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Revista FAMECOS • Porto Alegre • v. 17 • n. 3 • p. 207-215 • setembro/dezembro • 2010 207 CULTURA E MEDIAÇÃO Cuide de você: mediação e estética do jogo em Sophie Calle 1 RESUMO Este texto tem como foco a exposição Cuide de você, da artista francesa Sophie Calle, que tem como base a história de um rompimento amoroso via e-mail e na reação de 107 mulheres que a artista convidou para responder em seu lugar. Calle ficou conhecida por expor suas “experiências pessoais” para produzir um trabalho que discute intimidade e identidade por meio de fotografia, filme, instalação e performance. A partir de uma descrição do tipo etnográfica da exposição, percebe-se que seu objeto não consiste nem na história do rompimento nem nas respostas ao e-mail, mas no circuito por onde circulam afetos, discursos e práticas sociais. O texto propõe-se então a analisar os processos relacionais que constituem seus jogos com as formas narrativas. Com base nos conceitos de mediação e de tradução desenvolvidos por Bruno Latour, nos interessará discutir exatamente esse aspecto comunicativo da obra: os modos como esta mobiliza e conecta em uma rede sígnica distintas instâncias de enunciação. PALAVRAS-CHAVE Mediação Arte Estética relacional ABSTRACT This text focuses on the exhibition Prenez soin de vous by the French artist Sophie Calle, which is based on the story of a broken love affair via e-mail and on the reaction of 107 women who were invited by the artist to answer in her place. Calle was known for exposing her “personal experiences” to produce a artwork that discusses intimacy and identity through photography, film, installation and performance. By depicting the exposition, one realize that the theme is not either the history of disruption nor the replies to e-mail, but the circuit by circulating affections, discourses and social practices that is mobilized by the artist in order to create her work. The text intends to examine the relational processes which construct the artist’s games with narrative forms. Based on the concepts of mediation and translation developed by Bruno Latour, I will discuss this communicative aspect of the work: the ways it mobilizes and connects different instances of enunciation in a sign network. KEYWORDS Mediation Art Relational aesthetics Fernando do Nascimento Gonçalves Professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UERJ/RJ/BR. [email protected]

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mediação e estética

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  • Revista FAMECOS Porto Alegre v. 17 n. 3 p. 207-215 setembro/dezembro 2010 207

    CULTURA E MEDIAO

    Cuide de voc: mediao e esttica do jogo em Sophie Calle1

    RESUMO Este texto tem como foco a exposio Cuide de voc, da artista francesa Sophie Calle, que tem como base a histria de um rompimento amoroso via e-mail e na reao de 107 mulheres que a artista convidou para responder em seu lugar. Calle ficou conhecida por expor suas experincias pessoais para produzir um trabalho que discute intimidade e identidade por meio de fotografia, filme, instalao e performance. A partir de uma descrio do tipo etnogrfica da exposio, percebe-se que seu objeto no consiste nem na histria do rompimento nem nas respostas ao e-mail, mas no circuito por onde circulam afetos, discursos e prticas sociais. O texto prope-se ento a analisar os processos relacionais que constituem seus jogos com as formas narrativas. Com base nos conceitos de mediao e de traduo desenvolvidos por Bruno Latour, nos interessar discutir exatamente esse aspecto comunicativo da obra: os modos como esta mobiliza e conecta em uma rede sgnica distintas instncias de enunciao.

    PALAVRAS-CHAVEMediaoArteEsttica relacional

    ABSTRACTThis text focuses on the exhibition Prenez soin de vous by the French artist Sophie Calle, which is based on the story of a broken love affair via e-mail and on the reaction of 107 women who were invited by the artist to answer in her place. Calle was known for exposing her personal experiences to produce a artwork that discusses intimacy and identity through photography, film, installation and performance. By depicting the exposition, one realize that the theme is not either the history of disruption nor the replies to e-mail, but the circuit by circulating affections, discourses and social practices that is mobilized by the artist in order to create her work. The text intends to examine the relational processes which construct the artists games with narrative forms. Based on the concepts of mediation and translation developed by Bruno Latour, I will discuss this communicative aspect of the work: the ways it mobilizes and connects different instances of enunciation in a sign network.

    KEYWORDSMediationArtRelational aesthetics

    Fernando do Nascimento GonalvesProfessor do Programa de Ps-Graduao em Comunicao da UERJ/RJ/[email protected]

  • Fernando do Nascimento Gonalves

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    Uma nova curiosidade parece caracterizar as prticas artsticas nos ltimos anos. Para alm da discusso sobre suportes e linguagens, condies de produo e circulao, parece-nos que mais diretamente sobre os processos de mediao e de subjetivao que tratam certas produes de arte na atualidade. Hoje tambm se faz arte com lixo, com o corpo, genes, odores, rudos e celulares, alm de pintura, escultura, fotografia, cinema e vdeo, preciso se perguntar finalmente sobre o que nos informam tais prticas artsticas.

    H algum tempo venho propondo pensar a arte como um campo rico para a observao e anlise dos fenmenos da cultura e da co- municao (Gonalves, 2007; 2009). Parto do princpio de que a arte pode ser considerada como operador discursivo dentro de um campo de produo simblica onde se forjam novas formas de olhar e de estar no mundo.

    Arte como experincia de comunicaoAs prticas artsticas vo interessar aos

    estudos da comunicao especialmente pela aventura de carter esttico e subjetivo a que pode dar lugar - onde o esttico diz respeito a formas de sensibilidade criadoras e o subjetivo, produo social de estilos de vida, no sentido dado a esses termos por Felix Guattari (1993). Um dos argumentos centrais deste texto que algumas das produes artsticas hoje apresentam um curioso aspecto relacional, onde alm de sua materialidade imediata (vdeo, performance, fotografia, instalao) importa tambm perceber as complexas operaes de combinao e mediao que elas constituem (Ardenne, 2001; Danto, 2003).

    O que parece caracterizar essas operaes a mobilizao e articulao de diferentes atores e elementos do quotidiano, que conferem obra um carter de construo coletiva e que emerge em rede (Ladagga, 2006). O trabalho que resulta desse tipo de criao deixa de ser apenas visto como processo ou objeto para contemplao para ser percebido tambm como conjunto heterogneo de aes que surgem de operaes de mediao.

    Esse trabalho com as formas sensveis a partir de elementos e vivncias do quotidiano pode ser considerado um trabalho de comunicao. Ao criar aquilo que Deleuze e Guattari (1992, p. 264) chamaram de afetos e perceptos2, ou seja, modos de tornar sensveis foras insensveis, o que os artistas fazem capturar e mostrar pedaos

    do caos numa moldura. No caso em questo, pedaos das dinmicas e configuraes da vida social para formar espcies de imagens sensveis dessas configuraes. Esse tipo de produo simblica em que formas sociais so tornadas objetos artsticos sem, contudo, constiturem formas de representao3, chama nossa ateno exatamente pela possibilidade de produzirem cartografias poticas do nosso presente (Gonalves, 2009). Mapas que nos permitem falar de modos de amar, de perder, de comunicar, de sentir, de aprender, lembrar, esquecer, ferir, de cuidar-se e dar-se a ver em nossas sociedades. Atos aparentemente banais, essas experincias so explorados pelas artistas, articuladas e traduzidas em formas sensveis.

    Ao trazer para discusso os trabalhos da artista francesa Sophie Calle, o objetivo analisar como, particularmente na exposio Cuide de voc, se elaboram os processos relacionais que constituem o rico aspecto comunicativo de sua obra. A partir dos conceitos de mediao e traduo em Michel Serres (1984), Bruno Latour e Michel Callon (2006), nos interessar discutir como a artista cria mecanismos que mobilizam e pem em relao distintas instncias artsticas, tcnicas, comunicativas , que se afetam mutuamente e permitem pensar questes como, por exemplo, intimidade e identidade enquanto produes discursivas dentro de uma cadeia heterognea de outros enunciados.

    Seguindo uma histriaUm homem rompe com a amante por e-mail

    e termina o texto com um Cuide de voc. Seguindo o conselho do ex-namorado, um famoso escritor, a mulher resolveu cuidar de si convidando 107 outras mulheres para analisarem o documento e respond-lo em seu lugar. A mulher Sophie Calle, artista francesa com mais de trinta anos na cena artstica contempornea e Cuide de voc uma de suas mais conhecidas exposies, que percorreu vrios pases antes de chegar ao Brasil no final do ano passado, aps estrear na Bienal de Veneza em 2007.

    Num corpo de trabalho que discute vulne- rabilidade humana, identidade e intimidade, Calle ficou conhecida por sua habilidade de investigao da vida alheia e da exposio de suas experincias pessoais como material de criao. E como diversos artistas que trabalham com o autobiogrfico ou com a intimidade do outro, no se trata a meramente de uma operao narcisista

  • Cuide de voc

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    ou de simples voyeurismo. A experincia est mais prxima daquilo que Annie Ernaux (1994) chamou de eu transpessoal, onde o si no constitui forma de construo de uma identidade, mas de compreenso dos signos de uma realidade familiar, social ou passional. O resultado um mergulho do espectador num espao que ao mesmo tempo individual pela identificao com situaes pessoais banais que podem ocorrer com qualquer um e social pela dimenso que esse gnero de experincia pode criar, uma vez mediatizada. Portanto, no o si ou o outro que de fato interessa no trabalho da artista, e sim a experincia social da intimidade, do pblico e do privado, vivida de forma individuada como figura de uma produo subjetiva.

    Situado por alguns crticos na tradio da arte conceitual dos anos 60 e 70, Calle ficou conhecida por criar um corpo de obra formado por estranhas obsesses e estratgias. Fascinada pela interface entre vida pblica e eus privados, a artista se interessou no incio de sua carreira pelos padres de comportamento de annimos e, para investig-lo, utilizou tcnicas pouco ortodoxas, semelhantes s dos detetives particulares. Tambm se interessou em investigar o seu prprio comportamento, para que elementos de sua prpria vida funcionassem como ponte de partida para suas criaes. Uma forma de arrumar e dispersar memrias (suas e dos outros) e de rearranj-las.

    Um de seus primeiros e curiosos trabalhos foi Les Dormeurs, de 1979. Calle conta que certo dia uma amiga pediu para dormir em seu apartamento e acabou dividindo a cama com ela. A artista achou interessante a idia de compartilhar um espao ntimo e resolveu chamar outros 28 conhecidos e desconhecidos para repetir a experincia4. Cada pessoa passava 8h em seu leito a qualquer hora do dia. Durante esse tempo Calle filmava, fotografava e entrevistava os convidados. O resultado foi um documentrio dividido em blocos com o nome de cada visitante e um resumo de sua estada, acompanhado de fotos PB. Aos poucos a artista ficaria conhecida como uma contadora de histrias. Histrias que ela contaria de forma bastante particular.

    Em outros de seus primeiros trabalhos, Calle encontra gente ao acaso nas ruas e as segue, faz fotos e filmes. Logo, porm, o desejo de observar o comportamento e as aes de estranhos a levaria a interessar-se pela questo da identidade e da vigilncia. Depois de seguir e fotografar estranhos

    em Paris e Veneza, decidiu pedir a me para contratar um detetive para segui-la. Logicamente, tudo pensado nos menores detalhes e a operao torna-se uma espcie de performance. Ao mesmo tempo, as histrias so todas verdade, como ela fez questo de dizer. Verdade da fico. Verdade inventada. que a artista no est interessada em seu prprio comportamento ou em colocar-se no lugar do outro, mas simplesmente em vivenciar a experincia de ser seguida. Como em muitos trabalhos, ela estabelece regras, como num jogo.

    No caso em questo, levou o detetive a seus lugares preferidos e o resultado foi La Filature (1981). Nele, Calle exibe o conjunto das fotos dela feitas pelo detetive, os textos dos relatrios de seus movimentos dirios e seus relatos sobre a experincia de ser seguida. Inclui tambm fotos do prprio detetive5 e uma curiosa passagem em que ela vai ao Louvre ver um de seus quadros favoritos e fica l intencionalmente por horas, de p, diante do quadro, obrigando-o a admirar a obra tambm.

    Desde seus primeiros trabalhos, filmes, fotografias e textos so recorrentes e existem em uma estrutura circular auto-referente: os elementos mencionados no texto so encontrados novamente nos filmes e nas fotografias, mas o seu papel como primeira evidncia narrativa (re)construdo atravs da narrativa do conjunto da obra-histria, cuja credibilidade est exclusivamente nas mos da artista.

    Nesse mesmo perodo, Calle vai explorar tambm questes relacionadas privacidade. O formato igualmente documental: preto e branco, justaposta com textos descritivos. O resultado um olhar intrigante da relao obsessiva de Calle com seus annimos. uma relao em que Calle conhece as pessoas no por meio de sua existncia direta, mas atravs dos vestgios que deixam para trs.

    O que chama a ateno so seus mtodos, s vezes bastante controversos. Em LHotel (1981), por exemplo, a artista se faz contratar por cerca de um ms como camareira em um hotel em Veneza. Ela limpa os quartos para ter acesso a eles e poder assim espionar a intimidade dos hspedes. Olha o interior de malas e armrios, l suas cartas e documentos, tira fotos e faz anotaes. Apesar da ttica invasiva, o objetivo no simplesmente devassar a vida dos outros para conhec-la melhor. Ela coleta evidncias que servem apenas como elementos para a criao de um jogo narrativo. O texto escrito pela artista

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    combina fato, fico e impresses dos hspedes cujos quartos espreitava. Em 1984 ela publica as fotografias dessas invases acompanhadas das descries de seus dirios de campo.

    Se, de certa forma, Calle transforma o espectador ou o leitor em cmplice de seu voyeurismo, importante notar que ela parece faz-lo animada por um desejo de auscultar a esfera da vida privada (que ela adentra sem ser convidada, porm, sem ser completamente anti-tica). Na mesma linha de raciocnio encontra-se Le Carnet dadresses.

    Controvrsias parte, interessante observar que Calle produz com seus projetos uma espcie de fico da intimidade, que cumpre uma dupla funo: primeiramente, questiona e embaralha a relao espectador x sujeito/objeto, revelando suas armadilhas e iluses.

    Calle encontra, em 1983, uma agenda na rua, que devolve mais tarde ao dono. Antes, porm, decide fotocopi-la, ligar para alguns dos nmeros de telefone e falar com as pessoas sobre o seu dono6. A artista depois transcreveu essas conversas e adicionou fotografias das atividades favoritas do homem (simuladas ou registradas com outras pessoas), criando assim um retrato de algum que ela nunca conheceu, por meio de seus conhecidos. As conversas foram publicadas na forma de 28 artigos no dirio francs Libration. Quando descobriu, o proprietrio da agenda, um documentarista, ameaou processar a artista por invaso de privacidade. Calle conta que achou a reao muito interessante e que o proprietrio, tendo descoberto mais tarde uma fotografia dela nua, exigiu que o jornal a publicasse em retaliao por aquilo que ela lhe havia feito. Le Carnet dadresses consistiu ento na exposio dos textos publicados pelo jornal, as mencionadas fotos das atividades do dono da agenda e o registro de suas acusaes.

    Controvrsias parte, interessante observar que Calle produz com seus projetos uma espcie de fico da intimidade, que cumpre uma dupla funo: primeiramente, questiona e embaralha a relao espectador x sujeito/objeto, revelando suas armadilhas e iluses. Em segundo lugar, como histrias deliberadamente inventadas, funcionam como um mecanismo que questiona a natureza da intimidade e da verdade sobre o outro, expon-

    do-as como jogo narrativo, evidenciando assim seu aspecto de construo social e discursiva.

    Finalmente, curioso perceber como, j em seus primeiros trabalhos, a artista vai mobilizando e enredando diferentes elementos em sua obra, que se constitui a partir de uma operao de conexo e combinao. justamente esse aspecto dos trabalhos de Calle que estou chamando de relacional e que procurarei aprofundar a seguir.

    Cuide de vocTarde escaldante no Rio. Mais um domingo de

    praias lotadas. Decido ir ao MAM7 ver a exposio de Sophie Calle, que chegara cidade no incio de dezembro, depois de ter passado por So Paulo e Salvador.

    O espao do museu dedicado ao trabalho da artista fica no segundo andar, juntamente com outra grande exposio. O salo amplo e ladeado por janeles transparentes que vo do piso ao teto e do vista para os prdios do centro, de um lado, e para a Baa de Guanabara, do outro. O calor intenso no afasta os visitantes, que se contam s dezenas e que iam se sucedendo ao longo das 5h que passo no MAM.

    entrada, o visitante se depara com uma grande parede negra onde esto dispostas 34 fotos coloridas em tamanho grande de algumas das mulheres convidadas pela artista para responder o e-mail de X, escrito no estilo de uma carta comum. Do outro lado da parede, uma vdeo-instalao composta por telas de grandes e pequenos formatos apresenta respostas-performance de diversas artistas, dentre as quais Laurie Anderson, Jeanne Moreau, Maria Medeiros e Victoria Abril.

    As 107 mulheres - das quais a exposio no Rio mostrou 46 - foram escolhidas por suas profisses, mas com uma particularidade: todas deveriam trabalham com a interpretao de textos. Entre annimas e conhecidas, as mulheres receberam uma cpia do e-mail e foram convidadas a respond-lo de um ponto de vista profissional, cada qual do seu jeito e dentro da linguagem que caracterizava sua expertise. As respostas so, na verdade, diversas formas de reao ao e-mail, como comentrios, interpretaes e/ou apropriaes do documento. Fotos, vdeos, contos, tradues, partituras musicais, performances, anlises jurdicas, balanos contbeis, anlises de discurso e de lexicometria, pareceres clnicos, anlises sociolgicas, tabelas, torpedos SMS,

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    mensagens cifradas em cdigo morse compunham ento o trabalho.

    Na exposio, os discursos so apresentados e distribudos de diversas maneiras, a comear por cpias gratuitas do e-mail-carta de X para os visitantes e um livreto com a traduo dos textos expostos para consulta. Em seguida, instalado em diagonal, h um longo muro branco que atravessa a imensa sala, dividindo-a em dois. Afixados nele, podemos ver, de ambos os lados, fotos de algumas das mulheres acompanhadas da reproduo de suas respostas. No final do muro branco, um enorme telo exibe mais alguns vdeos-resposta, como uma dana oriental e uma sesso de tiro tendo a carta como alvo.

    Embora Cuide de voc parta de um aconte-cimento ntimo, pessoal, Calle faz questo de lembrar que no essa a questo do trabalho. A artista afirma que seu interesse no nem exi-bir seus sentimentos nem tratar de emoes. Ela tampouco se interessa pelo contedo em si das respostas. O que lhe importa mobilizar pes-soas e sensibilidades e produzir uma histria for-mada por mltiplas formas de narrativas. Como em alguns de seus trabalhos anteriores, chama ateno o fato de tantas pessoas (algumas conhe-cidas suas, a maioria, annimas) terem aceito esse tipo de convite e de se engajarem tambm em dar uma resposta para um assunto que no lhes diz respeito, ao menos diretamente. Contudo, esse o tema do trabalho: o por em relao diferentes perspectivas numa lgica de jogo.

    Tanto por parte da artista quanto por parte das mulheres, o que sobressai no conjunto da exposio no so os elementos de uma auto-expresso, mas a formao de um mecanismo de produo de discurso, de distribuio de saberes e de deslocamento de pontos de vista. O e-mail de rompimento, de pessoal e banal, passa a ser fato cultural e objeto de anlise em um domnio mais amplo. que, enquanto resposta, o trabalho pode ser viso como uma pergunta e no simplesmente como forma de curar uma dor ntima.

    Esse aspecto de produo discursiva (obra) a partir da convocao de mltiplas vozes no passou despercebido por alguns dos visitantes da exposio. M, 27 anos, administradora, afirmou8 que o que mais a impressionou foi a justamente a diversidade das perspectivas: achei interessante a idia em si, como as diferentes perspectivas imprimem uma marca nas anlises e nas respostas. Mas houve tambm quem dissesse

    que no entendia a razo de tudo aquilo e que achou a exposio um exagero, como a estudante K, 15 anos: Muito barulho por nada. Eu li a carta e nem achei to agressiva assim. Pra que fazer tudo isso? intil... improdutivo. E as fotos so esteticamente sem interesse. Ou quem achasse que a artista no soubera lidar com a perda, mas que nem por isso deixara de fazer dinheiro e de se promover com a experincia, como H, 49 anos, dona de casa.

    Polmicas parte, muitos visitantes pareciam absorvidos pela exposio. Em duplas, sozinhos ou pequenos grupos, alguns se deixavam ficar longamente assistindo os vdeos, sentados. Muitos carregavam o livrinho especialmente criado para a exposio com a traduo dos textos para poderem entender e apreciar as respostas. Alguns tinham at as suas preferidas, como H, estudante de Direito de 24 anos, que afirmou nunca ter visto esse tipo de trabalho em um museu. Ao perguntar-lhe qual das respostas mais chamou sua ateno, ele diz ter sido a de Ambre, 9 anos e meio. A menina estranha palavras como irremedivel e farsa; afirma no entender a razo do homem dizer que ama a mulher mas que no quer mais ficar com ela; e que quando X diz que gostaria que as coisas terminassem de outro jeito, isso pareceu dizer que elas iam terminar mal. Ou da j citada M., que afirmou ter gostado muito da anlise do comportamento de X feita por H.B, headhunter, para quem X um candidato com um perfil instvel e auto-centrado e, por isso mesmo, complicado.

    Nesse processo de enredamento, chamou particularmente minha ateno o modo como

    ocorre o agenciamento dessas mltiplas vozes: a artista muito habilmente cria um circuito

    de criao coletiva, arruma os discursos e os distribui como elementos plsticos e estticos.

    Mesmo que a impresso da maioria dos visitantes sobre o trabalho girasse em torno dos fatos que lhe serviram de suporte a carta de rompimento e as respostas , foi curioso perceber que, em certa medida, o trabalho parecia engaj-los tambm subjetivamente. E se isso no aconteceu com todos, pelos menos alguns pareceram, pelos comentrios que faziam e que pude ouvir, enredados pela teia formada a

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    partir de uma experincia pessoal: as reaes das mulheres e a apropriao e mobilizao de seus saberes pela artista.

    Nesse processo de enredamento, chamou particularmente minha ateno o modo como ocorre o agenciamento dessas mltiplas vozes: a artista muito habilmente cria um circuito de criao coletiva, arruma os discursos e os distribui como elementos plsticos e estticos. Estes, por sua vez, vo gerar outros tipos de percepo do fato que originou a obra. Finalmente, nessa rede discursiva, as vozes vo poder circular, produzir e engajar outros discursos (como a deste pesquisador, por exemplo).

    De fato, a idia da convocao dessas vozes, os critrios de escolha da natureza dos pontos de vista, a produo de distintas perspectivas e seus modos de apresentao parecem cumprir uma dupla funo. Primeiramente, diluem o carter pessoal e ntimo da experincia do rompimento amoroso. Em seguida, deslocam o fato de seu aspecto individual para seu aspecto social, atravs de uma operao de despersonalizao e distanciamento, dado que cada reao remete a modos de apreenso e interpretao marcados por determinados modos de construo de discurso. Cabe ressaltar, porm, que apesar da artista ter colocado como condio as respostas serem dadas de um ponto de vista profissional, ela no est necessariamente interessada em seu contedo enquanto funo enunciativa (Foucault, 1984), mas enquanto possibilidades e variaes discursivas.

    assim, por exemplo, que Micheline Renard, linguista, faz uma anlise lexicomtrica da men-sagem de X, em que sublinha a recorrncia de de-terminados termos e a complexidade das constru-es frasais; Michele Delmas, criminologista, vai ver X como um sedutor e manipulador, incapaz de enfrentar conflitos; X, juza, faz uma anlise da relao de ambos como sendo altamente contratu-alizada e vai ver X como algum que justamente quebra um contrato; Caroline Mcary, advogada, invoca artigos do cdigo civil para enquadrar o comportamento de X como fraude e sugere dois anos de priso ou multa de 37.500 euros; a jorna-lista do Libration, Florence Aubenas, d 5 razes para no publicar a carta por no atender a ne-nhum critrio relevante de noticiabilidade do fait divers; Nilufer Glle, sociloga, vai falar da exa-cerbao do amor heterossexual no ocidente, que segunda ela refletiria o esprito do tempo de nossas sociedades; Anna Bougureau, uma adoles-

    cente, responde com um SMS que diz apenas ele se acha; Monique Sindler, sua me, se solidariza com a filha, sugere que ela no hiperdramatize a situao e transforme a experincia numa obra de arte; a curadora de museu sugere que ela prepare uma pilha de cpias do email para visitantes leva-rem no caso de uma eventual exposio.

    Ao apresentar esses fragmentos, desejou-se to somente ilustrar os tipos de respostas dadas e no reforar relaes do tipo tal pessoa representa tal profisso e/ou tal profisso produz tal tipo de discurso, o que seria cair nos imbrglios da representao. claro que, uma vez que cada profisso implica determinadas formas de saber e de poder, essa implicao deixa marcas nos discursos dos sujeitos9. Mas esta parece ser apenas uma das pontas ou dos ns do circuito que a obra cria. O que parece realmente interessar artista no representar formas dos discursos, mas sim jogar com as representaes: apresentar e organizar distintas narrativas e poder contar uma histria feita de outras histrias.

    Curiosamente, pode-se tambm perceber que a artista mescla as respostas com ponto de vista profissional com outras que fogem a essa regra. o caso das respostas da menina de 9 anos e meio, da adolescente e da me. So vozes aparentemente exteriores ao jogo, mas que apesar disso so tambm mobilizadas enquanto funes enunciativas para, em seguida, serem integradas na rede que compe o trabalho de Calle com os discursos. Esse o jogo.

    O trabalho de Hermes Depreende-se que o objeto da exposio

    no so as respostas ao email, mas o circuito de discursos formados por diferentes narrativas. O trabalho apresenta assim um interessante aspecto relacional, que consiste na criao de um espao por onde circulam afetos, discursos e prticas sociais. Embora esse aspecto relacional seja percebido como fato comum em certas prticas artsticas contemporneas, como sugere Nicholas Bourriaud (1998), e que podem at oferecer ferramentas para mudar a percepo da realidade e criar formas de sociabilidade, percebemos que na obra de Calle relao no necessariamente partilha ou troca, e sim, jogo, como sugere Anne Sauvageot (2007) na anlise de sua obra.

    De fato, como comenta Sauvageaot (2007), Calle no parece estar preocupada com a cons-tituio de uma rede de solidariedade nem em entender e diluir sua dor por meio de diferentes

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    pontos de vista. Segunda ela prpria afirma, no a emoo que est em jogo em seus trabalhos, e sim a verdade da fico, das histrias que deseja contar. De forma que me parece ser preciso en-tender o aspecto relacional e de comunicao de sua obra sob outro ngulo. E em Michel Serres, Bruno Latour e seu ex-colega da cole de Mines de Paris, Michel Callon, que procurei algumas pistas e encaminhamentos.

    Em seu livro sobre a comunicao, Serres (1984, p. 180) analisa o mtodo foucaultiano da arqueologia e sublinha seu aspecto geomtrico, que punha num mesmo plano ou diagrama domnios distintos, como as prticas sociais, polticas e econmicas, para ento cruz-los, de modo a poder traar sua histria da loucura, da priso, etc. esse conectar diferentes elementos num mesmo diagrama que para Serres seria o trabalho de Hermes, deus dos caminhos, das encruzilhadas, da comunicao.

    Ao mesmo tempo, Serres (1984, p. 5) define comunicao como um ato de viajar que nos permite passar para o stio do Outro, assumir a sua palavra como verso, menos subversiva que oblqua, comercializar objetos pagos. esse trabalho de Hermes que Calle parece realizar: ela estabelece um espao de comunicao, de circulao de discursos, que so postos habilmente em relao para constituir uma rede sgnica. Nela, h passagens de stio, trocas e encontros de fluxos. precisamente essa criao de encontros que formam improvveis trajetrias que consiste num trabalho de comunicao realizado no interior da obra de Calle.

    Para contar suas histrias, ela simplesmente no as inventa. Ela as faz emergir de um de conjunto complexo que funciona como uma espcie de dispositivo relacional10. Vejo uma proximidade desse dispositivo produtor de relaes com aquilo Callon e Latour chamam de rede, mecanismo que torna visveis microinteraes (Callon, 2006, p. 274). Para estes autores, esse espao das redes segue a lgica das conexes e por isso mesmo est intimamente ligada, como veremos mais adiante, s suas noes de mediao ou de traduo. Essas noes so centrais em suas anlises sobre os modos de construo dos discursos e das prticas cientficas, mas que podem tambm ser estendidos a outros domnios, como as prticas cotidianas ou arte, por exemplo.

    Porm, para esses autores, mais do que mapear os distintos enunciados que constituem a Cincia como rede de atores humanos e no-

    humanos, preciso compreender o modo como se d a produo desses enunciados. Para eles, isto ocorre atravs dos mecanismos da traduo. E esta se d precisamente na prpria cadeia heterognea de que participam os enunciados. Ou seja, no processo mesmo da fabricao dos enunciados, como afirma Callon (2006, p. 235): cada elemento permite ao outro funcionar e cada um tira sua significao e sua dimenso das relaes que tecem uns com os outros. Por isso mesmo, como considera Serres, comunicar tambm traduzir: fazer passar para o stio do Outro, ou seja, fazer passar de um regime de signos a outro ou produzir um outro campo sgnico.

    Inspirados em Serres (1984), Latour (2000) e Callon (2006) tambm vo trabalhar com a idia de traduo como operao de produo de sentido, mas vo faz-lo para construir as bases de sua antropologia da cincia e da tcnica, atravs de um trabalho emprico sobre a cincia em ao (Latour, 2006). A Latour e Callon interessam, por exemplo, chegar antes que fatos e mquinas se transformem em caixas-pretas e relevar as controvrsias que permitam problematizar a cincia como prtica pura e racional (Latour, 2000, p. 421).

    Os autores consideram a traduo como pro-cesso que constri as prticas e os discursos cien-tficos e lhes confere um carter de autonomia e verdade. Ele afirma que a Cincia s adquire esse carter por causa de um complexo trabalho invisvel de aliana entre distintos elementos, que eles chamam de humanos e no-humanos: laboratrios, tecnologias, consumidores, traba-lhadores, pesquisadores leis, patentes, polticas pblicas, mercado e meios de comunicao. A no-o de traduo como mecanismo de mediao fica mais clara na explicao de Letcia Freire:

    Traduzir (ou transladar) significa deslocar objetivos, interesses, dispositivos, seres humanos. Implica desvio de rota, inveno de um elo que antes no existia e que de alguma maneira modifica os elementos imbricados. As cadeias de traduo referem-se ao trabalho pelo qual os atores modificam, deslocam e transladam os seus vrios e contraditrios interesses (Freire, 2006, p. 51).

    Callon (2006) e Latour (2006) costumam usar o termo traduo para indicar ento uma dupla operao: a primeira a mobilizao e conexo dos elementos que vo circular e a segunda a

  • Fernando do Nascimento Gonalves

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    transformao desses elementos que se afetam e que podero constituir discursos e prticas no-discursivas. Para melhor ilustrar esses dois processos, Latour e Callon tomam emprestado a imagem da malha de tecido sem costura de Thomas Hughes. Os trabalhos de traduo implica um movimento que vai justamente construir uma malha com mltiplos ornamentos e bordados, que costura junto elementos to estranhos quanto numerosos: pedras e leis, reis e eltrons, telefone e amor, medo e tomos, estrelas e trabalhadores (Latour, 2006, p. 98).

    A aplicao da noo de traduo ao campo da anlise das prticas cientficas me parece til para se pensar tambm certas prticas artsticas como a de Sophie Calle. A artista parece realizar tambm esses trabalhos de Hermes e das redes. Ao construir um espao de comunicao e de cir-culao de discursos, ela parece estar produzindo exatamente uma operao de traduo.

    Observando Cuide de voc, possvel con- siderar que Calle promove no apenas uma proliferao de discursos que iro constituir uma malha sgnica ou uma rede de atores humanos e no-humanos formada por mulheres, profissionais, discursos, saberes, instituies e tecnologias. Ela cria um espao de circulao que favorece a um s tempo a produo de sentido para esse espao e a emergncia e proliferao de prticas e discursos.

    A exposio o resultado desse trabalho de traduo realizado pela obra (espao de foras), composta por distintas linguagens, prticas sociais e saberes e no qual cada um desses elementos afeta e interfere no outro e constitui o enunciado-obra. No vocabulrio de Latour (2006) e Callon (2006), a artista poderia ser considerada uma mediadora, figura que articula o processo de mediao que produz essa rede heterognea. Mas a obra que promove efetivamente a mediao e a traduo dos enunciados e as afetaes nos espaos de relao (rede formada por museus, visitantes, imprensa, patrocinadores, curadores, escolas de arte, etc).

    Assim, a convocao de subjetividades (atriz, jurista, jornalista, danarina, escritora, mdica, msica, lingista, criana, adolescente, me etc) e de sensibilidades (respostas-performance, respostas-parecer, respostas-conto, respostas-release, resposta-dana etc) e sua orquestrao pela artista vai compor uma teia onde se tecem relaes entre palavras e coisas (email, amor, vdeo, texto, fotografia, museu), saber e poder

    (discursos, tecnologias, instituies, mdia, circuito de arte, mercado etc) que, por sua vez, vo afetar e engajar outras subjetividades (espectador, imprensa, artista, pesquisador, professor etc).

    O fato de muitos artistas realizarem hoje obras que discutem as relaes entre fatos do quotidiano, objetos tcnicos, instituies e suas lgicas e discursos s evidencia o quanto tais prticas se inserem nessas prticas que mesclam distintas instncias e atores sociais, humanos e no-humanos, como dizem Latour (2006) e Callon (2006). nesse sentido que entendo as dinmicas relacionais e comunicativas das prticas artsticas como prticas de mediao e de traduo.

    Finalmente, ao operar no campo da produ- o esttica, campo do sensvel, como propem Deleuze e Guattari (1992), a arte participa tam- bm dos processos de produo de sentido e de subjetividade. Por isso mesmo possibilita a investigao sobre algumas das dimenses atuais da experincia humana e social, na medida em que a obra um espao de foras que cria e faz circular sensaes, discursos, vises de mundo e estilos de vida.

    O fato de muitos artistas realizarem hoje obras que discutem as relaes entre fatos do

    quotidiano, objetos tcnicos, instituies e suas lgicas e discursos s evidencia o quanto

    tais prticas se inserem nessas prticas que mesclam distintas instncias e atores sociais,

    humanos e no-humanos.

    No caso em questo, atravs de sua esttica do jogo, Calle nos apresenta em Cuide de Voc, por exemplo, no apenas formas de lidar com a dor da perda no contexto de uma relao amorosa. Discute tambm como noes como privacidade e intimidade, longe de ser uma experincia individual, participa de uma rede de interaes sociais com diversos atores humanos e no-humanos (pessoas, situaes, objetos, regras sociais, discursos), sendo, portanto, uma experincia social de produo subjetiva.

    REFERNCIAS ARDENNE, Paul. Pratiques contemporaines: lart contemporain comme exprience. Paris: Dis Voir, 2001.BOURRIAUD, Nicholas. Esthtique relationnelle. Paris: Les Presses du Rel, 1998.

  • Cuide de voc

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    NOTAS1 Trabalho adaptado do originalmente apresentado ao

    Grupo de Trabalho Comunicao e Sociabilidade, do XIX Encontro da Comps, na PUC-Rio, Rio de Janeiro, RJ, em junho de 2010.

    2 Estes elementos, explicam os autores, no se confundem com a sensao ou a percepo de algo que nos exterior, mas consistem em uma espcie de relao de foras ou sensaes que nos afetam e transformam num nvel sutil mas no negligencivel que o da produo subje- tiva.

    3 Lembremos que o que prprio da arte contempornea sua busca de discutir os fenmenos da cultura, de reapresent-los, e no de represent-los. Aprofundei essa discusso no artigo Comunicao, Arte e Cultura Contempornea (2007b). Disponvel online: .

    4 Ao todo foram contatadas 45 pessoas, das quais 13 recusaram. Das que aceitaram, 5 no compareceram.

    5 Segundo a artista, feitas por uma amiga, just in case, j que Calle no confiava totalmente no detetive porque, segundo ela, ainda no conhecia muito bem.

    6 Em entrevistas e palestras, como a que assisti em 09 de dezembro de 2009, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, a artista afirma que muitas pessoas teriam se recusado a participar da proposta. Outras, curiosamente, teriam aceitado.

    7 Museu de Arte Moderna, no centro da cidade. Visita em 08 de fevereiro de 2010.

    8 Consegui entrevistar cinco visitantes na sada da exposio, ainda no MAM, antes de ser proibido de faz-lo.

    9 Embora no seja nossa questo aqui, eu diria, apoiado em Foucault (1984), que as mulheres e seus discursos aparecem na obra como uma funo enunciativa, que operaria e faria circular ordens de discurso. No trabalho de Calle, relao entre os sujeitos, suas profisses e seus discursos devem ser vistos mais como traos de processos de subjetivao do que como marcas identitrias e que vo servir como variedades discursivas com as quais a artista vai trabalhar para compor seu trabalho.

    10 O termo inspirado em Consuelo Lins (2009), quando ela trata da obra dos vdeo-artistas Dias & Riedweg como um mecanismo produtor de relaes.