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0 PATRÍCIA DE OLIVEIRA AS RELAÇÕES ENTRE AS INDÚSTRIAS DE TRÊS LAGOAS-MS NO CONTEXTO DE TERRITORIALIDADE: UM ESTUDO COM PERSPECTIVAS DE DESENVOLVIMENTO LOCAL UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO - UCDB PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO LOCAL MESTRADO ACADÊMICO CAMPO GRANDE – MS 2006

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Relacoes Entre as Industrias de Tres Lagoas Ms No Contexto de Territorialidade Um Estudo Com Perspectivas de Desenvolvimento Local

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    PATRCIA DE OLIVEIRA

    AS RELAES ENTRE AS INDSTRIAS DE TRS LAGOAS-MS NO CONTEXTO DE

    TERRITORIALIDADE: UM ESTUDO COM PERSPECTIVAS DE DESENVOLVIMENTO LOCAL

    UNIVERSIDADE CATLICA DOM BOSCO - UCDB PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM DESENVOLVIMENTO LOCAL

    MESTRADO ACADMICO CAMPO GRANDE MS

    2006

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    PATRCIA DE OLIVEIRA

    AS RELAES ENTRE AS INDSTRIAS DE TRS LAGOAS-MS NO CONTEXTO DE

    TERRITORIALIDADE: UM ESTUDO COM PERSPECTIVAS DE DESENVOLVIMENTO LOCAL

    Dissertao apresentada como exigncia parcial para a obteno de ttulo de Mestre em Desenvolvimento Local Mestrado Acadmico Banca Examinadora, sob a orientao da Prof. Dr. Maria Augusta de Castilho.

    UNIVERSIDADE CATLICA DOM BOSCO - UCDB PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM DESENVOLVIMENTO LOCAL

    MESTRADO ACADMICO CAMPO GRANDE MS

    2006

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    FOLHA DE APROVAO

    Ttulo: As Relaes entre as Indstrias de Trs Lagoas-MS no Contexto de Territorialidade: um estudo com perspectivas de Desenvolvimento Local

    rea de Concentrao: Territorialidade e Dinmicas Scio-Ambientais.

    Linha de Pesquisa: Dinmica Territorial: e Cooperao Social.

    Dissertao submetida Comisso Examinadora designada pelo Colegiado do Programa de Ps-Graduao em Desenvolvimento Local - Mestrado Acadmico da Universidade Catlica dom Bosco, como requisito parcial para a obteno do ttulo de Mestre em Desenvolvimento Local.

    Dissertao aprovada em: ____/____/____

    BANCA EXAMINADORA

    ________________________________

    Orientadora: Prof. Dr. Maria Augusta de Castilho Universidade Catlica Dom Bosco UCDB/Campo Grande MS

    ________________________________

    Prof. Dr. Lus Carlos Vinhas tavo Universidade Catlica Dom Bosco UCDB/Campo Grande MS

    _______________________________

    Prof. Dr. Antonia Railda Roel Universidade Catlica Dom Bosco UCDB/Campo Grande MS

    ________________________________

    Prof. Dr. Alexandre Luzzi Las Casas Pontifcia Universidade Catlica PUC/So Paulo

  • 3

    Dedico esta dissertao aos meus pais e meus irmos, vocs no so s minha famlia, so a minha vida, amo vocs.

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    AGRADECIMENTOS

    A Deus por ter me dado a vida, coragem para luta e acima de tudo ter me presentado com a famlia maravilhosa que possuo.

    minha famlia pelo amor e pelo apoio incondicional que sempre recebi, nos melhores e piores momentos de minha vida.

    s minhas cunhadas Ana Rosa e Roseli, pela ajuda incondicional, na elaborao deste trabalho, e pelo carinho que sempre tiveram comigo.

    minha orientadora Professora Doutora Maria Augusta de Castilho pelo profissionalismo demonstrado e auxlio na elaborao deste trabalho.

    Aos Amigos: Accia, Ana Cristina e Carlos Alberto Zuque, pela amizade com que me presenteiam.

  • 5

    Investir em conhecimento rende sempre melhores juros. (Benjamin Franklin - 1706-1790).

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    RESUMO

    O presente trabalho tem como abordagem a industrializao e as relaes existentes entre as indstrias, o setor pblico e o privado na cidade de Trs Lagoas-MS. A industrializao um elemento de inovao que atravs de suas inter-relaes, com o setor pblico e privado, gera o crescimento e quando bem estruturado, pode gerar tambm o desenvolvimento da localidade onde est inserida. Por ser um municpio que possui energia abundante, localizao privilegiada e incentivos fiscais, Trs Lagoas-MS atraiu industriais de vrios setores, os quais se estabeleceram no local. Esse crescimento industrial recente no municpio tem determinado mudanas nas relaes econmicas e sociais, com a ampliao no nmero de ofertas de emprego nas indstrias, e o crescimento da economia. Verifica-se, ainda, uma melhoria na qualidade de vida dos residentes, ficando acima da mdia estadual. No entanto, o municpio se defronta com problemas originrios do desenvolvimento acelerado, e est passando por um perodo de adaptao em sua infra-estrutura. Diante dos fatos, com o presente trabalho objetivou-se apontar os fundamentos do impacto da industrializao na economia do municpio e a influncia dos tipos das estratgias existentes nas relaes inter-indstrias estabelecidas em Trs Lagoas-MS, criando uma dinmica de funcionamento dos sistemas produtivos locais para inovar e motivar o desenvolvimento. Portanto, este estudo se justifica pela mudana na base econmica do municpio que est em transio entre a agropecuria e a indstria. A metodologia utilizada no desenvolvimento desse trabalho foi pesquisa bibliogrfica com estudo de caso, tendo como opo terico-metodolgica, mais ampla, a pesquisa qualitativa.

    Palavras-chave: Cooperao Industrial, Desenvolvimento Local, Industrializao, Qualidade de Vida, Territorialidade.

  • 7

    ABSTRACT

    The present work has an approach the industrialization and the relations that exist among industries, the public and the private departments in Trs Lagoas-MS city. The industrialization is an element of innovation that through its interrelations, with the public and private sector, generates the growth and when well structured also can generate the development of the place where it is inserted for being a municipal district that owns abundant energy, privileged localization and fiscal incentives, Trs Lagoas-MS attracted industrial of several sectors that were established there. This recent industrial growth in the municipal district has determined changes in the economic and social relationship of the municipal district, with the enlargement in the number of job offers in the industries, the growth of the economy. We realize, yet, an improvement in the life quality of the residents, getting above of the state average. However, the municipal district confronts with original problems of the accelerated development, and it is passing by an adaptation period in its infrastructure. With this facts in mind, the present work aimed to point the foundations of the impact of the industrialization in the economy of the municipal district and the influence of the types of the existing strategies in the relationships among the industries established in Trs Lagoas-MS, creating a dynamic of the operation of the local productive systems to innovate and to motivate the development. Therefore this study is justified by the change in the economic base of the municipal district that is in transition between agriculture and the industry. The methodology used in the development of this work was a bibliographical research with study of case, having as theoretician-methodological option, wider, the qualitative research.

    Key-words: Industrial cooperation, Local Development, Industrialization, Territory, Quality of life.

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Matriz das cinco foras Figura 2 - Localizao de Trs Lagoas-MS

    Figura 3 - Panormica de Trs Lagoas-MS Figura 4 - Coreto da praa central de Trs Lagoas - MS na dcada de 30 Figura 5 - Ponte do rio Paran, Complexo Hidreltrico de Urubupung Figura 6 - Indstria Mabel: pioneira na industrializao de Trs Lagoas-MS Figura 7 - Curso profissionalizante para as indstrias txtil de Trs Lagoas-MS

    30 39 40 42

    43 46 57

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Evoluo demogrfica de Trs Lagoas-MS

    Tabela 2 - PIB de Mato Grosso do Sul Tabela 3 - Comparao de IDH de Mato Grosso do Sul e Trs Lagoas MS Tabela 4 - Perfil dos entrevistados

    41

    51 52 69

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    LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 Grfico 2 Grfico 3 Grfico 4

    Grfico 5

    Grfico 6 Grfico 7 Grfico 8 Grfico 9 Grfico 10 Grfico 11 Grfico 12 Grfico 13

    Grfico 14 Grfico 15 Grfico 16 Grfico 17 Grfico 18 Grfico 19 Grfico 20 Grfico 21

    Grfico 22

    Evoluo demogrfica de Trs Lagoas-MS PIB de Mato Grosso do Sul Comparao de IDH de Mato Grosso do Sul e Trs Lagoas-MS

    Emprego Vagas de emprego oferecidas pela agncia pblica de empregos em Trs Lagoas - MS de janeiro a julho de 2006 Atendimentos na agncia pblica de empregos de janeiro a julho de 2006 Tempo de atividade das empresas instaladas em Trs Lagoas-MS Tempo de atividade das empresas em Trs Lagoas-MS Motivo da escolha do municpio de Trs Lagoas-MS Tempo de iseno fiscal das indstrias instaladas em Trs Lagoas-MS Indstrias que possuem parcerias em Trs Lagoas-MS Tipos de parcerias em Trs Lagoas-MS Associaes de classes das empresas instaladas em Trs Lagoas-MS

    Barreiras encontradas pelas empresas para desenvolver suas atividades no municpio de Trs Lagoas-MS

    Participao em projetos sociais Perfil dos entrevistados Tempo de moradia em Trs Lagoas-MS Motivo da vinda para Trs Lagoas-MS

    Grau de escolaridade Grau de empregabilidade

    Ramo de atividade da empresa em que trabalha Voc ou algum de sua famlia j participou de algum treinamento na empresa em que trabalha Grau de satisfao com a industrializao em Trs Lagoas-MS

    41

    51 53

    54

    55 59 60 61 62 63 64 65

    66 67 69 70 71

    72

    73

    74

    75 76

  • 10

    Grfico 23 Grfico 24 Grfico 25 Grfico 26 Grfico 27 Grfico 28 Grfico 29 Grfico 30

    Grfico 31

    Grau de satisfao com o municpio Renda familiar Satisfao com o salrio Satisfao com a qualidade de vida

    Satisfao com a sade Empresas que possuem convnios mdicos

    Tipos de convnios mdicos das empresas instaladas em Trs Lagoas-MS Atividade desempenhada antes da industrializao de Trs Lagoas- MS

    Projetos sociais que as empresas mantm em Trs Lagoas-MS

    77

    78 79 80

    81 82

    83

    84

    85

  • 11

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ACITL - BNDES -

    CELUSA - CESP - CRA -

    CREA - EMBRPA -

    FAT - FCO -

    FIEMS - IBGE - ICMS -

    IDH - IPTU -

    PIB -

    S/A - SEBRAE -

    SENAI - SESC - SESI - UBS -

    UFIM -

    Associao Comercial e Industrial de Trs Lagoas Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico Social Centrais Eltricas de Urubupung S/A

    Companhia Energtica de So Paulo Conselho Regional de Administrao Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura

    Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria Fundo de Amparo ao Trabalhador

    Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste. Federao das Indstrias do Estado de Mato Grosso do Sul Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica Imposto Sobre Circulao de Mercadorias e Prestao de Servios ndice de Desenvolvimento Humano Imposto Predial e Territorial Urbano

    Produto Interno Bruto Sociedade Annima Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas

    Servio Nacional de Aprendizagem Industrial Servio Social do Comrcio

    Servio Social da Indstria Unidades Bsicas de Sade Unidade Fiscal do Municpio

  • 12

    SUMRIO

    INTRODUO 13 1 REFERENCIAL TERICO 16 1.1 O ESPAO E A INDSTRIA 16

    1.2 TERRITRIO NO CONTEXTO DA INDUSTRIALIZAO 1.2.1 As lgicas dos sistemas territoriais

    18

    20 1.3 O LUGAR 21

    1.4 TERRITORIALIDADE 1.5 DESENVOLVIMENTO LOCAL E DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL 1.6 COOPERAO INDUSTRIAL 1.6.1 Cooperao industrial e desenvolvimento local 1.7 CAPITAL SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL

    1.7.1. Um novo modelo de desenvolvimento 2 A INDUSTRIALIZAO EM TRS LAGOAS-MS

    2.1 CARACTERIZAO DO MUNICPIO E TRS LAGOAS-MS 2.2 ASPECTOS HISTRICOS DE TRS LAGOAS-MS

    2.3 INDUSTRIALIZAO EM TRS LAGOAS-MS 2.4 INCENTIVO INDUSTRIAIS, ESTADUAIS E MUNICIPAIS

    3 ANLISE E INTERPRETAES DOS DADOS COLETADOS 3.1 INTER-RELAES INDUSTRIAIS EM TRS LAGOAS-MS

    3.2 INTRODUO PESQUISA QUALITATIVA 3.3 ANLISE DOS DADOS COLETADOS JUNTO S INDSTRIAS 3.4 ANLISE DOS DADOS COLETADOS JUNTO COMUNIDADE CONSIDERAES FINAIS REFERNCIAS APNDICES APNDICE A APNDICE B

    23 25 28

    32 36

    37 39 39 41

    45 48

    51 55 58 59 68

    86 90 95 96 98

  • 13

    INTRODUO

    Trs Lagoas um plo industrial com grandes perspectivas produtivas para o

    Estado de Mato Grosso do Sul, possui energia abundante, localizao privilegiada e incentivos fiscais, est situada na divisa com o extremo noroeste do Estado de So Paulo e 324 km da capital de Mato Grosso do Sul, Campo Grande.

    O municpio est em fase de adaptao, porm, ainda no possui uma infra-

    estrutura adequada a nova demanda. O municpio s tem 22% de asfalto, a rede de esgoto s alcana 35% da populao, no entanto, o cenrio que se nota hoje de uma cidade em pleno desenvolvimento, onde as construes so inmeras e as obras pblicas tambm esto sendo efetuadas. Acredita-se que esse perodo de adaptao ser breve, e logo a cidade conseguir estar completamente estruturada para o grau de industrializao que a afeta.

    Trs Lagoas o nico municpio de Mato Grosso do Sul que beneficiado por

    duas produtoras de energia eltrica: a hidreltrica de Jupi, com capacidade de gerao para 1560 mil megawatts, e uma termeltrica, que utiliza gs natural, com capacidade de 240 megawatts. A infra-estrutura de transportes tambm favorece o municpio, as empresas instaladas dispem da Hidrovia Tiet-Paran, Ferrovias e de Rodovias que escoam suas mercadorias ao restante de Mato Grosso do Sul pela BR-262, e aos mercados do Sudeste, pela rodovia Marechal Rondon (SP -300), que liga a cidade ao Estado de So Paulo.

    Com o crescimento da industrializao em Trs Lagoas-MS, passou a existir uma maior competitividade e uma das estratgias para conseguir essa vantagem competitiva

    atravs dos acordos de cooperao ou convnios inter-indstrias, objetivando qualificao de mo-de-obra, melhoria na tecnologia entre outros.

    Este estudo se fez necessrio porque a industrializao e o desenvolvimento tornam-se fundamentais para que o municpio consiga crescer, se manter, e, se possvel, levar qualidade de vida para a populao afetada por eles. Trs Lagoas-MS uma cidade cuja

  • 14

    economia tradicional era oriunda fundamentalmente da agropecuria e, atualmente tem-se notado uma mudana na base dessa economia, a qual est se alicerando nas indstrias locais.

    O trabalho foi dimensionado por meio de instrumentos metodolgicos com destaque para: reviso bibliogrfica, entrevistas, fotos. Que serviram de plano de fundo para que se realizasse o processo construtivo e analtico da dissertao.

    No aporte de Acevedo e Nohara (2006), no processo de pesquisa, entende-se que fundamental desenvolver uma reflexo crtica que possibilite a anlise do tema relacionado s situaes mais amplas, que colaborem para o entendimento dos problemas da vida cotidiana e das dificuldades enfrentadas pelos sujeitos sociais no seu dia-a-dia, e essa foi uma das preocupaes fundamentais dessa proposta: entender as transformaes ocorridas com a

    industrializao de Trs Lagoas, sem perder de vista as mudanas na vida de seus moradores. Portanto, concebeu-se a pesquisa como um caminho que construdo diante das

    circunstncias sociais e econmicas que geram mudanas da realidade.

    No estudo de caso, o pesquisador geralmente utiliza uma variedade de dados coletados em diferentes momentos, por meio de variadas fontes de informao. Tem como tcnicas fundamentais de pesquisa a observao e a entrevista. Produz relatrios que apresentam um estilo mais informal, narrativo, ilustrado com citaes, exemplos e descries fornecidos pelos sujeitos (GODOY, 1995). Dessa forma, pretendeu-se construir um caminho terico-metodolgico perpassado por opes qualitativas e quantitativas, houve momentos nos quais os levantamentos quantitativos foram importantes, com a utilizao de questionrios, formulrios, levantamentos estatsticos, dentre outros. Em outros momentos foi

    necessrio o uso de tcnicas qualitativas: com as entrevistas, a observao do ambiente fsico e social, o uso de fotografias, documentos pessoais, dentre outras.

    Para a classificao da pesquisa tomou-se como base os critrios de Vergara (1998) que compreende dois aspectos: quanto aos fins e quanto aos meios. Quanto aos fins, a pesquisa de natureza exploratria. A investigao exploratria realizada em rea na qual h pouco conhecimento acumulado e sistematizado. Por sua natureza de sondagem, no

    comporta hipteses que, todavia, podero surgir durante ou ao final da pesquisa, tratando-se de aprofundar conceitos preliminares (GIL, 2002). Quanto aos meios utilizados, a pesquisa baseou-se em dados e informaes bibliogrficas, documentais e de campo.

  • 15

    Esta pesquisa teve como proposta analisar as relaes inter-indstrias que ocorrem no municpio de Trs Lagoas-MS, levando a seguinte indagao: Quais os tipos de relaes existentes entre as indstrias e se estas relaes auxiliam no desenvolvimento local?

    Tendo em vista estas questes, objetivou-se com o presente trabalho apontar os fundamentos do impacto da industrializao na economia do municpio e a influncia dos tipos e das estratgias existentes nas relaes inter-indstrias estabelecidas em Trs Lagoas-

    MS criando uma dinmica de funcionamento dos sistemas produtivos locais para inovar e motivar o desenvolvimento. Assim foram identificados os tipos e o grau de relaes inter-indstrias que existem no municpio de Trs Lagoas-MS; verificando se essas relaes esto gerando desenvolvimento local para o municpio e averiguando se geram melhoria na

    qualidade de vida da populao.

  • 16

    1 REFERENCIAL TERICO

    1.1 O ESPAO E A INDSTRIA

    O espao uma criao humana que se realiza atravs do movimento da

    sociedade sobre a natureza. Considera-se como espao geogrfico o espao ocupado e organizado pelas sociedades humanas, ou seja, uma forma social de organizao do territrio. Para Carlos (1995, p. 15) o espao geogrfico deve ser concebido como um produto histrico e social das relaes que se estabelecem entre a sociedade e o meio circundante.

    comum o espao ser estudado como se os objetos que compem o panorama trouxessem neles mesmos sua prpria explicao, no entanto, esse tipo de abordagem espacista ignora os processos que ocasionaram mudanas.

    Na concepo de Santos (1997, p. 51) o espao formado por um conjunto indissocivel, solidrio e tambm contraditrio de sistemas de objetos e sistemas de aes, no considerados isoladamente, mas como o quadro nico no qual a histria se d. Essas relaes so, antes de tudo, relaes de trabalho dentro do processo produtivo geral da

    sociedade. Nesta conjuntura, notam-se que o homem tem papel central na medida em que sujeito, cuja humanidade construda ao longo do processo histrico, concomitante produo a reproduo de sua prpria vida. Os elementos do espao so: os homens, as empresas, as instituies, o chamado meio ecolgico e as infra-estruturas (SANTOS, 1997, p. 6).

    Com as novas tecnologias o espao est passando a ser um sistema de objetos cada vez mais artificiais, com isso, os elementos que o constitui se tornam cada vez mais estranhos ao lugar e a seus habitantes. Entretanto novas atividades, como por exemplo: uso de

    computadores e at mesmo robs, no sistema de produo, surgem trazendo intensas transformaes, criando novos valores a partir da constituio do cotidiano.

  • 17

    Carlos (1989) citou que os espaos industriais esto passando por uma remodelao com a introduo de novas tecnologias, concentrando a expanso industrial em novos complexos territoriais tipicamente na periferia das grandes reas metropolitanas. Que substituem as reas de industrializao antigas, as quais, por falta de competitividade, tendem

    a sofrer fuga de capitais.

    Ainda, Carlos (1989) evidenciou que a industrializao um fenmeno concentrado no espao enquanto produto da aglomerao de meios de produo, mo-de-obra, capitais e mercadorias. A produo espacial decorrente da produo em escala e contnua, tende a intensificar o surgimento de aglomeraes urbanas e facilitar a articulao entre as parcelas do espao global.

    Quando pensa-se no espao da indstria remete-se a uma paisagem urbana onde predominam as chamins expelindo fumaa de tons e odores diferenciados, uma concentrao

    de operrios e de adensamento de redes de transporte.

    Corra (1989) descreveu estratgias e aes concretas dos agentes modeladores do espao industrial e urbano:

    a) Os proprietrios dos meios de produo, sobretudo os grandes industriais, so grandes consumidores de espao;

    b) Os proprietrios imobilirios atuam no sentido de obterem a maior renda fundiria possvel de suas propriedades;

    c) Os promotores imobilirios formam um conjunto de agentes que realizam as operaes de incorporao, financiamento, estudo tcnico, construo do imvel e

    comercializao. Atuam no sentido de produzir habitaes para a populao que constitui a demanda;

    d) O Estado atua como grande industrial, proprietrio fundirio, promotor imobilirio, agente de regulao do espao e o alvo dos movimentos sociais urbanos. Mas como provedor de servios pblicos que sua atuao mais corrente e esperada;

    e) Os grupos sociais excludos tm como possibilidades de moradia, os cortios localizados prximos ao centro da cidade, as casas produzidas pelos sistemas de

  • 18

    autoconstruo em loteamentos perifricos, os conjuntos habitacionais produzidos pelo Estado.

    Benko (1996) alertou que nas duas ltimas dcadas, os observadores: economistas, gegrafos, cientistas e polticos chamam a ateno sobre uma mudana, de

    dimenses considerveis. Trata-se de uma recomposio dos espaos: os espaos clssicos, nos quais os sistemas econmico, social e poltico evoluram praticamente ao longo de todo o

    sculo e esto se deslocando ao mesmo tempo para cima e para baixo. Na escala superior, constata-se a criao ou mesmo o reforo dos blocos econmicos, iniciais e, freqentemente, sob forma de mercados comuns, evoluindo, em seguida, rumo a espaos polticos e economicamente unidos como o caso da Europa; o deslocamento rumo ao patamar inferior

    da escala caracteriza-se pelo reforo das unidades territoriais em nvel regional.

    Ressaltou Santos (1997) que o novo espao das empresas o mundo, as maiores empresas no so apenas multinacionais, so empresas globais. A globalizao no um fenmeno unilateral, ela suscita reaes e resistncias.

    Segundo Carlos (1989), a industrializao um fenmeno concentrado no espao enquanto produto da aglomerao de meios de produo, mo-de-obra, capitais e mercadorias. A produo espacial decorrente da produo em escala e contnua tende a intensificar o surgimento de aglomeraes urbanas e facilitar a articulao entre as parcelas do espao global.

    Na mesma medida em que surge uma economia global, ressurge uma tendncia de afirmao do local, como uma resposta excluso ou como uma tentativa de integrao no-

    subordinada.

    1.2 TERRITRIO NO CONTEXTO DA INDUSTRIALIZAO

    Muito se tem estudado a respeito da concepo de territrio e sua estreita ligao com o desenvolvimento local, pois sua estruturao adequada ser determinante para as

    relaes sociais e econmicas que fundamentam as atividades cuja gerao trar um crescimento progressivo para o lugar.

    No entendimento de vila et alli (2001, p. 28) espao e territrio constituem duas dimenses de um mesmo universo ou conjunto de realidade. Os dois se complementam,

  • 19

    o primeiro, como lugar onde ocorrem as relaes sociais e o segundo, como rea fsica delimitada que abriga e sustenta tal espao. O territrio uma base fsica, delimitada e com materialidade prpria.

    Conforme Santos (1997) o mundo no apenas um conjunto de possibilidades, oferecidas pelos lugares. Hoje com a competitividade importante que os lugares de ao sejam globais e previamente escolhidos entre aqueles capazes de atribuir a uma dada produo uma produtividade maior, portanto, o territrio termina por ser a grande medio entre o mundo e a sociedade em geral.

    Koga (2003, p. 34) apresentou que a noo do territrio hoje ultrapassa os limites do campo da geografia, sendo concebida e utilizada pelas cincias sociais, polticas e

    econmicas. Hoje os territrios podem ser formados por lugares contguos e por lugares em rede.

    A configurao territorial dada pelo conjunto formado pelos sistemas naturais existentes em um dado pas ou numa dada rea e pelos acrscimos que os homens superimpuseram a esses sistemas naturais. A configurao territorial no o espao, j que sua realidade vem de sua materialidade, enquanto o espao rene a materialidade e a vida que a anima. A configurao territorial, ou configurao geogrfica, tem, pois um existncia material prpria, mas sua existncia social, isto sua existncia real, somente lhe dada pelo fato das relaes sociais (SANTOS, 1997, p. 51).

    Compreende-se, portanto, que o territrio somente ser passvel de alteraes a

    partir do momento em que haja relaes sociais, revelando a sua existncia real. Para Castro et alii (1995, p. 78), territrio fundamentalmente um espao definido e delimitado por e a partir de relaes de poder.

    O territrio em si, no um conceito. Ele s se torna um conceito utilizvel para a anlise social quando o considerarmos a partir do seu uso, a partir do momento em que o pensamento juntamente com aqueles atores que dele se utilizam (SANTOS, 2000, p. 22).

    A relao inseparvel entre territrio e indivduo, ou territrio e populao, permite uma viso da prpria dinmica do cotidiano vivido pelas pessoas, pelos moradores de

    um lugar. Nesta perspectiva que o territrio ultrapassa os limites poltico-jurdicos enquanto Estado-Nao e, portanto, no se restringe ao mbito do lugar.

  • 20

    O territrio foi definido por Raffestin (1993, p. 63) como sistemas de aes e sistemas de objetos. Tomando como base seu conceito, entende-se por distrito industrial, a ligao entre as aes (redes de cooperao) e os objetos (a aglomerao de indstrias).

    Um conceito introduzido no incio do sculo XX pelo economista britnico Alfred

    Marshall, os distritos industriais tm uma caracterstica interna, uma personalidade regional. A especificidade dos distritos industriais decorre de uma capacidade, no mais das vezes

    herdada de uma cultura antiga, em negociar modos de cooperao entre capital e trabalho, entre grandes empresas e fornecedores de produtos intermedirios, entre administrao pblica e sociedade civil, entre bancos e indstria, etc. (BENKO, 2001).

    Nos distritos industriais as empresas so partes integrantes do territrio, sendo

    tambm elas, de certo modo, o prprio territrio. Eles, portanto, desenvolvem uma capacidade tecnolgica e inovadora endgena que permite s pequenas e mdias empresas locais

    conseguirem competir nos mercados internacionais com as grandes empresas verticalmente integradas.

    1.2.1 As lgicas dos sistemas territoriais

    Os sistemas territoriais tm por funo criar lgicas para organizar as vrias territorialidades existentes em um mesmo territrio.

    Ressaltou Koga (2003, p. 190) que a lgica da territorializao buscar as diferenas dentro de um espao urbano, para que a gente possa buscar uma inverso lgica de alocao de recursos pblicos.

    As lgicas da territorializao devem buscar organizar os diferentes territorialidades existentes dentro de um mesmo territrio, de modo a no afetar as vrias comunidades afetadas por elas.

    Para Mailatt (2002), os sistemas territoriais podem ser caracterizados sob duas lgicas principais:

    1. A lgica funcional: as empresas que atuam seguindo esta lgica so organizadas de maneira hierrquica, vertical, de forma departamentalizada para a diminuio de

  • 21

    custos. Para elas, o territrio nada mais do que um suporte, um lugar de passagem, no qual elas no se consideram inseridas;

    2. A lgica territorial: implica na formao de um forte elo entre a empresa e o territrio de implantao. Tem por objetivo a territorializao da empresa, ou seja, a insero no sistema territorial de produo. As empresas se organizam em redes, de modo horizontal, com o meio, existe a cooperao/concorrncia entre as empresas

    gerando sinergias necessrias ao seu funcionamento.

    1.3 O LUGAR

    O lugar abre a perspectiva para se pensar o viver e habitar, o uso e o consumo, os processos de apropriao do espao. Isto , guarda em si e no fora dele, o seu significado e as

    dimenses do movimento da histria em constituio enquanto movimento da vida, possvel de ser alcanado pela memria, atravs dos sentidos e do corpo. Neste sentido Carlos (1996, p. 20) apontou que o espao passvel de ser sentido, pensado, apropriado e vivido atravs do corpo.

    Entretanto, no deve ser compreendido apenas como o espao onde se realizam as prticas dirias, mas tambm como aquele onde se situam as transformaes e a reproduo das relaes sociais de longo prazo, bem como a construo fsica e material da vida em sociedade. Nele, realiza-se o cotidiano, o momento, o fugidio; mas tambm a histria, o permanente, o fixo, correspondendo ao identitrio, ao relacional e ao histrico, no mbito da

    trade habitante-identidade-lugar.

    Na concepo de Santos (1997), o lugar poderia ser definido a partir da densidade tcnica, a densidade informacional, a idia da densidade comunicacional e, tambm, em funo de uma densidade normativa. Acrescenta-se ainda que a dimenso do tempo em cada lugar pode ser visto atravs do evento no presente e no passado. Deve-se compreender o lugar como a dimenso da existncia que se manifesta atravs do cotidiano compartilhado entre as

    pessoas gerando conflitos que se tornam a base da vida em comum. O lugar pode ser visto como um intermedirio entre o mundo e o indivduo.

  • 22

    atravs do conceito de lugar e de seu exame, que se poder assumir a complexidade das condies de vida dos indivduos e dos lugares onde eles vivem como ponto de partida das polticas pblicas (KOGA, 2003).

    Historicamente, o conceito de Lugar, tem merecido alguma considerao, embora,

    desde a Filosofia grega clssica o termo tenha se limitado localizao das coisas. O Lugar encarado como espao vivido, experienciado, contribuindo para a determinao da identidade

    dos indivduos e grupos, os quais acabam por criar laos afetivos com ele.

    Lugar constitui a dimenso da existncia que se manifesta atravs de um cotidiano compartilhado entre as mais diversas pessoas, empresas, instituiescooperao e conflitos so a base da vida em comum. No lugar, o prximo, se superpe, dialeticamente ao eixo das

    sucesses, que transmite os tempos externos das escalas superiores e o eixo dos tempos internos, que o eixo das coexistncias, onde tudo se funde, enlaando definitivamente, as

    noes e as realidades de espao e tempo. Em torno disso, na concepo de Santos, (1997, p. 252):

    Cada lugar , sua maneira, o mundo. Todos os lugares so virtualmente mundiais. Mas tambm cada lugar, irrecusavelmente imerso numa comunho com o mundo, torna-se exponencialmente diferente dos demais. H uma maior globalidade correspondente h uma maior individualidade.

    O lugar se produz na articulao contraditria entre o mundial que se anuncia e a

    especificidade histrica do particular. Deste modo, o lugar se apresentaria como o ponto de articulao entre a mundialidade em constituio e o local enquanto especificidade concreta,

    enquanto momento (CARLOS, 1996).

    O lugar alm de espao percebido tambm espao sentido e este sentimento fundamental para estabelecer uma verdadeira relao de respeito e compromisso (no sentido ecolgico) com o meio social e natural. Pertencimento a um lugar um sentimento to indispensvel pessoa quanto pertencer a uma famlia ou grupo social. Trata-se, pois, de um sentimento em duplo sentido, j que a pessoa tanto se sente pertencente a um determinado lugar quanto o toma como seu. Ao longo da vida, as pessoas tomam para si elementos do espao que adquirem algum significado em suas vidas. A escola, uma esquina, um riacho, uma casa, uma rvore entre tantos outros objetos espaciais, podem ser referncias importantes, especiais, para toda a existncia de uma pessoa. O que torna o espao um lugar , essencialmente, a emoo e o simblico, que o referenciam na existncia humana (TUAN, 1976, p. 3).

    Constata-se, dessa forma, que o conceito de lugar deve ser entendido, no somente

    como um rea determinada em que vivenciam hbitos cotidianos, mas sobretudo onde

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    acontecem a formao da identidade de uma populao, contribuindo desse modo, para a construo de sua histria.

    1.4 TERRITORIALIDADE

    Na atualidade qualquer discusso relativa transformao da sociedade no pode deixar de sublinhar questes sobre territrio, territorialidade e desenvolvimento local, tendo em vista sua representatividade econmica e seu potencial na mobilizao de recursos e no aproveitamento tecnolgico, fundamentais para o desenvolvimento social sustentvel.

    A territorialidade corresponde s aes desenvolvidas por vrios agentes sociais em uma determinada rea geogrfica e em um dado momento histrico. As aes so

    produzidas pelas diferentes relaes estabelecidas entre os agentes em um especfico recorte espao-temporal. Refere-se s relaes de poder exercidas em um territrio. As instituies, as empresas e os mais diversos agentes sociais desenvolvem suas prprias estratgias de apropriao do territrio, suas territorialidades, freqentemente juntas sobre o mesmo espao social.

    Nessas relaes, esto includos no apenas os processos vinculados esfera da produo, mas tambm, e talvez de forma mais incisiva, os elementos culturais tais como a lingstica, a moral, a tica, a religio, enfim, o conjunto complexo de padres de comportamento, dado pelas crenas, instituies e valores espirituais e materiais que so

    transmitidos coletivamente e que caracterizam uma dada sociedade.

    A formao de um territrio d s pessoas que nele habitam a conscincia de sua

    participao, provocando o sentimento da territorialidade que, de forma subjetiva, cria uma conscincia de confraternizao entre as mesmas (SANTOS, 2002, p. 214).

    Com base no pensamento do autor, a sociedade se constitui no momento em que percebe a importncia de sua participao do ambiente no qual convive, portanto, atravs da

    conscincia da territorialidade que se tem a formao de uma sociedade mais participativa.

    Na abordagem de Koga (2003) a apropriao do territrio diz respeito ao aspecto interventivo realizado pelos homens, criando e recriando o significado em torno dessa

  • 24

    apropriao cotidiana, a isso d-se o nome de territorialidade. O termo territorialidade designa o espao intermedirio entre o privado e o pblico, onde se desenvolve uma sociabilidade bsica, mais ampla que a fundada nos laos familiares, porm mais densa, significativa e estvel que as relaes formais e individualizadas. impostas pela sociedade.

    A territorialidade local pode ser simples ou mltipla, depende dos usos que as relaes mantenedoras fazem do territrio. Um exemplo de territorialidade local simples um

    hospital, cujo espao utilizado unicamente para seu fim prprio. Exemplos de territorialidade local mltipla so os usos dos territrios em diferentes momentos. O uso mltiplo de um mesmo territrio explicita a sua territorialidade. Uma rua pode ser utilizada com o trfego de veculos, para o lazer nos finais de semana e com a feira livre acontecendo

    um dia por semana.com dependncia de agentes externos.

    Nestas territorialidades, a apropriao se faz pelo domnio de territrio, no s

    para a produo, mas tambm para a circulao de uma mercadoria. Estas novas territorialidades apresentam-se como volteis e constituem parte do tecido social, expressam uma realidade, mas no substituem, a dominao poltica de territrios em escalas mais amplas. Devendo essas, para serem explicadas e no somente descritas, serem inseridas em espaos de dimenso relacional.

    Na viso de Coelho e Fontes (1995) em termos territoriais, o processo de industrializao se caracteriza pela constituio de fluxos econmicos que excluem territrios a partir de:

    Movimentos de desestruturao e reestruturao do arranjo produtivo e empresarial preexistente, num processo de desinverso e reinverso de capitais;

    Mudanas na direo de novas formas de produo mais eficientes, que concretizam a

    atual revoluo tecnolgica e organizacional;

    Introduo da microeletrnica, que abre a possibilidade de vincular as diferentes fases dos processos econmicos;

    Alta volatilidade e mobilidade da produo, ciclos produtivos cada vez mais curtos,

    que aumentam a vulnerabilidade das formas de produo tradicionais;

    Existncia de mudanas radicais nos mtodos de gesto empresarial;

  • 25

    Importncia da qualidade e diferenciao dos produtos como estratgia de competitividade dinmica;

    Integrao de grandes mercados;

    Fortalecimento do setor das pequenas e mdias empresas vinculadas grande empresa

    num esquema de "terceirizao".

    Portanto, o conjunto de aes desenvolvidas por vrios agentes sociais em um territrio, em momentos diferentes, chamado de territorialidade. No se pode esquecer, tambm a importncia das relaes de poder inerentes a essa territorialidade, que se d entre as aes produzidas pelas diferentes relaes estabelecidas entre esses atuantes em conjunto com um determinado espao nos tempos agentes em um especfico recorte espao-temporal.

    1.5 DESENVOLVIMENTO LOCAL E DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL

    Na concepo popular o desenvolvimento pode ser entendido como sinnimo de progresso, ampliao quali-quantitativa dos recursos de produo. Porm no correto se analisar desenvolvimento como sinnimo de crescimento, nem tampouco regular a distribuio da riqueza.

    Gomez-Orea (1993) afirmou que os projetos de desenvolvimento local provocam um processo de (re) construo / (re) apropriao do territrio, que implica em uma nova ordenao territorial. Ainda define a ordenao territorial como a projeo no espao fsico, via ocupao e uso das polticas, dos interesses, dos valores econmicos, sociais, culturais e

    ambientais de uma sociedade local, regional e mundial.

    O desenvolvimento local pode ser compreendido de diversas maneiras: pode-se

    analisar sob uma esfera econmica, sendo medido pela evoluo do quadro produtivo local, pela gerao de emprego e renda no seio das comunidades, pelo acrscimo da autonomia fiscal dos governos locais, e pela diversificao e dinamizao de atividades econmicas que tenham impacto em termos de integrao das populaes marginalizadas. Pode-se ainda

    analisar em termos sociais, ligado a uma busca da incluso de diferentes setores populares, em um quadro de crescimento e evoluo econmica.

  • 26

    Conforme Zapata (2001), o desenvolvimento local um processo orgnico, um fenmeno humano, portanto no padronizado. Envolve valores e comportamentos dos participantes. Suscita prticas imaginativas, atitudes inovadoras e esprito empreendedor.

    No desenvolvimento local a comunidade desabrocha suas capacidades,

    competncias, habilidades de agenciamento e gesto das prprias condies e qualidade de vida, ou seja, so agentes do seu desenvolvimento. Quando bem estruturado promove significativas mudanas na comunidade desde sua estrutura, como na educao, na forma de explorar os recursos naturais, levando a reestruturao da comunidade.

    O desenvolvimento local consiste no efetivo desabrochamento a partir do rompimento de amarras que prendam as pessoas em seu status quo de vida das capacidades, competncias e habilidade de uma comunidade definida (portanto com interesses comum e situada em (...) espao territorialmente delimitado, com identidade social e histrica), no sentido de ela mesma mediante ativa colaborao de agentes externos e internos incrementar a cultura a solidariedade em seu meio e se tornar paulatinamente apta a agenciar (discernindo e assumindo dentre rumos alternativos de reorientao do seu presente e de sua evoluo para o futuro aqueles que lhe apresentem mais consentneos) e gerenciar (diagnosticar , tomar decises, agir, avaliar, controlar, etc.) o aproveitamento dos potenciais prprios ou cabedais de potencialidades peculiares localidade assim como a metabolizao comunitria de insumos e investimentos pblicos e privados externos, visando processual busca de solues para os problemas necessidades e aspiraes de toda ordem e natureza, que mais direta e cotidianamente lhe dizem respeito (VILA, 2001, p. 68-69).

    Em sua concepo o conceito de desenvolvimento local claro, porm quando se

    trata de sua implantao prtica surgem desafios e diferentes responsabilidades para a sociedade como um todo.

    Isto implica na explorao de recursos, meios disponveis, no aproveitamento das condies favorveis e das oportunidades, alem da superao de obstculos. No tem como meta o acmulo de bens, progresso material e nem a expanso do emprego, mas tem como foco o ser humano e a melhoria da qualidade de vida.

    O desenvolvimento local est associado, normalmente, a iniciativas inovadoras e mobilizadoras da coletividade, articulando as potencialidades locais nas condies dadas pelo

    contexto. As comunidades procuram utilizar suas caractersticas especficas e suas qualidades superiores e ainda, se especializar nos campos em que tm vantagens em relao s outras regies (HAVERI, 1996).

  • 27

    O desenvolvimento em vista de uma territorialidade sustentvel implica, necessariamente, em abandonar qualquer tentativa de importao de modelos. Neste contexto, ganha fora o desenvolvimento local, que vem se firmando como filosofia de desenvolvimento que se apia no protagonismo scio-comunitrio com base na interao e

    parceria com agentes externos.

    Desenvolvimento s pode ser considerado como tal se for humano, social e sustentvel. Portanto, o desenvolvimento local o fenmeno pelo qual tornam-se dinmicas, potencialidades locais por meio de interao dos fatores sociais, econmicos, fsicos e ambientais (FRANCO, 2002, p. 123-158).

    Dentro do processo de desenvolvimento, o ser humano o alvo principal sendo ele o responsvel por seu sucesso ou fracasso, cada pessoa se torna ator do seu prprio progresso, de toda ordem e em todas as direes que influencie o seu entorno como fonte

    irradiadora de mudanas, de evoluo cultural, de dinamizao tecnolgica e de equilbrio meio-ambiental.

    vila (2001) demonstrou que existem algumas caractersticas marcantes no Desenvolvimento Local, que so fundamentais para a sua sustentabilidade:

    endgeno em dupla definio: de Input quando metaboliza as capacidades e habilidades que vem de fora, transformando-as em auto-

    estima e Output quando coloca sua capacidades e habilidades de se desenvolver transformando-as em auto-estima funcionando como ponto

    de equilbrio de seus interaes externas;

    democratizante e democratizador;

    ao mesmo tempo integrante e integrador.

    A teoria do desenvolvimento endgeno considera que a acumulao de capital e o progresso tecnolgico so, indiscutivelmente, fatores chaves no crescimento econmico. Esse mesmo autor identifica um caminho para o desenvolvimento auto-sustentado, de carter endgeno, ao afirmar que os fatores que contribuem para o processo de acumulao de capital, geram economias de escala e economias externas e internas, reduzem os custos totais e os custos de transao, favorecendo tambm as economias de diversidade. Diante disso, a

    teoria do desenvolvimento endgeno reconhece a existncia de rendimentos crescentes no

  • 28

    tocante aos fatores acumulveis, bem como d nfase ao papel dos atores econmicos, privados e pblicos, nas decises de investimentos e localizao (BARQUERO, 2001).

    Quando bem estruturado o desenvolvimento local proporciona mudanas significativas na comunidade, desde que ela esteja aberta para isso em diversas reas: em sua estrutura, nos meios de produzir, na educao, na forma de explorar os recursos naturais, induzindo com isso, uma reestruturao da comunidade.

    Esse desenvolvimento deve comear de baixo para cima considerando a comunidade como o ponto de partida e, no de cima para baixo, que traz modelos prontos para a comunidade considerando que todas so iguais ignorando as suas peculiaridades recursos fsicos, naturais e humanos do local.

    Para que exista um desenvolvimento local necessrio que todos os envolvidos atuem com os mesmos objetivos, de acordo com Sengerberger e Pike (1999), dentro de instituies sediadas no municpio, integraria os setores-chaves: empresas, associaes de negcios, sindicatos, os governos municipal e regional/estadual, bolsas de emprego, bancos, ou seja, todos os grupos que tivessem participao com esforos de desenvolvimento.

    Com essa unio, poderiam levar ao aumento da autonomia e reduo da dependncia externa, e tambm, apoiar novos esforos destinados a preservar e tornar a desenvolver o ambiente fsico, alcanando assim, o desenvolvimento local sustentvel.

    No municpio de Trs Lagoas-MS, existe a integrao entre os setores privado e pblico para que ocorra o desenvolvimento local, atravs de investimento em pesquisas, capacitao de mo-de-obra, participao em projetos de cunho social no municpio, entre outros.

    1.6 COOPERAO INDUSTRIAL

    Em face das presses competitivas cada vez mais intensas e do escopo mundial da tecnologia e dos mercados, diversas empresas esto fazendo acordos de cooperao com

    outras, no s pequenas e mdias empresas cooperam entre si para serem mais competitivas, as grandes empresas j esto utilizando esta estratgia, principalmente para competirem no mercado externo.

  • 29

    O mais importante no planejamento de qualquer empresa identificar onde ela pode agregar um valor ao seu produto, ou seja, onde ela pode adquirir vantagem competitiva. Uma estratgia muito utilizada a de cooperao, por gerar mais oportunidades de entrar em novos mercados, lanar novos produtos, utilizando os concorrentes como parceiros em

    pesquisas.

    Cooperar como uma estratgia concorrencial apostada em conquistar e desenvolver mercados, aproveitando oportunidades, gerando sinergias e explorando complementaridades, sem, contudo, perder a autonomia, a originalidade, em suma, a independncia jurdica e econmica (RODRIGUES, 2002, p. 318).

    Guimares e Martin (2001) evidenciaram que a cooperao industrial compreende operaes diferentes que podem at no ter muito em comum entre elas, mas que geram benefcios como: baixos custos de produo, distribuio e comercializao.

    Na concepo de Pereira Neto (1995) a cooperao industrial estabelecida entre empresas que desenvolvem atividades similares, que so teoricamente concorrentes,

    cooperao horizontal ou por empresas que j desenvolvam atividades complementares, cooperao vertical.

    As formas de cooperao mais simples encontram-se com maior assiduidade no setor comercial, pois se trata de uma etapa em um processo de cooperao que permite s

    empresas aprender e conhecer-se melhor com mnimos riscos e, eventualmente, evoluir em direo a outras formas mais sofisticadas e entrar definitivamente no mundo da cooperao.

    Na realidade, na grande maioria das hipteses, estas modalidades de cooperao podem ser sempre efetivadas em breves prazos. Algumas modalidades de cooperao: franchising, as pesquisas de mercado, a participao conjunta em feiras, os clubes de exportao, as compras combinadas, a pesquisa da clientela, a publicidade coletiva, as ofertas conjuntas (PEREIRA NETO, 1995).

    Uma das novas tendncias que vem se solidificando no processo de reestruturao industrial a que se refere s formas de relaes intra e inter-empresas. Os movimentos de reestruturao conduziram reformulao das estratgias das grandes empresas.

    Referente a isso, mostrou Coutinho (1992) que partindo dessa reformulao, as articulaes entre os agentes econmicos ganham novos contornos e passam a integrar o rol

    dos condicionantes do aumento da competitividade industrial.

  • 30

    Frente a este novo cenrio, as relaes de cooperao so incrementadas visando reduzir justamente as dificuldades que se traduzem como "custos de transao" para as empresas, isto , os que vo alm dos custos de produo.

    importante perceber os pontos fortes e fracos em relao aos concorrentes, sendo possvel assim trabalhar para melhorar os pontos fracos, mantendo os pontos fortes, sempre observando anlise estrutural da indstria ou matriz das cinco foras propostas

    por Porter (1989), onde a estrutura de uma indstria conseqncia do equilbrio entre as cinco foras baseadas: na rivalidade com os concorrentes existentes, a ameaa de novos produtos ou servios substitutos, a entrada de novos concorrentes, o poder dos clientes e o poder de negociao dos fornecedores. Neste modelo a intensidade da concorrncia em uma

    indstria tem suas razes na estrutura econmica bsica e vai muito alm do comportamento dos concorrentes atuais, (ver figura 1).

    Figura 1 - Matriz das cinco foras

    Fonte: PORTER, Michael. Vantagem Competitiva. Rio de Janeiro: Campus, 1989 p. 23.

    Com base neste quadro percebe-se que existem cinco foras competitivas bsicas

    e que os conjuntos dessas foras, e o modo como a empresa reage a elas, que iro determinar o potencial de lucro final da indstria. Na maioria das vezes a melhor estratgia no

    decorrente de um controle sobre todas as foras, mas sim sobre as fontes de uma delas. Observa-se ainda que cooperar oferece a possibilidade de dispor de tecnologias e reduzir os custos de transao relativos ao processo de inovao, aumentado eficincia econmica e,

    Concorrentes da Indstria

    Rivalidades entre empresas Existentes

    Entrantes Potenciais

    Substitutos

    Fornecedores Compradores

    Ameaa de Novos Entrantes

    Poder de Negociao dos Fornecedores

    Poder de Negociao dos Compradores

    Ameaa de Servios ou Produtos Substitutos

  • 31

    por conseqncia, aumentando a competitividade com quem j est no mercado, dificultando a entrada de novos concorrentes.

    As grandes empresas impem suas polticas, estabelecem preos e servios. Por possuir fora dentro do setor e uma grande parcela de mercado passam a exercer poder junto aos seus fornecedores, clientes e at mesmo aos seus concorrentes, ditando assim, as regras que devem ser seguidas por outras empresas do setor.

    Porm, quando os pequenos concorrentes se unem atravs de alianas estratgicas, eles que no ofereciam perigo posio dos lderes de mercado isoladamente, se vem fortalecidos, passam a ter vantagens competitivas que outrora no tinham, dificultando a imposio das grandes empresas, pois passam ser competidores diretos dos lderes de

    mercado, mudando o cenrio onde os grandes dominavam sozinhos (MAAS e PACANHAN, 2004).

    No mundo econmico atual, onde duas ou mais organizaes lutam pelo mesmo mercado a partir dos mesmos ganhos, poder-se supor que a melhor alternativa dividir o mercado. A opo das empresas pela estratgia de cooperao baseada em lealdade, compromisso, preo justo ou outros motivos, reduzindo, assim, o risco.

    As possveis formas de cooperao podem ser agrupadas em categorias temticas, conforme seu objetivo, em lugar da usual classificao interinstitucional. O foco principal deriva da tica da empresa e de suas necessidades, podendo ser:

    Cooperao tecnolgica: orientada no sentido mais restrito de tecnologia, envolvendo questes de processo e produto, meio-ambiente e assistncia tcnica;

    Cooperao gerencial e de gesto: orientada para o aumento da eficcia do gerenciamento (rotinas) e gesto (estratgia), atravs de aes comportamentais e organizacionais;

    Cooperao comercial: ampliao dos espaos mercadolgicos com plena utilizao da capacidade operacional;

    Cooperao em marketing: melhoria e reforo de imagem, troca de informaes

    mercadolgicas, penetrao em novos mercados;

  • 32

    Cooperao financeira: manuteno de crdito em condies adequadas, financiamento de risco em desenvolvimento de produtos e pesquisa;

    Cooperao para qualificao de pessoal: realizada com instituies de apoio privadas, agncias de fomento, ou no esquema cliente-fornecedor, em ambos os sentidos (o cliente que qualifica seu fornecedor ou o fornecedor que qualifica seu cliente);

    Cooperao fiduciria: ocorre atravs de consrcios ou associaes que oferecem

    garantias s empresas afiliadas, para financiamentos ou compra de equipamentos;

    Cooperao legal: destinadas a obter oportunidades fiscais ou direitos de propriedade decorrentes de pesquisas, cujos benefcios so repartidos entre os envolvidos.

    Existem vrios tipos de cooperao, as empresas podem utilizar um conjunto, ou um nico tipo, dependendo de sua necessidade. Atualmente com a concorrncia acirrada, entradas de novas tecnologias muito rpidas, a cooperao se faz necessria para o

    fortalecimento e crescimento no mercado.

    1.6.1 Cooperao industrial e desenvolvimento local

    O Desenvolvimento Local deve estar associado a um processo de crescimento econmico de natureza endgena, no qual os fatores locais de tipo produtivo, social e cultural so decisivos. O modelo de desenvolvimento econmico endgeno particularmente sensvel aos segmentos industriais, uma vez que sua capacidade competitiva depende da disponibilidade de economias externas no territrio. Da a necessidade de se centrar no

    potencial de crescimento de carter local.

    Na atualidade, as mdias e pequenas empresas, quando competitivas em condies de mercado, tm papel decisivo no crescimento da economia. Ao contrrio das grandes empresas elas no podem realizar internamente todas as atividades inerentes a um processo produtivo completo, razo pela qual sua competitividade depende do meio no qual elas se inserem. Por esse motivo devem estud-las dentro de um complexo produtivo. Nesse sentido destaca-se, que sua estratgia requer o trabalho em cooperao com as outras empresas do meio, com a finalidade de alcanar, de forma conjunta, economias de escala. Por sua vez, esse modelo de sistema local de pequenas e mdias empresas gera importantes efeitos de dinamizao na economia da regio, o que provoca um processo de crescimento endgeno (GUIMARES e MARTIN, 2001, p. 111).

  • 33

    A colaborao entre empresas induz a expanso do mercado e a incrementao e a melhoria da qualidade, com a proximidade entre empresas rivais refora-se a competio e cria-se um fluxo de informao, aumentando com isso, a produtividade.

    A cooperao entre as empresas e as parecerias entre as instituies so a melhor

    maneira de alcanar um crescimento sustentvel e com incluso social, ficando a cargo do Estado, nesse processo, ser o rgo central na disseminao da cultura de cooperao,

    associativismo e solidariedade (SIMON, 2004).

    medida que novos cenrios foram se desenhando, as empresas e organizaes, na expectativa de manterem-se fortalecidas no mercado, buscaram alternativas inovadoras que agregassem valor e potencializassem o seu negcio, e por conseqncia, promovessem o seu

    desenvolvimento. Com isso, novos espaos produtivos foram introduzidos na busca de responder s necessidades e demandas da sociedade.

    Conforme Coelho (2000) desenvolvimento econmico local pode ser visto como a constituio de uma ambincia produtiva inovadora, na qual se desenvolvem e se institucionalizam formas de cooperao e integrao das cadeias produtivas e das redes econmicas e sociais, de tal modo que amplie as oportunidades locais, gere trabalho e renda, atraia novos negcios e crie condies para um desenvolvimento humano.

    Olhar para seu concorrente como um futuro parceiro, sem submisso, tendo como premissa a prosperidade de ambos, essencial para as organizaes que queiram fazer parte dessa nova economia. Esta nova economia pode ser uma alternativa superior ao capitalismo por proporcionar s pessoas uma vida melhor, com solidariedade e igualdade (SINGER, 2002, p. 95).

    Em sistemas produtivos locais, identificam-se diferentes tipos de cooperao,

    incluindo a cooperao produtiva visando obteno de economias de escala e de escopo, a melhoria dos ndices de qualidade e produtividade; e a cooperao inovativa que resulta na diminuio dos riscos, custos, tempo e principalmente, no aprendizado interativo, dinamizando o potencial de criao de capacitaes produtivas e inovativas. Tendo em vista a

    preocupao das organizaes, a cooperao pode ocorrer por meio de:

    Intercmbio sistemtico de informaes produtivas, tecnolgicas e

    mercadolgicas;

  • 34

    Interao de vrios tipos, envolvendo empresas e outras organizaes;

    Integrao de competncias, por meio de realizao de projetos conjuntos.

    Conforme Coelho (2000) os projetos de desenvolvimento local nos quais as relaes de cooperao ainda estavam se estabelecendo, com a ausncia de um centro

    coesionador e difusor de uma cultura de cooperao, tinham ali seu principal fator de no sustentabilidade.

    Neste contexto, em que as relaes entre cooperao e competitividade se mostram tnues, identifica-se vrios nveis de cooperao em termos de desenvolvimento econmico local, como destacados abaixo(ver quadro 1):

    Quadro 1 - Tipos de cooperao industrial

    Tipologia da Cooperao

    Dimenso Econmica Dimenso Territorial

    Cooperao nas relaes de

    trabalho

    Formas associativas de organizao da produo

    No interior do espao de produo ou no mesmo em determinado territrio no qual se articula o processo produtivo, centrado principalmente em relaes solidrias no mbito de um determinado processo de trabalho.

    Cooperao nas condies de produo

    Cooperao na formao de redes de fornecedores de uma empresa, na compra de matria-prima, no desenvolvimento tecnolgico ou na rede de comercializao articulada com a cadeia produtiva.

    Cooperao no mesmo territrio no qual est inserido determinado cluster. Tem uma caracterstica local de construo de uma ambincia produtiva, envolvendo mais outros atores e uma sustentao institucional local atravs da construo de identidade e de instrumentos como a agncia de desenvolvimento.

    Cooperao no interior das

    cadeias produtivas

    Encadeamentos produtivos atuando sobre pontos de estrangulamentos; inovao dos produtos, ou uma logstica mais complexa.

    Tem uma dimenso regional e est ligada construo de formas de cooperao institucionais capazes de viabilizar uma integrao da cadeia produtiva com o mercado externo.

    Fonte: COELHO, Franklin. Desenvolvimento econmico local no Brasil: as experincias recentes num contexto de descentralizao. Santiago: CEPAL/GTZ, 2000, p. 32.

    O quadro acima, mostrou as trs dimenses de cooperao que envolvem um

    campo de competitividade em torno das relaes de mediao entre o ambiente produtivo, o territrio e a economia, permitindo tomadas de decises baseadas no tipo de cooperao existente.

    A cooperao e competitividade empresarial transformam-se em palavras mgicas que justificam as aes entre as indstrias no sentido em que elas so quem determinam uma estratgia no territrio, gerando o desenvolvimento local.

  • 35

    Estratgia competitiva a busca de uma posio competitiva favorvel em uma indstria, a arena fundamental onde ocorre a concorrncia (PORTER, 1989, p. 1). Isso significa que por meio da determinao de uma estratgia competitiva, que a empresa conseguir estabelecer uma posio lucrativa e sustentvel contra as foras que determinam a

    rentabilidade e atratividade da indstria. Analisando a afirmao do autor, percebe-se que a cooperao e a competitividade empresarial quem determina uma estratgia no territrio.

    Quando no existe uma estratgia competitiva entre as indstrias de um determinado local as empresas correm o risco de ficar vulnerveis em relao aos seus concorrentes, essa vulnerabilidade acontece mais frequentemente em relao : consumidores e qualificao de recursos humanos, (ver quadro 2):

    Quadro 2 - Padres de concorrncia industrial: fatores crticos de competitividade Padro de

    Concorrncia Setores Tradicionais Setores Difusores

    Fontes das Vantagens Competitivas

    Internos Empresa

    Mercado

    Qualidade; Fatores crticos no estruturais;

    Controle da qualidade; Produtividade;

    Fatores crticos estruturais;

    Segmentao por renda; Preo, marca, prazo, adequao

    local/internacional.

    Tecnologia

    Pesquisa e desenvolvimento, design; Capacitao em Pesquisa e

    desenvolvimento; Qualidade em Recursos Humanos;

    Segmentao Tcnica; Especificaes do cliente;

    global/local.

    Configurao da Indstria Economia de Aglomerao;

    Redes horizontais e verticais;

    Tecnologia industrial bsica e treinamento.

    Economias de especializaes;

    Interao com usurios;

    Sistema Cincia e Tecnologia.

    Regime de Incentivos e Regulao

    Defesa da concorrncia;

    Defesa do consumidor;

    Anti-dumping.

    Apoio ao risco tecnolgico;

    Patentes, proteo seletiva, poder de compra, crdito e financiamento s

    exportaes.

    Fonte: FERRAZ, Joo Carlos, et alli. Made in Brazil: desafios competitivos para a indstria. Rio de Janeiro: Campus, 1995, p. 45.

    No quadro dois o autor destacou vrios fatores crticos de concorrncia, que

    poderiam ser transformados em competitividade positiva entre indstrias, se tivesse uma estratgia de cooperao entre elas.

  • 36

    O desenvolvimento local deve ser pensado enquanto um pacto territorial no qual est presente a idia-fora de desenvolvimento e alta mobilizao de recursos locais, sendo:

    Uma estratgia integrada de instituies locais no enfrentamento da fragmentao territorial, excluso econmica, social e cultural;

    Fortalecimento de lideranas locais, tanto comunitrias e sindicais como empresariais;

    Criao de uma identidade e um sentimento de solidariedade social e territorial que

    rompa com o individualismo exacerbado;

    Fortalecimento de um controle social e de uma cultura de responsabilidade pblica;

    Mobilizao de diferentes culturas criando redes e uma interconectividade que opera numa dimenso coletiva e quebra o isolamento;

    Mobilizao de saberes locais criando uma cultura de projetos.

    1.7 CAPITAL SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL

    O capital social, no apenas a ao coletiva em si mesma, mas tambm, as normas e sanes de confiana, a reciprocidade residente no interior das redes sociais, o qual permite que os dilemas de ao coletiva sejam resolvidos. O seu foco sobre o sistema na medida em que ele se preocupa em explicar desenvolvimento econmico e poltico no nvel regional e nacional.

    So os nveis de participao e de organizao que uma sociedade possui, o acmulo de experincias organizacionais que ocorram na base de uma comunidade, ou sociedade, reforando seus laos de solidariedade, cooperao e confiana das pessoas, grupos sociais e entidades. (FRANCO, 2002, p. 18).

    Para Putnam (1996), capital social o conjunto de caractersticas da organizao social, onde se inclui as redes de relaes, normas de comportamento, valores, confiana, obrigaes e canais de informao. O capital social, quando existente em uma regio, torna possvel tomada de aes colaborativas, que resultam em benefcio para toda a comunidade. Ele conclui ainda, a partir de evidncias histricas, que fatores scio-culturais, como tradies cvicas, capital social e cooperao, tm papel decisivo na explicao das diferenas

  • 37

    regionais. Onde h tradio comunitria, a recorrncia de compras e vendas e de trocas de informaes faz nascer relaes de fidelidade entre clientes e fornecedores.

    Se a sociedade no estiver entrelaada na sua base, por mirades de organizaes, se no tiver iniciativa, e confiana social entre os grupos sociais, tambm no ter

    desenvolvimento, nem mesmo crescimento sustentvel.

    Para Melo Neto e Froes (2002, p. 50) a comunidade que dispe de capital social possui altos nveis de participao, organizao, confiana entre seus membros, cooperao, solidariedade e pessoas dotadas de iniciativa.

    Portanto as comunidades cooperativas permitem aos indivduos solues conciliadoras. Essas solues esto basicamente vinculadas ao senso de comunidade e

    confiana. Quando a questo da confiana relatada, logo se percebe que est ligada a regras de reciprocidade.

    1.7.1 Um novo modelo de desenvolvimento

    Um modelo de desenvolvimento humano, social e sustentvel deve ser centrado no cidado comum que trabalha e que vive na cidade ou no campo. De acordo com Melo Neto e Froes (2002), suas principais caractersticas so:

    Desenvolvimento de dentro para fora, onde o foco o indivduo;

    Desenvolvimento de baixo para cima a partir da mobilizao das pessoas que vivem em uma comunidade;

    Tem como referncia os potenciais inerentes a cada pessoa e comunidade, grupo humano ou nao;

    centrado nas pessoas e nos grupos sociais, os vendo como os nicos sujeitos legtimos do desenvolvimento;

    Baseia-se nos valores da cooperao, da partilha, da reciprocidade, da complementaridade e da solidariedade;

  • 38

    Seus principais ativos so as qualidades humanas e os recursos materiais e naturais disponveis na regio.

    Trata-se, portanto de um modelo de desenvolvimento comunitrio, sustentado e integrado. Sua natureza comunitria decorre do foco na comunidade, em sua capacitao,

    mobilizao e conscientizao.

    A economia solidria segue o caminho da cooperatividade em vez da competitividade, da eficincia sistmica em vez da eficincia apenas individual, do um por todos, todos por um, em vez do cada um por si e Deus por mim (SINGER e SOUZA 2000, p. 317).

    Como benefcio da inter-relao industrial para a populao local, tem-se o processo de transformao social que se caracteriza por diversos elementos tais como:

    Aumento do nvel da capacitao profissional da comunidade local;

    Aumento do nvel da conscincia da comunidade em relao ao seu prprio

    desenvolvimento;

    Mudana de valores das pessoas que so sensibilizadas, encorajadas e fortalecidas em sua auto-estima;

    Aumento do sentimento de conexo das pessoas com sua cidade, terra e cultura;

    Melhoria da qualidade de vida dos habitantes.

  • 39

    2 A INDUSTRIALIZAO EM TRS LAGOAS-MS

    2.1 CARACTERIZAO DO MUNICPIO DE TRS LAGOAS-MS

    O municpio de Trs Lagoas est localizado a leste do Estado de Mato Grosso do

    Sul, s margens do rio Paran fazendo divisa com o estado de So Paulo. Distante 324 km de Campo Grande, capital do estado (ver figura 2). A extenso territorial do municpio de Trs Lagoas-MS de 12.857 Km, sua localizao bastante privilegiada em relao a dois importantes empreendimentos, a Hidrovia Tiet-Paran e o Gasoduto Brasil-Bolvia. Figura 2- Localizao de Trs Lagoas-MS

    Fonte: disponvel no site http://www.3lagoas.com.br/2006.

  • 40

    Figura 3 - Panormica de Trs Lagoas-MS

    Fonte: disponvel no site http://www.cmtl.com.br/2006

    Em sua aparncia fsica, a topografia (ver figura 3) formada por vasta plancie com ondulaes leves, sendo mais acentuada na regio oeste.

    O municpio de Trs Lagoas-MS vem aumentando o nmero de sua populao em alguns perodos, com um crescimento pequeno em alguns momentos, no entanto em outros,

    com grande exploso no nmero de habitantes, a primeira ocorreu na transio da dcada de 60 para a dcada de 70, com o incio da construo da Usina Hidreltrica de Jupi, quando vrias empresas vieram para o municpio trazendo muitos profissionais acompanhados de suas famlias, o que justifica o grande aumento no nmero de habitantes que saltou de 24.482 para 55.543, observando assim, um aumento de mais de 30.000 habitantes.

    Outra exploso aconteceu na dcada de 90, mais precisamente no ano de 1997, foi quando iniciou-se a industrializao do municpio, gerando a criao de muitos empregos, o

    que, mais uma vez, se refletiu em um grande aumento no nmero de habitantes, que no ano de 2000 alcanou 85.886, um aumento mdio de 20.000 habitantes. A exploso continuou ainda em 2006 estimando-se uma populao mdia de 100.000 habitantes, ou seja, um crescimento mdio de 15.000 pessoas em apenas seis anos (ver grfico 1).

  • 41

    Tabela 1 - Evoluo demogrfica de Trs Lagoas-MS

    ANOS NMERO DE HABITANTES 1940 15.478 1950 18.803 1960 24.483 1970 55.543 1980 59.543 1990 65.748 2000 85.886 2006 100.000

    Fonte: SANTOS, Ray. A histria de Trs Lagoas. Jornal dia-a-dia. Trs Lagoas, 12 de jun. de 2006. Cidades, p. 10.

    Grfico 1 - Evoluo demogrfica de Trs Lagoas-MS

    15.478 18.80324.483

    55.54359.543

    65.748

    85.886

    100.000

    Dcada 40

    Dcada 50

    Dcada 60

    Dcada 70

    Dcada 80

    Dcada 90

    Dcada 00

    2006

    Fonte: SANTOS, Ray. A histria de Trs Lagoas. Jornal dia-a-dia. Trs Lagoas, 12 de jun. de 2006. Cidades, p. 10.

    2.2. ASPECTOS HISTRICOS DE TRS LAGOAS-MS

    O municpio nasceu em 1829, com a chegada dos Bandeirantes, sendo nesta poca, distrito de Paranaba. Devido a guerra do Paraguai houve um aumento do povoado. Os primeiros colonizadores de Trs Lagoas foram Joaquim Francisco Lopes, Janurio Jos de Souza, Incio Furtado. Logo depois chegam Joo Ferreira de Melo, Joo da Costa e Janurio Leal (MARTIN, 2000).

  • 42

    Surgiu assim o Patrimnio de Santo Antonio das Alagoas, que cresceu e cresceu, impulsionado pelos mineiros, paulistas, baianos e estrangeiros que, atrados pelas notcias de campos naturais e terras novas, frteis e boas para pastagens, procuravam aquela nova boca do serto, fazendo da pecuria a principal atividade da regio (LEVORATO, 1998, p. 6).

    O sucesso que alcanaram como criadores de gado, proporcionou a atrao de muita gente e a regio foi sendo colonizada. A facilidade de comunicao com o posto

    avanado de Itapura e com o ramal da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil contribuiu para fazer da regio um ponto de atrao. Em 1911, um grupo de engenheiros instalaram um acampamento margem da lagoa maior, fato este que motivou a edificao de moradias, formando o povoado que mais tarde tornou-se Trs Lagoas.

    Em 15 de junho de 1915, atravs da Lei Estadual n 706, a terra de Antonio Trajano dos Santos, Patrimnio de Santo Antonio das Alagoas, passa a ser chamada de Vila de Trs Lagoas, pertencente a Comarca de Santana do Paranaba. Somente em 19 de outubro de 1920 a Vila de Trs Lagoas foi elevada categoria de municpio, passando a ser chamada de Trs Lagoas.

    Figura 4- Coreto da praa central de Trs Lagoas-MS na dcada de 30

    Fonte: disponvel no site http://www.cmtl.com.br/2006.

    Enfatizou Moreira (2003, p. 239) que ao longo de sua histria, Trs Lagoas nunca estagnou no seu progresso. Com a perseverana, os seus homens e mulheres, do campo e da cidade, a construram, nela investiram sua economia, nela confiaram (ver figura 4).

  • 43

    Sem sombra de dvida um dos principais fatores do desenvolvimento da cidade foi o advento da construo das Barragens: Engenheiro de Souza Dias, em Jupi, que teve inicio em 1958 e foi concluda em 1974, sendo composta por 14 geradores, com potncia de 100.000 KW, e a de Ilha Solteira com 20 geradores e potncia 160.000 KW, no perodo de 1968 a 1978.

    A instalao da Centrais Eltricas de Urubupung S/A (CELUSA) (Sociedade Annima), para a construo das hidreltricas de Jupi e Ilha Solteira, no rio Paran (ver figura 5), trouxe com ela uma exploso de progresso, essa construo ocorreu devido sua localizao estratgica, sendo grande propulsora do desenvolvimento do municpio (SILVA, 1999).

    Empresas que aqui existiam cresceram e as que para aqui vieram ou que aqui nasceram, geraram milhares de empregos. As atividades comerciais foram intensificadas, novas agncias bancrias surgiram e criou-se uma vila que era uma cidade, Vila Piloto, que tinha vida prpria, mas cujos moradores se deslocavam para Trs Lagoas, onde movimentavam o comrcio (MOREIRA, 2003, p. 240).

    Figura 5- Ponte do rio Paran, complexo hidreltrico de Urubupung

    Fonte: Secretaria Municipal de Indstria, Comrcio, Turismo e Cincia e Tecnologia/2005.

    Na dcada de 70 houve uma grande valorizao das terras em Trs Lagoas, atraindo vrios pecuaristas e, por conseqncia, causando um impacto ambiental no cerrado. considerado impacto ambiental quaisquer modificaes, benficas ou no, resultantes das atividades, produtos ou servios de uma operao de manejo florestal da unidade de manejo florestal (KURTZ, 2000).

  • 44

    Os recursos naturais solo, gua, fauna, flora, ar, microorganismos e o homem, constituem o meio ambiente. Cada um desses recursos tem um padro de qualidade. O rompimento de um padro de qualquer recurso natural, d origem deteriorao ambiental. Essa deteriorao para Kurtz (2000), alarma tanto aos pases de primeiro mundo, quanto aos de terceiro mundo.

    Conforme Viola e Leis (1995), nos anos 70, o Brasil apresentava resistncia em reconhecer a importncia da questo ambiental, considerava os recursos como sendo quase infinitos e, ao invs de us-los de modo a preserv-los, explorava-os de maneira rpida e intensa, com a finalidade de alcanar as altas taxas de crescimento econmico.

    A valorizao das terras no municpio de Trs Lagoas-MS foi maior, pela

    interveno que houve por parte do Governo Federal, no incio da dcada de 70, com programas estratgicos para pecuria de corte e de leite, estabelecidos na regio Centro-Oeste,

    com a finalidade de estimular sua ocupao produtiva, criaram uma grande demanda por forrageiras adaptadas s ofertas ambientais dessas regies, nem o Governo nem os produtores tinham receio quantos aos impactos ambientais causados pela pecuria, no existindo ainda, nenhuma preocupao com o controle e preservao ambiental.

    A expanso da pecuria provocou uma rpida devastao da vegetao nativa, principalmente para o plantio de pastagens. Gerando um impacto ambiental no cerrado que segundo dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria (EMBRAPA), o segundo ecossistema brasileiro que mais alteraes sofreu com a ocupao humana, sua situao est muito crtica porque existe um processo de devastao massiva e rpida deste bioma, que vem

    acontecendo desde a dcada de 1970, caracterizando-se por um uso predatrio dos recursos naturais, o que levaria h uma ameaa preservao da biodiversidade do cerrado, j que, segundo Buschbacher (2000, p. 9), como resultado dessa ocupao, apenas cerca de 20% do bioma Cerrado ainda possuem uma vegetao nativa em estado relativamente intacto.

    No entanto, no final desta dcada, o Governo Federal teve a preocupao de criar grandes projetos florestais, como Plo Centro, trazendo empresas reflorestadoras para a regio, gerando emprego no campo e riquezas para o municpio. Atraindo, por exemplo, o Grupo Norte Americano Champion, que passou a investir no municpio comprando terras e

    fazendo reflorestamento de eucaliptos e pinheiros.

  • 45

    A empresa Champion, como outras empresas estrangeiras, se instalou no Brasil pelas vantagens comparativas de custos para a indstria de papel e celulose que foi, inicialmente, a abundncia de matas nativas, as quais sofreram um rpido processo de destruio desde a dcada de 60.

    Diante e da necessidade de se ter uma fonte segura de matriaprima florestal, as empresas de celulose e papel, comearam a realizar o reflorestamento. A Champion foi

    adquirida por outra multinacional: a International Paper, que continua investindo anualmente no projeto, gerando muitos empregos para Trs Lagoas-MS.

    Apesar do impacto ambiental negativo ao cerrado, a pecuria tem um lugar de destaque para a economia do municpio, pois at o incio da industrializao nele, ela foi a

    maior fonte de empregos diretos e indiretos, e trinta anos depois, a pecuria ainda continua sendo uma das principais fontes da economia municipal.

    2.3. INDUSTRIALIZAO EM TRS LAGOAS-MS

    A partir de 1997, na gesto do ento prefeito Issan Fares, o municpio solidifica-se como plo de desenvolvimento industrial, com a mudana sua base econmica, que antes baseava-se na pecuria de corte do tipo extensiva.

    No seu segundo mandato o prefeito Issan Fares consolidou o Distrito Industrial Trs-lagoense com a abertura de milhares de vagas no mercado de trabalho, intensificou os investimentos em obras de infra-estrutura como galerias pluviais, eletrificao e asfaltamento de vias pblicas, bem como a posio de Trs Lagoas-MS frente aos municpios de sua regio (MARTIN, 2004, p. 53).

    Alm dos incentivos industriais existentes no Estado de Mato Grosso do Sul, o municpio tambm criou Leis municipais, para atrair empresrios, como por exemplo, a Lei n 1429/97 de 24 de Dezembro de 1997:

    Garante a iseno do pagamento do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), Taxas e Emolumentos referentes ao empreendimento pelo prazo de cinco anos. Permite tambm a cesso em comodato de rea no Distrito Industrial, conforme, necessidade da Empresa, com posterior escriturao quando no trmino do projeto proposto.

    Desde ento, vrias empresas esto se instalando no municpio, no s pelas

    vantagens tributrias, mas tambm por sua localizao estratgica. Alm disso, o municpio

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    no tem cultura industrial, possui mo-de-obra barata, porm sem especializao. Esse o primeiro ponto de cooperao entre os empresrios: a capacitao de mo-de-obra.

    Trs Lagoas-MS passou a atrair vrias indstrias, dentre elas: Mabel (ver figura 6), Avant, Cortex e Nelitex Sul, entre outras. E continua alavancando o progresso com o fortssimo crescimento na rea industrial. A federao das indstrias de Mato Grosso do Sul tambm tem marcado presena. Ainda na dcada de 90 foram implantados o Servio Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Servio Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), Servio Brasileiro de Apoio as Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) e que se somaram com o Servio Social da Indstria (SESI), revolucionando assim, o ensino tcnico e profissional de diversas categorias, inclusive empresariais. O SESI ocupa papel

    imprescindvel na capacitao de mo-de-obra aperfeioando o nvel tcnico dos trabalhadores que ocupam vagas nas indstrias txteis e caladistas do municpio.

    Figura 6 - Indstria Mabel: Pioneira na industrializao de Trs Lagoas-MS

    Fonte: disponvel no site http://www.cmtl.com.br/2006.

    Atualmente a cidade tem muitas indstrias, a Metalfrio, Gurgel, Schincariol entre outras que esto chegando para somar com o Parque Industrial (ver quadro 3).

  • 47

    Quadro 3 - Indstrias instaladas no municpio de Trs Lagoas-MS a partir de 1997 Ano de Incio

    Indstria Ramo de Atividade Empregos Diretos

    1997 Mabel Produtos Alimentcios 300 1997 Cargil Esmagadora de Soja 120 1999 Nellitexsul Txtil (Tecidos para ind. moveleira) 150 2001 gua Aquarela Envasamento de gua Mineral 15 2000 Multibrasil Confeco de Acessrios de Vestirio 60 2001 GS Plsticos Fbrica de Brindes Promocionais 120 1999 Plasticitro Fbrica de Plsticos 40 2001 Plastitel Indstria de Etiquetas Plsticas 8 2001 Plastisol Indstria de Etiquetas Plsticas 8 1999 Crtex Txtil (cortinas) 250 2000 Avanti Txtil ( Fiao de Polyester) 150 1998 Suzel Confeco de Jeans 46 2002 Cortume Trs Lagoas Ltda Curtume 50 2000 Cosmak Confeco de Jeans 161 2000 Grupo Pasmanik Confeco 60 2003 Termeltrica Usina de Energia Gs 50 1999 Euroquadors Fbrica de Molduras para Quadros 120 2003 Sultan: Ind. e Com. Ltda Txtil (Cama, mesa e banho) 60 2002 Pantacon Confeces 15 2002 guas Labor Envasamento de gua Mineral 10 2003 Klin Calados Infantis Calados Infantis 150 2004 Kidy Calados Infantis Calados Infantis 220 2001 MK Qumicas do Brasil Fabricao de Produtos Qumicos 60 2004 Tubotec Ms Tubos, Cones Embalagens e Fiao 17 2004 Brascoperr Fbrica de Cabos e Fios de Cobre 80 Total 2320

    Fonte: Secretaria Municipal de Indstria, Comrcio, Turismo e Cincia e Tecnologia/2006.

    Hoje Trs Lagoas-MS pode ser considerado um municpio em pleno crescimento, com um aumento relevante no nmero de empregos, o que ocasiona melhoria de vendas no comrcio e aumento de arrecadao pblica, que est evidente no nmero de obras de infra-

    estrutura que esto sendo viabilizados atualmente no municpio.

    Trs Lagoas-MS apresenta uma particularidade: a nica cidade que tem dois distritos industriais sendo que o ltimo ainda est sendo implantado.

    O primeiro Distrito Industrial de Trs Lagoas-MS foi implantado em 1975, onde vrios projetos de infra-estrutura foram concebidos; o aparato legal considerado necessrio ao seu funcionamento foi promulgado. Todavia, a concepo de projetos no Distrito Industrial I, via de regra, no significou a sua execuo, revelando que a performance daquela rea, no tem cumprido com os objetivos para os quais foi criada: apresentar os requisitos exigidos pelo empresariado; atrair unidades fabris e gerar empregos. Por sua vez, o Distrito Industrial II,

    cuja rea tambm foi doada pela Companhia Energtica de So Paulo (CESP), em outra

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    conjuntura histrica tem atrado diversas unidades industriais, tecnologicamente modernas e de grande porte, principalmente do Estado de So Paulo (MOREIRA, 2003).

    Trata-se de um distrito industrial que, diferentemente do antigo, tem-se prestado como espao privilegiado para os setores de fiao e txtil, almejando atrair setores de informtica. Portanto, com perspectivas de se redefinir o papel de Trs Lagoas-MS na economia estadual, diversificando sua estrutura produtiva, uma vez que, o municpio

    tradicionalmente apresenta base pecuria.

    O Distrito Industrial II passou a ser concebido como o novo instrumento de industrializao, j que no possuindo infra-estrutura nem outros investimentos fixos vindos do passado que pudessem dificultar a implantao de inovaes, pde, receber uma infra-

    estrutura nova, totalmente a servio de uma economia moderna, uma vez que em seu territrio estavam praticamente ausentes as marcas dos sistemas tcnicos precedentes. Com tais

    caractersticas essa rea industrial planejada passa a ser a opo locacional, instalando-se nela, gradativamente, toda a materialidade contempornea indispensvel a uma economia exigente de movimento, de fluidez.

    2.4 INCENTIVOS INDUSTRIAIS, ESTADUAIS E MUNICIPAIS

    O Estado de Mato Grosso do Sul possui vrios incentivos industriais, atravs da Lei Complementar n 093, de 05 de novembro de 2001 que Institui o Programa Estadual de Fomento Industrializao, ao Trabalho e Renda (MS-Empreendedor) e d outras providncias:

    Concede benefcios financeiros correspondentes a at 67% do Imposto sobre Circulao de mercadorias e Prestao de Servios (ICMS) devido para as indstrias em instalao, modernizao, reativao ou relocao das existentes, especialmente no sentido de interiorizao dos empreendimentos econmicos produtivos e do aproveitamento das potencialidades econmicas regionais;

    O prazo de 10 anos ser concedido em dois perodos de 5 anos, des