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Aspectos processuais da utilização da Reclamação como sucedâneo recursal em sede de Juizados EspeciaisEduardo Macedo Leitão Eduardo Macedo Leitão

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“Aspectos processuais da utilização da Reclamação como sucedâneo recursal em sede de Juizados Especiais”

Eduardo Macedo LeitãoEduardo Macedo Leitão

Histórico da reclamação no Direito brasileiro

- As quatro fases observadas por José da Silva Pacheco (“A ‘reclamação’ no STF e no STJ de acordo com a nova Constituição”, in Revista dos Tribunais, v. 78, nº 646, 1989, pp. 19-32).

1ª. Desde a criação do STF até a inclusão do instituto em seu Regimento Interno: ainda que não houvesse expressa previsão regimental, a medida foi admitida em diversas ocasiões, com fundamento na doutrina dos implied powers (poderes implícitos), influenciada por decisões históricas da Suprema Corte norte-americana.

 2ª. Inclusão da reclamação no Regimento Interno do STF, na sessão de 02/10/57, com fundamento

no art. 97, II da Constituição de 1946, que conferia àquela Corte a competência para elaborar seu regimento interno.

 3ª. Autorização constitucional para que o STF estabelecesse, em seu Regimento Interno, “o

processo e o julgamento dos feitos de sua competência originária ou recursal e da arguição de relevância da questão federal” (art. 115, par. ún., “c” da Constituição de 1967; art. 120, par. ún., “c” da Emenda Constitucional nº 1 de 1969 e art. 119 § 3º “c” da Emenda Constitucional nº 7 de 1977.

 4ª. Expressa previsão da reclamação no art. 105, I, f da Constituição Federal de 1988, superando

qualquer discussão à constitucionalidade do instituto.

Natureza jurídica da reclamação

-Recurso: Min. Amaral Santos, em julgamento à Reclamação nº 831 do STF. Críticas: a reclamação (i) não visa impugnar uma decisão, mas, pelo contrário, assegurar sua autoridade; (ii) não é cabível antes da preclusão, mas após o trânsito em julgado; (iii) não objetiva reformar, invalidar, esclarecer ou integrar uma decisão, mas justamente preservá-la, garantindo sua autoridade;

-Ação: José da Silva Pacheco (“A ‘reclamação’ no STF e no STJ de acordo com a nova Constituição”, in Revista dos Tribunais, v. 78, nº 646, 1989, pp. 30). Críticas: a reclamação (i) não visa a tutela jurisdicional, que já foi prestada, mas tão somente assegurar a eficácia desta; (ii) não propicia às partes a reabertura da discussão meritória da decisão cuja eficácia pretende-se preservar.

-Incidente processual: Moniz de Aragão (A correição parcial, São Paulo, Bushatsky, 1969, p. 110). Críticas: diferentemente do incidente, que só pode surgir num processo em curso, a reclamação só é cabível após o encerramento deste, com o objetivo de restaurar sua decisão final.

-Garantia especial, subsumida no direito constitucional de petição aos Poderes Públicos: Ada Pellegrini Grinover (O processo: estudos e pareceres – São Paulo: Perfil, 2005, p. 76). Fundamento: art. 5º XXXIV “a” da Constituição Federal. “Cuida-se simplemente de postular perante o próprio órgão que proferiu uma decisão o seu exato e integral cumprimento”.

 

Previsão legal da reclamação ao STJ

Constituição Federal

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:I - processar e julgar, originariamente:(...)f) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões ;

Lei nº 8.038/90(Institui normas procedimentais para os processos que especifica, perante o STJ e o STF)

Art. 13 - Para preservar a competência do Tribunal ou garantir a autoridade das suas decisões, caberá reclamação da parte interessada ou do Ministério Público.

Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça

Art. 187. Para preservar a competência do Tribunal ou garantir a autoridade das suas decisões, caberá reclamação da parte interessada ou do Ministério Público.

Cabimento da reclamação ao STJ contra decisões das Turmas Recursais Cíveis

Outros fundamentos

-Descabimento de recurso especial em sede de Juizados Especiais Cíveis, conforme verbete da Súmula nº 203 do STJ: “Não cabe recurso especial contra decisão proferida por órgão de segundo grau dos Juizados Especiais.” (STJ - Corte Especial, AgRg no Ag 400.076-BA, j. 23/05/2002)

-Inexistência de Turma de Uniformização de Jurisprudência no âmbito dos Juizados EstaduaisLei nº 10.259/01 (Dispõe sobre a instituição dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais no âmbito da Justiça Federal):Art. 14. (...)§ 4º Quando a orientação acolhida pela Turma de Uniformização, em questões de direito material, contrariar súmula ou jurisprudência dominante no Superior Tribunal de Justiça - STJ, a parte interessada poderá provocar a manifestação deste, que dirimirá a divergência.

Lei nº 12.153/09 (Dispõe sobre os Juizados Especiais da Fazenda Pública no âmbito dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios):Art. 18.  (...)§ 3º  Quando as Turmas de diferentes Estados derem a lei federal interpretações divergentes, ou quando a decisão proferida estiver em contrariedade com súmula do Superior Tribunal de Justiça, o pedido será por este julgado.Art. 19.  Quando a orientação acolhida pelas Turmas de Uniformização de que trata o § 1º do art. 18 contrariar súmula do Superior Tribunal de Justiça, a parte interessada poderá provocar a manifestação deste, que dirimirá a divergência.

Aspectos processuais da reclamação ao STJ contra decisões das Turmas Recursais Cíveis

-Decisão do STF reconhecendo o cabimento de reclamação ao STJ “para fazer prevalecer, até a criação da turma de uniformização dos juizados especiais estaduais, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça na interpretação da legislação infraconstitucional” (STF - Tribunal Pleno – RE 571572 ED/BA, rel. Min. Ellen Gracie, j. 26/08/09)

-Resolução nº 12 do STJ, de 14/12/09, que “Dispõe sobre o processamento, no Superior Tribunal de Justiça, das reclamações destinadas a dirimir divergência entre acórdão prolatado por turma recursal estadual e a jurisprudência desta Corte”.

Prazo para oferecimento

-15 dias da a partir da intimação da decisão impugnada, conforme o artigo 1º da Resolução 12/2009 do STJ: “As reclamações destinadas a dirimir divergência entre acórdão prolatado por turma recursal estadual e a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, suas súmulas ou orientações decorrentes do julgamento de recursos especiais processados na forma do art. 543-C do Código de Processo Civil serão oferecidas no prazo de quinze dias, contados da ciência, pela parte, da decisão impugnada, independentemente de preparo”. (Grifamos)

-Descabimento após o trânsito em julgado da decisão impugnada: “Não é cabível a reclamação contra decisão judicial transitada em julgado, nos termos da Súmula 734/STF. De acordo com o Pretório Excelso, apenas é possível mitigar os rigores dessa Súmula, quando o trânsito em julgado do decisório reclamado ocorre no curso do processamento da reclamação”. (STJ - 1ª Seção - AgRG na Reclamação nº 4616 - MG, rel. Min. Castro Meira, j. 10/11/10).

Aspectos processuais da reclamação ao STJ contra decisões das Turmas Recursais Cíveis

Juízo de admissibilidade da petição inicial

-Deverá ser dirigida ao Presidente do STJ, instruída com prova documental e contendo minuciosa descrição da violação à jurisprudência consolidada daquele Tribunal, sob pena de inadmissão (par. único do artigo 13 da Lei 8.038/90; par. único do artigo 187 do RISTJ e §§ 1º e 2º do artigo 1º da Resolução 12/2009 do STJ).

Artigo 13 da Lei 8.038/90: (…)Parágrafo único - A reclamação, dirigida ao Presidente do Tribunal, instruída com prova documental, será autuada e distribuída ao relator da causa principal, sempre que possível. (Grifamos)

Art. 187 do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça: (…)Parágrafo único. A reclamação, dirigida ao Presidente do Tribunal e instruída com prova documental, será autuada e distribuída ao relator da causa principal, sempre que possível. (Grifamos)

Artigo 1º da Resolução nº 12/2009 do STJ:§ 1º A petição inicial será dirigida ao Presidente deste Tribunal e distribuída a relator integrante da seção competente, que procederá ao juízo prévio de admissibilidade.§ 2º O relator decidirá de plano reclamação manifestamente inadmissível, improcedente ou prejudicada, em conformidade ou dissonância com decisão proferida em reclamação anterior de conteúdo equivalente. (Grifamos)

Aspectos processuais da reclamação ao STJ contra decisões das Turmas Recursais Cíveis

-Somente será admitida quando, em tese, a decisão da Turma Recursal impugnada violar precedentes exarados no julgamento de recursos especiais em controvérsias repetitivas (art. 543-C do CPC) ou enunciados de Súmula do STJ e que a divergência resida em regras de direito material. (2ª Seção - RCL 3.812/ES, rel. Min. Sidnei Beneti e RCL 6.721/MT, rel. Min. Massami Uyeda, ambas julgadas em 23/11/11).

Ementa do acórdão da RCL 6.721/MT

RECLAMAÇÃO. RESOLUÇÃO/STJ Nº 12/2009. JUIZADOS ESPECIAIS. REQUISITOS. JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA. DEFINIÇÃO.

1. Para que seja admissível o manejo da Reclamação disciplinada pela Res/STJ nº 12/2009 é necessário que se demonstre a contrariedade a jurisprudência consolidada desta Corte quanto a matéria, entendendo-se por jurisprudência consolidada: (i) precedentes exarados no julgamento de Recursos Especiais em Controvérsias Repetitivas (art. 543-C do CPC); ou (ii) enunciados de Súmula da jurisprudência desta Corte.

2. Não se admite, com isso, a propositura de reclamações com base apenas em precedentes exarados no julgamento de recursos especiais.

3. Para que seja admissível a reclamação é necessário também que a divergência se dê quanto a regras de direito material, não se admitindo a reclamação que discuta regras de processo civil, à medida que o processo, nos juizados especiais, orienta-se pelos peculiares critérios da Lei 9.099/95.

4. As hipóteses de teratologia deverão ser apreciadas em cada situação concreta.5. Reclamação não conhecida.

Aspectos processuais da reclamação ao STJ contra decisões das Turmas Recursais Cíveis

Cabimento de medida liminar

- É cabível o deferimento de medida liminar com efeito erga omnes, sem a oitiva dos interessados, inclusive de ofício, nos casos em que não houver sido requerida, mas o relator vislumbrar o preenchimento dos seus requisitos, a teor do artigo 14 II da Lei 8.038/90 c/c artigo 188 II do RISTJ e o artigo 2º I da Resolução nº 12/2009 do STJ.

Art. 14 da Lei 8.038/90: Ao despachar a reclamação, o relator:I - (...)II - ordenará, se necessário, para evitar dano irreparável, a suspensão do processo ou do ato impugnado.

Art. 188 do Regimento Interno do STJ: Ao despachar a reclamação, o relator:I - (…)II - ordenará, se necessário, para evitar dano irreparável a suspensão do processo ou do ato impugnado.

Art. 2º da Resolução 12/2009 do STJ: Admitida a reclamação, o relator:I - poderá, de ofício ou a requerimento da parte, presentes a plausibilidade do direito invocado e o fundado receio de dano de difícil reparação, deferir medida liminar para suspender a tramitação dos processos nos quais tenha sido estabelecida a mesma controvérsia, oficiando aos presidentes dos tribunais de justiça e aos corregedores-gerais de justiça de cada estado membro e do Distrito Federal e Territórios, a fim de que comuniquem às turmas recursais a suspensão (Grifamos).

Aspectos processuais da reclamação ao STJ contra decisões das Turmas Recursais Cíveis

Contraditório e possibilidade de manifestação de quaisquer interessados

- Recebida a petição inicial, o relator deverá dar ciência ao Presidente do Tribunal de Justiça; ao Corregedor Geral de Justiça; ao Presidente da Turma Recursal prolatora do acórdão impugnado, como também aos demais interessados, conforme os artigos 14 I da Lei 8.038/90; 188 I do RISTJ e 2º II e III da Resolução nº 12/2009:

Artigo 14 da Lei 8.038/90: Ao despachar a reclamação, o relator:I - requisitará informações da autoridade a quem for imputada a prática do ato impugnado, que as prestará no prazo de dez dias;

Art. 188 do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça: Ao despachar a reclamação, o relator: I - requisitará informações da autoridade a quem for imputada a prática do ato impugnado, a qual as prestará no prazo de dez dias;

Artigo 2º da Resolução nº 12/2009 do STJ: Admitida a reclamação, o relator:I - (…)II – oficiará ao presidente do Tribunal de Justiça e ao corregedor-geral de Justiça do estado ou do Distrito Federal e ao presidente da turma recursal prolatora do acórdão reclamado, comunicando o processamento da reclamação e solicitando informações;III – ordenará a publicação de edital no Diário da Justiça, com destaque no noticiário do STJ na internet, para dar ciência aos interessados sobre a instauração da reclamação, a fim de que se manifestem, querendo, no prazo de trinta dias; (Grifamos)

Aspectos processuais da reclamação ao STJ contra decisões das Turmas Recursais Cíveis

Necessária oitiva do Ministério Público

- Apesar do artigo 3º da Resolução nº 12/2009 do STJ facultar ao relator da reclamação a abertura de prazo para manifestação do Ministério Público, entendemos que tal providência é obrigatória, a teor dos artigos 16 da Lei 8.038/90; 190 do RISTJ e 82 III do Código de Processo Civil.

Artigo 3º da Resolução nº 12/2009 do STJ: “O relator poderá, se reputar necessário, abrir vistas dos autos ao Ministério Público, por cinco dias, para parecer, após o decurso do prazo para informações”. (Grifamos);

Artigo 16 da Lei 8.038/90: “O Ministério Público, nas reclamações que não houver formulado, terá vista do processo, por cinco dias, após o decurso do prazo para informações”. (Grifamos)

Art. 190 do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça: “O Ministério Público, nas reclamações que não houver formulado, terá vista do processo, por cinco dias, após o decurso do prazo para informações”;

Art. 82 do Código de Processo Civil: “Compete ao Ministério Público intervir:I - (…)III - nas ações que envolvam litígios coletivos pela posse da terra rural e nas demais causas em que há interesse público evidenciado pela natureza da lide ou qualidade da parte.

Aspectos processuais da reclamação ao STJ contra decisões das Turmas Recursais Cíveis

Preferência na pauta de julgamento e cabimento de sustentação oral

-A reclamação goza de preferência na pauta de julgamento em relação aos demais processos, à exceção de outros dotados da mesma prerrogativa, a exemplo dos relativos a réu preso; habeas corpus; mandados de segurança e recursos especiais processados na forma do art. 543-C do Código de Processo Civil (multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica questão de direito).

-É cabível a sustentação oral na sessão de julgamento, inclusive por parte dos terceiros que tenham tempestivamente manifestado seu interesse nos autos, na forma do artigo 2º III da Resolução nº 12/2009 do STJ.

Artigo 4º da Resolução nº 12/2009 do STJ: Cumpridos os prazos, com ou sem manifestação das partes, do Ministério Público ou de eventuais terceiros interessados, o processo será incluído na pauta da sessão, com preferência sobre os demais, ressalvados os relativos a réu preso, os habeas corpus, os mandados de segurança e os recursos especiais processados na forma do art. 543-C do Código de Processo Civil.Parágrafo único. As partes, o representante do Ministério Público e, por decisão do presidente da Seção, os terceiros interessados poderão produzir sustentação oral na conformidade do que dispõe o art. 160 do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça.

Artigo 160 do Regimento Interno do STJ: “(...) cada uma das partes falará pelo tempo máximo de quinze minutos (…)”.

Aspectos processuais da reclamação ao STJ contra decisões das Turmas Recursais Cíveis

Efeitos da procedência da reclamação e intimação dos interessados

-Julgada procedente a reclamação, o Tribunal cassará a decisão exorbitante de seu julgado, mas não a substituirá, determinando o imediato cumprimento do julgado, a teor dos artigos 17 e 18 da Lei 8.038/90; 191 e 192 do RISTJ e 5º da Resolução nº 12 do STJ.

Artigo 17 da Lei 8.038/90: Julgando procedente a reclamação, o Tribunal cassará a decisão exorbitante de seu julgado ou determinará medida adequada à preservação de sua competência.

Artigo 18 da Lei 8.038/90: O Presidente determinará o imediato cumprimento da decisão, lavrando-se o acórdão posteriormente.

Art. 191 do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça: Julgando procedente a reclamação, o Tribunal cassará a decisão exorbitante de seu julgado ou determinará medida adequada à preservação de sua competência;

Art. 192 do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça: O Presidente determinará o imediato cumprimento da decisão, lavrando-se o acórdão posteriormente.

Artigo 5º da Resolução nº 12/2009 do STJ: O acórdão do julgamento da reclamação conterá súmula sobre a questão controvertida, e dele será enviada cópia aos presidentes dos tribunais de justiça e aos corregedores-gerais de justiça de cada estado membro e do Distrito Federal e Territórios, bem como ao presidente da turma recursal reclamada.

Decisões relevantes em reclamações contra decisões das Turmas Recursais

PROCESSUAL CIVIL. RECLAMAÇÃO. JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS. RECURSOS. INTERPOSIÇÃO POR ADVOGADO SEM PROCURAÇÃO VÁLIDA NOS AUTOS. INTERPRETAÇÃO A CONTRARIO SENSU DA SÚMULA N. 115 DESTA CORTE SUPERIOR. RECLAMAÇÃO PROCEDENTE.1. As hipóteses de cabimento da reclamação são estritas e podem ser assim resumidas: (i) preservação da competência constitucional do Superior Tribunal de Justiça, (ii) manutenção da autoridade das decisões proferidas nesta Corte Superior e, em razão do decidido no EDcl no RE 571.572/BA (Rel. Min. Ellen Gracie, Plenário, j. 26.8.2009) e do aposto na Resolução STJ nº 12/2009, (iii) adequação do entendimento adotado em acórdãos de Turma Recursais Estaduais à jurisprudência, súmula ou orientação adotada na sistemática dos recursos repetitivos do STJ.2. Na espécie, a hipótese (iii) está plenamente configurada. Explica-se.3. O Superior Tribunal de Justiça tem firme posicionamento no sentido de que, no âmbito das instâncias ordinárias, não se pode considerar inexistente recurso - e, conseqüentemente, deixar de conhecê-lo - por ausência ou invalidade de procuração referente à capacidade postulatória de patrono sem, antes, aplicar-se a regra do art. 13 do CPC (abrir à parte a oportunidade de regularizar sua situação).4. Confiram-se, nesta esteira, além da leitura a contrario sensu da Súmula nº 115 desta Corte Superior, o seguinte precedente emblemático: EREsp 868.800/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, Corte Especial, DJe 11.11.2010.5. Se, para as instâncias ordinárias comuns, regidas essencialmente por formalidades mais densas e rigorosas, o entendimento do Superior Tribunal de Justiça é firme pela necessidade de abertura às partes interessadas da possibilidade de retificar vícios sanáveis, é impossível negar a elas o mesmo entendimento no âmbito dos Juizados Especiais, marcados notoriamente pela informalidade.6. Reclamação procedente.

STJ - 1ª Seção - Recl. 5.979 - PE, rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 14/09/11.

Decisões relevantes em reclamações contra decisões das Turmas Recursais

PROCESSUAL CIVIL. RECLAMAÇÃO. JUIZADO ESPECIAL CÍVEL ESTADUAL. INTERPOSIÇÃO DE RECURSO POR ADVOGADO SEM PROCURAÇÃO VÁLIDA NOS AUTOS. NECESSIDADE DE INTIMAÇÃO DO PATRONO PARA REGULARIZAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO PROCESSUAL. PRECEDENTE.1. A Primeira Seção desta Corte, em recente julgamento, firmou o entendimento de que, tanto no âmbito das instâncias ordinárias como dos juizados especiais, não se pode considerar inexistente recurso e, conseqüentemente, deixar de conhecê-lo, por ausência ou invalidade de procuração referente à capacidade postulatória de patrono sem, antes, aplicar-se a regra do art. 13 do CPC (abrir à parte a oportunidade de regularizar sua situação). Precedente: Rcl 5.979/PE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, DJe 22/09/2011).2. Reclamação procedente.

STJ - 1ª Seção - Recl. 6.327-PE, rel. Min. Benedito Gonçalves, j. 08/02/12.

Decisões relevantes em reclamações contra decisões das Turmas Recursais

(…)

Tenho por configurados, na espécie, os requisitos da medida urgente requerida.

Com efeito, ao que parece nesta análise perfunctória, há divergência entre o decisão reclamada e o precedente desta Corte a demonstrar a plausibilidade do direito.

Ademais, a execução do julgado, na forma da decisão reclamada e considerando o exorbitante valor objeto da constrição, poderá, de fato, ensejar dano de difícil reparação ao reclamante, sobretudo se for deferido ao exequente o direito de levantar a importância bloqueada.

Assim sendo, admito a reclamação e defiro a liminar pleiteada para suspender o bloqueio da importância executada.

Proceda-se na forma do art. 2o, incisos I, II e III, da Resolução n. 12/2009 do STJ. (Grifamos)

STJ - Recl. 7.327-PE, rel. Min. Cesar Asfor Rocha, DJE 16/11/11 (decisão monocrática).

Decisões relevantes em reclamações contra decisões das Turmas Recursais

RECLAMAÇÃO. RESOLUÇÃO STJ Nº 12/2009. DIVERGÊNCIA ENTRE ACÓRDÃO DE TURMA RECURSAL ESTADUAL E A JURISPRUDÊNCIA DO STJ. RESPONSABILIDADE CIVIL. ASSALTO NO INTERIOR DE ÔNIBUS COLETIVO. CASO FORTUITO EXTERNO. EXCLUSÃO DA RESPONSABILIDADE DA EMPRESA TRANSPORTADORA. MATÉRIA PACIFICADA NA SEGUNDA SEÇÃO.1. A egrégia Segunda Seção desta Corte, no julgamento das Reclamações nº 6.721/MT e nº 3.812/ES, no dia 9 de novembro de 2011, em deliberação quanto à admissibilidade da reclamação disciplinada pela Resolução nº 12, firmou posicionamento no sentido de que a expressão "jurisprudência consolidada" deve compreender: (i) precedentes exarados no julgamento de recursos especiais em controvérsias repetitivas (art. 543-C do CPC) ou (ii) enunciados de Súmula da jurisprudência desta Corte.2. No caso dos autos, contudo, não obstante a matéria não estar disciplinada em enunciado de Súmula deste Tribunal, tampouco submetida ao regime dos recursos repetitivos, evidencia-se hipótese de teratologia a justificar a relativização desses critérios.3. A jurisprudência consolidada neste Tribunal Superior, há tempos, é no sentido de que o assalto à mão armada dentro de coletivo constitui fortuito a afastar a responsabilidade da empresa transportadora pelo evento danoso daí decorrente para o passageiro.4. Reclamação procedente.(Grifamos)

STJ - 2ª Seção - Recl. 4.518-RJ, rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 29/02/12.

Decisões relevantes em reclamações contra decisões das Turmas Recursais

O iminente levantamento da quantia depositada nos autos do processo nº 607/2008, que tramita perante o 4º Juizado Especial Cível de Relações de Consumo da Comarca de São Luís do Maranhão, prejudicará o julgamento do mandado de segurança no 451/2011-3.

Atento ao vulto dessa quantia, que excede os limites da jurisdição dos Juizados Especiais, defiro a medida liminar para suspender a execução da ordem judicial.

STJ - Recl. 7.608-MA, rel. Min. Ari Pargendler, DJE 01/02/12 (decisão monocrática).

O iminente levantamento da quantia depositada nos autos do processo no 001.2011.056.957-9, que tramita perante o 13o Juizado Especial Cível e das Relações de Consumo de São Luís do Maranhão, prejudicará o julgamento do mandado de segurança no 0006583-65.2011.8.10.0000.

Atento ao vulto dessa quantia, que excede os limites da jurisdição dos Juizados Especiais, defiro a medida liminar para suspender a execução da ordem judicial.

STJ - Recl. 7.609-MA, rel. Min. Ari Pargendler, DJE 01/02/12 (decisão monocrática).

Decisões relevantes em reclamações contra decisões das Turmas Recursais

(…)

Na espécie, embora não tenha havido indicação de ofensa a verbete sumular ou de recurso julgado sob o rito do art. 543-C do CPC em sentido contrário ao aresto proferido pelo órgão reclamado, um exame perfunctório típico dos provimentos liminares permite antever possível decisão eivada de teratologia, o que também autoriza a admissão da presente medida.

A princípio, na esteira dos precedentes desta Corte, não é razoável que em um processo em que a indenização por danos morais fixada em R$ 3.500,00, a multa por descumprimento da obrigação de fazer, consubstanciada na retirada do nome da autora do cadastro de inadimplentes, perfaça montante superior à R$ 320.000,00.

Por conseguinte, encontram-se presentes o perigo da demora, tendo em vista a possibilidade de levantamento do valor objeto da presente irresignação, bem como a fumaça do bom direito.

3. Ante o exposto, defiro o pedido liminar para que seja suspensa a execução do quantum estabelecido a título de astreintes, até o julgamento desta Reclamação.

STJ - Recl. 7.861-SP, rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJE 13/02/12 (decisão monocrática).

Decisões relevantes em reclamações contra decisões das Turmas Recursais

(…)

Conforme acórdão da 4ª Turma no RMS 33.155, de minha relatoria, tratando-se de Juizado Especial, a interpretação sistemática dos dispositivos da Lei 9.099/95 conduz à limitação da competência do Juizado Especial para cominar - e executar - multas coercitivas em valores consentâneos com a alçada respectiva (art. 52, inciso V). Se a obrigação é tida pelo autor, no momento da opção pela via do Juizado Especial, como de "baixa complexidade" a demora em seu cumprimento não deve resultar em valor devido a título de multa superior ao valor da alçada.

Reitero que, na linha de pacífica jurisprudência do STJ, o valor da multa diária cominatória não faz coisa julgada material, podendo ser revisto, a qualquer momento, se se revelar insuficiente ou excessivo, conforme dispõe o art. 461, § 6º, do CPC (cf., entre muitos outros, o acórdão da 4ª Turma já citado, no REsp 691.785/RJ, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, unânime, DJe de 20.10.2010). O valor executado a título de multa excedente à alçada deve ser, pois, suprimido, sem que tal constitua ofensa a coisa julgada.

Considero, portanto, que o valor da alçada previsto no art. 3º, inciso I, da Lei 9.099/95, o qual tem em mira o valor da obrigação principal na data do ajuizamento da ação (quarenta salários mínimos), deve ser aplicado, por analogia, como o valor máximo a ser executado contra o devedor, a título de multa cominatória.

O periculum in mora está claro na possibilidade de ser a reclamante compelida a pagar, a qualquer momento, multa que, em outubro de 2010, já ultrapassava trezentos mil reais (e-STJ fls. 123/124)

Havendo, portanto, divergência jurisprudencial a ser dirimida, na inteligência do art. 1º da Resolução nº 12/2009-STJ, admito a presente reclamação, nos termos do art. 2º do referido ato normativo.

Verificando, ainda, a presença dos requisitos da medida de urgência pleiteada, concedo, parcialmente, a liminar, para o fim de limitar a execução da multa ao valor equivalente a quarenta salários mínimos.

STJ - Recl. 7.746-GO, rel. Min. Maria Isabel Galotti, DJE 02/03/12 (decisão monocrática).

Decisões relevantes em reclamações contra decisões das Turmas Recursais

(…)

Conforme acórdão da 4ª Turma no RMS 33.155, de minha relatoria, tratando-se de Juizado Especial, a interpretação sistemática dos dispositivos da Lei 9.099/95 conduz à limitação da competência do Juizado Especial para cominar - e executar - multas coercitivas em valores consentâneos com a alçada respectiva (art. 52, inciso V). Se a obrigação é tida pelo autor, no momento da opção pela via do Juizado Especial, como de "baixa complexidade" a demora em seu cumprimento não deve resultar em valor devido a título de multa superior ao valor da alçada.

Reitero que, na linha de pacífica jurisprudência do STJ, o valor da multa diária cominatória não faz coisa julgada material, podendo ser revisto, a qualquer momento, se se revelar insuficiente ou excessivo, conforme dispõe o art. 461, § 6º, do CPC (cf., entre muitos outros, o acórdão da 4ª Turma já citado, no REsp 691.785/RJ, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, unânime, DJe de 20.10.2010). O valor executado a título de multa excedente à alçada deve ser, pois, suprimido, sem que tal constitua ofensa a coisa julgada.

Considero, portanto, que o valor da alçada previsto no art. 3º, inciso I, da Lei 9.099/95, o qual tem em mira o valor da obrigação principal na data do ajuizamento da ação (quarenta salários mínimos), deve ser aplicado, por analogia, como o valor máximo a ser executado contra o devedor, a título de multa cominatória.

O periculum in mora está claro na possibilidade de ser a reclamante compelida a pagar, a qualquer momento, valor que, em dezembro de 2002, já ultrapassava quatrocentos mil reais (e-STJ fl. 565)

Havendo, portanto, divergência jurisprudencial a ser dirimida, na inteligência do art. 1º da Resolução nº 12/2009-STJ, admito a presente reclamação, nos termos do art. 2º do referido ato normativo.

Verificando, ainda, a presença dos requisitos da medida de urgência pleiteada, concedo, parcialmente, a liminar, para o fim de limitar a execução da multa ao valor equivalente a quarenta salários mínimos.

STJ - Recl. 7.851-BA, rel. Min. Maria Isabel Galotti, DJE 22/03/12 (decisão monocrática).

Eduardo Macedo LeitãoEduardo Macedo Leitã[email protected]

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