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A AMAMENTAÇÃO NA MULHER COM TRABALHO REMUNERADO MARINA F. REA PROFESSORA COLABORADORA do PROGRAMA DE MESTRADO DO INSTITUTO DE SAUDE - SES SÃO PAULO e do PROGRAMA DE NUTRIÇÃO EM SAUDE PUBLICA DA FSPUSP Membro da rede IBFAN Representante da IBFAN no Comitê Nacional de Aleitamento Materno do Ministério da Saúde.

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Page 1: A AMAMENTAÇÃO NA MULHER COM TRABALHO REMUNERADO · •Diminui o absenteísmo da mulher-mãe trabalhadora •Baixa os custos da empresa/entidade com serviços de saúde •Aumenta

A AMAMENTAÇÃO NA

MULHER COM TRABALHO

REMUNERADO

MARINA F. REA

PROFESSORA COLABORADORA do PROGRAMA DE MESTRADO DO

INSTITUTO DE SAUDE - SES SÃO PAULO e do PROGRAMA DE

NUTRIÇÃO EM SAUDE PUBLICA DA FSPUSP

Membro da rede IBFAN

Representante da IBFAN no Comitê Nacional de Aleitamento Materno

do Ministério da Saúde.

Page 2: A AMAMENTAÇÃO NA MULHER COM TRABALHO REMUNERADO · •Diminui o absenteísmo da mulher-mãe trabalhadora •Baixa os custos da empresa/entidade com serviços de saúde •Aumenta

•Discriminação de gênero no trabalho: agrava-se em função de

gerar filhos, amamentar e criá-los, prerrogativa quase exclusiva

da mulher.

•Discriminação salarial: O rendimento médio real por hora das

mulheres ocupadas corresponde a R$ 5,76, valor que equivale a

76,4% do atribuído aos homens (R$ 7,53) (São Paulo, SEADE 2009).

•Mulheres representam hoje o primeiro ou único salário em muitas

casas: estima-se que 30% de famílias no mundo tem nas mulheres

a principal fonte de renda.

•No Brasil, com amplas variações regionais, a mulher tem

trabalho remunerado e é chefe de família em pelo menos 25% dos lares (2006).

•Mesmo recebendo menos, deixar o emprego para dar a luz e

amamentar não se coloca, em geral, como alternativa possível.

Reflexões necessárias:

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•No Brasil, em 1996 43% das mulheres declaravam

trabalhar. Em 2006, esse percentual passou a 75%.

•Entre as que declararam trabalhar, 23% tinham

filhos menores de 5 anos (DHS/BEMFAM, 1996),

proporção que passou a 54% em 2006 (PNDS/DHS).

•Nos países industrializados 65-90% dos

trabalhadores em tempo parcial são mulheres,

sendo esse percentual maior ainda nos países

pobres. Em geral todas essas mulheres estão fora

da proteção legal à maternidade.

•Organização Internacional do Trabalho (OIT): as

mulheres permanecem concentradas em

trabalhos temporários, domésticos, auto-emprego,

e micro-empresas muitas das quais informais.

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Venancio, Rea & Saldiva, 2010

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Cohen et al. (1995) documentou que

as mulheres que dão mamadeira

(formula infantil) gastam duas vezes

mais ausências de um dia no emprego

do que as mães trabalhadoras que

amamentam.

Vantagens para o empregador, empresário, chefe,

diretor

•Diminui o absenteísmo da mulher-mãe trabalhadora

•Baixa os custos da empresa/entidade com serviços de

saúde

•Aumenta a permanência no emprego

•Aumenta a produtividade da trabalhadora remunerada

•Torna a trabalhadora mais fiel e leal ao emprego

•Os filhos da trabalhadora remunerada que amamenta tem:

•Menos febre e doenças comuns da infância

•Menos visitas aos profissionais de saúde Quanto a custos:

Nos EEUU observou-se

US200 menos gastos com

bebês amamentados do

que com os que utilizam

mamadeira (Weimer,

2001).

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•Qual o retorno no investimento de uma entidade

lucrativa?

•Calculou-se que de cada US$1 (UM DOLAR)

investido em criar e sustentar uma ação de apoio a

lactação na empresa (incluindo: local para

ordenha com bomba com garantia de

privacidade, disponibilidade de uma geladeira e

facilidades de higiene, além de tempo apropriado

para a mãe)...

•o retorno é de US$2 a US$3 (DOIS A TRES DOLARES).

Tuttle CR, Slavit WI. Establishing the business case for breastfeeding.

Breastfeed Med. 2009;4(suppl 1):S59–S62.

Ação de apoio à lactação na empresa:

custo-benefício

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Comparação quanto a frequência e tempo gasto na

ordenha durante a jornada de trabalhadoras com

bebês de 3 e de 6 meses de idade

– 3 meses 6 meses

– (n = 61) (n = 60)

• Freq. media de ordenha/dia

• x ± SD 2.2 ± 0.8 1.9 ± 0.6*

• Tempo gasto na ordenha

** no. (%) ≤ 1 h 50 (82 %) 57 (95%)*

• 1 h 11 (18 %) 3 (5%)

• *P < .05.

• **Qui-quadrado

Slusser et al. Breast Milk Expression in the Workplace J Hum Lact

20(2), 2004

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ESPAÇO TEMPO PROXIMIDADE

SUCÇÃO DO NENE OU RETIRADA DO

LEITE DO PEITO ORDENHADO

CONDIÇÕES PARA TER EMPREGO E AMAMENTAR

APOIO DE PESSOAL CAPACITADO

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• Estudo em 4 entidades publicas, duas das quais oferecem ações pro

amamentação, inclusive sala de apoio para ordenha LM

• 80% das mulheres disseram que queriam amamentar na volta ao trabalho

• 90% desconheciam o que era oferecido pela empresa e achavam que o

patrão tinha que dar mais apoio;

• 37% tinham Sala de Apoio mas apenas 16% sabiam de sua existência e 1/3

delas mostrou interesse em usar; de fato, somente 7% usaram.

• Perguntadas sobre qual a melhor e qual a pior experiência vivida nesse

processo:

• - a melhor: ter uma licença maternidade longa

• - a pior: falta de interesse, de informação e de apoio do patrão/chefias

sobre amamentação

AMAMENTAÇÃO E TRABALHO NO

SERVIÇO PUBLICO NA INGLATERRA

Joanna Kosmala-Anderson, Louise M. Wallace. Breastfeeding works: the role of employers in supporting

women who wish to breastfeed and work in four organizations in England. Journal of Public Health ,28, 3:183–191, 2006.

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É POSSIVEL TRABALHAR FORA ( FORMALMENTE) E

AMAMENTAR... ?

Revisão de estudos mostra que é importante:

•Conhecer a legislação trabalhista a que tem

direito;

• Conhecer (no pré-natal) as facilidades oferecidas pelo empregador para amamentar

na volta ao trabalho;

• Ter consciência da importância da

amamentação e dos riscos da alimentação

artificial

• Contar com apoio de gente capacitada para

apoiar – seja entre os familiares, os pares

(colegas) mas especialmente do pediatra

• Aprender, logo que possível, a habilidade de tirar leite do peito manualmente (estudos

mostram que dá mais autonomia do que retirar

por bomba)

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É POSSIVEL TRABALHAR FORA

( INFORMALMENTE) E AMAMENTAR... ?

• Conhecer (no pré-natal) as facilidades oferecidas

pelo empregador para amamentar na volta ao

trabalho;

• Ter consciência da importância da amamentação

e dos riscos da alimentação artificial

• Contar com apoio de gente capacitada para

apoiar – seja entre os familiares, os pares (colegas)

mas especialmente do pediatra

• Aprender, logo que possível, a habilidade de tirar

leite do peito manualmente (estudos mostram que

dá mais autonomia do que retirar por bomba)

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E para você: qual a melhor e

qual a pior experiência vivida

nesse processo de conciliar

TRABALHO e

AMAMENTAÇÃO?

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Creche no local de trabalho – (LEI)

segundo os empresários é alternativa

cara; segundo as mulheres fica

distante da casa e o transporte é ruim;

as mulheres não confiam

versus

Sala de apoio à amamentação (ou

sala de coleta e estocagem de leite

materno)– (BENEFICIO)

alternativa provada possível em áreas

urbanas nos EEUU, na N. Zelândia e

Austrália.

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Conclusão: as mulheres devem ter os beneficios trabalhistas

garantidos em Lei para uma vida plena, que inclua a

capacidade produtiva – com salarios iguais aos homens – e

a capacidade reprodutiva – parir e amamentar a geração

do futuro.