição de

transferência de propriedade de veículos, mantendo comunicação direta com o

Departamento Nacional de Trânsito (Denatran)102.

Em 27 de abril de 2006, a Corregedoria-Geral da Justiça de

Santa Catarina103 se manifestou da seguinte maneira:

A Secretaria da Reforma do Judiciário do Ministério da Justiça lançou uma campanha para levar o sistema de penhora on line, criado pelo Banco Central em 2001, para os cadastros nacionais de veículos e registros de imóveis. A "super penhora" começará a ser implantada pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), sob o nome de "restrição judicial on line", com previsão para começar a operar em outubro. O sistema permitirá o bloqueio de veículos, impedindo a transferência de propriedade. Para o bloqueio de imóveis a saída será operacionalizar um sistema elaborado pela Associação Nacional dos Notários e Registradores (Anoreg), permitindo o envio de ordens judiciais pela internet a todos os cartórios de imóveis do país.

Ainda, tem-se a informação datada de 30 de novembro de

2006, a seguir104:

A partir do início do próximo ano, devedores podem ter seus veículos bloqueados para a venda, circulação e licenciamento por

102 Justiça poderá restringir on-line a circulação de v eículos . Disponível em:

<http://www.cnj.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=2408&Itemid=167>. Acesso em 14 out.2007.

103 DIAS, Vânia Maria Mallada. Super Penhora – Sistema atingirá carros e imóveis . TEIXEIRA, Fernando. Sistema atingirá carros e imóveis . Disponível em: <http://cgj.tj.sc.gov.br/bacen/noticias/lopespinto.htm>. Acesso em 15 out.2007.

104 AGUIAR, Adriana. Veículo: Diário Comércio, Indústria e Serviços – 30 /11/06. Justiça começará a bloquear venda de veículos por Internet . Disponível em: <http://www.denatran.gov.br/Clipping/20061130.htm>. Acesso em 15 out.2007.

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sistema semelhante à penhora on-line. A afirmação é de Douglas Rodrigues, conselheiro do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que coordena a Comissão de Informatização. O acordo para a implementação do sistema foi firmado na terça-feira pela presidente do CNJ e do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Ellen Gracie, e pelos ministros da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, e, das Cidades, Marcio Fortes de Almeida. O juiz poderá fazer através do Sistema de Restrição Judicial (Renajud), que funcionará interligado ao Registro Nacional de Veículos Automotores (Renavam), desde uma simples pesquisa até determinar pela Internet, em tempo real, a apreensão do veículo, caso seja parado por alguma fiscalização policial. As ordens judiciais serão encaminhadas para o Ministério das Cidades, responsável por coordenar o sistema. A penhora on-line de veículos estará disponível para todos os ramos do Judiciário, não só para a Justiça do Trabalho. Todos os tribunais terão acesso a senhas para tornar os automóveis indisponíveis para operações de forma imediata.

Em 26 de março deste ano, foi publicado no site do

Conselho Nacional de Justiça um acordo de cooperação técnica, celebrado entre

a União, por intermédio dos Ministérios das Cidades e da Justiça e o Conselho

Nacional de Justiça, com a finalidade de implementação do Sistema de Restrição

Judicial – Renajud105.

Este termo de cooperação técnica dispõe as obrigações dos

Ministérios das Cidades, do Ministério da Justiça, e do Conselho Nacional de

Justiça em relação ao Sistema Renajud.

3.3 REGRAS DO BACEN-JUD 2.0 PARA REALIZAÇÃO DA PENHORA ON-

LINE

O sistema denominado Bacen-Jud foi criado através de um

convênio firmado entre o Poder Judiciário e o Banco Central do Brasil. O projeto

que desenvolveu o Sistema Bacen-Jud (atualmente Bacen-Jud 2.0) foi feito pelo

105 Acordo de Cooperação Técnica – Renajud . Disponível em:

<http://www.cnj.gov.br/index.php?Itemid=137&id=2845&option=com_content&task=view>. Acesso em 14 out.2007.

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Banco Central e por representantes dos Tribunais Superiores (TST, STJ e CJF),

com a finalidade de aperfeiçoar o sistema antigo (Bacen-Jud 1.0).

O acesso ao sistema é feito através do site:

http://www.bcb.gov.br, pelo link do Bacen Jud 2.0, ou então diretamente pelo

endereço: http://www3.bcb.gov.br/bacenjud2/106.

Quanto aos usuários do sistema, são eles: a) master; b)

magistrado; c) servidor (assessor); d) gerenciador; e) mantenedor de contas

únicas para bloqueio; f) mantenedor do cadastro de Varas e Juízos; e g)

mantenedor do cadastro de hierarquia dos Tribunais. O manual básico do Bacen-

Jud 2.0 só prevê atribuições para os magistrados e servidores. Aos magistrados é

permitido digitar, gravar e enviar as ordens judiciais às instituições financeiras, e

aos servidores (assessores) é permitida apenas a digitação e a gravação de

ordens judiciais, as quais são protocoladas e enviadas posteriormente pelos

magistrados107.

Segundo o Manual Básico do Bacen-Jud 2.0, o sistema

funciona da seguinte forma:

No primeiro dia, o Poder Judiciário envia (protocola) a ordem

judicial de bloqueio até às 19 horas. Em seguida, o Banco Central consolida as

ordens recebidas do Poder Judiciário, gera arquivos de remessa e os disponibiliza

às instituições financeiras (bancos) até às 23 horas. No segundo dia, as

instituições financeiras cumprem a ordem de bloqueio, geram arquivo de resposta

e o enviam ao Bacen-Jud até às 23h59. No terceiro dia, o Banco Central trata os

arquivos de resposta e disponibiliza as informações aos juízos até às 8 horas. O

Poder Judiciário acessa as informações e protocola as novas ordens necessárias,

como transferência e desbloqueio, até às 19 horas. O Banco Central consolida as

106 Banco Central do Brasil. Bacen-Jud 2.0 Sistema de Atendimento do Poder Judic iário.

Manual Básico. Disponível em: <http://ww2.tj.es.gov.br/cfmx/portal/Novo/PDF/Manual_Basico_Bacen_Jud2.0.pdf>. Acesso em 03 out.2007. p. 06.

107 Banco Central do Brasil. Bacen-Jud 2.0 Sistema de Atendimento do Poder Judic iário. Manual Básico. Disponível em: <http://ww2.tj.es.gov.br/cfmx/portal/Novo/PDF/Manual_Basico_Bacen_Jud2.0.pdf>. Acesso em 03 out.2007. p. 04.

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novas ordens e as disponibiliza às instituições financeiras (bancos) até às 23

horas. Por conseguinte, no quarto dia, as instituições financeiras cumprem as

novas ordens judiciais, geram arquivo de resposta e o enviam ao Bacen-Jud até

às 23h59. Por fim, no quinto dia, o Banco Central trata os arquivos de resposta

das novas ordens e disponibiliza as informações aos juízos até às 8 horas108.

Atenta-se para o fato de que, tais informações referem-se

apenas a dias úteis bancários consecutivos, não considerando os finais de

semana e feriados109.

O Poder Judiciário não está vinculado ao prazo (ideal) que

foi acima disposto, não obstante, consta do manual a recomendação dessa

observância para que se tenha maior celeridade e agilização no referido

procedimento110.

O sistema atual continuará permitindo a emissão de ordens

judiciais de bloqueio, desbloqueio, solicitação de informações (saldos, extratos e

endereços de pessoas físicas e jurídicas clientes do Sistema Financeiro Nacional

– SFN), além de comunicação de decretação e extinção de falência. A essas

funcionalidades, o novo sistema acrescenta, entre outras: a) respostas eletrônicas

das instituições financeiras; b) ordens eletrônicas de transferência de valores

bloqueados para contas judiciais; c) controle de respostas das instituições

financeiras, com estatísticas de inadimplência; d) cadastro atualizado das

Varas/Juízos; e e) comunicado de suspensão e reativação de falência111.

108 Banco Central do Brasil. Bacen-Jud 2.0 Sistema de Atendimento do Poder Judic iário.

Manual Básico. Disponível em: <http://ww2.tj.es.gov.br/cfmx/portal/Novo/PDF/Manual_Basico_Bacen_Jud2.0.pdf>. Acesso em 03 out.2007. p. 04-05.

109 Banco Central do Brasil. Bacen-Jud 2.0 Sistema de Atendimento do Poder Judic iário. Manual Básico. Disponível em: <http://ww2.tj.es.gov.br/cfmx/portal/Novo/PDF/Manual_Basico_Bacen_Jud2.0.pdf>. Acesso em 03 out.2007. p.05.

110 Banco Central do Brasil. Bacen-Jud 2.0 Sistema de Atendimento do Poder Judic iário. Manual Básico. Disponível em: <http://ww2.tj.es.gov.br/cfmx/portal/Novo/PDF/Manual_Basico_Bacen_Jud2.0.pdf>. Acesso em 03 out.2007. p. 05.

111 Banco Central do Brasil. Bacen-Jud 2.0 Sistema de Atendimento do Poder Judic iário. Manual Básico. Disponível em:

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A maior vantagem com a mudança foi a respeito das

respostas das instituições financeiras. Antes, as instituições encaminhavam em

papel, pelo correio, o que, por vezes, demorava trinta dias ou até mais tempo para

chegar aos autos, agora são encaminhadas por via eletrônica e disponibilizadas

aos juízos no prazo aproximado de 48 (quarenta e oito) horas após a emissão da

ordem112.

No momento em que os magistrados acessam as respostas,

podem determinar, igualmente de forma eletrônica, a transferência dos valores

bloqueados para as instituições financeiras oficiais e o desbloqueio, em caso de

valores excedentes. Além disso, os juízes têm controle sobre o cumprimento das

ordens solicitadas às instituições financeiras, possuindo, à sua disposição um

percentual de inadimplência para, se for o caso, tomar as medidas cabíveis113.

O sistema Bacen-Jud 2.0 também pesquisa

automaticamente, através do cadastro da Secretaria da Receita Federal, o

número de CPF e/ou o CNPJ destinatários do bloqueio e demonstra na tela o

nome do seu respectivo titular para conferência114.

<http://ww2.tj.es.gov.br/cfmx/portal/Novo/PDF/Manual_Basico_Bacen_Jud2.0.pdf>. Acesso em 03 out.2007. p. 03.

112 Banco Central do Brasil. Bacen-Jud 2.0 Sistema de Atendimento do Poder Judic iário. Manual Básico. Disponível em: <http://ww2.tj.es.gov.br/cfmx/portal/Novo/PDF/Manual_Basico_Bacen_Jud2.0.pdf>. Acesso em 03 out.2007. p. 03.

113 Banco Central do Brasil. Bacen-Jud 2.0 Sistema de Atendimento do Poder Judic iário. Manual Básico. Disponível em: <http://ww2.tj.es.gov.br/cfmx/portal/Novo/PDF/Manual_Basico_Bacen_Jud2.0.pdf>. Acesso em 03 out.2007. p. 03.

114 Banco Central do Brasil. Bacen-Jud 2.0 Sistema de Atendimento do Poder Judic iário. Manual Básico. Disponível em: <http://ww2.tj.es.gov.br/cfmx/portal/Novo/PDF/Manual_Basico_Bacen_Jud2.0.pdf>. Acesso em 03 out.2007. p. 03.

115 Banco Central do Brasil. Bacen-Jud 2.0 Sistema de Atendimento do Poder Judic iário. Manual Básico. Disponível em: <http://ww2.tj.es.gov.br/cfmx/portal/Novo/PDF/Manual_Basico_Bacen_Jud2.0.pdf>. Acesso em 03 out.2007. p. 03-04.

116 Banco Central do Brasil. Bacen-Jud 2.0 Sistema de Atendimento do Poder Judic iário. Manual Básico. Disponível em: <http://ww2.tj.es.gov.br/cfmx/portal/Novo/PDF/Manual_Basico_Bacen_Jud2.0.pdf>. Acesso em 03 out.2007. p. 04.

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Após essas, entre outras inovações, espera-se a

redução significativa do prazo de atendimento das ordens judiciais, a

padronização e a automação do seu tratamento pelas instituições financeiras, a

minimização do trâmite de papéis (ofícios judiciais) e maior segurança sistêmica,

tudo com o objetivo de propiciar aos cidadãos a efetiva entrega da prestação

jurisdicional115.

Frisa-se que o sistema continuará garantindo máxima

segurança, com o uso de tecnologia sofisticada de criptografia de dados, de

acordo com os padrões utilizados pelo Bacen116.

As demais regras acerca do sistema Bacen-Jud 2.0, ficarão

à disposição como anexo desta monografia.

3.4 AS VANTAGENS DA UTILIZAÇÃO DA PENHORA ON-LINE PELO PODER

JUDICIÁRIO

O sistema Bacen-Jud foi criado com o intuito de atenuar a

lentidão processual, possibilitando a celeridade dos processos, com o melhor uso

da tecnologia existente.

Na visão de Valter Souza Pugliesi117:

O sistema, que foi desenvolvido pelo Banco Central do Brasil, possibilitou uma maior agilidade e eficiência no procedimento de penhora, quer pela racionalização dos atos, quer pela diminuição de insucesso nas diligências, otimizando os atos processuais praticados. Não há ilegalidades ou inconstitucionalidades na utilização do sistema eletrônico, vez que, na perspectiva de uma nova metodologia, os atos observam as normas legais e o devido processo legal que assegura a preferência e precedência da penhora em dinheiro sobre qualquer outro bem.

O artigo 5º, da Constituição Federal de 1988, através da

Emenda Constitucional n.º 45, de 08 de dezembro de 2004, assegura a todos,

117 PUGLIESI, Valter Souza. Penhora “on line” . Disponível em:

<www.trt19.gov.br/saiba_mais/Artigo_Penhora_online.pdf> Acesso em 13 set.2006.

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quer no âmbito judicial ou administrativo, a razoável duração do processo e os

meios que garantam a celeridade na tramitação.

Dito isto, e evidenciando-se que a Penhora On-line é um

meio de trazer celeridade aos processos, é que se explica a introdução desta

forma de Penhora no ordenamento processual brasileiro.

Ainda, em contrapartida àqueles que recriminam a Penhora

On-line, comenta Valter Souza Pugliesi118:

Eventuais equívocos no processamento das ordens de bloqueio “on line”, como excesso de penhora ou mesmo demora no desbloqueio, que não são exclusividade do sistema podendo ocorrer pelo procedimento tradicional, não são argumentos suficientes para desqualificá-lo em razão, notadamente, dos avanços conquistados pela crescente solução dos processos de execução a partir da utilização da penhora eletrônica. Os ajustes são necessários e estão em andamento pelo Banco Central do Brasil, posto que, tratando-se de sistema de informática demanda permanente atualização, com correção de eventuais falhas que somente com a utilização são detectados.

Sobre a efetividade que a Penhora On-line trouxe à via

executiva, discorre Saulo Marques Mesquita119:

A situação agora é mais favorável ao credor, o que, inegavelmente, implica verdadeira homenagem ao princípio da efetividade. Ao invés de ficar à mercê da localização de eventuais bens para a satisfação do seu direito, pode o credor solicitar ao juízo o bloqueio de dinheiro pertencente ao devedor.

Nessa linha, argumenta-se que, o uso da Penhora On-line,

além de respeitar os limites constitucionais, destina-se a trazer efetividade ao

processo executivo, possibilitando ao Estado resgatar a credibilidade daqueles

que pretendem ver seu crédito satisfeito com celeridade.

118 PUGLIESI, Valter Souza. Penhora “on line” . Disponível em:

<www.trt19.gov.br/saiba_mais/Artigo_Penhora_online.pdf>. Acesso em 13 set.2006. 119 Revista Jurídica Consulex – Ano X – N. 233 – 30 de Setembro/2006, p. 59.

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69

3.5 A JURISPRUDÊNCIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA E A PENHO RA

ON-LINE

Há entendimentos jurisprudenciais no sentido de que a

Penhora On-line somente deveria ser efetuada quando todos os outros meios ao

alcance do interessado estivessem esgotados, ou seja, quando o exeqüente já

obtivesse consulta perante o Detran, Junta Comercial, Cartórios de Registros de

Imóveis, etc, todos infrutíferos. Desta forma é o entendimento do julgado do

Tribunal de Justiça de Goiás, conforme dispõe, e após argumenta, o especialista

em Direito Processual Civil pela PUC/COGEAE e certificado em Espanhol de

Negócios pela Câmara de Comércio de Madrid e Universidade de Alcalá, Antônio

Carlos de Oliveira Freitas120:

No que tange ao entendimento do Tribunal de Justiça de Goiás a peculiaridade que mais aflora nos julgados será adstrita ao fato de que a circunstância essencial para viabilizar a utilização do sistema denominado “Bacen Jud” está em que seu requerimento é possível apenas e tão-somente após transcorridas as diligências possíveis ao alcance do credor. Ora, tal situação ao mesmo tempo pretende estabelecer seu cunho mais cauteloso, mas, com isso, deixa margem para interpretações variadas, depende de cada magistrado que for analisar o caso em concreto o que ele tem em mente como sendo “todas as diligências ao alcance do interessado”.

Saulo Marques Mesquita121 discorda da jurisprudência do

Estado de Goiás, conforme discorre:

Não é razoável exigir que o credor percorra verdadeira via crucis, à cata de bens do devedor, sobretudo quando não há dúvidas quanto ao seu direito. É necessário desburocratizar o processo. O que torna ainda mais injustificável o posicionamento jurisprudencial mencionado é que a penhora on-line é um instrumento que se destina exatamente a viabilizar o acesso à efetividade. Não é conveniente, portanto, que os tribunais

120 Revista do Processo – Ano 32 – N. 144 – fev/2007, p. 158. 121 Revista Jurídica Consulex – Ano X – N. 233 – 30 de Setembro/2006, p. 59.

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70

estabeleçam uma condição para seu manejo, sobretudo quando se sabe que a própria lei não o fez.

Há, ainda, opiniões defendendo que a Penhora On-line viola

as garantias constitucionais da intimidade e da vida privada, conforme comenta

Micael Galhano Feijó122:

Percebe-se então, claramente, que todos os princípios a serem observados pelo juízo da execução, especialmente o da menor onerosidade do devedor na execução, foram aniquilados pelo Poder Judiciário pátrio, e por isso, tem-se a violação do devido processo legal, da ampla defesa e do sigilo de dados e da privacidade. Sim, a conclusão é de que estamos diante de um convênio inconstitucional, formalizado entre o Poder Judiciário e o Banco Central do Brasil. Notem, que a Carta Magna, em seu art. 5°, incisos X e XII, declara: "X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; ... XII – é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal;"

Saulo Marques Mesquita123 argumenta que, assim como a

Constituição Federal estabelece tais garantias, igualmente assegura à todos que

o processo tenha duração razoável e que se existirem meios que garantam a

celeridade em sua tramitação, estes sejam utilizados. Partindo deste

apontamento, dispõe que:

Há, portanto, aparente conflito de princípios constitucionais. No caso, como é cediço, resolve-se a questão mediante a utilização dos princípios da proporcionalidade e da convivência das liberdades públicas. Nessa linha, como vaticina o ilustre membro do Conselho Nacional da Justiça, Alexandre de Moraes, os direitos e garantias não são ilimitados, encontrando limites nos

122 FEIJÓ, Micael Galhano. Sobre a penhora on-line de contas bancárias do deve dor na

Justiça do Trabalho. Inconstitucionalidade . Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4871>. Acesso em 03 out.2007.

123 Revista Jurídica Consulex – Ano X – N. 233 – 30 de Setembro/2006, p. 59.

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demais direitos igualmente estabelecidos pela Constituição Federal. É dizer, não há liberdades públicas absolutas, sendo todas elas relativas. Assim, se há duas garantias em aparente conflito, resolve-se a questão considerando-se qual delas é mais cara ao interesse social. No caso em comento, por razões óbvias, o interesse na rápida solução do processo deve prevalecer sobre a garantia da intimidade e da vida privada. Afinal, interessa mais à sociedade assegurar a efetividade da jurisdição, com resultados céleres e concretos, do que garantir a um devedor a preservação do seu sigilo bancário. O interesse da comunidade em geral, no caso, deve prevalecer sobre o interesse individual do executado. E não há inconstitucionalidade nisso, uma vez que o direito ao processo célere também foi elevado ao patamar de garantia constitucional.

Antônio Carlos de Oliveira Freitas124 demonstra alguns

fundamentos dos julgados a respeito da Penhora On-line de Minas Gerais, São

Paulo e Rio Grande do Sul, explicitando sua opinião acerca de cada um,

conforme segue:

Em Minas Gerais:

Vale destacar que, ao lado do Tribunal de Justiça de São Paulo, o do Estado de Minas Gerais é um dos mais ponderados e equilibrados em seus julgados acerca da matéria. Entretanto, o ponto de destaque é que na maior parte o entendimento é no sentido de admitir a penhora on-line, mas a utilização do sistema denominado “Bacen Jud”, segundo os entendimentos, não obriga o magistrado, trata-se de mera faculdade (...).

No estado de São Paulo:

Na mesma toada se encontra o entendimento esposado pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Vale destacar a maior guarida ao uso do meio eletrônico para se efetivar a prática do ato de constrição judicial. Um dos pontos que são abordados diz respeito apenas ao fato de que a penhora “on-line” não se deve exceder ao valor do débito exeqüente. Há, ainda, entendimento extremamente lúcido do i. Dês. De Santi Ribeiro, onde aduz que: “(...) Não se pode olvidar que a enumeração legal

124 Revista do Processo – Ano 32 – N. 144 – fev/2007, p.156-159.

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(art. 655, CPC) dispõe que recairá, em primeiro lugar, sobre dinheiro, e não sobre em imóvel (inserido em sétimo lugar), como pretende a agravada. E, como se sabe, os credores não estão obrigados a aceitar o imóvel indicado, haja vista que este não é facilmente transformado em dinheiro, tendo que observar procedimento demorado e custoso (...) Assim, o recurso é provido para deferir a penhora em dinheiro, pelo sistema ‘on line’ ‘Bacen Jud’, conforme estabelecido no Comunicado 04/2004 da Presidência deste E Tribunal de Justiça”. (...) ressalta-se que o próprio Superior Tribunal de Justiça tem decidido em matérias, em tese mais relevantes e delicadas, pela possibilidade de a penhora recair sobre o próprio faturamento da empresa, desde que observadas algumas cautelas, então mais do que justificável a autorização da penhora de dinheiro em conta corrente e/ou aplicações financeiras e, na mesma toada, sem justificação lógica, jurídica ou plausível para que isso não se permita operacionalizar por meio eletrônico, com o auxílio da Internet.

Por fim, no Rio Grande do Sul:

Destaque-se que o posicionamento do Tribunal de Justiça gaúcho, ao contrário de sua conhecida tendência inovadora, tem mantido certos rigorismos demasiados no julgamento do tema da possibilidade de deferimento da penhora on-line, rompendo com princípios antes destacados. A questão do entendimento de não se tratar de dever, mas faculdade do juiz em estar cadastrado no sistema “Bacen Jud”, no sentido de que a ausência de tal cadastro não impede a diligência, a qual pode se dar por meio de ofício ao Bacen. Ora, como afirmado alhures, a partir do momento em que o Tribunal do Estado, órgão máximo do Poder Judiciário Estadual aderiu ao Convênio, então não é louvável admitir que os magistrados daquele mesmo Estado se recusem em utilizar tal ferramenta em prejuízo do jurisdicionado. (...) Noutro ponto melhor se evidencia a incoerência de alguns posicionamentos como a de que o credor deve demonstrar o esgotamento de todas as vias prévias ao seu alcance, exemplificando quanto à Receita Federal. Não é do credor esse ônus, ele não pode “bater às portas” da Receita Federal e solicitar busca de bens ou cópia de declaração de rendimentos de outrem, sem a devida ordem judicial, isso sim é violar e transgredir as normas constitucionais, dentre elas o direito à privacidade.

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Diante das jurisprudências, Antônio Carlos de Oliveira

Freitas125 conclui que:

O entendimento extremamente usado nos mais variados Tribunais estaduais no sentido de que o juiz tem a faculdade de deferir a penhora e não o dever, por tudo o que fora abordado até o momento, não está correto e, ainda que se pudesse cogitar em sua aceitação, o enfoque nas interpretações, na verdade, deveria ser outro. (...) partindo da abordagem genérica de dever ou faculdade do juiz, então o posicionamento não parece ser o mais adequado, tendo em vista que a partir do momento em que se estabeleceu o convênio entre o Banco Central do Brasil, o Superior Tribunal de Justiça e o Conselho Nacional de Justiça, aderindo os Tribunais dos Estados aos termos nele inseridos, então não podem os magistrados submetidos ao órgão máximo do Poder Judiciário de cada Estado se eximir em utilizar meios permitidos, impondo prejuízos graves e de difícil reparação aos jurisdicionados. Ora, seria o mesmo que o Tribunal de Justiça de São Paulo baixar uma Portaria ou editar Resolução com orientações aos juízes e esses não considerarem necessário seu cumprimento.

É entendimento do Tribunal de Justiça do Estado de Santa

Catarina:

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA - DEVEDORA SEM BENS - PENHORA ON-LINE - POSSIBILIDADE. Restando a agravada inerte quanto ao dever de indicação de bens à penhora ou pagamento da dívida, agindo de forma inadequada com a obrigatoriedade de colaborar com a atividade jurisdicional, possível é o deferimento da penhora on-line das suas contas bancárias126.

E mais:

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE EXECUÇÃO - DECISÃO QUE REJEITOU A EXCEÇÃO DE PRÉ-

125 Revista do Processo – Ano 32 – N. 144 – fev/2007, p.159-160. 126 Acórdão: Agravo de instrumento 2006.026641-7. Relator: Des. Volnei Carlin. Data da Decisão:

29/03/2007. Disponível em: <http://tjsc6.tj.sc.gov.br/jurisprudencia/Pesquisa.do?query=2006.026641-7>. Acesso em 09 out.2007.

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EXECUTIVIDADE - DISCUSSÃO DE MATÉRIA QUE SOMENTE É POSSÍVEL EM SEDE DE EMBARGOS À EXECUÇÃO - INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA - INSURGÊNCIA CONTRA DEFERIMENTO DE PENHORA ON LINE - REJEIÇÃO. RECURSO DESPROVIDO. "A utilização da exceção de pré-executividade limita-se aos casos flagrantes de nulidade do processo, como falta de pressuposto processual e condição da ação, ou quando visível o não preenchimento dos requisitos do art. 586 do CPC. Afora estes casos, deverá a dívida ser questionada por meio de embargos, momento processual adequado para dilação probatória" (Ap. Cív. n. 2002.009161-3, de Brusque). O bloqueio on line, de numerário existente em conta bancária da executada é perfeitamente possível desde o advento da Lei 11.382/2006 que introduziu a penhora on line das contas correntes e outras aplicações financeiras nos processos de execução, consoante se extrai do art. 655-A, do CPC. Ademais, desde 31/05/2001, este Tribunal aderiu ao Convênio de Cooperação Técnico-institucional, celebrado entre o Superior Tribunal de Justiça, Conselho da Justiça Federal e o Banco Central do Brasil, para fins de acesso ao sistema BACEN-JUD (hoje BACEN-JUD II). Trata-se de sistema na internet, por meio do qual poderão ser encaminhadas ao Banco Central, eletronicamente, solicitações de informações acerca da existência de contas correntes e de aplicações financeiras, determinações de bloqueio e desbloqueio de contas e comunicações de decretação e extinção de falências envolvendo pessoas físicas e jurídicas, clientes do Sistema Financeiro Nacional127.

Por fim:

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - EXECUÇÃO DE

TÍTULO EXTRAJUDICIAL - PENHORA ON LINE - BLOQUEIO

ELETRÔNICO DE VALORES EM CONTA CORRENTE DA

EMPRESA EXECUTADA - MEDIDA EXCEPCIONAL -

CONJUGAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DO RESULTADO (CPC, ART.

612) E DA MENOR ONEROSIDADE AO DEVEDOR (CPC, ART.

620) - ESGOTAMENTO DOS MEIOS DE PESQUISA POR BENS

PASSÍVEIS DE CONSTRIÇÃO - COMPROVAÇÃO PELO

127 Acórdão: Agravo de Instrumento 2007.011746-1. Relator: Des. Anselmo Cerello.

Data da Decisão: 24/05/2007. Disponível em: <http://tjsc6.tj.sc.gov.br/jurisprudencia/PesquisaAvancada.do>. Acesso em 09 out.2007.

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CREDOR - APREENSÃO JUDICIAL QUE NÃO COMPROMETE

A MANUTENÇÃO DA ATIVIDADE DA PESSOA JURÍDICA -

INDISPONIBILIZAÇÃO VIRTUAL DE NUMERÁRIO -

VIABILIDADE. A penhora on line constituiu importante

inovação no âmbito dos instrumentos de constrição judicial,

consistindo em providência que reflete a propensão do processo

civil contemporâneo de estabelecer a satisfação do crédito como

princípio mais relevante da execução de títulos executivos,

respondendo, com isso, ao anseio da sociedade por uma justiça

célere e eficaz, o que vem ao encontro do disposto no inciso

LXXVIII, art. 5º da Constituição Federal, que incluiu no rol dos

direitos e garantias individuais a prerrogativa atinente à "razoável

duração do processo". Não obstante a execução se preste a

atender aos interesses do credor (CPC, art. 612), o

desenvolvimento do procedimento expropriatório deve observar

os limites estabelecidos pelo basilar princípio favor debitoris

(CPC, art. 620), o qual determina a realização da execução,

sempre que viável, do modo menos gravoso ao devedor, seja

este pessoa física ou jurídica. Nessa linha de princípio, a

realização de penhora on line, como medida extrema nos

processos de execução, deve ser empregada diante de situações

excepcionais, identificadas mediante uma criteriosa análise

acerca das conseqüências que a indisponibilização de valores

pode implicar, cabendo ao credor, interessado em beneficiar-se

com a providência, demonstrar ter exaurido a busca por outros

bens passíveis de constrição, atendidos os pressupostos

específicos. Assim é que a constrição judicial via "Sistema

Bacen Jud", embora constitua medida rigorosa, encontra

justificativa jurídica plausível quando devidamente comprovado

que todos os recursos visando a localização de bens do devedor

passíveis de penhora restaram frustados, bem como que a

indisponibilização de numerário na conta corrente não causará a

interrupção da atividade desenvolvida pela pessoa jurídica que

sofrerá a restrição128.

128 Acórdão: Agravo de Instrumento 2006.038901-4. Relator: Desa. Salete Silva Sommariva.

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Diante do exposto, tem-se a predominância de

entendimentos no sentido de que a Penhora On-line é sim possível, porém ainda

há resistência quanto a esta modalidade de penhora não depender da não

localização de outros bens. O Superior Tribunal de Justiça vêm se manifestando

neste sentido: de que o bloqueio de valores depositados em contas correntes do

devedor é viável, desde que se constate a impossibilidade de localização de

outros bens do devedor, argumentando, para tanto, que se deve respeitar o

princípio da menor onerosidade para o devedor.

Data da Decisão: 20/03/2007. Disponível em: <http://tjsc6.tj.sc.gov.br/jurisprudencia/PesquisaAvancada.do>. Acesso em 09 out.2007.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante desta pesquisa, restou comprovada a significância do

tema, haja vista ser de cunho inovador, já que a Penhora On-line é realizada

mediante o uso de uma das tecnologias mais atuais, qual seja, a internet, e, por

este motivo, possuir diversas controvérsias, conforme foi identificado ao longo do

desenvolvimento.

Para que fosse possível uma melhor compreensão da

Aplicabilidade da Penhora On-line Como Forma de Satisfação do Crédito Nas

Execuções Por Quantia Certa Contra Devedor Solvente, tema desta monografia,

seu desenvolvimento se deu em três capítulos, os quais, em seguida, serão

abordados de forma sintética.

No primeiro capítulo, ao versar sobre o processo de

Execução em geral, fazendo um breve histórico, observou-se sua base no Direito

Romano. Também foi tratado do conceito e objetivos do processo de Execução, o

qual entende-se ser aquele que, através de meios coercitivos, tem por finalidade

garantir a eficácia do título executivo, seja ele judicial ou extrajudicial. Falou-se

sobre as espécies e subespécies de processo de Execução, a respeito dos

embargos do devedor e da suspensão e da extinção do processo de Execução.

No segundo capítulo tratou-se sobre o processo de

Execução Por Quantia Certa Contra Devedor Solvente, constatando-se como o

seu objetivo expropriar bens do devedor, a fim de satisfazer o direito do credor,

conforme disposto no art. 646, do Código de Processo Civil. Estudou-se a

penhora, conceituando-se como medida processual que acarreta a sujeição de

bens do devedor e/ou do responsável, à execução. Igualmente discutiu-se sobre o

depósito de créditos e outros direitos patrimoniais, sobre a avaliação, a

adjudicação, a alienação por iniciativa particular e por iniciativa pública, e, por fim,

a respeito do pagamento feito ao credor.

No terceiro e último capítulo desta monografia, tratou-se do

tema referente à pesquisa, iniciando-se pelo conceito e objetivos da Penhora On-

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line. Entende-se por Penhora On-line o bloqueio de valor constante em contas

bancárias do devedor, efetuada através do sistema Bacen-Jud, e seu objetivo

maior é proporcionar efetividade e celeridade aos processos, muito embora, no

decorrer desta pesquisa foram demonstradas opiniões contra e a favor. Estudou-

se, ainda, as espécies de Penhora On-line existentes (crédito, bens imóveis e

bens móveis), as regras do sistema Bacen-Jud, através do qual é realizado o

procedimento, as vantagens em proceder a penhora por meio eletrônico, e o que

a jurisprudência brasileira vem decidindo a respeito. Ao analisar as

jurisprudências brasileiras, verificou-se que na maioria das vezes a Penhora On-

line só é deferida quando não encontrados outros bens passíveis de Penhora.

Inclusive, o Superior Tribunal de Justiça tem adotado esta posição, sustentando

que o processo deve respeitar o princípio da menor onerosidade para o devedor.

Finalizando, ao considerar as hipóteses apresentadas,

conclui-se que:

A Penhora On-line pode ser considerada uma constrição

realizada de forma diferenciada, já que por meio eletrônico. Contudo, observou-se

que a Penhora On-line é mais que isso, é um bloqueio de contas bancárias

efetuado por ordem da Justiça, para satisfazer o crédito exeqüendo. Esta medida

é realizada através do sistema Bacen-Jud, de criação do Banco Central (Bacen),

e em vigor desde o ano de 2001, através de convênios assinados entre o Banco

Central e o Judiciário. O dinheiro é a melhor forma de satisfazer o débito, estando

em primeiro lugar na ordem prevista no artigo 655, do Código de Processo Civil. A

Lei 11.382/2006 acrescentou ao inciso I, do artigo 655, do Código de Processo

Civil, a previsão de dinheiro “em depósito ou aplicação em instituição bancária”, e

para possibilitar a efetividade deste artigo, instituiu o artigo 655-A, do Código de

Processo Civil, que dispõe que o procedimento deverá ser realizado

preferencialmente por meio eletrônico, o que objetivou proporcionar celeridade ao

processo executivo. Diante desta disposição, a primeira hipótese apresentada

restou comprovada.

Efetua-se a Penhora On-line através do sistema denominado

Bacen-Jud, criado pelo Banco Central em 2001, mediante convênio entre o Banco

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Central e o Poder Judiciário. O procedimento para realização da Penhora por

meio eletrônico foi estudado no terceiro capítulo desta monografia, no item 3.3,

que compõe as regras do Bacen-Jud 2.0, sistema este que veio aperfeiçoar o

antigo Bacen-Jud 1.0, que foi a primeira versão. Desta forma, a segunda hipótese

foi igualmente confirmada.

No terceiro capítulo desta monografia, no item 3.4, abordou-

se sobre as vantagens trazidas com o uso da Penhora On-line, constando-se a

agilidade e eficiência da Penhora, uma vez que se diminuiu a burocracia. Há

entendimentos que afirmam que esta modernização favoreceu o credor, que não

precisa mais ficar esperando pela localização de eventuais bens, o que por vezes

levava anos, podendo solicitar o bloqueio de contas bancárias em nome do

devedor. Além disso, a realização deste procedimento é uma forma de garantia

do disposto no artigo 5º, da Constituição Federal de 1988, que prevê que a

razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade na

tramitação, devem ser assegurados a todos, quer no âmbito judicial ou

administrativo. Portanto, a terceira e última hipótese também foi confirmada ao

longo do desenvolvimento da presente monografia.

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