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UniSALESIANO Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium Curso de Psicologia Avelina Meire Ferreira Gabriela da Silva Santos Ligia Pereira Paulovic A ADOÇÃO TARDIA E O DESENVOLVIMENTO INFANTIL NO CONTEXTO FAMILIAR LINS SP 2018

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UniSALESIANO

Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium

Curso de Psicologia

Avelina Meire Ferreira

Gabriela da Silva Santos

Ligia Pereira Paulovic

A ADOÇÃO TARDIA E O DESENVOLVIMENTO

INFANTIL NO CONTEXTO FAMILIAR

LINS – SP

2018

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AVELINA MEIRE FERREIRA

GABRIELA DA SILVA SANTOS

LIGIA PEREIRA PAULOVIC

A ADOÇÃO TARDIA E O DESENVOLVIMENTO INFANTIL NO CONTEXTO

FAMILIAR

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Banca Examinadora do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium, curso de Psicologia, sob a orientação da Prof.ª Melissa Fernanda Fontana e orientação técnica da Prof.ª Ma. Jovira Maria Sarraceni.

LINS – SP

2018

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Ferreira, Avelina Meire; Santos, Gabriela da Silva; Paulovic, Ligia Pereira

F439a A ADOÇÃO TARDIA E O DESENVOLVIMENTO INFANTIL NO CONTEXTO FAMILIAR/ Ferreira, Avelina Meire; Santos, Gabriela da Silva; Paulovic, Ligia Pereira – 2018. 58p. il. 31cm.

Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium – UniSALESIANO, Lins-SP, para graduação em Psicologia, 2018.

Orientadores: Melissa Fernanda Fontana; Jovira Maria Sarraceni.

1. Adoção. 2. Adoção Tardia. 3. Família I Título.

CDU 159.9

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Jesus Cristo meu único e suficiente salvador. Minha família, meu

esposo Márcio, meus filhos Erik, Fernando, Diogo, minha nora Yuli e meu neto David.

Sem vocês eu nada seria.

Agradecimento especial a um anjo disfarçado de enfermeira, a minha

Supervisora querida RT Neusa Augusta, um exemplo de dedicação, humanismo e

responsabilidade como ser humano. Agradeço a enfermeira Beatriz pelo o apoio

durante o seguimento do presente trabalho e pela amizade. Minhas amigas Cidinha

Zamian, Lisete Miranda, Dra. Celia, Dra. Sandra, enfermeira Marcia Morilias, Dr.

David, enfermeira Ivani, a cada dia aprendo com todos, muito obrigada pelo apoio e

credibilidade. A minha amiga Eliane eu deixo meu muito obrigado por acreditar em

mim e me incentivar sempre.

Professor Mauricio (in memorian), maravilhoso mestre, professora Jovira,

professora Melissa e aos demais professores que me auxiliaram e capacitaram

durante minha jornada no curso. Expresso minha gratidão pelas minhas companheiras

e amigas pela ajuda na elaboração do TCC (Gabriela e Ligia, minhas filhas do

coração). Muito obrigado!

Avelina Meire Ferreira

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AGRADECIMENTOS

Agradeço ao Senhor pelas benções que me destes desde o início do curso, por

zelar de minha saúde me dando sabedoria para enfrentar os desafios. À minha família

que sempre esteve ao meu lado, principalmente minha mãe Luzinete Silva, por

acreditar em mim me fortalecendo e me amparando, pois sem ela eu nada seria.

Gratidão aos amigos leais que conheci no curso, principalmente à minha amiga,

irmã e parceira de TCC, Ligia Paulovic, da qual esteve comigo compartilhando dos

mais belos aos mais sombrios momentos. À minha amiga e parceira de curso Paloma

Alves (in memórian), obrigada pelos sorrisos, abraços e companheirismo, esta que

após cumprir sua missão na terra partiu para os braços de Deus em novembro de

2017, deixando muita saudade.

Obrigado aos nossos mestres do Curso de Psicologia do Unisalesiano que me

apresentaram um novo mundo com experiências incríveis, principalmente a

professora e nossa orientadora Melissa Fontana pela paciência, ajuda e dedicação

com o nosso trabalho. Gratidão à professora Jovira Sarraceni, pelo incentivo e todo o

suporte oferecido nesses meses de pesquisa, à professora Liara Rodrigues de

Oliveira pela amizade sincera que construímos ao longo desses 5 anos, por todo o

apoio e experiências dos campos de estágios compartilhadas. Minha eterna

admiração aos mestres Rodrigo Caputo, Oscar Xavier e Mauricio Ribeiro (in

memorian), pessoas incríveis que servem de inspirações para todos seus alunos.

Gabriela da Silva Santos

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradecer a Deus por me dar forças para chegar até aqui e estar

sempre do meu lado para enfrentar as dificuldades do dia a dia. Aos meus pais

guerreiros que estão sempre do meu lado me ajudando nos momentos bons e ruins.

Agradeço meu irmão por sempre estar do meu lado me dando conselhos, puxando a

orelha, você é mais que um irmão pra mim, como eu sempre falo: sem você a vida

não teria graça.

A minha amiga e irmã Gabriela Silva que a psicologia me deu e estamos nessa

luta juntas desde 2014 e hoje parceira de TCC, sempre me ajudando, dando

conselhos, vou ser seu eterno chaveirinho. A minha amiga Paloma Alves (in

memórian) que hoje está nos braços de Deus e olhando por nós, deixando nós aqui

em terra com saudade.

Aos meus mestres do curso de Psicologia que desde 2014 vem nos ensinando

a cada dia crescer e ser excelentes profissionais.

Ligia Pereira Paulovic

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RESUMO

O presente trabalho buscou reconhecer os aspectos adaptativos do

desenvolvimento infantil relacionados ao contexto familiar após a adoção tardia. Nos últimos tempos a procura por crianças maiores vem crescendo ainda que timidamente, mas a ideia de um filho recém-nascido ainda se mostra preferida. Esses números podem ser explicados a partir do medo que as famílias têm, elas temem que a criança maior traga alguma carga anterior ou herança genética que possam despertar comportamentos indesejáveis. A falta de informação ou até mesmo o preconceito sobre o assunto acaba privando os casais que possuem o interesse no ato da adoção tardia, assim os mesmo recuam e preferem não se submeter a essa experiência. Através de entrevistas semiestruturadas com 5 famílias adotantes, foi possível investigar a relação entre adoção tardia e o comportamento problema os identificando nos casos e as medidas tomadas pelas famílias para a reversão do mesmo, compreendendo assim cada caso utilizando as abordagens psicodinâmicas. Chegando à conclusão de que os problemas aparecerão independente da criança ter sido adotada tardiamente ou não, cabendo aos pais buscarem ajuda com profissionais no intuito de trabalhar seus medos e dúvidas em relação de como lidar na solução dos conflitos. Palavras-Chaves: Adoção. Adoção tardia. Família.

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ABSTRACT

The present work sought to recognize aspects of child development related to the family context after the late adoption. In lately the search for older children has been growing, althought timidly, but the idea of a newborn child is still the favorite. These numbers can be explained from the fear that the families have, they fear that the older child will bring some previous load or genetic inheritance that may arouse undesirable behaviors. The shortage information or even prejudice on the subject ends up depriving the couples who have the interest in the act of late adoption, so they decline and prefer not to submit to this experience. Through the semi-structured interviews with five adopting families, it was possible to investigate the relationship between late adoption and problem behavior identifying them in the cases and the measures taken by the families for the reversal of the same, understanding each case using the approaches psychodynamics. Reaching the conclusion that the problems will appear regardless of when the child was adopted, late or not, and it is up to the parents to look for help from professionals in order to work out their fears and doubts about how to deal with conflict resolution.

Keywords: Adoption. Late adoption. Family.

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LISTA DE QUADROS

Quadro1: como conheceram as crianças e viram a possibilidade para

adoção?..................................................................................................................... 30

Quadro 2: a partir de quantos encontros perceberam que realmente gostaria de adota-

las? E como as crianças receberam a

proposta?....................................................................................................................31

Quadro 3: quando vieram como foram os primeiros momentos juntos? o que foi mais

difícil na fase de adaptação com as crianças? ......................................................... 32

Quadro 4: como é o tratamento entre vocês e as crianças? (existe hostilidade).......32

Quadro 5: quais os planos para o futuro e a educação das

crianças?....................................................................................................................33

Quadro 6: as crianças apresentaram algum problema com relação ao

desenvolvimento que onde foi necessário recorrer à algum

serviço?......................................................................................................................34

Quadro 7: ficaram constrangidos ou inseguros em algum momento devido a adoção e

como lidaram com a situação?....................................................................................34

Quadro 8: como e com qual frequência ocorrem as reuniões de família? existe algum

tipo de conflito? com relação aos outros integrantes da família (avós, tios, primos),

como foi a recepção e desenvolvimento da relação familiar? .................................. 35

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..........................................................................................................11

CAPÍTULO I - ADOÇÃO ............................................................................................14

1 A ADOÇÃO NO CONTEXTO SÓCIO-HISTÓRICO ................................................14

2 ECA- ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE .................................... 16

3 LEIS E PROCEDIMENTOS PARA ADOÇÃO .........................................................19

4 PASSOS PARA A ADOÇÃO ..................................................................................19

CAPÍTULO II - AS CRIANÇAS INSTITUCIONALIZADAS E A ESPERA DAS

FAMÍLIAS ..................................................................................................................22

1 AS CRIANÇAS INSTITUCIONALIZADAS À ESPERA DA ADOÇÃO ....................22

2 AS FAMÍLIAS NO PROCESSO DE ADOÇÃO .......................................................24

3 ADOÇÃO TARDIA ..................................................................................................26

CAPÍTULO III - METODOLOGIA ...............................................................................28

1 PROCEDIMENTOS ................................................................................................28

2 A ENTREVISTA ......................................................................................................29

3 ANÁLISE DE DADOS .............................................................................................30

CAPÍTULO IV - DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ..................................................37

PARECER FINAL ......................................................................................................41

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO ..............................................................................41

CONCLUSÃO ............................................................................................................42

REFERÊNCIAS .........................................................................................................44

APÊNDICES ..............................................................................................................47

ANEXOS ....................................................................................................................55

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INTRODUÇÃO

Desde a antiguidade os povos praticavam a adoção, as crenças primitivas

impunham a necessidade da existência de um filho a fim de impedir a extinção do

culto doméstico intitulado como família. Weber (2000) ressalta que a Bíblia relata a

adoção de Moisés pela filha do faraó, no Egito e que o Código de Hamurabi (1728 –

1686 a.c), na Babilônia, disciplinava a adoção em oito artigos, inclusive prevendo

punições para aqueles que desafiassem a autoridade dos pais adotivos como por

exemplo cortar a língua e arrancar os olhos. Na Roma Antiga, era exigida a idade

mínima de 60 anos para o adotante e vedada a adoção aos que já tivessem filhos. A

adoção chegou a ser usada pelos imperadores para designar seus sucessores, depois

perdendo o caráter de natureza pública, limitando-se somente como consolo para os

casais estéreis.

Os processos de adoção passaram por diversas transformações, a história da

adoção no Brasil nos remete ano início do século 20 sendo tratado pela primeira vez

em 1916 pelo Código Civil Brasileiro. Após essa iniciativa seguiram a introdução de

três leis (3.133/1957, 4.655/1965 e 6.697/1979), antes da chegada do Estatuto da

Criança e do Adolescente o ECA (Lei 8.069) em 1990. Novas alterações trouxeram

mudanças expressivas, onde há 40 anos, somente casais poderiam adotar, hoje após

diversas decisões judiciais casais homoafetivos asseguram o direito de adotar e

proporcionar às crianças seus direitos como saúde, educação e uma família.

O artigo 3º do ECA coloca que a adoção só poderá ser concedida quando

estiverem presentes vantagens reais para o adotando e fundarem-se em motivos

legítimos, supondo-se que, entre adotante e adotado, possa vir a existir um vínculo

semelhante ao de filiação. Fazendo-se assim as equipes de adoção que são

compostas por assistentes sociais e psicólogos, ocupam-se dos processos de

habilitação, procurando conhecer as reais motivações dos candidatos para adotar e

evitar problemas futuros nas relações familiares. (BRASIL, ECA, 1990)

No Brasil há um grande número de crianças maiores de dois anos nos abrigos,

cujo a adoção destas denominam-se como adoção tardia. Encontram-se vários

profissionais defendendo a abolição do termo adoção tardia, os mesmos entendem

que este remete à ideia de uma adoção fora do tempo conveniente, assim reforçando

o preconceito de que ser adotado é somente para bebês. Sugerem então a utilização

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da expressão adoção de crianças maiores.

Antigamente a procura por uma criança maior era alta, pois os casais preferiam

esperar a confirmação de que a criança tivesse uma boa saúde mental e física. Hoje

um dos motivos do número de crianças maiores em abrigos ser grande pode-se dizer

que é pelo medo, pois uma boa parte das famílias possui, a preocupação em adotar

essas crianças e as mesmas trazerem algum tipo de revolta ou comportamentos

problemas como não aceitar regras e limites impostos pelos pais assim afetando o

convívio familiar. Com o convívio, é possível que surjam sentimentos e

comportamentos considerados difíceis, problemáticos, e que a família se sinta

desafiada em um teste de aceitar do novo integrante. Cada criança traz consigo uma

história, suas vivências acabam causando conflitos internos, o que pode dificultar o

momento de adaptação com cada família. Assim, é necessário que os pais conheçam

a história de vida da criança para saber quais os cuidados devem ser tomados após

a adoção.

Se, ao arranjarmos uma adoção, conhecemos a história inicial do bebê e o grau de perturbação ambiental que deve essencialmente ter complicado os estágios muito iniciais do desenvolvimento emocional da criança, estamos na posição de perceber antecipadamente se os pais adotivos terão de providenciar tratamento em vez de apenas cuidados comuns para a criança. (WINNICOTT 1954, p.117)

Quando é tratado, o tema da espera pela adoção, envolve questões como:

motivação, expectativas e ansiedade. Verificando quais seriam os verdadeiros

motivadores para a adoção, será por uma frustração, para preenchimento de uma

lacuna, um luto mal elaborado, solidariedade, aumentar o número de filhos já

existentes na família ou então solucionar problemas conjugais.

Após estudos buscou-se realizar a pesquisa, com o objetivo de reconhecer os

aspectos do desenvolvimento infantil após a adoção, investigando a relação entre a

adoção tardia e os comportamentos problemas encontrados em cada caso, quais as

medidas tomadas para a reversão dos mesmos. Através da pergunta problema, que

se após a adoção tardia podem haver conflitos em relação ao comportamento da

criança e da família. Levantou-se a hipótese que sim, podem surgir conflitos, pois a

partir do momento em que a criança é adotada e assim forma-se uma nova família,

ambos demonstram-se ansiosos e querem mostrar e dar o melhor de si escondendo

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por muitas vezes sua real personalidade. Cada criança traz consigo uma história, suas

vivências acabam causando conflitos internos o que pode dificultar o momento de

adaptação com cada família. Assim é necessário que os pais conheçam a história de

vida da criança para saber quais os cuidados devem ser tomados após a adoção.

Os capítulos foram estruturados abordando o contexto histórico da adoção

fazendo um apanhado sobre seu surgimento e avanços; o Estatuto da Criança e do

Adolescente apresentando os direitos e deveres dos mesmos; os passos para a

adoção; as crianças institucionalizadas e as famílias na lista de espera. A partir da

leitura dos capítulos iniciais será possível uma melhor compreensão da pesquisa

realizada e seus resultados.

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CAPÍTULO I

ADOÇÃO

1 A ADOÇÃO NO CONTEXTO SÓCIO-HISTÓRICO

De acordo com o livro de Guará (1998), “Trabalhando Abrigos”, a primeira

medida de cuidados à infância carente no Brasil foi tomada em 1553 quando o Rei

Dom João II ordenou que todas as crianças órfãs passassem a ter sua alimentação

garantida pelos administradores da colônia. Através da criação das Santas Casas de

Misericórdia, o Brasil começou um novo costume herdado de Portugal – a roda dos

expostos. Lugar onde as mães depositavam os filhos em gavetas na porta giratória

ficando assim no anonimato. Essa medida foi criada com o objetivo de evitar o

infanticídio, o aborto e tornar a prática do abandono menos doloroso, pois, até então

os recém-nascidos eram abandonados na frente de casas ou igrejas onde muitos

deles morriam antes que fossem encontrados. O abandono era realizado pelas mães

por motivos variados, entre eles a miséria, fome, por serem fruto de relacionamentos

com homens casados ou serem filhos de seus patrões.

Encontra-se nesse contexto as amas-de-leite que eram as próprias mulheres

que abandonavam seus filhos, elas se ofereciam para cuidar das crianças

abandonadas em troca de uma remuneração. O que envolvia fraudes, pois os

senhores fazendeiros obrigavam suas escravas à abandonarem seus filhos para

assim voltarem e pegar as crianças para cuidar e receber um pagamento em troca e

ainda mantê-los como escravos depois de grandes. Uma parte das amas não

aceitavam o tipo de trabalho fraudado e a maioria das crianças cresciam e ficavam

perambulando nas ruas, assim as rodas os encaminhavam para famílias interessadas

na mão-de-obra infantil transformando os meninos em aprendizes de sapateiros,

ferreiros e as meninas como balconistas e empregadas domésticas.

A roda dos expostos foi extinta definitivamente em 1950, os grandes internatos

começaram a surgir a partir da década de 1930, após o 1º código de menores

aprovado em 1927 onde o dever dessas instituições era proteger os menores das

situações de vulnerabilidade. Mas durante os anos foram aparecendo denúncias de

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violência e maus tratos, desta forma o Código de Menores de 1979, introduziu novos

avanços, mas sem alterar significamente o modelo anterior, o que gerou novas

denúncias de abusos. (GUARÁ, 1998)

A adoção passou por transformações durante a história, mas a partir da

instituição Código de Menores que começou o progresso em relação à mesma.

Através do Código passaram a haver procedimentos básicos para a adoção, como

relata Ferreira e Carvalho (2000): a adoção simples e a adoção plena ambas redigidas

pelo Código de Menores e a adoção do Código Civil feita em cartório através de um

acordo entre ambas as partes.

O filho de criação é uma instituição mais antiga que o próprio Brasil, trazida ao País pelos principais colonizadores. Trata-se de uma herança da família patriarcal portuguesa, cuja influência ia além dos laços sanguíneos, abarcando toda a cadeia de agregados e dependentes. Este modelo familiar garantia que crianças órfãs ou abandonadas sempre tivessem um teto, embora em posição de inferioridade frente aos filhos legítimos. (FERREIRA e CARVALHO, 2000, p. 142)

Nesse contexto de mudanças, Ferreira e Carvalho (2000), cita as diferentes

formas de adoção:

a) Adoção aberta – utilizada em alguns países, onde os pais biológicos e

adotivos mantém o mínimo de convivência;

b) Adoção à distância – sistema de apadrinhamento financeiro, onde os pais

escolhem uma criança para custear sua educação e necessidades básicas;

c) Adoção pronta – ocorre quando o pedido chega na Vara da Infância e da

Juventude a consumado, ou seja, a mãe biológica e os pais adotivos

apresentam-se apenas para legalizar o ato;

d) Adoção póstuma – quando um dos pretendentes falece durante o processo,

e o mesmo já havia manifestado ao juiz seu desejo em adotar;

e) Adoção unilateral – é no momento em que a adoção é concedida à pessoa

que adota o filho de seu cônjuge ou concubino.

Dentre essas maneiras de adoção destaca-se a adoção tardia, esta que ocorre

no momento em que os pretendentes se encontram no desejo de adotar crianças

maiores de 03 anos, desta forma se torna necessário o período de adaptação. Essa

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forma de adoção é rodeada de tabus e preconceitos que acabam por intimidar os

pretendentes à optarem por esse ato.

2 ECA- ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Na década de 50 foi promulgada a Carta dos Direitos Universais da Criança e

do Adolescente, pela Organização das Nações Unidas (ONU), e, como afirma Ferreira

e Carvalho (2002), seus princípios contagiam e inspiram os constituintes de 1988, que

após significativas alterações na Constituição Federal, possibilitam a formulação do

Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em 1990. Esta lei, de número

8.069/90, traz um significativo avanço na concepção de assistência à infância

brasileira e, de modo especial, em relação à adoção, tornando-se um importante

marco na história e na cultura da adoção do Brasil, representando a transição entre o

período da chamada "adoção clássica", cujo objetivo maior fixava-se na satisfação

das necessidades dos casais impossibilitados de gerar filhos biologicamente, para a

chamada "adoção moderna", que privilegia a criança no sentido de garantir-lhe o

direito de crescer e ser educada no seio de uma família (WEBER, 1996).

DO DIREITO À VIDA E À SAÚDE

Art. 7º A criança e do adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde,

mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o

desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.

Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à

dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos

de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis.

Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos:

I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas

as restrições legais;

II - opinião e expressão;

III - crença e culto religioso;

IV - brincar, praticar esportes e divertir-se

V - participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação;

VI - participar da vida política, na forma da lei;

VII - buscar refúgio, auxílio e orientação.

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DO DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA

Art. 19. Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio

da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência

familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de

substâncias entorpecentes.

§ 1o Toda criança ou adolescente que estiver inserido em programa de

acolhimento familiar ou institucional terá sua situação reavaliada, no máximo, a cada

6 (seis) meses, devendo a autoridade judiciária competente, com base em relatório

elaborado por equipe interprofissional ou multidisciplinar, decidir de forma

fundamentada pela possibilidade de reintegração familiar ou colocação em família

substituta, em quaisquer das modalidades previstas no art. 28 desta Lei.

Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos

menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer

cumprir as determinações judiciais.

Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais não constitui motivo

suficiente para a perda ou a suspensão do poder familiar.

DA FAMÍLIA NATURAL

Art. 25. Entende-se por família natural a comunidade formada pelos pais ou

qualquer deles e seus descendentes.

Parágrafo único. Entende-se por família extensa ou ampliada aquela que se

estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por

parentes próximos com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos

de afinidade e afetividade.

DA FAMÍLIA SUBSTITUTA

Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á mediante guarda, tutela ou

adoção, independentemente da situação jurídica da criança ou adolescente, nos

termos desta Lei.

§ 1o Sempre que possível, a criança ou o adolescente será previamente ouvido

por equipe interprofissional, respeitado seu estágio de desenvolvimento e grau de

compreensão sobre as implicações da medida, e terá sua opinião devidamente

considerada.

§ 4o Os grupos de irmãos serão colocados sob adoção, tutela ou guarda da

mesma família substituta, ressalvada a comprovada existência de risco de abuso ou

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outra situação que justifique plenamente a excepcionalidade de solução diversa,

procurando-se, em qualquer caso, evitar o rompimento definitivo dos vínculos

fraternais.

DA ADOÇÃO

. § 5o A colocação da criança ou adolescente em família substituta será

precedida de sua preparação gradativa e acompanhamento posterior, realizados pela

equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude,

preferencialmente com o apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política

municipal de garantia do direito à convivência familiar.

Art. 40. O adotando deve contar com, no máximo, dezoito anos à data do

pedido, salvo se já estiver sob a guarda ou tutela dos adotantes.

Art. 41. A adoção atribui a condição de filho ao adotado, com os mesmos

direitos e deveres, inclusive sucessórios, desligando-o de qualquer vínculo com pais

e parentes, salvo os impedimentos matrimoniais.

Art. 48. O adotado tem direito de conhecer sua origem biológica, bem como de

obter acesso irrestrito ao processo no qual a medida foi aplicada e seus eventuais

incidentes, após completar 18 (dezoito) anos.

Parágrafo único. O acesso ao processo de adoção poderá ser também deferido

ao adotado menor de 18 (dezoito) anos, a seu pedido, assegurada orientação e

assistência jurídica e psicológica.

DO DIREITO À EDUCAÇÃO, À CULTURA, AO ESPORTE E AO LAZER

Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno

desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação

para o trabalho, assegurando-se-lhes:

I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II - direito de ser respeitado por seus educadores;

III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias

escolares superiores;

IV - direito de organização e participação em entidades estudantis;

V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência. Parágrafo

único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem

como participar da definição das propostas educacionais.

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3 LEIS E PROCEDIMENTOS PARA ADOÇÃO

A Lei 13.509/17, sancionada em 2017, prevê acelerar o procedimento,

priorizando os casos de adoção envolvendo irmãos, crianças e adolescentes que

possuam problemas de saúde. (BRASIL, 2017)

A nova lei traz mudanças na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), assim

quem adota uma criança passa a ter as mesmas garantias trabalhistas dos pais

sanguíneos, tais como licença maternidade, estabilidade provisória e direito à

amamentação. O prazo de conclusão do processo de adoção deve ser de 120 dias,

prorrogáveis por igual período. Antes da Lei 13. 509/17, não havia a previsão para a

conclusão do processo de adoção, o que gerava grande insegurança às famílias.

A conclusão do processo de adoção é o que leva o reconhecimento do status

de pai e filho. Antes do fim do processo um filho adotivo não pode ser dependente em

planos de saúde. Da mesma forma, não é possível utilizar o sobrenome da família que

o adota. Hoje existem na Justiça casos de adoção com mais de quatro anos de

tramitação, sem nenhuma conclusão, o que acaba trazendo impasses ao dia a dia das

famílias de adotados.

Com a nova regulamentação, o período de contato entre os pais que pretendem

adotar e a criança ou adolescente, deve ser no máximo de 90 dias. Antes esse prazo

era estipulado pelo juiz. Antes de ser aprovada, a Lei 13.509/17 contou com o veto de

alguns dos seus trechos, como por exemplo, parte que determinava o cadastro para

a adoção de crianças e recém-nascidos que não fossem procurados por suas famílias

em 30 dias foi retirado. Da mesma forma, foi vetado na lei o trecho que proibia o

apadrinhamento por quem estivesse interessado na adoção. (BRASIL, 2017)

4 PASSOS PARA A ADOÇÃO

A família pretendente deve seguir passos para que tudo corra dentro das Leis,

a princípio deve-se dirigir até a Vara de Infância e Juventude do seu município e saber

quais documentos deve começar a juntar. A idade mínima para se habilitar à adoção

é 18 anos, independentemente do estado civil, desde que seja respeitada a diferença

de 16 anos entre quem deseja adotar e a criança a ser acolhida.

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20

Para que seja dada a entrada é necessário que se faça uma petição preparada

por um defensor público ou advogado particular, assim se iniciará o processo de

inscrição para adoção (no cartório da Vara de Infância). Só depois de aprovado, o

nome dos pretendentes será habilitado a constar dos cadastros local e nacional de

pretendentes à adoção.

Durante o processo deve-se ser feito um curso e logo passados por uma

avaliação, o curso de preparação psicossocial e jurídica para adoção é obrigatório. Na

1ª Vara de Infância do DF, o curso tem duração de 2 meses, com aulas semanais.

Após comprovada a participação no curso, o candidato é submetido à avaliação

psicossocial com entrevistas e visita domiciliar feitas pela equipe técnica

interprofissional.

De acordo com o Tribunal de Justiça de São Paulo, a adoção é muito mais do

que uma relação de afeto e solidariedade, é uma demonstração do amor incondicional

de quem deseja se tornar um pai e uma mãe de criança, adolescente ou pessoa maior

de 18 anos, independentemente de sua origem e sem distinção com os filhos

biológicos.

Algumas comarcas avaliam a situação socioeconômica e psicoemocional dos

futuros pais adotivos apenas com as entrevistas e visitas. O resultado dessa avaliação

será encaminhado ao Ministério Público e ao juiz da Vara de Infância.

Os pretendentes passarão também pela entrevista técnica, onde o mesmo

descreverá o perfil da criança desejada. É possível escolher o sexo, a faixa etária, o

estado de saúde, os irmãos etc. Quando a criança tem irmãos, a lei prevê que o grupo

não seja separado. A partir do laudo da equipe técnica da Vara e do parecer emitido

pelo Ministério Público, o juiz dará sua sentença. Com seu pedido acolhido, seu nome

será inserido nos cadastros, válidos por dois anos em território nacional.

Após esses passos iniciais a família poderá ser aprovada automaticamente na

fila de adoção do e agora aguardará até aparecer uma criança com o perfil compatível

com o perfil fixado pelo pretendente durante a entrevista técnica, observada a

cronologia da habilitação. Caso o nome não seja aprovado, deve-se saber os motivos.

Estilo de vida incompatível com criação de uma criança ou razões equivocadas (para

aplacar a solidão; para superar a perda de um ente querido; superar crise conjugal

etc.) podem inviabilizar uma adoção. Você pode se adequar e começar o processo

novamente.

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21

Com a aprovação, a Vara de Infância vai avisar a família que existe uma criança

com o perfil compatível ao indicado pela família. O histórico de vida da criança é

apresentado ao adotante; se houver interesse, ambos são apresentados. A criança

também será entrevistada após o encontro e dirá se quer ou não continuar com o

processo. Durante esse estágio de convivência monitorado pela Justiça e pela equipe

técnica, é permitido visitar o abrigo onde ela mora; dar pequenos passeios para que

se aproximem e se conheçam melhor. Essa prática já não é mais utilizada para evitar

que as crianças se sintam como objetos em exposição, sem contar que a maioria

delas não está disponível para adoção.

Se o relacionamento correr bem, a criança é liberada e o pretendente ajuizará

a ação de adoção. Ao entrar com o processo, o pretendente recebe a guarda

provisória, que terá validade até a conclusão do processo. Nesse momento, a criança

passa a morar com a família. A equipe técnica continua fazendo visitas periódicas e

apresentará uma avaliação conclusiva. O juiz profere a sentença de adoção e

determina a lavratura do novo registro de nascimento, já com o sobrenome da nova

família. Existe a possibilidade também de trocar o primeiro nome da criança. Nesse

momento, a criança passa a ter todos os direitos de um filho biológico.

Neste processo, é fundamental aos candidatos a pais, terem a oportunidade de

receberem suporte psicológico ao longo de todo o tempo que estão à espera do filho.

Pois tornam-se “grávidos emocionalmente”, e para tanto precisam ser tratados como

tais, devendo receber suporte profissional que os oriente com clareza e de forma

gradativa para enfrentarem assim seus medos e angústias vivenciados durante este

período. (BRASIL, 2017)

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CAPÍTULO II

AS CRIANÇAS INSTITUCIONALIZADAS E A ESPERA DAS FAMÍLIAS

1 AS CRIANÇAS INSTITUCIONALIZADAS À ESPERA DA ADOÇÃO

A adoção é vista como uma oportunidade para a realização de um sonho tanto

para as crianças como para seus pretendentes. Por se tratar de um processo

demorado muitas vezes acaba se tornando um momento frustrante ou mais um

abandono sofrido pela criança.

As crianças institucionalizadas carregam consigo o sofrimento do abandono, as

lembranças da violência sofrida como abuso sexual, dependência química ou prisão

dos pais, violência doméstica e até mesmo acabam sendo encaminhas para as

instituições pela falta de recursos de sua família. A institucionalização segundo o

Estatuto da Criança e do Adolescente – o ECA, é por muitas vezes considerada a

melhor opção quando não há a possibilidade da reinserção no âmbito familiar, sendo

provisório visando em colocar o mais rápido possível as crianças sob a guarda de

novas famílias. Weber (2001), enfatiza que apesar das inúmeras instituições nenhuma

delas existe o básico para o ser humano como: viver com uma família, criar laços

afetivos, sentir-se seguros, afetivamente nutrido e protegido.

Devido ao fato da demora nos processos na maioria dos abrigos o tempo

mínimo de espera é superior à 3 anos, nesse meio a criança pode apresentar medos

e inseguranças diante ao processo de adoção. Para Vargas (1998), essa situação

pode acarretar com a criança mascarando a sua felicidade em pertencer a nova

família, sendo que este sempre foi seu maior sonho.

O preconceito diante a adoção vem diminuindo, mas encontra-se ainda um alto

preconceito dos adotantes em relação a idade, sexo e cor da criança. Sendo a idade

fator principal de adoção, pois a maioria das crianças institucionalizadas encontram-

se maiores de 3 anos, idade da qual os pais se sentem receosos pelas consequências

causadas pelo abrigamento ou traumas vividos antes deste.

Para Cuneo (2007), a institucionalização não é propicia para o desenvolvimento

infantil, onde as pessoas que passam a cuidar das crianças muitas vezes não estão

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preparadas para os diferentes contextos. O autor ressalta ainda que: “A dinâmica

institucional aprisiona a criança e não a protege da angustia de, mais tarde, enfrentar

o mundo externo, que lhe afigura misterioso e desconhecido”. (CUNEO, 2007, p.68)

Winnicott, diante aos aspectos negativos sobre a institucionalização ressalta

que:

É fundamental analisar se estas práticas estão sendo executadas de maneira automática ou violenta (explícita ou implicitamente nas rotinas) e como têm afetado a formação do sujeito abrigado. Um ambiente pode ter uma certa severidade, quando se considera severidade o sinônimo de estabilidade (e não de rigidez, moralismo ou autoritarismo), mas um ambiente que admita e inclua também momentos de maior benevolência, tolerância e compreensão é fundamental para a construção de um processo significativo com possibilidades de transformação. (WINNICOTT, 1999, p. 65)

O ECA foi criado com o intuito de garantir os cuidados às crianças e

adolescentes, como educação, moradia, desenvolvimento da autonomia e proteção.

Entretanto, existe uma controversa entre o Estatuto e a institucionalização, onde

acabam negligenciando e reforçando a instabilidade que rodeia a vida das crianças.

Segundo o Artigo 4º do ECA, é dever da família, da comunidade, da

sociedade geral e do poder público assegurar a criança e ao adolescente, com

absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à

alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à

dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. (BRASIL,

ECA, 1990)

Para uma melhor compreensão sobre a institucionalização e seus reflexos,

deve-se levar em consideração as fases do desenvolvimento infantil. De acordo com

Fiori (1981), a fase oral reflete nos primeiros anos de vida quando a criança tem suas

mais puras reações, sabendo expressar dor, alegria, demonstrando amor, ciúmes e

outros sentimentos que vivenciam com muita intensidade. Assim pode-se observar

que em nenhuma outra fase da vida a capacidade de recepção e imitação é maior do

que os primeiros anos da infância.

Freud (2006), em sua obra “Um caso de histeria, três ensaios sobre

sexualidade e outros trabalhos”, traz a fase anal que sucede a fase oral que inicia-se

por volta do segundo ano de vida, nessa fase, a libido que estava concentrada na

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região dos lábios passa para o ânus. É nessa fase que a criança começa a estabelecer

o controle de seus esfíncteres, criando fantasias, essa produção para ela tem grande

valor. A próxima fase é a fálica, nesta a libido erotiza os órgãos genitais e as crianças

apresentam o desejo de manipulá-los.

Suas relações com a vida sexual entretanto, são particularmente

significativas, já que a psicanálise constata que, na criança a pulsão

de saber é atraída, de maneira insuspeitadamente precoce e

inesperadamente intensa, pelos problemas sexuais, e talvez seja até

despertada por eles. (FREUD, 2006, p. 175)

Ao descrever o próximo período que é o de latência, Freud (2006, p 167)

compara a repressão da energia sexual a diques. Afirma que “durante esse período

de latência total ou parcial erigem-se as forças anímicas que, mais tarde, surgirão

como entraves no caminho da pulsão sexual e estreitarão seu curso em forma de

diques”.

Para Nunes e Silva (2006, p. 86), a fase genital inicia-se na puberdade, por

volta dos dez anos de idade, terminando no final da vida do ser humano. Neste período

a criança estará passando por transformações corporais, biológicas, afetivas e sociais.

Afirmando que “é um período de maturidade psíquica e organização da estrutura da

psique”.

O tipo de institucionalização vivida pela criança acaba causando a falta e a

carência dos vínculos afetivos, o que pode acarretar em problemas e desafios nos

relacionamentos futuros com a nova família. A criança precisa de espaço para criar

confiança e vínculos com o novo, pois trauma do abando continua presente na vida

da mesma, ocasionando conflitos. Desta forma ambiente pode ter grande relevância

no desenvolvimento da criança, este deve ser saudável, proporcionando à criança um

lugar onde possa crescer e ter uma vida adulta satisfatória.

2 AS FAMÍLIAS NO PROCESSO DE ADOÇÃO

As famílias em processo de adoção mostram na primeira entrevista a

necessidade do ato e o direito que tem quanto a sua necessidade. Deixam claro seu

trabalho, o seu salário, até mesmo o tamanho de suas casas para que isso se torne

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um diferencial do candidato a adoção, tendo assim mais direitos que os outros, dano

a fantasia de que viverão “felizes para sempre” após a adoção. Inicialmente a adoção

não é uma caridade e sim, deve-se partir de que o cidadão quer contribuir para o

desenvolvimento e crescimento da criança dando amor e segurança. Esse processo

se dá com a vontade do casal adotar uma criança, subjugando o Estado com relação

ao seu desejo a ter um filho e a lentidão do processo, no entanto o casal deve-se

atentar a realmente o que desejam quanto ao filho tão esperado ou ao direito de se

pais.

Hamad (2002), relata que em geral as famílias dão preferência pelo sexo

feminino e crianças que possuem o mesmo biótipo do casal, nestes casos as famílias

sentem se inseguras com relação as crianças negras, pois negam o sofrimento da

rejeição.

Ao adotar a criança as famílias dão ênfase ao filho biologicamente gerado,

nestes casos define-se o gene como o mais perfeito do que o do outro. A criança

adotada. Na verdade é “gerada” de uma forma diferente, porém filho com laços

sanguíneos diferentes causa um medo nos pais adotivos de que a criança poderá

deixar a família para procurar a família biológica. Woodward (2000), relata que a

adoção foi bem vista por algum tempo, em que os filhos adotivos eram vistos como

não pertencentes a família, e isso causava muito sofrimento. Hoje a adoção está mais

vista de forma positiva, ainda com algumas restrições, porém para as famílias

adotantes se tornou mais favoráveis.

As famílias adotivas deveram passar por processos de aceitação e orientação

sobre realmente a adoção em si, de uma forma clara e direta para amenizar supostos

sofrimentos que sofreram ou sofrem pela infertilidade como na maioria dos casos. A

maioria dos pais adotivos carregam a frustração de não poder gerar um filho biológico,

sendo acentuado na mãe. Para que essa frustração se torne menos sofrida, a família

deve ser reerguida e organizada para que se possa ter sua identidade, para que se

possa criar e dar sentido a vida familiar e o desenvolvimento saudável da criança. A

motivação para uma adoção não deve ser buscada na espera de que se resolva

problemas conjugais do casal, a frustração da infertilidade ou até mesmo pela

caridade. A adoção precisa ser para a criança algo amplo assumido pelo adotante

diante da possibilidade de uma relação afetiva e um processo de educação.

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Deve-se ressaltar a importância da orientação e apoio psicológico das famílias

adotantes. A espera do filho para ser adotado é muito angustiante pelo fato de esperar

pela sua classificação e quanto a concorrência, podendo ser imaginado como desleal

e injusta. A família cria expectativas a uma gestação que não se vê, porém esse

fenômeno acontece internamente junto em especial a mãe. (REPPOLD; PACHECO e

HUTZ, 2005)

Segundo Weber (2008), além da preocupação da criança ter algum traço

geneticamente com a família é relevante também ressaltar o passado da criança e o

medo do que poderá acontecer no futuro com relação a esse passado. Também será

possível a criança querer conhecer a família biológica, que acarretaria muita angustia

e temor por parte da família adotiva.

Para Alvarenga e Bittencourt (2013), o papel do psicólogo é de nortear a família

no processo de adoção, proporcionando a escuta qualificada como ferramenta de

grande importância para, intervir quanto ao ambiente adequado para a criança e a

família a ser preservada com respeito, segurança e amor.

3 ADOÇÃO TARDIA

A adoção tardia termo utilizado para designar a adoção de crianças de maiores

de dois anos. Há um grande número de crianças maiores de dois anos nos abrigos e

a demanda pela adoção é pequena no Brasil.

As crianças “idosas” para a adoção ou foram abandonadas tardiamente pelas mães, que por circunstâncias pessoais ou socioeconômicas, não puderam continuar se encarregando delas ou foram retiradas dos pais pelo poder judiciário, que os julgou incapazes de mantê-las em seu pátrio poder, ou ainda, foram “esquecidas” pelo Estado desde muito pequenas em orfanatos que, na realidade, abrigam uma minoria de órfãos. (VARGAS, 1998, p. 35)

A demanda é pequena, pois os adotantes tem preferência em adotar bebes

para moldar do jeito, ensinar suas crenças, valores, querem ter uma vivência e

intimidade maior, e também acaba gerando um medo dos adotantes perante essa

criança ou adolescente em buscar sua família biológica, medo de sequelas deixado

pelo abandono, dificuldade de adaptação e criação de novos vínculos, os mesmo já

vêm com suas crenças, valores, opiniões e sua carga genética, então acaba ficando

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mais árdua a educação dessas crianças.

Enfim, existe a ansiedade vivida por pais que buscam a adoção e se veem na

necessidade de enfrentar, mas esse processo, muitas vezes, após longo período e

angustiante percurso de tentativas frustrantes de não ter filhos biologicamente.

Enfrentar mas um período de avaliações e incerteza sobre a possiblidade de exercer

a desejada paternidade pode tornar-se uma circunstância por demais desgastante e

toda a abordagem junto aos candidatos precisa levar em conta essa delicadeza. A

demora no processo e na fila da adoção acaba gerando uma ansiedade, pois os pais

esperam anos para conseguir adotar uma criança que muitas vezes acabam

desistindo da adoção por conta da espera, angustia e a da burocracia, e também

passa a ser angustiante para as crianças e adolescentes a espera de uma família.

Art. 43. A adoção será deferida quando apresentar reais vantagens para o

Essas crianças e adolescente estão sobre tutela e cuidados do Estado e

responsabilidade de instituição, e os mesmo vão ser entregue a uma família. (BRASIL,

ECA, 1990)

Segundo o Cadastro Nacional de Adoção de 2010 a 2015 houve um aumento

considerável perante a adoção tardia, porem em 2013 houve um declínio no

percentual da adoção. Depois obtive-se um aumento significativo.

Os pais adotantes têm um acompanhamento, psicológico e atendimentos com

a assistente social, para tirar dúvidas, perante a adoção, medos e receios. Para esses

pais saberem lidar com a chega da criança no novo lar e saber lidar com o novo. A

criança necessita de um tempo para entender o novo local, confiar nas novas pessoas

que estão ao seu redor, acostumar com o novo local, pois durante anos estava em

uma instituição e havia uma regra e agora passa a ser outra. A família precisa adaptar-

se a criança ou adolescentes que agora faz parte da família. É preciso ter muita

paciência e compreensão quando se trata de uma adoção. (PEITER, 2011)

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CAPÍTULO III

METODOLOGIA

Neste trabalho, estudou-se casais que optaram em realizar adoção tardia,

preservando suas identidades e de seus filhos. O instrumento utilizado para coleta de

dados foi uma entrevista semiestruturada de 13 perguntas, realizando entrevista com

5 famílias, por objetivo obter informações “a respeito de determinado assunto, através

de uma conversação de natureza profissional”. (LAKATOS e MARCONI, 2010, p.178).

As entrevistas foram realizadas na residência de cada família respeitando os horários

e espaço das mesmas.

Para análise dos dados coletados, utilizou-se uma análise temática, que

segundo Bardin (1977), é uma das formas que melhor se adequou a investigações

qualitativas. Como propõe o mesmo autor, três etapas constituem a aplicação dessa

técnica de análise: (1) Pré-análise; (2) Exploração do material; (3) Tratamento dos

resultados obtidos e interpretação.

1 PROCEDIMENTOS

O projeto Adoção Tardia e o Desenvolvimento Infantil no Contexto Familiar foi

submetido à Plataforma Brasil em 17 de abril de 2018, atendendo as resoluções

466/12 e 510//16 do Conselho Nacional de Saúde, foi aprovado pelo Comitê de Ética

e Pesquisa do UniSALESIANO (ANEXO A), em 26 de junho de 2018. Realizou-se um

encontro com cada uma das 5 famílias que optaram pela adoção tardia. Como

instrumento de coleta de dados realizou-se também a observação nas residências

que, de acordo com Lakatos e Marconi (2010, p.174) “obriga o investigador a um

contato mais direto com a realidade”. No primeiro momento, foi entregue o termo de

consentimento livre e esclarecido - TCLE (APÊNDICE A), desta forma apresentou-se

a pesquisa, com explicações breves sobre o tema e o objetivo da mesma, após as

famílias assinaram o termo.

Em um momento posterior, utilizou-se uma entrevista semiestruturada

(APÊNDICE B), foram gravadas em áudio e transcritas com autorização prévia dos

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participantes para facilitar a análise, com perguntas acerca da adoção, do processo

que cada família passou e questionamentos sobre o comportamento e

desenvolvimento das crianças.

Após a coleta de todos os dados, realizou-se a Pré-análise que, segundo Bardin

(1977, p. 95) “tem por objetivo tornar operacionais e sistematizar as ideias iniciais, de

maneira a conduzir a um esquema preciso do desenvolvimento das operações

sucessivas, num plano de análise”. Nessa etapa, praticou-se a leitura dos dados a fim

de estabelecer um contato com os documentos que se buscava analisar e conhecer.

Após desse processo, realizou-se a escolha dos documentos procurando, desse

modo, selecionar os documentos susceptíveis de fornecer informações (BARDIN,

1977). Através da Pré-análise, buscou-se explorar conteúdos que se identificam com

os objetivos do trabalho, ou seja, relatos dos pais, sobre as dificuldades encontradas,

as descobertas e como lidaram frente às situações.

Com a fase da análise já percorrida, procedeu-se com a exploração do material

e, depois disso, o tratamento dos resultados obtidos e discussão deles. Esta trata-se

de uma pesquisa qualitativa e descritiva. A categorização de respostas envolvem as

seguintes seleções a) dificuldades relatadas pelos pais; b) maneiras de

enfrentamento das dificuldades.

2 A ENTREVISTA

As entrevistas foram realizadas nos dias 17, 18 e 19 de Julho de 2018, na

cidade de Penápolis, com duração de 1 hora com cada família sendo realizadas em

suas residências.

Perfil das famílias:

a) Família 1 – Casal com 1 filho adotivo. Optaram pela adoção tardia por já

terem um filho com 13 anos. Adotaram 3 irmãos (uma menina – 08 anos, e

dois meninos – 06 e 04 anos).

b) Família 2 – Casal com 1 filho biológico. Optaram pela adoção tardia porque

seu filho é especial. Adotaram 2 irmãs – 05 e 03 anos.

c) Família 3 – Casal sem filhos biológicos. Optaram por adotar tardiamente

pelo fato de serem mais velhos e não conseguiam ter filhos. Adotaram 2

irmãs – 06 e 14 anos.

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d) Família 4 – Casal com 2 filhos biológicos. A mãe conheceu a criança na

Casa Abrigo onde era psicóloga, após passarem uns dias com a criança

decidiram adotar. Adotaram 1 menino – 08 anos.

e) Família 5 – Casal sem filhos biológicos. Optaram por adotar um bebê, após

um tempo na fila decidiram que queriam adotar a idade que aparecesse

primeiro. Adotaram 4 irmãos (três meninos – 01, 05 e 08 anos, e uma

menina 10 anos).

3 ANÁLISE DE DADOS

De acordo com as respostas obtidas nas entrevistas, foram elaborados

quadros com as informações consideradas de maior relevância ao tema investigado.

Os dados estão organizados da seguinte forma: acima, evidencia-se a pergunta

realizada, abaixo e à esquerda, identifica-se a família, e à frente, o conteúdo principal

da respectiva resposta. Abaixo de cada quadro realizou-se breves comentários sobre

seu contexto, a fim de tornar melhor o entendimento do leitor. No momento das

entrevistas os participantes se demonstraram tranquilos, dispostos à responderem

todas as perguntas.

Quadro 1. Como conheceram as crianças e viram a possibilidade para Adoção?

(continua)

FAMÍLIA DESCRIÇÃO

Família 1 O casal estava cadastrado no CNA e surgiu a oportunidade para adotarem 4

irmãos. Era um desejo da família em adotar mais filhos, pois já tinham 1 filho

adotivo de 13 anos.

Família 2 O casal tem um filho especial, após uma conversa decidiram adotar e entraram

em contato com a casa abrigo da cidade, onde apareceu a oportunidade para

adotarem 2 irmãs.

Família 3 O casal não conseguiam ter filhos devido a idade do esposo e após um

procedimento doloroso decidiram adotar. Entraram na fila de adoção e após a

triagem com a psicóloga receberam a informação que haviam 2 irmãs para a

adoção.

Família 4 O casal tem 2 filhos biológicos, a esposa era psicóloga da casa abrigo da

cidade onde conheceu a criança e junto à sua família decidiram adotá-lo.

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(conclusão)

FAMÍLIA DESCRIÇÃO

Família 5 O casal se submeteu a vários procedimentos sem sucesso para terem filhos

biológicos, assim decidiram se cadastrar no CNA. Após 2 anos receberam a

possibilidade de adotar 4 irmãos.

Fonte: elaborado pelas autoras, 2018

Analisando os dados de cada família observou-se que todas apresentaram o

mesmo objetivo ao adotar uma criança – ter uma família completa, a partir desse

desejo houveram duas possibilidades se cadastrar no Cadastro Nacional de Adoção

(CNA) ou ir até uma casa abrigo da sua cidade. Todas as famílias optaram pela

adoção tardia.

Adotar é inserir uma criança numa família, de forma definitiva e com todos os

vínculos próprios da filiação. Para Barbosa (2006), tardio é um termo utilizado para

designar a adoção de crianças que já conseguem se perceber diferenciado do outro

e do mundo, a criança que não é mais um bebê e que tem certa independência do

adulto para a satisfação das suas necessidades básicas.

Quadro 2. A partir de quantos encontros perceberam que realmente gostaria de adota-

las? Como as crianças receberam a proposta ?

FAMÍLIA DESCRIÇÃO

Família 1 A família passou a se comunicar com as crianças pelo Skype e no 1º encontro

sentiram que eles eram seus filhos. As crianças foram preparadas pela

psicóloga para o momento da adoção.

Família 2 A família adotou as crianças no primeiro encontro. As crianças estavam

preparadas para uma nova família.

Família 3 A família recebeu as crianças para passarem as festividades de final de ano,

após esse período se encontraram com o promotor e relataram o desejo de

adotar. As meninas receberam bem a notícia da adoção.

Família 4 A família recebeu a criança para passar a semana da Páscoa, após o período

a família decidiram adotar. A criança se sentiu segura diante a adoção.

Família 5 A família no momento em que recebeu a primeira foto das crianças sentiram

que estes eram destinados à serem seus filhos.

Fonte: elaborado pelas autoras, 2018

Ao entrarem em contado com as crianças pessoalmente ou via internet já

sentiram que eram seus filhos, as crianças receberam bem a notícia que iam ser

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adotadas. A família 3 e 4 tiveram a oportunidade de levar as crianças para casa para

passar uns dias. Para as crianças irem se acostumando com a família e visse versa.

Quadro 3. Quando vieram como foram os primeiros momentos juntos? O que foi mais

difícil na fase de adaptação com as crianças?

FAMÍLIA DESCRIÇÃO

Família 1 De primeiro momento, percebeu-se um deslumbre por parte das crianças, onde

pensavam que agora que conseguiram ter pais eles poderiam fazer o que

quisessem e ganhar brinquedos. Na fase de adaptação os pais tiveram que

tomar uma atenção maior para a questão de que as crianças não obedeciam

as regras impostas.

Família 2 Relataram que as crianças ficaram um pouco assustadas no primeiro dia, logo

após se sentiram à vontade. Na fase de adaptação relataram que as crianças

se sentiam enciumadas em relação aos irmãos, fato que os pais consideram

normal entre irmãos.

Família 3 Os pais relataram que as crianças conseguiram se adaptar a rotina da família

e seguir as atividades propostas para os pais. Na adaptação uma das filhas

que estava na pré adolescência apresentou um conflito com o pai onde a

mesma quis voltar para o abrigo.

Família 4 Os pais relataram que a criança se sentiu à vontade na casa com a família. Na

adaptação foi possível ver os impactos e as sequelas que o abrigo e a família

biológica causou na criança, necessitando de cuidados especiais afetivos e

profissional.

Família 5 Os pais relatam que as crianças chegaram tranquilas. Na fase de adaptação a

mãe relatou ter tido dificuldade no fato de um dos filhos (o mais velho)

desafiava muito ela e mentia. A mãe ressaltou que até nos dias atuais luta

contra a mentira, ela coloca que isso e algo que veio com as crianças da família

biológica.

Fonte: elaborado pelas autoras, 2018

As criança necessita de um tempo para entender o novo local, confiar nas

novas pessoas que estão ao seu redor, acostumar-se com o novo espaço,

alimentação, sentir-se verdadeira segurança nos novos pais e para diminuir o medo

de ser novamente abandonada.

Quadro 4. Como é o tratamento entre vocês e as crianças? (existe hostilidade).

(continua)

FAMÍLIA DESCRIÇÃO

Família 1 A família relatou que sempre se trataram com respeito, as crianças são

carinhosas com os pais e os mesmos procuram dar amor e carinho sem deixar

de impor regras.

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33

(conclusão)

FAMÍLIA DESCRIÇÃO

Família 2 Relatam que desde o início o tratamento é reciproco, se amam, se cuidam e

fazem melhor que possam para ver a família feliz.

Família 3 Os pais relatam que o tratamento entre eles sempre foi de amor, carinho e

respeito.

Família 4 Relatam que existem conflitos entre o pai e a filha mais velha, mas se

respeitam e se amam. Procuram manter uma convivência harmoniosa.

Família 5 Os pais relataram ter uma ótima convivência, onde as crianças são amorosas

e ambos são tratados iguais.

Fonte: elaborado pelas autoras, 2018

Ambas famílias se tratam com respeito apesar das divergências, eles se amam

e o tratamento é reciproco entre eles. Carinho, respeito, amor, cuidado, atenção e

saber ouvir são fundamentais para reforçar o laço afetivo entre as crianças e os pais.

Quadro 5. Quais os planos para o futuro e a educação das crianças?

FAMÍLIA DESCRIÇÃO

Família 1 Os pais incentivam os filhos a estudarem, relatam que independente da

profissão que os filhos escolherem desejam que sejam felizes e conquistem

tudo de forma honesta.

Família 2 Os pais relatam que respeitam os limites das filhas e que desejam que as

mesmas sejam pessoas do bem, que estude, trabalhe e tenham sucesso.

Família 3 Relatam que incentivam as filhas a estudarem e buscarem uma carreira. A filha

mais velha é estudante de Pedagogia. O pais ressalta que seu desejo que a

filha mais velha seguisse sua profissão fez com que surgissem

desentendimentos entre os mesmos.

Família 4 Relatam que sempre incentivaram o filho à estudar seguir alguma carreira, o

filho hoje formou uma família, estudou até o colegial e trabalha em uma

empresa da cidade.

Família 5 Os pais buscam dar o estudo e orientação necessária para que seus filhos

futuramente tenham uma carreira e se tornem pessoas do bem.

Fonte: elaborado pelas autoras, 2018

Ao responder a pergunta as famílias se apresentaram seguras e com

convicções em comuns, priorizando os estudos, dando apoio para que os filhos

tenham honestidade e cresçam na vida a partir de méritos próprios sem precisar

prejudicar ninguém. As famílias relataram serem honestas com questões financeiras,

frisam para os filhos que a maior herança que podem deixar à eles é os estudos e

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uma boa formação independente da profissão que escolherem, estando do lado dos

filhos para o que precisarem.

Quadro 6. As crianças apresentaram algum problema com relação ao

desenvolvimento que onde foi necessário recorrer à algum serviço?

FAMÍLIA DESCRIÇÃO

Família 1 Relataram que a filha durante alguns meses fez psicoterapia, pelo fato da

mesma ser a mais velha e trouxe consigo uma carga maior de sofrimento. A

psicóloga da criança relatou aos pais que eles poderiam ficar tranquilos que a

mesma não apresentava nenhum problema em seu desenvolvimento.

Família 2 As filhas após apresentarem dificuldades na escola os pais as levaram ao

neurologista, a mais velha foi diagnosticada com Déficit de Atenção e a mais

nova tem TOD (Transtorno Opositor Desafiador). Os pais acreditam que no

futuro será necessário o acompanhamento psicológico pelo fato de sua mãe

biológica ser dependente química.

Família 3 Relataram que as filhas não necessitaram de acompanhamento e que não

apresentaram problemas em seu desenvolvimento.

Família 4 Os pais relataram que o filho tem TDAH, Dislexia, discalculia e disgrafia. Foi

necessário a recorrer aos serviços necessários para que pudessem tratar da

dificuldade do filho.

Família 5 Relataram que as crianças maiores fazem psicoterapia pelo fato de trazerem

consigo uma história de maior sofrimento. Os pais frisam que os filhos são

ótimos alunos que até o momento não apresentaram problemas.

Fonte: elaborado pelas autoras, 2018

Ao ser abandonada a criança passa por um grande sofrimento, este que gera

transtornos causando traumas, notou-se que a principal preocupação das famílias

desde o inicio foi com a saúde mental das crianças, ou seja, de como as mesmas

absorveriam a situação e como estavam sendo afetados.

Quadro 7. Ficaram constrangidos ou inseguros em algum momento devido a adoção

e como lidaram com a situação?

(continua)

FAMÍLIA DESCRIÇÃO

Família 1 Os pais informaram que se sentem inseguros pelo fato de ainda não ter saído

a adoção das crianças e em determinados lugares devem usar o nome antigo.

Os pais relatam que se sentem ansiosos para o momento em que a adoção e

as novas certidões cheguem.

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35

(conclusão)

FAMÍLIA DESCRIÇÃO

Família 2 Relataram nunca terem passado constrangimento junto as crianças pela

adoção e que as crianças não apresentam vergonha. Os pais deixaram claro

que quando as meninas fizerem 18 anos elas terão livre acesso para procurar

a família biológica.

Família 3 Os pais relataram que se sentiram inseguros no momento em que a filha mais

nova no período de adaptação pediu para voltar ao abrigo. Após conversarem

com a responsável pela instituição foi realizada uma conversa com a filha e se

entenderam.

Família 4 Relataram uma certa insegurança quando os pais biológicos foram até a casa

do casal a procura do filho. A família ressaltou que foram receptivos com os

pais mas sempre mantendo um certo cuidado para que não houvesse

sofrimento novamente para a criança.

Família 5 Os pais acreditam que insegurança sempre vai aparecer sendo adotados ou

não. Que uma boa relação pode resolver conflitos e evita-los.

Fonte: elaborado pelas autoras, 2018

A partir das respostas observou-se que assim como em uma família de pais

biológicos, as inseguranças e constrangimentos aparecem causando aos pais medos

que podem abalar a família. Os relatos mostram que nos momentos de insegurança

procuraram ajuda, buscando não mimar os filhos e oferecer sempre o que podiam.

Quadro 8. Como e com qual frequência ocorrem as reuniões de família? Existe algum

tipo de conflito? Com relação aos outros integrantes da família (avós, tios, primos),

como foi a recepção e desenvolvimento da relação familiar?

(continua)

FAMÍLIA DESCRIÇÃO

Família 1 As reuniões de família ocorrem frequentemente, o relacionamento com os

demais integrantes é harmonioso havendo receptividade.

Família 2 Relatam que se reúnem constantemente com as demais familiares e que

sempre houve uma boa convivência entre os mesmos. Todos os dias as

crianças vão para a casa dos avós para brincarem.

Família 3 A família sempre viaja e se reúne com os familiares mantendo uma boa

convivência. A filha mais velha hoje mora com a avó materna adotiva mas a

relação com os pais é harmoniosa.

Família 4 Com o fato de hoje o filho ter formado uma família com esposa e filho, sempre

que possível a família se reúne.

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(conclusão)

FAMÍLIA DESCRIÇÃO

Família 5 A família se reúne todos os finais de semana no rancho, onde se reúnem com

primos, avós e demais parentes. Relataram que desde início as crianças se

enturmaram com a família e desenvolveram uma boa amizade. Nas férias as

crianças maiores vão para a casa dos avós para passearem.

Fonte: elaborado pelas autoras, 2018

Os relatos do quadro 8, apresenta o cuidado da família ao receber as crianças,

procurando deixar o lar harmonioso, com a abertura necessária para que os filhos se

sentissem à vontade para ali iniciarem uma nova família.

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CAPÍTULO IV

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Para os pais, a palavra ADOÇÃO traz consigo, na maioria das vezes, a culpa

pela esterilidade e infertilidade. Mesmo assim, pode ser considerada uma alterativa

para formar uma família. Com tantas controvérsias, a adoção foi “carregada durante

a história por preconceitos, lendas ou até mesmo trazendo a imagem dos pais como

super-heróis e salvadores”. (WEBER; 2000. pág. 100)

As famílias adotantes entrevistadas trazem histórias de dor e sofrimento

causado pela espera, que está relacionada com o desejo de ter filhos assim dando e

recebendo o amor e cuidado paterno/materno. Como reflete no caso da família 5, que

após de longos e dolorosos procedimentos sem sucesso aguardaram por 2 anos na

fila de adoção, adotando assim 4 irmãos que preencheram as escolhas dos pais. Para

as famílias uma das tarefas mais complicadas do processo é escolher o perfil de seus

futuros filhos, como cor, idade, se possui irmãos e até mesmo pensar na possibilidade

da criança ter alguma anomalia ou AIDS. A partir das entrevistas notou-se que para

as famílias o importante era ter o filho sem a necessidade de uma cor ou qualquer

outra característica especifica.

Todas as famílias entrevistadas optaram pela adoção tardia, prática que pode

envolver preconceitos por tratar-se de crianças maiores de 03 anos de idade, casos

ainda mais delicados por apresentar adoções de grupos de irmãos:

É consenso que, na adoção de grupos de irmãos deve-se dar prioridade à perpetuação dos laços entre eles. Assim procura-se fazer com que todos os irmãos sejam entregues a uma mesma família substituta. Quando isso não for possível, a prioridade será para as famílias que possam favorecer o contato entre eles. (FERREIRA e CARVALHO, 2000, p. 70)

As famílias relataram que sentiam o desejo de adotarem independente da idade

das crianças. A família 1 frisou durante a entrevista a importância do preparo dos pais

ao optarem pela adoção tardia. O pai ainda coloca que os desafios e conflitos vão

aparecer independentemente da idade em que a criança foi adotada, cabe aos pais

buscarem ajuda profissional a fim de controlarem a ansiedade para tratar do assunto

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com clareza. Para esta família é importante que os pais saibam diferenciar o que é

real do imaginário da criança, pois após o trauma sofrido pelo abandono e

institucionalização esta criança pode fantasiar situações as transformando do seu

contexto original.

As crianças mais velhas que passaram pelo período de institucionalização,

trazem consigo uma carga de sofrimento maior com a idealização do abandono e

rejeição. “Assim pode-se considerar que quando se forma uma relação de pais e filhos

verdadeira, com bases seguras os obstáculos poderão ser ultrapassados”. (WEBER;

2000. p. 100). As instituições cada vez mais vem preparando as crianças para o

momento da adoção, trabalho realizado por psicólogos e assistentes sociais, como foi

o caso das crianças adotadas pelas famílias 1 e 5. No momento do primeiro encontro

as crianças os receberam chamando-os de “papai/mamãe”. A família 1 relatou que

para eles o momento mais importante não foi ser chamados de pais, mas sim no

momento em que as crianças disseram: “eu te amo”. Os laços de amor e cuidado que

se forma após a adoção é visível em todas as entrevistas.

A família 2 frisou durante a entrevista que desde o início se posicionam sinceros

e abertos ao falarem da adoção para as filhas. Revelaram ainda que se ao

completarem 18 anos as meninas apresentarem interesse em conhecer a família

biológica, não irão se impor e que esse é um direito das filhas, completam ainda que

fez parte da história delas, algo que não se apaga. Para Waideman e Valente (2005),

a existência do segredo é um procedimento legal, já que nos documentos da criança,

sejam certidões ou quaisquer outros. A partir da adoção a certidão de nascimento da

criança é redigido com os nomes dos pais adotivos não havendo qualquer menção

dos fatos. Desta forma atribuindo ao filho adotivo os mesmos direitos e deveres,

desligando-o de qualquer vínculo com a família biológica.

No início é comum às crianças não manterem um vínculo ou se adaptar com

os pais adotivos, casa ou até mesmo com a família, pois acaba de ser de um ambiente

institucionalizado, onde tem suas regras e por conta das experiências vivenciadas no

passado e suas crenças. Então o vínculo a ser construído dia após dias para as

crianças se sentirem seguras e confiar nos pais adotivos, pois seguem com o medo

de ser abandonada ou rejeitada novamente. Tais fatores contribuem para certa

demora no processo de adaptação ao novo lar e à nova família, que espera muitas

vezes uma adequação rápida da criança ao seu próprio sistema de valores e hábitos.

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De acordo com Gomes (2006), a criança leva um tempo para se adaptar, e fingir uma

adaptação rápida pode não ser saudável. Ela vive momentos de angústia por estar

em um lar de “pessoas estranhas” e precisa passar por esta experiência. Quando o

tempo é dado, a criança pode crescer e se sentir “em casa”, realmente fazendo parte

da família, e isso será relevante ao se tornar adulta e quiser casar e ter filhos.

A família 1 relatou que houve um deslumbre das crianças por pensarem que

agora que conseguiram ter pais ia poder fazer o que quisessem e ganhar brinquedos,

já na fase de adaptação tiveram que ter uma atenção maior. A família 2 relembrou no

primeiro dia as crianças ficaram um pouco assustadas, logo após se sentiram à

vontade. Na fase de adaptação as crianças se sentiram enciumadas com os irmãos.

A família 3 os pais relataram que as crianças conseguiram se adaptar a rotina da

família e seguir as atividades propostas para os pais. Na família 4 durante o período

de adaptação foi possível ver os impactos e as sequelas que o abrigo e a família

biológica causou na criança, necessitando de cuidados especiais afetivos e

profissional. A família 5 Na fase de adaptação a mãe relatou ter tido dificuldade no

fato de um dos filhos (o mais velho) desafiava muito ela e mentia.

Os psicólogos trabalham antes, durante e a pós a adoção, desta maneira esses

profissionais vão auxiliar os pais para o preparo da adoção, onde os mesmos

passaram por um curso preparatório tirando as suas dúvidas, tabus e medo sobre a

adoção. Os psicólogos procuram realizar atendimentos e orientação com os pais e a

com a criança.

Segundo Alvarenga e Bittencourt (2013), o papel do psicólogo, após a

conclusão do processo adoção, dá-se a partir da realização de atendimentos e

orientações, objetivando facilitar a adaptação entre a criança e a nova família. Além

disso, o psicólogo atua como um mediador, através da tentativa de ajudar no

investimento afetivo de forma saudável e estabilidade emocional, bem como na

construção de vínculos de confiança entre o adotado e os então pais.

A família 1 relatou que durante alguns meses a filha fez terapia, por ser a mais

velha e trazer uma carga de sofrimento. No caso da família 2 a filha mais velha foi

levada ao neurologista sendo diagnosticada com déficit de atenção e a filha mais nova

com Transtorno Opositor Desafiador (TOD). A família 3 relatou que as filhas não

precisaram de acompanhamento. A família 4 frisou que o filho tem TDAH, dislexia,

discalculia e disgrafia, sendo desta maneira necessário a recorrer a serviços

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necessários. A família 5 relatou que as crianças maiores fazem psicoterapia pelo fato

de trazerem consigo uma história de maior sofrimento. A importância da terapia pós-

adoção é necessária, para trabalhar com as crianças por tudo que já vivenciou

possíveis traumas e por viver em um ambiente institucionalizado.

Pinho (2009) descreve que o significado da palavra “adoção” vem do latim ad-

optare, ou seja, o ato de aceitar, escolher. Da adoção, advém a possibilidade de criar

uma família, colocando na condição de filho crianças biologicamente geradas por

outros. A adoção tardia significa crianças com mais de dois anos e estão na instituição

para serem adotadas por diversos motivos, eles estão aguardando uma família nova.

A adoção tardia tem um papel significativo na sociedade, possível proporcionar uma

criança e adolescente ter uma segunda chance ter construir uma família. Assim,

percebe-se que a adoção é uma espécie de filiação, que tem por base a dignidade e

o afeto, na qual, levando em consideração sempre o melhor interesse da criança ou

adolescente, encontra-se uma família que lhe possa acolher. (PENA JUNIOR, 2008).

As crianças abrigadas tem um desejo de ter uma família. Elas não se importam

com a raça, cor do cabelo, almejam pais que vão dar amor, carinho, atenção, vão

cuidar da saúde e educação, pois essas crianças já sofreram muito na vida. Já a Lei

n. 8.069/ 90– Estatuto da Criança e do Adolescente, além de assegurar em seu art.

1º “a proteção integral à criança e ao adolescente”, garante, ainda, a convivência

familiar. Conforme descreve o art. 19 do ECA: toda criança ou adolescente tem

direito a ser criado e educado no seio de sua família e, excepcionalmente, em

família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em

ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias e

entorpecentes. (BRASIL, 1990).

Quando se decide por sua adoção, proporcionar à criança tempo e espaço para

o processamento psíquico destas mudanças torna-se fundamental, pois as crianças

maiores que esperam pela adoção trazem consigo histórias de vínculos e

rompimentos que merecem ser cuidadosamente observados. (FERREIRA;

GHIRARDI, 2008). Uma criança retirada da família sofre rupturas, e as mesmas serem

abandonadas pelos pais ou responsáveis; não consegue preparada para receber ou

aceitar uma nova família. Então essas crianças têm suas crenças, história e carregam

com sigo um sofrimento por tudo que passou e estar em um ambiente

institucionalizado.

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PARECER FINAL

No decorrer da pesquisa, encontrou-se dificuldade nas buscas de referências

bibliográficas sobre o tema pesquisado, pois a problemática da adoção tardia é ainda

fruto de pouca produção científica no Brasil. Durante a coleta de dados tomou-se

cuidado para que não fossem perdidos dados importantes dos relatos das famílias,

desta forma o objetivo da entrevista foi alcançado trazendo contribuições para o

desenvolvimento do projeto.

Acredita-se que o projeto “Adoção Tardia e o Desenvolvimento Infantil No

Contexto Familiar”, contribuirá com os futuros estudantes interessados no tema, novas

pesquisas em torno do tema e assim encorajando as famílias à optarem pela adoção

tardia.

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

Através das entrevistas, vivências e análise dos dados coletados durante a

pesquisa, notou-se a carência de informações sobre o tema, constatando-se assim a

necessidade de uma rede de apoio para as famílias durante a fila de espera com o

objetivo de trabalhar o preconceito envolvendo a adoção tardia, onde as famílias

apresentam o medo da criança vir com sequelas e traumas do passado.

A rede de apoio poderia ser realizada por uma equipe do Fórum, composta por

psicólogos, assistentes sociais e voluntários. Seriam realizadas palestras, rodas de

conversa, encontros entre famílias que optaram pela adoção tardia com as famílias

que se encontram na fila, oferecendo o suporte de atendimentos individuais e familiar.

Seguindo o acompanhamento durante o primeiro ano de adoção, onde poderão

aparecer frustrações e conflitos relacionados ao comportamento da criança. Com essa

rede de apoio será possível constatar a diminuição da devolução de crianças e o

aumento das pretensões pela adoção tardia.

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CONCLUSÃO

O termo adoção tardia é baseado no desenvolvimento infantil, pois a partir

desta idade a criança já desenvolveu autonomia parcial e não é mais considerada

bebê. Com o sofrimento pelo abandono, pela discriminação por terem passado pela

institucionalização, as crianças em situação de adoção tardia necessitam de um

tempo e espaço para se adaptarem a um novo ambiente familiar.

Para a criança maior, o ato da adoção traz consigo as lembranças do abandono

e o medo de ser devolvida à instituição o que resulta em muitas das vezes em

comportamentos regressivos como birras e linguagem infantilizada (em crianças

maiores). Em alguns casos, encontram-se projetando a mãe adotiva como “a bruxa

que também irá abandoná-lo”, pelo fato da primeira figura materna ter o deixado, junto

à esses pensamentos e sentimentos revelam-se “revoltadas” com a família biológica

descontando sua fúria na nova família.

Ao longo da vida, o casal ao tentar engravidar vivencia um misto de

sentimentos, ansiedade, desespero, frustações, sentimento de culpa e raiva de seus

parceiros. Recebendo a notícia da infertilidade como um castigo, passando por um

período de luto, este que os pais procuram curar através da adoção ocasionando em

alguns casos sem sucesso. O que ocorre pelo fato dos pais idealizarem o “filho

perfeito”, com os princípios e ideais que a família almeja.

Através de uma ajuda adequada, a família atinge a possibilidade de atravessar

as dificuldades do início da adaptação construindo um novo convívio. Cabendo assim

aos novos pais frisarem a importância do diálogo no contexto familiar estando abertos

para ouvir e trabalhar junto aos filhos os traumas.

Conclui-se assim que as experiências apresentaram uma nova visão sobre o

assunto, mostrando que adotar uma criança maior não traz consigo grandes

problemas e que as mesmas apresentam características diferenciadas por terem

acompanhado situações de vulnerabilidade, trazendo consigo cicatrizes que não

podem ser apagadas. Um dos maiores medos dos pais é saber se adotando uma

criança maior esta vai amá-los da mesma forma de um bebê, o que nos parece ser

algo tanto que distante da realidade, pois o amor entre pais e filhos é construído

através do convívio entre eles. Os pais adotantes devem se posicionar dispostos à

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ajudar a criança/adolescente a fim de juntos superarem seus medos e frustações do

passado.

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APÊNDICES

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APÊNDICES

Apêndice – A: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está sendo convidado (a) como voluntário (a) a participar da pesquisa: A ADOÇÃO TARDIA E O DESENVOLVIMENTO INFANTIL NO CONTEXTO FAMILIAR. A JUSTIFICATIVA, OS OBJETIVOS E OS PROCEDIMENTOS: O motivo que nos leva a propor este estudo é o aumento da procura pela adoção tardia, ou seja, está sendo frequente a procura das famílias em adotar crianças mais velhas. A pesquisa se justifica encorajando mais famílias à optarem pela adoção tardia. O objetivo desse projeto é buscar a compreensão dos casos de adoção, identificar comportamentos que trouxeram um certo desequilíbrio familiar e as medidas tomadas pelas famílias para a reversão do mesmo. O (os) procedimento(s) de coleta de dados será da seguinte forma: realizará 2 (dois) encontros com a família, nestes serão feitas entrevistas com perguntas relacionadas ao processo de adoção até o momento em que a criança chega à família e a convivência entre os mesmos. DESCONFORTOS, RISCOS E BENEFÍCIOS: A sua participação neste estudo pode gerar algum tipo de desconforto quanto incômodo por ter que falar de sua experiência, desistência da família de participar da pesquisa por motivos de tempo e/ou trabalho e receio em expor seus filhos perante a pesquisa. Os riscos poderão ser amenizados realizando perguntas abertas para que respondam o que acharem pertinente, evitando registros escritos de nomes dos entrevistados em folhas de anotações, cadernos, etc. Protegendo com senha os arquivos eletrônicos (Áudio, Vídeo, planilhas, anotações) coletados durante a realização do projeto e expor em TCLE que suas identidades serão preservadas, não as identificando de nenhuma forma e procurando organizar a pesquisa em um horário e dia pertinente. Os benefícios esperados são contribuir para futuros estudantes do tema, possibilitando-os a ter acesso aos resultados desse estudo, encorajar novas famílias à optarem pela adoção tardia a partir dos casos estudados. FORMA DE ACOMPANHAMENTO E ASSISTÊNCIA: caso a família participante sinta algum tipo de alteração psicológica no decorrer da pesquisa, a mesma será encaminhada para os cuidados da pesquisadora responsável Melissa Fernanda Fontana na Clínica de Psicologia do Unisalesiano de Lins. GARANTIA DE ESCLARECIMENTO, LIBERDADE DE RECUSA E GARANTIA DE SIGILO: Você poderá solicitar esclarecimento sobre a pesquisa em qualquer etapa do estudo. Você é livre para recusar-se a participar, retirar seu consentimento ou interromper a participação na pesquisa a qualquer momento, seja por motivo de constrangimento e/ou outros motivos. A sua participação é voluntária e a recusa em participar não irá acarretar qualquer penalidade ou perda de benefícios. O(s) pesquisador(es) irá(ão) tratar a sua identidade com padrões profissionais de sigilo. Os resultados da pesquisa serão enviados para você e permanecerão confidenciais. Seu nome ou o material que indique a sua participação não será liberado sem a sua permissão. Você não será identificado(a) em nenhuma publicação que possa resultar deste estudo. Este consentimento está impresso e deve ser assinado em duas vias, uma será fornecida a você e a outra ficará com o pesquisador(es) responsável(eis). Se houver mais de uma página, tanto o pesquisador quanto o participante deve rubricar todas as páginas. CUSTOS DA PARTICIPAÇÃO, RESSARCIMENTO E INDENIZAÇÃO: A participação no estudo, não acarretará custos para você e será disponibilizado ressarcimento em caso de haver gastos com transporte, creche, alimentação, etc., tanto para você, quanto para o seu

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acompanhante, se for necessário. No caso de você sofrer algum dano decorrente dessa pesquisa você tem direito à assistência integral e gratuita, onde deverá estar procurando Comitê de Ética em Pesquisa do UniSALESIANO, localizado na Rodovia Teotônio Vilela, Bairro Alvorada – Araçatuba-SP Fone:(18)3636-5252, 08:00 às 14:00.

DECLARAÇÃO DO PARTICIPANTE

Eu,______________________ fui informado (a) dos objetivos da pesquisa acima de maneira clara e detalhada e esclareci minhas dúvidas. Sei que em qualquer momento poderei solicitar novas informações e ou retirar meu consentimento. Os responsáveis pela pesquisa acima, certificaram-me de que todos os meus dados serão confidenciais. Em caso de dúvidas poderei chamar a estudante Avelina Meire Ferreira, da qual reside na rua Antônio Jorge Kadamuro, nº 185 – Lins, telefone (14) 998200816. A estudante Gabriela da Silva Santos, da qual reside na rua Ariovaldo Ferreira de Souza, nº 210 – Penápolis, telefone (18) 981810467. A estudante Ligia Pereira Paulovic, da qual reside na rua Rineu Inforzato, nº882 – Pirajui, telefone (14) 998093026 e com o pesquisador responsável Melissa Fernanda Fontana, reside na Rua Avanhadava, nº 207, telefone (14) 991355227 ou ainda entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa do UniSALESIANO, localizado na Rodovia Teotônio Vilela, Bairro Alvorada – Araçatuba-SP Fone:(18)3636-5252, 08:00 às 14:00. O Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) é um colegiado composto por pessoas voluntárias, com o objetivo de defender os interesses dos participantes da pesquisa em sua integridade e dignidade e para contribuir no desenvolvimento da pesquisa dentro de padrões éticos. O CEP – UniSALESIANO de Araçatuba é diretamente vinculado ao Centro Universitário Católico Auxilium de Araçatuba-SP/Missão Salesiana de Mato Grosso. Declaro que concordo em participar desse estudo. Recebi uma via deste termo de consentimento livre e esclarecido e me foi dada a oportunidade de ler e esclarecer as minhas dúvidas.

Assinatura do participante de pesquisa

Assinatura:

Nome legível:

Data _______/______/______

________________________________

Melissa Fernanda Fontana

CPF: 218.761.028-45

CRP: 06/77464

Data _______/______/______

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Apêndice – B: Perguntas Norteadoras para a Entrevista.

PERGUNTAS NORTEADORAS PARA A ENTREVISTA

1. Como conheceram as crianças e viram a possibilidade para Adoção?

2. A partir de quantos encontros perceberam que realmente gostaria de adota-las?

Como as crianças receberam a proposta ?

3. Quando vieram para casa como foram os primeiros momentos juntos?

4. Como é o tratamento entre vocês e as crianças? (existe hostilidade)

5. Ficaram constrangidos em algum momento?

6. O que foi mais difícil na fase de adaptação com as crianças?

7. Teve resistência de alguma delas ou por parte de vocês?

8. Quais os planos para o futuro com relação a educação das crianças?

9. Fazem algum tipo de terapia?

10. As crianças apresentaram algum problema com relação ao desenvolvimento que

onde foi necessário recorrer à algum serviço?

11. Ficaram inseguros em algum momento e como lidaram com a situação?

12. Como e com qual frequência ocorrem as reuniões de família? Existe algum tipo

de conflito?

13. Com relação aos outros integrantes da família (avós, tios, primos), como foi a

recepção e desenvolvimento da relação familiar?

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Apêndice – C: Entrevista Semiestruturada

ENTREVISTAS

Família 1

O casal estava cadastrado no CNA e surgiu a oportunidade para adotarem 4

irmãos. Era um desejo da família em adotar mais filhos, pois já tinham 1 filho adotivo

de 13 anos. A família passou a se comunicar com as crianças pelo Skype e no 1º

encontro sentiram que eles eram seus filhos. As crianças foram preparadas pela

psicóloga para o momento da adoção. De primeiro momento, percebeu-se um

deslumbre por parte das crianças, onde pensavam que agora que conseguiram ter

pais eles poderiam fazer o que quisessem e ganhar brinquedos. Na fase de adaptação

os pais tiveram que tomar uma atenção maior para a questão de que as crianças não

obedeciam as regras impostas. O pai fez colocações de grande importância: “é

necessário que as famílias se atentem no que é real e no que é imaginário, pois a

criança fantasia e muitas vezes inventa mentiras...”. A família relatou que sempre se

trataram com respeito, as crianças são carinhosas com os pais e os mesmos procuram

dar amor e carinho sem deixar de impor regras. Os pais incentivam os filhos a

estudarem, relatam que independente da profissão que os filhos escolherem desejam

que sejam felizes e conquistem tudo de forma honesta. Relataram que a filha durante

alguns meses fez psicoterapia, pelo fato da mesma ser a mais velha e trouxe consigo

uma carga maior de sofrimento. A psicóloga da criança relatou aos pais que eles

poderiam ficar tranquilos que a mesma não apresentava nenhum problema em seu

desenvolvimento. Os pais informaram que se sentem inseguros pelo fato de ainda não

ter saído a adoção das crianças e em determinados lugares devem usar o nome

antigo, relatam que se sentem ansiosos para o momento em que a adoção e as novas

certidões cheguem. As reuniões de família ocorrem frequentemente, o relacionamento

com os demais integrantes é harmonioso e desde o início houve receptividade.

Família 2

O casal tem um filho especial, após uma conversa decidiram adotar e entraram

em contato com a casa abrigo da cidade, onde apareceu a oportunidade para

adotarem 2 irmãs. A família adotou as crianças no primeiro encontro. As crianças

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estavam preparadas para uma nova família. Relataram que as crianças ficaram um

pouco assustadas no primeiro dia, logo após se sentiram à vontade. Na fase de

adaptação relataram que as crianças se sentiam enciumadas em relação aos irmãos,

fato que os pais consideram normal entre irmãos. Relatam que desde o início o

tratamento é reciproco, se amam, se cuidam e fazem melhor que possam para ver a

família feliz. Os pais relatam que respeitam os limites das filhas e que desejam que as

mesmas sejam pessoas do bem, que estude, trabalhe e tenham sucesso. As filhas

após apresentarem dificuldades na escola os pais as levaram ao neurologista, a mais

velha foi diagnosticada com Déficit de Atenção e a mais nova tem TOD (Transtorno

Opositor Desafiador). Os pais acreditam que no futuro será necessário o

acompanhamento psicológico pelo fato de sua mãe biológica ser dependente química.

Relataram nunca terem passado constrangimento junto as crianças pela adoção e que

as crianças não apresentam vergonha. Os pais deixaram claro que quando as

meninas fizerem 18 anos elas terão livre acesso para procurar a família biológica.

Relatam que se reúnem constantemente com as demais familiares e que sempre

houve uma boa convivência entre os mesmos. Todos os dias as crianças vão para a

casa dos avós para brincarem.

Família 3

O casal não conseguiam ter filhos devido a idade do esposo e após um

procedimento doloroso decidiram adotar. Entraram na fila de adoção e após a triagem

com a psicóloga receberam a informação que haviam 2 irmãs para a adoção. A família

recebeu as crianças para passarem as festividades de final de ano, após esse período

se encontraram com o promotor e relataram o desejo de adotar. As meninas

receberam bem a notícia da adoção. Os pais relataram que as crianças conseguiram

se adaptar a rotina da família e seguir as atividades propostas para os pais. Na

adaptação uma das filhas que estava na pré adolescência apresentou um conflito com

o pai onde a mesma quis voltar para o abrigo. Os pais relatam que o tratamento entre

eles sempre foi de amor, carinho e respeito. Relatam que incentivam as filhas a

estudarem e buscarem uma carreira. A filha mais velha é estudante de Pedagogia.

Relataram que as filhas não necessitaram de acompanhamento e que não

apresentaram problemas em seu desenvolvimento. Os pais relataram que se sentiram

inseguros no momento em que a filha mais nova no período de adaptação pediu para

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voltar ao abrigo. Após conversarem com a responsável pela instituição foi realizada

uma conversa com a filha e se entenderam. A família sempre viaja e se reúne com os

familiares mantendo uma boa convivência. A filha mais velha hoje mora com a avó

materna adotiva, mas a relação com os pais é harmoniosa.

Família 4

O casal tem 2 filhos biológicos, a esposa era psicóloga da casa abrigo da cidade

onde conheceu a criança e junto à sua família decidiram adotá-lo. A família recebeu a

criança para passar a semana da Páscoa, após o período a família decidiram adotar.

A criança se sentiu segura diante a adoção. Os pais relataram que a criança se sentiu

à vontade na casa com a família. Na adaptação foi possível ver os impactos e as

sequelas que o abrigo e a família biológica causou na criança, necessitando de

cuidados especiais afetivos e profissional. Relatam que existem conflitos entre o pai e

a filha mais velha, mas se respeitam e se amam. Procuram manter uma convivência

harmoniosa. Relatam que sempre incentivaram o filho à estudar seguir alguma

carreira, o filho hoje formou uma família, estudou até o colegial e trabalha em uma

empresa da cidade. Os pais relataram que o filho tem TDAH, Dislexia, discalculia e

disgrafia. Foi necessário a recorrer aos serviços necessários para que pudessem

tratar da dificuldade do filho. Relataram uma certa insegurança quando os pais

biológicos foram até a casa do casal a procura do filho. A família ressaltou que foram

receptivos com os pais mas sempre mantendo um certo cuidado para que não

houvesse sofrimento novamente para a criança. Com o fato de hoje o filho ter formado

uma família com esposa e filho, sempre que possível a família se reúne.

Família 5

O casal se submeteu a vários procedimentos sem sucesso para terem filhos

biológicos, assim decidiram se cadastrar no CNA. Após 2 anos receberam a

possibilidade de adotar 4 irmãos. A família no momento em que recebeu a primeira

foto das crianças sentiram que estes eram destinados à serem seus filhos. Os pais

relatam que as crianças chegaram tranquilas. Na fase de adaptação a mãe relatou ter

tido dificuldade no fato de um dos filhos (o mais velho) desafiava muito ela e mentia.

A mãe ressaltou que até nos dias atuais luta contra a mentira, ela coloca que isso e

algo que veio com as crianças da família biológica. Os pais relataram ter uma ótima

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convivência, onde as crianças são amorosas e ambos são tratados iguais. Os pais

buscam dar o estudo e orientação necessária para que seus filhos futuramente

tenham uma carreira e se tornem pessoas do bem. Relataram que as crianças maiores

fazem psicoterapia pelo fato de trazerem consigo uma história de maior sofrimento.

Os pais frisam que os filhos são ótimos alunos que não apresentaram problemas. Os

pais acreditam que insegurança sempre vai aparecer sendo adotados ou não. Que

uma boa relação pode resolver conflitos e evita-los. A família se reúne todos os finais

de semana no rancho, onde se reúnem com primos, avós e demais parentes.

Relataram que desde início as crianças se enturmaram com a família e desenvolveram

uma boa amizade. Nas férias as crianças maiores vão para a casa dos avós para

passearem.

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ANEXOS

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ANEXOS

Anexo – A: Parecer Substanciado do CEP.

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