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9ª Reunião da Red-POP FORMULÁRIO PARA APRESENTAR TRABALHOS IX Reunião da Red POP 8 - 10 de avril de 2005 Rio de Janeiro, Brasil Título completo da apresentação Uma análise do jornalismo científico na América Latina: Um estudo de caso de sete jornais da região Modalidade de apresentação: Trabalho oral Cartaz Área temática: 1. Educação não formal 2. Museus e centros interativos de ciência 3. Produção de materiais 4. Jornalismo científico 5. Profissionalização da divulgação científica Dados pessoais do(os) autor(es): Nome do palestrante Luís Henrique de Amorim y Luisa Massarani Nome outros autores Instituição Museu da Vida/Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz Domicílio Tonelero, 137/902, Copacabana Cidade / Estado Rio de Janeiro/RJ CEP / País 22020-040/Brasil Telefone Código: 21 Número: 22558928 Fax Código: Número: Correio eletrônico [email protected] e [email protected] Nome de outros

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9ª Reunião da Red-POP

FORMULÁRIO PARA APRESENTAR TRABALHOSIX Reunião da Red POP8 - 10 de avril de 2005Rio de Janeiro, Brasil

Título completo da apresentação

Uma análise do jornalismo científico na América Latina: Um estudo de caso de sete jornais da região Modalidade de apresentação: Trabalho oral Cartaz Área temática:

1. Educação não formal 2. Museus e centros interativos de ciência

3. Produção de materiais 4. Jornalismo científico 5. Profissionalização da divulgação científica

Dados pessoais do(os) autor(es):Nome do palestrante

Luís Henrique de Amorim y Luisa Massarani

Nome outros autoresInstituição Museu da Vida/Casa de Oswaldo Cruz/FiocruzDomicílio Tonelero, 137/902, CopacabanaCidade / Estado Rio de Janeiro/RJCEP / País 22020-040/BrasilTelefone Código: 21 Número: 22558928Fax Código: Número:Correio eletrônico [email protected] e [email protected] de outros autores

Dados da instituição:Nome da instituição Fundação Oswaldo CruzPrograma ou centro Museu da VidaDomicílio Av. Brasil, 4365, ManguinhosCidade /Estado Rio de Janeiro, RJCEP / País 21040- 360/Brasil

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Telefone Código: (55-21) Número: 3865-2155

Fax Código: (55-21) Número: 3865-2121Página Web http://www.museudavida.fiocruz.br/Membro da Red Pop Titular Associado Ad-Hoc

SE PRETENDE PARTICIPAR DE UMA MESA DE TRABALHO:

Equipamento de apoio necessário para a apresentação (no caso de mesas de trabalho):

Projetor de transparências (retroprojetor) Projetor de slides

Datashow para PC Computador (PC) com Office

TV + Vídeo PAL Outro ____________________________

Resumo da proposta de apresentação:(Extensão de meia lauda, em Word para Windows, em folha tamanho carta, com letra arial, tamanho 12 , sem notas de pé de página e com espaçamento simples. Os bordes deverão ser: superior e inferior de 2 cm e laterais de 2,5 cm).

O objetivo da apresentação é mostrar um panorama de como vem sendo realizada a cobertura de temas da ciência na América Latina, tendo como estudo de caso sete jornais de impacto significativo da região. O ponto de partida foi a coleta das matérias publicadas durante o mês de abril de 2004 nos jornais La Nación, da Argentina; El Mercurio, do Chile; Mural, do México; El Comercio, do Equador; O Globo, Folha de S. Paulo e Jornal do Commercio/Pernambuco, do Brasil. No total, foram coletados 491 textos, obtidos das versões eletrônicas dos periódicos.As publicações escolhidas, além de abarcarem uma boa diversidade de países, foram escolhidas por serem ativas na área da ciência, mantendo certa regularidade na cobertura e também por possuírem equipe dedicada à cobertura de ciência e tecnologia. No caso mexicano, optamos pelo jornal Mural, publicado pelo mesmo grupo de La Reforma, considerado um dos mais importantes do país; Mural essencialmente reproduz as reportagens de ciência de La Reforma, disponibilizando-as gratuitamente em sua versão eletrônica (na ocasião, La Reforma cobrava pelo acesso). A escolha de três jornais brasileiros se deu pelo fato de que os autores trabalham no Brasil e têm particular interesse em observar como está a cobertura jornalística de temas de ciência em seu país. O Globo e Folha de S. Paulo estão entre os jornais de maior circulação no país; o Jornal do Commercio de Pernambuco foi escolhido por ter um

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trabalho importante na área da ciência e, ainda, por privilegiar a pesquisa regional fora do eixo Rio de Janeiro – São Paulo, onde se concentra a maior parte da atividade científica do país. A metodologia usada reúne uma análise quantitativa associada a uma análise qualitativa. Cabe ressaltar que são poucos os trabalhos que discutem jornalismo científico no âmbito da América Latina. Em particular, até onde sabemos, não há estudo similar comparativo. Acreditamos que este estudo pode dar subsídios para aperfeiçoar a prática do jornalismo científico na região e estimular outros estudos acadêmicos na área.

Trabalho por extenso:

Uma análise do jornalismo científico na América Latina: Um estudo de caso de sete jornais da região

Luís Henrique de Amorim Mestrando do Programa de Ensino de Biociências e Saúde,

Instituto Oswaldo Cruz,Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)

[email protected] Massarani

Coordenadora do Centro de Estudos,Museu da Vida,

Casa de Oswado Cruz,Fiocruz,

[email protected]

1. Natureza e objetivos da pesquisa O objetivo deste artigo é mostrar um panorama de como vem sendo realizada a

cobertura de temas da ciência e da tecnologia na América Latina, tendo como estudo de caso sete jornais de impacto significativo da região. O ponto de partida foi a coleta das matérias publicadas durante o mês de abril de 2004 nos jornais La Nación, da Argentina; El Mercurio, do Chile; Mural, do México; El Comercio, do Equador; O Globo, Folha de S. Paulo e Jornal do Commercio/Pernambuco, do Brasil.

As publicações escolhidas, além de abarcarem cinco países distintos, foram escolhidas por manterem regularidade na cobertura de ciência e tecnologia, com equipe dedicada a escrever sobre esses temas. No caso mexicano, optamos pelo jornal Mural, publicado pelo mesmo grupo de Reforma, considerado um dos mais importantes do país; Mural essencialmente reproduz as reportagens de ciência de Reforma, disponibilizando-as gratuitamente em sua versão eletrônica (na ocasião, Reforma cobrava pelo acesso). A escolha de três jornais brasileiros se deu pelo fato de que os autores trabalham no Brasil e têm particular interesse em observar como está a cobertura jornalística de temas de ciência em seu país. O Globo e Folha de S. Paulo estão entre os jornais de maior circulação no país; o Jornal do Commercio de

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Pernambuco foi escolhido por ter um trabalho importante na área da ciência e, ainda, por privilegiar a pesquisa regional fora do eixo Rio de Janeiro – São Paulo, onde se concentra a maior parte da atividade científica do país.

No total, foram coletados 491 textos. Como será mais bem descrita a seguir, a metodologia conjuga análise quantitativa e qualitativa (leia item 3 deste artigo). A partir da análise destas matérias, observamos diversos aspectos do jornalismo científico: os principais assuntos cobertos; espaço dedicado a temas relacionados à política científica; espaço dedicado a pesquisas e fatos científicos nacionais em comparação a pesquisas e fatos científicos de outros países; tratamento dado a temas controversos e incertezas da ciência; entre outros.

Cabe ressaltar que são poucos os trabalhos que discutem jornalismo científico no âmbito da América Latina. Em particular, até onde sabemos, não há estudo similar comparativo entre distintos países da região. Acreditamos que estudos como o nosso permitirá fornecer subsídios para estimular o aperfeiçoamento da cobertura jornalística de temas de ciência e tecnologia.

2. Contexto da pesquisaA democratização do conhecimento científico é questão chave na

busca por uma sociedade mais justa e igualitária. No entanto, são comuns os episódios na América Latina em que, em vez de se criarem estratégias para colocar em debate de forma mais democrática temas relacionados à ciência e à tecnologia, a sociedade tem sido excluída do processo decisório de questões que têm impacto em sua vida cotidiana.

Exemplo disto é episódio recente de introdução de alimentos e plantações geneticamente modificadas no Brasil, que vêm causando controvérsias desde 1998, acirradas em 2003. Embora o cultivo e a comercialização de produtos geneticamente modificados sejam proibidos por lei no Brasil, em fevereiro de 2003 descobriu-se que grande proporção da soja plantada no sul do país era transgênica. Pouco após anunciar que a proibição seria mantida, o governo decidiu permitir a venda para consumo animal e humano, sob o argumento de que se tratava de um problema social e econômico importante, tendo em vista que envolvia várias toneladas de soja e grande número de pequenos agricultores (MASSARANI, 2003). A decisão foi tomada poucos meses após serem anunciados os resultados de uma enquete de opinião pública, que reiterava dados de estudo similar feito no ano anterior: cerca de 70% dos brasileiros preferem comer alimentos não transgênicos; cerca de 90% dos entrevistados afirmam que, se têm de haver alimentos transgênicos vendidos nos supermercados, que sejam rotulados (IBOPE, 2001; IBOPE, 2002). Além disto, um júri dos cidadãos realizado na região nordeste do

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Brasil, organizado pelas organizações não-governamentais ActionAid e Esplar, rejeitou a proposta de introduzir a comercialização e o plantio de organismos geneticamente modificados no país (TONI, BRAUN, 2001).

O tema dos transgênicos – longe de ser apenas uma opção alimentícia ou uma questão restrita ao âmbito acadêmico – tem impacto importante em aspectos variados do país. Para ilustrar isto, basta lembrar que o Brasil é um dos maiores exportadores de produtos agrícolas do mundo. A agricultura é responsável por 13% do produto interno bruto brasileiro e tem papel significativo na balança comercial do país.

A decisão sobre a introdução ou não dos organismos geneticamente modificados no Brasil – assim como diversos temas da ciência e da tecnologia no âmbito da América Latina –, portanto, precisa ser tomada após uma discussão de âmbito amplo na sociedade. Para isto, é preciso estimular um debate e uma atitude crítica da sociedade perante temas da ciência e da tecnologia cujas aplicações têm implicação na sociedade, como defende o ex-editor da revista Sappere, Marcello Cini, em entrevista à revista Ciência Hoje: "A nossa civilização está profundamente impregnada de ciência e tecnologia. Mas elas são cada vez mais complexas e distantes do entendimento do cidadão comum, de tal modo que é preciso haver uma socialização maior de conhecimentos específicos. Mais do que isso, se faz necessário que as pessoas adquiram um conhecimento sobre o que é ciência, por que se faz ciência, qual é a relação entre o desenvolvimento científico e tecnológico e os problemas de seu cotidiano e da sociedade presente e futura." (CINI, 1994, p. 10).

A jornalista Fabíola Oliveira, que recebeu o Prêmio José Reis de Divulgação Científica, também defende este ponto: “O acesso às informações de C&T é fundamental para o exercício pleno da cidadania e, portanto, para o estabelecimento de uma democracia participativa, onde grande parte da população tenha de fato condições de influir com conhecimento em decisões e ações políticas ligadas à C&T”. (OLIVEIRA, 2000, p.13)

Neste contexto, a divulgação científica, por meio de seus distintos instrumentos, tem papel importante. Por causa de seu grande poder de alcance, os meios de comunicação de massa são uma ferramenta importante para estimular o debate de temas de ciência e tecnologia. Isto nos levou a concentrar nossos esforços em jornais diários, visando entender de que forma eles vêm apresentado a cobertura de temas deciência e tecnologia.

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3. MetodologiaNosso objetivo de traçar um panorama do jornalismo científico na América

Latina é por certo ambicioso, tendo em vista a dimensão do continente e a complexidade do tema. Além disto, muitos jornais publicam de forma não sistemática reportagens relacionadas à ciência e à tecnologia. Tendo em vista que há ainda poucos estudos na área e menos ainda que busquem explorar uma comparação entre países, decidimos usar como ponto de partida a análise daqueles jornais que têm uma cobertura mais significativa de ciência e tecnologia, com uma editoria específica para a área. Isto fez com que também optássemos por nos restringir ao material publicado nesta editoria. Outro critério na definição dos jornais foi buscar publicações que tivessem profissionais especializados em cobertura de temas de ciência e tecnologia.

Optamos, ainda, por focar nossa análise no material que foi publicado eletronicamente pelos jornais escolhidos, com suporte em vários argumentos. O primeiro deles é a restrição financeira, já que não dispúnhamos de recursos para adquirir a assinatura desses jornais. Além disto, tendo em vista o sistema frágil de correio, acreditamos que muitos exemplares poderiam tardar a chegar ou mesmo se extraviar. Por outro lado, a versão eletrônica dos jornais está disponível para o público de outros países tendo, portanto, um alcance que vai além do âmbito de um único país. No caso mexicano, optamos pelo jornal Mural, publicado pelo mesmo grupo de Reforma, considerado um dos mais importantes do país; Mural essencialmente reproduz as reportagens de ciência de Reforma, disponibilizando-as gratuitamente em sua versão eletrônica (Reforma cobrava pelo acesso no momento de coleta dos dados).

Outro critério na escolha dos jornais foi a diversidade de países. Tendo em vista o grande número de países na região, o fato de que muito deles não possuem jornais com cobertura sistemática de ciência e ainda o fato de que esta pesquisa refere-se a uma dissertação de mestrado de um dos autores (Luís Henrique Amorim) – com as respectivas restrições de tempo –, optamos por envolver apenas cinco países: Argentina, Chile, Equador, México e Brasil. Optamos, ainda, por selecionar apenas um jornal por país; a única exceção foi o caso brasileiro, tendo em vista que os pesquisadores envolvidos moram nesse país e têm particular interesse em observar como está a cobertura jornalística de temas de ciência e tecnologia em seu país. O Globo e Folha de S. Paulo estão entre os jornais de maior circulação no país; o Jornal do Commercio de Pernambuco foi escolhido por ter um trabalho importante na área da ciência e tecnologia e, ainda, por privilegiar a pesquisa regional fora do eixo Rio de Janeiro – São Paulo, onde se concentra a maior parte da atividade científica do país.

Nosso universo de estudo, portanto, foi os seguintes jornais: La Nación, da Argentina; El Mercurio, do Chile; Mural, do México; El Comercio, do Equador; O Globo, Folha de S. Paulo e Jornal do Commercio/Pernambuco, do Brasil. O período de coleta das reportagens foi o mês de abril de 2004, quando diariamente visitávamos os respectivos sites dos jornais. Com base nestas visitas diárias, montamos uma base de reportagens, em formato eletrônico, de todo o material publicado no período.

Entre as questões que queríamos responder estavam: Quais são os principais temas e áreas da ciência nos jornais? Qual a importância dada a estudos locais e sua relação em comparação a pesquisas internacionais? Em que medida os cientistas participam dos textos, seja como autor ou como fontes de informação? Qual o espaço

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dedicado à política científica? Qual abordagem dada nas reportagens quanto ao estilo? No que se refere ao tom das reportagens, queríamos ainda avaliar se priorizavam as maravilhas da ciência e da tecnologia. Queríamos ainda avaliar a presença de menção a riscos, controvérsias, incertezas e questões éticas da ciência.

Como instrumento de análise inicial usamos um instrumento desenvolvido por Martin Bauer e colaboradores (BAUER, 1993). Optamos por usar esse instrumento por considerar que ele atendia aos nossos interesses de análise e já havia sido previamente amplamente testado no que se refere à sua eficácia. Além disto, permitirá, no futuro, comparar com dados obtidos no Reino Unido. Bauer é pesquisador da London School of Economics e tem nos ajudado em nosso estudo.

Além da análise quantitativa, que permite a obtenção de um panorama geral das reportagens publicadas no período, incluímos em nossa abordagem uma análise qualitativa, realizada com uso de dois instrumentos. O primeiro deles é uma análise cuidadosa de cada uma das reportagens. O segundo instrumento consiste em uma entrevista aos principais jornalistas que escreveram os textos analisados. As entrevistas nos dão subsídios para entender a visão de jornalismo científico esses jornalistas têm no que se refere ao papel social de sua atividade; o que consideram notícia dentro do cenário da ciência e da tecnologia; de que forma eles planejam/planejaram os textos; quais os principais objetivos na escolha do tema e na elaboração do texto; as restrições e os desafios que esses profissionais enfrentaram e enfrentam no momento de pautar e escrever uma reportagem de ciência; etc.

4. Resultados preliminaresNo momento de elaboração deste artigo, embora já estivéssemos em estágio

avançado de análise do material coletado, ainda não dispúnhamos de resultados finais do estudo. Ainda assim, consideramos que este artigo é apropriado para ser apresentado como comunicação oral na Reunião da Rede Pop de abril de 2005 por vários motivos. O primeiro deles é que estamos seguindo a risca nosso cronograma e certamente na ocasião já disporemos de resultados mais detalhados de nosso estudo. O segundo motivo é que, por ser o principal fórum da América Latina na área de popularização da ciência, a Reunião da Rede Pop será uma ocasião fundamental para compartilhar nossos dados com os participantes, o que permitirá aperfeiçoar nosso estudo. Ressalte-se, por fim, que o material coletado mostra que temos em mãos um material extremamente interessante. No total, foram coletados 491 textos publicados em abril de 2004, assim distribuídos: 69 em El Mercurio, do Chile (média de 2,3 artigos por dia); 111 em La Nación, da Argentina (média de 3,7 artigos por dia); 63 em Mural, do México (média de 2,1 artigos por dia); 26 em El Comercio, do Equador (média de 0,9 artigo por dia); Brasil: 67 em O Globo (média de 2,2 artigos por dia), 105 em Folha de S. Paulo (média de 3,5 artigos por dia) e 50 em Jornal do Commercio (média de 1,6 artigo por dia).

Os dados mostram, portanto, em termos numéricos, a presença importante de reportagens de ciência e tecnologia nos jornais analisados. Alguns jornais, como El Mercúrio e, em menor medida, Jornal do Commercio mantêm um número alto de

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reportagens publicadas por conta de pequenas notas. Mas todos os jornais analisados, inclusive os dois mencionados neste parágrafo, publicam sistematicamente matérias longas e bem trabalhadas na área. Todos publicam, também sistematicamente, textos gerados pela própria equipe, embora se observe a influência de agências de notícias estrangeiras e mesmo a publicação na íntegra de artigos provenientes de jornais do exterior, a exemplo de The New York Times. Entre os jornais analisados, o que possui uma cobertura um pouco mais frágil em termos de profundidade dos temas é o periódico equatoriano: embora possua jornalistas que escrevam algumas das reportagens, muitas delas são escritas fora do âmbito da Redação. Por outro lado, o jornal também publica reportagens produzidas pela Fundacyt, uma fundação local que conta com jornalistas especializados em temas de ciência e tecnologia e que produz reportagens para serem distribuídas aos jornais locais, justamente buscando aumentar a presença desses temas nos meios de comunicação.

Os temas das reportagens analisadas em nosso estudo são bastante diversificados. A genética e a astronomia estão entre os preferidos; saúde está presente em muitos desses jornais, embora a Folha de S. Paulo prefira tratar a área em editoria à parte. No jornal equatoriano, ao menos no período analisado, a informática ganhou peso significativo. É comum a presença de pesquisas provenientes do exterior, particularmente de países do dito Primeiro Mundo. El Mercúrio também publicou matérias de países do dito Terceiro Mundo, como países africanos e o Brasil. Mas de uma forma geral podemos dizer que há uma preocupação com questões de interesse nacionais, com destaque para Mural e La Nación; o último em particular expressa grande orgulho pelas conquistas obtidas pela comunidade científica argentina.

Mural é, entre todos os jornais analisados, o que mais publica temas de política científica, enquanto La Nación também dá espaço significativo para o tema. Isto reflete a visão do então editor de ciência de Reforma, Arturo Barba, que considera a política científica como parte de importância vital do jornalismo científico. É interessante comparar esse dado com declaração do então editor de ciência de Folha de S. Paulo, Marcelo Leite, que acredita que, embora política científica seja importante, não é de interesse geral do grande público e não integra o que considera jornalismo científico (Barba e Leite fizeram essas declarações em, respectivamente, conversa pessoal e entrevista concedida a um dos autores desse texto).

Mural também dá espaço para discussões relacionadas a questões legais que envolvem temas de ciência e tecnologia, como a legislação referente a transgênicos e clonagem terapêutica, também presentes em Folha de S. Paulo e La Nación. Apesar da qualidade boa do material analisado, observamos a fragilidade do jornalismo científico no que se refere a sua continuidade: baseia-se essencialmente em indivíduos que por gosto pessoal dedicam-se à área. São pouco freqüentes – se é que existem – estímulos mais sistemáticos à consolidação da área, por exemplo, provenientes do próprio veículo de comunicação.

5. Considerações finais

Os dados obtidos até o momento em nosso estudo mostram que um estudo comparativo entre os países da América Latina pode fornecer informações muito

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interessantes para entender o panorama geral do jornalismo científico em nosso continente e traçar a visão manifestada da atividade por alguns de seus principais atores. Embora o nosso estudo se restrinja a apenas cinco países, acreditamos que se trate de um ponto de partida importante para que tenhamos mais subsídios para buscar o aperfeiçoamento da prática do jornalismo científico latino-americano, assim como para estimular a realização de mais estudos acadêmicos no campo.

Bibliografia:CINI, Marcello. Ciência Hoje, n. 138, 1994.IBOPE (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística), Pesquisa de Opinião Pública sobre Transgênicos. 2001. [Online] Disponível em: http://www.greenpeace.com.br/transgenicos/pdf/pesquisaIBOPE_agosto2001.pdf;IBOPE (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística) Pesquisa de Opinião Pública sobre Transgênicos. 2002. [Online] Disponível em: http://www.idec.org.br/files/pesquisa_transgenicos.pdfBAUER, Martin, RAGNARSDÓTTIR Ásdís, RÚDÓLFSDÓTTIR Annadís, Ciência e Tecnologia na Imprensa Inglesa 1946-90, relatório de trabalho publicado em 1993, cuja tradução para o português foi feita pela nossa equipe com a devida autorização dos autores.MASSARANI, Luisa. Brazil to allow sale of illegally grown GM food. SciDev.Net, 1 abril 2003. [Online] Disponível em: http://www.scidev.net/News/index.cfm?fuseaction=readNews&itemid=357&language=1, acessado em 7 de outubro de 2004)OLIVEIRA, Fabíola. Jornalismo científico. São Paulo: Contexto, 2002. TONI A. e BRAUN, von J. Poor citizens decide on the introduction of GMOs in Brazil. Biotechnology and Development Monitor, No. 47, p. 7-9. 2001.