9.3 a natureza da igreja

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7/31/2019 9.3 a Natureza Da Igreja http://slidepdf.com/reader/full/93-a-natureza-da-igreja 1/3 1 9.3 A Natureza da Igreja Como reconhecer uma verdadeira igreja? Quais são os propósitos da igreja? O que torna uma igreja mais ou menos agradável a Deus? EXPLICAÇÃO E BASE BÍBLICA A natureza da igreja A Definição: A igreja é a comunidade de todos os verdadeiros crentes em todas as épocas. Essa definição entende que a igreja seja composta de todos os que são verdadeiramente salvos. Paulo diz que “Cristo amou a igreja e entregou-se por ela” (Ef 5.25) . Aqui a palavra “igreja” aplica-se a todos aqueles por quem Cristo morreu a fim de redimi-los, todos os que são salvos pela morte de Cristo. Mas ela deve incluir todos os verdadeiros crentes de todas as épocas, tanto do período do NT como do período do AT. É tão grande o plano de Deus para a igreja que ele exaltou Cristo a uma posição elevada de autoridade por amor à sua igreja : “Deus colocou todas as coisas debaixo de seus pés e o designou cabeça de todas as coisas para a igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que enche todas as coisas, em toda e qualquer circunstância” (Ef 1.22,23). O próprio Jesus Cristo edifica sua igreja chamando para si o seu povo. Ele prometeu: ”edificarei a minha igreja” (Mt 16.18) . Mas esse processo pelo qual Cristo edifica a igreja é apenas a continuação do padrão estabelecido por Deus no AT, quando ele chamou pessoas para si mesmo para serem uma assembléia adoradora perante ele. Há diversas indicações no AT de que Deus viu seu povo como “igreja”, o povo reunido com o propósito de adorá-lo. Quando Moises diz ao povo que o Senhor lhe havia dito : “Reúna o povo diante de mim para ouvir as minhas palavras, a fim de que aprendam a me temer enquanto viverem sobre a terra, e as ensinem a seu filhos” (Dt 4.10) , a LXX traduz a palavra “reunir” (heb. q ¯ ahal) usando o termo grego ekkl¯ esiaz ¯o, que significa “convocar uma assembléia” , um verbo que é cognato do substantivo grego do NT ekkl¯ esia , “igreja” Não é de surpreender que os autores do NT falem do povo de Israel do AT como “igreja” (ekklēsia) . Por exemplo, Estêvão fala do povo de Israel no deserto como “a igreja (ekklēsia) no desertor (At 7.38, tradução do autor) . Da mesma forma o autor de Hebreus cita Cristo referindo-se a ele como quem haveria de louvar a Deus no meio da grande assembléia do povo de Deus no céu: “Proclamarei o teu nome a meus irmãos; na igreja (ekklēsia) te louvarei” (Hb 2.12, tradução do autor; o escritor de Hebreus está citando SL 22.22). Portanto, o autor de Hebreus entende que os cristãos do tempo presente que constituem a igreja sobre a terra estão cercados por uma grande ”nuvem de testemunhas” (Hb 12.1) que abrange retroativamente as épocas do AT, incluindo Abel, Enoque, Noé, Abraão, Sara, Gideão, Baraque, Sansão, Jefté, Davi, Samuel e os profetas (Hb 11.4-32). Todas essas “testemunhas” rodeiam o povo de Deus do tempo presente, e parece apropriado pensar que elas, juntamente com o povo de Deus do NT, sejam a grande “assembléia” espiritual de Deus, ou seja, a “igreja” Portanto, muito embora haja certamente novos privilégios e novas bênçãos conferidas ao povo de Deus no NT, ambos os usos do termo igreja na Escritura e o fato de que por meio de toda a Escritura Deus sempre chamou seu povo para reunir-se para a adoração do seu nome indicam que é correto entender que a igreja é

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9.3 A Natureza da Igreja 

Como reconhecer uma verdadeira igreja? Quais são os propósitos da igreja? O que tornauma igreja mais ou menos agradável a Deus?

EXPLICAÇÃO E BASE BÍBLICA 

A natureza da igreja 

A Definição: A igreja é a comunidade de todos os verdadeiros crentes em todas as épocas.Essa definição entende que a igreja seja composta de todos os que são verdadeiramentesalvos. Paulo diz que “Cristo amou a igreja e entregou-se por ela” (Ef 5.25) . Aqui a palavra“igreja” aplica-se a todos aqueles por quem Cristo morreu a fim de redimi-los, todos os quesão salvos pela morte de Cristo. Mas ela deve incluir todos os verdadeiros crentes detodas as épocas, tanto do período do NT como do período do AT. É tão grande o plano deDeus para a igreja que ele exaltou Cristo a uma posição elevada de autoridade por amor àsua igreja : “Deus colocou todas as coisas debaixo de seus pés e o designou cabeça detodas as coisas para a igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que enche todas ascoisas, em toda e qualquer circunstância” (Ef 1.22,23).

O próprio Jesus Cristo edifica sua igreja chamando para si o seu povo. Ele prometeu:”edificarei a minha igreja” (Mt 16.18) . Mas esse processo pelo qual Cristo edifica a igreja éapenas a continuação do padrão estabelecido por Deus no AT, quando ele chamoupessoas para si mesmo para serem uma assembléia adoradora perante ele. Há diversasindicações no AT de que Deus viu seu povo como “igreja”, o povo reunido com o propósitode adorá-lo. Quando Moises diz ao povo que o Senhor lhe havia dito : “Reúna o povodiante de mim para ouvir as minhas palavras, a fim de que aprendam a me temer enquantoviverem sobre a terra, e as ensinem a seu filhos” (Dt 4.10) , a LXX traduz a palavra “reunir”(heb. q ¯ ahal) usando o termo grego ekkl¯ esiaz ¯ o, que significa “convocar umaassembléia” , um verbo que é cognato do substantivo grego do NT ekkl¯ esia , “igreja”

Não é de surpreender que os autores do NT falem do povo de Israel do AT como “igreja”(ekklēsia) . Por exemplo, Estêvão fala do povo de Israel no deserto como “a igreja(ekklēsia) no desertor (At 7.38, tradução do autor) . Da mesma forma o autor de Hebreuscita Cristo referindo-se a ele como quem haveria de louvar a Deus no meio da grandeassembléia do povo de Deus no céu: “Proclamarei o teu nome a meus irmãos; na igreja(ekklēsia) te louvarei” (Hb 2.12, tradução do autor; o escritor de Hebreus está citando SL

22.22).Portanto, o autor de Hebreus entende que os cristãos do tempo presente que constituem aigreja sobre a terra estão cercados por uma grande ”nuvem de testemunhas” (Hb 12.1) queabrange retroativamente as épocas do AT, incluindo Abel, Enoque, Noé, Abraão, Sara,Gideão, Baraque, Sansão, Jefté, Davi, Samuel e os profetas (Hb 11.4-32). Todas essas“testemunhas” rodeiam o povo de Deus do tempo presente, e parece apropriado pensarque elas, juntamente com o povo de Deus do NT, sejam a grande “assembléia” espiritualde Deus, ou seja, a “igreja” Portanto, muito embora haja certamente novos privilégios enovas bênçãos conferidas ao povo de Deus no NT, ambos os usos do termo igreja naEscritura e o fato de que por meio de toda a Escritura Deus sempre chamou seu povo para

reunir-se para a adoração do seu nome indicam que é correto entender que a igreja é

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constituída de todo o povo de Deus de todas as épocas, tanto dos crentes do AT como doNT.

A igreja é invisível, todavia visível. 

Em sua verdadeira realidade espiritual como a comunhão de todos os crentes genuínos, aigreja é invisível. Isso porque não podemos ver a condição espiritual do coração daspessoas. Podemos ver exteriormente os que freqüentam a igreja e observar evidênciasexteriores de mudanças espirituais interiores, mas realmente não podemos olhar para ocoração das pessoas e ver o estado espiritual delas — somente Deus pode fazer isso. Épor isso que Paulo diz: “O Senhor conhece quem lhe pertence” (2Tm 2.19) . Em nossasigrejas e em nossa vizinhança, somente Deus sabe com certeza (sem margem de erro)quem são os verdadeiramente crentes. Falando da igreja como invisível, o autor deHebreus refere-se “à igreja dos primogênitos, cujos nomes estão escritos nos céus” (Hb12.23) e diz que os cristãos do tempo presente se juntam a essa assembléia em adoração.

Podemos dar a seguinte definição: A igreja invisível é a igreja como Deus a vê. TantoMartinho Lutero como João Calvino foram enfáticos em afirmar esse aspecto invisível daigreja contra o ensino de que a Igreja Católica Romana era a única organização visível quedescendia dos apóstolos em linhagem ininterrupta de sucessão (por meio dos bispos daigreja). A Igreja Católica Romana argumentava que somente em sua organização visívelpoderíamos encontrar a verdadeira igreja, a única igreja verdadeira. Mesmo hoje talpensamento é sustentado pela Igreja Católica Romana. Tanto Lutero como Calvinodiscordaram dessa idéia, asseverando que a Igreja Católica Romana possuía uma formaexterior, uma organização, mas que isso era apenas uma casca. Calvino argumentou queexatamente como Caifás (o sumo sacerdote do tempo de Jesus) descendia de Arão, masnão era um verdadeiro sacerdote, assim os bispos católicos romanos “descendiam” dosapóstolos segundo a linhagem de sucessão, mas não eram verdadeiros bispos da igreja deCristo, pois haviam se desviado da verdadeira pregação do evangelho. Logo, suaorganização visível não era a verdadeira igreja.

A verdadeira igreja de Cristo, no entanto, certamente também possui um aspecto visível.Podemos usar a seguinte definição: A igreja visível é a igreja como os cristãos a vêem.Nesse sentido, a igreja visível inclui todos os que professam a fé em Cristo e dão evidênciadessa fé em sua vida.

Nessa definição, não estamos dizendo que a igreja visível é a igreja que qualquer pessoa

no mundo (como um descrente ou alguém que sustenta ensinos heréticos) pode ver, masestamos falando da igreja como ela é percebida por aqueles que são crentes genuínos eque têm um entendimento da diferença entre crentes e descrentes.

A igreja visível espalhada por todo o mundo sempre incluirá alguns descrentes, e ascongregações individuais normalmente incluirão alguns descrentes, porque não podemosver o coração como Deus vê. Paulo fala de Himeneu e Fileto: “O ensino deles alastra-secomo câncer [...] Estes se desviaram da verdade li.] a alguns pervertem a fé” (2Tm2.17,18). Mas ele está confiante de que “o Senhor conhece quem lhe pertence” (2Tm2.19). Semelhantemente, Paulo adverte os presbíteros de Éfeso: “Sei que, depois daminha partida, lobos ferozes penetrarão no meio de vocês e não pouparão o rebanho. E

dentre vocês mesmos se levantarão homens que torcerão a verdade, a fim de atrair osdiscípulos” (At 20.29,30). O próprio Jesus advertiu: “Cuidado com os falsos profetas. Eles

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vêm a vocês vestidos de peles de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores. Vocêsos reconhecerão por seus frutos” (Mt 7.15,16). Percebendo essa distinção entre a igrejainvisível e a visível, Agostinho disse da igreja visível: “Muitas são as ovelhas do lado defora, muitos os lobos do lado de dentro”.

Quando reconhecemos que há descrentes na igreja visível, há o perigo de nos tornarmosdemasiadamente desconfiados e de começarmos a duvidar da salvação de muitos crentesverdadeiros. Calvino advertiu contra esse perigo dizendo que devemos fazer um “juízo deafeição” pelo qual reconhecemos como membros da igreja todos os que “pela confissão defé, e pelo exemplo de vida, e pela participação dos sacramentos, conosco professam omesmo Deus e Cristo”. Devemos tentar não excluir pessoas da comunhão da igreja atéque elas por pecado público tragam disciplina sobre si mesmas. E óbvio, contudo, que aigreja não deveria tolerar em seu rol de membros “descrentes confessos” que, porprofissão ou por vida, claramente se declaram fora da verdadeira igreja.

Autor: Wayne Grudem

Fonte: Teologia Sistemática do Autor, Ed, Vida Nova

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