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FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DP PORTO A afirmação do Liberalismo em Portugal Da ruptura com o Antigo Regime ao Liberalismo em Portugal Patrícia Lopes História da Cultura “O liberalismo foi a primeira doutrina política de cariz democrático que a Europa conheceu após a Antiguidade”

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FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DP PORTO

A afirmação do Liberalismo em Portugal

Da ruptura com o Antigo Regime ao Liberalismo em Portugal

Patrícia Lopes

História da Cultura

“O liberalismo foi a primeira doutrina política de cariz democrático que a Europa

conheceu após a Antiguidade”

Ruptura com o Antigo Regime e

Afirmação do Liberalismo em Portugal

História da Cultura

1

Índice

1 Valorização do Individuo e a crença na razão e no progresso ............................ 3

2 Liberdade e Igualdade; o direito natural; contrato social; separação dos

poderes ............................................................................................................................. 5

3 A difusão de novas ideias ........................................... Erro! Marcador não definido.

4 A herança da revolução francesa ........................................................................... 8

5 A afirmação do Liberalismo em Portugal ........................................................... 16

5.1 As Cortes Constituintes ................................................................................... 16

5.2 A Constituição de 1822 .................................................................................... 17

5.3 A Independência do Brasil ............................................................................... 19

6 O triunfo do Liberalismo ...................................................................................... 20

6.1 Carta Constitucional de 1826 ........................................................................... 20

6.2 A Guerra Civil de 1832-34 .............................................................................. 22

Ruptura com o Antigo Regime e

Afirmação do Liberalismo em Portugal

História da Cultura

2

Introdução

“O Liberalismo foi a primeira doutrina política de cariz democrático que a

Europa conheceu após a Antiguidade”. O seu triunfo e consolidação nas sociedades e

nos Estados provocou alterações estruturais de tal modo significativas que alguns

historiadores não hesitam em considerá-los como um dos factores de transição entre o

Antigo Regime e a Contemporaneidade.

Ideologicamente, o Liberalismo remonta a finais do século XVII aquando da

formulação da filosofia iluminista, onde fundamenta os seus ideais e valores; na prática,

conheceu as suas primeiras concretizações com a Revolução Parlamentar Inglesa

(1688), com Revolução Americana (1776) e, principalmente, com Revolução Francesa

(1789), a maior de todas as revoluções liberais e também a principal causadora da

gigantesca onda de revoluções que, ao longo do século XIV, espalhou o Liberalismo

pelos dois lados do Atlântico alterando decisivamente a vida política, as estruturas

sociais, as mentalidades e a cultura na Europa e no Mundo. Contemporâneo da

Revolução Industrial, o liberalismo marcou o triunfo da burguesia, instalou a sociedade

de classes médias, a cujas pressões acabou põe ceder, democratizando-se

progressivamente.

Portugal comungou deste movimento libertador em 1820. No entanto, conheceu

um longo e difícil período de instalação que Sá se completou cerca de 1850, para iniciar

aí “aburguesamento” e a modernização das estruturas socioculturais e político-

económicas do país.

O presente trabalho irá responder às questões o que é o Liberalismo, quais os

seus princípios, os seus principais autores, quais as alterações politicas, sociais e

económicas, introduzidas com estas novas ideias. Perceber ainda quais foram as etapas

passou Portugal para a instalação do Liberalismo, e quais as suas consequências.

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1 Valorização do Individuo e a crença na razão e no

progresso

Século de ascensão da burguesia, o século XVIII, aprendeu a valorizar o ser

humano pelas suas capacidades individuais, fazendo-o sobressair do grupo social a que

pertencia. Este individualismo que é marca distintiva da mentalidade burguesa,

enformou também o Iluminismo, corrente cultural que dominou o pensamento

intelectual do século XVIII e chegou a influenciar os monarcas absolutistas da época,

dando origem ao despotismo iluminado.

O Iluminismo valorizava o indivíduo pela sua capacidade racional, isso é, a sua

inteligência ou Razão (também denominada de a “Luz” ou as “Luzes”). Os filósofos

iluministas defendiam que a Razão humana, quando exercida em liberdade e sem

constrangimentos, era o único meio fidedigno para desvendar os segredo do Universo e

construir os conhecimentos sobre a Natureza, os homens e as sociedades. Acreditavam

que o conhecimento era o único processo para o Homem se libertar da servidão, dos

preconceitos, das injustiças e dos erros que marcavam as sociedades da época, para

construir o progresso e, através dele atingir a felicidade, considerada como um direito

inato de todos os Homens e supremo objectivo da sua existência.

O progresso (noção que, por definição, se opõe à tradição), segundo esses

filósofos, construído pela evolução cumulativa dos saberes e das técnicas, seria

irreversível e só poderia melhorar a existência material dos Homens e torná-los espíritos

mais perfeitos, verdadeiramente iluminados.

Como filosofia racionalista e optimista, o Iluminismo reflectia o espírito da sua

época (a partir de 1720-30, o século XVIII entrou numa fase expansionista, de

crescimento económica, demográfico e cientìfico-técnico) e tinha-se formado na

continuidade das grandes linhas orientadora do pensamento europeu desde o

renascimento. Filiava-se no Humanismo dos séculos XV-XVI, que valorizava o

indivíduo e o espírito cítrico; no surto cientifico do século XVII, animado pelo

racionalismo e empirismo materialista deFrancis Bacon (1561-1626), Thomas Hobbes

(1588-1679), Descartes (1596-1650), Espinoza (1632-1677) e outros, cujas teorias e

pesquisas fundaram a ciência moderna; e em teoria um pouco mais recentes como o do

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inglês Jonh Locke (1632-1704) que construiu a teoria do pensamento empírico,

apresentada na obra Ensaio sobre o Entendimento Humano, publicado em 1690.

O racionalismo materialismo de Locke influenciou o pensamento iluminista no

seu interesse pelo mundo físico – a Natureza – e pela determinação das suas leis as leis

naturais), as únicas que poderiam ser universais. Foi partindo da valoração natural do

Homem que os filósofos iluministas chegaram ao reconhecimento e formulação dos

direitos naturais, entre os quais incluíram os da igualdade e liberdade para todos.

Para os iluministas do século XVIII, a crença na Natureza chegou a suplementar

a fé na religião, sobrepondo-se como uma nova religião - a religião natural -, segundo a

qual Bem se identifica com o prazer e o Mal com a dor. Estas ideias estiveram na

origem do ateísmo e do deísmo que muitos destes filósofos professaram.

Nota1.Os déspotas iluminados procuram governar de acordo com a razão:

Testemunho 1

“Existem poucos países em que os cidadãos têm as mesmas opiniões sobre a Religião, a

questão põe-se do seguinte modo: é preciso que todos os cidadãos pensem da mesma

maneira? Ou pode-se a cada um permitir que pense livremente? (…) A tolerância é tão

vantajosa para as sociedades onde se estabelece, como faz a felicidade do Estado (…) e

evitar as guerras civis.”

Frederico II DA Prússia, século XVIII

Testemunho 2

“Nós, D. José II (…) rei de Germânia, Hungria, e Boémia (…), arquiduque da Áustria

(…) considerando que a supressão da servidão e a introdução de um regime mais

maleável estabelecido segundo o exemplo do nosso domínio hereditário da Áustria

exerceram a mais útil influencia no melhoramento da agricultura e da industria, e que

a razão e a caridade falam a favor desta mudança decidimos abolir doravante

totalmente a servidão e introduzir em seu lugar um regime mais flexível.”

José II, Imperador da Áustria, 1781

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2 Liberdade e Igualdade; o direito natural; contrato

social; separação dos poderes

Guiados pela razão e pela filosofia natural formularam novos princípios

ideológicos e novos conceitos do Homem e do Cidadão, que julgavam mais justos e

racionais, mas que entravam abertamente e contradição com as realidades social e

politica vigentes. Por isso não pouparam criticas ao seu tempo, negando quer o

absolutismo monárquico e a teoria divina do poder real, quer a sociedade de ordens

assente no princípio dos privilégios e da desigualdade, quer ainda o fanatismo, o

obscurantismo e a superstição mantidos pela igreja.

A estas características contrapunham novos princípios mais conformes à razão e

à moral natural. À estrutura da sociedade de ordens do seu tempo, que consideravam

desigual e injusta, os iluministas contrapõem uma sociedade assente no reconhecimento

dos direitos naturais do Homem, entre os quais valorizavam os da igualdade e s da

liberdade. Negando o absolutismo e a teoria da origem divina do poder, os filósofos

iluministas defenderam os princípios da soberania nacional e do contrato sócia,

preconizando a completa separação entre o Estado e Religião (laicização do poder).

Autores como Locke, ainda no século XVII, e mais tarde Jean-Jacques

Rousseau, na obra O Contrato Social (1762), explicaram em que consistiam estes

princípios. Sendo os Homens iguais e livres, todos são igualmente depositários da

soberania e a existência do poder politico só se justifica como garante dessas liberdades

individuais, para que a liberdade de uns não limite e submeta a liberdade dos outros.

Mas, como nada justifica que um homem, ou alguns homens, mandem mais do que

outros, esse poder político, para se legitimar, necessita do consenso dos seus

governadores. Esse consenso manifesta-se sob a forma de um acordo, táctico ou

explícito, entre o povo e o seu governante: o Contrato Social. E por esse contrato que o

povo detentor da sua própria soberania, a delega no soberano sob a condição de ele a

exercer no interesse dos governadores.

Ainda que legitimado pelo contrato social, o poder político não deveria cair no

despotismo e na prepotência, o que ocorre com mais frequência quando todo o poder

recai na mão de um só homem. Para evitar essa situação os iluministas propuseram que

o poder político se subdividisse – em poder legislativo (o que faz as leis), poder judicial

(o que julga o cumprimento das leis) – e que cada um destes poderes funciona-se

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separadamente, entregue a entidades diferentes. Só assim se evitariam os abusos de

poder, garantindo a sua isenção.

Esta teoria, conhecida como princípio da separação dos poderes, foi

primeiramente enunciada por Locke, ma só se consolidou com o pensamento do filósofo

francês Montesquieu, na obra O Espírito das Leis, publicada em 1748. Nela

Montesquioeu condena vivamente o absolutismo régio, defendendo, contudo, a

instalação de uma monarquia moderada, onde o rei fosse o chefe do poder executivo e

governasse submetido às leis redigidas pela Nação, através dos seus legítimos e

delegados representantes.

Nota3.

Nasceu em 29 de Agosto de 1632 em Wrington,

Inglaterra, e morreu em Oates em 28 de Outubro de 1704.

Filho de um advogado e proprietário rural do

Somerset, no sudoeste de Inglaterra, que se transformou em

capitão de cavalaria durante a Guerra Civil, Locke

despertou muito cedo para os problemas da vida política

inglesa da sua época. Mas os problemas políticos não

influenciaram em nada o decurso da sua educação. Entrou

para a escola de Westminster em 1646, tendo ido para Oxford para o Colégio de Christ

Church em 1652, tendo aí vivido até 1684. Parece ter-se preparado para entrar na vida

clerical, mas sabe-se que recusou um futuro cargo em 1666, ano em que pediu dispensa

das ordens para continuar os seus estudos. Num dado momento começou a estudar

medicina, tendo-se licenciado em 1674.

Em 1666 conheceu Lord Ashley, conde de Shaftesbury em 1672, passando a

integrar a casa do aristocrata, chefe do partido Whig. Dirigiu, ou realizou, uma operação

que salvou o seu patrono o que lhe abriu as portas da Royal Society. A sua posição

junto de Ashley tornou-se assim indispensável, tendo negociado o casamento do seu

herdeiro e tornando-se o seu tutor, apoiou o conde nas suas obrigações, tanto na

administração dos seus interesses privados, como nos do serviço público. Assim,

quando Shaftesbury foi nomeado Lorde Chanceler, Locke tornou-se o seu secretário

Jonh Locke (1632-1704) 1

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para a apresentação de benefícios, sendo nomeado no ano seguinte, em 1673, secretário

da Junta de Comércio, que abandonou em 1675 devido à queda política do seu

protector.

A vida política de Locke fê-lo viajar bastante. Visitou a Alemanha em 1666,

quando acompanhou uma embaixada inglesa à corte prussiana, durante a primeira

Guerra contra a Holanda. Em 1675 foi viver para França, realizando algumas excursões,

mas tendo vivido sobretudo em Montpellier. Foi nesta cidade que começou a tomar

forma o seu Ensaio sobre o Entendimento Humano, obra que começou em 1671 e que

só será publicado em 1690. Regressado a Inglaterra em 1679, exilou-se na Holanda em

Agosto de 1683, depois de uma breve passagem por França, devido às posições políticas

de Ashley que, em luta aberta contra o rei católico de Inglaterra, Jaime II, se tinha

exilado no mesmo país, e aí morrido no ano anterior.

Na Holanda, andando de cidade em cidade, para fugir à prisão, requerida pela

Inglaterra, conheceu Philip van Limbroch, dirigente de uma seita protestante, teólogo

liberal a quem foi dedicada a Carta sobre a Tolerância, Epistola de Tolerantia no seu

nome original latino. Foi aqui que terá concluído o seu Ensaio, pouco tempo antes de

regressar a Inglaterra acompanhando a futura rainha Maria, em Fevereiro de 1689.

O novo regime quis reconhecer os serviços e nomeou-o embaixador ou para

Berlim ou para Viena, à sua escolha, mas Locke recusou devido ao «ar frio» e às

«bebidas quentes». Foram-lhe propostos outros cargos menos importantes, que aceitou,

como o de comissário de comércio. Mesmo ocupando cargos públicos, que o obrigavam

a estar em Londres, foi viver para o campo, para Oates, para casa de Francis Masham,

casado com a filha do célebre filósofo platónico de Cambridge, Cudworth. Aí viveu até

à sua morte, acontecida em 1704.

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Nota 4.

Jean-Jacques Rousseau foi um filósofo suíço,

escritor, teórico político e um compositor musical

autodidacta. Uma das figuras marcantes do Iluminismo

francês, Rousseau é também um precursor do romantismo.

Rousseau foi uma das principais inspirações ideológicas da

segunda fase da Revolução Francesa e que deu início a um

longo período de terror e instabilidade política que acabaria

por levar à ditadura de Napoleão.

Do Contrato Social, de sua autoria, inspirou muitos dos revolucionários e

regimes nacionalistas e opressivos subsequentes a esse período, um pouco por toda a

Europa continental. Inspirados nas ideias de Rousseau, os revolucionários defendiam o

princípio da soberania popular e da igualdade de direitos.

3 A herança da revolução francesa

No século XIX o continente europeu ficou marcado pela Revolução Industrial ao

nível económico e pela Revolução Francesa a nível social. De facto, a Revolução

Francesa marcou toda a Europa e mesmo o mundo deixando um legado de ideias

políticos e sociais, tais como, os códigos de leis, o modelo de organização científica e

até mesmo o sistema métrico. Como todas as revoluções, a francesa deu-se numa altura

de crise, quer a nível económico, quer social...

Mas, de todas as agitações e revoluções do século XVIII, esta foi a mais

dramática e a que deixou mais marcas nos tempos que se seguiram. Para começar, a

Revolução Francesa deu-se no Estado que detinha mais poder e que era habitado por

mais pessoas na Europa, (excluindo a Rússia), para além disto, em nenhum lugar se viu

tamanha mobilização de massas em actos radicais e, por último, quer pela força, quer

pela pelas ideias, esta Revolução mudou o mundo.

Apesar de ter sido exemplo para todos os movimentos revolucionários que se

seguiram, a situação francesa era bastante particular no decorrer do século XVIII. A

Grã-Bretanha assumia-se como a grande potência europeia e a França, apesar de ser a

grande rival dos britânicos, de estar em franco desenvolvimento económico e de até ter

Jean-Jacques Rousseau 2

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um domínio colonial mais proveitoso que o dos ingleses não se conseguiu equiparar a

estes. Podemos então depreender que, em mais lado nenhum houve tão grande conflito

entre os interesses do Estado e do Antigo Regime com os do povo e das novas correntes

sociais que apareciam. A comprovar o ponto anterior, está a atitude de Turgot, que

como primeiro ministro de Luís XVII tentou instaurar um sistema que abolisse as

desigualdades sociais, unisse todos os franceses, permitisse a iniciativa livre no

comércio e que permitisse também fazer um melhor aproveitamento dos recursos do

Estado, mas apesar das boas intenções fracassou de forma nítida.

Todas as medidas drásticas que fossem tomadas contra os interesses do Antigo

Regime estavam à partida condenadas ao fracasso, principalmente em França onde as

reacções governamentais eram muito eficazes. Apesar de tudo, esta situação só veio

favorecer o cenário da revolta. A nobreza, que consistia em cerca de 2% da população

francesa, tinha direito a vários privilégios como a isenção de impostos e o direito de

receber tributos feudais, mas, a nível político via o seu poder a decrescer dado que o

poder absoluto limitava as intervenções das suas instituições representativas.

Por esta altura os nobres estavam privados de independência e intervenção

política. Economicamente, a “primeira ordem” social estava em crise dado que o seu

estatuto obrigava a muito gastos e os rendimentos iam diminuindo.

Para fazer face a toda esta situação os nobres começavam a usar os direitos de

ordem reconhecidos e a instalar-se em cargos com alguma relevância política e

remuneração como as intendências reais. Desta forma, a nobreza fazia concorrência à

classe média em relação à ocupação dos cargos e conseguia ganhar posições

importantes na administração central e provincial. Para além de ocuparem os cargos,

tentavam agora tirar o máximo partido dos seus direitos feudais para retirarem dinheiro

ou serviços ao povo, mais especificamente aos camponeses. Os nobres criaram assim a

nova profissão dos feudistas e conseguirem provocar também a ira dos camponeses. Os

camponeses, não possuem terras e estavam sujeitos ao pagamento de variados impostos

(ex. a sisa). Os produtos começavam a escassear devido ao aumento da população e, em

anos de más colheitas e subidas de preços, tinham muitas dificuldades para substituir.

Esta conjuntura contribuía para instabilidade e para instigar os sentimentos

revolucionários dos trabalhadores rurais.

A situação na França era já bastante tensa, mas quando se vieram a verificar os

problemas financeiros do Estado, esta situação piorou muito. A Guerra e as dívidas

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provocadas por esta assumiam-se como principais causadoras do balanço negativo

verificado. A vitória sobre a Grã Bretanha na Guerra da Independência Americana veio

a ser fatal para a economia francesa (falência). A única solução era uma reforma que

adaptasse o lançamento de impostos à situação real. Esta crise governamental afirmava-

se como o princípio do fim do absolutismo. Os aristocratas e as antigas instituições

representativas da nobreza só aceitavam pegar novos impostos se daí ganhassem

maiores direitos.

A primeira atitude revolucionária foi a convocação da “Assembleia dos

Notáveis” e a segunda, já em desespero foi a convocação dos Estados Gerais (1787). Os

aristocratas tentavam assim tomar o poder, mas, estavam condenados ao fracasso... O

fracasso era certo visto que não tinham noção da crise em que o Estado se encontrava e

como as suas exigências eram difíceis de satisfazer e também porque nunca levaram as

intenções do Terceiro estado a sério... Na situação em que se encontrava agora a França,

foi a união de uma classe social, a sua partilha de ideias e também o seu dinamismo que

incentivou ainda mais a Revolução. Defendendo os ideais do liberalismo clássico e

apoiando-se nas teorizações de filósofos e economistas, a burguesia assumia aqui um

papel importantíssimo. A ideologia que era seguida era, na sua generalidade maçónica.

Os burgueses declararam claramente o que queriam com a Declaração dos Direitos do

Homem e do cidadão, publicada em 1789. desta forma oponham-se contra a sociedade

hierárquica tradicional, mas não defendiam uma sociedade de democrática ou de

igualdade.

A Declaração dava a todos o direito à prosperidade privada e igualdade perante a

lei ou carreiras profissionais, dava também a todos o direito de participar na elaboração

da lei apesar de ser pessoalmente ou por representação. A Assembleia Representativa,

que seria muito importante no governo e garantiria este direito, não era

obrigatoriamente eleita democraticamente nem eliminaria os reis. A forma de governo

defendida era a de uma monarquia constitucional e o seu objectivo era defender a

vontade do povo em geral e não de uma classe social em particular. Pela primeira vez, o

povo identificava-se com a nação e para além disso, os franceses decidiram que iriam

combater todo este género de situações de desigualdade pelo mundo.

O terceiro Estado tinha igual representação à do Clero e da Nobreza nos Estados

Gerais o que foi considerado uma vitória apesar de ser francamente pouco para uma

classe social que representava cerca de 95 % da população francesa. Tinham agora voto

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majoritário e já não havia a possibilidade da antiga votação por classes afastar o

Terceiro Estado dos seus direitos. Os Estados Gerais haviam começado há três semanas

quando se formou a Assembleia Nacional que tinha por objectivo impedir acções do rei,

clero e nobreza e por direito remodelar a Constituição. Podia-se avinhar o fim do

absolutismo.

Por altura dos Estados Gerais, a crise em França agudizava-se devido às más

colheitas de 1788 e 89, à sua subida dos preços, e à depressão industrial. No campo, os

pobres eram agora agitadores e bandidos e na cidade reinava o desespero foi um pouco

aliviado por uma campanha de propaganda e de eleições. Pairava no ar a ideia

revolucionária de liberdade. Existia agora a tentativa de Contra – Revolução, podendo

esta até ser pela força das armas. Esta tentativa foi o despertar das massas populares

organizadas de Paris que atacaram uma Prisão do Estado onde esperavam encontrar

armas.

O povo tomou assim a Bastilha no dia 14 de Julho e ao mesmo tempo que

derrubou um símbolo do poder real espalhou a revolta por toda a França. A Tomada da

Bastilha foi encarada como final do poder absoluto em França e ainda hoje é recordada

sendo o Dia Nacional de França. Em apenas três semanas após o 14/7 todo o sistema

administrativo e governativo francês foi destruído. Não demorou até que os aristocratas

e os membros da classe média se rendessem às evidências e vissem o fim dos seus

direitos apesar do feudalismo só estar extinto em 1793.

O rei, ainda resistia, embora fosse em vão o seu esforço. Começou então a ser

cíclico o processo de agitação de massas de controlo por parte dos burgueses que

dividiram numa facção conservadora e numa facção de esquerda mais revolucionário. A

Revolução Francesa ganhou de novo contornos únicos, quando os Jacobinos

revolucionários radicais, decidiram continuar com a Revolução para além dos interesses

da burguesia. A classe operária, não desempenhava um papel muito importante dado

que seguiam dirigentes não proletários.

Como alternativa aos burgueses radicais surgia o movimento dos “Sans-

Coulottes” que viria a demonstrar que não era alternativa devido à impraticabilidade dos

seus ideais. Foi através da Assembleia Constituinte que a burguesia moderada tentou

reformar a França entre 1789 e 1791. Economicamente era o liberalismo que ditava as

regras sendo que em relação ao campesinato se tomaram medidas como a vedação de

baldios e o encorajamento aos empresários rurais. Em relação à classe operária

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aboliram-se os sindicatos e para defesa dos pequenos ofícios aboliram-se as guildas e

corporações. Mas, as medidas que mais agradaram aos homens comuns foram as vendas

de terras pertencentes à igreja que permitiram enfraquecer o Clero, dar força aos

empresários provinciais e também recompensar os camponeses pelos esforços

despendidos no processo revolucionário.

Em 1791 o excesso de democracia foi combatido através do governo

monárquico constitucional que apenas admitia o direito de voto para os cidadãos que

possuíssem terras. Estes eram os cidadãos activos. Os monarcas não se podiam

conformar com o novo mesmo contando com o apoio de antigos burgueses

revolucionários.

A Constituição Civil do clero data de 1790 e foi concebida como uma medida

de atenuar a fidelidade dos religiosos para com a igreja de Roma. Esta medida foi mal

interpretada pelos membros clericais e pelos seus fieis que passaram a ser oposição ao

rei que se viu forçado a uma tentativa de fuga e abandono do país. Mais tarde havia de

ser capturado e consequentemente fortalecer a corrente do republicanismo.

A nível económico, a flutuação dos preços acentuou-se devido ao descontrolo na

economia de livre iniciativa. Esta situação incitou as massas populares parisienses para

a militância. A extrema-direita e a esquerda moderada arrastaram a França para a guerra

que originou a segunda revolução de 1792, a República Jacobina do ano II. Para os

defensores do Antigo Regime a intervenção estrangeira aparecia com o único modo de o

restabelecer. A guerra era encarada também com outras intenções tais como a de

resolver problemas internos justificando-os com conspirações contra o sistema então

vigente ou como forma de fazer dinheiro. Defendia-se ainda que se não se desse a

intervenção estrangeira seria mais fácil de melhorar todos os problemas sociais e

económicos. A maioria da Assembleia Legislativa defendia a hipótese de entrar em

combate sendo que apenas a ala de direita e um pequeno grupo de esquerda que seguia a

liderança de Robespierre se opunham à hipótese de guerra.

Após a declaração de guerra em Abril de 1792 e da consequente derrota, o rei foi

deposto e instituiu-se uma república una e indivisível e também o ano I do calendário

revolucionário através da acção das massas populares armadas parisienses. Houve lugar

a eleições para a Convenção Nacional e as investidas estrangeiras foram sustidas com

uma batalha em Valmy. Os Girondinos eram o partido que dominava a Convenção,

representavam os burgueses provinciais e muitos intelectuais e tinham uma política

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impraticável. A França só conseguiu superar as dificuldades que o seu exército registava

através da invenção da guerra total, ou seja, da mobilização total dos recursos do país

para a guerra chegando mesmo a deixar de haver distinções entre civis e militares.

O governo de guerra revolucionário era vivamente defendido pelas massas visto

que este era considerado como a única forma de derrotar a contra revolução e a

intervenção estrangeira. Em 1793 a França já havia declarado guerra a grande parte da

Europa e já tinha começado a alargar as suas fronteiras. À medida que a guerra se

prolongava os Girondinos perdiam poder e foi sem surpresa que os populares do campo

se revoltaram contra Paris e implantaram a república Jacobina. Com esta república veio

a época do Terror e em 1794 todas as invasões tinham sido sustidas, a Bélgica fazia já

parte das fronteiras francesas e a paz e a união imperavam em França.

O novo regime proclamou uma nova Constituição que vinha garantir direitos

como a felicidade, a subsistência, o sufrágio universal, ao trabalho, à insurreição. Era

abolida a escravatura nas colónias francesas, o governo passava a ter o dever de zelar

pela felicidade de todos os cidadãos e acabavam também todos os restos de feudalismo.

Esta foi a primeira república de carácter verdadeiramente democrático proclamada por

um Estado moderno. A economia tardou a desenvolver-se devido ao atraso com que o

capitalismo chegou às pequenas empresas e à agricultura.Com isto também o comércio

e o movimento proletário ficaram com uma posição minoritária na sociedade francesa.

O novo governo passou a seguir políticas de esquerda sobretudo devido à junção

de Jacobinos e “Sans-Culottes” no poder e também devido à grande influência de

Robespierre no novo executivo. O gabinete governativo passava agora a chefiar todas as

opções em relação à guerra e Robespierre ganhava um lugar na história da Revolução

Francesa.

A república Jacobina teve de acalmar o apoio das massas populares porque

necessitava agora de um apoio financeiro maior. Os Jacobinos da classe média

desempenharam um papel fundamental na união entre populares e proprietários

enquanto o governo centralizava o poder e estimulava o descontentamento dos “Sans-

Culottes” com a execução de alguns dos seus líderes. Tanto os políticos de direita como

os de esquerda foram executados na guilhotina em 1794 o que deixou o governo de

Robespierre no poder sem oposição política mas graças à crise existente devido à

guerra. Este líder foi deposto pela Convenção em 27 de Julho de 1794 data que ficou

conhecida como o Nove de Termidor. A partir daqui o grande problema da Revolução

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Afirmação do Liberalismo em Portugal

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passou a ser encontrar um sistema político que desse paz à nação entre as pretensões dos

burgueses e a ameaça do regresso do Antigo Regime. Em 1796 surge durante a

campanha de Itália como o mais fantástico soldado francês, e em 1799 chegou ao poder

quando as invasões estrangeiras revelaram as fraquezas do governo.

Com Napoleão no poder como Imperador a França resolveu os seus problemas

económicos e sociais e acabou com a oposição através da força... Acaba assim o período

revolucionário que nos deixou a herança da liberdade, da igualdade e da fraternidade.

Nota 5. História da declaração dos direitos do homem e do cidadão de 1789

Os momentos que antecederam a redacção dos

Direitos do Homem e do Cidadão, aprovadas pela

Assembleia Nacional da França em Agosto de 1789 -

ocasião em que se encontraram Thomas Jefferson, então

embaixador da jovem república norte-americana em

Paris, e o Marquês de Lafayette, o nobre cavalheiro

francês que fora lutar, anos antes, pela libertação das 13

colónias inglesas da América do Norte - mostraram o

inequívoco enlace entre as duas grandes revoluções

liberais - democráticas do século XVIII: a Americana de

1776, e a Francesa de 1789.

A Declaração de 1789, é uma Declaração de Direitos, que é um privilégio do

povo contra qualquer governo na terra, geral ou particular, e nenhum governo justo deve

recusá-lo, ou basear-se em inferências.

Inebriados por sucessivas vitórias perante o rei Luís XVI, os parlamentares

franceses reunidos na Assembleia Nacional em Paris, então encarregados de redigirem

uma Constituição, decidiram elaborar uma Declaração de Direitos que servisse de

preâmbulo à nova Magna Carta. Juntaram-se, então, à mesa da Comissão Constituinte,

presidida por Mirabeau e Mounier, mais de uma vintena de declarações. O texto

definitivo foi apresentado, em forma de 17 artigos, a Assembleia Nacional e aprovado

no dia 26 de Agosto de 1789. Como observou Jacques Godechot, a aparência de

decálogo que a Declaração assumiu devia-se ao passado cristão dos parlamentares, que,

A Declaração de 1789 3

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Afirmação do Liberalismo em Portugal

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15

apesar de se declararem seguidores de Voltaire, haviam quase todos passado a sua vida

escolar nos bancos dos colégios religiosos.

Tratava-se de dar ao povo francês um "catecismo cívico", tão apregoado por

Jean-Jacques Rousseau, uma espécie de secularização dos Dez Mandamentos da lei

mosaica. Apesar de ter sido a Declaração de 1789 a que terminou por ficar na história

como o verdadeiro decálogo da liberdade do homem moderno, é interessante registar

que ela foi uma entre tantas outras que viram à luz a partir do século XVII, fruto dos

reclamos do liberalismo nascente. Os historiadores ingleses, naturalmente, apontam a

Carta Magna de 1215, como a pedra filosofal inspiradora de todas as declarações que se

seguiram desde então. Os franceses, por sua vez, gostam de remontar às petições feitas

pelos Estados Gerais reunidos em Paris, a primeira em 1355, e a outra em 1484, ambas

em nome da liberdade das gentes. Dessa forma, se fossemos buscar as raízes últimas das

modernas declarações de direitos terminaríamos no Sermão da Montanha de Jesus

Cristo.

As primeiras declarações de direitos, sob o ponto de vista na modernidade

constitucional e para a liberdade contemporânea, o que mais importa são os documentos

que começaram a surgir a partir do século XVII, sendo o primeiro entre eles a Petição

de 1628, que o parlamento inglês enviou ao desastrado rei Carlos I (que seria mais tarde

decapitado durante a revolução puritana, em 1649). Nessa petição, os cidadãos

reclamam dos impostos ilegais, do aboletamento dos soldados em casas de gente boa e

nas prisões sem justa causa. Dado o comportamento incorrigível dos seus reis, os

parlamentares ingleses tiveram que apresentar uma outra, a Bill of Rights, de 1689, que

visava limitar ainda mais a autoridade real, bem como impedir que, dali em diante, o

Parlamento fosse fechado a qualquer pretexto.

Tais liberdades conquistadas pelos britânicos encantaram não apenas seus

vizinhos franceses, como bem atestam os testemunhos de Montesquieu, de Voltaire e de

Rousseau, como terminaram por inspirar os colonos ingleses da América a lutar pela

conquista da sua independência. A partir de 1776, até 1784, seis colónias americanas

rebeladas (Virgínia, Maryland, Carolina do Norte, Vermon, Massachusetts e New

Hampshire) resolveram proclamar não só os seus direitos bem como encarregar o

talentoso Thomas Jefferson a redigir uma desaforada carta de independência em que,

entre outras coisas, afirmava que o governo de Sua Majestade britânica deveria

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promover a felicidade dos seus súbitos e que, se ele não o fizesse, eles teriam todo o

direito de pegar em armas e se libertar.

4 A afirmação do Liberalismo em Portugal

“Portugal conheceu o Liberalismo em 1820, com a revolução iniciada no Porto

pelos membros do sinédrio. Contudo a sua instalação foi um processo longo e difícil,

entravado pelo estado geral do país, pela oposição absolutista, activa pelo menos até

1834 e pelas divergências políticas e ideológicas entre as várias facções liberais que

levaram à segunda Guerra Civil.

A situação interna só acalmou com o governo da Regeneração que iniciou a

modernização económica e social que o país necessitava para acompanhar o

desenvolvimento da restante Europa, então em plena época de expansão da Revolução

Industrial e no apogeu do romantismo cultural que aqui teve também expressão”.

4.1 As Cortes Constituintes

Antecedida por algumas conspirações mal sucedidas como a do General Gomes

Freire de Andrade em 1817, Revolução Liberal portuguesa despoletou em 1820, no

Porto, onde foi planeada e organizada pelo Sinédrio, organização secreta fundada, em

1817, por Manuel Fernandes Tomás. Os membros do Sinédrio maioritariamente liberais

e também maçons (membros da maçonaria - sociedade secreta), burgueses de vários

sectores – exército, magistratura, profissões liberais, comerciantes e industriais –

aproveitaram a eclosão de uma Revolução Liberal em Espanha e a ida do Governador

inglês, Beresford, à corte, no Rio de Janeiro, para fazerem um pronunciamento militar

do qual nasceu a Revolução de 1820, já que o movimento foi rapidamente aclamado nos

restantes municípios do país para onde os revolucionários enviaram o seu Manifesto à

Nação, redigido por Fernandes Tomás, onde se explicavam os motivos que conduziram

à Revolução e os objectivos da mesma: libertar a Pártia dos culpados da decadência que

nela se havia instalado desde as invasões francesas – o absolutismo que perverteu a

monarquia, o domínio inglês e o caos administrativo e económico, restaurar a glória e o

prestígio do passado, mantendo o respeito pelas instituições tradicionais (a monarquia e

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17

as cortes) e pela igreja, e reunir as cortes para que se reunisse uma constituição liberal

para o país.

Neste propósito marcharam para Lisboa, onde a 15 de Setembro havia ocorrido

uma outra sublimação liberal que expulsara os regentes deixados por Beresford, e se

instituíra como governo interino. Da fusão dos dois movimentos saiu a Junta

Provisional do Governo do Reino, presidida pelo brigadeiro António da Silveira.

A acção imediata desta Junta Provisória foi no sentido de: terminar com a

dominação inglesa, expulsando os generais ingleses e o procônsul Breresford, que não

foi sequer autorizado a desembarcar aquando do seu regresso do Brasil; notificar o rei

D. João VI do ocorrido exigir o seu regresso imediato ao Reino, respeitando a nova

ordem revolucionária; consolidar externamente o novo governo através da diplomacia;

e, principalmente organizar eleições para as Cortes Constituintes que haveriam de

redigir a Constituição que consagraria juridicamente a nova ordem ideológica e política

da nação – o liberalismo.

Formadas nas eleições de Dezembro de 1820, as Cortes Constituintes, iniciaram-

se em Janeiro de 1821, começando por nomear a Regência que assumiria o poder até ao

regresso do rei, e por decretar uma lei fundamental (Junho de 1822) que vigorasse

provisoriamente até à redacção da Constituição. Entre as medidas legislativas então

tomadas, destacam-se as que, pelo seu teor, iniciaram o Fim do Antigo Regime em

Portugal: a abolição da dizima ao clero, bem como dos tributos pessoais, das

banalidades e de outras taxas de tipo feudal ainda remanescentes, iniciando a

liberalização dos camponeses e da terra; a extinção da inquisição e da censura; a

liberalização do ensino.

4.2 A Constituição de 1822

Lei fundamental votada pelas Cortes Constituintes reunidas, em Lisboa em

1821, sob o influxo da chamada revolução de 1820. O texto é de 23 de Setembro de

1822, e foi jurado pelo rei, D. João VI, em 1 de Outubro seguinte.

A Constituição de 1822 é o mais antigo texto constitucional português e,

tecnicamente, um dos mais bem elaborados. Se bem que não tenha dado origem

propriamente, a uma prática constitucional exerceu uma influência profunda nas

instituições e no direito político, iniciando em Portugal "a organização jurídica da

democracia" (Joaquim de Carvalho).

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Afirmação do Liberalismo em Portugal

História da Cultura

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Desde 1807 que o rei se encontrava ausente no Brasil, estando Portugal

condenado à situação vexatória de "colónia duma colónia", devastado por três invasões

francesas, empobrecido e entregue a uma regência subserviente perante a Inglaterra.

Beresford agia, como se fosse o próprio rei absoluto. Já em 1817 houvera uma tentativa

frustrada de Gomes Freire de Andrade. A este descontentamento juntaram-se, no ano de

1820, duas circunstâncias exteriores favoráveis a uma mudança política em Portugal, o

restabelecimento, em Espanha da Constituição de Cádis, que deu em toda a península

Ibérica um impulso extraordinário ao movimento constitucionalista; e o afastamento

temporário de Beresford que fora para o Brasil. No reino, os liberais viam a necessidade

duma constituição que criasse uma nova e racional ordenação jurídica e política e que

limitando o poder do rei, garantisse os direitos individuais. As Cortes que elaboraram a

Constituição de 1822 foram eleitas segundo o sistema prescrito na Constituição de

Cádis, a qual teve os seus defensores apaixonados que chegaram a querer pô-la em

vigor provisoriamente, até que estivesse completamente elaborado o novo texto

constitucional português. As Cortes de 1820, que se consideraram em Portugal como o

início do movimento democrático e constitucionalista moderno, foram apresentadas

pelos liberais como o regresso às antigas Cortes, consagrando a doutrina da soberania

da Nação.

A Constituição de 1822 teve apenas dois períodos de vigência: o primeiro vai de

23 de Setembro de 1822 a 2 de Junho de 1823, data em que as Cortes fazem a

declaração da sua impotência que se seguiu ao golpe de D. Miguel que proclamou em

Setembro, a queda da Constituição (29 de Maio de 1823).

O segundo período começa com com a chamada revolução de Setembro, que, pelo

Decreto de 10 de Setembro de 1836, repôs transitoriamente em vigor a Constituição de

1822, abolindo a Carta Constitucional até que se elaborasse uma nova Constituição que

só veio a aparecer a 4 de Abril de 1838.

A fonte principal da Constituição de 1822 foi a Constituição de Cádis de 1812,

que influenciou primeiro e directamente, o texto das "Bases da Constituição", que foram

juradas pelas Cortes antes de D. João VI regressar ao reino. Depois as Cortes

começaram a discutir o projecto de Constituição, que se inspira nas Bases, tendo sido

aprovada em 23 de Setembro de 1823.

Está dividida em seis títulos, seguindo aproximadamente o esquema da

Constituição de Cádis. O Título I contém uma autêntica declaração de direitos. No

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Afirmação do Liberalismo em Portugal

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Título II afirma-se que a soberania reside essencialmente em a Nação. Aparece também

consignado o princípio de separação dos poderes. O Título III que trata do poder

legislativo, faz a consagração do princípio de uma única câmara, eleita bienalmente por

sufrágio directo e universal, com exclusão das mulheres, dos analfabetos e dos frades. O

Título IV dedica um capítulo ao Reino Unido (o Brasil), que haverá uma declaração do

poder executivo, no Brasil. Consagrava-se o princípio de larga autonomia política e

administrativa para o Brasil, com o qual se estabelecia uma União Real. O Título V trata

do poder judicial. O Título VI e último ocupa-se do governo administrativo e

económico.

A Constituição de 1822 foi subscrita por 141 deputados, entre os quais se

contam os mais ilustres representantes da chamada ideologia vintista, e acima de todos

o grande Manuel Fernandes Tomás.

4.3 A Independência do Brasil

Uma das questões que mais preocupou as Cortes Constituintes foi a do Brasil, a

mais rica colónia portuguesa e também a pedra basilar da economia nacional.

A ida da Corte para o Brasil (em 1808, no inicio das invasões francesas) e a

consequente abertura dos portos brasileiros ao tráfico internacional comprovaram a

importância do Brasil para a economia portuguesa. Por isso os deputados da

constituinte, numa atitude nacionalista, procuraram uma solução de compromisso entre

o visível desejo de independência dos brasileiros e a necessidade de manter o Brasil

como colónia. Ao exigir o regresso do rei e da corte ao Reino dissolveram e retiraram

grande parte das instituições e poderes centrais que aí tinham funcionado e instituíram

no Brasil uma delegação do poder executivo português, criando uma Regência;

admitiram ainda que algumas províncias brasileiras pudessem subtrair-se à

administração dessa Regência, ficando directamente dependentes do governo de Lisboa.

Estas medidas desagradaram aos brasileiros que, durante os treze anos em que a

corte aí estivera, se habituaram a uma situação de independência em relação à

metrópole, conheceram grandes progressos económicos e socioculturais e viram a sua

colónia elevada à categoria de Reino, em 1815.

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Afirmação do Liberalismo em Portugal

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20

Com efeito, embora o sentimento independentista recua-se até mais tarde ele

fortaleceu-se nesse período em que os ideais liberais e maçónicos entraram francamente

na colónia, alimentando as esperanças de pequenos grupos de patriotas e dando origem

à Revolução Republicana de Pernambuco em 1917, severamente reprimida.

Neste ambiente, a actuação da corte foi considerada no Brasil como

antibrasileira e recolonizadora pois visava desunir o Reino do Brasil, anular os

benefícios que lhe tinham sido concedidos por D. João VI deixara no Brasil. Entretanto

formaram-se milícias armadas que, sob a direcção de José Bonifácio de Andrade e

Silva, nomeado desde 16 de Janeiro ministro do Reino do Brasil, dirigiram o impulso

para a independência.

A 7 de Janeiro de 182, nas margens do Ipiranga, em S. Paulo, D. Pedro decidiu-

se: “ É tempo! Independência ou morte! Estamos separados de Portugal!” A

independência viria a ser reconhecida por Portugal em 1825.

A perda do Brasil foi um rude golpe para Portugal, sobretudo para a sua

economia já que ela acarretou a desagregação do império atlântico, até aí suporte da

economia portuguesa, e desestruturou a balança nacional de importações-exportaçoes,

obrigando a burguesia comercial e industrial a reorientar os seus negócios.

5 O triunfo do Liberalismo

5.1 Carta Constitucional de 1826

A Carta Constitucional representou um compromisso entre a doutrina da

soberania nacional, adoptada sem restrições pela Constituição de 1822, e o desejo de

preservar os direitos régios, o que descontentou os vintistas, que eram mais radicais, e

os absolutistas, bastante mais conservadores. Acabou, todavia, por ser jurada por todos,

incluindo D. Miguel.

A Carta vigorou durante três períodos: o primeiro entre Julho de 1826 e Maio de

1828, data em que D. Miguel convocou os três Estados do Reino, que o aclamaram rei e

decretaram nula a Carta Constitucional; o segundo iniciou-se em Agosto de 1834, com a

vitória do Partido Liberal na Guerra Civil e a saída do País de D. Miguel, e termina com

a revolução de Setembro de 1836, que proclama de novo a Constituição de 1822 até se

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elaborar nova Constituição, o que sucedeu em 1838; o terceiro período começa com o

golpe de Estado de Costa Cabral, em Janeiro de 1842, e só termina em 1910, com a

República. Durante este último período sofreu três revisões profundas, em 1852, 1885 e

1896.

Não se sabe ao certo quem foi o seu autor, presumindo-se que tenha sido José

Joaquim Carneiro de Campos. Quem quer que fosse utilizou como fontes a Constituição

do Império do Brasil, a Constituição de 1822 e a Carta Constitucional outorgada por

Luís XVIII de França em 1814. Tiveram ainda influência doutrinal as ideias de

Benjamin Constant.

As suas características mais importantes são as seguintes: carta é uma concessão

régia, que não só não afirma, ao contrário da Constituição de 1822, o princípio da

soberania popular, como concede ao rei um importante papel na ordenação

constitucional; estipula o princípio da separação de poderes que, além dos clássicos três,

legislativo, executivo e judicial, passa a ter mais um, o moderador. O poder legislativo

pertence às Cortes com a sanção do rei e é exercido por duas câmaras: a dos Deputados,

electiva e temporária e a dos Pares, com membros vitalícios, nomeados pelo rei e sem

número fixo, sendo os lugares hereditários. O poder moderador, o mais importante,

pertence exclusivamente ao rei, que vela pela harmonia dos outros três poderes e não

está sujeito a responsabilidade alguma. O poder executivo também pertence ao rei, que

o exercita através dos seus ministros. O poder judicial é independente e assenta no

sistema de juízes e jurados e por ultimo a Carta enumera ainda os direitos dos cidadãos,

de que os mais importantes são o direito de liberdade de expressão, oral e escrita, o

direito de segurança pelo qual ninguém pode ser preso sem culpa formada, e o direito de

propriedade. Mas não indica quaisquer deveres, o que é bastante significativo.

Embora liberal, ficou longe do espírito democrático da Constituição de 1822.

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5.2 A Guerra Civil de 1832-34

Triunfo dos liberais sobre os absolutistas

Após a revolta de 1820, que implantou o liberalismo em Portugal, o país irá

conhecer um longo período de instabilidade política, ditado pela oposição entre as

facções liberais e as absolutistas e conservadoras. A monarquia constitucional teve

dificuldades em se implantar, em parte devido às mentalidades fixadas, que se opunham

vivamente às mudanças jurídicas necessárias à instituição de uma nova ordem social,

política e económica. Apesar de se verificarem mudanças nas posições sociais, a

mentalidade continuava presa aos antigos moldes. Mesmo enfraquecida, a nobreza era

regenerada a partir do exterior, através dos burgueses recém-titulados que perpetuavam

a velha ordem. As camadas populares, em particular as rurais, em nome das quais havia

sido feita a revolução, continuavam empobrecidas e fracas, conformadas com o seu

destino. Este estado de coisas ajuda a esclarecer o tipo de reacções às medidas impostas

pela legislação liberal, como a obrigatoriedade dos enterramentos em cemitérios ou a

abolição dos dízimos, e também o eco que o ideário absolutista monárquico tinha numa

grande parte da população portuguesa.

Assim se explica o golpe de D. Miguel, em 1823 (Vila-Francada), reprimido de

forma pouco decidida por D. João VI (1767-1826). Tal facto levou a uma nova

conspiração em Abril de 1824 (Abrilada), em que o príncipe D. Miguel, apoiado na

rainha D. Carlota Joaquina, sua mãe, pretendeu restaurar a monarquia absolutista. O

golpe terminou com o exílio do príncipe, mas as sementes da discórdia estavam

lançadas. A atitude pouco enérgica do rei, por um lado, e as contradições políticas e

sociais do liberalismo, por outro, deixam espaço para dúvidas que vão resultar numa

guerra civil após a morte do monarca, em 1826. D. Miguel, regressado do exílio, decide

assumir o poder em nome de D. Maria da Glória (futura D. Maria II), filha de D. Pedro

IV, chegando ao país em 1828, sendo entusiasticamente recebido pela população.

Poucos meses depois faz-se proclamar rei absoluto, desrespeitando o que havia

prometido ao imperador brasileiro.

A guerra civil iniciou-se em Julho de 1832, com o desembarque das tropas

liberais de D. Pedro IV no Mindelo, às quais se juntaram muitos liberais, que

conspiravam no país e no estrangeiro. Após dois anos de lutas intensas, em que as

tropas miguelistas revelam as suas fraquezas, a guerra civil termina no Alentejo com a

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assinatura da Convenção de Évora Monte (26/5/1834). D. Miguel foi afastado de cena

mas o seu fantasma permanecerá através dos partidários do absolutismo e da velha

ordem.

O liberalismo português não conseguia vencer as suas próprias contradições

internas autogerando crises políticas, como a de Setembro de 1836 (pelos Setembristas,

liberais radicais de esquerda), que voltou a adoptar a Constituição de 1822. O texto

constitucional que a veio substituir, jurado em 1838, avançava na direcção de um maior

liberalismo, pondo de lado o poder da realeza e alargando o direito de voto a um maior

número de pessoas. Contudo, o Partido Setembrista acabou por se diluir nas forças

moderadas, levando a que em 1848 Costa Cabral restaurasse a Carta Constitucional.

Apenas os mais extremistas levantaram a voz contra este processo, como foi o caso do

conde de Bonfim, líder da revolta militar de Torres Novas, em 1844, que falha por falta

de apoio militar e popular, mas que é sintomática do estado da nação.

A tensão recrudesce com o autoritarismo da política cabralista, com a acção

intervencionista do Estado, ainda que num sentido moderno. Leis como a da saúde

pública, de 18 de Setembro de 1844, dão origem a uma série de sublevações populares

que ficaram conhecidas por Revolta da Maria da Fonte (1846). Na sua origem está a

obrigatoriedade de enterrar dentro dos cemitérios, bem como o pagamento de taxas

pelos serviços prestados, que levaram ao levantamento da população de Fonte Arcada,

na Póvoa de Lanhoso, que se sentia atingida nas suas mais profundas crenças religiosas.

Perturbados por uma conjuntura de crise de subsistência, provocada por maus anos

agrícolas, pelo aumento dos preços dos cereais e pela baixa dos salários, os populares da

Região Norte do país, aos quais se juntaram membros do clero, revoltaram-se de forma

tumultuosa, pilhando e queimando as repartições à sua passagem, atitude compreensiva

tendo em conta que ainda vigoravam os direitos senhoriais e que as novas leis punham

em causa os direitos comunitários. A intervenção das tropas levou à organização do

movimento popular em juntas, politicamente aproveitadas pelas forças setembristas,

cartistas e miguelistas. O governo de Costa Cabral acabou por se demitir e a lei da saúde

pública revogada.

No entanto, a instabilidade dos novos governos não apaziguou os ânimos dos

revoltosos, em particular os miguelistas. A Emboscada, nome dado ao golpe da rainha

D. Maria II, que, orquestrada por Costa Cabral, no exílio, assume o poder nas suas mãos

revogando a lei eleitoral, exaltando ainda mais os ânimos, levou a que a junta do Porto

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se revoltasse. Esta junta era liderada por Passos Manuel e apoiava-se na Guarda

Nacional, na Infantaria 6 e na Artilharia 3. Outras juntas seguiram o seu caminho,

eclodindo uma nova guerra civil conhecida por Patuleia. Durante seis meses foram

travados duros combates por todo o país, terminados apenas com a intervenção de

tropas inglesas, no âmbito da Quádrupla Aliança, que dão a vitória à rainha. A

Convenção de Gramido (30 de Junho de 1847) marca o fim da guerra e, após algumas

hesitações, marca o advento de uma nova era para o liberalismo português, com a

subida ao poder do Duque de Saldanha, que propõe uma política de regeneração para o

país.

Nota 6. Vilafrancada é o nome dado à insurreição liderada pelo Infante D.

Miguel de Portugal em Vila Franca de Xira a 27 de Maio de 1823.

O regime liberal instaurado em Portugal pela Revolução de 24 de Agosto de

1820 não podia satisfazer os sectores mais reaccionários da população, que reclamavam

a restauração do Absolutismo. À cabeça dos descontentes encontravam-se a rainha D.

Carlota Joaquina, esposa de D. João VI, que recusara jurar a Constituição de 1822 e

estava exilada em Queluz, e o filho segundo dos soberanos, o Infante D. Miguel.

O ano de 1823 trouxe aos absolutistas a ocasião por que esperavam. A invasão

de Espanha por tropas francesas mandatadas pela Santa Aliança para esmagar o regime

constitucional e reconduzir ao poder o rei Fernando VII encorajara o levantamento

absolutista do conde de Amarante no norte de Portugal e animou o partido da rainha a

revoltar-se abertamente, confiante no auxílio francês. A 27 de Maio de 1823, o Infante

D. Miguel deslocou-se a Vila Franca e aí se lhe juntou um regimento de infantaria que

deveria ter seguido para Almeida a reforçar a fronteira contra as investidas dos

revoltosos nortenhos. Foram dados vivas à monarquia absoluta, e é de crer que o infante

e a rainha projectassem mesmo a abdicação de D. João VI, que se mantinha fiel à

Constituição que jurara.

No final do mês, porém, D. João VI decidiu tomar a direcção da revolta,

encorajado pelo levantamento do Regimento de Infantaria 18, que viera ao Palácio da

Bemposta dar-lhe vivas como rei absoluto; partindo para Vila Franca, obrigou o infante

rebelde a submeter-se-lhe e regressou a Lisboa em triunfo. As Cortes dispersaram-se,

vários políticos liberais partiram para o exílio e foi restaurado o regime absolutista, mas

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D. João VI logrou impedir a ascensão ao poder do partido ultra-reaccionário e manter a

sua posição determinante no xadrez político. O partido da rainha não deixou, porém, de

continuar a intrigar, e menos de um ano mais tarde eclodia nova revolta absolutista, a

Abrilada, que resultou no exílio do próprio Infante D. Miguel.

A insurreição da Vilafrancada foi sobretudo sintoma das tensões que a rapidez

das mudanças políticas no país havia trazido à superfície e contribuiu para alimentar o

clima de instabilidade que continuou a assombrar o país até à Regeneração

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Conclusão

O pensamento liberal é marcado por uma enorme diversidade de ideias, que

foram evoluindo de acordo com a própria sociedade. John Lock conta-se entre os

pioneiros do liberalismo, ao defender um conjunto de direito naturais inalienáveis do

indivíduo, anteriores à própria sociedade: a liberdade, a propriedade e a vida.

O século XVIII, aprendeu a valorizar o ser humano pelas suas capacidades

individuais, fazendo-o sobressair do grupo social a que pertencia. Este individualismo

que é marca distintiva da mentalidade burguesa, cresceu também o Iluminismo, corrente

cultural que dominou o pensamento intelectual do século XVIII. O Iluminismo

valorizava o indivíduo pela sua capacidade racional, isso é, a sua inteligência ou Razão

(também denominada de a “Luz” ou as “Luzes”). Os filósofos iluministas defendiam

que a Razão humana, quando exercida em liberdade e sem constrangimentos, era o

único meio fidedigno para desvendar os segredo do Universo e construir os

conhecimentos sobre a Natureza, os homens e as sociedades.

Guiados pela razão e pela filosofia natural formularam-se novos princípios

ideológicos e novos conceitos do Homem e do Cidadão, que se julgavam mais justos e

racionais.

No século XIX o continente europeu ficou marcado pela Revolução Industrial ao

nível económico e pela Revolução Francesa a nível social. De facto, a Revolução

Francesa marcou toda a Europa e mesmo o mundo deixando um legado de ideias

políticos e sociais. Esse período deixou-nos a herança da liberdade, da igualdade e da

fraternidade.

Portugal conheceu o Liberalismo em 1820, com a revolução iniciada no Porto

pelos membros do sinédrio. Contudo a sua instalação foi um processo longo e difícil,

entravado pelo estado geral do país, pela oposição absolutista, activa pelo menos até

1834. Após a revolta de 1820, que implantou o liberalismo em Portugal, o país irá

conhecer um longo período de instabilidade política, ditado pela oposição entre as

facções liberais e as absolutistas e conservadoras (Guerra Civil), cujos absolutistas

acabam por sair vitoriosos. Esta guerra também é denominada pele guerra entre dois

irmãos, D. Miguel (que defendia o absolutismo) e D. Pedro (que defendia o

liberalismo).

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A Convenção de Gramido (30 de Junho de 1847) marca o fim da guerra e, após

algumas hesitações, marca o advento de uma nova era para o liberalismo português,

com a subida ao poder do Duque de Saldanha, que propõe uma política de regeneração

para o país.

As ideias liberais, continuam a ser largamente seguidas pelos povos mais

diversos no mundo, nomeadamente devido à valorização que fazem do papel dos

indivíduos na sociedade e à defesa da liberdade que proclamam.

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Referencias Bibliográficas

Pedro Almiro Neves, Cadernos de História, Porto Editora, Porto, Portugal, 2005

Manique, Francisco Pina, A Causa de D. Miguel, 2ª ed., Lisboa, Caleidoscópio, 2007

(reedição de Portugal desde 1828 a 1834, Lisboa, Tipografia de Sousa & Filho, 1872).

Siebertz, Paul, Dom Miguel e a sua época - A verdadeira História da Guerra Civil, Mem

Martins, ACTIC, 1986.

Web sites

www.infopedia.pt/$liberalismo-em-portugal (12.11.08)