9-39-1-pb (4)

18
63 AUDITORIA COMO ESTRATÉGIA DE CERTIFICAÇÃO DE TRANSPARÊNCIA DAS ORGANIZAÇÕES SEM FINS LUCRATIVOS Jorge Assef Lutif Junior Bacharel em Ciências Contábeis pela Universidade de Fortaleza Pós-Graduado em Auditoria pela Universidade Federal do Ceará Pós-Graduado em Administração Financeira pela Universidade Estadual do Ceará Especialista em Comércio Exterior pela Federação do Comércio do Ceará, Bolsista Capes e Mestrando em Engenharia da Produção pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte Bacharelando em Administração e Direito Professor da Universidade Potiguar [email protected] Resumo: Este artigo discute a contribuição que a auditoria pode oferecer para as organizações sem fins lucrativos (Terceiro Setor) e a sociedade. A busca de novas maneiras de gerenciamento e controle das formas de utilização dos recursos públicos e dos fomentadores de recursos às orga- nizações sem fins lucrativos tem sido um grande desafio a ser atingido. Entende-se que referidas organizações enfrentam os problemas sociais, exigindo do Estado, da sociedade e das organiza- ções, uma participação mais efetiva nas suas ações. Ressalta-se que a auditoria pode contribuir para uma efetiva administração dos recursos e, conseqüentemente, para obtenção de resultados no trabalho junto a grupos sociais e no enfrentamento da pobreza, da exclusão social e conquista dos direitos do cidadão. Partindo deste contexto foi procurado argumento não somente junto à literatura sobre Terceiro Setor mas em contabilidade e em áreas correlatas, para dar sustentação ao trabalho. Pretende-se chamar a atenção para contribuição auditoria, na busca de qualidade no atendimento, identificando oportunidades de melhorias, contribuindo para consecução das metas das entidades do Terceiro Setor. Trata-se de um assunto relevante, mas muito controvertido. Palavras-Chave: Auditoria. Terceiro Setor. Entidades sem Fins Lucrativos. AUDIT CERTIFICATION AS A STRATEGY OF TRANSPARENCY IN PROFITABLE ORGANIZATIONS Abstract: This article discusses the contribution that the audit can provide for nonprofits organi- zations (Third Sector) and society. The search for new ways to manage and control the forms of use of public resources and developers of resources to nonprofit organizations has been a great challenge to be met. It´s understood that these organizations faced social problems, requiring the State, society and organizations, a more effective participation in their actions. It emphasizes that the audit can contribute to effective management of resources and hence for achieving results in their work with social groups and in tackling poverty, social exclusion and achievement of civil rights. From this context, we sought argument not only with the literature on the Third Sector, but in accounting and related fields, to give support to the work. It pretends to draw attention to audit con- tribution in the search for quality care, identifying improvement opportunities, contributing to con- secutive of the goals of the Third Sector entities. This is an important issue, but very controversial. Key words: Audit. Third section. Non profit organizations.

Upload: bella-wonsovicz

Post on 08-Nov-2015

16 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

trabalho pronto para divulgaçao

TRANSCRIPT

  • 63

    AUDITORIA COMO ESTRATGIA DE CERTIFICAO DE TRANSPARNCIA DAS ORGANIZAES SEM FINS LUCRATIVOS

    Jorge Assef Lutif JuniorBacharel em Cincias Contbeis pela Universidade de FortalezaPs-Graduado em Auditoria pela Universidade Federal do Cear

    Ps-Graduado em Administrao Financeira pela Universidade Estadual do CearEspecialista em Comrcio Exterior pela Federao do Comrcio do Cear,

    Bolsista Capes e Mestrando em Engenharia da Produo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte

    Bacharelando em Administrao e DireitoProfessor da Universidade Potiguar

    [email protected]

    Resumo: Este artigo discute a contribuio que a auditoria pode oferecer para as organizaes sem fins lucrativos (Terceiro Setor) e a sociedade. A busca de novas maneiras de gerenciamento e controle das formas de utilizao dos recursos pblicos e dos fomentadores de recursos s orga-nizaes sem fins lucrativos tem sido um grande desafio a ser atingido. Entende-se que referidas organizaes enfrentam os problemas sociais, exigindo do Estado, da sociedade e das organiza-es, uma participao mais efetiva nas suas aes. Ressalta-se que a auditoria pode contribuir para uma efetiva administrao dos recursos e, conseqentemente, para obteno de resultados no trabalho junto a grupos sociais e no enfrentamento da pobreza, da excluso social e conquista dos direitos do cidado. Partindo deste contexto foi procurado argumento no somente junto literatura sobre Terceiro Setor mas em contabilidade e em reas correlatas, para dar sustentao ao trabalho. Pretende-se chamar a ateno para contribuio auditoria, na busca de qualidade no atendimento, identificando oportunidades de melhorias, contribuindo para consecuo das metas das entidades do Terceiro Setor. Trata-se de um assunto relevante, mas muito controvertido.

    Palavras-Chave: Auditoria. Terceiro Setor. Entidades sem Fins Lucrativos.

    AUDIT CERTIFICATION AS A STRATEGY OF TRANSPARENCY IN PROFITABLE ORGANIZATIONS Abstract: This article discusses the contribution that the audit can provide for nonprofits organi-zations (Third Sector) and society. The search for new ways to manage and control the forms of use of public resources and developers of resources to nonprofit organizations has been a great challenge to be met. Its understood that these organizations faced social problems, requiring the State, society and organizations, a more effective participation in their actions. It emphasizes that the audit can contribute to effective management of resources and hence for achieving results in their work with social groups and in tackling poverty, social exclusion and achievement of civil rights. From this context, we sought argument not only with the literature on the Third Sector, but in accounting and related fields, to give support to the work. It pretends to draw attention to audit con-tribution in the search for quality care, identifying improvement opportunities, contributing to con-secutive of the goals of the Third Sector entities. This is an important issue, but very controversial.

    Key words: Audit. Third section. Non profit organizations.

  • 65

    1. INTRODUODevido crescente responsabilidade social por parte da comunidade que deve assumir em organizaes desta sociedade civil, surge a necessidade de elaborar e apresentar in-formao sobre as atividades relacionadas com essa responsabilidade atravs de dados precisos e transparentes em suas aes. Este volume de informaes agrupa aspectos do tipo social, tico, ambiental ou ecolgico, so categoricamente trabalhadas atravs de um monitoramento constante e avaliao destes resultados ocasionados.

    A auditoria nestas organizaes no s busca medir resultados no processo monetrio, mas tambm avalia o recurso humano. A auditoria aparece como uma necessidade da organizao de contar com informao pertinente para tomar decises inteligentes com relao gesto social, medindo o impacto da entidade na sociedade. Cada um dos tipos de informao que compe a auditoria tem registrado outras ramificaes da mesma, entre as quais se destacam a Auditoria Operacional e a Informao de Carter tico.

    As organizaes hoje so agentes transformadores, que exercem uma in-fluncia muito grande sobre a sociedade e o meio ambiente. Neste sentido, vrios projetos so criados, atingindo principalmente os funcionrios e o pblico externo, contemplando a comunidade a sua volta ou a sociedade como um todo. A grande dificuldade que no se realiza um gerenciamento a fim de saber qual o retorno para a sociedade.

    Na dimenso interna, ao nvel da organizao, as prticas socialmente responsveis im-plicam, fundamentalmente, os trabalhadores e prendem-se em questes como o investi-mento no capital humano, na sade, na segurana e na gesto da mudana, enquanto as prticas ambientalmente responsveis se relacionam sobretudo com a gesto dos recursos naturais explorados no processo de produo.

    O propsito da Auditoria nestes tipos de organizaes sem fins lucrativos no governa-mentais - ONGs consiste em tornar pblicas questes concretas deste setor privado que produzem um impacto social a curto ou longo prazo. Pe disposio de todas as partes integrantes para a sociedade, as informaes relevantes acerca dos objetivos polticos, programas, atuao e contribuio dos objetivos sociais da organizao.

  • 66

    2. UM BREVE HISTRICO DO INCIO DAS ENTIDADES NO GOVERNAMENTAIS

    A preocupao com o social comeou no Brasil em 1543, com a fundao da Santa Casa de Misericrdia da ento Vila de Santos, SP, fazendo com que a atuao no setor quase nascesse junto com o prprio Pas.

    A partir da, no entanto, a distncia entre as datas se reduziu. Em 1910, o escotismo, fundado dois anos antes na Inglaterra por Robert Baden-Powell, se estabeleceu aqui, para ajudar o prximo em toda e qualquer ocasio (BEATRIZ, 1999, p.6, grifo do autor).

    Diante disto, a histria da evoluo da existncia das organizaes, segundo estudos da Associao Brasileira de ONGs ABONG, lanado em seu anurio de 2004 foi que:

    Em 1942, Getlio Vargas criou a LBA - Legio Brasileira de Assistncia, cuja primeira pre-sidente foi Darci Vargas.

    Em 1961, nasceu a APAE - Associao de Pais e Amigos dos Excepcionais, que mudou o conceito de assistncia aos excepcionais.

    Em 1967, o Governo criou o Projeto Rondon e levou universitrios ao interior do pas para atender a comunidades carentes.

    Em 1983, surgiu a Pastoral da Criana, treinando lderes comunitrios para combater a mortalidade infantil. A partir dos anos 90, os empresrios aumentaram a conscincia so-cial, at em decorrncia da diminuio dos programas do Governo para o setor, por causa da crise econmica do final dos anos 70.

    Em 1993, Herbert de Souza, o Betinho, fundou a Ao da Cidadania contra a Misria e pela Vida.

    Em 1995, Fernando Henrique Cardoso criou o programa Comunidade Solidria, que subs-tituiu a LBA e cuja presidncia coube dona Ruth Cardoso.

    Em 1995, tambm surgiu o programa Universidade Solidria, o Unisol, atuante a partir de 1996.

    Em 1998, foi promulgada a lei 9.608, que regulamenta a prtica do voluntariado, e, em 1999, a lei 9.790 qualificou as organizaes da sociedade civil de direito pblico e discipli-nou um termo de parceria.

    As ONGs na dcada de 70 se vinculavam aos movimentos sociais; na dcada de 90 sua principal caracterstica foi a parceria com o Estado e fundaes e empresas. O termo ONG foi cunhado pela primeira vez em 1940, pela ONU, para designar as entidades execu-toras de projetos humanitrios ou de interesse pblico. Mas, a sua expanso vai deu-se na dcada de 60/70.E, na Amrica Latina, cumprem papel na luta contra os Estados ditatoriais - principalmente aquelas que se dedicam questo dos direitos humanos.

  • 67

    No se deve esquecer que estas organizaes cumprem um papel ideolgico na implementao das polticas neoliberais e est em sintonia com o processo de reestruturao do capital ps 70: de flexibilizao dos mercados nacional e in-ternacional, das relaes de trabalho, da produo, do investimento financeiro. Nega a universalidade, ao se dirigirem a grupos especficos e privatizarem o p-blico j que suas aes so as custas do errio pblico; uma vez que o Estado deixa de angariar impostos por conta dos gastos deste setor com a filantropia. (MONTNO, 2002, p.17; OLIVEIRA, 2000, p.38).

    Estas organizaes vo contar com o apoio de diferentes agncias de Cooperao Interna-cional. Algumas so obrigadas a manter auditoria de todos os processos, desde a entrada de recursos at a utilizao ou destinao destes recursos, se esto sendo bem aplicados, avaliando principalmente o custo-benefcio em questo.

    A ativa participao das organizaes sem fins lucrativos na sociedade brasileira data do final do sculo XIX. J o processo de formao e consolidao das orga-nizaes no governamentais (ONGs) hoje presentes no cenrio nacional surgiu nas dcadas de 60 e 70, pocas marcadas pelas restries poltico-partidrias impostas pelos governos militares, concentrando-se basicamente nas dcadas de 80 e 90 (sculo XX), perodo em que mais cresceram e se tornaram visveis. Apesar da evoluo recente, as ONGs tiveram papel relevante enquanto catalisa-doras dos movimentos e aspiraes sociais e polticas da populao brasileira. (TEODSIO, 2003, p.22).

    Mas se nos anos 70/80 as ONGs poderiam ser consideradas parte do campo progressista, vale ressaltar que muitas dessas organizaes, mesmo nesta poca, exerciam um papel paliativo ou amortecedor: denunciavam internamente as violaes dos direitos huma-nos mas, raramente denunciavam os patrocinadores norte-americanos e europeus que os financiavam e aconselhavam. Mas, mesmo as mais aguerridas, se encontram numa ca-misa de fora: esto integradas no fluxo de dinheiro do Estado e/ ou da Igreja, no podem (ou tm muita dificuldade para) atuar de modo mais impactante.

    As organizaes sem fins lucrativos existem desde o Brasil colnia, inicialmente na figura de entidades ligadas igreja catlica, portanto, no se trata de algo novo, mas que vem crescendo a cada dia, ganhando mais visibilidade, tanto na sociedade, quanto na mdia e chamando a ateno do prprio Estado, com caractersticas de gerar servios de carter coletivo com fins sociais, lutar em defesa dos direitos dos cidados, buscando a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Por outro lado, cresceu o nmero de organizaes, com fachadas de filantropia, para lavagem e desvio de dinheiro pblico, a chamada pilantropia (SZAZI, 1999, p. 97).

    A Igreja Catlica, ressalte-se, com o suporte do Estado, era responsvel pela maior parte das organizaes que prestavam algum tipo de assistncia s comunidades carentes que ficavam s margens das polticas sociais bsicas (sade e educao fundamentalmente). As Santas Casas, que datam da segunda metade do sculo XVI segundo Landin 1993:A4, so exemplos clssicos desta tradio.

    A estas se agregam as irmandades e as ordens terceiras, que prestavam um atendimento mais especfico, em termos de pblico e de objetivos, em relao ao implementado pelas Santas Casas. O fato que durante todo o perodo co-

  • 68

    lonial, at o incio do sculo XIX, esta associao entre Estado e Igreja Catlica, que objetivava o atendimento e a assistncia das questes sociais, mostrou-se presente e predominante. A partir do sculo XX, outras religies, que entendiam a caridade como uma atividade indissocivel da prtica religiosa, passaram a promover a formao de organizaes nos moldes j praticados pelos catlicos, dividindo, assim, com a Igreja Catlica, a parceria com fins filantrpicos entre esta e o Estado. No perodo republicano, muitas mudanas ocorreram no rela-cionamento entre estado e igreja (OLAK, 1996, p.42).

    No somente novas instituies passaram a executar funes at ento limitadas ao raio de atuao destes atores mais tradicionais, como tambm a modernizao da sociedade, fruto da industrializao e da urbanizao, suscitava o aparecimento de novas e mais complexas necessidades sociais na populao. Na dcada de 30, ento, vrias organizaes da socie-dade civil passaram a se formar, muitas das quais atreladas ao Estado.

    Com a passagem dos governos militares e a consolidao democrtica do pas expressa atravs da pluralidade partidria (Melo Neto, 1999:46), da formao dos sindicatos e do fortalecimento dos movimentos sociais urbanos e rurais, abriu-se espao para uma atua-o mais efetiva das organizaes no governamentais, cujo nmero elevou-se rapidamen-te em face do crescimento das dificuldades scio-econmicas experimentadas pelo Brasil.

    Tanto a origem quanto os objetivos e as trajetrias destas organizaes passaram a ser mais diversificados, seguindo a fragmentao e a pluralidade caractersticas dos movi-mentos sociais ento contemporneos. Cabe destacar, nessa poca, a aprovao da nova Constituio (1988), no mbito de um amplo processo de mobilizao social, que, dentre outros, introduziu novos direitos scioeconmicos (especialmente na rea trabalhista), a expanso dos direitos de cidadania poltica e o estabelecimento dos princpios da descen-tralizao na promoo das polticas sociais.

    Estes fatos moldaram o atual contexto vivenciado pelas organizaes no governamentais. Ao mesmo tempo em que o espao de atuao ampliado, fruto das prprias demandas sociais da populao, h um enxugamento das fontes de recursos, especialmente das internacionais.

    O estabelecimento de critrios mais rgidos de organizao e demonstrao de resultados evidenciou a necessidade de investimentos no aumento da profissionalizao e da capa-citao institucional, principalmente de gesto organizacional e de recursos, reas menos desenvolvidas pelas organizaes. Esta situao evidenciou-se, sobretudo pelas priorida-des histricas de luta e defesa de direitos humanos, no caso das ONGs tradicionais, e pela tradio voltada principalmente para a prestao de servios assistenciais e imediatos, no caso das filantrpicas. Isto tambm significou uma concentrao de recursos nas mais conhecidas ONGs, dadas as fragilidades e dificuldades das menores em se adaptarem ra-pidamente aos novos padres.

    Em meados dos anos 90, deu-se a entrada organizada do setor empresarial em programas e projetos sociais, especialmente atravs de suas fundaes e institutos associados, representando a insero da viso de mercado no terceiro setor e novas possibilidades de parcerias e de fontes de recursos para as insti-tuies atuantes na rea (COMUNIDADE SOLIDRIA, 1998, n. 05).

    O modo de atuao da organizao introduz uma qualificao jurdica especfica e novas formas de regulao para a interao com o Estado reforaram a tendncia de moderniza-

  • 69

    o e de aumento da profissionalizao para as instituies integrantes do setor. Estas que passaram a investir na aquisio de atributos que confiram melhorias de qualidade, trans-parncia de ao e resultados (inclusive auditorias externas), aumento da visibilidade e da credibilidade e identificao de novas estratgias de sustentabilidade e financiamentos.

    2.1. FINANCIAMENTO DESTAS ORGANIZAESAs organizaes sem fins lucrativos localizados atualmente no Terceiro Setor so financia-das tanto por doaes e contribuies privadas como por subvenes governamentais e freqentemente so contempladas com incentivos fiscais em funo do interesse pblico de sua ao. Denomina-se sem fins lucrativos pois devem destinar o total de suas recei-tas s atividades sociais de carter altrusta e filantrpico. Nada impede em tese que reali-zem lucros, no entanto reconhecida legal-mente como obrigatria a destinao exclusiva destes aos objetivos estatutrios de cunho social e filantrpico.

    2.2. SITUAO DAS ORGANIZAES SEM FINS LUCRATIVOS EM NATALO que comeou com o bloqueio dos canais de participao durante a ditadura militar e completamente base do amadorismo hoje, ganha solidez, importncia poltica, status econmico e visibilidade social. As Organizaes No Governamentais (ONGs) natalenses, transformaram-se de pequenas iniciativas bem-intencionadas em referncias obrigatrias quando o assunto recai em alternativas de desenvolvimento, gerao de renda e democra-tizao de direitos.

    A predominncia deste formato, que abrange inmeras formas associaes de bairros, clubes de mes, recreativas, de classes profissionais, produtores rurais e ONGs um dos fatores que explica a dificuldade de percepo da sociedade quanto natureza e abrangncia das atividades desenvolvidas. Parcela considervel das instituies sem fins lucrativos de carter pblico no possua o registro junto aos rgos governamentais - declarao de utilidade pblica e registro no Conselho Nacional de Assistncia Social CNAS, o que no permite organizao a obteno de possveis incentivos fiscais.

    O setor de educao respondia pela maior concentrao de organizaes em Natal (Anu-rio da ABONG, 2008:12), cerca de 29%, excetuando-se aquelas organizaes que prestam apenas algum tipo de assessoria. Apesar das outras reas que vm se incorporando ao es-copo de trabalho das organizaes mais recente-mente formadas, nota-se uma prioridade pela atuao junto educao, visualizada, tambm, pelo volume de peridicos, cartilhas, manuais e vdeos produzidos pelas instituies.

    Por diversas razes histricas, abrigaram-se sob esta denominao genrica distintos agentes e organizaes da sociedade civil (OSCs), formando um conjunto heterogneo de atuao em causas especficas e gerais, nos campos poltico, social, econmico e cultural.

    Desta forma, as organizaes que compem o terceiro setor no enquadram qualifica-o especfica, por finalidade ou causa, no direito brasileiro. Tal heterogeneidade, alm da complexidade em se mapear, quantificar, qualificar e analisar tais organizaes dificulta-va o estabelecimento de normas, incentivos e polticas para o setor, representando uma

  • 70

    grande barreira para o desenvolvimento e para a clara percepo da sociedade quanto aos diferentes propsitos aos quais serviam. Assim, sob o mesmo estatuto jurdico estavam as organizaes efetivamente de interesse e utilidade pblica, que prestavam servios gra-tuitos populao, e outros tipos de organizaes como clubes de servios, de futebol, universidades e escolas privadas, dentre outros.

    A reduo do nmero de organizaes apoiadas em Natal deveu-se ainda ao maior rigor na seleo de novos parceiros e s exigncias (contrapartidas) de cunho institucional impostas pelas agncias externas em termos de eficincia organizacional, especialmente nas reas de planejamento, avaliao e prestao de contas (ANURIO ABONG, 2008, p.21).

    Deste modo, a idia de um terceiro setor aplica-se mais para delimitar um tipo de atuao diferenciada das instncias de governo e de mercado, mas que, embora com a mesma ca-racterstica legal, composto por um conjunto de instituies bastante diferentes quanto filosofia de atuao, dimenses, temticas e formas de interveno.

    No caso, entretanto, das ONGs existentes em Natal/RN, j se verifica a opo da imensa maioria das ONGs pelo financiamento pblico que as situa no primeiro quadrante e, desta maneira, bastante vulnerveis a interferncias dos governos municipais, estadual e federal nas suas linhas de atuao e, em mdio prazo, nos seus objetivos.

    A reputao das ONGs Natalenses como grandes conhecedoras das comunidades nas quais esto inseridas, de eficcia na gesto dos recursos e, de maneira geral, a imagem que tm ante a opinio pblica, so algumas das razes pelas quais as administraes pblicas locais esto optando pela ONGs como parceiras na interveno junto s comu-nidades, segundo dados da ABONG de 2008. Deste modo refora-se a estreita relao entre a eficcia das ONGs e a legitimidade de discurso baseado na cooperao, na ajuda desinteressada e na solidariedade.

    3. A EVOLUO DA AUDITORIA JUNTO S ORGANIZAES

    A partir de 1900. a profisso do auditor tomou maior impulso atravs do desenvolvimento do capitalismo. J em 1934, com a criao do Security and Comission nos Estados Uni-dos, a profisso do auditor criou um novo estmulo, pois as companhias que transaciona-vam aes na Bolsa de Valores foram obrigadas a utilizar-se dos servios de auditoria, para dar maior fidedignidade s demonstraes financeiras e contbeis.

    Auditor o funcionrio institudo nas leis, que tem a o cargo informar um tribunal ou re-parties sobre a legalidade dos atos, ou sobre a interpretao das leis e sua aplicao aos casos presentes (conceito tirado do dicionrio de Caldas Aulete). O termo auditoria contbil veio do ingls audit, pois na Inglaterra nasceram as primeiras manifestaes da atividade profissional do auditor contbil.

    A prtica da auditoria surgiu provavelmente no sculo XV ou XVI na Itlia. Os precursores da contabilidade foram os italianos, no sem razo, visto ser o clero a esta poca o res-

  • 71

    ponsvel pelos principais empreendimentos estruturados da Europa moderna ou medie-val. O reconhecimento oficial da prtica de auditoria tambm ocorreu na Itlia (Veneza), onde em 1581 foi constitudo o primeiro Colgio de Contadores, cuja admisso exigia que o candidato completasse o aprendizado de seis anos como contador praticante e se submetesse a exame. Inicialmente, os trabalhos realizados como auditoria eram bastante limitados, restringindo-se verificao dos registros contbeis, com vistas comprova-o de sua exatido.

    Com a evoluo da Auditoria, as organizaes necessitaram aperfeioar os modelos de gesto, fazendo com que as tcnicas de controles internos fossem aperfeioadas de acor-do com os relatrios apresentados pela auditoria, a ponto de no ser instrumento de mera observao apenas, esttico, mas tambm de orientao, de interpretao e de previso de fatos, tornando-se dinmica e ainda em constante evoluo.

    No Brasil, o desenvolvimento da auditoria teve influncia de:

    a) filiais e subsidirias de firmas estrangeiras;

    b) financiamento de organizaes atravs de entidades internacionais;

    c) crescimento das organizaes brasileiras e necessidade de descentralizao e diversificao de suas atividades econmicas;

    d) evoluo do mercado de capitais;

    e) criao das normas de auditoria promulgadas pelo Banco Central do Brasil em 1972; e

    f) criao da Comisso de Valores Mobilirios e da Lei das Sociedades Annimas em 1976.

    E agora com advento de Organismos Sociais que recebem diretamente Recursos do Go-verno Federal, a auditoria tornou-se pea para a gesto destas organizaes, conforme lei 9.790/99.

    Com o natural desenvolvimento ocorrido no campo da auditoria, a profisso de auditor experimenta uma gradativa e ascendente evoluo no campo da contabilidade, custos, finanas, economia, legislao fiscal e comercial, de organizao e mtodos e de proces-samento eletrnico de dados.

    Por isso, atualmente, Auditoria pode ser definida como levantamento, o estudo e a avaliao sistemtica de transaes, procedimentos, rotinas e demonstra-es contbeis de uma entidade, com o objetivo de fornecer aos usurios uma opinio imparcial e fundamentada em normas e princpios sobre sua adequao. (ALMEIDA, 2004, p. 134).

    As organizaes precisam ser sempre avaliadas e suas atitudes devem ser validadas por terceiros, com instrumentos cada vez mais modernos, e com a adoo de procedi-mentos crticos. O auditor profissional capaz de validar nmeros, operaes, demons-traes atravs de testes dirigidos, alm de validar todas as in-formaes capaz de sugerir mtodos ou procedimentos que podem ser capazes de aperfeioar os mecanis-mos internos da organizao.

  • 72

    4. A RELAO DAS ORGANIZAES NO GOVERNAMENTAIS E A AUDITORIA

    A viabilidade das ONGs est diretamente ligada capacidade de angariar fundos. E, claro, sua autonomia depende da origem dos recursos, e esta autonomia somente ter o respal-do de toda a sociedade se estas organizaes forem submetidas a processos de auditoria tanto operacional como financeira.

    Uma particularidade dessas instituies que surgiram nos anos 90 ou as que sucumbiram a esta lgica o fato delas se caracterizarem pela negao: so antigoverno, antiburocracia, anti-lucro. Autodenominam-se terceiro se-tor, proclamam-se cidads e, apresentam-se como sem fins lucrativos. O perfil est voltado muito mais filantropia, e mantm relaes estreitas com o Banco Mundial e com agncias financiadoras, ligadas ao grande capital, como o caso, das Fundaes Ford, Rochefeller, Kellog, MacArthur e a Fundao Interamericana (esta vinculada ao Congresso dos Estados Unidos). (REVISTA ANUAL, ABONG, 2008).

    Dentro deste universo, as ONGs que se dedicam formao de grupos de gerao de renda, de cooperativas de trabalho, ou de re-qualificao profissional, ocupam um espao consi-dervel, sendo ainda incipientes os processo de fiscalizao e controle destas atividades.

    Os projetos destas entidades esto em geral focados no desenvolvimento lo-cal e na auto-sustentao da comunidade. Isto resulta, na disputa entre as comunidades pelos parcos recursos, gerando rivalidades inter e intra-comu-nidades, corroendo a solidariedade de classes e transformando quando a experincia exitosa o lugar numa ilha de fantasia (PETRAS, 1996. p.25; MAURO,1998, p.221, grifo do autor).

    Entre os estudos sobre Auditoria em organizaes do terceiro setor destacam-se duas li-nhas de pesquisa: uma v neste setor, uma forma de transparecer para o desenvolvimento destas formas de associativismo. As ONGs funcionariam como mediadores das polticas pblicas com tcnicas financeiras eficientes e obedecendo economicidade na utilizao dos recursos comprovados pelos profissionais de auditoria em trabalhos apresentados. O argumento deste grupo por no necessitar de auditoria constantes, sendo invivel o custo para manter um processo continuo de auditoria nestas organizaes no governamentais. Nisso residiria a questo: Quem ir auditar e validar os processos de uma ONG que est diretamente ligada a recursos pblicos nacionais ou at mesmo internacionais ?

    Portanto, ao contrrio do que apregoam, as instituies tm um perfil ideolgico. Pode-se discutir se essa opo clara e consciente; ou, se ao contrrio, levada pela necessidade de sobrevivncia. Mas mesmo neste caso, uma opo poltica-ideolgica. Petras (1996), no livro Hegemonia dos Estados Unidos (2003) aponta que existem cerca de 50.000 ONGs no Terceiro Mundo, que recebem aproximadamente 10 bilhes de dlares de instituies finan-ceiras internacionais, de agncias governamentais europeias, estadunidenses e japonesas e dos governos locais, e que muitas delas no sofrem nenhuma interferncia das auditorias

  • 73

    tanto pblicas como privadas para validao de como est sendo a destinao destes recur-sos e avaliao do custo-benefcio dos projetos que estas utilizam na comunidade.

    Um dado interessante que as Organizaes No-Governamentais vm se apresentando como uma alternativa de trabalho, (ou perspectiva de) para uma parcela da classe mdia. Pesquisa de opinio pblica sobre ONGs, encontrada no stio da Abong - Associao Bra-sileira das ONGs, revela que um pouco menos que um tero da populao brasileira acima de 16 anos j ouviu falar nelas. Dos que demonstraram algum conhecimento, esto os indivduos com maior grau de escolaridade; (81% destes tm nvel superior) e em classes mais abastadas (56% pertence-riam s classes A/B).

    No faltam denncias de irregularidades no uso dos recursos pblicos que, neste caso, tiveram finalidade privada. E h associaes sem fins lucrativos criadas para prestar servios ao Plano Nacional de Qualificao Profissional PLANFOR assim como asso-ciaes formadas com a mesma finalidade, desta vez para o programa, no Governo Car-doso, o Comunidade Solidria. Entende-se que estas irregularidades decorrem tudo isso em virtude da falta de atuao direta dos profissionais de auditoria em validar atividades executadas tanto na questo financeira como operacional.

    As organizaes no governamentais, o fato de no gerarem lucros diretamente, no sig-nifica que no defendam interesses privados. Cumprem um papel ideolgico ao assumi-rem responsabilidades que antes eram do Estado, e sem a capacidade de universalizao. Portanto, devem estar sempre sob os olhos de toda a comunidade e principalmente sendo auditadas por auditores pblicos ou privados.

    4.1. DISTINO ENTRE RESPONSABILIDADES DO AUDITOR E DOS DIRIGENTES DA ONGA ONG responsvel pela adoo de diretrizes contbeis adequadas, pela salvaguarda do ativo e pelo planejamento de um sistema de controle interno que, entre outras coi-sas contribua para assegurar a apresentao apropriada das demonstraes contbeis. As transaes que devem ser refletidas nas contas e nas demonstraes contbeis so de conhecimento e controle direto da organizao sem fins lucrativos. O conhecimento que o auditor tem dessas transaes limitado quele adquirido por meio de exame.

    O auditor poder fazer sugestes quanto forma de apresentao ou ao contedo das demonstraes, ou poder esboar, em todo ou em parte, com base nas contas e nos re-gistros da entidade. Entretanto, sua responsabilidade limita-se emisso de parecer sobre as demonstraes examinadas.

    4.2. DESCOBERTA DE FRAUDEQuando o exame feito pelo auditor, com a finalidade de emitir parecer sobre as operaes contbeis e financeiras, revela circunstncias peculiares que o fazem suspeitar da possibi-lidade de existncias de fraude, ele dever decidir se a fraude, caso realmente exista, de magnitude tal que afeta o parecer sobre as demonstraes financeiras.

    Se o auditor supe que haja ocorrido fraude suficientemente significativa, a ponto de afetar o parecer, dever chegar a entendimento com os prprios representantes da organizao,

  • 74

    para determinar quem dever proceder s investigaes necessrias, para ser apurado se houve fraude e, em caso positivo, o montante envolvido. Se, por outro lado, o audi-tor concluir que a fraude no suficientemente significativa para afetar o parecer, dever comunicar o fato aos prprios representantes da organizao sem fins lucrativos, com a recomendao de que seja investigada at que se chegue a uma concluso.

    A auditoria tem fundamental importncia no sentido de acarear fatos e ob-ter sucesso em medidas como estas, contribuindo e muito, para a reverso deste quadro. No somente evidenciando fraudes, mas, principalmente, evitando as condies ambientais necessrias para a prtica destes delitos ou problemas, alis, uma das funes do auditor exatamente a de criar controles internos para que estes problemas deixem de ser praticados, e no apenas identificar atos j consumados.

    As prevenes de fraudes nestas organizaes sem fins lucrativos devem abranger ainda a rea dos projetos de realizao fim da organizao, seja atravs da segurana fsica do ambiente operacional e computacional, evitando-se o uso de cpias pirateadas de softwa-res, mantendo-se um bom sistema de backups de arquivos alm de um programa antivrus atualizado ou com a segurana lgica (criptografia).

    Tudo atravs da limitao de acesso a determinados dados mediante utilizao de senhas, definio de nveis de acesso e a instalao de software que possua mdulo de auditoria, para rastrear e detectar possveis fraudadores internos ou externos. A distino clara entre o que vem a ser um simples erro e o que se possa caracterizar como fraude se faz neces-srio para o adequado encaminhamento do trabalho do auditor.

    S (1996, p. 221), define fraude como sendo uma ao premeditada para lesar algum, e erro como uma ao involuntria, sem o intuito de causar dano. Portanto, a primeira cor-responde ao dolo, ou seja, aquela ao premeditada que visa ao proveito de alguma forma para si ou terceiros. A segunda diz respeito culpa, e ocorre geralmente por esquecimento, desateno, impercia, etc.

    Observe-se que embora no seja o objetivo principal da auditoria a deteco de fraudes e erros contbeis, algumas ocorrncias podem vir tona, devendo o auditor agir de forma tempestiva conforme o exigido para cada situao, comunicando imediatamente adminis-trao da entidade o ocorrido e sugerindo as medidas corretivas cabveis para o caso. No planejamento de toda auditoria deve-se considerar o risco da existncia de erros ou fraudes de modo a detectar os que comprometam a apresentao fiel das demonstraes contbeis.

    Para S (1996a, p. 222), as fraudes so praticadas quase sempre por pessoas que pos-suem autoridade, sobretudo quando acumulam funes. Quando implicam em volumes maiores, a fraude geralmente ocorre mediante formao de conluio, sendo desta forma, mais difcil a deteco. Portanto, nestes casos a fraude tende a perdurar se no existem controles adequados e independncia da auditoria.

    Muitas vezes alguns gestores de organizaes sociais sem fins lucrativos incitam o profis-sional contbil a agir de forma ilcita com relao escriturao e aos ditames empresa-riais, com a finalidade de adquirir mais facilidade na captao de recursos com parceiros pblicos nacionais ou at mesmo internacionais.

    Erros e fraudes podem tornar-se verdadeiras oportunidades para se atingir os objetivos das organizaes e cabe ao auditor a grande responsabilidade de identific-los e sugerir as medidas corretivas necessrias.

  • 75

    4.3. AUDITORIA COMO INSTRUMENTO DE CONTROLE E GERENCIAMENTO DE ONGSA busca de novas formas de gerenciamento e controle, tanto do Estado, quanto dos fomentadores de recursos das organizaes sem fins lucrativos tem sido um grande desafio a ser alcanado, objetivando que os recursos empregados, sejam utilizados de maneira eficiente com o mximo de transparncia. Na tentativa de separarem as boas entidades das pilantropias, privilegiando as que realmente queiram trabalhar em prol da melhoria da sociedade.

    Neste contexto, cabe ao profissional de auditoria pautar suas aes profissionais sob a luz da tica que lhe oportuniza operar com justia, prudncia e equilbrio, visando a que o trabalho seja realizado de forma eficaz, competente e com lisura, pois, do contrrio, poder o usurio sofrer srias conseqncias.

    O desempenho destas organizaes est, mais do que nunca, em pauta. A capacidade de posicionar-se corretamente perante os desafios de um ambiente em contnua transforma-o exige revises constantes de metas e estratgias em todas as reas das organizaes, principalmente quanto aos processos de monitoramento e controle. Como forma de atuar diante destes novos cenrios, muito se tem dito acerca da transparncia e das atitudes destas organizaes nas aes sociais que desempenham. Neste sentido, cada vez mais claro que o sucesso de planos e estratgias sejam corretos e transparentes dependendo de pessoas que so comprometidas com a misso e os objetivos das organizaes.

    Isto faz com que uma das prioridades de uma poltica gerenciamento de uma organizao seja definir as reas de desenvolvimento para seus membros atravs dos relatrios obtidos em auditorias operacionais, como forma de potencializar a capacidade de ao e proposi-o das organizaes do terceiro setor.

    Sendo assim, o desenvolvimento de competncias gerencial atravs de laudos de auditoria deve se alinhar ao objetivo mais amplo de tornar estas organizaes sem fins lucrativos preparadas para enfrentar os desafios atuais e futuros.

    4.4. OS OBJETIVOS DA AUDITORIA NAS ORGANIZAES SEM FINS LUCRATIVOSSegundo Alves (2004, p.36), o objetivo da Auditoria o de expressar as demonstraes contbeis e assegurar que representem adequadamente a posio patrimonial e financeira da organizao, inclusive avaliando o processo de economicidade, eficincia e eficcia na utilizao dos recursos recebidos de rgos pblicos ou privados, tendo como parmetro os princpios fundamentais de contabilidade, aplicados com uniformidade durante os perodos.

    Os objetivos de uma Auditoria serviro para os dirigentes nas futuras decises , tais como previso, controle, anlise e informao. Podem tambm conduzir as auditorias com di-versas finalidades especiais, como a avaliao da extenso de uma fraude suspeitada, a informao a terceiros, de acordo com compromissos contratuais.

    Um dos objetivos da auditoria a confirmao dos registros contbeis e conseqentes demonstraes contbeis. Na consecuo de seus objetivos contribui para confirmar os

  • 76

    prprios fins da Contabilidade, pois avalia a adequao dos registros, dando administra-o da organizao sem fins lucrativos, o fisco e aos financiadores a convico de que as demonstraes contbeis refletem, ou no, a situao do patrimnio em determinada data e suas variaes em certo perodo.

    Portanto, a auditoria que d credibilidade s demonstraes contbeis, s informaes nelas contidas. Embora a auditoria no se destine especificamente descoberta de fraudes, erros ou irregularidades praticadas por administradores ou funcionrios, freqentemente apura tais fatos, atravs dos procedimentos que lhes so prprios.

    A Auditoria utiliza para concretizao de seus objetivos, um conjunto de todos os ele-mentos de controle do patrimnio, os quais compreendem: registros contbeis, papis, documentos, fichas, arquivos e anotaes que comprovem a veracidade dos registros e a legitimidade dos atos da administrao. Pode ter por objeto, inclusive, fatos no regis-trados documentalmente, mas relatados por aqueles que exercem atividades relacionadas com o patrimnio, desde que tais informaes possam ser fidedignas.

    Pode a auditoria, inclusive, basear-se em informaes obtidas fora da organizao, tais como as relativas confirmao de contas de terceiros e de saldos bancrios, por exemplo. As confirmaes obtidas de fontes externas geralmente oferecem melhores caractersticas de credibilidade do que aquelas obtidas dentro da prpria organizao auditada.

    O exame de auditoria deve ser efetuado de acordo com as normas de auditoria, inclusive quanto s provas nos registros contbeis e aos procedimentos de auditoria julgados ne-cessrios nas circunstncias.

    Diante disto, a Auditoria o processo que ir analisar e recomendar prticas adequadas atuao social da organizao, a partir da seleo de indicadores e verificao das verdades dos dados, da avaliao destas informaes com relao aos critrios de atuao social dos projetos, da comunicao e da reviso e melhoria peridica de tais procedimentos.

    A Auditoria no vai resolver os problemas sociais, mas face sua capacidade de gerar novas informaes, pode alertar os vrios atores sociais para a gravidade do problema vivenciado, ajudando, desta forma, na procura de solues.

    Dessa forma, o objetivo principal da auditoria pode ser descrito, em linhas gerais, como sendo o processo pelo qual o auditor se certifica da veracidade das demonstraes con-tbeis preparadas pela entidades auditadas. Durante o exame, o auditor, por um lado, utiliza os critrios e procedimentos que lhe forneam provas que assegurem a efetivi-dade dos valores apostos nas demonstraes contbeis e nas operaes dos projetos sociais da organizao. Por outro lado, cerca-se dos procedimentos que lhe permitem assegurar a existncia de valores ou fatos no constantes das demonstraes contbeis que sejam fidedignas.

    Ao auditor cabe a tarefa de opinar se as demonstraes contbeis, representam ou no, os resultados das operaes da entidade. Isto pode exigir um trabalho retroativo, atravs das contas e dos registros nos livros, at documentos originais das transaes; pode tambm, exigir que se v alm dos registros contbeis, at outras provas sobre a fidedignidade das demonstraes contbeis.

  • 77

    4.5. O SUPORTE DA AUDITORIA AO CONSELHO FISCAL NAS ORGANIZAESA auditoria uma tcnica da contabilidade que, atravs de procedimentos peculiares, pode atestar ou prontificar a eficincia e a eficcia dos controles contbeis e administrativos, praticados pela entidade, a fim de confirmar os valores patrimoniais verificados. Para Go-mes (2002, p. 41), a auditoria definida, neste contexto, como um conjunto de mtodos e procedimentos para obteno de informaes relevantes de controle.

    A carncia de recursos tem obrigado as instituies a buscar melhores desempenhos e efi-cincia na aplicao dos recursos para continuarem mantendo os servios. E para dificultar ainda mais, as entidades sem fins lucrativos enfrentam problemas no que diz respeito organizao dos controles administrativos, financeiros e contbeis.

    Roga que: O sistema contbil e de controle interno de responsabilidade da ad-ministrao da entidade, porm o auditor deve efetuar sugestes objetivas para o aprimoramento, decorrentes de constataes feitas no decorrer do trabalho. (NORMAS BRASILEIRAS DE CONTABILIDADE, NBC TA265).

    Normalmente as ONGs possuem um Conselho Fiscal responsvel pelo exame das contas da administrao. A figura do conselho fiscal, embora em muitas situaes, no supre o papel desempenhado por auditores independentes, especialmente em se tratando da veri-ficao dos procedimentos contbeis.

    O objetivo principal da auditoria assessorar o conselho fiscal, cuja atribuio de validar periodicamente os relatrios da organizao sem fins lucrativos e verificar a idoneidade das transaes financeiras existentes, para que este possa ter uma atuao mais eficiente, na consecuo dos objetivos da organizao. Assim, no trabalho de assessoria a este con-selho, a funo do auditor abranger:

    Avaliar o desempenho das tarefas delegadas;

    Recomendar mudana onde aplicvel;

    Grau de preciso dos registros contbeis.

    Na maioria das vezes, esse conselho fiscal composto por pessoas que no tm formao ou experincia na rea tcnica da contabilidade, economia ou administrao e, conseqen-temente, no podem garantir credibilidade das demonstraes contbeis.

    Na tentativa de evitar estes problemas, criou a Lei 9.790/99, que certifica as organizaes sem fins lucrativos, como OSCIP, instrumento este, que possibilita as entidades obter alguns benefcios, tais como, parcerias com instituies pblicas, imunidades, isenes, subvenes, receber doaes da receita federal de produtos apreendidos, etc. Para isso, em contrapartida deve possuir e dar publicidade sua prestao de contas anual, in-cluindo as certides negativas de dbitos junto ao INSS e ao FGTS. A mesma Lei obriga a entidade enquadrada como OSCIP, que tenha oramento anual acima de R$ 600 mil, a contratar auditoria independente para avaliar o Termo de Parceria, cujo custo pode ser in-cludo no valor do mesmo Termo. Estas exigncias so preocupaes do Estado que, para dar estas concesses, exige o cumprimento das entidades candidatas ao ttulo, a certeza

  • 78

    de que as imunidades tributrias, garantidas na Constituio Federal, sejam realmente utilizadas para o fim que se prope.

    Para Olak (1996, p. 103), so exemplos de casos em que as Ongs (Organizaes no Go-vernamentais) pertencentes ao Terceiro Setor deveriam ser auditadas:

    a) quando aos recursos originarem-se de rgos governamentais, quer de nvel federal, estadual ou municipal;

    b) quando as receitas anuais forem igual ou superior a um determinado valor, julgado relevante pelas autoridades governamentais;

    c) quando o ativo total da entidade for igual ou superior a um determinado valor julgado relevante pelas autoridades governamentais;

    d) entidades sindicais;

    e) quando a entidade ou pessoa que contribui com valores significativos assim o exigir.

    Tal fato inclui que a auditoria como base de informao e conhecimento para Conselho Fiscal em fornecer motivos, tais como: identificar desvios de recursos pblicos, o no cumprimento dos objetivos estabelecidos no estatuto das entidades e quando qualquer cidado assim solicitar. Muitas entidades por razes filosficas, ideolgicas ou at mesmo financeiras, no precisam de auditoria externa. Entretanto, para outras o parecer de audi-tores independentes indispensvel, pois na auditoria que se tem como tcnica cont-bil utilizada para avaliar as informaes, constituindo, assim, complemento indispensvel para que o Conselho Fiscal e a Coordenao Geral da ONG atinja plenamente sua finalidade. Contribui para o aperfeioamento e melhoria da eficcia dos mesmos, bem como, auxilia a administrao na gerncia e nos resultados, por meio de recomendaes que visem aprimorar os procedimentos, melhorarem os controles e aumentar a responsabilidade do gestor da entidade.

    Como podem ser observadas por exigncia da Lei, ou da sociedade, ou por exigncia das instituies financiadoras, muitas organizaes querem ser auditadas para aumentarem sua credibilidade perante a sociedade e, conseqentemente, atrair mais recursos e colabo-radores para suas causas sociais.

    5. CONSIDERAES FINAIS A auditoria contribui com elementos de carter qualitativo, que ajudam a orientar corretamen-te os administradores e gestores no manejo, fortalecimento e progresso do fator humano.

    Neste sentido, as entidades devem desenvolver sistemas de informao que incorporem aspectos sociais de forma mais clara e estruturada, de maneira que se justifiquem suas atuaes em determinados campos sociais.

    Cabe reiterar que a auditoria nas organizaes sem fins lucrativos confirma se os registros contbeis foram efetuados de acordo com os princpios da Contabilidade e se as demons-traes contbeis refletem adequadamente a situao econmica e financeira do patri-

  • 79

    mnio e os resultados do perodo administrativo examinado, bem como as informaes complementares adicionadas (notas explicativas).

    A auditoria, conforme proposta apresentada nesse trabalho, poderia ser utilizada no so-mente como forma de controle e sugesto de procedimentos nas entidades sem fins lucra-tivos, mas como do prprio Estado em benefcio dos cidados.

    As organizaes devem utilizar-se de instrumentos de avaliao gerados pelos resultados das auditorias para formatar os caminhos ao desempenho econmico, financeiro e social. Ser atravs da auditoria que as prestaes de contas e assembleias gerais tero clareza para informar com mais transparncia as informaes dos recebimentos e gastos da orga-nizao a seus diretores, associados e colaboradores da real situao avaliada.

    Por fim no se pode tambm julgar que a auditoria torna impossvel a existncia de erros e fraudes na escriturao ou nos atos da administrao, mas deve-se admitir que reduz essa possibilidade. Para que sua eficcia fosse total, seria necessrio que se procedesse reviso integral de todos os registros da organizao, bem como se fiscalizassem todos os atos de sues funcionrios e administradores, o que impraticvel. Mesmo a reviso inte-gral dos registros no impede a existncia de fraudes, pois estas podem decorrer de fatos no contabilizados. Associa-se a isso, os riscos de deteco por parte do auditor.

    Esclarecemos ainda que, para alcanar os objetivos, o auditor obedece a normas de auditoria usualmente aceitas e aplica procedimentos que ele considera adequados para obteno de elementos necessrios ao julgamento sobre a confiabilidade das demonstraes contbeis

    6. REFERNCIASALVES, Antonio Marcos dos Santos. Auditoria de resultado: receitas e despesas em uma entidade do Terceiro Setor, 2004. 127fls. Monografia (Especializao em Auditoria e Percia Contbil)-. Universidade Estadual de Maring, Maring, 2004.

    ASSOCIAO BRASILEIRA DAS ORGANIZAES NO GOVERNAMENTAIS - ABONG. Re-gional 03, Anurio Geral das ONG, So Paulo: 2008.

    ARAUJO, Inaldo da Paixo Santos. Introduo auditoria. Salvador: EGBA,1998.

    ATTIE, William. Auditoria. So Paulo: Atlas, 1998.

    AZEVEDO, Mario Luiz de Neves Uma contribuio da auditoria contbil para as novas for-mas de relao entre os setores pblico, privado e o terceiro setor. In: Congresso Interna-cional de Educao e Desenvolvimento Humano, Anais... Maring: UEM, 2004.

    ANURIO DO RIO GRANDE DO NORTE. Tribuna do Norte, 2009.

    ATTIE, Wiliam. Auditoria: conceitos e Aplicaes. 3 Ed. So Paulo: Atlas, 1994.

    BRASIL. Constituio (1988). Art. 150, pargrafo 4. In.: ______. Constituio da Repblica Federativa do Brasil: de 5 de outubro de 1988. 2.ed. Braslia: Editora, ano da edio. p.51-76.

    CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Princpios fundamentais de contabilidade e normas brasileiras de contabilidade. Braslia:2009.

  • 80

    DRUCKER, Peter. Administrao de Organizaes Sem Fins Lucrativos: Princpios e Pr-ticas. So Paulo: Pioneira, 1994.

    FERNANDES, Rubem Csar. Privado porm Pblico: o Terceiro Setor na Amrica Latina. Rio de Janeiro: Relume-Dumara, 1994.

    FRANA, J.A. de (org.) et al. Manual de procedimentos contbeis e prestao de contas das entidades de interesse social. Braslia: FBC/CFC, 2003.

    FRANCO, Hilrio & MARRA, Ernesto. Auditoria Contbil. So Paulo: Atlas, 1982.

    GOMES, Marcelo B. Auditoria de desempenho governamental e o papel de Entidades Fis-calizadoras Superiores (EFS). Revista do Servio Pblico. Rio de Janeiro, ano 53, n.2, p.36-78, abr./jun. 2003.

    HUDSON, Mike. Administrando Organizaes do Terceiro Setor: O Desafi o de Adminis-trar sem Receita. So Paulo: Makron Books, 1999.

    LANDIN, Leilah. A Inveno das Ongs, do servio invisvel profi sso sem nome; 1993. 239f. Tese (Doutorado Antropologia)-. Programa de Ps-Graduao em Antropologia So-cial do Museu Nacional, Universidade federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1993.

    MOTTA, Joo Maurcio. Auditoria: princpios e tcnicas. So Paulo: Atlas, 1988

    OLAK, Paulo Arnaldo. Contabilidade de Entidades sem Fins Lucrativos no Governamen-tais. 1996. Dissertao (Mestrado Contabilidade e Controladoria)- Universidade de So Paulo - FEA/USP, So Paulo, 1996.

    PEREIRA, Luiz Carlos Bresser e Grau, Nuria Cunill (Org.). O Pblico No-Estatal na Refor-ma do Estado. Rio de Janeiro: Fundao Getulio Vargas, 1999.

    SANTI, Paulo Adolpho. Introduo auditoria. So Paulo: Atlas, 1988.

    S, A. Lopes de. Curso de auditoria. So Paulo: Atlas, 1980.

    SZAZI, Eduardo. Terceiro setor: regulao no Brasil. So Paulo: Petrpolis, 2000.