9. medidas cautelares em sede recursal

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MEDIDAS CAUTELARES EM SEDE RECURSAL Thiago Piloni Notas introdutórias PROCESSO DE CONHECIMENTO sentença > formação do direito PROCESSO DE EXECUÇÃO coerção estatal > satisfação do direito PROCESSO CAUTELAR fumus boni iuris e periculum in mora > proteção do direito TENDÊNCIA REFORMISTA: Sincretismo Definição de processo cautelar Segundo Calamandrei, “o tempo é o grande inimigo do juiz, mas o processo jamais poderá dele livrar-se”. É nesse contexto que se estuda o processo cautelar, como uma relação jurídica processual que busca garantir o direito discutido na ação principal quando atendidos os requisitos do fumus boni iuris (fumaça do bom direito) e do periculum in mora (perigo da demora na prestação jurisdicional) . Requisitos Como já dito, dois são os requisitos básicos para a procedência do pedido cautelar: fumus boni iuris e periculum in mora.

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9. Medidas Cautelares Em Sede Recursal

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Page 1: 9. Medidas Cautelares Em Sede Recursal

MEDIDAS CAUTELARES EM SEDE RECURSAL

Thiago Piloni

Notas introdutórias

PROCESSO DE CONHECIMENTO

sentença > formação do direito

PROCESSO DE EXECUÇÃO

coerção estatal > satisfação do direito

PROCESSO CAUTELAR

fumus boni iuris e periculum in mora > proteção do direito

TENDÊNCIA REFORMISTA: Sincretismo

Definição de processo cautelar

Segundo Calamandrei, “o tempo é o grande inimigo do juiz, mas o

processo jamais poderá dele livrar-se”.

É nesse contexto que se estuda o processo cautelar, como uma relação

jurídica processual que busca garantir o direito discutido na ação

principal quando atendidos os requisitos do fumus boni iuris (fumaça do

bom direito) e do periculum in mora (perigo da demora na prestação

jurisdicional).

Requisitos

Como já dito, dois são os requisitos básicos para a procedência do

pedido cautelar: fumus boni iuris e periculum in mora.

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Por “fumaça do bom direito” entende-se o juízo de simples

probabilidade de existência do direito. Assim, deve o magistrado, para

verificar a plausibilidade do direito invocado, utilizar tão somente uma

cognição sumária (ou seja, não exauriente).

O “perigo da demora da prestação jurisdicional” é justamente o receio de

dano iminente e irreparável ou de difícil reparação por ocasião do fator

tempo.

Características

Instrumentalidade ou acessoriedade: serve à própria tutela do

processo, visto que seu objetivo é garantir a efetividade do processo

principal. É, em regra, acessório, acautelatório e assecuratório.

Provisoriedade: tem sua existência provisória até o resultado final

do processo principal.

Revogabilidade: a medida cautelar pode ser revogada a qualquer

tempo, caso não mais persistam os seus requisitos motivadores.

Autonomia: trata-se de procedimento próprio, distinto do processo

principal. Além do mais, o indeferimento da medida cautelar não impede

que a parte ajuíze a ação principal, nem a influencia negativamente.

Classificação

QUANTO AO MOMENTO

a) Antecedentes ou preparatórias

b) Incidentes ou incidentais

QUANTO À PREVISÃO LEGAL

a) Nominadas: previstas expressamente na legislação.

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b) Inominadas ou atípicas: fundadas no “poder geral de cautela” (art. 798

do CPC).

Medidas de urgência em sede recursal

1. Legislação

CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL Art. 798. Além dos procedimentos cautelares específicos, que este Código regula no Capítulo II deste Livro, poderá o juiz determinar as medidas provisórias que julgar adequadas, quando houver fundado receio de que uma parte, antes do julgamento da lide, cause ao direito da outra lesão grave e de difícil reparação. Art. 800. As medidas cautelares serão requeridas ao juiz da causa; e, quando preparatórias, ao juiz competente para conhecer da ação principal. Parágrafo único. Interposto o recurso, a medida cautelar será requerida diretamente ao tribunal.

EM CASOS DE AGRAVO E APELAÇÃO Art. 558. O relator poderá, a requerimento do agravante, nos casos de prisão civil, adjudicação, remição de bens, levantamento de dinheiro sem caução idônea e em outros casos dos quais possa resultar lesão grave e de difícil reparação, sendo relevante a fundamentação, suspender o cumprimento de decisão até o pronunciamento definitivo da turma ou da câmara. Parágrafo único. Aplicar-se-á o disposto neste artigo às hipóteses do artigo 520. RISTJ Art. 288. Admitir-se-ão medidas cautelares nas hipóteses e na forma da lei processual. § 1º O pedido será autuado em apenso e processado sem interrupção do processo principal. § 2º O relator poderá apreciar a liminar e a própria medida cautelar, ou submetê-las ao órgão julgador competente. RISTF Art. 304. Admitir-se-ão medidas cautelares nos recursos, independentemente dos seus efeitos. RITST Art. 252. O procedimento cautelar pode ser instaurado antes ou no curso do processo principal e deste é sempre dependente. Art. 253. O pedido cautelar será apresentado ao Presidente do Tribunal e distribuído ao Relator do processo principal, salvo se a medida for requerida

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em procedimento preparatório, caso em que será sorteado, dentre os integrantes do Colegiado competente, o Relator do feito, o qual ficará prevento para a ação principal. Art. 254. A tramitação do processo no Tribunal observará as disposições da lei processual civil, no que aplicáveis. RITJDFT Art. 257. As medidas cautelares preparatórias e as incidentais serão distribuídas em observância ao disposto no art. 59, §1º, deste Regimento. Parágrafo único. Nas hipóteses do art. 558, parágrafo único, do Código de Processo Civil, enquanto não distribuído o recurso de apelação, o efeito suspensivo será requerido por meio de medida cautelar. Art. 258. O relator procederá à instrução sumária, facultará às partes, se for o caso, a produção de provas e decidirá os casos urgentes, ad referendum do órgão julgador competente para o julgamento da causa principal. Parágrafo único. Terminada a instrução, o relator apresentará o processo para julgamento em mesa. RITRF1 Art. 337. Nos casos urgentes, se a causa estiver no Tribunal, as medidas cautelares serão requeridas ao relator do recurso nas hipóteses e na forma da lei processual. Art. 338. Despachada a petição, feitas as citações necessárias e, no prazo de cinco (5) dias, contestado ou não o pedido, o relator procederá a uma instrução sumária, facultando às partes a produção de provas, dentro de um tríduo. Parágrafo único. Nos casos urgentes, o relator decidirá o pedido ad referendum do órgão julgador competente, hipótese em que apresentará os autos em mesa na primeira sessão seguinte. Art. 339. O pedido será autuado em apartado ou em apenso e processado sem interrupção do processo principal, observando-se o que, a respeito das medidas cautelares, estiver disposto na lei processual.

2. Recursos excepcionais e efeito suspensivo

Como se sabe, o recurso pode funcionar como condição suspensiva de

eficácia da decisão que ataca. Neste caso, ou seja, quando o recurso tiver

efeito suspensivo, suspendem-se os efeitos da decisão guerreada até o

julgamento final do recurso.

Contudo, não possuem efeito suspensivo o recurso extraordinário (art.

542, §2º do CPC e art. 27, §2º da Lei 8.038/90), o recurso especial (art. 542,

§2º do CPC e art. 27, §2º da Lei 8.038/90), o recurso de revista (art. 896, §1º

da CLT) e o recurso especial eleitoral (art. 257 do Código Eleitoral).

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Art. 542. (...) § 2º - Os recursos extraordinário e especial serão recebidos no efeito devolutivo. Art. 27. (...) § 2º - Os recursos extraordinário e especial serão recebidos no efeito devolutivo. Art. 896. (…) § 1º O recurso de revista, dotado de efeito apenas devolutivo, será apresentado ao Presidente do Tribunal recorrido, que poderá recebê-lo ou denegá-lo, fundamentando, em qualquer caso, a decisão. Art. 257. Os recursos eleitorais não terão efeito suspensivo.

Para imprimir efeito suspensivo a tais recursos, é comum a utilização de

medidas cautelares.

3. Súmulas importantes

SÚMULA 634 DO STF NÃO COMPETE AO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL CONCEDER MEDIDA CAUTELAR PARA DAR EFEITO SUSPENSIVO A RECURSO EXTRAORDINÁRIO QUE AINDA NÃO FOI OBJETO DE JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE NA ORIGEM. SÚMULA 635 DO STF CABE AO PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE ORIGEM DECIDIR O PEDIDO DE MEDIDA CAUTELAR EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO AINDA PENDENTE DO SEU JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE.

Observação: via de regra, o STJ segue as súmulas acima citadas.

(...) 1. A apreciação de pedido de efeito suspensivo a recurso especial que encontra-se pendente de admissibilidade é de competência do Tribunal de origem, em razão da incidência dos verbetes sumulares n.ºs 634 e 635 do STF (Súmula 634 – “Não compete ao Supremo Tribunal Federal conceder medida cautelar para dar efeito suspensivo a recurso extraordinário que ainda não foi objeto de juízo de admissibilidade na origem”; Súmula 635 – “Cabe ao Presidente do Tribunal de origem decidir o pedido de medida cautelar em recurso extraordinário ainda pendente do seu juízo de admissibilidade”).

(...) (AgRg na MC 14.301/SP, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 06/08/2009, DJe 02/02/2010)

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(...) 1. A competência deste Tribunal Superior para a apreciação da Ação Cautelar com vistas à concessão de efeito suspensivo a recurso especial instaura-se, via de regra, após o proferimento do juízo de admissibilidade pelo Tribunal a quo, em consonância com o art. 800, parágrafo único, do CPC, conjugado com os enunciados sumulares 634 e 635 do STF, aplicados analogicamente.

(...) (AgRg na MC 14.459/SC, Rel. Ministro VASCO DELLA GIUSTINA (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RS), TERCEIRA TURMA, julgado em 21/05/2009, DJe 10/06/2009)

4. Questões interessantes

4.1. Medida cautelar: recurso ainda não interposto ou interposto, mas pendente

juízo de admissibilidade

AGRAVO REGIMENTAL EM MEDIDA CAUTELAR. EFEITO SUSPENSIVO. RECURSO ESPECIAL AINDA NÃO INTERPOSTO. HIPÓTESES EXCEPCIONALÍSSIMAS. CABIMENTO.

1. "Não compete ao Supremo Tribunal Federal conceder medida cautelar para dar efeito suspensivo a recurso extraordinário que ainda não foi objeto de juízo de admissibilidade na origem." (Súmula do STF, Enunciado nº 634). 2. Esta Corte tem admitido a concessão de efeito suspensivo a recurso especial já interposto, mas pendente do juízo de admissibilidade, ou até mesmo àqueles ainda não interpostos, mas somente para situações excepcionalíssimas, onde se constata, de pronto, o "manifesto risco de dano irreparável e inquestionável a relevância do direito, ou seja, o alto grau de probabilidade de êxito do recurso, tornando indispensável a concessão da providência pleiteada para assegurar a eficácia do resultado do recurso a ser apreciado por este Tribunal" (AgRgMC nº 8.101/SP, Relator Ministro Teori Albino Zavascki, in DJ 24/5/2004), ou, ainda, em decisões manifestamente teratológicas. Precedentes. 3. Em restando demonstrados o periculum in mora e o fumus boni iuris, aliado ao fato de tratar-se de situação excepcionalíssima a exigir a concessão de efeito suspensivo ao recurso especial, é de ser concedida a medida cautelar.

4. Agravo regimental improvido. (AgRg na MC 15.794/GO, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 13/10/2009, DJe 20/10/2009)

4.2. Medida cautelar: recurso inadmitido e interposição de agravo (art. 544 do

CPC)

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AÇÃO CAUTELAR. EFEITO SUSPENSIVO A RECURSO EXTRAORDINÁRIO NÃO ADMITIDO PELO TRIBUNAL DE ORIGEM. AGRAVO DE INSTRUMENTO PENDENTE DE JULGAMENTO. MEDIDA CAUTELAR CONCEDIDA PARA SUSPENDER OS EFEITOS DO ACÓRDÃO RECORRIDO. (...) 2. Em situações excepcionais, em que estão patentes a plausibilidade jurídica do pedido - decorrente do fato de a decisão recorrida contrariar jurisprudência ou súmula do Supremo Tribunal Federal - e o perigo de dano irreparável ou de difícil reparação a ser consubstanciado pela execução do acórdão recorrido, o Tribunal poderá deferir a medida cautelar ainda que o recurso extraordinário tenha sido objeto de juízo negativo de admissibilidade perante o Tribunal de origem e o agravo de instrumento contra essa decisão ainda esteja pendente de julgamento. 3. Hipótese que não constitui exceção à aplicação das Súmulas 634 e 635 do STF. 4. Suspensão dos efeitos do acórdão impugnado pelo recurso extraordinário, até que o agravo de instrumento seja julgado. 5. Ação cautelar deferida. Unânime. (AC 1550, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 06/02/2007, DJe-018 DIVULG 17-05-2007 PUBLIC 18-05-2007 DJ 18-05-2007 PP-00103 EMENT VOL-02276-01 PP-00043 LEXSTF v. 29, n. 342, 2007, p. 7-23) MEDIDA CAUTELAR. EFEITO SUSPENSIVO A RECURSO ESPECIAL.

APROPRIAÇÃO INDÉBITA DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. ART. 168-A DO CPB. APELO RARO INADMITIDO NA ORIGEM. AGRAVO DE INSTRUMENTO PROVIDO. PENA-BASE AUMENTADA EM RAZÃO DE

INQUÉRITOS E PROCESSOS EM ANDAMENTO. QUESTÃO QUE MERECE SER ANALISADA POR ESTA CORTE. PRESENÇA DOS PRESSUPOSTOS FUMUS BONI IURIS E PERICULUM IN MORA. MEDIDA CAUTELAR JULGADA PROCEDENTE. 1. Em casos excepcionais, em que a execução provisória da pena possa causar lesão grave ou de difícil reparação ao recorrente, a jurisprudência desta Corte vem aceitando o ajuizamento de Ação Cautelar Inominada destinada a dar efeito suspensivo ao Recurso Excepcional, nas hipóteses em que presentes os requisitos autorizadores da medida (periculum in mora e fumus boni iuris). 2. Neste caso, verifica-se a presença dos pressupostos autorizadores da concessão da medida cautelar, pois, apesar do Juízo negativo de admissibilidade exercido pelo Tribunal a quo quanto ao Recurso Especial, deu-se provimento ao Agravo de Instrumento do requerente para se processar aquele apelo e ensejar melhor exame da controvérsia, em face da possível ocorrência de violação do art. 59 do CPB; na verdade, a

jurisprudência deste STJ não admite, na fixação da pena-base e do regime prisional, que sejam levados em consideração, como maus antecedentes, inquéritos e processos em andamento, em respeito ao princípio da não-culpabilidade.

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3. Ademais, há a possibilidade de, havendo alteração da pena, estar prescrita a pretensão punitiva, recomendando a suspensão da execução provisória da condenação. 4. Medida Cautelar julgada procedente, em consonância com o parecer ministerial. (MC 13.546/SP, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, QUINTA TURMA, julgado em 03/06/2008, DJe 04/08/2008)

4.3. Medida cautelar: recurso extraordinário sobrestado na sistemática do art.

543-B do CPC

Art. 543-B. Quando houver multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica controvérsia, a análise da repercussão geral será processada nos termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, observado o disposto neste artigo. § 1º Caberá ao Tribunal de origem selecionar um ou mais recursos representativos da controvérsia e encaminhá-los ao Supremo Tribunal Federal, sobrestando os demais até o pronunciamento definitivo da Corte. Art. 328-A (RISTF). Nos casos previstos no art. 543-B, caput, do Código de Processo Civil, o Tribunal de origem não emitirá juízo de admissibilidade sobre os recursos extraordinários já sobrestados, nem sobre os que venham a ser interpostos, até que o Supremo Tribunal Federal decida os que tenham sido selecionados nos termos do § 1º daquele artigo.

Quem deve julgar a medida cautelar: o Tribunal de origem ou o STF?

QUESTÃO DE ORDEM. AÇÃO CAUTELAR. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. PEDIDO DE CONCESSÃO DE EFEITO SUSPENSIVO E O SOBRESTAMENTO, NA ORIGEM, EM FACE DO RECONHECIMENTO DE REPERCUSSÃO GERAL PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. ARTIGOS 543-B, § 1º, DO CPC, E 328-A, DO RISTF. SÚMULAS STF 634 E 635. JURISDIÇÃO CAUTELAR QUE DEVE SER PRESTADA PELOS TRIBUNAIS E TURMAS RECURSAIS A QUO, INCLUSIVE QUANTO AOS RECURSOS ADMITIDOS, PORÉM SOBRESTADOS NA ORIGEM. 1. Para a concessão do excepcional efeito suspensivo a recurso extraordinário é necessário o juízo positivo de sua admissibilidade no tribunal de origem, a sua viabilidade processual pela presença dos pressupostos extrínsecos e intrínsecos, a plausibilidade jurídica da pretensão de direito material nele deduzida e a comprovação da urgência da pretensão cautelar. Precedentes. 2. Para os recursos anteriores à aplicação do regime da repercussão geral ou para aqueles que tratem de matéria cuja repercussão geral ainda não foi examinada, a jurisdição cautelar deste Supremo Tribunal somente estará firmada com a admissão do recurso extraordinário ou, em caso de juízo negativo de admissibilidade, com o provimento do agravo de instrumento, não sendo suficiente a sua simples interposição. Precedentes.

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3. Compete ao tribunal de origem apreciar ações cautelares, ainda que o recurso extraordinário já tenha obtido o primeiro juízo positivo de admissibilidade, quando o apelo extremo estiver sobrestado em face do reconhecimento da existência de repercussão geral da matéria constitucional nele tratada. 4. Questão de ordem resolvida com a declaração da incompetência desta Suprema Corte para a apreciação da ação cautelar que busca a concessão de efeito suspensivo a recurso extraordinário sobrestado na origem, em face do reconhecimento da existência da repercussão geral da questão constitucional nele discutida. (AC 2177 MC-QO, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em 12/11/2008, DJe-035 DIVULG 19-02-2009 PUBLIC 20-02-2009 EMENT VOL-02349-05 PP-00945 RTJ VOL-00209-03 PP-01021)

Segundo Juliana Cordeiro de Faria, in “Medida cautelar para dar efeito

suspensivo a recurso extraordinário sobrestado na sistemática do art. 543-B do

CPC”, a competência para as medidas cautelares, considerando-se a

deliberação no julgamento da questão de ordem acima citada, pode ser assim

sistematizada:

“a) Recurso Extraordinário sem juízo de admissibilidade em razão do disposto nos arts. 543-B, CPC e 328-A, RISTF: competência do tribunal de origem; b) Recurso Extraordinário em que já houve juízo de admissibilidade na origem, mas foi sobrestado a seguir: competência do tribunal de origem; c) Recurso Extraordinário com juízo de admissibilidade na origem, encaminhado ao STF, ali sobrestado, e baixado ao Tribunal a quo, na forma do art. 328, parágrafo único do RISTF: competência do tribunal de origem; d) Recurso Extraordinário com juízo de admissibilidade na origem, encaminhado ao STF, ali sobrestado e ainda ali permanece: competência do STF. Observa-se que o Supremo Tribunal Federal, olvidando toda a técnica processual e até mesmo sua missão constitucional, adotou para a questão um critério espacial. É competente para apreciar a cautelar visando à atribuição de efeito suspensivo ao recurso extraordinário, o tribunal onde fisicamente se encontram os autos em manifesta oposição ao disposto no art. 800, parágrafo único do CPC. E, ainda, o próprio STF ampliou o alcance das Súmulas ns. 634 e 635, restringindo ao máximo o espectro de sua competência para conhecer de medidas cautelares”.

4.4. Recursos excepcionais e direito de recorrer em liberdade (HC x MC)

Na esfera penal, debate-se o direito de recorrer em liberdade quando

pendentes de julgamento recursos Especial e/ou Extraordinário. O julgado a

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seguir, da lavra da Min. Carmem Lúcia, apresenta de forma simples e

esclarecedora a atual posição do Supremo sobre o assunto:

HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL PENAL. PRISÃO PREVENTIVA. PACIENTE CONDENADO PELA PRÁTICA DO CRIME PREVISTO NO ART. 33, CAPUT, DA LEI 11.343/06. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO CAUTELAR IDÔNEA PARA A PRISÃO PREVENTIVA. SENTENÇA CONDENATÓRIA NA QUAL NÃO SE REITEROU ESSA FUNDAMENTAÇÃO. EXECUÇÃO PROVISÓRIA DE PENA: IMPOSSIBILIDADE. PRINCÍPIO DA NÃO-CULPABILIDADE. PRECEDENTES. 1. Prisão preventiva decretada, a título de garantia da ordem pública, com base na gravidade do crime imputado ao Paciente, ressaltando a existência de indícios de autoria e prova da materialidade, fundamentos que não foram mantidos quando da prolação da sentença condenatória. 2. Destaco que a matéria envolvendo o direito de recorrer em liberdade de réu condenado sem trânsito em julgado (HC 83.868, Relator Ministro Marco Aurélio; RHC 93.123, de minha relatoria), envolvendo a execução provisória de pena em caso de pendência (ou possibilidade) de interposição de recurso especial ou extraordinário - sem efeito suspensivo (RHC 93.287 e HC 93.172, ambos de minha relatoria; HC 84.078, Relator Ministro Eros Grau; HC 91.676, HC 92.578 e HC 92.691, estes da relatoria do Ministro Ricardo Lewandowski), teve sua apreciação pelo Plenário do Supremo Tribunal na sessão do dia 5.2.2009. Nesses casos, reviu-se a posição que vigorava no Supremo Tribunal Federal de que a pendência de recursos sem efeito suspensivo autorizava o recolhimento do condenado, ainda antes do trânsito em julgado da sentença condenatória. Firmou-se a posição, por maioria de votos do Pleno do Supremo Tribunal Federal, de que há óbice de prisão para execução ainda provisória de pena na pendência de recurso especial ou extraordinário. A única exceção ficou assentada no caso de prisão cautelar por decreto fundamentado. 3. Ademais, a jurisprudência predominante deste Supremo Tribunal afasta a prisão preventiva que se funda na gravidade abstrata ou concreta do delito imputado, definido ou não como hediondo. 4. Ordem concedida. (HC 98217, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma, julgado em 08/09/2009, DJe-067 DIVULG 15-04-2010 PUBLIC 16-04-2010 EMENT VOL-02397-03 PP-00949)

Sugestão de leitura

MARINONI, Luiz Guilherme. Urgência diante dos recursos especial e

extraordinário (medida cautelar e tutela antecipatória).

http://www.professormarinoni.com.br/manage/pub/anexos/20080129021910UR

GENCIA_DIANTE_DOS_RECURSOS_ESPECIAL_E_EXTRAORDINARIO.pdf

Page 11: 9. Medidas Cautelares Em Sede Recursal

MEDIDA CAUTELAR PARA IMPRIMIR EFEITO SUSPENSIVO AO

RECURSO EXCEPCIONAL

PRIMEIRO PASSO

Endereçamento (analisar o caso concreto)

PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE ORIGEM X “TRIBUNAL SUPERIOR”

Regra: Súmulas 634 e 635 do STF

SEGUNDO PASSO

Previsão legal

Regra: art. 798 do CPC (“poder geral de cautela”)

Dica: consultar os regimentos internos

Ex.:

(...), qualificação completa, por intermédio de seu patrono, nos termos do

art. 798 e do(s) art(s) (...) do Regimento Interno do (...), vem à presença de

Vossa Excelência, com base no poder geral de cautela, propor MEDIDA

CAUTELAR INOMINADA para imprimir efeito suspensivo ao recurso (...) (ou

para suspender a eficácia da decisão proferida pelo Tribunal [...]), aduzindo

para tanto os seguintes fundamentos de fato e de direito:

TERCEIRO PASSO

Debater os requisitos da cautelar (fumus boni iuris e periculum in mora)

Ex.:

O caso em tela trata de situação fático-jurídica excepcional, justificando-

se o pedido de efeito suspensivo ao recurso interposto pelo requerente.

Os requisitos da cautelar estão presentes.

Quanto ao fumus boni iuris, (...).

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Neste ponto da peça, deve ser debatido “o alto grau de probabilidade

de êxito do recurso” (AgRgMC nº 8.101/SP, Relator Ministro Teori

Albino Zavascki, in DJ 24/5/2004).

No que diz respeito ao periculum in mora, (...).

Neste ponto da cautelar, deve ficar claro o manifesto risco de dano

irreparável ou de difícil reparação “tornando indispensável a

concessão da providência pleiteada para assegurar a eficácia do

resultado do recurso a ser apreciado por este Tribunal” (AgRgMC nº

8.101/SP, Relator Ministro Teori Albino Zavascki, in DJ 24/5/2004).

Assim, caso não seja concedido o efeito suspensivo buscado nesta

cautelar, (resumir as consequências no caso concreto).

QUARTO PASSO

Pedido

Ex.:

DO PEDIDO

Ex positis, pede-se que seja concedida medida cautelar para imprimir

efeito suspensivo ao recurso (...), interposto nos autos do processo nº. (...),

suspendendo, com isso, a eficácia do acórdão proferido pelo Tribunal (...) até o

julgamento final do recurso excepcional.

Local e data.

IDENTIFICAÇÃO DO PATRONO