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SEGURANÇA DO TRABALHO Estudos de casos II nas áreas de prevenção de riscos, doenças ocupacionais e ergonomia Organizadores Adalberto Pandolfo Aline P. Gomes Marcele S. Martins Luciana M. Pandolfo Dayane Muhammad Alessandro Goldoni

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SEGURANÇA DO TRABALHO

Estudos de casos II nas áreas de prevenção de riscos, doenças ocupacionais e ergonomia

OrganizadoresAdalberto Pandolfo Aline P. Gomes Marcele S. MartinsLuciana M. Pandolfo Dayane Muhammad Alessandro Goldoni

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Organizadores: Adalberto Pandolfo Aline P. Gomes Marcele S. Martins Luciana M. Pandolfo Dayane Muhammad Alessandro Goldoni

SEGURANÇA DO TRABALHO

Estudos de casos II nas áreas de prevenção de riscos, doenças

ocupacionais e ergonomia

Capa: Dayane Muhammad Revisão de Conteúdo: Luciana M. Pandolfo

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S456 Segurança do trabalho [recurso eletrônico] : estudos de caso II

nas áreas de prevenção de riscos, doenças ocupacionais e ergonomia / organizadores Adalberto Pandolfo ... [et al.]. – Florianópolis : Bookess, 2011. E-book (formato PDF). ISBN 978-85-8045-203-7

Modo de acesso: World Wide Web: <http://pt.scribd.com>.

1. Segurança do trabalho. 2. Ergonomia. 3. Doenças ocupacionais. 4. Qualidade de vida. 5. Saúde do trabalhador. I. Pandolfo, Adalberto, coord.

CDU: 331.45

Bibliotecária responsável Schirlei T. da Silva Vaz - CRB 10/1364

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO...............................................................................................3

CAPÍTULO 1

Análise e avaliação dos níveis de ruídos/NPS existentes em uma indústria metalúrgica...................................................................................... 5

Cassiano Casagrande, Milton Serpa Menezes, Aline Pimentel Gomes, José Waldomiro Jiménez Rojas

CAPÍTULO 2 Análise do desempenho ergonômico em dois arranjos físicos de cozinhas residenciais com layouts em formato horizontal e L.................................................................................................................... 20 Eduardo Gava, Paulo Potrich, Marcele Salles Martins, Andréia Saúgo

CAPÍTULO 3

Avaliação macroergonômica no setor de pré-montagem de motores de uma indústria de máquinas agrícolas ........................................................ 36 Fabiano Cervi, Marcelo Fabiano Costella, Patricia Dalla Lana Michel, Alessandro Goldoni

CAPÍTULO 4 Análise ergonômica no setor de quebra de canal de uma empresa de fundição de metais na cidade de Passo Fundo, RS.................................. 52 Fernanda Guilem Fortes, José Eurides de Moraes, Carla Raquel Reolon de Oliveira, Juliana Kurek

CAPÍTULO 5

Análise macroergonômica de posto de trabalho de caixa bancário............................................................................................................. 67 Leonardo Cerato Reveilleau, Roni César Rech Silveira, Andréia Saúgo, Marcele Salles Martins

CAPÍTULO 6 Métodos para proteções de periferia de lajes: Diagnóstico em obras de edificação em Passo Fundo, RS.................................................................... 89 Luciano Dors, Juliana Kurek, Aline Pimentel Gomes, José Waldomiro Jiménez Rojas

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CAPÍTULO 7 Estudo das descargas atmosféricas no meio rural............................. 107Ricardo Nicolau, Adalberto Pandolfo, Luciana Marcondes Pandolfo, Dayane Muhammad

CAPÍTULO 8

Diagnóstico dos riscos ocupacionais e riscos à saúde nos garimpos em Ametista do Sul, RS..................................................................................... 125 Volker Weiss, Adalberto Pandolfo, Carla Raquel Reolon de Oliveira, Luciana Marcondes Pandolfo

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APRESENTAÇÃO

A competitividade e a dinâmica dos mais variados setores da economia, a todo instante, geram a necessidade de técnicas mais efetivas e menos onerosas nos postos de trabalho. A principal evolução do conceito de economia que atinge a área de segurança e medicina do trabalho é a valorização do trabalhador. Um funcionário motivado, confortável e munido de todas as ferramentas necessárias para desenvolver o seu trabalho vai produzir mais que um funcionário em condições precárias de conforto e segurança. Além do fator motivação, dificilmente mensurável, sabe-se que hoje os custos com acidentes de trabalho ou mesmo indenizações por problemas de saúde adquiridos no ambiente de trabalho são tão significativos que podem desestruturar facilmente um orçamento. As perdas sociais para as empresas que não valorizam o funcionário são fatores que pesam na hora de contratar um profissional especializado em engenharia de segurança do trabalho.

A Universidade de Passo Fundo forma profissionais habilitados a atuarem na área de segurança e higiene do trabalho, capazes de trabalhar com essas questões de forma abrangente e eficaz. A formação desses profissionais termina com a elaboração de monografias que unem os conhecimentos adquiridos com suas aplicações práticas.

Após a elaboração do primeiro livro derivado desses trabalhos de alunos e professores, surgiram novas aplicações e estudos que estão apresentados nesta obra e poderão ser conhecidos pelo leitor nas próximas páginas. De forma concisa, os autores se propuseram a aplicar os conhecimentos científicos em situações práticas nos mais variados setores da produção, abordadas em cada um dos oito capítulos do livro.

A apresentação dos artigos reunidos neste trabalho não tem o objetivo de esgotar o assunto, mas de contribuir, através de discussões, e introduzir o tema valorização do trabalhador no mercado, uma vez que meio ambiente, saúde, segurança e qualidade de vida no trabalho são preocupações constantes nas empresas de sucesso.

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CAPÍTULO 1

ANÁLISE E AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS DE RUÍDOS/NPS EXISTENTES EM UMA INDÚSTRIA

METALÚRGICA

Cassiano Casagrande, Milton Serpa Menezes, Aline Pimentel Gomes José Waldomiro Jiménez Rojas

1. INTRODUÇÃO

O desenvolvimento industrial tem aumentado cada vez mais os níveis de ruídos nos ambientes de trabalho, sobretudo nas fábricas. A exposição dos trabalhadores a níveis elevados de ruído por longos períodos de tempo pode acarretar perda auditiva e comprometimentos físicos, mentais e sociais no indivíduo.

Os ambientes ruidosos, como a indústria metalúrgica, em que há, no dia a dia, nível de pressão sonora (NPS) elevado, podem provocar estresse sobre os trabalhadores, diminuição do rendimento, dificuldade de concentração, aumento da ocorrência de erros, maior número de acidentes e diminuição da produtividade em geral. O bem estar físico e mental do trabalhador é fundamental para um bom desempenho de suas tarefas, tanto na sua atividade profissional, como na sua vida social.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera que o som não deve ultrapassar 50 dB para não causar prejuízos ao ser humano. A partir de 50 dB, os efeitos negativos começam, alguns problemas podem ocorrer em curto prazo, outros levam anos para ser notados.

A avaliação dos níveis de ruídos no ambiente de trabalho é extremamente importante, pois pode indicar a potencialidade dos mesmos interferirem na saúde e na segurança dos trabalhadores.

O objetivo desse trabalho é medir os níveis de ruídos presentes em uma indústria metalúrgica, comparar os valores obtidos com os limites

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normatizados e avaliar a percepção dos trabalhadores com relação a esses níveis de ruídos e seus efeitos.

2. O DESENVOLVIMENTO DA INDÚSTRIA E DA POLUIÇÃO SONORA OCUPACIONAL

O início da Revolução Industrial, a partir de meados do século XVIII, foi um marco histórico no desenvolvimento de máquinas diferenciadas, na descoberta de novos materiais e na modernização dos processos produtivos (RIFFEL, 2001).

Segundo Batista (1998), a revolução industrial modificou o panorama sonoro. A poluição sonora começou a fazer parte do cotidiano dos seres humanos, chamando a atenção de pesquisadores, técnicos e órgãos normatizadores.

No Brasil, a necessidade do aumento de produção levou os ambientes industriais a níveis insuportáveis de ruído, trazendo consequências danosas à saúde do trabalhador. Surdez e aumento da tensão arterial são alguns dos malefícios provenientes da exposição a níveis elevados de ruídos (ZANNIN, 1990).

De acordo com Almeida et al. (2000), o ruído pode ser contínuo, quando não há variação do nível de pressão sonora nem do espectro sonoro, ou de impacto, que são ruídos de alta energia e que duram menos de 1 segundo. O ruído de impacto pode causar na cóclea (parte do ouvido responsável pela percepção sonora) mudanças fisiológicas ou anatômicas temporárias ou permanentes, elevando os distúrbios auditivos, caracterizados por mudanças do limiar, dificuldades na percepção da fala e zumbidos.

A mensuração do ruído pode ser realizada através de dosímetros - aparelhos que estimam o nível equivalente de energia (Leq) que atinge o indivíduo durante o período de medição, o qual poderá variar de poucos minutos até a jornada de trabalho integral (ALMEIDA et al, 2000).

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3. EFEITOS CAUSADOS PELO RUÍDO OCUPACIONAL

Zanin (1990) relata que o ruído age sobre o organismo humano de várias maneiras, prejudicando não só o funcionamento do aparelho auditivo como comprometendo a atividade física, fisiológica e mental do indivíduo a ele exposto.

Entre estas consequências, a mais definida e quantificada consiste em danos no sistema auditivo. Segundo Graça (2005) os efeitos do ruído vão desde uma ou mais alterações passageiras até graves efeitos irreversíveis. Em relação aos efeitos sobre o sistema auditivo, estes podem ser de três tipos:

a) mudança temporária do limiar de audição: também conhecida como surdez temporária, que ocorre após a exposição do indivíduo a ruído intenso, mesmo por um curto período de tempo.

b) surdez permanente: que se origina da exposição repetida durante longos períodos a barulhos de intensidade excessiva, ocasionando uma perda irreversível associada à destruição dos elementos sensoriais da audição.

c) trauma acústico: que é a perda auditiva repentina após a exposição a barulho intenso, causado por explosões ou impactos sonoros semelhantes. Conforme o tipo e a extensão da lesão pode haver somente uma perda temporária, no entanto esta também pode ser permanente.

Além desses problemas, existem os efeitos “extra-auditivos” que podem provocar ações sobre o sistema cardiovascular, alterações endócrinas, desordens físicas e dificuldades mentais e emocionais, entre as quais, irritabilidade, fadiga e maus ajustamentos.

Esses distúrbios dependem de fatores como: frequência do ruído, intensidade, duração e ritmo, assim como o tempo de exposição, a suscetibilidade individual e a atitude de cada indivíduo frente ao som.

Os principais distúrbios são:

a) distúrbios de comunicação: nos ambientes ruidosos, a comunicação verbal é dificultada, aumentando a probabilidade de erros e acidentes ocupacionais. Em alguns casos, podem ocorrer situações em que, devido ao excesso de ruído no local de trabalho, o trabalhador tem a necessidade de utilizar uma intensidade vocal mais forte que a habitual

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para ser ouvido pelos colegas, provocando assim um esforço maior e uma tensão ao falar, havendo consequentemente uma sobrecarga vocal, que pode ocasionar lesões e alterações vocais (MEDEIROS, 1999).

b) distúrbios do sono: muitos estudos confirmam a influência negativa do ruído sobre o sono, tornando-o mais superficial. Segundo Seligman (1993) o ruído, mesmo de fraca intensidade, provoca a passagem temporária de um estado de sono profundo para outro mais leve, o chamado complexo “K”. Como o ruído tem interferência direta na qualidade do sono, vai agir indiretamente no dia-a-dia do trabalhador, prejudicando o rendimento no seu trabalho e na sua vida social. Seligman (1997) ainda afirma que ruídos escutados durante o dia podem atrapalhar o sono de horas posteriores. Os pacientes reclamam de dificuldade para iniciar o adormecimento, de insônia e de despertares frequentes, o que determina cansaço no dia seguinte.

c) distúrbios vestibulares (relacionados ao equilíbrio): de acordo com Seligman (1997) durante a exposição ao ruído e mesmo depois dela, muitos pacientes apresentam distúrbios tipicamente vestibulares, descritos como: vertigens, acompanhadas ou não por náuseas, vômitos e suores frios, dificuldades no equilíbrio e na marcha, desmaios e dilatação de pupilas.

d) distúrbios comportamentais: muitos autores relatam uma série de sintomas comportamentais, entre eles: mudanças na conduta e no humor; falta de atenção e concentração; inapetência; cefaléia; redução da potência sexual; ansiedade; depressão; cansaço; fadiga e estresse. Acredita-se que estes sintomas podem aparecer isolados ou mesmo conjuntamente (MEDEIROS, 1999). Gerges (1995) acrescenta ainda: nervosismo, fadiga mental, frustração, irritabilidade, mau ajustamento em situações novas e conflitos sociais entre operários expostos ao ruído. O trabalhador que retorna ao lar após um dia em ambiente ruidoso tende a irritar-se com maior facilidade. Portanto, é fato inconteste que os fatores individuais têm importância muito acentuada, alguns indivíduos são mais suscetíveis que outros, os efeitos relacionam-se diretamente com a reação individual.

e) distúrbios neurológicos: Costa (1994) refere algumas prováveis alterações como resposta à ação do ruído, que se manifestam como: o aparecimento de tremores nas mãos, redução da reação aos estímulos visuais, dilatação das pupilas, mobilidade e tremores dos olhos, mudança

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na percepção visual das cores e desencadeamento ou piora de crises de epilepsia. São relatadas também influências no sistema nervoso central, inclusive alterações das ondas alfa no eletroencefalograma e aumento da pressão do líquor raquidiano.

f) alterações na concentração e habilidade: como o ruído é um som indesejável, apresenta a característica de irritar e, com isso, diminuir a capacidade de concentração mental, afetando o desempenho na habilidade de realizar algumas tarefas. Assim, trabalhadores que utilizam habilidades manuais, por exemplo, podem ser muito prejudicados, pois sua capacidade está diminuída, aumentando a probabilidade de erros e comprometendo a execução de tarefas que exijam atenção e concentração mental (MEDEIROS, 1999).

g) alterações no rendimento de trabalho: Silva (2006) relata que a exposição a níveis elevados de ruído por um período de tempo interfere na concentração e nas habilidades, tendo como consequência a redução do desempenho e do rendimento de trabalho. O indivíduo fadiga mais rápido, apresentando cansaço e prejudicando o desempenho de suas atividades. Estudos demonstraram que o excesso de ruído altera a condutividade elétrica no cérebro, além de provocar uma queda na atividade motora em geral.

O anexo 1 da NR15 estabelece como limite de exposição dos trabalhadores aos diversos ruídos ocupacionais o limite de 85dB para um período de 8 horas diárias (ATLAS, 2007). Vários critérios foram desenvolvidos para quantificar e garantir o conforto acústico e o estado do sistema auditivo.

Com relação ao conforto acústico no trabalho, a Lei 6.514 de 22/11/77, que se refere ao Capitulo V do Titulo II da Consolidação das Leis do Trabalho, relativo à Segurança e Medicina do Trabalho, dado pela Portaria nº 3.751 de 23 de Novembro de 1990, Norma Reguladora NR17 - ERGONOMIA menciona os parâmetros que permitem a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar conforto acústico, desempenho e segurança.

Nos locais de trabalho onde são executadas atividades que exigem solicitação intelectual e atenção constante são recomendados, pela NBR 10152 (ABNT, 1987), níveis de ruído entre 45 e 65 dB(A), onde o valor inferior da faixa representa o nível sonoro para conforto, enquanto que o

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valor superior significa o nível sonoro máximo aceitável para a respectiva finalidade.

4. PROCEDIMENTO ADOTADO

Esse trabalho foi realizado em uma indústria metalúrgica de médio porte, com 3.950 m² de área construída, localizada no Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul e cujas atividades estão classificadas como grau de risco 3.

O modelo dos protetores auriculares que os trabalhadores utilizam na empresa é do tipo plug, de inserção, com quatro abas de silicone, ligados por uma corda de algodão. O número do CA é 5362, com atenuação de 25,1 dB para frequências de 125 Hz e chegando a valores de 47,3 dB para frequências de 8000 Hz.

As medições foram realizadas durante o turno diurno nos setores de preparação dos materiais, montagem interna, solda, limpeza, pintura e almoxarifado. Foram selecionados qualitativamente os pontos de medição em que os trabalhadores ficam mais próximos aos equipamentos que geram ruído, com o microfone mantido na posição de 70º em relação à fonte sonora e próximo ao ouvido do trabalhador, com leituras efetuadas no circuito de compensação “A” e circuito de resposta lenta (Slow).

Conforme pode ser verificado no Quadro 1, existem diferentes recomendações de metodologia com relação aos parâmetros e limites dos níveis de ruídos avaliados, que dependem da finalidade da aplicação. Como o objetivo principal desse trabalho é verificar o conforto acústico, seguiu-se o que estabelece a NR17.

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NR15 NHO 01 NR17

Aplicação InsalubridadeExposição ocupacional,

exceto conforto acústico

Ergonomia - Conforto

acústico

Parâmetro Dose DoseLeq - Nível sonoro

equivalente

LimitesLT = 85 db(A) para 8h -

Dose = 1

LT = 85 db(A) para 8h -

Dose = 1

Recomendado pela

NBR10152, de acordo

com a atividade.

Incremento de

duplicação (q)5 dB 3 dB -

Nível de ação

(Jornada de 8h)50% dose = 80 db(A) 50% dose = 82 db(A) -

Quadro 1 – Parâmetros e limites dos níveis de ruídos

A NBR 10151 (ABNT, 2000) recomenda a determinação do nível sonoro equivalente (Leq) para ambientes que apresentam grande variação dos níveis ao longo do tempo, bem como determina as condições para a instalação do aparelho de medição.

Quando a exposição ao ruído é composta de dois ou mais períodos de exposição de diferentes níveis, devem ser considerados seus efeitos combinados, sendo que os mesmos podem ser obtidos com maior precisão utilizando-se o dosímetro, que é um instrumento capaz de fornecer o nível equivalente de ruído.

Segundo Grandjean (1998), esse indicador consiste na mais importante medida para a caracterização da carga sonora. O Leq apresenta a exposição ocupacional ao ruído durante o período de medição e representa a integração dos diversos níveis instantâneos de ruído ocorridos nesse período. Com isso, o efeito perturbador do ruído intermitente é comparado ao efeito de um nível sonoro constante no espaço de tempo analisado.

Em cada ponto de coleta foram realizadas duas medições com duração de quatro horas (metade da jornada de trabalho), sendo a temperatura ambiente de aproximadamente 34ºC. Todas as medidas foram realizadas com tempo ensolarado e a umidade relativa do ar entre 65% e 80%.

De acordo com Saliba (2000) a dosimetria pode ser feita em parte da jornada de trabalho quando o ciclo de trabalho se mostra regular e se

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repete durante todo o período. As medições foram efetuadas nas segundas e quartas-feiras, totalizando um mês de medição.

Foi elaborado um questionário objetivo, com questões de múltipla escolha relacionadas à história ocupacional de exposição ao ruído e dados sobre o estado geral de saúde do trabalhador. O mesmo está descrito no apêndice A e foi baseado no questionário proposto por Silva (2006).

O trabalho teve como objetivo avaliar 100% dos trabalhadores envolvidos no chão de fábrica, totalizando 54 questionários, que foram respondidos fora do ambiente de trabalho, de forma individual e sem a necessidade de identificação. Solicitou-se aos funcionários que respondessem da forma mais sincera possível, possibilitando demonstrar o sentimento do grupo com relação ao seu local de trabalho.

As repostas similares foram agrupadas e suas respectivas porcentagens foram calculadas.

O equipamento utilizado para a realização das medições foi um dosímetro da marca INSTRUTHERM, modelo DOS-450, N° Série 030502969, O.S. N°53800. A escala de medição é de (40 a 140) dB, detector RMS verdadeiro, escala de pulso de 63 dB. Microfone de 8 mm de alta impedância. O aparelho segue as normas ANSI S1. 25-1991, ANSI S1 4-1983, IEC651-1979 e IEC804-1985.

A calibração do equipamento é realizada periodicamente pelo laboratório de calibração INSTRUTHERM, que contrata profissionais qualificados para tal tarefa, com a data da última calibração em 05/10/2007. O procedimento de calibração usado foi o PCI-002-Rev 0, através do processo de comparação com um padrão rastreado.

A parametrização do dosímetro foi realizada conforme padrões estabelecidos pela NBR 10151 (ABNT, 2000).

5. RESULTADOS DO ESTUDO DE CASO

5.1 Avaliação quantitativa

Os resultados obtidos através das medições dos níveis de ruídos nos diferentes setores da indústria metalúrgica estão apresentados na Tabela 1.

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Tabela 1 – Medições de NPS máx e Leq nos diferentes setores

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Os valores destacados em negrito são os maiores resultados obtidos entre as duas medições.

Como a NBR 10152 (ABNT, 1987) não apresenta os níveis de ruído para as atividades desempenhadas em pavilhão industrial, a NR17, no item 17.5.2.1, recomenda que para as atividades que não apresentam equivalência ou correlação com aquelas relacionadas na NBR 10152 (ABNT, 1987), o nível de ruído aceitável para efeito de conforto será de até 65 dB (A).

A Figura 1 mostra os resultados das medições do ruído nos diferentes setores e o limite aceitável para efeito de conforto acústico conforme a NR17.

Figura 1 – Resultado da avaliação quantitativa

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Pode-se perceber que os níveis de ruído da grande maioria dos setores está acima do nível estabelecido pela NR17, que é de 65 dB(A). Além disso, foram constatados níveis de pressão sonora que ultrapassaram 100 dB(A), o que é altamente prejudicial à saúde e à integridade física do ser humano que permanece durante um longo tempo nesse ambiente.

Os altos níveis de ruído são decorrentes das diferentes atividades desempenhadas nos setores, em que as tarefas de corte, solda, furação, limpeza, etc., geram atritos entre ferramentas e peças, resultando em ruídos altíssimos.

5.2 Avaliação qualitativa

A Tabela 2 apresenta os resultados obtidos através dos questionários respondidos pelos funcionários dos diferentes setores da indústria metalúrgica.

Tabela 2 – Respostas dos questionários aplicados aos funcionários dos diferentes setores

Entre os 54 trabalhadores entrevistados, 57,4% retornaram o questionário para a compilação dos dados, como apresentado na Figura 2.

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Figura 2 – Resultado da avaliação qualitativa

Dentre os temas abordados, os níveis de ruído inadequados para a atividade e a dificuldade de comunicação obtiveram os maiores percentuais, uma vez que grande parte dos trabalhadores acredita que estes itens são os que mais prejudicam o ambiente de trabalho. Outros danos como dores de cabeça, zumbido no ouvido, perda de concentração e influência sobre o humor, também foram associados aos elevados índices de ruído percebidos pelos trabalhadores.

Percebe-se que, mesmo que o questionário apresente resultados subjetivos, 67% dos trabalhadores entrevistados acreditam que o nível de ruído do ambiente de trabalho é inadequado para a atividade, o que se confirmou através das medições.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados desse estudo, tanto quantitativos quanto qualitativos, permitem concluir que o ambiente de trabalho estudado apresenta níveis de ruído acima dos limites normatizados e não oferecem conforto acústico, conforme a NR17, NR15 e NBR 10152 (ABNT, 1987). Isso significa que esses níveis de ruído podem provocar danos à saúde dos trabalhadores que exercem suas atividades nesse ambiente.

Os trabalhadores entrevistados têm percepção dos níveis de ruído inadequados presentes no ambiente de trabalho onde exercem suas atividades e dos efeitos negativos causados por esse ruído, como dores de

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cabeça, zumbido no ouvido, perda de concentração, influência no humor e dificuldades de comunicação.

Estas informações permitem conhecer a realidade e assim desenvolver outros estudos que visem melhorar as condições de conforto acústico nos ambientes industriais.

Recomenda-se a melhoria nos layouts da indústria, utilização de material absorvente acústico nas paredes, piso e cobertura, implementação de plano de manutenção adequado em todos os equipamentos e instalações, substituição de máquinas antigas e obsoletas, mudanças nos processos que produzem elevados níveis de ruído e utilização de protetores auriculares por parte dos trabalhadores.

REFERÊNCIAS

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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10152 (NB

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COSTA, V.H.C. O ruído e suas interferências na saúde e no trabalho. Revista da Sobrac. 13.41-60,1994. Disponível em:< http://www.scielo.br/scielo.php? script=sci_arttext&pid=S0034-72992002000100008&lng=>. Acesso em: 26 maio 2008.

GERGES, N.Y.S. Efeitos do Ruído e das vibrações no homem em proteção. Porto Alegre, MPF Publicações Ltda, 1995. 65p.

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GRANDJEAN, E. Manual de ergonomia: adaptando o trabalho ao homem. Trad. João Pedro Stein. Porto Alegre: Artes médicas, 1998.

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APÊNDICE A – Modelo de questionário Setor: ______________________________________________ Função: ____________________________________________ Idade: ______________________________________________ Sexo: ______________________________________________ Escolaridade: ________________________________________

MARQUE A ALTERNATIVA QUE REPRESENTA A SUA PERCEPÇÃO COM RELAÇÃO A CADA UM DOS TEMAS ABORDADOS:

1. Levando em conta a sua atividade, você entende que o nível de ruído no seu ambiente de trabalho é:

a. ( ) ideal b. ( ) alto, atrapalhando um pouco c. ( ) altíssimo, atrapalhando muito

2. Na sua avaliação, você sente dores de cabeça, após o trabalho, por conta do ruído:

a. ( ) nunca b. ( ) às vezes c. ( ) sempre

3. Você percebe que existe um “zumbido” no ouvido: a. ( ) nunca b. ( ) às vezes c. ( ) sempre

4. No seu ambiente de trabalho, você percebe que o ruído faz com que você perca a concentração e, conseqüentemente, a produtividade:

a. ( ) nunca b. ( ) às vezes c. ( ) sempre

5. Você entende que o seu ambiente de trabalho, em se tratando de ruído, influencia no seu humor de maneira:

a. ( ) positiva, proporcionando que você fique calmo b. ( ) insignificante c. ( ) negativa, fazendo com que você fique estressado

6. No seu ambiente de trabalho, você sente dificuldade de comunicar-se: a. ( ) nunca b. ( ) às vezes c. ( ) sempre

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7. Na sua avaliação, você sente dores no corpo, após o trabalho, por conta do ruído:

a. ( ) nunca b. ( ) às vezes c. ( ) sempre

8. Você percebe que a “carga diária de ruído” influencia na qualidade do seu sono de forma:

a. ( ) insignificante b. ( ) negativa, dificultando um pouco seu repouso c. ( ) bastante negativa, dificultando muito o seu repouso

9. Você entende que um isolamento acústico nas divisórias dos setores: a. ( ) não ajudaria a reduzir o ruído b. ( ) reduziria um pouco o ruído c. ( ) ajudaria muito na redução do ruído

10. Você entende que, de maneira geral, o nível de ruído no seu ambiente de trabalho é:

a. ( ) ideal b. ( ) alto c. ( ) altíssimo

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CAPÍTULO 2

ANÁLISE DE DESEMPENHO ERGONÔMICO EM DOIS ARRANJOS FÍSICOS DE COZINHAS

RESIDENCIAIS COM LAYOUTS EM FORMATO HORIZONTAL E L

Eduardo Gava, Paulo Portich, Marcele Salles Martins, Andréia Saúgo

1. INTRODUÇÃO

O conjunto dos afazeres domésticos compõe-se de uma série de atividades complexas, as quais exigem um trabalho predominantemente manual, de natureza repetitiva e constante, o que acaba conduzindo o ser humano a um esforço físico considerável, praticado muitas vezes em um ambiente desprovido de infra-estrutura adequada.

A relação entre o homem, o trabalho e o ambiente construído no qual as atividades domésticas se desenvolvem nos transporta para a real importância da interação entre a arquitetura e a ergonomia contudo, o que se identifica, atualmente, na maioria dos espaços arquitetônicos construídos é uma total carência desta interação. Villarouco (2002) destaca esta problemática.

O que se verifica é que, ainda hoje, os estudos de arquitetura e projetos de espaço ressentem-se da abordagem ergonômica, que fica ausente no processo de formação de muitos arquitetos. Esta lacuna identificar-se-á como necessidade no trabalho de profissionais, que tenderão sempre a produzir projetos inadequados, onde os aspectos importantes do usuário do espaço não são levados em conta.

Dessa forma, obviamente que será necessária uma série de investimentos posteriores com o intuito de corrigir ou mesmo amenizar as dificuldades identificadas no ambiente. Com isso, coloca-se em evidência a inviabilidade econômica gerada por um planejamento mal elaborado,

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cujas carências irão comprometer a segurança do usuário, bem como seu desempenho no processo produtivo (TORRES et al. 2006)

Considerando que este compartimento ocupa um local de destaque na hierarquia do conjunto de espaços que abrigam as atividades domésticas, a cozinha, conforme Gurgel (2004) é um dos ambientes mais propícios a acidentes numa residência, e também o mais perigoso, onde gás, fogo e elementos pontiagudos estão em constante utilização.

Para estudar a relação do homem com o ambiente construído devem ser consideradas as restrições físicas do ambiente e as habilidades e limitações do homem. Entre esses fatores, o layout se destaca como um elemento determinante na utilização do espaço e do conforto do usuário, visto que o arranjo físico preocupa-se não somente com uma disposição racional do processo produtivo, mas também com áreas de movimentação, alcances e manuseios de pesos, disposição do mobiliário e condições humanas do trabalho (TORRES et al, 2006).

Com isso, busca-se destacar a importância da sinergia entre a arquitetura e a ergonomia, visando uma nova abordagem por parte dos profissionais envolvidos, a qual se pretende incluir tanto no processo de concepção do ambiente a ser construído como na intervenção necessária no ambiente arquitetônico existente.

Portanto, este artigo objetiva avaliar, a partir da análise de estudos de caso, qual arranjo físico apresenta o melhor desempenho ergonômico para cozinhas residenciais, alertando para as limitações do layout

apresentado, e para as respectivas consequências geradas no processo produtivo, na segurança e no conforto do usuário.

2. ERGONOMIA E OS ARRANJOS FÍSICOS ATUAIS

O papel da ergonomia é subsidiar o planejamento, o projeto, a

avaliação de produtos, postos de trabalho, sistemas de informação e ambientes, tornando-os compatíveis com as necessidades, habilidades e limitações dos indivíduos (TORRES et al., 2006)

As contribuições da ergonomia para introduzir melhorias dentro do ambiente no qual as atividades acontecem podem variar conforme a etapa

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em que ocorrem tais contribuições e também conforme a abrangência com que é realizada. Segundo Iida (1990) uma das formas de classificação da abrangência é a análise dos postos de trabalho, a qual ocorre em uma escala menor, de forma mais pontual, avaliando um setor que compõe o sistema.

Para Couto (1995) a adequação geral do posto de trabalho ocorre principalmente a partir da antropometria, pois dessa forma pode-se medir as dimensões humanas e seus ângulos de conforto/desconforto e, com base nisso, planejar postos de trabalho corretos. Tanto para se trabalhar sentado, de pé ou semi-sentado, quanto para trabalho leve ou pesado.

Slack apud Torres et al. (2006) destaca que o projeto de arranjo físico inicia-se com a análise dos elementos fundamentais: unidades de planejamento de espaço (UPE), afinidades, primitivas de espaço e restrições. Unidades de planejamento de espaço (UPE) são setores em que se identificam uma área de trabalho, uma área de estocagem ou alguma característica do estabelecimento.

As afinidades, por sua vez, correspondem à hierarquização, segundo a frequência dos fluxos dos materiais entre as diversas áreas de trabalho. As primitivas de espaço são as áreas mínimas de cada UPE, definidas a partir da soma da área que o equipamento ocupa mais a sua área de utilização e a sua área de circulação e, por fim, ainda segundo Slack apud Torres et al. (2006) as restrições são os limitadores do layout

ideal, como as delimitações físicas da edificação, aberturas de iluminação e ventilação e outras características externas.

Pode-se chegar a inúmeras possibilidades de layouts para um determinado ambiente, desde que tenham sido considerados importantes aspectos distintos da mesma questão, ou seja, ora o fator mais importante pode ser a segurança, ora a estética do conjunto, a obtenção de um fluxo racional, as condições ambientais, dependendo, assim, do ponto de vista abordado.

Segundo Souza (2002) a escolha do tipo de layout deve estabelecer um fluxo racional de trabalho, evitando-se deslocamentos desnecessários de pessoas e materiais, bem como proporcionando maior conforto e segurança aos usuários do espaço físico.

Iida (1990) destaca o arranjo físico ou layout como um problema importante em cozinhas residenciais, no qual o bom senso indica que

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aquelas peças entre as quais há um fluxo maior de movimentos devem ser colocadas próximas entre si.

2.1 Abordagem dos arranjos físicos

Considerando que a cozinha residencial é o ambiente que mais evolui e reflete as mudanças de hábito da sociedade, para planejá-la, além de funcionalidade e do dimensionamento dos espaços, deve-se, sobretudo, conhecer a rotina da família, uma vez que os hábitos interferem direto no programa de necessidades. Atualmente, as cozinhas de alguns apartamentos residenciais apresentam dimensões cada vez mais reduzidas, comprometendo a distribuição do arranjo físico, o que influencia na otimização do processo produtivo e do ambiente de trabalho, forçando o projetista à verticalização e à ocupação do espaço cúbico com uma superposição excessiva de unidades produtivas de trabalho (LEMOS apud TORRES et al., 2006).

Para Gurgel (2004) a cozinha, essencialmente, é uma estação de trabalho composta por três atividades básicas: armazenar (geladeira); preparar (pia) e cozinhar (fogão). Sendo que a melhor forma de organizar as três atividades é a triangular onde a sugestão é que se mantenha a soma das três distâncias inferior a 6,5m.

Contestando Gurgel (2004) que exclui a bancada da disposição triangular descrita como um arranjo físico ideal, Iida (1990) afirma que o foco das atividades da cozinha ocorre na bancada, e que os fluxos entre bancada e pia e entre bancada e fogão são maiores que entre bancada e geladeira, destacando assim que a triangulação formada pela pia, fogão e geladeira está ineficiente pela ausência do principal elemento da cozinha, que é a bancada. Portanto para Iida (1990) no projeto do layout da cozinha, o elemento mais importante a ser estudado é a bancada, ao lado da qual deve ser colocada a pia e o fogão, enquanto as posições da geladeira e armários são mais flexíveis.

Iida (1990) assim como Gurgel (2004) mencionam que as cozinhas residenciais são classificadas em quatro tipologias distintas de layouts, sendo que tais tipologias são definidas a partir de seu respectivo arranjo físico, o qual por sua vez é determinado em função da disposição da geladeira - fogão - pia/bancada. A organização dos postos de trabalho e

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dos equipamentos caracteriza o formato, bem como a hierarquização dos eixos sobre os quais ocorrem os fluxos e deslocamentos.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Em função dos cenários reais disponíveis foi necessária uma racionalização do conteúdo existente em termos de arranjo físico de cozinhas residenciais. Dessa forma foram selecionadas para a elaboração deste trabalho duas tipologias de cozinhas, com layout em formato horizontal e em “L”.

Os dados coletados para o seu desenvolvimento foram obtidos através de uma análise qualitativa do ambiente construído em relação aos princípios básicos do layout, à integração geral, à mínima distância, ao fluxo, ao espaço cúbico, à flexibilidade e à satisfação e segurança do usuário. O estudo contempla, sobretudo, as questões de antropometria, descritas por Panero e Zelnik (1998), a abrangência ergonômica através da análise do posto de trabalho e a contribuição ergonômica através da ergonomia de concepção, ressaltando assim a influência do arranjo físico no desempenho das atividades através da interação entre a arquitetura e ergonomia.

A abordagem ergonômica foi realizada através do levantamento físico do espaço, de observações assistemáticas, de conversas informais e de registros fotográficos. As observações assistemáticas foram concebidas com base em visitas esporádicas ao ambiente analisado e o estudo de caráter avaliativo do arranjo físico foi baseado nos princípios básicos do layout: a integração geral, a mínima distância, o fluxo, o espaço cúbico, a flexibilidade e a satisfação e segurança determinados por Slack apud Torres et al. (2006). As conversas mantidas com os usuários reforçaram sistematicamente a questão da abrangência e da contribuição ergonômica, pois demonstraram as opiniões, queixas, avaliações e sugestões sobre a realidade cotidiana do layout analisado. As Figuras 1 e 2 representam o layout dos ambientes avaliados com suas respectivas tipologias, cuja configuração foi concebida através do levantamento físico realizado.

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Figura 1 – Estudo de caso - Cozinha com arranjo físico horizontal: bancada, pia e fogão na mesma parede

Figura 2 – Estudo de caso - Cozinha com arranjo físico em L: geladeira, bancada e pia na mesma parede e fogão no sentido perpendicular

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4. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

4.1 Avaliação do arranjo físico da cozinha horizontal

A cozinha apresentada na Figura 1, com layout em formato horizontal, apresenta as seguintes características: forro de gesso, revestimento cerâmico na parede em que se localiza a pia, piso cerâmico em todo o ambiente, ventilação e iluminação natural, bancadas de trabalho de granito, churrasqueira, mesa de jantar para seis lugares, armários em MDF com laminados melamínicos, sistema de exaustão com coifa desprovida de saída externa, geladeira duplex, fogão de mesa com cinco queimadores, forno elétrico, forno/fogão à lenha e forno microondas, conforme exemplificado na Figura 3.

Com base no levantamento físico do espaço avaliado e nas informações obtidas junto aos usuários da residência, foi possível constatar que a cozinha cumpre também a função de um compartimento de uso social, pois além das atividades diárias recorrentes do trabalho doméstico, o ambiente também funciona como uma área de convivência, um local utilizado pelos familiares para promover encontros e reunir pessoas.

Figura 3 – Levantamento fotográfico da cozinha com layout horizontal

PIAFOGÃO/FORNO À LENHA

FOGÃO À GÁS

MICROONDAS

GELADEIRABANCADA

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A cozinha com arranjo físico horizontal apresenta uma configuração retangular, com área de 23,21m². Todos os equipamentos estão dispostos linearmente, e as atividades ocorrem de forma processual.

Constatou-se que os usuários desenvolvem a maioria das atividades em pé e com acentuada movimentação dos membros. Identificou-se ainda, com determinada frequência, a necessidade de se adotar uma série de posturas inadequadas para acessar utensílios e eletrodomésticos.

Com base na análise dos princípios básicos do layout, compreendeu-se o seguinte:

• Princípio da Integração Geral: a integração das Unidades de planejamento de espaço (UPE) ocorre de forma equilibrada, pois a pia, a bancada, o fogão e a geladeira estão dispostos em um mesmo alinhamento e, embora esta distância ultrapasse quatro metros, as atividades são desenvolvidas com um nível de conforto mediano.

• Princípio da mínima distância de movimentação: a distribuição das UPEs gera aglomeração de equipamentos e tarefas em linha reta. As atividades que ocasionam maiores problemas são os deslocamentos entre a pia e a geladeira, entre o fogão e a pia e o deslocamento para retirar os eletrodomésticos e utilizá-los sobre a bancada.

• Princípio do fluxo: o arranjo físico determinado nesta cozinha estimula um fluxo de materiais onde se encontra a bancada, sobre esta ótica, identifica-se uma redução no ritmo de trabalho e, sobretudo, uma dificuldade de organização dos materiais, em função das dimensões reduzidas da bancada, pois o fogão e forno à lenha encontram-se ao lado da pia, inutilizando a área de bancada de manipulação. Dessa forma, acaba sendo necessário utilizar a chapa do fogão como bancada. Aliado a isto, colocam-se outros elementos que prejudicam o fluxo das atividades, como lixeira, escorredor de louça e materiais de limpeza. Verifica-se ainda, que alguns eletrodomésticos estão dispostos em uma área de difícil acesso, como nos armários superiores, em altura inadequada.

• Princípio do espaço cúbico: o espaço cúbico da cozinha avaliada é aproveitado com certa deficiência, sobretudo, pela presença de um equipamento cuja utilidade é inexistente, pois o forno e fogão à lenha não dispõe de um funcionamento eficiente e, ainda segundo a usuária,

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acaba gerando resíduos que prejudicam o acabamento dos móveis e do forro de gesso.

• Princípio de satisfação e segurança: identificaram-se alguns potenciais de riscos para possíveis acidentes, como a utilização de bancos para retirar utensílios dos armários superiores e a prática de determinadas tarefas que ocorrem simultaneamente, pois em função do espaço restrito da bancada, ocorre uma aglomeração das atividades.

• Princípio da flexibilidade: a flexibilidade do espaço pode ser viabilizada apenas quanto à disposição dos eletrodomésticos, pois os condicionantes físicos da edificação não permitem uma disposição diferente da maioria das UPEs e equipamentos.

Com a análise dos princípios do layout concluída, avalia-se a relação e a intensidade dos fluxos entre as UPEs e os equipamentos, sendo é possível classificá-los nos seguintes padrões:

Fluxo muito alto: geladeira – bancada. Fluxo muito alto: pia – bancada. Fluxo muito alto: fogão – bancada. Fluxo alto: armários superiores – bancada. Fluxo alto: armários inferiores – bancada. Fluxo alto: lixeira – bancada. Fluxo alto: fogão – pia. Fluxo alto: geladeira – pia. Fluxo comum: micro-ondas – bancada. Fluxo comum: bancada – mesa.

Conforme a classificação especificada acima, nota-se um distanciamento excessivo entre algumas UPEs e equipamentos de fluxo alto, como a pia e a geladeira. Outra fragilidade perceptível é a aglomeração de materiais que ocorre na bancada de manipulação. Dessa forma, identificou-se que os principais problemas da cozinha horizontal são os seguintes:

• Problema de Acesso: como alguns eletrodomésticos e louças estão dispostos nos armários superiores, sua utilização depende de movimentos indesejáveis, em que os usuários assumem uma postura ergonomicamente inadequada, que ocasiona uma situação de risco, e também prejudica o desempenho das atividades desenvolvidas simultaneamente na pia.

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• Problema de Espaço: a disposição do forno e fogão à lenha entre a pia e o fogão a gás ocasiona uma situação de aglomeração de tarefas na pia e uma superposição dos materiais sobre a bancada de apoio, a qual dispõe de dimensões reduzidas e encontra-se ao lado esquerdo da pia. A aglomeração das tarefas recorrentes da ausência de uma bancada de manipulação adequada foi identificada como uma das possíveis causas que geraram um acidente, ocorrido durante o preparo de alimentos à base de fritura.

Sugere-se como contribuição para melhorar o desempenho ergonômico da cozinha horizontal, as seguintes alterações:

• Remover o forno e fogão à lenha, utilizando esta área como bancada de manipulação para que dessa forma se obtenha um espaço com dimensões de 65 cm de profundidade e 91 cm de largura na superfície horizontal.

• Os armários superiores, situados acima da pia, devem ser deslocados de lugar para ficarem na altura ideal, conforme a Figura 4. Sugere-se distribuí-los no local onde se encontra o aparelho de televisor e também acima do fogão a gás, sendo necessário para isso alterar o sistema de exaustão existente.

Figura 4 – Nova proposta para a cozinha com arranjo físico horizontal

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Conforme exemplificado na Figura 4, as alterações no layout

compreendem uma nova disposição de mobiliário, cuja configuração pode ser identificada da seguinte forma:

• 01: armários superiores existentes dispostos em outra posição;

• 02: nova coifa de exaustão com formato retangular;

• 03: nova bancada de manipulação com tampo em granito - no local da antiga chapa do fogão a lenha;

• 04: novos armários inferiores - no local do antigo fogão/forno à lenha;

A nova disposição do mobiliário geraria contribuições para melhorar o desempenho ergonômico do ambiente, uma vez que os armários superiores estariam a uma altura de acesso recomendada de 1,53m. A inserção da bancada de manipulação sobre o antigo local do fogão à lenha e a mudança do móvel superior situado acima da pia proporcionam agilidade e conforto no desempenho das atividades exercidas simultaneamente ou concomitantemente.

4.2 Avaliação do arranjo físico de cozinha em L

A cozinha com layout em L dispõe de uma área de 13,75m² com formato retangular, iluminação e ventilação natural, revestimento cerâmico em todas as paredes até 1,70m de altura e forro de gesso. A disposição das UPEs e equipamentos é a seguinte: pia/bancada e geladeira alinhadas na mesma parede e o fogão localizado em linha perpendicular. Os móveis e armários são em MDF de laminados melamínicos, o tampo é de vidro temperado de 12mm com acabamento em pintura branca, e o fogão com quatro queimadores a gás está instalado sobre o tampo, conforme exemplificado na Figura 5.

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Figura 5 – Levantamento fotográfico da cozinha com layout em L

Em virtude da área limitada, não há mesa dentro da cozinha, existe uma bancada para refeições onde é possível acomodar até quatro pessoas, dessa forma, quando há necessidade utiliza-se a mesa da sala de jantar que dispõe de seis lugares.

A partir da análise dos princípios de layout, constatou-se:

• Princípio da Integração Geral: sobre alguns aspectos, a integração das Unidades de planejamento de espaço (UPEs) ocorre de forma harmoniosa, pois predomina uma configuração longitudinal ausente de interrupções nas unidades dispostas na parede ao lado da pia. O dimensionamento das zonas de trabalho também está dentro dos padrões recomendados. Entretanto, parte das UPEs e de alguns equipamentos encontram-se excessivamente racionalizados, ocorrendo, com isso, em determinados momentos, uma sobreposição de equipamentos e atividades, como o microondas que ocupa parte da área da bancada de manipulação.

• Princípio da mínima distância de movimentação: o arranjo físico desta cozinha apresenta uma reduzida distância de movimentação devido à proximidade das UPEs. Identifica-se, ainda, que a localização da geladeira, próxima à porta, favorece o acesso dos usuários que encontrarem-se nos demais cômodos da residência,

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evitando assim deslocamentos desnecessários.

• Princípio do fluxo: os fluxos ocorrem de maneira equilibrada, dessa forma as atividades se desenvolvem com eficácia, sobretudo em função de uma dimensão linear generosa do tampo onde está localizada a pia. A disposição deste layout, também favorece o fluxo frequente que ocorre em direção à esquadria de acesso ao terraço externo da edificação, pois se formou um eixo de circulação livre sem comprometer a execução simultânea das tarefas.

• Princípio do espaço cúbico: o espaço cúbico é bem aproveitado, a única fragilidade é o uso do microondas disposto sobre a bancada de manipulação, gerando uma sobrecarga nos demais espaços do tampo de trabalho.

• Princípio de satisfação e segurança: observa-se certa ausência de preocupação com a presença de crianças no local, sobretudo no uso de determinados eletrodomésticos.

• Princípio da flexibilidade: a flexibilidade do espaço praticamente inexiste, é garantida apenas pela possibilidade de redistribuir alguns eletrodomésticos, isso por tratar-se de um ambiente com uma proposta específica, cujas limitações espaciais são definidas pelas características da edificação existente.

Através do levantamento dos fluxos existentes entre as UPEs e os equipamentos definiu-se a seguinte hierarquização:

Fluxo muito alto: pia – bancada de manipulação. Fluxo muito alto: fogão – bancada de manipulação. Fluxo muito alto: geladeira – bancada de apoio. Fluxo alto: armários superiores – bancada de apoio. Fluxo alto: armários inferiores – bancada de apoio.Fluxo alto: lixeira – bancada de apoio. Fluxo alto: fogão – pia. Fluxo alto: geladeira – pia. Fluxo alto: microondas – bancada de manipulação. Fluxo comum: pia – bancada de refeições. Fluxo comum: bancada de manipulação – bancada de refeições.

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Com base na análise dos padrões de fluxo, verificou-se a viabilidade de reduzir a intensidade dos fluxos em direção à bancada de apoio, redistribuindo estes deslocamentos para a bancada de manipulação. O forno de microondas deve ser instalado junto à parede paralela a pia, dessa forma seria possível aumentar o espaço de trabalho na bancada de manipulação. A alteração sugerida para esta cozinha será apresentada na Figura 6. Não será necessário promover modificações complexas ou que exijam um investimento financeiro significativo, pois o arranjo físico atual já contempla com equilíbrio a hierarquização dos fluxos e a integração das UPEs.

Figura 6 – Alteração proposta para o arranjo físico da cozinha em “L”

Conforme a modificação sugerida, o forno microondas seria removido da área relativa à bancada de manipulação e instalado na parede paralela a pia sobre uma prateleira situada a 90 cm de altura. Os demais equipamentos e as UPEs não sofreriam alteração.

Posicionamento das UPEs e equipamentos:

• 01: geladeira

• 02: bancada de apoio

• 03: pia

• 04: bancada de manipulação

• 05: fogão

0 0 0 0

0

00

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• 06: bancada para refeição

• 07: nova disposição do forno microondas

Por meio das avaliações desenvolvidas no layout da cozinha em formato L, constatou-se que a bancada de refeições permite ao usuário praticar a alternância de posturas entre posição de pé e posição sentada, pois em função de suas dimensões pode-se utilizá-la no exercício de determinadas atividades na posição sentada.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A cozinha caracteriza-se dentro do partido arquitetônico de uma casa como um ambiente de uso frequente e constante, o qual abriga uma diversidade significativa de serviços domésticos e também de relações sociais entre as pessoas. Sendo assim, a cozinha desempenha atualmente mais de uma função dentro de uma residência e deve estar devidamente estruturada para tais finalidades, sobretudo com relação ao seu arranjo físico ou layout.

Com base na análise comparativa desenvolvida entre os formatos das cozinhas avaliadas, concluiu-se que a cozinha com arranjo em “L” apresenta o melhor desempenho ergonômico, sendo necessário apenas uma alteração mínima para melhorar o processo de trabalho.

Neste caso, o arranjo físico otimiza os deslocamentos e as movimentações de carga, reduzindo os esforços humanos em função da racionalização das unidades de planejamento de espaço (UPEs) e da aproximação das atividades que compõem o processo de produção.

A distribuição dos principais equipamentos atende à hierarquização dos fluxos prioritários entre o fogão, a bancada, a pia e o secundário entre estes e a geladeira, além disso, a bancada, disposta entre o fogão e a pia, garante conforto e eficiência na manipulação dos alimentos. A cozinha com layout em “L” também proporciona a alternância de posturas contribuindo para o conforto do usuário, o que não ocorre na cozinha com arranjo horizontal.

Desta forma, para que se obtenha um arranjo físico ergonomicamente adequado é necessário viabilizar a ergonomia de

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concepção, em que seus aspectos devem estar presentes no momento da criação do projeto arquitetônico, dessa forma, posteriormente seria evitada a inflexibilidade do ambiente construído e a impossibilidade de melhorar seu layout.

REFERÊNCIAS

COUTO, H. de A. Ergonomia aplicada ao trabalho: o manual técnico da

máquina humana. Belo Horizonte: Ergo,1995

GURGEL, M. Projetando espaços. 2ª ed. São Paulo: Senac,2004.

IIDA, I. Ergonomia: projeto e produção. São Paulo: Edgar Blücher,1990.

LERNER, W. Organizações, sistemas e métodos. São Paulo: Atlas, 1982.

PANERO, J.; ZELNIK, M. Las diemensiones humanas em los espacios

interiores: estandares antropométricas. 8ª ed. Barcelona: Gustavo Gili, 1998.

SOUZA, R.A. Administração da Produção. São Paulo, s.n., 2002.

TORRES, M.L.; MARTIS, L.B.; BEZERRA, E.G.S.; GALVÃO, S.C. Ambiente

Construído. In: Associação Nacional de Tecnologia Do Ambiente Constrído. Porto Alegre, v.6, n.3, p.69-90, jul/set.2006.

VILLAROUCO, V. Avaliação ergonômica do projeto arquitetônico. Anais do VII Congresso Latino- Americano de Ergonomia, I Seminário Brasileiro de Acessibilidade Integral, XII Congresso Brasileiro de Ergonomia. Recife, 2002. Disponível em: <http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br>. Acesso em: 09 jun. 2008.

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CAPÍTULO 3

AVALIAÇÃO MACROERGONÔMICA NO SETOR DE PRÉ-MONTAGEM DE MOTORES DE UMA

INDÚSTRIA DE MÁQUINAS AGRÍCOLAS

Fabiano Cervi, Marcelo Fabiano Costella, Patricia Dalla Lana Michel, Alessandro Graeff Goldoni

1. INTRODUÇÃO

Com a crescente demanda do mercado de máquinas agrícolas é necessário que as empresas busquem compatibilidade entre os sistemas produtivos e humanos, pois com este equilíbrio se obtém vantagens humanas e produtivas.

A participação dos funcionários é cada vez maior nas organizações que utilizam a ergonomia participativa, isso traz maior satisfação dos funcionários no trabalho, qualidade de vida e motivação (BROWN, 1995).

A maneira para implementar um processo varia de acordo com as necessidades, interesses e possibilidades de cada empresa. Com isso, o enfoque macroergonômico torna-se um elo entre o desenvolvimento de um processo e a implementação de uma cultura de ergonomia na empresa (GUIMARÃES, 2003).

Através da avaliação macroergonômica pode-se identificar quais os pontos de menor satisfação, oportunidades de melhorias, envolvimento dos funcionários nas possíveis soluções para os problemas encontrados e ainda um maior comprometimento dos colaboradores quando da implementação das melhorias propostas.

O objetivo geral deste trabalho é fazer uma avaliação macroergonômica no setor de pré-montagem de motores de uma indústria de máquinas agrícolas, buscando verificar o nível de satisfação dos funcionários em relação ao ambiente de trabalho.

Os objetivos específicos são: utilizar o método de avaliação

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macroergonômica do trabalho proposto por Guimarães (1999) no qual se utiliza a abordagem participativa durante a intervenção ergonômica; identificar quais os itens dos constructos necessitam melhorias em relação à percepção dos funcionários; definir prioridades a serem trabalhadas pela empresa, com base nos resultados obtidos.

2. O CONTEXTO DA ERGONOMIA NA HISTÓRIA DA INDÚSTRIA

A produção artesanal caracteriza-se por mão-de-obra altamente qualificada e ferramentas simples, mas flexíveis, para produzir exatamente o que o consumidor deseja. “Os modelos de gestão se desenvolvem de acordo com as situações (condicionantes) de uma época, em meio a circunstâncias históricas que explicam sua concepção, potencialidades e limitações” (GUIMARÃES, 2001, p. 3).

Segundo alguns historiadores, houve pelo menos duas revoluções industriais

a primeira começou pouco antes dos últimos trinta anos do século XVIII, caracterizada por novas tecnologias como a máquina a vapor. A segunda, aproximadamente 100 anos depois, destacou-se pelo desenvolvimento da eletricidade, do motor de combustão interna e pelo início das tecnologias de comunicação (CASTELLS, 1999).

Para Guimarães (2001) historicamente também se pode falar em trabalho padronizado e repetitivo, além da entrada maciça de mulheres e crianças no novo sistema de produção. Sob o ponto de vista da ergonomia, poderia se falar no seguimento do trabalho monótono, repetitivo.

De acordo com o autor, o desenvolvimento de métodos para atingir maior produção caracteriza uma importante fase na industrialização, o Taylorismo. Nesta fase trabalhou-se na minimização de movimentos inúteis, na economia de tempos, equipamentos, matéria-prima, espaço físico e recursos humanos. A preocupação era com a alocação de pessoas certas para a ferramenta, buscando redução de tempos inúteis no trabalho.

Já o Fordismo trabalhou com o aperfeiçoamento de linhas de montagens, re-organizando o sistema produtivo, padronizando seus produtos, desenvolvendo linhas de montagens móveis, com seus

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montadores fixos em seus postos, obtendo altíssima produção. Após alguns anos, por volta dos anos 60, surge o Neo-fordismo, que fez com que as linhas de produção passassem de linhas dedicadas para diversificadas, conquistando com isso maior diversificação de produtos (GUIMARÃES, 2001).

Dez anos depois, por questões de produção, o Taylorismo e o Fordismo entraram em queda e surgiu um novo sistema de produção no oriente, chamado Produção Enxuta. Este sistema de produção tornava os empregados membros da empresa, com todo um conjunto de direitos, entre eles, emprego vitalício. Os empregados também concordavam em ser flexíveis nas atribuições das tarefas e ativos na promoção dos interesses da companhia, introduzindo melhoramentos, em vez de apenas reagirem aos problemas (WOMACK et al., 1992).

Com a evolução dos processos produtivos e o desenvolvimento tecnológico obtido com o passar dos anos, surgiram novas exigências e demandas em relação ao homem e o trabalho. Segundo Moraes e Mont’Alvão (2000) com a aplicação da tecnologia sobre os sistemas de produção, enfatiza-se a necessidade de conhecer o homem. Os avanços da tecnologia aplicados à engenharia fizeram com que o homem se adaptasse, bem ou mal, às condições impostas pelas máquinas. Com a necessidade de obter maior conhecimento sobre a interface homem-máquina, fortifica-se o uso da ergonomia.

Conforme os autores, a origem do termo “Ergonomia” foi utilizada pela primeira vez em 1857, pelo polonês W. Jastrzebowski, que publicou como título de uma de suas obras “ensaio de ergonomia ou ciência do trabalho baseado sobre as verdadeiras avaliações das ciências da natureza”. No ano de 1949, quando da fundação da Ergonomics Research Society na Inglaterra, o termo “Ergonomia” foi oficialmente adotado (GUIMARÃES, 2002).

A definição de ergonomia para a Associação Brasileira de Ergonomia é “o estudo da adaptação do trabalho às características fisiológicas e psicológicas do ser humano”.

Dentro da ergonomia existe a macroergonomia, que é a visão macro da ergonomia, focalizando o homem, o processo de trabalho e a organização, o ambiente e a máquina. É a tecnologia de interface homem-organização-ambiente-máquina, portanto, o objetivo central é otimizar o funcionamento dos sistemas de trabalho, tendo em conta a interface do

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desenho organizacional com a tecnologia, o ambiente e as pessoas (MARTINEZ, 2002).

Hendrick (1993) define a macroergonomia como:

a ciência que trata de desenvolver conhecimentos sobre as capacidades, limites e outras características do desempenho humano e que se relacionam com o projeto de interfaces entre indivíduos e outros componentes do sistema. Como prática ela compreende a aplicação da interface homem-sistema a projetos de modificações de sistemas para aumentar a segurança, conforto e eficiência do sistema e da qualidade de vida.

Entre os vários métodos desenvolvidos ou adaptados para implantação da macroergonomia, um dos mais importantes é o método participativo (BROWN, 1995). A participação dos indivíduos envolvidos no processo de trabalho propicia que a intervenção ergonômica obtenha melhores resultados, pois reduz a margem de erros de concepção e garante que o novo sistema implantado tenha melhor aceitação por parte dos trabalhadores.

A participação dos trabalhadores deve ser estimulada em todas as fases, fazendo com que eles participem dos processos de mudanças, transferindo-lhes responsabilidades para que os mesmos possam desenvolver a utilização de suas habilidades, discernimento e julgamento (NAGAMACHI, 1996).

3. METODOLOGIA

O método aplicado neste trabalho é o Método da Análise Macroergonômica do Trabalho (AMT) proposto por Guimarães (1999). Esta análise está divida em seis fases distintas (lançamento do projeto, apreciação, diagnóstico, projetação, validação e detalhamento) que demonstram a importância da abordagem sistêmica na ergonomia e na priorização de problemas ergonômicos a serem solucionados, com envolvimento dos funcionários em todas as fases da pesquisa. Neste trabalho foram utilizadas as fases um, dois e três da metodologia, pois o objetivo do trabalho era identificar os itens de demanda que pudessem oportunizar melhorias na empresa. Não foram abordadas as outras três fases do método em função do tempo que se faz necessário para identificar

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as melhorias e executá-las, pois todos os problemas identificados passam por uma avaliação envolvendo pessoas de diferentes setores na busca por soluções adequadas para cada situação.

3.1 Fase 1: Lançamento do Projeto

Nesta fase é definido como cada participante atuará no projeto, apresentam-se os métodos e técnicas a serem desenvolvidos nas demais fases e é feito um cronograma de implementação.

3.2 Fase 2: Apreciação

Nesta fase é feito o mapeamento dos problemas e a classificação quanto ao grau de importância. Com o intuito de viabilizar a participação, a Análise Macroergonômica do Trabalho utiliza a ferramenta do Design Macroergonômico (DM), desenvolvida por Fogliatto e Guimarães (1999), para auxiliar no projeto macroergonômico dos postos de trabalho e de produto. O DM possui ferramentas para seleção de amostras e coletas de dados, como entrevistas e questionários estruturados, bem como estratégias para organização das informações obtidas, destacando a opinião dos usuários, pois elas permitem discriminar as diferentes demandas, denominadas Itens de Demanda Ergonômica (IDE), em função das atividades das pessoas.

3.3 Fase 3: Diagnóstico

Nesta fase é feita uma análise dos dados levantados na etapa anterior, de acordo com as prioridades estabelecidas. Utilizam-se observações sistemáticas planejadas estatisticamente. Deve-se definir o que medir, como medir e quais instrumentos e técnicas utilizar, e qual planejamento estatístico dever ser utilizado. As questões devem ser avaliadas e compreendidas nesta fase, pois a base para o projeto de qualquer produto, inclusive de um posto de trabalho é através de uma análise bem feita no diagnóstico.

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3.4 Fase 4: Projetação Ergonômica

Com base no diagnóstico, nesta fase devem-se sugerir soluções para as necessidades dos usuários ou itens de Demanda Ergonômica (IDE), levantados na apreciação e analisados no diagnóstico.

As soluções propostas são discutidas com todos os participantes e são definidas quais alternativas são viáveis e devem ser implementadas.

3.5 Fase 5: Validação

Todas as soluções propostas e viáveis devem ser implementadas e experimentadas pelos usuários, que junto com os especialistas farão a validação das propostas.

3.6 Fase 6: Detalhamento

Esta é a fase do detalhamento ergonômico e otimização do sistema, que são baseados na análise das atividades da tarefa real. São analisadas as modificações propostas, efetuadas as modificações finais a nível ambiental, de posto, de organização, ou seja, aquelas que se fizerem necessárias.

3.7 Entrevistas

As entrevistas foram realizadas com 30% do número de montadores do setor de pré-montagem de motores da indústria, seguindo o modelo macroergonômico proposto por Guimarães (2001) que sugere o uso de entrevistas abertas, ou seja, é feita uma única pergunta aos entrevistados: “Fale do seu trabalho”.

Os entrevistados foram selecionados aleatoriamente, conforme disponibilidade, após solicitação feita ao seu supervisor. As entrevistas foram feitas em duplas. Nestas entrevistas foram levantados os itens de demanda dos montadores que foram priorizados para formulação do questionário aplicado a todo o grupo posteriormente.

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Os itens foram separados por constructo, conforme o Quadro 1, sendo mencionados no constructo “Ambiente de Trabalho” os seguintes itens: temperatura, ventilação, fumaça de outros setores e ruído. No constructo “Organização do Trabalho”: ritmo, relacionamento com a chefia, rodízio de tarefas, espaço no local de trabalho, comunicação da liderança com os funcionários, turno de trabalho e relacionamento com colegas. Itens referentes ao constructo “Posto de Trabalho”: ferramentas utilizadas no trabalho, disposição do layout, esforço físico e postura na realização do trabalho. Os itens do constructo “Conteúdo do Trabalho” foram: pressão no trabalho e produtividade. E os itens do constructo “Empresa” foram: acesso ao restaurante em dia de chuva, acesso à empresa em dia de chuva, qualidade das refeições, atendimento da área de segurança e medicina do trabalho, atendimento da área de segurança patrimonial, atendimento da área de engenharia de processos e percurso de saída das bicicletas.

Quadro 1 – Constructos utilizados nas entrevistas

CONSTRUCTO ITEM DE DEMANDA

AMBIENTE DE TRABALHO

Temperatura

Ventilação

Fumaça de outros setores Ruído

ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

Ritmo

Relacionamento com a chefia

Rodízio de tarefas

Espaço no local de trabalho

Comunicação da liderança com funcionários Turno de trabalho

Relacionamento com colegas

POSTO DE TRABALHO

Disposição Layout

Esforço físico

Ferramentas utilizadas no trabalho Postura na realização do trabalho

CONTEÚDO DO TRABALHO Pressão no trabalho

Produtividade

EMPRESA

Acesso ao restaurante em dia de chuva

Acesso à empresa em dia de chuva

Qualidade das refeições Atendimento da área de segurança e medicina do

trabalho

Atendimento da área de segurança patrimonial

Atendimento da engenharia de processo

Percurso da saída das bicicletas

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3.8 Questionário

Após análise das entrevistas e separação por constructos, foi elaborado um questionário com 25 questões que consta do Apêndice A. O questionário busca identificar quais são os itens de demanda que precisam ser trabalhados com maior urgência na opinião de toda a população do setor.

Cada questão apresenta uma linha na qual os montadores deveriam fazer uma marca com um X de acordo com uma escala de 0 (insatisfeito) até 15 (satisfeito). Em cada extremidade e no centro da escala foram colocadas âncoras, da esquerda para direita: insatisfeito, neutro e satisfeito. As respostas de todos os montadores foram tabuladas em uma planilha Excel e calculadas as médias de cada resposta. Com os dados foram criados gráficos que mostram o nível de satisfação em cada item de demanda.

4. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A tabulação dos dados foi realizada em planilha Excel, na qual foram calculadas a média e o desvio padrão para cada questão. Estes resultados serviram de referência para a comparação entre os itens avaliados, partindo do princípio de que valores abaixo de 7,5 (média da escala que varia de 0 a 15, para satisfeitos e insatisfeitos, respectivamente) devem ser priorizados nas discussões dos grupos. Posteriormente, os dados foram agrupados por constructo, facilitando a compreensão dos mesmos. Foram criados gráficos para cada constructo, buscando um melhor entendimento dos resultados alcançados com a aplicação da pesquisa.

Com relação ao “Ambiente de trabalho”, o item de maior insatisfação foi a temperatura, seguido da ventilação, fumaça e ruído, todos abaixo da média, de 7,5. Isso mostra que deve-se fazer uma análise mais criteriosa quanto ao conforto térmico e acústico dos trabalhadores e verificar possíveis alterações para melhorar o ambiente de trabalho. A Figura 1 apresenta graficamente os resultados.

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Figura 1 – Avaliação do Ambiente de Trabalho

Quanto à “Organização do Trabalho”, houve quatro itens abaixo da média e três itens acima. O item relacionamento com colegas foi apontado com 6,63 e, portanto, deve ser trabalhado junto com a supervisão e gerência da área, para identificar quais os motivos que estão afetando o relacionamento. A comunicação com liderança foi avaliada com 5,34, esse item está diretamente ligado com a supervisão, que deve conversar com seus colaboradores e identificar as falhas de comunicação. Os itens com maior índices de satisfação foram o espaço no local de trabalho, o turno de trabalho, o rodízio de tarefas e o relacionamento com chefia. A Figura 2 apresenta graficamente os resultados.

Figura 2 – Avaliação da Organização do Trabalho

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Com relação ao “Posto de Trabalho”, a postura na realização do trabalho foi apontada com 6,51, mostrando insatisfação por parte dos montadores. Nesse item, cabe uma avaliação ergonômica específica da função, utilizando os requisitos da NR17. Na disposição do layout com 4,59, deve-se envolver os responsáveis pelo layout desta área e identificar quais são as melhorias que se fazem necessárias. Já o item ferramentas utilizadas no trabalho e o esforço físico apresentaram índices de satisfação favoráveis, conforme mostra a Figura 3.

Figura 3 – Avaliação do Posto de Trabalho

Referente ao “Conteúdo do Trabalho”, todos os itens ficaram acima da média, considerando um índice de satisfação aceitável pelos montadores. O item produtividade demonstrou um alto índice de satisfação, ou seja, os trabalhadores estão contentes com o nível de produtividade exigido, conforme mostra a Figura 4.

Figura 4 – Avaliação do Conteúdo do Trabalho

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Com relação à “Empresa”, os três itens que ficaram abaixo da média foram a qualidade das refeições, o acesso à empresa e ao restaurante em dia de chuva, este último foi apontado com 2,95, sendo o item de maior índice de insatisfação por parte dos trabalhadores. Segundo informações da gerência do setor, já existe um planejamento para a construção de uma cobertura entre a fábrica e o restaurante, para evitar que os funcionários se molhem nos dias de chuva. Os outros quatro itens, percurso da saída das bicicletas, atendimento da engenharia de processos, atendimento da área de segurança patrimonial e de segurança e medicina, ficaram bem acima da média, mostrando um índices de satisfação adequados. A Figura 5 apresenta graficamente os resultados.

Figura 5 – Avaliação da Empresa

Os resultados deste trabalho foram disponibilizados para os gestores da empresa juntamente com a sugestão de que seria pertinente fazer um plano de ação para os itens que apresentaram índices de satisfação abaixo da média de 7,5. Posteriormente os resultados também foram disponibilizados para os montadores e foram solicitadas sugestões para a solução dos problemas encontrados.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a crescente demanda de produção e busca por resultados cada vez maiores de qualidade, produtividade e, principalmente, segurança, cada vez mais a filosofia de conciliar fatores humanos e produtivos está crescendo na empresa e os trabalhos voltados a participação de todos os colaboradores na identificação e solução dos problemas existentes têm contribuído para o atendimento das metas estabelecidas pela companhia.

Com a aplicação da ferramenta de Análise Macroergonômica do Trabalho (AMT) foi possível identificar situações de insatisfação que até então não apareciam. Isso só foi possível porque o método utiliza-se da percepção dos trabalhadores, em que cada um expõe seus sentimentos em relação ao seu ambiente de trabalho. O item com maior índice de insatisfação demonstrado na pesquisa é o acesso ao restaurante em dia de chuva. Segundo informações da gerência do setor, já existe um planejamento para seja construída uma cobertura entre a fábrica e o restaurante, evitando que os funcionários venham a se molhar. Outros itens de insatisfação foram a temperatura e a ventilação do local de trabalho.

A avaliação também mostrou um elevado índice de satisfação dos funcionários com relação ao espaço no local de trabalho, demonstrando de que estes estão contentes com o local de execução de suas atividades, com relação à produtividade e ao atendimento da área de segurança e medicina, mostrando de que existe um suporte desta área no que se refere à segurança dos funcionários.

Com a aplicação da ferramenta de Análise Macroergonômica foi possível identificar situações de insatisfação por parte dos trabalhadores, assim, a empresa fica com uma série de pontos a serem trabalhados junto com seus funcionários e lideranças na busca por alternativas para que, cada vez mais, as pessoas sintam-se contentes em seu ambiente de trabalho, melhorando a produtividade, os índices de qualidade e, acima de tudo, a segurança de cada um no dia a dia de trabalho.

REFERÊNCIAS

BROWN, O. Jr. The Development and Domain of Participatory Ergonomics. In: IEA World Conference and Brazilian Ergonomics Congres, 7., Rio de Janeiro.

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48

Proceedings Rio de Janeiro, 1995.

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

FOGLIATTO, F.S. & GUIMARÃES, L. B. de M. Design Macroergonômico:

uma proposta metodológica para projetos de produtos. Produto & Produção (1999).

GUIMARÃES, L. B. de M. Histórico, ambiente e segurança. In: Guimarães. Ergonomia de Processo. 3. Ed. [Porto Alegre: UFRGS/PPEG]. cap. 3. v.2.; 2001.

GUIMARÃES, L. B. de M. Histórico, ambiente e segurança. In: Guimarães. Ergonomia de Processo. 4. Ed. [Porto Alegre: UFRGS/PPEG]. cap. 1.1. v.1.; 2002.

GUIMARÃES, L. B. de M. Análise Macroergonômica do Trabalho (ATM):

modelo de implementação e avaliação de um programa de ergonomia na

empresa. Material submetido à revista Produto & Produção, 2003.

HENDRICK, H. W. Macroergonomics: a new approach for improving

productivity, safety and quality of work live. In: Congresso Latino Americano, 2., Seminário Brasileiro de Ergonomia, 6., Florianópolis: ABERGO 93, p. 39-58.,1993.

MARTINEZ, R.M., Um pazo hacia El futuro: El desarrollo de La

macroergonomia. Boletin digital factores humanos. Disponível em: <http://boletin-fh.tid.es/bole23/art002.htm>. Acesso em: 08 set. 2008.

MORAES, A., MONT’ALVÃO, C. Ergonomia: conceitos e aplicações. 2ed.

ampliada. Rio de Janeiro, 2AB, 2000.

NAGAMACHI, M. Relationship between Job Design, Macroergonomics, and

Productivity. Human Factors and Ergonomics in Manufacturing. New York: John Willey. v. 6, n. 4, p. 309-322, summer 1996.

WOMACK, J.; JONES, D.; ROOS, D. A máquina que mudou o mundo. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1992.

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APÊNDICE A – Questionário de validação relativo à satisfação dos usuários

PREZADO COLEGA!

Este questionário não é obrigatório, mas sua opinião sobre o seu trabalho é MUITO

IMPORTANTE. Solicito, então, que você preencha seus dados: idade, tempo no setor,

turno e setor de trabalho e marque com um X, na escala, a resposta que melhor

representa sua opinião com relação aos diversos itens apresentados.

Não coloque o seu nome no questionário. As informações são sigilosas e servirão para o trabalho que está sendo desenvolvido. Muito obrigado.

Turno: ıııı Normal (07:30 – 17:18) ıııı A (6:00 – 15:48) ıııı B (15:48 – 00:11) ııııC (23:38 – 07:40) Setor de trabalho: ıııı Montagem do Motor Exemplo:

3. Time de futebol do Brasil

Insatisfeito neutro satisfeito

Marque na escala qual a sua opinião quanto às seguintes questões:

1. Ruído no seu ambiente de trabalho

Insatisfeito neutro satisfeito levemente2. Ventilação no seu ambiente de trabalho

Insatisfeito neutro satisfeito leve mente3. Temperatura no seu ambiente de trabalho

Insatisfeito neutro satisfeito

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4. Fumaça de outros setores

Insatisfeito neutro satisfeito Levemente5. Pressão no trabalho

Insatisfeito neutro satisfeito levemente 6. Ritmo do trabalho

Insatisfeito neutro satisfeito

7. Produtividade do trabalho

Insatisfeito neutro satisfeito

8. Auxílio dos colegas (trabalho em time)

Insatisfeito neutro satisfeito levemente9. Rodízio de tarefas

Insatisfeito neutro satisfeito

10. Disposição do layout (deslocamento)

Insatisfeito neutro satisfeito

11. Espaço no seu local de trabalho

Insatisfeito neutro satisfeito Lente12. Ferramentas utilizadas no trabalho

Insatisfeito neutro satisfeito

13. Esforço físico realizado durante seu trabalho

Insatisfeito neutro satisfeito

14. Postura adotada durante a realização do seu trabalho

Insatisfeito neutro satisfeito

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15. Acesso ao restaurante em dias de chuva

Insatisfeito neutro satisfeito

16. Acesso à empresa em dias de chuva

Insatisfeito neutro satisfeito

17. Relacionamento da Liderança com os funcionários

Insatisfeito neutro satisfeito

18. Comunicação da Liderança com os funcionários

Insatisfeito neutro satisfeito

19. Qualidade das refeições

Insatisfeito neutro satisfeito

20. Área de laser (local para descanso)

Insatisfeito neutro satisfeito

21. Turno de trabalho

Insatisfeito neutro satisfeito

22. Atendimento da área de Segurança, Meio Ambiente e Saúde

Insatisfeito neutro satisfeito

23. Atendimento da área de Segurança Patrimonial

Insatisfeito neutro satisfeito

24. Atendimento da área de Engenharia de Processo

Insatisfeito neutro satisfeito

25. Percurso de saída das bicicletas

Insatisfeito neutro satisfeito

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CAPÍTULO 4

ANÁLISE ERGONÔMICA NO SETOR DE QUEBRA DE CANAL DE UMA EMPRESA DE FUNDIÇÃO DE

METAIS NA CIDADE DE PASSO FUNDO, RS

Fernanda Guilem Fortes, José Eurides de Moraes, Carla Raquel Reolon de Oliveira, Juliana Kurek

1. INTRODUÇÃO

O fundamento da fundição consiste em obter peças moldadas empregando o método da fundição do metal em moldes. Para preparar um molde, o qual mais tarde irá receber o metal, é preciso um modelo que tenha as formas da futura peça. As cavidades interiores desta peça se formam colocando dentro do molde machos preparados com as misturas correspondentes. Os machos são empregados para formar na peça moldada as cavidades necessárias (MALISHEV et al., 1970). Além da cavidade, o molde deve conter canais e aberturas que permitam verter o metal líquido em seu interior e alimentar a peça fundida durante o processo de solidificação (KONDIC, 1973).

Após a desmoldagem da peça os canais são removidos manualmente por batidas firmes de marreta. Essa atividade exige grande esforço do trabalhador além de fazer com que ele a exerça com uma postura inadequada. Portanto, um estudo sobre os problemas ergonômicos existentes na atividade exercida no setor de quebra de canal da empresa de fundição é de relevante importância.

Considerado um setor estratégico no contexto econômico, a indústria de fundição destina 53% da sua produção para a indústria automotiva - já que não existe nenhum transporte motorizado que não utilize peças fundidas - e atende aos segmentos de máquinas e equipamentos industriais, implementos agrícolas, indústria naval, siderúrgica, redes de abastecimento de água e saneamento básico (REVISTA PORTUÁRIA, 2007). Atualmente são 1254 empresas

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localizadas especificamente nas regiões Sudeste e Sul do país que geram 58 mil empregos diretos. Também de relevante importância é o fato de que as empresas de fundição se caracterizam pelo trabalho braçal, pesado, com atividades estressantes e ambientes inóspitos. Por esta razão, os acidentes de trabalho, assim como os problemas ergonômicos, podem ocorrer com certa frequência, quando não observados os riscos que o ambiente oferece.

2. METODOLOGIA

Este trabalho foi realizado em uma empresa de fundição de ferro fundido nodular e cinzento, localizada na cidade de Passo Fundo, RS, limitando-se ao setor de quebra de canal.

A primeira etapa do trabalho é o reconhecimento do local, das tarefas e atividades realizadas pelo trabalhador e da organização do trabalho no setor estudado, através de visitas à empresa. Durante as visitas os registros das principais características do trabalho, assim como os principais problemas observados, se deram através de uma observação direta com o auxílio de fotos e vídeos para o registro das informações.

A segunda fase do trabalho é uma coleta detalhada de dados sobre o setor a ser analisado, no caso o setor de quebra de canal. Para isso foram utilizados formulários e entrevistas. Para uma coleta de dados quanto à tarefa realizada foi utilizado um formulário adaptado do formulário sugerido por Couto (2002) em um modelo prático apresentado no anexo A, que leva em consideração os seguintes pontos: descrição geral da tarefa, aspectos de dificuldades referidos pelos trabalhadores, descrição da atividade, situações ergonomicamente inadequadas e solução, e ainda fatores complementares como postura para trabalhar, diferença de método, tempo de ciclo, existência de ações técnicas distintas no ciclo de trabalho, ritmo e nível perceptível de tensão, tempo de trabalho e alternância de tarefas e condições do ambiente de trabalho.

Para um maior detalhamento da coleta de dados foram utilizados check-lists baseados em Couto (2002). A lista de verificação apresentada no anexo B é uma avaliação grosseira da condição ergonômica de um posto de trabalho. Este instrumento leva em consideração os aspectos ligados ao posicionamento vertical ou não do tronco e da cabeça do

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trabalhador, ao posicionamento vertical ou não dos braços do trabalhador, à existência de esforço estático, à existência de posições forçadas no membro superior, à intensidade da força feita pelas mãos, à frequência de repetitividade de algum tipo específico de movimento, ao apoio dos pés, à existência de esforço muscular, à possibilidade de flexibilidade postural e à possibilidade de pequenas pausas ou período definido de descanso durante a jornada.

A lista de verificação apresentada no anexo C é uma avaliação simplificada do risco de lombalgia, ou seja, dor nas costas. Este instrumento leva em consideração os aspectos ligados principalmente ao posicionamento do tronco no momento da execução da tarefa, ao valor da carga manuseada pelo trabalhador, à distância da carga manuseada do tronco e à posição do tronco no momento de manusear a carga.

A lista de verificação apresentada no anexo D é uma avaliação simplificada do fator biomecânico no risco de distúrbios músculo-esqueléticos de membros superiores relacionados ao trabalho. Este instrumento adota os seguintes critérios de avaliação: sobrecarga física, força com as mãos, postura no trabalho, posto de trabalho, repetitividade e organização do trabalho e ferramenta de trabalho.

Para cada item respondido nas avaliações A, B, C e D é atribuída uma nota 0 ou 1, dependendo da resposta que pode ser sim ou não. Para a interpretação dos resultados devem-se somar todos os pontos do questionário e classificar a atividade de acordo com a soma dos pontos obedecendo aos critérios de interpretação.

A última verificação é o cálculo do índice de sobrecarga biomecânica para ombro e coluna que está apresentado no anexo E. Este instrumento leva em conta os seguintes fatores: fator intensidade do esforço (FIE), fator duração do esforço (FDE), fator frequência do esforço (FFE), fator postura da mão, punho, ombro, coluna (FPMPOC), fator ritmo do trabalho (FRT) e fator duração do trabalho (FDT). Para cada fator existem classificações que correspondem a um multiplicador. O índice é obtido através da multiplicação de todos os fatores e, para a interpretação dos resultados a atividade é classificada a partir do valor encontrado.

Como complementação da metodologia e, para outros esclarecimentos quanto às questões ergonômicas que envolvem o setor, em estudo foram feitos questionários e entrevistas diretamente aos

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trabalhadores do setor de quebra de canal.

O questionário apresentado no apêndice A também foi utilizado para complementar a análise. Trata-se de um questionário simples preenchido pelo funcionário para maiores esclarecimentos quanto ao caso estudado.

3. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

3.1 Reconhecimento geral da situação em estudo

Os trabalhadores do setor de quebra de canal cumprem um horário de 8 horas de trabalho por dia, sendo que 4 horas são cumpridas na atividade de quebra e outras 4 horas na atividade do gancho. Isto acontece na forma de revezamento a, aproximadamente, cada hora de trabalho, coordenado pelos próprios trabalhadores do setor, ou seja, 1 hora quebrando o canal para a retirada da peça e 1 hora retirando as peças e os canais do local da quebra com o uso de um gancho e colocando-os nas respectivas cestas de armazenamento, e assim sucessivamente.

Todos os trabalhadores do setor são do sexo masculino, com média de idade de 23 anos, baixo grau de escolaridade, falta de qualificação profissional e uma média de tempo na empresa de 1 ano e 10 meses.

As situações ergonomicamente inadequadas mais evidentes nessa fase de observação são a repetitividade dos movimentos, o tronco encurvado do trabalhador na execução da tarefa, os braços erguidos acima do nível dos ombros e o esforço físico nítido como se pode observar nas Figuras 1 e 2.

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Figura 1: Situação ergonômica inadequada - Braços suspensos

acima do nível dos ombros

Figura 2: Situação ergonômica inadequada - Tronco encurvado

3.2 Posto de trabalho

Os principais pontos positivos para este resultado são a possibilidade de flexibilidade postural no trabalho e a existência de uma pequena pausa entre um ciclo e outro de trabalho. Mas o fato de as mãos fazerem muita força e da repetitividade frequente dos movimentos são fatores negativos para o resultado (Resultado: 5 pontos - condição ergonômica razoável).

3.3 Riscos ergonômicos

• Avaliação simplificada do risco de lombalgia

Resultado: 10 pontos - baixo risco de lombalgia

• Avaliação simplificada do fator biomecânico no risco de distúrbios músculo-esqueléticos de membros superiores relacionados ao trabalho:

Resultado: 17 pontos - fator biomecânico de moderada importância.

Através da observação deste resultado, alguns pontos podem ser

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considerados relevantes, como por exemplo, a necessidade do uso de luvas, a possibilidade de um pequeno descanso entre um ciclo e outro, o fato de que as mãos fazem muita força aparentemente, a detecção de que o esforço manual é repetido mais que oito vezes por minuto, o desvio lateral forçado do punho como rotina na execução da tarefa, a elevação dos braços acima do nível dos ombros também como rotina na execução da tarefa, a flexibilidade postural do trabalhador durante a jornada de trabalho, o ciclo de trabalho menor que 30 segundos, o revezamento nas tarefas e a boa estabilidade da pega do cabo da ferramenta que não é nem muito fino nem muito grosso.

A possibilidade de um pequeno descanso entre um ciclo e outro é um ponto positivo para o trabalhador, que em se tratando dos membros superiores, segundo Couto (2006), durante a realização de um esforço físico, a existência de uma pausa ajuda a prevenir lesões por três motivos: a) para normalizar o fluxo de sangue e “lavar” o ácido lático do músculo no caso de um esforço muscular estático; b) para que os tendões voltem a sua estrutura natural, no caso de alta repetitividade de um movimento; e c) para que haja a lubrificação dos tendões. Já quando a carga de trabalho físico ultrapassa os limites da capacidade aeróbica do trabalhador, as pausas passam a representar o mecanismo fisiológico de compensação e de prevenção da fadiga. Quanto mais frequentes e menores as pausas, melhor será a recuperação do trabalhador e tanto melhor poderá manter seu ritmo de trabalho (COUTO, 2006).

O rodízio ou revezamento das tarefas é outra forma de diminuir o risco de problemas ergonômicos, pois dessa maneira há uma variação das ações, diminuindo assim a repetitividade dos movimentos.

Já o uso de luvas é um aspecto negativo nesse caso, pois reduz a sensibilidade táctil, o que acarreta aumento na força de preensão (LEÃO; PERES, 2008). Outro problema ergonômico são movimentos vigorosos e repetidos dos membros superiores, com os braços acima do nível dos ombros que podem resultar em isquemia, inflamação e dor.

• Índice de sobrecarga biomecânica para ombro e coluna

Resultado: 9 pontos - alto risco de lesão

Para o fator intensidade do esforço a classificação se dá como algo pesado que corresponde ao multiplicador 3, ou seja, percebe-se algum esforço do trabalhador ao executar a tarefa. Para o fator duração do

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esforço a classificação se dá entre (50 e 79)%, que corresponde ao multiplicador 2, ou seja, a relação entre o tempo de esforço no ciclo e o tempo do ciclo fica entre (50 e 79)%. Para o fator frequência do esforço a classificação se dá entre 4 e 8, que corresponde ao multiplicador 1, ou seja, considerando as diversas ações técnicas executadas pelo trabalhador a correspondente frequência do esforço varia de 4 a 8. Para o fator postura da mão, punho, ombro e coluna a classificação se dá como ruim, que corresponde ao multiplicador 2, pois há um desvio nítido principalmente da coluna do trabalhador na execução da tarefa. Para o fator ritmo de trabalho a classificação se dá como razoável, que corresponde ao multiplicador 1, pois o ritmo de trabalho observado é normal. O fator duração do trabalho se dá entre 2 e 4, que corresponde ao multiplicador 0,75, ou seja, o trabalhador permanece de 2 a 4 horas por turno na mesma função.

Isto se deve principalmente ao fato de que há esforço físico na execução da atividade, de que a duração do esforço é um valor considerável e de que o desvio principalmente da coluna é nítido.

• Questionário

O questionário utilizado mostra que o trabalhador dorme bem e tem disposição para fazer outras atividades após a jornada de trabalho. Não se sente física nem mentalmente cansado e não sente nenhuma dor ou desconforto durante a execução das tarefas, isso só acontecia nos primeiros dias de trabalho nessa atividade.

As exigências impostas pelo trabalho não são difíceis. O trabalho executado diariamente não é pesado e não exige muita atenção e raciocínio. Não existe nenhum tipo de pressão imposta em relação à supervisão ou metas a cumprir. As horas-extras são pouco frequentes e não há nenhum tipo de treinamento que torne o trabalho mais leve operacionalmente. Vale lembrar que esta constatação é baseada nas respostas dos trabalhadores, portanto expressa apenas a opinião dos mesmos.

4. CONCLUSÕES DA PESQUISA

Levando em conta a revisão bibliográfica e os dados obtidos pelo

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estudo desse trabalho são apresentadas as seguintes conclusões:

a) Há esforço físico relevante na execução das tarefas observadas principalmente nos braços, ombros e tronco no setor de quebra de canal;

b) A questão postural mais crítica na situação analisada é o tronco encurvado na maioria do tempo da execução da atividade de quebra de canal;

c) Os problemas ergonômicos causados ao trabalhador devido à atividade exercida no setor de quebra de canal são: tronco encurvado, braços suspensos acima do nível dos ombros e esforço nítido.

Interpretando-se as listas de verificação e os índices obtidos observa-se que o trabalhador do setor de quebra de canal de uma fundição tem uma condição ergonômica razoável do posto de trabalho, o trabalhador corre um baixo risco de lombalgia e um alto risco de lesões biomecânicas de ombro e coluna.

REFERÊNCIAS

COUTO, H. A. Como Implantar Ergonomia na Empresa: a prática dos comitês de ergonomia. Belo Horizonte: Ergo, 2002.

COUTO, H. A. Ergonomia Aplicada ao Trabalho: o manual técnico da máquina humana. Vol I. Belo Horizonte: Ergo, 2006.

COUTO, H. A. Ergonomia Aplicada ao Trabalho: o manual técnico da máquina humana. Vol II. Belo Horizonte: Ergo, 2006.

KONDIC, V. Princípios Metalúrgicos de Fundição. São Paulo: Polígono, 1973.

LEÃO, R. D.; PERES, C. C. Noções sobre Dort, Lombalgia, Fadiga, Antropometria, Biomecânica e Concepção do posto de trabalho. Disponível em: <http://www.ipef.br/publicacoes/scientia/nr76/cap07.pdf>. Acesso em: 10 dez. 2008.

MALISHEV, A.; NIKOLAIEV, G.; SHUVALOV, Y. Tecnologia dos Metais. Trad. de L. A. Caruso. São Paulo: Mestre Jou, 1970.

REVISTA PORTUÁRIA. 01 outubro 2007. Disponível em: <http://www.revista portuaria.com.br/?home=noticias&n=zST&t=setor-fundico-fortalece-sua-participacão-cenario-economico-brasileiro>. Acesso em: 10 jun. 2008.

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APÊNDICE A – Questionário

1. Dados pessoais:

Sexo: masculino ( ) feminino( ) Idade: _________ Tempo de trabalho na empresa: Horário de trabalho: _________ Horas por dia: ____________ Sua

atividade na empresa: _______________________________ Escolaridade: ( ) 1º grau incompleto ( ) 1º grau completo ( ) 2º grau incompleto ( ) 2º grau completo ( ) 3º grau incompleto ( ) 3º grau completoNúmero de filhos: ______________ dependentes: ___________

2. Após a jornada de trabalho você se sente fisicamente:

( ) Cansado ( ) Muito cansado ( ) Dorme bem ( ) Com dificuldades para dormir ( ) Tem disposição para fazer outras coisas Mentalmente, você está: ( ) Bem ( ) Muito bem ( ) Cansado ( ) Muito cansado ( ) Sem disposição nenhuma ( ) Esgotado

3. Você sente alguma dor ou desconforto durante a execução das atividades do seu trabalho?

( ) Sim ( ) Não

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ANEXO A – Formulário

Formulário Data: Unidade: Área: Linha: Nº equipamento/máquina: Tarefa: Problema/preocupação ergonômica: 1. Descrição geral da tarefa: 2. Principais aspectos de dificuldades referidos pelos trabalhadores: 3. Sequência de ações técnicas (ou passos do trabalho ou situações de trabalho), identificação de situações ergonomicamente inadequadas e solução:

Descrição da atividade

(sequência de ações técnicas ou passos do trabalho ou situações de

trabalho)

Situações ergonomicamente

inadequadas

Partes do corpo

Gravidade A-M-B

Solução

4. Fatores complementares Postura para trabalhar (em pé, sentado, andando) Diferença de método (verificar se operadores de turnos e linhas diferentes trabalham da mesma forma) Tempo de ciclo (produção padrão ou tempo padrão – baseado em crono-análise – ref. ______; tempo de ciclo prescrito, tempo de ciclo real) Existência de ações técnicas distintas no ciclo de trabalho Ritmo e nível perceptível de tensão (ritmo evidente, horas-extras, dobras, relação produção x realizada) Tempo de trabalho (quantidade de horas efetivas no posto/turno) e alternância de tarefas(informar as tarefas com as quais ocorre rodízio) Ambiente (iluminação, ruído, conforto térmico, etc.) 5. Evidências: ( ) Vídeo ( ) Foto ( ) Desenho 6. Identificador: ( ) Informe de desconforto pelos trabalhadores ( ) Médico ( ) Proativo ( ) Inspeção7. Instrumentos de avaliação complementar: ( ) Check list de COUTO ( ) Moore e Garg ( ) LPR ( ) Modelo biomecânico ( ) Dinamometria eletrônica ( ) EMG de superfície ( ) Freqüência cardíaca ( ) Metabolimeria ( ) Outros 8. Observações:

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ANEXO B – Check-list para avaliação da condição ergonômica

Não (0) Sim (1)

Não (0) Sim (1)

Sim (0) Não (1)

Sim (0) Não (1)

Sim (0) Não (1)

Sim (0) Não (1)

Não (0) Sim (1)

Sim (0) Não (1)

Não (0) Sim (1)

Não (0) Sim (1)Critérios de interpretação10 pontos - condição ergonômica em geral excelente7 a 9 pontos - boa condição ergonômica5 ou 6 pontos - condição ergonômica razoável3 ou 4 pontos - condição ergonômica ruim0,1 ou 2 pontos - péssima condição ergonômica

CHECK LIST GERAL PARA AVALIAÇÃO GROSSEIRA DA CONDIÇÃO ERGONÔMICA DE UM POSTO DE TRABALHO

1. O corpo (tronco e cabeça) está na vertical?

2. Os braços trabalham na vertical ou próximos da vertical?

3. Existe alguma forma de esforço estático?

4. Existem posições forçadas no membro superior?

5. As mãos tem que fazer muita força?

6. Há repetitividade frequente de algum tipo específico de movimento?

7. Os pés estão apoiados?

8. Tem-se que fazer esforço muscular forte com a coluna ou outra parte do corpo?

9. Há a possibilidade de flexibilidade postural no trabalho?

10. A pessoa tem a possibilidade de uma pequena pausa entre um ciclo e outro ou há um período definido de descanso após um certo número de horas de trabalho?

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ANEXO C – Check-list para avaliação do risco de lombalgia

Sim (0) Não (1)

Sim (0) Não (1)

Sim (0) Não (1)

Sim (0) Não (1)

Sim (0) Não (1)

Sim (0) Não (1)

Sim (0) Não (1)

Sim (0) Não (1)

Sim (0) Não (1)

Sim (0) Não (1)

Sim (0) Não (1)

Sim (0) Não (1) Critério de Interpretação11 ou 12 pontos - baixíssimo risco de lombalgia8 a 10 pontos - baixo risco de lombalgia6 a 7 pontos - risco moderado de lombalgia4 ou 5 pontos - alto risco de lombalgia0 a 3 pontos - altíssimo risco de lombalgia

5. O trabalho envolve fazer esforço com ferramentas ou com as mãos estando o tronco encurvado?

6. O trabalho envolve a necessidade de manusear (levantar ou puxar ou empurrar) cargas que estejam longe do tronco?

7. O trabalho envolve a necessidade de manusear cargas (levantar, puxar ou empurrar) com o tronco em posição assimétrica?

8. O trabalho envolve a necessidade de carregar cargas mais pesadas que 20 kg mesmo ocasionalmente?

9. O trabalho envolve a necessidade de carregar cargas mais pesadas que 10 kg frequentemente?

10. O trabalho envolve a necessidade de carregar cargas na cabeça?

CHECK-LIST PARA AVALIAÇÃO SIMPLIFICADA DO RISCO DE LOMBALGIA

1. O trabalho envolve posicionamento estático do tronco em posição fletida entre 30 e 60 graus?

2. O trabalhador tem que frequentemente atingir o chão com as mãos, independente de carga?

4. O trabalho envolve pegar cargas do chão, independente de peso, em freqüência maior que 1 vez por minuto?

3. O trabalho envolve pegar cargas maiores que 10 kg em freqüência maior que uma vez a cada 5 minutos?

11. O trabalho envolve a necessidade de ficar constantemente com os braços longe do tronco em posição suspensa?

12. O trabalho exige que o trabalhador fique com o tronco em posição estática, sem apoio?

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ANEXO D – Check-list para avaliação simplificada do fator biomecânico

3. Postura no Trabalho:3.1. Há algum esforço estático da mão ou do antebraço como rotina na realização do trabalho?Sim (0) Não (1) 3.2. Há algum esforço estático do braço ou do pescoço como rotina na realização do trabalho?Sim (0) Não (1) 3.3. Há extensão ou flexão forçadas do punho como rotina na execução da tarefa?Sim (0) Não (1) 3.4. Há desvio lateral forçado do punho como rotina na execução da tarefa?Sim (0) Não (1) 3.5. Há abdução do braço acima de 45 graus ou elevação dos braços acima do nível dos ombros como rotina execução da tarefa?Sim (0) Não (1) 3.6. Existem outras posturas forçadas dos membros superiores?Sim (0) Não (1) 3.7. O trabalhador tem flexibilidade na sua postura durante a jornada?Não (0) Sim (1)

Sim (0) Não (1)

2.Força com as mãos2.1. Aparentemente as mãos têm que fazer muita força?Sim (0) Não (1) 2.2. A posição de pinça (pulpar, lateral ou palmar) é utilizada para fazer força?Sim (0) Não (1)

Não (0) Sim (1)

1.3. O trabalho é feito em condições ambientais de frio excessivo?Sim (0) Não (1) 1.4. Há necessidade do uso de luvas?Sim (0) Não (1) 1.5. Entre um ciclo e outro há a possibilidade de um pequeno descanso? Ou há pausa bem definida de cerca de 5 a

1.1. Há contato da mão ou punho ou tecidos moles com alguma quina viva de objetos ou ferramentas?Sim (0) Não (1) 1.2. O trabalho exige o uso de ferramentas vibratórias?

minutos por hora?

CHECK-LIST PARA AVALIAÇÃO SIMPLIFICADA DO FATOR BIOMECÂNICO NO RISCO PARA DISTÚRBIOS MÚSCULO-ESQUELÉTICOS DE MEMBROS SUPERIORES RELACIONADOS AO

TRABALHO1. Sobrecarga Física

Sim (0) Não ou não se aplica (1)

2.3. Quando usados para apertar botões, teclas ou componentes, para montar ou inserir, ou para exercer compressão digital, a força de compressão exercida pelos dedos ou pela mão é de alta intensidade?

2.4. O esforço manual detectado é feito durante mais que 10% do ciclo ou é repetido mais que 8 vezes por minuto?

Sim (0) Não (1)

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4. Posto de Trabalho4.1. O posto de trabalho permite flexibilidade no posicionamento das ferramentas, dispositivos ecomponentes, incluindo inclinação dos objetos quando isto for necessário?Não (0) Sim (1) Desnecessária a flexibilidade de que se trata este item (1)4.2 A altura do posto de trabalho é regulável?Não (0) Sim (1) Desnecessária a regulagem (1) 5. Repetitividade e Organização do Trabalho5.1. O ciclo de trabalho é maior que 30 segundos? Ou a mesma operação ou mesmo movimento é feito menos de 1.000 vezes num turno?Não(0) Sim (1) Não há ciclos (1)5.2. No caso de ciclo maior que 30 segundos, há diferentes padrões de movimentos (de forma que nenhum elemento da tarefa ocupe mais que 50% do ciclo?)Não (0) Sim (1) Ciclo < 30 segundos (0) 5.3. Há rodízio (revezamento) nas tarefas?Não (0) Sim (1) 5.4. Percebe-se sinais de estar o trabalhador com o tempo apertado para realizar sua tarefa?Sim (0) Não (1)5.5. A mesma tarefa é feita por um mesmo trabalhador durante mais que 4 horas por dia?Sim (0) Não (1)6. Ferramenta de Trabalho6.1. Para esforços em preensão:O diâmetro da manopla da ferramenta tem entre 20 e 25 mm (mulheres) ou entre 25 e 35 mm (homens)? Para esforços em pinça: O cabo não é muito fino nem muito grosso e permite boa estabilidade da pega? Não (0 ) Sim (1) Não há ferramenta (1)6.2. A ferramenta pesa menos de 1 kg ou, no caso de pesar mais de 1 kg, encontra-se suspensa por dispositivo capaz de reduzir o esforço humano?Não (0) Sim (1) Não há ferramenta (1)Critérios de interpretação:Acima de 22 pontos: ausência de fatores biomecânicosEntre 19 e 22 pontos: fator biomecânico pouco significativoEntre 15 e 18 pontos: fator biomecânico de moderada importânciaEntre 11 e 14 pontos: fator biomecãnico significativoAbaixo de 11 pontos: fator biomecânico muito significativo

ANEXO D - CONTINUAÇÃO

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ANEXO E – Índice de sobrecarga biomecânica

FIE = Fator Intensidade do Esforço FDE = Fator Duração do Esforço

FFE = Fator Freqüência do esforço FPMPOC = Fator Postura da Mão, Punho, Ombro, Coluna

FRT = Fator Ritmo do Trabalho FDT = Fator Duração do Trabalho

Fator Intensidade do EsforçoMULTIP.

136913

Fator Duração do EsforçoMULTIP.

0,51

1,523

Fator Freqüência do EsforçoMULTIP.

0,51

1,523

MULTIP.

11

1,523

MULTIP.

MULTIP.

0,250,50,75

11,5

FATOR CLASSIFICAÇÃO

FDT FATOR DURAÇÃO

DO TRABALHO

<1 hora1-2.2-4.4-8.>8

<80%81-90%

91-100%91-100% apertado, mas conseguindo acompanhar

>116% apertado e não consegue acompanhar=� ���6.���������1��2�*3�

FATOR CLASSIFICAÇÃO CARACTERIZAÇÃO

FRT FATOR RITMO DE TRABALHO

Muito lentoLento

RazoávelRápido

Muito rápido

NeutroPróximo ao neutro

Não neutroDesvio nítido

Desvio próximo dos extremosFator Ritmo de Trabalho

FPMPOC FATOR DA MÃO,

PUNHO, OMBRO E COLUNA

Muito boaBoa

RazoávelRuim

Muito ruim

=� �����0 .������$�� ��.�3� ���2�� ���*.��

FATOR CLASSIFICAÇÃO CARACTERIZAÇÃO

CLASSIFICAÇÃO

FATOR CLASSIFICAÇÃO

FFE FATOR

FREQÜENCIA DO ESFORÇO

<3 por minuto4-8.9-14.15-19.>20.

Esforço nítido; sem mudança de expressão facialEsforço nítido; mudança de expressão facial

Usa tronco e ombros; e outros grupamentos auxiliares

ÍNDICE DE SOBRECARGA BIOMECÂNICA:

FIE x FDE x FFE x FPMPOC x FRT x FDT

FATOR CARACTERIZAÇÃO

30-49%50-79%>80%

LeveAlgo pesado

PesadoMuito pesado

Próximo ao máximo

TranqüiloPercebe-se algum esforço

FATOR

FIE FATOR

INTENSIDADE DO ESFORÇO

CLASSIFICAÇÃO

FDE FATOR

DURAÇÃO DO ESFORÇO

<9%10-29%

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CAPÍTULO 5

ANÁLISE MACROERGONÔMICA DE POSTO DE TRABALHO DE CAIXA BANCÁRIO

Leonardo Cerato Reveilleau, Roni César Rech Silveira Andréia Saúgo, Marcele Salles Martins

1. INTRODUÇÃO

Os bancos brasileiros passaram por diversas transformações, para possibilitar a manutenção da lucratividade em um mercado altamente competitivo. Tornou-se essencial nessa estratégia de disputa por maior lucratividade o aumento do número de clientes havendo, por consequência, um aumento no número de agências bancárias. Houve uma diversificação dos produtos oferecidos pelos bancos, incluindo seguros, pagamentos de salários, recebimentos de tributos e taxas em geral e financiamentos diversos, aumentando demasiadamente a demanda de serviços (BELMONTE, 1998; VASCONCELOS et al, 1997; CAMPELLO E SILVA NETO, 1992).

O trabalho de bancário, há alguns anos atrás, era sinônimo de status, bons salários, prestígio e ascensão profissional. Atualmente essa atividade se transformou em um local de sobrecarga de trabalho, tensão psicológica e insegurança (CENCI, 1999).

Observa-se então que alguns fatores podem desencadear doenças ocupacionais entre os caixas executivos de instituições bancárias, como os de natureza ergonômica (alta repetitividade de movimentos e posturas incorretas); de natureza organizacional (ritmo apertado de trabalho, ausência de pausas) e de natureza psicossocial (pressão excessiva para os resultados e ambiente tenso).

Esta análise, focada no design macroergonômico, é muito importante pois objetiva ouvir os usuários (neste caso os caixas bancários) quanto as suas necessidades, nas soluções de problemas, nas realizações das demandas, no projeto de produtos e postos de trabalho, utilizando princípios da macroergonomia e da ergonomia participativa.

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O trabalhador é nutrido por um sentimento de responsabilidade, que resulta em maior motivação e satisfação, quando lhe é permitida a participação no processo decisório (NAGAMACHI, 1996). Segundo Korunka et al. (1995) e Smith (1997) existe uma relação entre a falta de participação do trabalhador no processo de mudança, a ocorrência de queixas físicas e psíquicas e a redução na satisfação com o trabalho.

O resultado desta interação, além de permitir que as soluções dos problemas surjam de onde eles acontecem, causa maior motivação, bem-estar aos trabalhadores e consequente maior produtividade com qualidade nos serviços demandados pela empresa.

Esta investigação nos postos de trabalho dos caixas de bancos foi realizada para possibilitar a resolução dos principais problemas ocupacionais existentes no setor.

Deste modo, o objetivo geral é identificar as demandas (percepções, desejos, expectativas) dos caixas executivos de uma instituição financeira bancária e o estabelecimento de metas que atendam a tais expectativas e resolvam os problemas existentes com a interferência e opinião dos próprios trabalhadores, através da aplicação das ferramentas do método design macroergonômico (DM).

2. ERGONOMIA: DEFINIÇÕES

Grandjean (1998) afirma que, como ciência, a ergonomia tem 40 anos, mas seus efeitos são tão antigos quanto o homem. O homem tem estado ocupado em tornar o trabalho mais leve e mais eficiente desde a invenção da roda até o moderno computador. A palavra ergonomia vem do grego: ergo que significa trabalho e nomos que significa legislação, normas.

Moraes e Mont’Alvão (1998) apud Tondo e Maccari (2003) consideram que a origem do termo ergonomia foi utilizada pela primeira vez no dia 08 de junho de 1949, como campo do saber específico, pelo psicólogo Inglês K. F. Hywell Murrel, quando pesquisadores resolveram formar uma sociedade para o estudo dos seres humanos, no seu ambiente de trabalho - a Ergonomic Research Society. Nesta data em Oxford criou-se a primeira sociedade de ergonomia, formada por psicólogos, fisiologistas, engenheiros ingleses e pesquisadores interessados nas

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questões relacionadas à adaptação do trabalho ao homem.

Para Couto (1995) e Iida (1990) a ergonomia é o estudo da adaptação confortável e produtiva entre o ser humano e o seu trabalho, incluindo ambiente físico, aspectos organizacionais do trabalho, seu controle e programação, e toda situação em que há o relacionamento entre o homem e seu trabalho.

De acordo com Moraes e Mont’Alvão (1998) e Iida (1990) a ergonomia tem como objetivos: melhorar as condições específicas do trabalho humano com relação à higiene e à segurança do trabalho, com relação à satisfação e ao bem estar dos trabalhadores, visando determinar procedimentos mais racionais e formas mais produtivas de efetuar a tarefa.

Baú (2002) cita outras abordagens ergonômicas, classificando como: Ergonomia de conscientização, que se refere à informação, treinamento e capacitação feita geralmente através de palestras, cursos e orientações individuais; Ergonomia de correção, realizada a partir de uma situação de referência já existente, através de adaptações e pequenas mudanças, é a ergonomia mais praticada, devido à possibilidade de alterações mais rápidas e de fácil acesso pelo custo reduzido; Ergonomia de concepção, procura avaliar, criando novos conceitos desde a localização, layout, iluminação, equipamentos, para interferir nos aspectos: máquina, ambiente, informação, organização e consequências do trabalho.

Ainda segundo o autor, dentro da ergonomia de concepção está a macroergonomia, que é centrada sobre o meio ambiente, sistemas sócio técnicos, aspectos culturais e ideológicos. Sua tendência é levar em conta um princípio básico da ergonomia: o problema orientado, que implica na procura de uma solução, levando à necessidade de um diagnóstico preliminar.

2.1 Contextualização dos riscos ocupacionais

Os fatores de natureza ergonômica (força excessiva, alta repetitividade de um mesmo padrão de movimento, posturas incorretas dos membros superiores, compressão das delicadas estruturas dos membros superiores, frio, vibração e postura estática) conforme Couto et al. (1998) são considerados atualmente os principais fatores causadores dos

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problemas identificados como Lesões por Esforços Repetitivos - LER ou,preferencialmente, Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho - DORT. No entanto, fatores de natureza organizacional e psicossocial são elementos que contribuem de forma acentuada na formação deste quadro.

Mattei (1995) afirma que seriam minimizados o aparecimento de lesões e desconfortos relacionados ao trabalho, se primeiramente fosse desenvolvido um programa de intervenção ergonômica, com a avaliação da tarefa e do posto de trabalho, assim poderiam ser identificados os fatores críticos do local, para introdução de correções e melhorias. Uma das formas de prevenção usadas atualmente nas empresas, segundo Dias (1994) é a aplicação de ginástica laboral, realizada pelos funcionários coletivamente, dentro do próprio local de trabalho, servindo como instrumento para promoção de saúde, prevenção de lesões e acidentes e melhora na qualidade de vida.

Segundo o autor, a postura fixa do trabalhador, principalmente em trabalhos sedentários, é um dos fatores que acarretam riscos. Quando os locais de trabalho e as posturas são similares, mas um trabalho permite maior movimentação que o outro e mudanças de postura, uma menor porcentagem de trabalhadores apresentam queixas de problemas músculos-esqueléticos. Porém, trabalhos mais dinâmicos com posturas extremas como torções de tronco, abaixar e virar para o lado também foram identificadas como fatores de risco.

A interação de uma série de fatores ocupacionais e individuais, que incluem características do posto de trabalho, tais como a altura da mesa ou bancada, a altura e encosto da cadeira, distâncias de alcance em relação a equipamentos utilizados, formato e tamanho dos dispositivos e as características antropométricas do trabalhador, influenciam nos desvios de postura do mesmo (CODO; ALMEIDA, 1998).

Atualmente enfrenta-se em todas as organizações uma forte turbulência, proveniente da influência da tecnologia da informação, que acarreta mudanças e incertezas no mundo do trabalho e, consequentemente, ao indivíduo da sociedade contemporânea. O bancário dentro da organização em que trabalha, seja ela pública ou privada, sofre toda a influência das incessantes mudanças decorrentes da economia globalizada, em que as atividades e os negócios não conhecem fronteiras.

Em praticamente todas as funções que exerce, o trabalhador é alvo

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de cobranças de conhecimento, qualidade, criatividade, excelência, habilidades múltiplas. O fato de ser o propulsor da atividade econômica e do sucesso globalizado vem afetando a sua saúde e qualidade de vida, necessitando de uma administração com estratégias voltadas para o ser humano integral, suas necessidades físicas e subjetivas, para suportar a pressão de todo o processo de informação e tecnologia. Do mesmo modo, os caixas executivos também são afetados com os mesmos benefícios e males dos trabalhadores da era da informatização.

Souza e Silva (1999) dizem que um dos fatores que contribuem para as posturas tensas no trabalho, aumento de competitividade e desgaste emocional é a tensão excessiva entre os trabalhadores. Os autores retratam as transformações advindas com a possibilidade de privatização de instituições públicas, aliadas às mudanças que ocorrem no setor bancário visando à automação de tarefas antes realizadas pelo ser humano.

Freidenson, Souza e Queiroz (1999) concluíram também que trabalhar sob tensão é prejudicial na medida em que os movimentos ocorrem com uma musculatura contraída, mantida por longos períodos, podendo acarretar agravos à saúde.

Dugdill (2000) diz que os fatores psicossociais como o envolvimento com o projeto de trabalho, a habilidade para tomar decisões e o controle sobre o trabalho, são considerados positivos à saúde do trabalhador. O autor sugere uma aproximação mais holística para o desenvolvimento do ambiente de trabalho, envolvendo profissionais da saúde nos projetos, conjuntamente com representantes da força de trabalho.

Significativas mudanças na organização e no conteúdo das tarefas de caixa foram geradas com a automação de certas atividades. De um lado diminuiu a carga física e a possibilidade de erro, de outro, acentuou a simplificação do fluxo e do conteúdo da tarefa, interferindo no ritmo, na produtividade, interação com o cliente e no significado do trabalho (JORDÃO e MIGUEZ, 1989).

Couto et al. (1998) afirmam que alterações psicológicas importantes podem ser desenvolvidas por qualquer pessoa quando submetida à tensão excessiva, tendo dor como consequência.

Tensão e cansaço, que são fatores decorrentes do modelo de organização do trabalho bancário, são bem detalhados por Seligman Silva

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(1986; 1994) e por Ferreira (1993). Algumas de suas causas são: a questão do tempo de jornada insuficiente para cumprir as tarefas prescritas, com consequente prolongamento do tempo de trabalho, acúmulo de funções e insuficiência de empregados, pausas pequenas ou inexistentes em função do intensivo ritmo de trabalho, pressões e controles exercido pelas chefias, máquinas, autenticações, avaliação de desempenho, pressão para cumprimento de prazos, metas, pressão das filas, dos clientes e a necessidade de manter a cordialidade permanentemente, a grande responsabilidade em relação ao dinheiro de terceiros, possibilidade de ser vítima de fraudes, medo de assalto, limitações das perspectivas de carreira e temor pelo desemprego, principalmente nos bancos privados.

2.2 Revisão Metodológica

A metodologia utilizada será o Design Macroergonômico (FOGLIATTO, GUIMARÃES, 1999) que é uma metodologia em que os usuários são estimulados a manifestarem suas preferências e a participarem ativamente no projeto que leva a soluções com características orientadas à satisfação da demanda ergonômica do usuário.

De acordo com os autores, a ferramenta DM compreende sete etapas que serão descritas a seguir:

1) Identificação do usuário e coleta de informações acerca de sua demanda ergonômica, que é a determinação dos indivíduos desempenhando atividades diretamente influenciadas por decisões tomadas no projeto de um dado produto;

2) Priorização dos itens de demanda ergonômica (IDEs) identificados pelo usuário, com o objetivo de criar um ranking de itens demandados, que pode ser feito em duas etapas. Inicialmente, identificam-se os Índices de Demandas Ergonômicas (IDEs) através de uma entrevista espontânea ou estruturada. Esses itens consistem, geralmente, de características ou itens almejados pelo usuário. Os IDEs levantados são priorizados utilizando a frequência e a ordem de menção dos itens pelos entrevistados. Na sequência, os usuários recebem uma lista de itens de demanda e identificam seu grau de importância utilizando uma escala contínua, de 15 cm, com duas âncoras nas extremidades (pouco importante e muito importante) e outra no centro da escala (importante). Marcas nesta

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escala são diretamente transformadas em valores numa escala de 0 a 15. O grau de importância apontado pelos usuários permite uma priorização dos IDEs;

3) Incorporação da opinião de especialistas (ergonomistas, designers, engenheiros, etc.) com vistas à correção de distorções apresentadas no ranking obtido, bem como à incorporação de itens pertinentes de demanda ergonômica não identificada pelo usuário. É comum que itens ergonômicos relevantes escapem à percepção do usuário, não sendo por eles demandados;

4) Listagens dos itens de design (IDs) a serem considerados no projeto ergonômico. Nesta etapa, são listados os itens a serem avaliados no design ergonômico de produtos. A atuação sobre os IDs é ditada por sua relação com os IDEs. Um ID sem efeito sobre os IDEs será mantido inalterado (no caso de um posto de trabalho já existente) ou não será contemplado no projeto (no caso de novos postos de trabalho);

5) Determinação da força de relação entre os IDEs e os IDs determinados, objetivando identificar grupos de IDs a serem priorizados nas etapas seguintes da metodologia, através da utilização da Matriz da Qualidade do QFD (Quality Function Deployment) que é uma ferramenta de análise de decisão. Os resultados da MQ não indicam como projetar os IDs, mas estabelece prioridades;

6) Tratamento ergonômico dos IDs. Determinar as especificações técnicas e valores-alvo que levam em conta aspectos como conforto e segurança do ambiente físico, questões antropométricas e de organização do trabalho, materiais a serem utilizados, viabilidade técnica, etc. O trabalho multidisciplinar envolvendo ergonomistas, designers, médicos, engenheiros e outros, possibilita a obtenção de bons resultados nesta etapa;

7) Implementação do novo design e acompanhamento. Nesta fase, os usuários devem ser orientados em como atuar com a nova proposta, fazendo o acompanhamento e proporcionando um feedback à equipe de design quanto às soluções implementadas.

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3. METODOLOGIA DA PESQUISA

Os usuários identificados neste trabalho são os que desempenham a função de caixa executivo em uma instituição bancária na cidade de Erechim, RS. São em número de 10, com idade variando de 28 a 51 anos.

Para a coleta de dados foi observado o posto de trabalho dos caixas executivos, explicando a eles e ao gerente da instituição os objetivos e as estratégias do estudo. As informações foram obtidas através de entrevistas individuais com cada funcionário, solicitando que falassem sobre seu trabalho. Utilizou-se a estratégia proposta pelo DM de levantar dados e priorizá-los, segundo sua ordem de menção e a frequência de ocorrência. Utilizou-se a função recíproca na qual a ordem de menção de cada item é usada como peso de importância pelo recíproco de sua respectiva posição, dada pela fórmula Pe=1/i, onde Pe é o peso de importância e i a ordem de menção. A função recíproca garante um peso alto de importância para os primeiros fatores mencionados. Deste modo, para a primeira menção será atribuído o valor igual a 1; à segunda ½ (0,5); à terceira 1/3 (0,33) e assim sucessivamente até a última menção do entrevistado. Os itens estão listados na Tabela 1.

Tabela 1 – Itens de demandas ergonômicas identificados pelos usuários

F1 F2 F3 F4 F5 F6 F7 F8 F9 F10 PESO ORDE

M

Layout inadequado 2 1 6 1 8 2,78 4

Dores 1 7 9 3 3 1,91 6

Pressão (filas e chefia)

3 2 2 2 1 4 3 4 1 4,66 1

Pouca valorização/autonom

ia 4 3 1 1 2 2 5 2 4,28 2

Relacionamento interno ruim

4 6 4 0,66 8

Mobiliário Inadequado

3 3 6 5 1 4 1 3,27 3

Temperatura ruim 4 5 3 3 1,11 7

Excesso trabalho 4 4 5 0,65 10

Tempo almoço reduzido

2 6 0,66 8

Trabalho gera tensão/estresse

3 1 6 2 1,99 5

Falta segurança 5 5 0,40 10

Muito ruído 2 0,50 9

Software inadequado 5 7 0,34 11

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De acordo com as demandas obtidas nas entrevistas, foi estruturado um questionário (Anexo A) para identificar o grau de insatisfação de cada usuário em relação aos IDEs. O questionário foi dividido em tópicos, de acordo com os problemas levantados nas entrevistas. Foram formuladas perguntas relativas ao ambiente, organização, saúde e condições do trabalho, levando-se em conta o peso que tiveram. Na metodologia DM a importância é medida através da marcação de um “x” na escala contínua de 15 cm com duas âncoras nas extremidades. A posição marcada representa o nível de satisfação. Quanto mais próximo do lado esquerdo da escala, mais tende a zero e mais insatisfeito, e quanto mais próximo do lado direito, mais tende a 15 e mais satisfeito. Houve a necessidade de realizar a inversão dos valores de intensidade nas questões 3, 4, 5, 7, 14, 15, 16, 17 e 18.

Para validação do questionário aplicado aos funcionários, o mesmo foi submetido à aplicação do teste do Alpha de Cronbach, utilizando um software específico para este fim, o Statistical Package for Sciences

(SPSS), versão 8.0 para ambiente Windows. Este teste permite verificar se o questionário foi compreendido pelos respondentes e se as questões realmente pertencem ao mesmo grupo. O resultado maior ou igual a 0,55 indica boa consistência interna do questionário, se o valor for inferior a 0,55 o questionário deverá ser reelaborado, ou deverão ser revistas as questões mal interpretadas, isto é, aquelas cujo valor de Alpha se distancia muito de 0,55. O resultado do Alpha de Cronbach para o questionário indicou boa consistência interna para os construtos analisados, apresentando um valor de 0,6741 para o total de itens avaliados.

O questionário foi tabulado e foi efetuado o somatório e classificação dos itens de demanda, através do cálculo da média aritmética, adicionando o cálculo percentual para cada item, como mostra a Tabela 2. Os IDEs foram tabulados de acordo com a sua ordem de importância, crescente, priorizando os IDEs com as menores médias, por serem os itens de maior insatisfação.

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76

Tabela 2 – Itens de demanda ergonômica

Itens de Demanda Média Peso W (%) Tensão / estresse no trabalho 3,36 0,02487231

Pressão dos clientes nas filas 3,49 0,02583463

Volume de trabalho 4,71 0,03486565

Valorização da função de caixa 4,79 0,03545784

Pressão dos superiores hierárquicos 5,04 0,03730846

Dores nas costas, coluna vertebral 5,55 0,04108372

Dores nos ombros e pescoço 5,89 0,04360056

Autonomia da função de caixa 6,70 0,04959657

Dores nos braços 7,42 0,05492635

Postura física em seu posto de trabalho 7,49 0,05544452

Ruído no ambiente de trabalho 8,87 0,06565993

Dores nas pernas 9,06 0,06706640

Mobiliário do posto de trabalho 9,46 0,07002739

Software usado em seu trabalho de caixa 9,73 0,07202606

Temperatura no ambiente de trabalho 9,82 0,07269228

Segurança na execução da função 10,36 0,07668961

Leiaute do ambiente de trabalho 10,50 0,07772596

Relacionamento com colegas 12,85 0,09512177

Somatório Total 135,09 1,00000000

Através da divisão do somatório das médias de todos os itens pelo número de questões, obteve-se o valor da média aritmética de 7,51, permanecendo 10 (dez) IDEs com valores abaixo da média na aplicação do questionário, priorizados para análise ergonômica.

Na terceira etapa foi necessária a opinião de especialistas para complementar, qundo preciso, os IDEs apontados pelos usuários e que pela sua importância não poderiam ficar fora de uma análise ergonômica. Com base nos dados obtidos pelos usuários, através da observação do posto de trabalho e dos trabalhadores e considerando os conhecimentos teóricos adquiridos a partir de literatura em ergonomia, os especialistas concluíram que os itens ‘layout do ambiente de trabalho’ e ‘mobiliários do posto de trabalho’, apesar de terem sido mal pontuados pelos funcionários, assumem papel fundamental na análise ergonômica. Os IDEs priorizados, junto aos incluídos pelos pesquisadores, constam na Tabela 3.

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77

Tabela 3 – IDEs priorizados com a incorporação da opinião dos especialistas

Itens de Demanda Média Peso W (%)

Tensão / estresse no trabalho 3,36 0,04516129

Pressão dos clientes nas filas 3,49 0,04690860

Volume de trabalho 4,71 0,06330645

Valorização da função de caixa 4,79 0,06438172

Pressão dos superiores hierárquicos 5,04 0,06774194

Dores nas costas, coluna vertebral 5,55 0,07459677

Dores nos ombros e pescoço 5,89 0,07916667

Autonomia da função de caixa 6,70 0,09005376

Dores nos braços 7,42 0,10026882

Postura física em seu posto de trabalho 7,49 0,10067204

Mobiliário do posto de trabalho 9,46 0,12715054

Layout do ambiente de trabalho 10,50 0,14112903

Somatório Total 74,40 1,00053763

A identificação dos Itens de Design (IDs) foi feita através da análise das etapas anteriores, e foram submetidas à análise para verificação da força de relação, pela determinação dos pesos de importância entre IDs e IDEs, como determina a metodologia de Design

Macroergonômico. A Tabela 4 mostra os itens de demandas (IDEs) identificados, com seus respectivos itens de design (IDs). Os IDEs foram classificados em primários e secundários.

Tabela 4 – Lista de IDEs primários e secundários e Itens de Design

IDEs Primários IDEs Secundários Itens de Design

Condições do trabalho

Maior valorização função de caixa Conversa com a chefia e colegas

Maior autonomia função de caixa Negociação com a chefia e melhorias no software

Diminuição da pressão nas filas Aumento do número de caixas Diminuição pressão da chefia Conversa com a chefia

Diminuição tensão/estresse Controle mais rigoroso e efetivo dos intervalos

Diminuição do volume de trabalho Aumento do número de caixas

Saúde do trabalhador

Melhorar a postura Reeducar a postura

Reduzir dores no pescoço, ombros, costas, coluna vertebral e braços

Promover ginástica laboral. Maior controle nos intervalos regulares.

Ambiente do trabalho Melhorar o mobiliário Redesenhar os guichês Melhorar o layout Nova disposição do mobiliário

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78

A determinação da força de relação entre IDEs listados e os IDs identificados foi realizada através da Matriz de Qualidade do QFD (Qualit

Function Deployment), apresentada no Anexo B, que é utilizada como uma ferramenta de análise de decisão para priorização de IDs. Identifica os IDs que tem pouco ou nenhum efeito na satisfação dos IDEs e, consequentemente, podem ser desconsiderados no projeto, e a geração de pesos de importância para os IDs relevantes na satisfação dos IDEs, e através desses pesos, classificá-los quanto à sua prioridade no projeto do posto de trabalho.

Nas linhas da matriz foram introduzidas informações sobre os IDEs e nas colunas da matriz foram introduzidas informações sobre os IDs, a avaliação dos competidores e a priorização dos IDEs. Os itens relacionados à avaliação competitiva que analisa a posição da empresa em relação à concorrência e à avaliação estratégica que considera a repercussão do atendimento aos IDs, à imagem da empresa juntos aos clientes e fornecedores e a sobrevivência da empresa a médio e longo prazo, por serem de acordo com o método DM de preenchimento facultativo e considerados irrelevantes neste caso, foram desconsiderados no projeto, recebendo valor 1,00 para todos os quesitos. Como determina a metodologia do DM, foram gerados pesos de importância dos IDEs relevantes e classificados quanto a sua prioridade no projeto. Esses pesos foram obtidos através da tabulação dos resultados do questionário, considerando o resultado do somatório das médias dividido pela média individual de cada IDE (Tabela 3).

A força de relação entre os IDEs e os IDs (Rij) foi avaliada utilizando a escala apresentada na Tabela 5. Esses valores juntamente com os valores de priorização dos IDEs (Pi) foram utilizados para a determinação dos valores de Importância Técnica (ITj) para os IDs, através da equação:

Ǐ

ITj = ∑ Pi x Rij, J = 1,....,J.

ị=

Em que J denota o número total de IDs listados na matriz.

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Os valores percentualizados de ITj foram então utilizados na priorização dos IDs.

Tabela 5 – Escala utilizada na avaliação da relação entre IDEs e IDs na Matriz da Qualidade

Valor Descrição 0 Nenhuma relação 1 Relação fraca 3 Relação média 5 Relação forte

Fonte: Fogliatto e Guimarães (1999)

Utilizando os resultados do percentual do ITj na Matriz da Qualidade foi possível priorizar os itens de design que devem receber tratamento ergonômico. Foi obtido o valor de 11,11% que é a média percentual calculada a partir dos dados da importância técnica, sendo gerado um ranking de prioridades para os IDs, considerando somente os itens de design com valores acima da média, por serem os de maior intensidade, representados na Tabela 6.

Tabela 6 – Ranking de prioridade da Matriz da Qualidade

Classificação Itens de Design % Importância Técnica 1 Redesenhar os guichês de caixa 18,24 2 Nova disposição dos mobiliários 13,35 3 Controle mais rigoroso nos intervalos 13,23 4 Promover ginástica laboral 11,57

4. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A partir da observação do posto de trabalho dos caixas executivos da instituição financeira pesquisada e de entrevistas individuais foi elaborado o questionário constante no Anexo A, cujos resultados foram submetidos à análise estatística para verificar a consistência interna para os construtos analisados, obtendo índice de Alfa de Crombach de 0,6741 o qual indica que as questões foram compreendidas pelos respondentes.

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80

Baseando-se nas informações fornecidas pelos funcionários do estabelecimento, por meio do questionário, e seguindo as etapas do método DM, foram identificados os IDEs, que foram priorizados de acordo com a intensidade da demanda verificada através da média aritmética dos itens, considerando como prioritários aqueles com valores abaixo da média, que neste caso obteve valor de 7,51.

De acordo com a visão de especialistas, aos IDEs priorizados foram incorporados os itens relevantes para melhor atender às demandas dos funcionários.

Através da análise do posto de trabalho, discussões entre especialistas e pesquisador, e com os próprios funcionários, baseando-se nos IDEs, foi elaborada uma lista de Itens de Design de modo a atender às demandas destes. Conforme prevê o método DM elaborado por Fogliatto e Guimarães (1999), os IDs foram submetidos à análise da força de relação entre os IDEs, através da Matriz de Qualidade do QFD, recebendo pontuações de importância técnica para o estudo. Observou-se na Matriz de Qualidade uma boa relação entre os Itens de demanda ergonômica e os Itens de Design, concluindo-se que estes atendem àqueles de maneira satisfatória, pois a existência de colunas em branco apontariam IDs desnecessários e linhas em branco apontariam inconsistência da seleção dos IDs, isto é, para determinado IDE, não haveria nenhum ID que o atendesse.

O ID que obteve a maior pontuação percentual na MQ relaciona-se com “redesenhar os guichês de caixas”, item que atende a um maior número de IDEs, principalmente nas questões de saúde do trabalhador, como melhorar a postura, reduzir dores no pescoço, ombros, costas e coluna. A própria instituição financeira possui recursos humanos e tecnológicos para reestudar e redesenhar os guichês, atendendo assim esta demanda tão significativa dos funcionários.

O ID classificado em segundo lugar foi “nova disposição dos mobiliários”, que atende a IDEs relacionados às condições de trabalho, saúde do trabalhador e ambiente do trabalho. Os profissionais da área, juntamente com os funcionários da instituição, deverão estudar uma mudança de layout na implementação deste ID, que se acredita envolver baixo custo financeiro.

Seguindo a classificação estão os IDs “controle mais rigoroso dos intervalos” e “promover ginástica laboral”. Estes atendem aos IDEs

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81

relacionados às condições de trabalho, principalmente no que diz respeito à diminuição da tensão, estresse e à saúde do trabalhador nos itens melhorar a postura, diminuição de dores no pescoço, ombros, costas e coluna. O controle mais rigoroso dos intervalos passa por uma negociação com a chefia da unidade para criar as condições necessárias para que os mesmos ocorram, bem como pela conscientização dos próprios funcionários da importância destes intervalos. A ginástica laboral na empresa deve ser desenvolvida por profissionais de fisioterapia ou educadores físicos, contratados para este fim. É essencial que os trabalhadores saibam que esta prática é um importante recurso de auxílio à saúde ocupacional e que atende as suas próprias demandas.

Os demais IDs foram pontuados com grau de importância técnica abaixo da média, não sendo priorizados portanto na intervenção ergonômica sugerida, mas conclui-se que são de grande importância ao analisar que o ID de menor pontuação ficou apenas com 3,37 pontos percentuais abaixo da média e devem, num segundo momento, ser estudados.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A aplicação do método Design Macroergonômico neste estudo foi a ferramenta adequada para atingir o objetivo de identificar as demandas dos caixas executivos da instituição bancária em referência, e o estabelecimento de metas que atendam a tais demandas, pois conclama os funcionários a participarem do processo, da tomada das decisões e assim, com o seu envolvimento, fica garantida a cumplicidade na implantação das soluções.

Os resultados deste estudo mostraram que os funcionários têm consciência dos principais problemas que afetam seu trabalho, porém foi indispensável a opinião dos especialistas na incorporação de itens de demanda pouco citados ou que passaram despercebidos por eles.

Os itens de demanda ergonômica relacionados à saúde do trabalhador devem receber especial atenção com a implantação dos itens de design como o redesenho dos guichês de caixas, a nova disposição dos mobiliários, o controle mais rigoroso dos intervalos e a ginástica laboral. No entanto, como os resultados obtidos na matriz de qualidade apontaram

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82

uma diferença mínima de pontos percentuais entre a média e o item de design menos pontuado, concluímos que todos os demais itens de design têm fundamental importância no atendimento das demandas apontadas pelos trabalhadores, e num segundo momento devem ser também objetos de implantação.

As duas últimas etapas do método DM, que são o tratamento ergonômico dos itens de design e a implementação do novo design e seu acompanhamento, não foram desenvolvidas neste estudo por exigirem um maior tempo e dedicação do pesquisador, dos especialistas da área, funcionários e chefia da instituição financeira.

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85

ANEXO A

Marque com um X na linha abaixo, a resposta que melhor representa sua opinião com relação aos diversos itens apresentados.

1. Quanto a valorização da sua função de caixa executivo, o que você acha ? ______________________________________________________________

pouco médio muito

2. Quanto a autonomia da sua função de caixa executivo, o que você acha ? ______________________________________________________________

pouco médio muito

3. Quanto a pressão dos clientes na fila, o que você acha ? ________________________________________________________________

pouco médio muito

4. Quanto a pressão por parte de seus superiores, o que você acha ? _________________________________________________________________

pouco médio muito

5. O seu trabalho gera tensão, estresse ? _________________________________________________________________

pouco médio muito

6. Quanto ao relacionamento com seus colegas, como você se sente ? ________________________________________________________________

insatisfeito neutro satisfeito

7. Quanto ao volume de trabalho, o que você acha ? ________________________________________________________________

pouco médio muito

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86

8. Quanto a segurança na execução de sua função de caixa executivo, como você se sente ?

________________________________________________________________

insatisfeito neutro satisfeito

9. Quanto a temperatura no seu ambiente de trabalho, como você se sente? _________________________________________________________________

insatisfeito neutro satisfeito

10. Quanto ao ruído no seu ambiente de trabalho, como você se sente ? ________________________________________________________________

insatisfeito neutro satisfeito

11. Quanto ao leiaute do seu ambiente de trabalho, como você se sente ? _________________________________________________________________

insatisfeito neutro satisfeito

12. Quanto ao mobiliário do seu posto de trabalho, como você se sente ? ________________________________________________________________

insatisfeito neutro satisfeito

13. Quanto ao software usado no “dia a dia” em seu trabalho, como você se sente? _________________________________________________________________

insatisfeito neutro satisfeito

14. Quanto a postura física em seu posto de trabalho, como você se sente?

_______________________________________________________________ insatisfeito neutro satisfeito

15. Quanto a dores nos ombros, pescoço, o que você sente ? ________________________________________________________________

nada pouca dor muita dor

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87

16. Quanto a dores nas costas, coluna vertebral, o que você sente ? ________________________________________________________________

nada pouca dor muita dor

17. Quanto a dores nos braços, o que você sente ? _________________________________________________________________

nada pouca dor muita dor

18. Quanto a dores nas pernas, o que você sente ?

nada pouca dor muita dor

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88

AN

EX

O B

Importância técnica TI

Ambiente do trabalho

Saúde do trabalhador

Condições Trabalho

Pri

már

io

Itens de demanda

Melhorar o layout

Melhorar o mobiliário

Dimin.dores costas/coluna

Dim. dores pescoço/ombros

Melhorar a postura

DiminuiçãoVoume trabalho

Diminuição tensão/estresse

Diminuição pressão chefia

Diminuição pressão filas

Maior autonomia da função

Maior valoriz.função caixa

Sec

undá

rio

%

1,00053763

0,14112903

0,12715054

0,07459677

0,07916667

0,10067204

0,06330645

0,04516129

0,06774194

0,04690860

0,09005376

0,06438172

Peso PI

8,80

0,99

0

0

0

0

0

1

3

3

0

3

5

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vers

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lega

s

Itens de design

9,15

1,03

0

0

0

0

0

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3

3

1

5

5

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ção

c/ c

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1

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1

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soft

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0

0

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0

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1

1

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1

1

1

1

1

1

1

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liaçã

o es

trat

égic

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Avaliação de competidores

1

1

1

1

1

1

1

1

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CAPÍTULO 6

MÉTODOS PARA PROTEÇÕES DE PERIFERIA DE LAJES: DIAGNÓSTICO EM OBRAS DE EDIFICAÇÃO EM PASSO FUNDO, RS

Luciano Dors, Juliana Kurek, Aline Pimentel Gomes, José Waldomiro Jiménez Rojas

1. INTRODUÇÃO

Em alguns momentos na execução da obra a proteção ao trabalhador contra quedas de altura fica restrita ao cinto de segurança, mas não são determinadas normas para fixação do cabo guia, por exemplo. Geralmente na confecção de formas para estrutura em concreto armado ou para remoção de outras proteções periféricas, como guarda corpo e plataformas, torna-se necessária a utilização de dispositivos alternativos para proteger o trabalhador contra quedas.

Segundo Costella (1998) quedas com diferença de nível foram responsáveis por 25% dos acidentes ocorridos na indústria da construção civil no Rio Grande do Sul nos anos de 1996 e 1997, considerando-se não apenas acidentes fatais.

A NR18 especifica Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção Civil, no item 18.13 - Medidas de Proteção Contra Quedas de Altura, no qual são passadas as diretrizes para instalação de diferentes sistemas de proteção coletiva (BRASIL, 2011).

Todavia, em determinados momentos, na remoção das proteções, para execução de paredes ou montagem de formas, não é recomendado nenhum método de proteção a ser utilizado, ficando a critério de cada empresa adotar um sistema, nem sempre sendo o método adotado eficaz.

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Este artigo tem como objetivo avaliar os métodos de fixação do cabo guia que estão sendo adotados em algumas empresas da construção civil no município de Passo Fundo, RS, a fim de contribuir para a definição de uma técnica adequada e segura que possa ser adotada para proteger o trabalhador na execução de tarefas na periferia das lajes.

2. MÉTODOS DE PROTEÇÃO

Segundo Saurin (2002) a eliminação ou redução de riscos nas origens é medida prioritária para o combate de acidentes de trabalho, para isso os projetistas devem desenvolver seu trabalho não apenas com foco no usuário final da edificação, mas também nos usuários temporários, trabalhadores que executam a obra e também prováveis atividades de manutenção.

Martins (2004) afirma que o projeto de proteção coletiva na fase de estrutura deve ter base no projeto estrutural e na montagem das formas, e que a necessidade de proteções na borda do pavimento durante a execução leva a prever no projeto furações nas vigas para o emprego do sistema de guarda-corpo e rodapé, ou hastes para sustentação das plataformas. Também apresenta alternativas para a fixação do cabo guia, como por exemplo, furos em pilares, alças concretadas junto com a laje e um dispositivo para prender um cabo de aço passando pelas bordas da laje nas esperas ou arranque para o pilar, conforme apresenta a Figura 1.

Figura 1 – Componente fixado em armaduras de pilares durante as atividades de concretagem, armação e execução de formas, criado por empresa visitada

Fonte: Martins (2004, p. 115)

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3. A NORMA REGULAMENTADORA Nº18: MEDIDAS DE PROTEÇÃO CONTRA QUEDAS DE ALTURA (NR 18)

O item 13 da NR18 deixa clara a obrigação de instalações de proteção coletiva em locais onde exista risco de queda de trabalhadores e projeção de material, aberturas nos pisos devem ter fechamento provisório resistente, além de que se usados para transporte vertical devem ser protegidas com guarda corpo fixo e cancela ou similar no ponto de entrada e saída de materiais.

A proteção contra quedas, se for um anteparo rígido, deve ter altura de 1,20m, travessão e rodapé, e ter vãos preenchidos com tela. As plataformas de proteção devem ser instaladas após a concretagem da laje e removidas somente quando o revestimento externo acima desta plataforma for concluído. A primeira deve ter 2,5m de projeção horizontal e um complemento de 80cm de comprimento com inclinação de 45°. As plataformas acima desta devem ter 1,40m e um complemento de 80cm de comprimento com inclinação de 45°, colocadas a cada 3 lajes.

As redes de segurança podem ser utilizadas como medida alternativa ao uso de plataformas secundárias. O sistema limitador de quedas de altura deve ser composto de rede de segurança, cordas de sustentação ou de amarração e perimétrica da rede, conjunto de sustentação, fixação e ancoragem e acessórios de rede. O sistema deve ter, no mínimo, 2,50 m de projeção. As cordas de sustentação e perimétricas devem ter diâmetro mínimo de 16 mm e carga de ruptura mínima de 30 kN. Na parte inferior do sistema, a rede deve permanecer o mais próxima possível do plano de trabalho, deve ser ancorada na estrutura da edificação, a qual deve ser dimensionada por profissional legalmente habilitado e o sistema deve ser submetido à inspeção semanal. O sistema das redes deve ser utilizado até o término dos serviços de estrutura e vedação periférica.

A RTP nº 1 (Recomendação Técnica de Procedimento) que trata do assunto medidas de proteção contra quedas de altura, cita que em todo o perímetro e nas proximidades de vãos e/ou aberturas das superfícies de trabalho da edificação devem ser previstos e instalados elementos de fixação ou apoio para cabo-guia/cinto de segurança, a serem utilizados em atividades junto ou nessas áreas expostas de trabalho, possibilitando aos

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trabalhadores o alcance seguro de todos os pontos da superfície de trabalho. Esse tipo de elemento de fixação ou apoio para cabo-guia/cinto de segurança deve permanecer instalado na estrutura depois de concluída, para uso em obras de reparos e reformas.

A NR 18, no item 15, que trata de andaimes, apresenta as condições que os pontos de ancoragem devem atender para instalações de equipamentos de sustentação de andaimes e cabos de segurança: estar dispostos de modo a atender todo perímetro da edificação, suportar uma carga pontual de 1200 kgf, constar do projeto estrutural da edificação e ser constituído de material resistente as intempéries, como aço inoxidável ou material equivalente.

4. METODOLOGIA

A Figura 2 apresenta as etapas realizadas para o desenvolvimento deste trabalho.

Figura 2 – Etapas do trabalho

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4.1 Levantamento de Recomendações Técnicas

Nesta etapa foram avaliadas as especificações técnicas da Norma Regulamentadora 18 e os itens 13 e 15, que tratam de queda de altura.

4.2 Seleção de empresas no município de Passo Fundo para estudo das proteções empregadas

O trabalho foi realizado com visita a obras em execução na cidade de Passo Fundo, RS. Participaram sete obras, cuja seleção se deu em função das etapas de execução que estavam sendo realizadas: estruturas de concreto armado, levantamento das alvenarias no perímetro.

4.3 Visitação em obras das empresas selecionadas, descrição dos métodos e justificativas

Preparação de questionário e abordagem na empresa. As visitas às obras se deu no período de 25 de fevereiro a 4 de março do ano de 2009. Em cada obra foi analisada a fase de execução, características da edificação, quantidade de trabalhadores, tipos de trabalhos em periferia, técnicas e dispositivos adotados pela obra e pelos trabalhadores para proteção contra queda, especialmente nos trabalhos em periferia. Foi utilizado um questionário padrão para todas as obras.

4.4 Análise dos métodos utilizados nas empresas

Nesta etapa foram relacionados os métodos utilizados, especificamente para proteção do trabalhador de periferia, especialmente nas tarefas de execução de formas de concreto armado e elevação de alvenaria.

4.5 Proposta de método

Nesta etapa apresenta-se uma proposta de proteção do trabalhador para execução das tarefas realizadas nas periferias de obra.

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5. RESULTADOS

5.1 Obras visitadas e descrição dos métodos

As Figuras 3 a 13 apresentam as obras visitadas. Cada uma das quais é descrita a respeito do número de pavimentos, estágio de construção, número de funcionários, acidente de queda recente, sugestões de técnicas para proteção no PPRA (Programa de Prevenção de Riscos Ambientais) e o PCMAT (Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Construção).

Figura 3 – Obra 1

• Número de pavimentos: 19

• Estágio de construção: 3º pavimento, realização de trabalhos na estrutura e na alvenaria.

• Número de funcionários: 14

• Acidente de queda recente: nenhum

• Possui sugestões de técnicas para proteção no PPRA e o PCMAT.

O desconforto e a redução da mobilidade causadas pelo uso do cinto foram apontados como empecilhos para utilização de proteções em periferia.

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Os dispositivos de proteção presentes são: bandeja, guarda-corpo, cinto de segurança e cabo guia.

O sistema utilizado na fixação do cabo guia pode ser descrito da seguinte forma: os passadores são fixados aos pilares por parabolts na altura que for necessária para realização dos trabalhos, também pode ser fixado no teto ou no piso, na obra visitada é utilizado com cabo de aço, como demonstra a Figura 4.

Figura 4 – Sistema de suporte do cabo guia fixado aos pilares, pode ser colocado na melhor posição para realização das atividades

Figura 5 – Obra 2

• Número de pavimentos: 23;

• Estágio de construção: 5º pavimento, realização de trabalhos na estrutura, alvenaria, instalações e revestimentos;

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• Número de funcionários: 120;

• Acidente de queda recente: nenhum;

• Possui sugestões de técnicas para proteção no PPRA e o PCMAT.

Quando iniciam suas atividades na empresa, os operários são informados sobre os equipamentos de proteção. O técnico de segurança está sempre presente na obra e não foram registradas reclamações sobre os dispositivos de segurança.

Os dispositivos de proteção presentes são: bandeja, guarda-corpo, cinto de segurança e cabo guia.

Quanto ao sistema utilizado na fixação do cabo guia, os passadores são fixados na laje e posicionados antes do guarda corpo, funcionando como marcação de uma área a partir da qual é necessário utilizar o cinto. Como o operário deve passar pelo cabo, normalmente por baixo, atua como sinal para colocação do cinto, por não depender dos pilares para ser instalado, pode acompanhar melhor os contornos da laje. É fixado por parabolts, como expressa a Figura 6.

Figura 6 – Método de suporte para cabo guia, parafusado na laje mantém o cabo suspenso, facilitando o encaixe do talabarte no cabo

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Figura 7 – Obra 3

• Número de pavimentos: 9;

• Estágio de construção: 4º pavimento, realização de trabalhos na estrutura e alvenaria;

• Número de funcionários: 10;

• Acidente de queda recente: nenhum;

• Possui sugestões de técnicas para proteção no PPRA e o PCMAT.

A redução da mobilidade causada pelo uso do cinto foi apontada como empecilho para utilização de proteções em periferia.

Os dispositivos de proteção presentes são: bandeja, guarda-corpo, cinto de segurança e cabo guia.

No sistema utilizado na fixação do cabo guia, o cabo de aço é amarrado aos pilares ou arranques destes. É um dos sistemas que podem ser instalados mais facilmente. Fica limitada à disposição dos pilares, por exemplo, no caso das sacadas, ou vãos em balanço, conforme Figura 8.

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Pilares

Arranquesdos pilares

Cabo deAço

Arranquesdos pilares

Cabo deAço

Figura 8 – Cabo fixado aos pilares, passando por trás dos arranques do pilar, método utilizado com cabo de aço e corda

Figura 9 – Obra 4

• Número de pavimentos: 8;

• Estágio de construção: 3º pavimento, trabalhos na estrutura e alvenaria;

• Número de funcionários: 7;

• Acidente de queda recente: nenhum;

• Possui sugestões de técnicas para proteção no PPRA e o PCMAT.

A redução da mobilidade causada pelo uso do cinto foi apontada como empecilho para utilização de proteções em periferia.

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Os dispositivos de proteção presentes são: bandeja, guarda-corpo, cinto de segurança e cabo guia.

O sistema utilizado na fixação do cabo guia é o mesmo da Obra 3, porém com cabo de corda de fibra sintética.

Figura 10 – Obra 5

• Número de pavimentos: 15;

• Estágio de construção: 10º pavimento, realizados trabalhos na estrutura, na alvenaria, reboco interno e instalações;

• Número de funcionários: 20 diretos e 12 terceirizados para execução da estrutura;

• Acidente de queda recente: nenhum;

• Possui sugestões de técnicas para proteção no PPRA e o PCMAT.

A falta de fiscalização, de treinamento e de conscientização foram apontadas como empecilhos para utilização de proteções em periferia.

Os dispositivos de proteção presentes são: bandeja, guarda-corpo, cinto de segurança e cabo guia.

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O sistema consta da utilização do cabo guia de aço passando pelas alças concretadas na laje, chamadas “caranguejos”. É um método de fácil montagem, mas por ser preso à laje, deve ser preparado antes da concretagem. Pode acompanhar os contornos da laje, no caso das sacadas, ou vãos em balanço conforme Figura 11.

Figura 11 (a) - Detalhe do cabo passando entre “caranguejos”

concretados na laje

Figura 11 (b) - operário utilizando o cinto preso ao cabo

Figura 12 – Obra 6

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• Número de pavimentos: 10;

• Estágio de construção: casa de máquinas e caixa d’água, trabalhos na estrutura e na alvenaria, reboco interno e externo e instalações;

• Número de funcionários: 14;

• Acidente de queda recente: nenhum;

• Possui sugestões de técnicas para proteção no PPRA e o PCMAT.

O desconforto e a falta de mobilidade causada pelo uso do cinto foram apontados como empecilhos para utilização de proteções em periferia.

Os dispositivos de proteção usados são: bandeja, guarda-corpo, cinto de segurança e cabo guia.

O sistema utilizado na fixação do cabo guia é o mesmo da Obra 5, porém com cabo de corda de fibra sintética.

Figura 13 – Obra 7

• Número de pavimentos: 9;

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• Estágio de construção: casa de máquinas e caixa d’água, trabalhos na estrutura, alvenaria e instalações;

• Número de funcionários: 7 diretos e 3 terceirizados;

• Acidente de queda recente: nenhum;

• Não possui sugestões de técnicas para proteção no PPRA e o PCMAT.

O desconforto e a falta de mobilidade causada pelo uso do cinto foram apontados como empecilhos para utilização de proteções em periferia.

Os dispositivos de proteção usados são: bandeja, guarda-corpo e cinto de segurança, não sendo utilizado sistema de cabo guia.

5.2 Análise dos métodos utilizados nas empresas

Os métodos utilizados nas obras visitadas apresentam algumas diferenças quanto à facilidade de montagem e à utilização como barreiras para as bordas das lajes.

Os métodos que mantém o cabo mais alto facilitam o engate do talabarte, entretanto sua instalação não é tão simples, normalmente são instalados com parabolts.

A instalação dos cabos amarrados aos pilares ou passando pelos “caranguejos” é mais prática, mas os cabos ficam no chão e muitas vezes são ignorados pelos operários.

Os sistemas que mantêm os cabos elevados funcionam também como barreira.

O método de parafusar as ancoragens nos pilares permite o ajuste da altura do cabo, útil em trabalhos em que a altura entre as lajes é maior. Quando a distância entre os pilares é grande ou áreas em balanço, o sistema apresenta restrições.

Os sistemas nos quais o cabo fica sobre a laje são de fácil montagem, o que passa pelos “caranguejos” permite que o cabo acompanhe os contornos da laje, independentemente da disposição dos pilares. O método de amarrar o cabo nos pilares apresenta a mesma restrição citada anteriormente, nas áreas em balanço. Outro ponto negativo

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observado com o cabo sobre a laje é o acúmulo de materiais sobre o mesmo.

O sistema que mantém o cabo elevado chama atenção, pois este acaba atuando como mais uma barreira e marca uma área que pode ser indicada como de uso obrigatório do cinto de segurança, torna obrigatória a parada do operário para transpor o cabo, nesta parada deve ser engatado o talabarte.

5.3 Proposta de método

A combinação deste último método com o proposto por Martins (2004) deve apresentar bons resultados, um para a montagem das fôrmas e concretagem e outro para remoção de fôrmas e fechamento das paredes.

Durante a montagem das fôrmas e a concretagem da laje pode ser utilizado o método proposto por Martins (2004), prendendo os guias para o cabo nos arranques dos pilares, como demonstra a Figura 14.

Figura 14 – Sistema para fixação do cinto de segurança na fase de estrutura

Fonte: Martins (2004)

A posição do cabo no pavimento seria conforme a Figura 15, em que este é representado pela linha vermelha.

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Figura 15 – Posição do cabo no pavimento, utilizando o método que prende o cabo guia aos arranques dos pilares

Após a concretagem pode ser utilizado o método que mantém o cabo elevado, conforme a Figura 16, pois este requer que a laje já esteja concretada para fixação dos guias. Este método pode ser utilizado como barreira ou limite da área mais próxima às bordas da laje, pode ser fixado a aproximadamente 1 metro das bordas.

Figura 16 – Cabo elevado a 1m das bordas

A posição do cabo no pavimento, representado pela linha vermelha, pode ser vista na Figura 17.

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Figura 17 – Posição do cabo no pavimento, utilizando o método que mantém o cabo guia elevado

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nas obras visitadas, foram encontrados quatro métodos de fixação para o cabo guia, de aço ou corda. O cinto de segurança foi facilmente visualizado nos operários, embora nem sempre estivesse preso ao cabo guia ou outro ponto da estrutura. Os guarda-corpos, quando removidos para alguma atividade, não eram corretamente recolocados.

Uma das obras visitadas não possuía PPRA e PCMAT e os trabalhadores não utilizavam cinto de segurança para proteção de trabalhos na periferia.

As reclamações, por parte dos trabalhadores, sobre o cinto de segurança foram o desconforto e redução da mobilidade. Em uma obra foram citadas as necessidades de fiscalização por um técnico em segurança no trabalho, treinamento e educação dos trabalhadores. Em outra empresa, que passou a informação de que os funcionários não reclamam dos EPI’s, a presença de um técnico de segurança no trabalho, da CIPA e de conscientização sobre o assunto comprova e justifica a ausência das reclamações.

Nenhuma das empresas teve acidentes recentes de quedas com diferença de nível em trabalhos na periferia ou em outros pontos.

O dispositivo apresentado por Martins (2004), prendendo o cabo nos arranques do pilar, pode ser utilizado na montagem das fôrmas e na concretagem

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da laje, situações que impedem o uso dos métodos que prendem as ancoragens do cabo guia na laje.

O método de proteção proposto possibilita a colocação do cabo guia em toda periferia do pavimento antes, durante e depois da concretagem da laje, para que os operários possam realizar os trabalhos de montagem e desmontagem das fôrmas, concretagem, alvenaria, revestimento e instalações de forma segura, aumentando a proteção contra queda.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Normas Regulamentadoras de Segurança e Medicina do Trabalho. NR 18 – Condições e meio ambiente de trabalho na indústria da construção. Disponível em: < http://www.mte.gov.br /legislacao/normas_ regulamentadoras/nr_18.asp>. Acesso em: 22 maio 2011.

COSTELLA, M. F.; CREMONI, R. A. Análise dos Acidentes do Trabalho Ocorridos na Atividade de Construção Civil no Rio Grande do Sul em 1996 e 1997. Disponível em: <http://www.cramif.fr/phd/th4/Salvador/posters/bresil/ melo_junior.pdf>. Acesso em: 4 ago. 2008.

MARTINS, M. S. Diretrizes para elaboração e medidas de prevenção contra quedas de altura em edificações. 2004. Dissertação (Mestrado em Construção Civil) – Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2004.

SAURIN, T. A.; FORMOSO, C. T.; GUIMARÃES, L. B. de M. Integração da Segurança no Trabalho a Etapa do Desenvolvimento de Produto na Construção Civil: um estudo exploratório. In Encontro Nacional de Engenharia de Produção, 22, 2002, Curitiba. Anais... Curitiba 2002.

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CAPÍTULO 7

ESTUDO DAS DESCARGAS ATMOSFÉRICAS NO MEIO RURAL

Ricardo Nicolau, Adalberto Pandolfo, Luciana Marcondes Pandolfo, Dayane Muhammad

1. INTRODUÇÃO

Descargas atmosféricas, popularmente conhecidas como raios, são fenômenos naturais que sempre impuseram temor aos homens, tanto pelo ruído do trovão como pelos incêndios e destruição que causam.

Durante muitos anos os raios vêm sendo estudados por diversos pesquisadores que conseguiram grandes avanços na busca por proteções para os seres humanos e o meio em que vivemos. Porém ainda não existem sistemas que possam garantir que esses fenômenos naturais não causem nenhum dano. Conforme Leite (2001) foi longo o caminho percorrido para se descobrir a natureza elétrica desses fenômenos e para se chegar a regras confiáveis de proteção para propriedades, aparelhos, equipamentos, objetos, animais e, principalmente, para as pessoas. Como ainda há muitos aspectos desconhecidos sobre esse assunto, embora a eficiência dos sistemas de proteção venha sendo melhorada ano após ano, não se obteve até aqui uma proteção completa, ou 100% eficiente.

No Brasil, segundo dados estatísticos do INPE (2008), anualmente morrem 200 pessoas e outras 1000 ficam feridas, vítimas de descargas atmosféricas. O Brasil registrou, apenas no primeiro trimestre de 2008, 28 mortes causadas por raios. O número é 64% maior que o registrado no mesmo período do ano de 2007. O aumento de raios no Brasil se deve ao fenômeno La Ninã, resfriamento das águas do Oceano Pacífico que altera a circulação dos ventos de forma global e favorece a formação de tempestades. De acordo com a Rede Brasileira de Detecção Atmosférica do INPE, entre julho de 2005 e 2007, as regiões onde mais caíram raios foram Rio Grande do Sul e São Paulo.

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A ação e efeito do raio causam diversos prejuízos, dentre eles estão: incêndios em florestas, campos e prédios; destruição de estruturas e árvores; colapso na rede de energia elétrica, interferência na rádio transmissão; acidentes na aviação; acidentes nas embarcações marítimas; mortes de seres humanos e animais em propriedades urbanas e rurais. As propriedades rurais, segundo Leite (2001) à medida que vão se modernizando, tornam-se mais sensíveis às descargas atmosféricas e, em muitas delas, as consequências podem ser até mais danosas do que em prédios industriais.

Dado o contexto acima, pesquisas sobre raios e proteções contra esse fenômeno são de suma importância, devido às grandes destruições e mortes que causam.

Atualmente, o trabalho no meio rural, em grande parte das propriedades, prioriza a preservação da vida do homem, tornando-se responsável por constantes melhorias e adaptações no meio. Essa característica evolutiva vem forçando cada vez mais a substituição da mão de obra humana por máquinas e sistemas eletrônicos, de forma a preservar a integridade física do homem. Tal modelo vem ao encontro do proposto neste trabalho, que tem como sujeito de estudos a busca pela indicação, de um ou mais sistemas ou métodos de proteção eficiente para o homem e os equipamentos que são utilizados por este, procurando descobrir quais medidas de proteção devem ser utilizadas em uma propriedade tipicamente rural, para a proteção contra descargas atmosféricas.

2. CONTEXTO HISTÓRICO

As descargas atmosféricas, ainda que não denominadas desse modo, são fontes de curiosidade e observação há longa data, sabendo-se de registros sobre a presença de raios ainda em 2000 a.C. Todavia, o enfoque dado a tal fenômeno durante muito tempo foi atrelado à cultura de divindades. É possível vislumbrar esse fato na literatura grega de 700 a.C., em que os registros mitológicos mostram Zeus como sendo o deus do raio. Na mitologia chinesa, a deusa Tien Mu cuidava das trovoadas e Lien Tsu era o deus do trovão. Com o passar do tempo, tais registros foram assumindo novos formatos e proporções maiores, aparecendo em diversos documentos e sendo citados inclusive na Bíblia. Mas apenas no século XVIII por meio da pesquisa chega-se à descoberta da eletricidade e só

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então o fenômeno de queda de raios passa a ser entendido enquanto descarga elétrica das cargas acumuladas nas nuvens, pois até então os efeitos destrutivos dos raios eram associados às pedras incandescentes que violentamente caíam do céu na ponta do raio.

Comecemos com o curioso episódio de William Wall, que em 1708 “ao ver uma faísca sair de um pedaço de âmbar carregado eletricamente, observou que ela era parecida com um relâmpago” (INPE, 2008). Esse certamente foi o pontapé inicial para que posteriormente, após a descoberta das primeiras propriedades elétricas da matéria, fosse possível constatar de modo evidente que os relâmpagos constituíam-se em uma forma de eletricidade e que estavam de alguma maneira associados com as tempestades.

Na sequência, tivemos a contribuição de Benjamin Franklin, o primeiro cientista que se dispôs a criar um experimento, tentando comprovar a natureza elétrica do relâmpago, como podemos acompanhar na referência.

Em julho de 1750, Franklin propôs que a eletricidade poderia ser drenada de uma nuvem por um mastro metálico. Se o mastro fosse isolado do solo e um observador aproximasse um fio aterrado, uma faísca saltaria do mastro para o fio quando uma nuvem eletrificada estivesse perto. Se isto ocorresse, estaria provado que as nuvens são eletricamente carregadas e, consequentemente, que os relâmpagos também são um fenômeno elétrico (INPE, 2008).

E a comprovação veio em 1752, com Thomas-François D’Alibard que, realizando outro experimento, porém com o mesmo propósito, mostra que a idéia de Franklin estava certa.

Ainda em 1752 Franklin, ao invés de utilizar um mastro metálico, usou uma pipa, já que ela poderia alcançar maiores altitudes e poderia ser usada em qualquer lugar e o resultado observado foi o mesmo que o anterior. Posteriormente, outros tantos deram continuidade a essas verificações, sempre realizando novas e importantes descobertas.

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Em 1785, C. A. Coulomb descobriu que o ar é condutor de eletricidade, observando que um objeto condutor isolado quando exposto ao ar, gradualmente perdia sua carga, visto que os gases eram então considerados isolantes. Sua descoberta, entretanto, não foi compreendida na época e acabou sendo esquecida. Em 1804, P. Erman, explicando as observações de Saussure, sugeriu pela primeira vez que a Terra devia ser carregada negativamente. Em 1842, J. Peltier confirmou esta idéia e sugeriu que a carga no ar deveria ser originária da Terra, a qual por sua vez se tornou carregada durante sua formação. Em 1860, W. Thomson (também conhecido por Lord Kelvin) defendeu a idéia de que cargas positivas deveriam existir na atmosfera para explicar sua eletrificação em tempo bom. Em 1885, J. Elster e H. F. Geitel propuseram a primeira teoria para explicar a estrutura elétrica das tempestades (INPE, 2008).

É interessante pensarmos na evolução da ciência, pois podemos perceber que além de avanços e descobertas, que certamente muito vêm a contribuir para a vida do homem e para o meio que o cerca, muitas vezes as comprovações somente se dão no momento em que há uma aceitabilidade e uma compreensão vinda da sociedade constituinte de cada período, ficando por vezes um resultado durante muito tempo de lado e, de repente retomado e visto com outros olhos, tendo outra força, é o que podemos perceber no caso de Coulomb que cem anos depois tem seus resultados comprovados por Linss e que dali em diante serve de impulsionador para novas descobertas:

Em 1887, W. Linss chegou aos mesmos resultados obtidos por Coulomb cerca de 100 anos antes e, então, estimou que a Terra perderia quase toda a sua carga para a atmosfera condutora em menos de uma hora, a menos que a fonte de cargas fosse restabelecida. Este fato deu origem ao que se tornou conhecido como problema fundamental da eletricidade atmosférica, isto é, como a carga negativa da Terra é mantida. Finalmente em 1899, J. Elster e H.F. Geitel descobriram que a radioatividade está presente na atmosfera, estabelecendo uma explicação para a presença de íons na mesma. As próximas descobertas a respeito da eletrificação da atmosfera só surgiram após o desenvolvimento de instrumentos fotográficos e elétricos no século XX (INPE, 2008).

Hoje, o conhecimento acerca de descargas atmosféricas atinge uma proporção bastante grande em relação a alguns anos atrás, porém, ainda

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assim há muito o que se conhecer sobre tal fenômeno, despertando curiosidade, interesse e até mesmo necessidade em alguns casos, em especial no que se refere à questão de segurança e proteção, abrindo margem para novos campos de pesquisa.

Atualmente existem várias pesquisas sobre os raios, a partir do estudo de algumas delas, esta seção apresentará tópicos sobre características das descargas atmosféricas e seus componentes.

Segundo Creder (2000) “raio é um fenômeno atmosférico de danosas consequências resultante do acúmulo de cargas elétricas em uma nuvem e a consequente descarga sobre o solo terrestre ou qualquer estrutura que ofereça condições favoráveis à descarga”.

Para entendermos melhor as descargas atmosféricas tomaremos como exemplo uma descarga negativa, que conforme Creder,

[...] são as mais frequentes. O raio é precedido de um canal ionizado descendente (líder), que se desloca no espaço por saltos sucessivos de dezenas de metro. Este deslocamento provoca a formação na superfície da terra, por indução, de cargas elétricas crescentes e de sinal contrário. Assim, o campo elétrico da terra torna-se tão intenso que dá origem a um líder ascendente (receptor), que parte em direção ao líder descendente. O encontro de ambos estabelece o caminho da corrente do raio, que se descarrega através do canal ionizado. O raio atinge o solo ou uma estrutura no local onde partiu o líder ascendente, por meio de um trajeto não necessariamente vertical. Isto se torna evidente porque estruturas altas são muitas vezes atingidas lateralmente pelo raio, embora protegidas por um captor no topo. Os pontos de maior intensidade de campo elétrico no solo e nas estruturas são os próximos da extremidade do líder descendente (Creder, 2000, p. 288)

Podemos visualizar a situação descrita na citação anterior observando a Figura 1.

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Figura 1 – Formação das descargas atmosféricas

Pode-se classificar as descargas atmosféricas de acordo a conexão dos elementos. Na descarga intranuvem a corrente de descarga ocorre dentro da própria nuvem. Na descarga entre nuvens ocorre de uma nuvem para outra. Na descarga nuvem-estratosfera a corrente de descarga ocorre da nuvem para a estratosfera. Na descarga nuvem-solo a corrente ocorre entre nuvem e solo. Esta última representa 20% do total das descargas atmosféricas.

Na formação do raio é estabelecido um canal condutor entre nuvem e solo, que ocasiona o fluxo de corrente intensa. Isso gera o aquecimento do canal causando, conforme Kindermann (1992) “um efeito luminoso intenso, o relâmpago, e deslocamento do ar com forte efeito sonoro, o trovão”. Como a velocidade da luz (300 milhões de m/s) é muito maior que a do som (300 m/s), percebemos o relâmpago segundos antes do trovão.

Segundo Mamede (2007) ”tomando como base medições feitas na estação do Monte San Salvatori, as intensidades de correntes das descargas atmosféricas podem ocorrer nas seguintes probabilidades: 97% ≤ 10 kA, 85% ≤ 15 kA, 50% ≤ 30 kA, 20% ≤ 15 kA, 4% ≤ kA”. Através desses dados podemos confirmar como os raios podem ser perigosos, pois a intensidade de corrente necessária para matar um ser humano é na ordem de 50mA e, ao ser atingido por uma descarga atmosférica, se não vier a óbito, ainda poderá sofrer muitas consequências, tais como: queimaduras, paralisia muscular, problemas neurológicos, entre outros. Contudo o que ocasiona a morte do indivíduo na maioria dos casos é a parada cardíaca, provocada pela passagem de corrente no tronco do ser vivo, causando

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fibrilação ventricular. Segundo Leite (2001)

os efeitos de raios sobre os seres vivos podem ser do tipo: a) tensão de passo: em um ser vivo com os apoios (pés ou patas) separados, fica sujeito a uma tensão que provoca a circulação de corrente pelo tronco; b) tensão de toque: que ocorre quando o condutor da corrente do raio tem uma alta impedância, são geradas tensões ao longo dele, aplicada entre uma ou as duas mãos e os pés, provocará a passagem de corrente pelo tronco, causando frequentemente a morte; c) descarga lateral: em uma situação parecida com a anterior, entre o condutor da corrente e a cabeça da vítima aparece uma tensão tão alta que ocorre uma descarga disrruptiva, causando frequentemente a morte; e d) descarga direta: quando uma pessoa andando em um campo aberto pode se tornar alvo e receber diretamente o impacto do raio, caso em que raramente resiste às queimaduras e aos efeitos da corrente sobre o cérebro e o coração.

Então, a única forma de garantir a integridade física quando se trata de descargas atmosféricas é evitar ser atingido por elas assim, faz-se necessária a pesquisa de métodos para a proteção contra tal fenômeno. Seguindo esta linha, e consultando a literatura atual e a legislação vigente, chega-se a NBR-5419 (ABNT, 2001) principal norma brasileira sobre proteção de estruturas contra descargas atmosféricas, que traz como objetivo: “fixar as condições exigíveis ao projeto, instalação e manutenção de sistemas de proteção contra descargas atmosféricas (SPDA) de estruturas, bem como de pessoas e instalações no seu aspecto físico dentro do volume protegido”. Esta norma classifica o nível de proteção, que não está relacionado com a probabilidade de queda do raio na edificação, mas com a eficiência que o sistema tem de captar e conduzir o raio à terra, fazendo referência a três métodos básicos para efetiva proteção, que são: método de Franklin, Método de Faraday e método Eletrogeométrico.

2.3. Revisão do Estado da Arte

Não existem métodos direcionados especificamente para o meio rural, devido ao grau de dificuldade de proteger uma área aberta, mas que sofre incidência de raios que causam prejuízos e em alguns casos riscos de vida para as pessoas e animais que estão submetidos a este fenômeno. Por isso considera-se relevante a abordagem dos três métodos já mencionados,

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os quais são normatizados pela legislação vigente, para que se possa entender como se procede a proteção através dos mesmos.

Começando pelo método de Franklin que segundo Mamede (2007, p. 620)

consiste em se determinar o volume de proteção propiciado por um cone, cujo ângulo da geratriz com a vertical varia segundo o nível de proteção desejado e para uma determinada altura da construção [...] Utilizando a propriedade das pontas metálicas de propiciar o escoamento das cargas elétricas para a atmosfera, o chamado poder das pontas, Franklin concebeu e instalou um dispositivo que desempenha esta função, denominado páraraios.

Podemos entender melhor como é o método Franklin, bem como visualizar os componentes deste sistema observando a Figura 2.

Figura 2 – Pára-raios tipo Franklin

Ainda usando como referência Mamede (2007, p. 624), temos o método de Faraday, apresentado na Figura 3, que

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consiste em envolver a parte superior da construção com uma malha captora de condutores elétricos nus, cuja distância entre eles é função do nível de proteção desejado [...] O método de Faraday é fundamentado na teoria pela qual o campo eletromagnético é nulo no interior de uma estrutura metálica ou envolvida por uma superfície metálica ou por malha metálica, quando são percorridas por uma corrente elétrica de qualquer intensidade.

Figura 3 – Método Gaiola de Faraday

Por fim, Mamede (2007, p. 627) faz referência ao método eletrogeométrico, apresentado na Figura 4.

Também conhecido como método da esfera rolante, o método eletrogeométrico se baseia na delimitação do volume de proteção dos captores de um Sistema de Proteção Contra Descargas atmosféricas, podendo ser utilizadas hastes, cabos ou mesmo uma combinação de ambos. É empregado com muita eficiência em estruturas de grande altura e/ou de formas arquitetônicas complexas.

Figura 4 – Método Eletrogeométrico

Esfera rolante fictícia

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3. METODOLOGIA DO ESTUDO

Segundo Silva (2005) a classificação dessa pesquisa pode ser definida com base em quatro pontos de vista: de acordo com sua natureza, da forma de abordagem do problema, dos objetivos e dos procedimentos técnicos. A pesquisa, sob o ponto de vista da natureza, será aplicada, com objetivo de reconhecimento dos principais conceitos de proteção contra descargas atmosféricas a fim de aplicá-los no ambiente rural. Do ponto de vista da forma de abordagem do problema, a pesquisa será qualitativa, através de reconhecimento das características de modelos considerados como ideais. Do ponto de vista dos seus objetivos, a pesquisa será exploratória, tendo em vista que há pouco conhecimento acumulado sobre estudos e aplicação de métodos para proteção contra descargas atmosféricas no meio rural.

3.1 Procedimento Metodológico

O procedimento metodologico dividiu-se em 4 fases distintas, descritas a seguir.

3.1.1 Fase I: Levantamento Bibliográfico

A partir do levantamento bibliográfico, extraíram-se conceitos de descargas atmosféricas, com enfoque nos aspectos ambientais do meio rural, possibilitando a aplicação na proteção dessas áreas. Foram pesquisados conceitos de eletricidade atmosférica, causas, consequências e outros aspectos dos raios, além da legislação vigente sobre proteções contra tais descargas, a fim de aplicá-los num modelo rural.

3.1.2 Fase II: Análise dos diferentes tipos de proteções contra descargas atmosféricas

Na Fase II foram analisados, por meio de pesquisa bibliográfica e

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pesquisa documental realizada na fase anterior, sistemas existentes, considerados eficazes para a proteção contra descargas atmosféricas em diversas áreas e equipamentos. Esta análise teve como objetivo distinguir as características dos projetos existentes, para uma pré-qualificação dos sistemas e medidas, que pudessem ser implantados no ambiente proposto.

3.1.3 Fase III: Escolha e aplicação do método de proteção (simulação com dados levantados de uma propriedade rural)

Baseando-se nos estudos realizados nas Fases I e II, a Fase III consistiu-se na tomada de decisão sobre quais métodos estudados de fato seriam aplicados, para que fosse então, montado um conjunto de medidas de proteção.

A fim de fornecer informações técnicas e facilitar tal escolha, nesta etapa realizou-se o levantamento a campo, ou seja, colheram-se dados de uma propriedade tipicamente rural, observando os pontos relevantes à projeção e instalação de medidas e sistemas de proteção, além da combinação de características abordadas durante a revisão da bibliografia.

3.1.4 Fase IV: Análise e discussão dos resultados parciais e esperados

É é nesta fase que se apresenta o modelo desenvolvido, foi idealizado partindo do cruzamento de todas as informações levantadas até aqui, ou seja, as considerações técnicas pertinentes à bibliografia estudada, as decisões tomadas através do estudo de caso, bem como todos os dados levantados para o projeto de trabalho.

4. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Para a execução prática desse trabalho foram coletados dados a partir da observação de uma propriedade tipicamente rural escolhida aleatoriamente no município de São José do Herval, RS, dados estes

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considerados relevantes para o objetivo a que se propunha a pesquisa em questão, de avaliar a incidência de descargas atmosféricas na propriedade escolhida e, a partir disso buscar medidas que venham a contribuir com uma maior segurança tanto para as pessoas residentes na propriedade, como para os animais e equipamentos rurais.

Primeiramente, em conversa com o proprietário, identificamos que a propriedade não possuía nenhum sistema de proteção contra descargas atmosféricas, apesar de já ter sofrido danos provocados pelo fenômeno. Assim foi feito o levantamento das estruturas contidas na propriedade, que podem ser observadas na Figura 5.

Figura 5 – Propriedade rural em estudo

A propriedade é formada por uma casa (moradia), uma casa menor (utilizada para atividades domésticas) e um galpão, além de currais e lavoura.

Com base neste levantamento preliminar, ficou evidente que para proteger todos os locais de trabalho seria melhor fazê-lo em partes, contudo antes de dar sequência ao estudo era necessário, seguindo a Norma NBR 5419 (ABNT, 2001) verificar a probabilidade de quedas de raios na propriedade. Por não existir na norma uma situação em que se refletisse essa probabilidade, englobando todas as estruturas da propriedade, tomou-se como parâmetro o cálculo a probabilidade de incidência de raios somente sobre a casa (moradia), sendo ela

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posteriormente usada como referência também para as demais estruturas.

De posse das dimensões da casa (5m de altura, 8m de comprimento e 15m de largura) e seguindo as orientações da NBR 5419 (ABNT, 2001) calculou-se número de raios para a terra por Km² por ano (Ng), utilizando a equação (1):

Ng = 0.04xTd1.25 [por Km²/ano] Equação (1)

Em que:

Td é o número de dias de trovoada por ano, obtido de mapas isocerâunicos, retirados da Figura B1 da NBR 5419 (ABNT, 2001), resultando em:

Ng = 0,04x401,25= 4,023 [por Km²/ano]

Como próximo passo, calculou-se a área de exposição equivalente (Ae), dada pela equação (2):

Ae = LW + 2LH + 2WH + πH² [m²] Equação (1)

Em que L é o comprimento, W é a largura e H é a altura da estrutura para a qual se deseja calcular a área de exposição equivalente. Dessa forma, tem-se:

Ae = 8x15+2x8x5+2x15x5+πx5² = 428,53 [m²]

Agora podemos calcular a freqüência média anual previsível Nd, de descargas atmosféricas sobre a estrutura:

Nd = NgxAex10-6 = 4,023x428,53x10-6 = 1,724x10-3 [por ano]

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Depois de determinar o valor de Nd, o passo seguinte é a aplicação dos fatores de ponderação, indicados nas tabelas B1 a B5 da NBR 5419 (ABNT, 2001), o que resultou em um novo valor para Nd:

Nd = 0,108x10-3 [por ano]

Agora sim, pode-se afirmar que, conforme a NBR 5419 (ABNT, 2001) item B4.1 e B5, a estrutura requer um sistema de proteção contra descargas atmosféricas.

Os dados referidos nos mostram com clareza a necessidade de medidas que venham favorecer a segurança desse meio, evitando riscos, danos e acidentes. Para tal, como proposta desse trabalho, discutiremos sugestões que levam em consideração aspectos de proteção da área rural referida, partindo-se da idéia que, já sabendo da necessidade de proteção, deve-se escolher um sistema ou método para tal. Assim a partir daqui far-se-ão considerações das estruturas da propriedade, separadamente para as casas, o galpão, os currais e as lavouras.

4.1 Casas (moradia e serviços domésticos)

Devido as suas formas geométricas, altura relativamente baixa, porém com uma grande área horizontal e levando em conta aspectos econômicos, sugere-se, por apresentar maior viabilidade, a aplicação do método de gaiola de Faraday, não excluindo a possibilidade de utilização de outro método, conforme as orientações das normas NBR 5410 (ABNT, 2004) e NBR 5419 (ABNT, 2001) para proteção desta estrutura, pois o método sugerido poderá aproveitar estruturas metálicas já existentes na casa em combinação com novos componentes, os quais não serão discutidos aqui.

Ainda como sugestão para proteção da casa, devem ser instalados dispositivos contra sobrecorrente nas linhas de energia elétrica e telefonia, visando proteger pessoas e também equipamentos sensíveis. Outra sugestão fica por conta das grades que cercam a casa, as quais devem ser aterradas conforme as orientações das normas NBR 5410 (ABNT, 2004) e NBR 5419 (ABNT, 2001).

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4.2 Galpão

A instalação de sistemas de proteção contra descargas atmosféricas (SPDA) no galpão não é especificamente contemplada na norma brasileira de SPDA, porém, com base nos dados levantados sobre a probabilidade de raios para a terra por km² por ano (Ng) calculada anteriormente, pode-se concluir que é importante proteger essas áreas, já que o trabalhador passa parte de seu tempo no interior das mesmas, além disso, estaremos protegendo também os equipamentos e animais que lá se encontram.

Sugere-se, desse modo, como forma de proteção, o mesmo método proposto para as casas, devido ao fato do galpão apresentar as mesmas características geométricas, incluindo também a instalação do dispositivo sobrecorrente já referido anteriormente.

Devido ao fato do galpão servir também como abrigo para animais, para que haja proteção dos mesmos, devem ser instaladas malhas de aterramento no piso, proporcionando a equipotencialização deste, pois os quadrúpedes são muito vulneráveis a tensões de passo.

4.3 Currais e Lavouras

Nos currais, o risco de acidente por descargas atmosféricas envolvendo o homem é bastante pequeno, devido ao curto espaço de tempo em que este permanece no ambiente. Todavia, sem descartar a possibilidade de ocorrência, torna-se interessante a instalação de SPDA nessas áreas para proteger também os animais.

Novamente a solução a ser adotada é a uniformização dos potenciais no solo através da inserção de uma malha aterrada para impedir o surgimento da tensão de passo. Além disso, podem ser instalados páraraios dos tipos Franklin ou eletrogeométrico nas mediações dos currais.

Outro aspecto relevante é o aterramento das cercas, pois o arame das mesmas pode ficar carregado de eletricidade estática quando sobre a área pairar uma nuvem tempestuosa. Para descarregá-la é necessário aterrá-la. Também é conveniente seccionar a cerca para reduzir a eletricidade acumulada, conforme a NBR 5410 (ABNT, 2004).

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No caso das lavouras é mais difícil pensar em proteção por tratarem-se normalmente de grandes áreas abertas. Contudo o tempo de trabalho destinado a esse espaço pelo trabalhador é bastante extenso e, na maioria dos casos, contando com a utilização de maquinário, que é o caso em avaliação – o uso de trator. Sendo assim, a medida mais adequada de segurança nesse caso é o uso de maquinários que possuam cabines fechadas, pois essas protegem o trabalhador em seu interior, obedecendo aos mesmos princípios do método de gaiola de Faraday.

Todas as medidas de segurança abordadas até aqui devem ser consideradas de suma importância para a minimização do índice de acidentes por descargas atmosféricas em área rural. Porém não podemos esquecer que a falta de orientação para proteção pessoal é um fator culminante no alto índice de acidentes, pois muitas vezes as pessoas procuram proteção em locais impróprios ou agem de forma insegura durante as tempestades.

São medidas para a própria proteção: evitar permanecer em picos de morro; evitar locais abertos, como lavouras; evitar permanecer debaixo de árvores isoladas, é preferível procurar locais com maior número de árvores quando não se encontrar abrigo mais seguro; nunca deitar-se debaixo de uma árvore, principalmente com o corpo na posição radial, no caso de uma descarga atingir a árvore, a corrente é injetada no solo no sentido radial podendo o indivíduo ficar submetido à queda de tensão entre as pontas dos pés e os braços; se estiver dentro da água deve-se sair, pois se atingida por um raio faz surgir diferenças de potências, as quais poderão fazer passar pelo tronco humano correntes inadmissíveis; não sair às janelas para apreciar tempestades; afastar-se de cercas e grandes peças metálicas.

O melhor abrigo para as pessoas que se encontram em situações de risco é qualquer estrutura que possua SPDA ou grandes estruturas de concreto mesmo que não possuam SPDA, interiores de automóveis, caminhões e maquinários que possuam cabines fechadas.

A melhor forma das medidas de segurança atingirem um grau elevado de eficácia é a fusão entre a aplicação dos SPDA propostos, e as orientações aos trabalhadores do campo também referidas.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao término dessa pesquisa, conclui-se que os objetivos propostos no início foram alcançados, tendo em vista que a proposta principal de sugerir meios de segurança para a propriedade rural analisada foi atingida. Após realização de um estudo de caso foi possível propor medidas e sistemas que se implantados corretamente trarão como consequência a minimização do número de acidentes provocados pelas descargas. Porém fica clara a dificuldade encontrada para garantir a proteção em tempo integral do trabalhador do campo, por este não possuir um único local de trabalho, mas sim manter-se constantemente em deslocamento por toda a extensão da propriedade. Assim sendo, a melhor medida de prevenção de acidentes causados pelo fenômeno em questão é a orientação ao trabalhador.

REFERÊNCIAS

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas NBR 5410 - Instalações elétricas de baixa tensão - Março 2004. Disponível em: < http://eletronicaifpb. 6te.net/files/norma5410.pdf >. Acesso em: 22 maio 2011.

BRASIL. Norma ABNT nº. 5419, de 30 de março 2001- revisada em 2004. Estabelece as condições exigíveis ao projeto, instalação e manutenção de sistemas de proteção contra descargas atmosféricas (SPDA). ABNT/CB-03 - Comitê Brasileiro de Eletricidade, CE-03:064.10 - Comissão de Estudo de Proteção contra Descargas Atmosféricas. Disponível em: <http:// www.abnt.org.br > . Acesso em: 10 jun. 2008.

CREDER, H. Instalações Elétricas. 14. ed. Rio de Janeiro: LTC – Livros Técnicos e Científicos Editora S.A. 2000.

INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. São Paulo 2008. Disponível em: <http://www.inpe.br/webelat/homepage/> . Acesso em: 12 jun. 2008.

____ - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. São Paulo 2008. Disponível em: <http://www.inpe.br/noticias> . Acesso em: 05 jun. 2008.

KINDERMANN, Geraldo. Descargas atmosféricas. Sagra - DC Luzzatto Editores. 1992.

LEITE, D. & Leite, C. Proteção contra descargas atmosféricas 5 ed. São Paulo: Officina de Mydia Editora, 2001.

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MAMEDE, J. F. Instalações elétricas industriais. 7 ed. Rio de Janeiro: LTC. 2007.

SILVA, E. L. da; MENEZES, E. M. Metodologia da pesquisa e elaboração de dissertação. 4. ed. Florianópolis: UFSC, 2005. 138 p. Disponível em: http://www.posarq.ufsc.br/download/metpesq.pdf>. Acesso em: 23 jul. 2008.

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CAPÍTULO 8

DIAGNÓSTICO DOS RISCOS OCUPACIONAIS E DOS RISCOS À SAÚDE DOS GARIMPOS EM

AMETISTA DO SUL, RS

Volker Weiss, Adalberto Pandolfo, Carla Raquel Reolon de Oliveira, Luciana Marcondes Pandolfo

1. INTRODUÇÃO

O Rio Grande do Sul possui importantes reservas minerais e se destaca na produção de gemas, principalmente de ágata e ametista. Ambas as gemas ocorrem no interior de basaltos da Formação Serra Geral da Bacia Sedimentar do Paraná.

A ametista é a mais importante das gemas produzidas no Rio Grande do Sul, presente em 64% das jazidas cadastradas. A pedra garimpada pode ser encontrada em muitos locais, geralmente associada à ágata (BRANCO e GIL, 2002).

A maior concentração dessa gema ocorre no norte do estado, que detém a maior produção e abrange vários municípios do Médio e Alto Uruguai. Os municípios em destaque, segundo a Cooperativa de Garimpeiros do Médio Alto Uruguai (COGAMAI, 2008) são: Ametista do Sul (com a maior produção), Planalto, Frederico Westphalen, Cristal do Sul, Iraí, Rodeio Bonito, Trindade do Sul e Gramado dos Loureiros, que constituem o maior centro produtor do mundo, tanto em volume como extensão, responsável por 80% das exportações de ametista do Brasil.

A extração ocorre a céu aberto ou em furnas (galerias subterrâneas horizontais) cujo trabalho de perfuração e desmonte da rocha gera a poeira mineral que contém sílica (SiO2) e, devido à falta de ventilação adequada, o material particulado fica suspenso nas galerias propiciando a incidência

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de doenças pulmonares como a silicose, causada pela inalação de poeira de sílica.

Este trabalho tem como objetivo verificar os riscos ocupacionais e os riscos à saúde dos trabalhadores nos garimpos de Ametista do Sul/RS, pois a incidência de doenças pulmonares é muito grande nesse município e tem causado danos irreversíveis à saúde desses trabalhadores.

2. A ATIVIDADE MINEIRA E A SAÚDE DOS TRABALHADORES

O extrativismo mineral é de grande importância para a sociedade, pois contribui para a geração de empregos, fornecimento de matéria-prima para a indústria e construção civil, e arrecadação de impostos. Entretanto, conforme Kopezinski (2000) a atividade extrativista é exercida sem técnicas adequadas e sem controle, originando a degradação do meio físico, cujos efeitos perceptíveis são os desmatamentos, a perda de solos superficiais férteis, a instabilidade das encostas, a erosão, o assoreamento de rios, a produção de rejeitos, os efeitos na flora e fauna local e a poluição.

A extração mineral é uma atividade insalubre, com diversos efeitos lesivos à saúde dos trabalhadores das minas. O surgimento de doenças que atingem as vias respiratórias, prejudicando principalmente o pulmão, deve-se, em grande parte, ao contato dos trabalhadores com explosivos e poeira mineral contendo sílica livre (quartzo, SiO2 cristalizada) (RAMAZZINI, 2000).

Segundo Kulcsar Neto et al. (1995) a sílica aparece em grande quantidade na natureza, sendo encontrada nas areias e na maioria das rochas e constitui cerca de 60% da crosta terrestre. A poeira de sílica é desprendida em operações de lavra, através da execução de tarefas como cortar, serrar, polir, moer, peneirar, esmagar. A sílica está presente também na fabricação de tintas, cimento, cosméticos, produtos farmacêuticos e inseticidas, escavação de túneis, poços e polimento de blocos de pedra, granito e quartzo. As partículas de poeira que contém sílica tornam-se insalubres de grau máximo para os trabalhadores dos garimpos (BRASIL, 1998).

A inalação de sílica livre causa a silicose, que é uma pneumoconiose (grupo de doenças que se originam pela inalação de

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poeiras e levam a uma reação inflamatória, fibrose e insuficiência respiratória) assim denominada por Zenker em 1866, caracterizada pela decomposição de poeiras no pulmão, com reação tissular.

Dias (2001) considera alguns fatores relevantes que podem influenciar a ocorrência de silicose como: a concentração total de poeira respirável; a dimensão das partículas (menores que 10 µm, a fração respirável) sendo que as mais perigosas são invisíveis a olho nu; a composição mineralógica da poeira respirável (em % de sílica livre); o tempo de exposição; e a suscetibilidade individual.

A silicose é uma doença assintomática no início, mas com evolução progressiva e irreversível. Conforme World Health Organization (2006) a silicose é classificada como CID-109 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, desenvolvida pela Organização Mundial da Saúde) e apresenta-se de três formas:

• Silicose aguda: forma rara, associada à exposição maciça à sílica livre, em jateamento de areia ou moagem de quartzo. Normalmente aparece dentro dos 5 primeiros anos de exposição;

• Silicose subaguda: alterações radiológicas precoces, aparece após 5 anos de exposição. As alterações são de rápida evolução, os sintomas são precoces e limitantes. No Brasil é encontrada em cavadores de poços;

• Silicose crônica: latência longa, surge com cerca de 10 anos após o início da exposição. Os sintomas aparecem tardiamente e através de exames radiológicos percebe-se a presença de nódulos.

O diagnóstico da silicose é feito basicamente através da história ocupacional do trabalhador e exame radiológico de tórax, seguido de outros procedimentos como espirrometria e tomografia (MENDES, 1986).

Segundo Goelzer e Handar (2005) os casos de silicose continuam a matar trabalhadores em todo o mundo e isto chamou a atenção de entidades internacionais relacionadas à saúde e ao trabalho, como a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) que lançaram em 1995 o Programa Internacional da OIT/OMS para a eliminação global da silicose, com o objetivo de diminuir

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as taxas de incidência da doença até o ano de 2010 e eliminá-la como problema de saúde pública até 2030.

No Brasil, a silicose é também muito frequente, com cerca de 6.600.000 trabalhadores potencialmente expostos à sílica. Do total, cerca de 500 mil estão ligados à mineração e ao garimpo; 2.300.000 à indústria de transformação e 3.800.000 à construção civil (GEOLOGIA MÉDICA, 2009).

O médico pneumologista Tietboehl Filho (2007) ressalta que é grande a incidência de silicose no Rio Grande do Sul, principalmente em Ametista do Sul, devido ao processo de extração a seco. A questão é considerada um problema de saúde pública, além de ser uma equação difícil de ser resolvida sob os pontos de vista ambiental e social.

3. A NORMA REGULAMENTADORA Nº 22 (NR 22)

A NR22 tem por objetivo disciplinar os preceitos a serem observados na organização e no ambiente de trabalho, de forma a tornar compatível o planejamento e o desenvolvimento da atividade mineira com a busca da segurança e saúde dos trabalhadores e se aplica a: minerações subterrâneas, minerações a céu aberto, garimpos, beneficiamentos minerais e pesquisa mineral.

Segundo a NR22, cabe à empresa e ao Permissionário de Lavra Garimpeira elaborar e implementar o Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) contemplando os aspectos desta norma, incluindo, no mínimo, os relacionados a:

a) Riscos físicos, químicos e biológicos;

b) Atmosferas explosivas;

c) Deficiências de oxigênio;

d) Ventilação;

e) Proteção respiratória;

f) Investigação e análise de acidentes do trabalho;

g) Ergonomia e organização do trabalho;

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h) Riscos decorrentes do trabalho em altura, em profundidade e em espaços confinados;

i) Riscos decorrentes da utilização de energia elétrica, máquinas, equipamentos, veículos e trabalhos manuais;

j) Equipamentos de proteção individual (EPIs) de uso obrigatório;

k) Estabilidade do maciço;

l) Plano de emergência;

m) Outros resultantes de modificações e introduções de novas tecnologias.

Das responsabilidades dos trabalhadores cabe: zelar pela sua segurança e saúde ou de terceiros que possam ser afetados por suas ações ou omissões no trabalho, colaborando com a empresa ou Permissionário de Lavra Garimpeira para o cumprimento das disposições legais e regulamentares, inclusive das normas internas de segurança e saúde; e comunicar, imediatamente, ao seu superior hierárquico as situações que considerar representar risco para sua segurança e saúde ou de terceiros.

Vale ressaltar que é importante o uso dos EPIs pelo empregado sujeito a riscos ambientais. Estes equipamentos são essenciais para eliminar ou reduzir o potencial do agente agressivo. Portanto, ao empregador, que deve zelar pela saúde de seus colaboradores, cabe: fornecer e exigir o uso destes EPIs, sob pena de sofrer autuações e multas impostas pelos fiscais da Delegacia Regional do Trabalho e Emprego e ser obrigado ao ônus de continuar devendo os adicionais de insalubridade; e organizar e manter em regular funcionamento, em cada estabelecimento, uma Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), denominada na Mineração de CIPAMIN, que tem por objetivo observar e relatar as condições de risco no ambiente de trabalho, visando a prevenção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho na mineração, de modo a tornar compatível permanentemente o trabalho com a segurança e a saúde dos trabalhadores.

4. METODOLOGIA

Para a realização deste trabalho foram visitados oito garimpos, onde foi possível, através de conversas informais com os garimpeiros,

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obter informações sobre a situação de trabalho dos mesmos. Também foi realizada uma entrevista com o presidente da COGAMAI, que forneceu diversos dados.

Nas visitas foram observados os seguintes aspectos:

• Situação da rede elétrica;

• Máquinas e equipamentos utilizados na extração;

• Forma de utilização dos explosivos;

• Condições de moradia e higiene ao redor dos garimpos;

• Utilização EPIs;

• Retirada de pedras e dejetos;

• Documentação existente;

• Forma de ventilação;

• Existência de pó;

• Condições de trabalho dos garimpeiros.

Foram realizados laudos com as concentrações de poeira respirável existentes no interior das minas durante a execução de dois diferentes métodos de perfuração.

A análise foi qualitativa, observando-se a existência ou não de condições de segurança e higiene para o trabalhador, tendo como referência principal a NR22. Ainda que as normas regulamentadoras sejam obrigatórias apenas para empresas que possuam empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e que nos garimpos a forma de trabalho mais usual seja a parceria, na qual o garimpeiro recebe um percentual das pedras encontradas, há um entendimento que, quando existir a relação de subordinação, onerosidade e não eventualidade, como acontece nos garimpos, cria-se um vínculo empregatício, tornando-se as mesmas aplicáveis.

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4.1 Descrição da região produtora de ametista

Ametista do Sul é uma cidade de pequeno porte com, aproximandamente, 8.058 habitantes, situada no norte do Estado do Rio Grande do Sul (IBGE, 2009). As primeiras ametistas foram encontradas a céu aberto sob raízes de árvores, córregos e em atividades agrícolas, surgindo aos poucos a exploração mineral e os primeiros núcleos habitacionais nessa região (FELLEMBERG, 1994), mas foi na década de 1970 que a mineração atingiu o auge de produção e as extrações começaram a ser feitas em galerias subterrâneas.

Atualmente a extração mineral é a principal atividade econômica do município e corresponde a 90% da arrecadação de impostos. O município possui cadastro de 300 garimpos, mas apenas 180 estão em atividade, com cerca de 1200 garimpeiros trabalhando. Este número já esteve perto dos 2000 trabalhadores, mas devido à crise no mercado mundial houve redução dos postos de trabalho.

5. RESULTADOS

5.1 Problemas encontrados nos garimpos de Ametista do Sul

5.1.1 Falta de responsável técnico

Conforme a NR22 item 22.3.3, em todas as furnas é obrigatória a existência de um profissional legalmente habilitado pela supervisão das atividades da furna.

5.1.2 Identificação irregular da mina

Segundo o item 22.6.2 da NR22 todas as minas devem ter as entradas identificadas com o nome da empresa ou do permissionário, e todos os acessos e entradas devem estar sinalizados, porém, a maioria das minas visitadas não estão devidamente identificadas, como pode ser visto na Figura 1.

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Figura 1 – Identificação irregular no acesso à mina

5.1.3 Falta de equipamentos de proteção individual

Em quase todas as furnas visitadas os trabalhadores não estavam usando ou eram inexistente os EPIs, conforme Figura 2. O item 6.6.1 da NR6 prevê o uso de máscaras respiratórias para evitar a inalação de sílica, óculos de proteção, botas de segurança, luvas, aventais e protetores auriculares.

Figura 2 – Garimpeiro sem os equipamentos de proteção individual

5.1.4 Más condições de saúde dos trabalhadores

A grande parte dos mineradores trabalha com concentrações muito altas de sílica livre, sendo obrigatória a realização periódica de exames de

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Espectrometria e Raio X pulmonar em todos os trabalhadores, como consta no item 7.4.2 da NR7.

5.1.5 Excesso de poeira mineral proveniente da extração

Existem dois métodos de perfuração: a perfuração a seco com martelete, que é o método utilizado na maioria das minas e pode ser visto na Figura 3 (a), e a perfuração a úmido, em que uma mangueira de água é acoplada ao martelete, conforme a Figura 3 (b).

Figura 3 (a) - Método de perfuração a seco

Figura 3 (b) - método de perfuração a úmido

Foram realizados dois laudos relativos à poeira respirável dentro das furnas durante a execução dos dois métodos. No laudo realizado em 25/11/2004, durante a perfuração a seco, encontraram-se concentrações de 60,6 mg/m³, enquanto que no realizado em 01/06/2005, durante a perfuração a úmido, encontrou-se concentrações de 3,20 mg/m³. Ambos os resultados ficaram acima do limite de tolerância, porém fica evidente que o método de perfuração a úmido traz menos riscos à saúde do trabalhador, uma vez que a concentração de poeira com sílica no ambiente de trabalho é menor. Portanto, este é o método que deve ser utilizado, e que está de acordo com o item 22.17.3.1 da NR22.

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5.1.6 Utilização de veículos em desacordo com as normas de segurança

Os veículos utilizados para a retirada de pedras e dejetos das minas estão fora das normas de segurança. Os veículos utilizados deverão ser, preferencialmente, movidos a óleo diesel e possuir sistema de filtragem do ar aspirado pelo motor, sistema de resfriamento e lavagem de gás de exaustão ou catalisador, conforme item 22.11.7 da NR22. Também deverão ter equipamentos mínimos de segurança e condições de trafegar, tais como faróis, lanterna traseira, sinal sonoro de ré acoplado ao sistema de marchas, buzina, sinal de indicação de mudança do sentido de deslocamento e espelhos retrovisores.

5.1.7 Falta de sinalização nas áreas de circulação de veículos e pessoas

Conforme os itens 22.19.1 e 22.19.6 da NR22 todas as vias de acesso e circulação das furnas devem ser bem sinalizadas indicando nos cruzamentos e locais de ramificações principais as direções e saídas da mina. Todas as minas visitadas apresentaram inadequação ou falta de sinalização, conforme se observa na Figura 4.

Figura 4 (a) - Área de circulação de veículos e de pessoas no interior da

mina

Figura 4 (b) - Área sem nenhuma sinalização

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5.1.8 Problemas de iluminação e instalações elétricas

Foram encontradas diversas irregularidades nas instalações elétricas das furnas. Os níveis de iluminação no interior das galerias são muito inferiores aos previstos no item 22.27.1.1 da NR22. Desta forma, os responsáveis deverão fornecer equipamentos individuais de iluminação para os trabalhadores ou instalar sistema de iluminação de emergência que possa substituir a iluminação artificial principal em caso de falha no fornecimento de energia, conforme o item 22.27.2 da NR22.

A maior parte dos garimpos tem instalações elétricas precárias, os fios condutores de energia elétrica e os cabos instalados no teto da galeria não são protegidos, podendo ocasionar acidentes por choque elétrico ou explosões, devido ao contato da energia elétrica com os estopins utilizados para detonação. As instalações elétricas deverão estar protegidas contra impactos, água e influência de agentes químicos, a rede elétrica deverá ser projetada antevendo blindagem, estanqueídade, isolamento, aterramento e proteção contra falhas elétricas conforme consta do item 22.20.23 da NR22.

De acordo com o item 22.20.30 da NR22 deverão ser atualizados os documentos referentes ao projeto das instalações elétricas e os respectivos programas e registros de manutenções. Os fios condutores de energia elétrica e cabos instalados no teto de galerias deverão ser protegidos de forma a evitar contatos acidentais.

A Figura 5 mostra problemas de iluminação e instalações elétricas encontrados nas minas visitadas.

Figura 5 (a) - Baixo nível de luminosidade no interior da mina

Figura 5 (b) - ) Sistema elétrico desprotegido

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5.1.9 Livre acesso de qualquer trabalhador às máquinas e aos equipamentos

Deve-se proteger todas as partes móveis de máquinas e equipamentos ao alcance dos trabalhadores e que lhes ofereçam riscos, conforme item 22.11.10 da NR22. E, segundo o item 22.11.18 da mesma norma, deve-se instalar sistema de duplo isolamento em todo equipamento elétrico manual, exceto quando acionado por baterias.

5.1.10 Inadequado manuseio de explosivos e armazenamento de materiais inflamáveis

A utilização de material explosivo deve ser efetuada por pessoal devidamente treinado, respeitando-se as normas do Departamento de Fiscalização de Produtos Controlados do Ministério da Defesa.

A larga utilização de pólvora e de materiais explosivos deve seguir, além das instruções já citadas, o item 22.19.2 da NR22 que menciona que as áreas sujeitas à ocorrência de explosões ou incêndios devem estar sinalizadas, com indicação de área de perigo e proibição de uso de fósforos, ou de outros meios que produzam calor, faísca ou chama e proibição de fumar.

Os depósitos de explosivos deverão ser construídos, armazenados e mantidos conforme regulamento do Ministério da Defesa, item 22.21 da NR22.

Nas visitas realizadas constatou-se que a maioria das minas não cumpre estas recomendações.

5.1.11 Programas de prevenção à saúde do trabalhador

Existem diversos programas que devem ser implantados nas furnas pelos proprietários e responsáveis para garantir a saúde e segurança do trabalhador, sendo o mais importante deles o Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional - PCMSO, conforme estabelecido na NR7.

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Deve ser implementado em todos os garimpos o Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), contemplando cada uma das alíneas constantes no item 22.3.7 da NR22, dando muita atenção às medidas de proteção coletiva contra a exposição a poeiras (sílica livre), ventilação, estabilidade dos maciços, desmonte de rochas, iluminação, instalação elétrica, sinalização das vias de circulação e armazenamento de explosivos e pólvoras.

Em virtude do uso de explosivos, deverá ser montado um Plano de Fogo, sob a responsabilidade de um blaster, para as atividades de desmonte de rochas com uso de explosivos, contando com participação do supervisor técnico da mina. O blaster será responsável também pela execução ou supervisão da execução, as operações de detonação e atividades correlatas, segundo os itens 22.21.3 e 22.21.4 da NR22.

Tendo em vista que as atividades estão localizadas no subsolo, deverá ser implantado um Projeto de Ventilação no interior da mina, de forma a garantir o atendimento aos itens 22.24.1 e 22.24.2 da NR22, que dizem que todas as minas deverão ter ventilação mecânica.

A Figura 6 mostra a precariedade dos equipamentos de ventilação utilizados nos garimpos.

Figura 6 – Ventilador utilizado na perfuração a seco

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Nesse sentido, pode-se destacar que todas as furnas deverão ter um plano de emergência, de acordo com o item 22.32.1 da NR22, no qual deverá constar os principais riscos de incêndios, explosões, desabamentos e todas as demais situações de emergência.

5.1.12 Treinamento

Nas minas visitadas não existe nenhum tipo de treinamento para os trabalhadores. Deverá ser realizado treinamento de segurança para os operadores de carros, quanto ao transporte, movimentação de materiais e locomoção no interior das furnas, seguindo o item 22.7.5 da NR22 e de procedimentos de emergência, primeiros socorros, riscos existentes nos ambientes de trabalho constantes no Programa de Gerenciamento de Riscos e dos acidentes e doenças profissionais. Conforme item 22.35.1 da NR22 este treinamento deverá ser periódico.

De acordo com o item 22.35.1 da NR22. Deverá ser realizado um treinamento básico para a contratação de trabalhadores, no qual deverão ser abordados: ciclo de operações da mina, equipamentos de proteção individual, principais máquinas e suas funções, infraestrutura da mina, distribuição de energia, regras de circulação de equipamentos e pessoas, procedimentos de emergência, primeiros socorros e riscos existentes nos ambientes de trabalho

Existem diversos treinamentos específicos que também deverão ser ministrados, com o objetivo de fazer uma reciclagem periódica dos trabalhadores que executam as operações e atividades, dentre os treinamentos específicos, podem ser citados: perfuração manual; manuseio de explosivos e acessórios; inspeções gerais da frente de trabalho; abatimento de chocos e blocos instáveis; tratamento de maciços; carregamento e transporte de material; transporte por arraste; operações com guinchos e içamentos; manipulação e manuseio de produtos tóxicos ou perigosos; outras atividades ou operações de risco especificadas no Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), de acordo com o item 22.35.1.3.1 da NR22.

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5.1.13 Outras disposições

Existem condições mínimas de trabalho que devem ser seguidas e não foram constatadas nos garimpos visitados, tais como: manter local destinado à refeição que atenda às condições de segurança, higiene e conforto (item 22.37.3 da NR22); manter instalações sanitárias tratadas e higienizadas destinadas à satisfação das necessidades fisiológicas, próximas aos locais e frentes de trabalho (item 22.37.3 da NR22); disponibilizar armários individuais para a guarda de roupa e objetos pessoais (item 22.37.3 da NR22); fornecer água potável em condições de higiene nos locais e postos de trabalho, sendo proibido o uso de recipientes coletivos (item 22.37.4 da NR22); e manter material de primeiros socorros no local de trabalho adequado aos riscos do ambiente de trabalho, previstos no Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) (item 1.7 da NR1).

5.2 Incidência de silicose em trabalhadores nos garimpos de Ametista do Sul

Grande parte dos garimpeiros trabalha com concentrações muito altas de sílica livre, sendo a silicose umas das principais doenças encontradas nessa classe de trabalhadores.

Segundo dados fornecidos pela COGAMAI (2008) 70% dos garimpeiros não tem conhecimento sobre a silicose e não sabe que o agente causador é a poeira mineral.

Foi realizado um levantamento de dados junto à Secretaria de Saúde do Município de Ametista do Sul e uma entrevista com os profissionais da medicina do município. Os resultados encontrados nos prontuários médicos mostraram que 38% dos garimpeiros consultados tem silicose e 62% não tem o diagnóstico da doença, mas apresentam algum dos sintomas da mesma, que são: tosse, cansaço, falta de ar, dor no tórax e chiado no peito, tendo em vista que o garimpeiro só procura o auxilio médico após serem constatados os primeiros sintomas, e não faz exames de prevenção.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A maior parte das normas de prevenção de acidentes do trabalhador não está sendo cumprida nos garimpos de Ametista do Sul, pois não existe muito interesse por parte dos proprietários dos garimpos, sendo que a principal justificativa são os altos custos de implantação das normas de segurança. Os principais problemas encontrados nos garimpos visitados são: ventilações ineficientes, fiações elétricas totalmente inadequadas, sistema de perfuração inadequado, falta ou o não uso de EPIs por parte dos trabalhadores, sistema de explosões sem nenhuma norma de segurança e alta concentração de poeira mineral com sílica livre, que pode causar a silicose, doença muito grave que atinge muitos garimpeiros desta região.

Uma maneira de reduzir sua incidência é a substituição do método de perfuração a seco, largamente utilizado, pelo método de perfuração a úmido, que é menos prejudicial à saúde desses trabalhadores.

Atualmente, o Ministério Público Federal está ajustando um termo de conduta com os garimpeiros para diminuir a falta de segurança e melhorar as condições de trabalho do trabalhador. A fiscalização efetiva para o cumprimento das normas de segurança do trabalho e o treinamento contínuo dos garimpeiros em relação aos procedimentos de segurança no trabalho são imprescindíveis para melhorar a situação dos trabalhadores nas furnas de Ametista do Sul.

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