relacoes internacionais - temas contemporaneos

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Calendrio de Atividades do Curso

Calendrio de atividades

DIA 15 a 24 de maro25 de maro 1 a 13 de abril 30 de abril

ATIVIDADEFrum de apresentao. Incio do Curso Incluso de alunos da 2 chamada. 1 Frum Temtico: tema a ser sugerido pelo Tutor. Prazo final para envio das avaliaes das unidades 1 a 3 do mdulo I 2 Frum Temtico: tema a ser sugerido pelo Tutor. Prazo final para envio das avaliaes das unidades 4 e 5 do mdulo I 3 Frum Temtico: tema a ser sugerido pelo Tutor. Prazo final para envio das avaliaes das unidades 1 a 3 do mdulo II 4 Frum Temtico: tema a ser sugerido pelo Tutor. Prazo final para envio das avaliaes das unidades 4 e 5 do mdulo II Prazo final para a correo das atividades do Curso. Encerramento do acesso ao curso

28 de abril a 9 de maio 18 de maio

23 de maio a 3 de junho 2 de junho

10 a 21 de junho 24 de junho

27 de junho 30 de novembro

Sugestes para um bom estudo: As atitudes do estudante a distncia, traduzidas em hbitos de estudo, so fatores que ajudam o aluno a persistir e permanecer no curso, determinando o sucesso final. Nossas sugestes, para que voc tenha um bom aproveitamento, so as seguintes: administre bem seu tempo - assegure-se de que ter disponibilidade para se dedicar ao estudo; consulte com regularidade o cronograma do curso - o no cumprimento de algumas das datas implicar no cancelamento de sua matrcula; procure realizar as atividades dentro dos prazos previstos - eles so planejados de forma a otimizar os resultados pretendidos e a pontualidade demonstra seu compromisso com o processo de aprendizagem; execute as atividades propostas em seqncia de mdulos/unidades - os exerccios respondidos fora da ordem ficam aguardando a vez para serem corrigidos e voc corre o risco de se esquecer de retom-los;

sempre que acessar a plataforma, navegue pelos ambientes de estudo para ver se algo novo foi acrescentado; a plataforma o melhor canal de comunicao com a tutoria e a coordenao - recorra preferencial procure participar dos fruns de debates - eles so instrumentos valiosssimos de interao com o grupo, alm de integrarem a avaliao; procure elaborar suas respostas em um editor de texto para, posteriormente, copiar e colar no local apropriado da plataforma - essa prtica permite que voc estruture melhor seus textos e evita que, em caso de problema no sistema, voc perca seu trabalho.

Ateno! Leia atentamente o "Guia do Estudante". Ele contm orientaes indispensveis para seu sucesso no Curso!

Guia do Estudante

Guia do Estudante

As orientaes abaixo ajudaro voc, estudante a distncia, a utilizar melhor os recursos didticos do nosso curso.Estas instrues visam a auxili-lo durante todo o seu percurso, levando-o a um maior aproveitamento e sucesso em seus estudos. O material didtico, elaborado conforme os preceitos da Educao a Distncia, est dividido em dois mdulos, cujos contedos so colocados de maneira clara e compreensvel. A tutoria um importante sistema de ajuda pedaggica do ensino a distncia, oferecendo orientao e atendimento s dvidas sobre os contedos. Nossa tutoria composta de especialistas que atendem a todos os alunos, durante o perodo do curso.

Familiarize-se com os recursos disponveis no ambiente virtual de aprendizagem:

Agenda

Visvel na tela inicial do Trilhas. Funciona como um Mural de comunicao do professor-tutor e da coordenao com os alunos. Na agenda h lembretes das datas limite de envio das atividades do curso, alm dos Fruns temticos. 1. Na tela inicial do ambiente virtual - Trilhas, abaixo da Agenda, clique na aba Dados; 2. O primeiro dado solicitado a foto. Clique em Procurar e anexe o arquivo que deve estar salvo em seu equipamento (deve ter a extenso .jpeg ou .jpg para ser reconhecido pelo sistema); 3. Salve. Sua foto estar visvel nessa mesma pgina.

Dados (Instrues salvar foto Trilhas) para no

sua

No cabealho e no rodap do texto-base, os botes Prximo/Anterior daro opo de avanar e recuar no contedo. Navegao Para navegar pelos mdulos/unidades escolhidos: na seta, abra o ndice e clique na opo desejada. Observe que, acima do campo de navegao, o sistema

informa seu posicionamento no texto-base at o nmero da pgina.

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Ao acessar o curso, explore as funcionalidades localizadas no menu lateral:

Comunicao: Ambiente de comunicao com o tutor e colegas. Frum Ao clicar em Frum, o quadro aberto abaixo do texto-base. Ali, leia as instrues de como participar. O frum de apresentao de participao obrigatria, pois a no participao na data-limite implicar na reprovao do aluno para convocao de 2 chamada. Espao onde voc envia e recebe mensagens dos participantes do curso (colegas e professores). Funciona como um "e-mail interno". Basta clicar sobre a imagem do colega a quem quer enderear a mensagem, redigi-la e salv-la. Para responder voc deve clicar na foto do destinatrio. Apoio: Caderno Ali voc poder fazer anotaes durante o estudo e resgat-las, modific-las ou copi-las a qualquer momento. possvel colar anotaes trazidas de fontes externas. Neste espao voc poder criar pastas, inserir arquivos e compartilh-los com outros usurios. Voc deve clicar na linha da sua turma. Visualize os arquivos disponibilizados, como o calendrio do curso, critrios de avaliao ou textos adicionais. Acesse verbetes de termos e expresses importantes presentes no texto-base. (Para acessar, digite o termo ou expresso, ou busque pela letra inicial. Voc tambm pode clicar em "ok" sem preenchimento, e aparecero todos os verbetes. Para abrir, basta clicar sobre o termo ou expresso.) Note que no prprio texto-base as palavras e expresses que conduzem a verbetes vm com um tnue sublinhado - clicando sobre elas voc tambm acessa a respectiva explicao. Referncia de obras utilizadas na elaborao do contedo, e de obras complementares, visando a ampliar, para o aluno, o universo de fontes de pesquisa

Mensagem

Arquivos

Glossrio

Bibliografia Atividades de Estudo:

Diversas atividades iro auxili-lo, funcionando como reforo na aprendizagem.

Essas atividades foram desenvolvidas para voc mesmo verificar o progresso obtido ao longo do percurso. As autoavaliaes sero corrigidas automaticamente pelo sistema. Ela pode ser refeita tantas vezes quanto necessrio. Acesso pelo menu Avaliaes. Autoavaliao Essa atividade, proposta ao final de cada unidade, ser corrigida pelo tutor. Espera-se que o aluno demonstre capacidade de anlise e domnio dos temas estudados. Acesse pelo campo Avaliao no boto Trabalhos/Redaes. Para enviar para correo, clique em Salvar e finalizar. Caso queira salvar para continuar mais tarde, clique em Salvar verso. Observe no Painel de desempenho: verde - atividade corrigida; cinza atividade salva, mas no finalizada para correo ou devolvida para ser refeita. Fique ligado! ATENO! No reproduza material de terceiros. Sua resposta pode conter trechos de citao, desde que a fonte seja informada. O frum um valioso instrumento de integrao possibilitando que todos os participantes se conheam e compartilhem conhecimentos. Sua participao obrigatria e ser considerada na composio da nota final do curso. Localize o acesso por meio do campo Comunicao. Pelo painel de desempenho voc acompanha suas atividades no curso. Observe pela cor indicada na legenda a situao dos exerccios, avaliaes e fruns. D um clique no quadradinho branco, indicado por uma letra (T ou F) que o sistema mostrar a atividade desejada. Consulte-o regularmente. Leia com ateno as observaes do professor-tutor. As avaliaes finais de unidade e os fruns temticos somam 100 pontos. Sero considerados aprovados os alunos que efetuarem todas as avaliaes e participarem de, ao menos 3 dos 4 fruns temticos, obtendo mdia mnima igual ou superior a 70 (setenta).

Avaliao da Unidade

Frum temtico

Painel de desempenho

Aprovao

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Quadro de critrio de avaliao:

Mdulo I Avaliaes Un I 5 Un I

Mdulo II Avaliaes 5

Un II Un III Un IV Un V Fruns Temticos 1 Frum 2 Frum Total Total geral

5 5 5 5 12,5 12,5 50

Un II Un III Un IV Un V Fruns Temticos 3 Frum 4 Frum Total 100

5 5 5 5 12,5 12,5 50

MDIA PARA APROVAO 70 PONTOS dos 100 possveis. Tambm necessria, para aprovao final, a participao em, ao menos, 3 dos 4 fruns temticos e o cumprimento das avaliaes propostas.

Certificao Eletrnica: Decorridos 10 dias aps a data de concluso do curso, entre com seu nome de usurio e senha e clique no cone Emitir certificado. Voc ter a opo de imprimir o CERTIFICADO e uma DECLARAO com o contedo programtico. Poder tambm salvar o arquivo, para posterior impresso.

Suporte tcnicoO Ncleo Web do ILB oferece apoio a problemas de acesso ao ambiente virtual de aprendizagem e orientaes para a utilizao dos recursos e ferramentas de EaD.

E-mail: [email protected](Identifique a mensagem, informando seu nome completo e o curso em que est inscrito.)

Telefone: (00+55) (61) 3303-1318 Horrios de atendimento ao aluno virtual: 10h s 12h e 15h s 17h (dias teis)

Confira os cones utilizados neste curso:

Objetivos Avaliao da unidade

Voc sabia?

Autoavaliao

Leia mais

Reflexo

Curiosidade

Comunique-se

Ateno! Continuao Pesquise na Internet

Oua a msica

No Perca

Sugesto de literatura

Assista ao vdeo/filme

Concluso

Introduo ao curso

Apresentao Bem-vindo ao curso de Relaes Internacionais: Temas Contemporneos. Este curso gira em torno do estudo de algumas questes internacionais contemporneas de interesse para o Parlamento Brasileiro. O contedo est dividido em 2 mdulos com 5 unidades cada um. Cada um deles requer sua ateno e dedicao com relao apreenso do contedo proposto. A lista de objetivos de aprendizagem evidencia a complexidade do curso e do tema bem como o nvel de aprofundamento almejado neste curso, apesar de este ter a vocao apenas de curso introdutrio a respeito das relaes internacionais. Ao final, esperamos que voc atinja os seguintes objetivos de aprendizagem: identificar as principais caractersticas da Sociedade Internacional Contempornea e seus efeitos nas Relaes Internacionais de nossos dias; identificar as principais caractersticas do Sistema Jurdico Internacional em nossos dias; informar a respeito da importncia do Direito Internacional nas relaes internacionais; apresentar aspectos importantes do Direito Internacional Pblico na atualidade; informar sobre alguns novos ramos do Direito Internacional; identificar as principais organizaes internacionais da atualidade; identificar as causas do surgimento do novo sistema econmico internacional; identificar as principais caractersticas do processo de globalizao dos mercados; identificar os tipos de blocos econmicos; identificar os principais blocos polticos e/ou econmicos da atualidade; mostrar as principais teses, ideologias e idias que fundamentam, hoje, as aes dos agentes das relaes internacionais; conceituar a guerra; informar a respeito da influncia da guerra nas Relaes Internacionais; apresentar perspectivas acerca da guerra nas Relaes Internacionais; identificar o papel da guerra na Sociedade Internacional Contempornea; informar sobre o Novo Modelo de Segurana no Sistema Internacional ps-11 de setembro de 2001; identificar os impactos do 11 de setembro de 2001 nas Relaes Internacionais; discutir a nova poltica de defesa dos EUA e a segurana internacional; apresentar caractersticas marcantes do Brasil sob tica internacional; informar sobre a insero internacional do Brasil; discutir as polticas externas dos Governos Fernando Henrique Cardoso e Lula; Informar sobre a importncia das relaes internacionais na Constituio Federal de 1988; identificar os dispositivos da Carta Magna que tratam de relaes internacionais; identificar o papel do Poder Legislativo nas relaes internacionais. Alm das indicaes de stios, de filmes e de leituras destinadas a aprofundamento autnomo por parte do cursista, podero ser utilizadas outras ferramentas de busca da internet. O cursista contar tambm com o apoio dos tutores, que estaro disponveis para esclarecimentos e orientaes.

O contato com os tutores do curso feito por meio da Plataforma de Educao a Distncia do ILB. Lembramos, finalmente, que este um curso introdutrio. H muito a ser explorado no estudo das Relaes Internacionais. Esperamos que o presente curso sirva para despertar o interesse sobre essa temtica to intrigante. Chamamos sua ateno para o fato de este curso utilizar a estratgia de educao a distncia. No entanto, voc no est solitrio. H uma equipe de tutores sua disposio, h seus colegas de curso, h toda a equipe de responsveis pelo desenvolvimento desta relao educativa virtual. Usufrua, descubra, explore. Comprometa-se com sua aprendizagem e tenha um excelente aproveitamento!

Educao a distncia uma estratgia de ensino-aprendizagem, mediada por tecnologias, na qual alunos e professores esto separados no espao, no tempo ou em ambos. Mas tal separao fsica e espacial no impede que aconteam relaes educativas de qualidade. As possibilidades tecnolgicas disponveis permitem que os atores da relao educativa estejam conectados, interligados, em interao em torno da construo de conhecimentos.

Reviso das principais Teorias de Relaes Internacionais

Este caderno complementar tem como foco a apresentao introdutria e resumida das principais teorias para a anlise e compreenso dos temas contemporneos das Relaes Internacionais.

Para um estudo mais aprofundado dessas teorias e dos conceitos bsicos aplicados ao campo das Relaes Internacionais, convidamos o aluno a realizar o curso Relaes Internacionais Teoria e Histria, tambm oferecido pelo ILB.

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TEORIAS DE RELAES INTERNACIONAISUma teoria uma viso de mundo, um modelo de interpretao da realidade. O objeto material de qualquer cincia se define pela parcela de realidade que se pretende conhecer mediante a formao de teorias e a utilizao de um mtodo cientfico. H algo que as cincias naturais e as cincias sociais, conforme Karl Popper, certamente tm em comum: a necessidade da teoria para se desenvolverem. Nas palavras de Tomassini (1989, p. 55): A cincia exige algo mais do que fatos e descries de fatos. Exige que se explique por que ocorreram, que efeitos causaram e algumas predies (ou, no caso das cincias sociais, conjecturas) sobre seu comportamento provvel no futuro, uma mescla de causalidade, teleologia e prospeco. No campo das cincias sociais, como em outras cincias, a teoria chamada a ministrar essas explicaes, pondo ordem ao mundo heterogneo e muitas vezes incompreensvel dos fatos isolados, e a arriscar algumas predies.

A seguir, faremos uma exposio em que importantes teorias do campo so citadas, e, paralelamente, alguns importantes debates tericos.

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A Teoria do Equilbrio de Poder

Comeamos por essa teoria por uma razo simples: para muitos estudiosos da poltica internacional, a Teoria do Equilbrio de Poder, tambm conhecida como Teoria do Balano de Poder, o que mais prximo existe de uma teoria poltica das relaes internacionais. Arnold Toynbee, conhecido historiador, chegou mesmo a dizer que tal teoria constitua uma lei da Histria. Na era moderna, com o surgimento e desenvolvimento do Estado-nao, multiplicaram-se tambm as teorizaes a respeito das relaes internacionais. Em um contexto de anarquia internacional e de conflito entre os Estados, as prticas dos agentes e dos Atores na Sociedade Internacional levaram formulao de uma teoria que pode ser considerada a precursora da anlise convencional realista das relaes internacionais, a Teoria do Equilbrio de Poder. A Teoria do Equilbrio de Poder percebe o cenrio internacional em uma situao de equilbrio, no qual o poder distribudo entre os diversos Estados. Quando um Estado comea a se destacar e a buscar aumentar seu poder frente os demais, h uma perturbao no equilbrio, e faz-se necessria uma coalizo das Potncias para conter o Estado pretensioso e restaurar a ordem. Assim, pressupondo o Estado como um Ator racional, a teoria defende que o balano ou o equilbrio de poder a escolha prefervel e, portanto, a tendncia do sistema internacional. A Teoria orientou as relaes internacionais nos quatro sculos compreendidos entre a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) e a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Foi til para justificar as condutas dos Estados e aes de governantes em um contexto anrquico e conflituoso. Alguns autores distinguem entre o equilbrio de poder como uma poltica (esforo deliberado para prevenir predominncia, hegemonia) e como um padro da poltica internacional (em que a interao entre os Estados tende a limitar ou frear a busca por hegemonia e, como resultado, h um equilbrio geral). Com o fim da Primeira Guerra Mundial e as consequentes mudanas no cenrio internacional e no equilbrio de foras, em virtude dos traumas causados pelo conflito e do desenvolvimento do discurso pacifista junto opinio pblica internacional, a Teoria do Equilbrio de Poder foi questionada. Sob o argumento de que essa doutrina no poderia perdurar em um sistema em que a guerra deveria ser evitada a qualquer custo, o imediato ps-guerra foi marcado por novas concepes sobre as relaes internacionais, baseadas em uma onda idealista, em reao onda realista, e se fundamentava no Direito Internacional, na soluo pacfica das controvrsias e na busca de uma estrutura supranacional que garantisse a paz.

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Os 3 paradigmas tericos das Relaes Internacionais: Realismo, Pluralismo e GlobalismoAtualmente, a doutrina reconhece trs grandes correntes tericas das Relaes Internacionais: o Realismo, o Pluralismo e o Globalismo. So tambm chamados de paradigmas tericos, dado que as variadas teorias que existem na disciplina podem ser encaixadas em uma dessas trs correntes. O Realismo trabalha mais com os conceitos de poder e equilbrio de poder; o Globalismo, com dependncia; e o Pluralismo, por sua vez, com os conceitos de processo de tomada de deciso e transnacionalismo. Vamos abord-las brevemente a seguir.

Assistindo ao vdeo abaixo, ainda com o Professor Joanisval, um dos conteudistas deste curso, voc ter uma viso introdutria do surgimento do Realismo.

Durao: 5min25

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RealismoO Realismo tem algumas proposies bsicas. Primeiro, o Estado o ator principal no meio internacional, e o estudo das relaes internacionais foca essa unidade poltica. Atores no estatais, como as empresas multinacionais, so menos relevantes para a anlise, e as organizaes internacionais, como a ONU ou a OTAN, no possuem existncia autnoma ou independente, porque so compostas de Estados, as verdadeiras unidades soberanas, independentes e autnomas, que determinam o comportamento dessas organizaes internacionais. O Conselho de Segurana da ONU, por exemplo, que era uma forma de gerncia do poder, na viso realista, foi paralisado, durante a Guerra Fria, pelo veto os interesses de poder da URSS e dos EUA iam em sentidos opostos e, por consequncia, impediam a organizao de funcionar. No Ps-Guerra Fria, apesar da superao das rivalidades dentro do Conselho, a Organizao ainda no funcionava automaticamente, dependendo, em cada circunstncia, do interesse dos Estados para atuar. Realistas citam, por exemplo, o contraste entre a ao rpida na Guerra do Golfo e a inrcia diante da crise iugoslava. Segundo, os Estados so atores unitrios. So unitrios, porque quaisquer diferenas de viso entre os lderes polticos ou burocracias dentro do Estado so, no final das contas, resolvidas, para que o Estado fale uma s voz. Terceiro, os Estados so atores racionais. So racionais porque, dados certos objetivos, trabalham com alternativas viveis para alcan-los, luz de suas capacidades, por meio de uma anlise de custo-benefcio. Os realistas reconhecem a existncia de problemas como falta ou rudo de informao, incerteza, pr-julgamento e erros de percepo, mas, contudo, pressupem que os tomadores de deciso no medem esforos para alcanar a melhor deciso possvel.

Finalmente, para os realistas, a segurana nacional a questo de maior importncia para a agenda de poltica exterior de qualquer Estado. Questes polticas e militares dominam a agenda e so chamadas de alta poltica (high politics). Os Estados atuam para maximizar o interesse nacional. Em outras palavras, os Estados tentam maximizar a probabilidade de atingirem qualquer objetivo que tenham estabelecido, os quais incluem preocupaes de alta poltica relativas sobrevivncia do Estado (segurana), assim como os objetivos de baixa poltica ligados a esse campo, como comrcio, finanas, cmbio e bem-estar.

A guerra responsiva dos EUA contra o Afeganisto, aps os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, e sua guerra preventiva contra o Iraque, em 2003, evidenciam o conflito alta poltica x baixa poltica, pois, durante os quatro anos do Governo Bush, os democratas o criticaram constantemente por ter abandonado as questes de economia domstica em nome da segurana nacional. At mesmo o direito interno foi suspenso nos EUA por questes de segurana nacional. Foram negados a vrios suspeitos, estrangeiros e nacionais, direitos garantidos constitucionalmente, em ampla afronta ao princpio do devido processo legal (due process of law), conquista de mais de dois sculos da sociedade norte-americana.

O Realismo responde pela maior parte da produo acadmica sobre Relaes Internacionais nos EUA.

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Pluralismo

Assista aula introdutria, gravada no curso presencial no ILB, sobre Pluralismo. Vamos l!

Durao: 6min24

Os anos de 1980 e 1990 deram fora corrente terica conhecida como Pluralismo, que veio para desafiar as proposies do Realismo. Nessa corrente normalmente se enquadram os neoliberais.

O Pluralismo baseado em quatro proposies bsicas. Primeiro, atores no estatais so importantes na poltica internacional. Organizaes internacionais, por exemplo, podem tornar-se, em algumas questes, atores independentes, ao contrrio do que defendem os realistas. Elas so mais do que simples fruns em que Estados competem e cooperam uns com os outros. O corpo de funcionrios de uma organizao internacional pode reter um grau expressivo de poder ao determinar os termos de uma agenda, assim como ao fornecer informaes sobre as quais representantes de Estado baseiam suas demandas (como acontece com o FMI em relao aos pases que pedem emprstimos alm de suas cotas e, por consequncia, precisam seguir o receiturio do consenso de Washington). Similarmente, organizaes no governamentais, como a WWF, e corporaes multinacionais, como a Petrobrs, a IBM, a Sony, a General Motors, a Exxon, o Citicorp, entre vrias outras, tambm desempenham papis importantes na poltica mundial. Atualmente, lembram os pluralistas, at mesmo na rea comercial, as ONGs tm sido chamadas a atuar. O ex-Secretrio-Geral da ONU, Kofi Annan, afirmou, em junho de 2004, durante visita ao Frum da Sociedade Civil, reunio de ONGs que pela primeira vez tinham assento na Conferncia das Naes Unidas para o Comrcio e para o Desenvolvimento (UNCTAD), que a sociedade civil tem peso na balana para tornar o comrcio internacional mais justo. Para os pluralistas, tambm no se poderia negar o impacto de atores no estatais, como grupos terroristas (como a Al Qaeda e o Hamas), comerciantes de armas da mfia russa, movimentos guerrilheiros, como as FARC colombianas e outros. Segundo, para os pluralistas, o Estado no um ator unitrio. O Estado composto de indivduos, grupos de interesse e burocracias que competem entre si. Apesar de as decises serem noticiadas como decises de tal pas, geralmente mais correto se falar em deciso feita por uma coalizo governamental particular, uma agncia burocrtica do Executivo ou mesmo um nico indivduo. A deciso no tomada por uma entidade abstrata chamada Brasil, China ou EUA, mas por uma combinao de atores por trs da definio da poltica externa. Por exemplo, Lula, enquanto Presidente da Repblica, evitou criticar o Ir no tema direitos humanos. Dilma Rousseff, sua sucessora, com menos de um ms de governo, irritou o governo iraniano com crticas feitas sua poltica de direitos humanos. Seria possvel falar em uma posio do Brasil sobre a questo? Diferentes organizaes podem apresentar perspectivas distintas em determinada questo de poltica externa. Competio, formao de coalizes e compromissos eventualmente resultaro numa deciso que ser anunciada como uma deciso do pas. Essa deciso estatal pode ser o resultado de lobbies levados a efeito por atores no governamentais (como o lobby dos fazendeiros norte-americanos contra o fim dos subsdios agrcolas, das empresas multinacionais, de grupos de interesse, ou mesmo de um ente amorfo, a opinio pblica). Assim, para os pluralistas, o Estado no pode ser visto como um ator unitrio, uma vez que tal rtulo perderia de vista a multiplicidade de atores que formam e compem a entidade chamada de Estado-nao. Terceiro, os pluralistas desafiam a suposio realista de que o Estado um ator racional. Dada a viso pluralista e fragmentada do Estado, pressupe-se, ao contrrio, o choque de interesses, a barganha e a necessidade de compromisso, que nem sempre levam a um processo de tomada de deciso racional. Por fim, para os pluralistas, a agenda da poltica internacional extensa. Embora a segurana nacional seja importante, os pluralistas tambm se preocupam com um nmero variado de questes econmicas, sociais, energticas e ecolgicas que tm surgido com o aumento da interdependncia entre os pases e as sociedades nos sculos XX e XXI. Alguns pluralistas, por exemplo, enfatizam o comrcio e as questes monetrias e energticas, as quais estariam no topo da agenda internacional. Outros focam o problema demogrfico e a expanso da fome no Terceiro Mundo. Outros, ainda, focam a poluio e a degradao do meio ambiente. Nesse sentido, os pluralistas rejeitam a dicotomia entre alta poltica (high politics) e baixa poltica (low politics) dos realistas.

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Globalismo

Para introduzir o conceito de Globalismo, assista ao vdeo e, em seguida, leia atentamente o texto que se segue! Bons estudos!

Durao: 3min25

Historicamente, o Globalismo se relaciona com o surgimento do Terceiro Mundo na poltica mundial. Nesse sentido, representa uma viso ignorada e desprestigiada da realidade internacional. Para eles, a hierarquia, como uma caracterstica-chave, mais importante do que a anarquia, dada a desigualdade na distribuio do poder dentro do sistema. Vimos que os realistas organizam seus estudos em torno da questo bsica de como a estabilidade pode ser mantida num mundo anrquico. Os pluralistas se perguntam como mudanas pacficas podem ser promovidas num mundo que crescentemente interdependente poltica, militar, social e economicamente. Os globalistas, por sua vez, se concentram na questo de por que tantos pases do Terceiro Mundo na Amrica Latina, na frica e na sia no tm conseguido se desenvolver. Para muitos globalistas, mais ligados linha marxista, essa questo faz parte de um campo maior de anlise: o desenvolvimento do capitalismo no mundo. Os globalistas so guiados por quatro proposies. Primeiro, necessrio entender o contexto global em que Estados e outros atores interagem. Os globalistas argumentam que, para explicar o comportamento em qualquer nvel de anlise o individual, o burocrtico, o societrio e o estatal , necessrio, antes, entender a estrutura geral do sistema global no qual esses comportamentos se manifestam. Assim como os realistas, globalistas acreditam que o ponto de partida da anlise o sistema internacional. Numa extenso mais larga, o comportamento de atores individuais explicado por um sistema que fornece limitaes e oportunidades. Segundo, os globalistas realam a importncia da anlise histrica na compreenso do sistema internacional. Apenas rastreando a evoluo histrica do sistema possvel entender sua estrutura atual. O fator-chave histrico e a caracterstica definidora do sistema como um todo o capitalismo. At mesmo os Estados socialistas precisam operar dentro desse sistema econmico, que constantemente restringe suas opes. Terceiro, os globalistas assumem que existem mecanismos de dominao que impedem que o Terceiro Mundo se

desenvolva e que contribuem para o desenvolvimento desigual ao redor do planeta. A compreenso desses mecanismos requer o exame das relaes de dependncia entre os pases industrializados do Norte (Amrica do Norte e Europa) e os vizinhos pobres do Hemisfrio Sul (Amrica Latina, frica e sia). Finalmente, os globalistas defendem que os fatores econmicos so absolutamente crticos para se explicar a evoluo e o funcionamento do sistema capitalista mundial e a relegao do Terceiro Mundo para uma posio subordinada. A economia funciona como uma espcie de alta poltica para os globalistas.

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Realistas X PluralistasUm debate terico relevante o que se d entre realistas e pluralistas. Os pluralistas colocam o carter anrquico da Sociedade Internacional e a importncia da segurana em segundo plano, o que fortemente criticado pelos realistas, para os quais nenhuma anlise das relaes internacionais ser completa sem se considerar a estrutura anrquica do Sistema e o dilema da segurana. Para os pluralistas, dada a complexa interdependncia da Sociedade Internacional, o uso militar da fora tende a ter menos utilidade na resoluo de conflitos. Os pluralistas nem sempre usam os conceitos de sistema e de equilbrio nas relaes internacionais, dado que no concebem Atores autnomos e predeterminados no cenrio internacional. Eles criticam as previses baseadas em anlises de balana de poder dos realistas por serem demasiado genricas. Ao contrrio do mundo idealizado pelos realistas, os pluralistas veem indeterminao e imprevisibilidade, dado que no h separao entre poltica externa e poltica interna, sendo aquela mera extenso desta, pois no deixa de ser influenciada por fatores como a opinio pblica, a indstria do lobby e processos de barganha entre os atores internos (polticos, agncias burocrticas etc.). A noo de Estado-nao dos pluralistas, ao contrrio do que concebem os realistas, difusa, irracional e altamente permevel. A Teoria da Estabilidade Hegemnica, que veremos mais frente, exemplo de uma tentativa de conjugao da perspectiva realista com a pluralista. Alguns consideram essa teoria um compromisso parcial entre ambas as correntes.

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O NEORREALISMOO Neorrealismo uma verso mais atual do Realismo. O Neorrealismo deriva de um movimento epistemolgico que ficou conhecido como Estruturalismo. Segundo os estruturalistas, a sociedade se define pelas condies de possibilidade de toda organizao social. A anlise dos diferentes sistemas constitutivos da Sociedade Internacional e de sua articulao mostra serem eles a aplicao de certo nmero de leis lgicas encontrveis em toda sociedade. Tal ponto de vista se casou com algumas perspectivas clssicas, como as que veem as leis da anarquia e do poder como explicativas da realidade (como a lei do balano de poder j vista), dando luz ao Neorrealismo. Para os estruturalistas, so essas as invariantes ou constantes que do unidade necessria fundamentao cientfica. Enfim, para os estruturalistas, o importante identificar os padres, os arranjos, as organizaes sistemticas em determinado estado. Em suma, o Estruturalismo foi fundamental para o desenvolvimento dos mtodos cientficos, ao ensinar que o processo cientfico bsico o analtico, da decomposio das coisas, e que se deve privilegiar o aspecto relacional da realidade, uma vez que as relaes so constantes, enquanto que os elementos podem variar. Kenneth Waltz (2002) se utiliza do Estruturalismo para criar o seu Neorrealismo, tambm chamado de Realismo Estrutural, ao final da dcada de 1970, que ele modestamente chama de revoluo de Coprnico no mbito das Relaes Internacionais.

Waltz identifica trs nveis de anlise nas Relaes Internacionais: o Indivduo, o Estado/Sociedade (sistemas polticos/economia domstica) e o Sistema Internacional (ambiente anrquico). Dos trs nveis de anlise identificados por ele, concentra-se no terceiro nvel, para dizer que a anarquia uma constante, um dado na estrutura do Sistema Internacional. Enquanto esse primeiro critrio da estrutura, a anarquia, uma constante, o segundo, a distribuio de capacidades, uma varivel, pois varia entre os Estados. O referencial emprico para essa varivel a quantidade de Superpotncias que domina o sistema. Dado o pequeno nmero de tais Estados importante perceber que ele escrevia na poca da Guerra Fria , e, alm disso, para Waltz, no mais que oito j foram importantes, a poltica internacional, segundo ele, poderia ser estudada em termos da lgica de poucos sistemas. O Neorrealismo foca mais as caractersticas estruturais do sistema internacional estatocntrico do que as unidades que o compem (os Estados). Em outras palavras, a estrutura que molda e conforma as relaes polticas entre as unidades. Para Waltz, o Realismo tradicional, por se concentrar nas unidades e nos seus atributos funcionais, incapaz de trabalhar com mudanas de comportamento ou na distribuio de poder que ocorre independentemente das flutuaes entre as prprias unidades. Assim, apesar de o sistema ainda ser anrquico e as unidades ainda serem autnomas no Neorrealismo, a ateno voltada para o nvel estrutural fornecia-lhe uma imagem mais dinmica e menos restrita do comportamento poltico internacional emergente. O Neorrealismo busca explicar como as estruturas afetam o comportamento e os resultados, independentemente das caractersticas atribudas ao poder e ao status.

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Para Waltz, o sistema internacional funciona como o mercado, o qual est interposto entre os atores econmicos e os resultados que eles produzem. o mercado que condiciona seus clculos, seus comportamentos e suas interaes. Assim, para ele, a estrutura do sistema internacional que limita o potencial de cooperao entre os Estados e que, por consequncia, gera o dilema da segurana, a corrida armamentista e a guerra. Waltz lembra que as empresas devem desenvolver sua prpria estratgia para sobreviver em um meio competitivo, sendo difceis aes coletivas que otimizem o lucro a longo prazo. Waltz usa a noo de poder estrutural espcie de poder que pode estar operando quando os Estados no estiverem agindo da forma que se esperava, dada a desigualdade de distribuio de poder no sistema internacional. Percebe-se que Waltz se inspirou em Durkheim, para quem a sociedade no a simples soma de indivduos e que todo fato social tem por causa outro fato social, e jamais um fato da psicologia individual. Em seu trabalho sobre o suicdio, Durkheim procurou demonstrar que, mesmo no ato privado de tirar a prpria vida, conta mais a sociedade presente na conscincia do indivduo do que sua prpria histria individual. Ou seja, o ambiente mais importante do que o agente, e essa a tese por trs do Neorrealismo de Waltz. Isolando a estrutura, Waltz argumenta que uma estrutura bipolar dominada por duas Superpotncias mais estvel que uma estrutura multipolar dominada por trs ou mais Superpotncias, pois mais provvel que se sustente sem guerras espalhadas no sistema. Para ele, h diferenas expressivas entre multipolaridade e bipolaridade. Na multipolaridade, os Estados confiam em alianas para manter a segurana, o que inerentemente instvel, uma vez que existem potncias demais para se permitir que qualquer uma delas trace linhas claras e fixas entre aliados e adversrios. Em contraste, na bipolaridade, a desigualdade entre as Superpotncias e cada um dos outros Estados assegura que a ameaa posta a cada um deles seja mais fcil de ser identificada; e, no sistema bipolar da Guerra Fria, a URSS e os EUA mantinham o equilbrio central, confiando mais nos prprios armamentos do que nos aliados. Ficam, assim, minimizados os perigos decorrentes de previses erradas. A intimidao nuclear e a inabilidade das Superpotncias em superarem mutuamente as foras retaliadoras aumentam a estabilidade do sistema. Ou seja, para Waltz, a estrutura do sistema em si gerava a estabilidade. Waltz foi criticado por Raymond Aron, para quem a estabilidade da Guerra Fria tinha mais a ver com as armas nucleares em si (dissuaso) do que com a bipolaridade. Muitos crticos argumentaram que o modelo de Waltz era muito esttico e determinstico, alm de desprovido de qualquer dimenso de mudana estrutural (revoluo). Mas essas, na verdade, so as caractersticas do Estruturalismo. Em Waltz, os Estados esto condenados a reproduzir a lgica da anarquia, e qualquer cooperao que ocorra entre eles ficar subordinada distribuio de

poder. Os neoliberais criticam Waltz por exagerar o grau de obsesso dos Estados pela distribuio de poder e por ignorar os benefcios coletivos que podem ser alcanados pela cooperao.

Abordaremos esse debate entre neorrealistas e neoliberais a seguir.

Outros acusaram Waltz de tentar legitimar a Guerra Fria sob o manto da cincia. Com o fim da Guerra Fria, um dos polos da estrutura ruiu, a URSS, o que no se harmonizava com as expectativas da teoria de Waltz, segundo as quais as Superpotncias amadureceriam para se tornar duopolistas sensveis no comando de uma estrutura crescentemente estvel.

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Neorrealistas X Neoliberais e a Teoria da InterdependnciaEste debate o mais relevante para o mundo que se descortina diante de nossos olhos neste incio do sculo XXI. Tambm pode ser referido como um debate entre neorrealistas e pluralistas, j que os liberais e neoliberais se renem no paradigma pluralista. Como pano de fundo desse debate temos a Teoria da Interdependncia. Esse debate terico ganhou fora nas dcadas de 1980 e 1990 e perdura at os dias de hoje. O debate se d em torno de questes como: se o sistema internacional mudou ou no sob o impacto da interdependncia, e quais as implicaes de tal mudana para a teoria e prtica das relaes internacionais. No fundo, quando surgiu o debate, a questo era se o modelo clssico da anarquia estava perdendo seu poder explicativo frente interdependncia entre os Estados, se a agenda tradicional das relaes internacionais passou ou no a reduzir a importncia da alta poltica (high politics segurana militar, dissuaso nuclear) e a elevar a baixa poltica (low politics comrcio, finanas internacionais etc.). Na poca em que surgiu, a discusso era travada entre os que acreditavam que o sistema internacional no estava sofrendo nenhuma mudana sistmica (a escola neorrealista) e os que argumentavam que o Realismo passou a ser um guia inadequado para a compreenso das mudanas dramticas ocorridas nas relaes internacionais como resultado das foras econmicas transnacionais (a escola neoliberal). A razo desse debate era a crise do sistema Bretton Woods, a crise de conversibilidade do dlar e os choques de petrleo, eventos que abalaram todo o mundo. E, claro, no se pode deixar de citar, o fracasso dos EUA na Guerra do Vietn. Segundo Waltz (2002), a direo da interdependncia econmica dependia da distribuio de poder no Sistema Internacional. O significado poltico das foras transnacionais no decorre de sua escala; o que importa a vulnerabilidade dos Estados s foras fora de controle e os custos da reduo de exposio a essas foras. Para Waltz, no sistema bipolar ento vigente, o grau de interdependncia era relativamente baixo entre as Superpotncias, e a persistncia da anarquia, como princpio central organizador das relaes internacionais, garantia que os Estados continuassem a privilegiar a segurana acima da busca por riquezas (GRIFFITHS, 2004). Do outro lado do debate estavam os neoliberais, que afirmavam que o crescimento das foras econmicas transnacionais, como os fluxos financeiros, a crescente irrelevncia do controle territorial frente ao crescimento econmico e a diviso internacional do trabalho tornavam o Realismo obsoleto. Os benefcios coletivos do comrcio e a influncia dos fluxos financeiros para as polticas domsticas dos Estados assegurariam uma cooperao maior entre os Estados e contribuiriam para o declnio do uso da fora entre eles. Um dos fortes defensores das teses neorrealistas foi Stephen Krasner. Para Krasner (1983), os Estados soberanos continuam sendo, nos tempos de hoje, agentes racionais e interesseiros, firmemente preocupados com seus ganhos relativos. Argumentou que os perodos de abertura na economia mundial correspondem aos

perodos nos quais um Estado nitidamente dominante. No sculo XIX, foi a Gr-Bretanha; no perodo 1945-1960, os EUA. Por consequncia, concorda com Waltz: o grau de abertura depende, em si, da distribuio de poder entre os Estados. A interdependncia econmica subordinada ao equilbrio de poder econmico e poltico entre os Estados, e no o contrrio. Krasner tambm ataca os globalistas. Para ele, os Estados nem sempre colocam a riqueza acima dos outros objetivos. O poder poltico e a estabilidade social tambm so cruciais, e isso significa que, embora o comrcio aberto possa fornecer ganhos absolutos para todos os Estados que se comprometerem com ele, alguns Estados ganharo mais do que outros, e essas diferenas de poder so o principal fator determinante e explicativo do comportamento dos Estados. Krasner ataca os globalistas pelo fracasso em explicarem o envolvimento dos EUA na Guerra do Vietn, que provocou to intensas discordncias domsticas para to pouco ganho econmico. Se os EUA frequentemente desejavam proteger os interesses das corporaes norte-americanas, reservaram o uso da fora em larga escala, todavia, para as causas ideolgicas. Isso explicaria a guerra contra o Vietn, uma rea de importncia econmica insignificante para os EUA, e a relutncia no uso da fora durante as crises do petrleo nos anos de 1970, que ameaaram o fornecimento do produto em todo o mundo capitalista.

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Krasner atacou de frente a interdependncia neoliberal, e todo o institucionalismo supostamente por trs dela. Segundo ele, Estados pequenos e pobres do Sul tendem a apoiar os regimes internacionais que distribuem recursos autoritariamente, ao passo que os Estados mais ricos do Norte favorecem regimes cujos princpios e regras do prioridade aos mecanismos de mercado. Regimes internacionais autoritrios so aqueles conjuntos de regras, normas, princpios e procedimentos que aumentam os poderes soberanos dos Estados individualmente, dando aos Estados o direito de regulamentar fluxos internacionais (migrao, sinais de rdio, ativos financeiros, aviao civil etc.) ou de distribuir acesso a recursos internacionais (fundo do mar, atmosfera, etc.). Os Estados do Terceiro Mundo procuram, na verdade, proteo. Tentam se proteger contra a operao de mercados em que eles se encontram em desvantagem. No seria por outro motivo o apoio de pases do Terceiro Mundo ao Frum Social Mundial, cujas preocupaes tm sido a regulamentao dos fluxos financeiros internacionais e a imposio de uma tributao sobre eles (a chamada taxa Tobin).

Regimes internacionais so normalmente definidos como princpios, normas, regras e processos de tomada de deciso em torno dos quais as expectativas do Ator convergem para uma dada questo setorizada (issue area). Os regimes implicam no apenas normas e expectativas que facilitam a cooperao entre os Estados, mas formas de cooperao. Krasner, assim, identifica uma dicotomia regulamentao/Terceiro Mundo versus desregulamentao/Primeiro Mundo, que, no fundo, evidencia relaes de poder. Krasner, desse modo, rejeita, mais uma vez, a hiptese de que os Estados perseguem simplesmente riqueza e argumenta que os Estados do Terceiro Mundo tambm se envolvem em lutas pelo poder, querendo diminuir sua vulnerabilidade ao mercado e exercer um controle estatal maior sobre ele ( o que estaria por trs, por exemplo, das discusses na China sobre o controle ou no dos fluxos de capital deixar ou no fechada a conta de capital do balano de pagamentos). Assim, a soberania d aos Estados do Terceiro Mundo uma forma de metapoder ou poder de uma ideologia coerente para atacar a legitimidade dos regimes do mercado internacional e as injustias do capitalismo global (GRIFFITHS, 2004). Portanto, para os neorrealistas, a tentativa de estabelecer regimes internacionais como meio de superar ou atenuar os efeitos da anarquia no funciona. Tais regimes no disfaram as diferenas de poder existentes nas relaes internacionais e tampouco conseguem alterar a importncia da soberania dos Estados. Neoliberais como Robert Keohane (2001) tentariam derrubar essas teses, buscando uma resposta positiva para a questo: as instituies explicam ou no o comportamento dos Estados? O argumento bsico de Keohane que, num mundo interdependente, o paradigma realista de uso limitado para ajudar a compreender a dinmica dos regimes internacionais, ou seja, as normas, regras e princpios que governam as tomadas de deciso e as operaes em relaes internacionais sobre determinadas questes, como o dinheiro.

Os neoliberais usam o modelo da interdependncia complexa. Trata-se de um modelo explanatrio das relaes internacionais que pressupe mltiplos canais de contato entre as sociedades, uma ausncia de hierarquia entre questes de agenda e uma diminuio da utilidade do poder militar, ou um papel minimizado para o uso da fora. A interdependncia complexa o resultado da multiplicao das interconexes globais e da acelerao de fluxos financeiros, demogrficos, de bens, servios e de informaes, com operadores extremamente variados: organizaes intergovernamentais, multinacionais, organizaes no governamentais, sociedade civil, dentre outros, os quais passam a ganhar espao nas decises e discusses internacionais, e o Estado deixa de ter o nico papel relevante nas relaes internacionais, embora ainda proeminente. Sob condies de interdependncia complexa, os neoliberais afirmam que difcil para Estados democrticos delinearem e perseguirem polticas exteriores racionais, como defendem os realistas. Os neorrealistas, tornando o debate mais acalorado, responderam dizendo que no verdade que a distribuio de poder poltico e militar no se relacione com a condio de interdependncia complexa. A Teoria da Estabilidade Hegemnica normalmente citada como a conjugao das ideias do realismo com as ideias pluralistas de interdependncia. Ela explica, por exemplo, a ligao entre o poder hegemnico e o grau de interdependncia complexa no comrcio internacional. Waltz, ao falar sobre a importncia do equilbrio de poder, mostrou que a interdependncia, longe de tornar obsoleto o poder, dependia da habilidade e da disposio dos EUA em fornecer as condies sob as quais os outros Estados estariam participando da concorrncia por ganhos relativos e cooperando para maximizar seus ganhos absolutos com base em uma cooperao no comrcio e em outros setores de controvrsia.

A Teoria da Estabilidade Hegemnica procurou responder ao argumento neoliberal de que o crescimento da interdependncia econmica entre os Estados os estaria enfraquecendo e atenuando o relacionamento histrico entre a fora militar e a capacidade de sustentar interesses nacionais. Afinal, a interdependncia econmica que testemunhamos no mundo atual est reduzindo a importncia do poder militar? A resposta dessa teoria negativa. Antes de tratar diretamente dessa teoria, oportuno esclarecer o conceito de hegemonia. Hegemonia, em grego, significa liderana. Em sentido amplo, portanto, em Relaes Internacionais, o hegemon o lder ou o Estado lder de um grupo de naes. Hegemonia consiste no exerccio de uma liderana ou comando em uma sociedade, com base em recursos de poder. Esses recursos fundamentam-se em dois aspectos: coero e consenso. Assim, toda relao de poder tem por base os graus de coero e consenso exercidos por um ente ou mais de um sobre os demais. medida que alterada essa relao, muda tambm a liderana no grupo. Para o exerccio da hegemonia, o hegemon deve ter capacidade de atuar nas esferas de consenso e coero. Uma relao que se baseie apenas na coero por meio de recursos de fora militar ou econmica no pode ser verdadeiramente hegemnica, da mesma maneira que impossvel a liderana da comunidade internacional com fulcro apenas no consenso dos demais Atores. As relaes internacionais tm sido marcadas pela disputa, por parte das Potncias, da hegemonia na Sociedade Internacional. Essa hegemonia, alm de poltica, pode ser militar, econmica, cultural ou ideolgica. Pode ser regional ou global. Um Estado que seja a Potncia hegemnica em uma dessas reas muito provavelmente o ser na maioria das outras. claro que tal liderana pode ter diferentes gradaes e que uma grande Potncia econmica em nossos dias pode no ter o mesmo poder de influncia cultural ou at militar no cenrio internacional.

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A Teoria da Estabilidade Hegemnica procurou responder ao argumento neoliberal de que o crescimento da interdependncia econmica entre os Estados os estaria enfraquecendo e atenuando o relacionamento histrico entre a fora militar e a capacidade de sustentar interesses nacionais. Afinal, a interdependncia econmica que

testemunhamos no mundo atual est reduzindo a importncia do poder militar? A resposta dessa teoria negativa. Antes de tratar diretamente dessa teoria, oportuno esclarecer o conceito de hegemonia. Hegemonia, em grego, significa liderana. Em sentido amplo, portanto, em Relaes Internacionais, o hegemon o lder ou o Estado lder de um grupo de naes. Hegemonia consiste no exerccio de uma liderana ou comando em uma sociedade, com base em recursos de poder. Esses recursos fundamentam-se em dois aspectos: coero e consenso. Assim, toda relao de poder tem por base os graus de coero e consenso exercidos por um ente ou mais de um sobre os demais. medida que alterada essa relao, muda tambm a liderana no grupo. Para o exerccio da hegemonia, o hegemon deve ter capacidade de atuar nas esferas de consenso e coero. Uma relao que se baseie apenas na coero por meio de recursos de fora militar ou econmica no pode ser verdadeiramente hegemnica, da mesma maneira que impossvel a liderana da comunidade internacional com fulcro apenas no consenso dos demais Atores. As relaes internacionais tm sido marcadas pela disputa, por parte das Potncias, da hegemonia na Sociedade Internacional. Essa hegemonia, alm de poltica, pode ser militar, econmica, cultural ou ideolgica. Pode ser regional ou global. Um Estado que seja a Potncia hegemnica em uma dessas reas muito provavelmente o ser na maioria das outras. claro que tal liderana pode ter diferentes gradaes e que uma grande Potncia econmica em nossos dias pode no ter o mesmo poder de influncia cultural ou at militar no cenrio internacional.

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A Sociedade Internacional ser sempre marcada por um hegemon, cujo interesse manter o status quo do sistema, diante de outras Potncias que no pouparo esforos para se tornar o hegemon. De acordo com a teoria da estabilidade hegemnica, o hegemon tem que ter capacidade de garantir a ordem do sistema, ordem que deve ser percebida pelos demais entes da comunidade como positiva aos seus interesses. Para isso, o hegemon deveria dispor de alguns atributos: liderana em um setor econmico ou tecnolgico e poder poltico baseado no poder militar. Podemos acrescentar a esses atributos a capacidade de obter consenso sobre sua liderana. Para Robert Gilpin, a estabilidade internacional depende da existncia de uma hegemonia que tenha tanto capacidade quanto vontade de fornecer bens pblicos internacionais, como lei, ordem e moeda estvel. Conforme didtica explicao de Griffiths (2004, p. 26-27): (...) os mercados no podem crescer em produo e distribuio de bens e servios se no houver um Estado que fornea certos pr-requisitos. Por definio, os mercados dependem da transferncia, por meio de um mecanismo de preo eficiente, de bens e servios que possam ser comprados e vendidos entre os principais agentes particulares que permutam direitos de posse. Mas os mercados dependem do Estado para lhes dar, por coero, regulamentos, taxas e certos bens pblicos que eles sozinhos no podem gerar. Isso inclui uma infraestrutura legal de direitos e leis de propriedade para fazer contratos, uma infraestrutura coerciva que assegure a obedincia lei, alm de um meio de permuta estvel (dinheiro) que assegure um padro de avaliao dos bens e servios. Dentro das fronteiras territoriais do Estado, os governos fornecem tais bens. claro que, internacionalmente, no existe Estado no mundo capaz de multiplicar sua proviso em escala global. Baseando-se na obra de Charles Kindleberger e na anlise de E. H. Carr sobre o papel da Gr-Bretanha na economia internacional no sculo XIX, Gilpin argumenta que a estabilidade e a liberalizao da permuta internacional dependem da existncia de uma hegemonia que tenha tanto capacidade quanto vontade de fornecer bens pblicos internacionais, como lei, ordem e uma moeda estvel para o comrcio financeiro. Em termos gerais, essa a Teoria da Estabilidade Hegemnica.

Portanto, para autores como Gilpin, a liderana hegemnica dos EUA e o antissovietismo foram as bases do compromisso com o internacionalismo liberal e com o estabelecimento de instituies internacionais para facilitar a grande expanso comercial ocorrida entre os Estados capitalistas nos anos de 1950 e 1960 (chamados de anos dourados por Eric Hobsbawm). Giovanni Arrighi, em sua obra O longo sculo XX, apresentou tese no mesmo sentido. Sem a presena de um hegemon, no teria havido os anos dourados do ps-Guerra.

Mdulo I - Direito, Economia e Integrao no Sistema Internacional

Unidade I - A Sociedade Internacional Contempornea

Nesta unidade, visamos levar o aluno a identificar as principais caractersticas da Sociedade Internacional Contempornea e seus efeitos nas Relaes Internacionais de nossos dias. Bom aproveitamento!

Unidade I - A Sociedade Internacional Contempornea

Introduo Sabemos que a Sociedade Internacional dinmica, evolui ao longo dos sculos. Essa evoluo tem sido marcada por transformaes pelas quais vem passando a humanidade, desde os primeiros grupos humanos. Apresentamos, a seguir, as caractersticas da Sociedade Internacional Contempornea. No limiar do sculo XXI, a Sociedade Internacional est globalizada e interdependente. H cerca de trs sculos, a Sociedade Internacional nada mais era do que vrias sociedades internacionais que coexistiam no planeta, com pouco ou nenhum contato entre si, com instituies e conjuntos de valores prprios. medida que se desenvolvia a Revoluo Industrial, a partir do sculo XVIII, uma fora profunda conhecida por tecnologia propiciava mais integrao entre os distantes pontos do globo. Em pouco mais de dois sculos, o mundo encontra-se integrado pelos meios de comunicao e transportes, e o intercmbio de pessoas, bens e informao se intensifica a cada instante.

Da a percepo de que, atualmente, o limite da Sociedade Internacional o territrio do globo terrestre. Os povos esto de tal maneira integrados que a Sociedade Internacional passou a ser verdadeiramente global, universal. Nunca a ideia de humanidade esteve to presente. Nunca questes locais foram to relevantes para a situao mundial.

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Mundializao e UniversalizaoO carter de mundializao e universalizao da Sociedade Internacional no significa que ela seja homognea e que no tenha problemas, muito pelo contrrio. O que se percebe, nos dias atuais, que, como j dissemos, os problemas da Sociedade Internacional so verdadeiramente globais. O colapso de uma parcela da Sociedade Internacional poder representar transformaes significativas no todo.

Para aprofundar conhecimentos, leia o artigo de Srgio Paulo Rouanet intitulado "As duas vias da mundializao".

Segundo Juan Carlos Pereira, a mundializao pode ser tambm observada pela importncia que adquiriu o crescimento populacional no mundo. As questes populacionais tm representado grandes desafios para a estabilidade das Relaes Internacionais, sobretudo porque o crescimento demogrfico est diretamente vinculado ao problema do subdesenvolvimento e aos fluxos migratrios particularmente dos pases mais pobres para os mais ricos. Os nveis de desenvolvimento econmico e de crescimento demogrfico e as relaes entre esses fatores so, portanto, variveis das mais relevantes para a anlise das Relaes Internacionais na atual sociedade globalizada.

Incorporao de um nmero cada vez maior de Atores diferentes dos EstadosOutra importante caracterstica da Sociedade Internacional Contempornea o surgimento de um nmero cada vez maior de Atores diferentes dos Estados ONGs, multinacionais, indivduos. Eles passam a competir com os Estados, que permanecem como os principais protagonistas do sistema. At o incio do sculo XX, os Estados soberanos eram considerados os nicos Atores no cenrio internacional. Aps a I Guerra Mundial, com o sistema da Liga das Naes, as Organizaes Internacionais (OIs) comeam a ser percebidas como protagonistas ao lado dos Estados. Os ltimos cem anos foram marcados pela incorporao ao Sistema Internacional de dezenas de OIs, que atuam nas mais diferentes reas da segurana regional sade e desenvolvimento. Estado:Un actor central, que goza del doble privilegio de ser, a su vez, sujeto y rgano de la sociedad, y que haido incrementando su nmero de forma permanente hasta llegar a los 227 Estados y territorios autnomos que hoy existen en el mundo sobre los 135,4 milliones de kilmetros de tierras emergidas. Pereira, op. cit., p. 38-39.

Desenvolvimento: Destacam-se, entre outras, a Organizao das Naes Unidas (ONU) e todos os organismosa ela relacionados, bem como outros entes regionais Organizao dos Estados Americanos (OEA), Organizao do Tratado do Atlntico Norte (OTAN) e Organizao Mundial do Comrcio (OMC).

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Alm das OIs, que so atores governamentais interestatais, a segunda metade do sculo XX caracterizada pelo desenvolvimento das Organizaes No Governamentais (ONGs). Esses novos Atores, os quais, em tese, no tm participao de Estados em sua constituio, tm reunido pessoas e grupos de diferentes partes do mundo e com interesses dos mais diversos. A atuao das ONGs mostra-se importante, na Sociedade Internacional Contempornea, em reas como meio ambiente, direitos humanos, cooperao, cultura, assistncia econmica humanitria e social.

Entre os Atores no governamentais interestatais tambm devem ser relacionadas as empresas multinacionais e transnacionais. Chegamos ao sculo XXI com uma Sociedade Internacional em que essas organizaes privadas, voltadas obteno do lucro, esto entre os Atores de maior influncia no sistema. Em verdade, nos dias atuais, as empresas transnacionais so mais influentes que parte significativa dos Estados soberanos. Um ltimo Ator de destaque na Sociedade Internacional Contempornea o indivduo. Nunca pessoas isoladas ou grupos foram to influentes no cenrio internacional quanto na ltima dcada do sculo XX e incio do sculo XXI. Com o advento da Internet, dos sistemas de comunicao globais, um homem sozinho ou pequenos grupos de pessoas em diferentes partes do globo podem afetar o sistema de maneira significativa. Dos grandes operadores e especuladores do mercado financeiro internacional aos ciberterroristas, passando por eleitores que podem pressionar seus governantes por meio de mensagens eletrnicas e pequenos investidores, esses novos Atores no podem ser desconsiderados. Assim, se h cem anos o Estado era o nico protagonista do cenrio internacional, atualmente a Sociedade Internacional formada por diversos outros Atores, que convivem entre si, influenciando uns aos outros e ao sistema.

No existe um poder central supremo na Ordem InternacionalNa Sociedade Internacional Contempornea no h um poder central supremo, que determine a conduta dos Atores. De fato, o poder descentralizado, distribudo entre grupos que o monopolizam em reas geoestratgicas de influncia. Da dizermos que o Sistema Internacional anrquico, pois no h uma autoridade central que determine aos Atores como se conduzirem.

Aquele que inicia seus estudo Internacionais poderia se pergu no seria este poder central estar claro que aquela internacional de grande sistema, sobretudo por consti dos principais fruns de principais temas da agenda int obstante, a ONU no dita as re e, em suas relaes com internacional, sempre h que vontade soberana dos Estados. governo central do mundo ainda

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Apesar de o Sistema Internacional ser considerado anrquico por no existir um poder central supremo , podemos perceber claramente certa ordem nas relaes entre os Atores. Assim, a necessidade de convivncia na comunidade internacional gerou determinada ordem ou ordens poltica, econmica, jurdica, com regras e instituies reconhecidas pelos membros da Sociedade Internacional. Martin Griffiths e Terry OCallaghan (op. cit., p. 223) apresentam o conceito de ordem como um padro estvel de relaes entre Atores internacionais que defendem um conjunto de propsitos e objetivos comuns. Lembram que ordem no pode ser confundida com paz ou justia e que duas condies devem estar presentes para a existncia de uma ordem: os Atores devem estar dispostos a aderir a determinadas prticas que preservem o Sistema Internacional como um todo; os conflitos armados no podem ser to intensos a ponto de afetarem a integridade do sistema. Quando essas condies so afetadas, uma nova ordem pode dar lugar anterior. Portanto, o Sistema Internacional anrquico e, paradoxalmente, regido por uma ordem, na qual o poder, descentralizado, disputado por grupos, que so os Atores internacionais ou seus controladores e que acabam por estabelecer zonas geoestratgicas de influncia econmica, poltica, cultural etc. , instituies e regras de convivncia. Essa ordem internacional evolui juntamente com a prpria Sociedade Internacional, pois reflete as caractersticas e interesses dos Atores e suas relaes de fora e poder. O final do sculo XX testemunhou o advento de uma Nova Ordem Internacional, com regras, instituies e at Atores distintos da ordem do imediato ps-1945. Nesse cenrio, destacam-se os EUA como a principal potncia militar, mas queDestaque-se a disputa de poder/hegemonia internacional em suas diferentes formas entre os EUA e outros Atores, como a Unio Europeia, o Japo e a China. A aprovao do

tem que dividir o poder poltico, econmico e at cultural com outros entes do sistema. Ressalte-se que, apesar de ser a principal potncia militar e econmica, os EUA no so o poder supremo do Sistema Internacional nem estabelecem, sozinhos, as regras da nova ordem .

Protocolo

de

Kyoto

(2001)

sobre

meio

ambiente e o estabelecimento do Tribunal Penal Internacional em 1 de julho de 2002 , mesmo contra a vontade dos EUA, so exemplos de que a potncia da Amrica do Norte no a autoridade suprema do Sistema Internacional.

Para alguns, outra ordem internacional teria surgido a partir dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, com as mudanas na poltica externa das Grandes Potncias em virtude da ameaa terrorista e do fundamentalismo islmico. Ainda cedo para tais consideraes. Apenas com o passar dos anos, teremos distanciamento histrico necessrio para avaliar a situao.

Adote uma postura disciplinada para usufruir adequadamente deste curso de educao a distncia. Use o caderno de anotaes disponvel no Trilhas, reserve um tempo especfico para estudar, concentre-se nos objetivos de aprendizagem.

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Crescente interdependncia e aumento da desigualdade A Sociedade Internacional Contempornea marcada pela crescente interdependncia entre os Atores, em virtude da globalizao dos processos que marcou a segunda metade do sculo XX. Assim, as economias do globo esto interligadas: um bem pode ser produzido no Brasil, com insumos da Malsia e tecnologia japonesa, para ser vendido nos mercados europeu e caribenho por fornecedores indianos; uma operao financeira pode iniciar-se em Hong Kong e acabar em Nova York, tendo, em alguns segundos, passado por Frankfurt ou Londres. Paralelamente ao crescente desenvolvimento econmico e tecnolgico, que gera interdependncia entre naes no globo, tem-se uma Sociedade Internacional Contempornea progressivamente desigual. Aumentam as diferenas nos nveis de desenvolvimento e bem-estar em diferentes regies do planeta, bem como no uso de recursos, no crescimento desigual das populaes e na diferente capacidade de influncia dos diversos Atores. Na Sociedade Internacional Contempornea, os recursos esto mal repartidos e o poder mal distribudo. As desigualdades so cada vez mais evidentes. Enquanto uma pequena parcela da populao mundial desfruta dos benefcios da prosperidade econmica e tecnolgica, h milhes de pessoas na misria e no subdesenvolvimento. Enquanto, em pases ricos, a medicina presencia grandes avanos, h regies do globo onde as pessoas morrem de maneira endmica de doenas relacionadas pobreza e falta de saneamento bsico. Assim, mais um paradoxo global se faz presente na Sociedade Internacional Contempornea: o crescente desenvolvimento econmico e tecnolgico paralelo ao aumento das desigualdades sociais. Eis um problema que todas as naes, com os pases ricos frente, tero que resolver no sculo XXI. Caso contrrio, o mundo estar diante do iminente conflito Norte-Sul, entre ricos e pobres.

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Choque de civilizaes Apesar da influncia do modelo de sociedade europeu-ocidental dos ltimos sculos e, mais recentemente, a partir de 1945, do american way of life difundido em todo o globo pelos meios de comunicao de massa , tem-se uma Sociedade Internacional Contempornea bastante heterognea. Samuel Huntington identifica oito grandes civilizaes: ocidental, snica, japonesa, islmica, hindu, ortodoxa, latino-americana e africana. Para o autor, o futuro da humanidade ser moldado pelas interaes entre essas civilizaes. Para Huntington, a poltica internacional evoluiu passando de disputas entre

governantes absolutos at a era moderna para guerras entre Estados as guerras napolenicas so um bom exemplo e, finalmente, para conflitos entre ideologias polticas (capitalismo e socialismo). O sculo XXI seria marcado por um novo tipo de conflito, baseado em oposies culturais, no mais ideolgicas, polticas ou at mesmo econmicas. Em sua famosa obra O Choque de Civilizaes, o autor defende que os grandes conflitos do futuro tendem a acontecer ao longo das linhas de fratura que separam as diferentes civilizaes. Usa seis premissas para atestar essa concluso:

1) as diferenas entre civilizaes no so apenas reais, mas fundamentais (histria, lngua, tradio e r fatores mais constitutivos e essenciais do que ideologias e regimes polticos);

2) o mundo est se tornando menor, e o maior contato entre as civilizaes est intensificando o conhecimen diferenas e semelhanas;

3) os processos de modernizao econmica e de mudana social esto enfraquecendo o Estado-nao com identidade, fato que est exigindo novos fatores constitutivos de identidade, como a religio;

4) o grande poder do Ocidente e os conflitos que dele germinam esto provocando o desejo nas outras civi moldarem, cada vez mais, o mundo em formas no ocidentais (o mundo est se desocidentalizando, as pessoa saem de seus pases como saam antes para serem educadas em Oxford, Sorbonne ou Sandhurst); 5) caractersticas culturais so menos mutveis que as econmicas e polticas;

6) o regionalismo econmico est aumentando (e s tem tido sucesso quando constitudo dentro de uma comum).

Entre as crticas a essa tese do choque de civilizaes, a mais veemente a de que o modelo muito limitado, no considerando as particularidades das diferentes regies do globo. No se teria considerado tambm o fato de que h um nmero expressivo de Atores internacionais que seriam formados por elementos de duas ou mais dessas civilizaes. De qualquer maneira, as ideias de Huntington voltaram ao debate internacional aps os atentados de 11 de setembro de 2001, sobretudo pela tentativa, em um primeiro momento, de alguns setores do governo dos EUA de apresentarem as retaliaes aos ataques terroristas como a grande cruzada do Ocidente contra o fundamentalismo islmico. Em que pesem as crticas teoria de Huntington, devemos considerar o carter heterogneo da Sociedade Internacional Contempornea, na qual convivem povos que, em linhas gerais, poderiam realmente ser reunidos nas oito grandes civilizaes por suas afinidades culturais, lingusticas, polticas e filosficas. A ideia, portanto, que a Sociedade Internacional Contempornea heterognea e global.

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Civilizao X Barbrie Juan Carlos Pereira lembra, ainda, que a Sociedade Internacional pode tambm ser definida em termos de civilizao e barbrie. Enquanto nas naes ricas chegou-se ao sculo XXI em regimes democrticos, estveis, com altos nveis de desenvolvimento econmico e tecnolgico, ainda h regies do globo que permanecem na Idade Mdia. Nunca valores democrticos e liberais estiveram to difundidos pelo globo, ao mesmo tempo em que discursos autoritrios e retrgrados tambm encontram as mentes e os coraes de milhes de pessoas; nunca o conhecimento esteve to acessvel para uns, enquanto outros so condenados s trevas da ignorncia. A dicotomia evidencia-se na vida quotidiana no interior de diferentes Estados. Ao lado de pases como os da Europa Ocidental, onde parte significativa da populao vive em timas condies, com acesso educao, cultura, lazer, sade e servio social, com expectativa de vida de 75 a 80 anos, temos regies na frica e na sia Central, por exemplo, onde essa expectativa no ultrapassa os 30 anos, em virtude da pobreza, da fome, da guerra e das doenas.

Assim, riqueza e pobreza, democracia e autoritarismo, paz e guerra, desenvolvimento e subdesenvolvimento, difuso do conhecimento e censura, civilizao e barbrie, convivem na Sociedade Internacional Contempornea. Nunca essas diferenas foram to significativas. Diminuir tais desigualdades ser um dos grandes desafios internacionais do sculo XXI. Tendncias contraditrias Um ltimo aspecto que devemos considerar, ao analisarmos a Sociedade Internacional Contempornea, so as tendncias contraditrias que nela operam: a centrfuga e a centrpeta, com as relaes internacionais como o centro. Essas duas tendncias provocam uma tenso contnua entre os Atores, em especial entre as unidades estatais. Segundo Juan Carlos Pereira (Op. cit., pp. 39-40), a tendncia centrfuga de distanciamento do centro leva os Atores e sociedades polticas a reforarem seus vnculos internos, a fazerem-se autossuficientes, a serem mais zelosos de sua soberania e independncia, a no dependerem de ningum, em detrimento das relaes internacionais. Em contrapartida, a tendncia centrpeta de atrao ao centro impulsiona os protagonistas, no cenrio internacional, a cooperarem, a promoverem a integrao, a busca de solues ante as diferentes ameaas ao desenvolvimento das relaes internacionais. Para o mestre espanhol, a Sociedade Internacional Contempornea marcada por essa dupla tendncia na conduta dos Atores desde a Revoluo Industrial. Portanto, ao analisarmos a conduta dos Atores internacionais, devemos levar em considerao que tendncia se mostra mais presente para determinado caso. Ressalte-se que um mesmo Ator pode apresentar tendncias diferentes ao longo do tempo e tambm para reas de atuao distintas em um mesmo perodo. Tomemos como exemplo a poltica externa (PE) dos EUA no final do sculo XX. Durante a Administrao de Bill Clinton, o governo dos EUA revelava uma tendncia centrpeta em suas condutas de PE. O presidente norte-americano teve um importante papel nas negociaes de paz no conflito rabeisraelense e no processo de paz na Irlanda do Norte. Tambm na Administrao Clinton, importantes passos foram dados em termos de proteo ambiental, entre os quais, a adeso ao Protocolo de Kyoto.

Pelo Protocolo de Kyoto, os pases signatrios tm a obrigao de reduzir a emisso de gases do efeito estufa em ao menos 5,2% (em relao aos nveis de 1990) no perodo entre 2008 e 2012. Leia aqui o texto integral do Protocolo de Kyoto. Se puder, pesquise na Internet acerca do Protocolo, descubra que pases aderiram, que pases resistem e aponte as causas de tal resistncia.

Com a vitria de George Bush e dos republicanos, que assumiram o poder nos EUA em 2001, houve uma mudana de rumos dessa PE, em virtude da conduta centrfuga da nova Administrao. medida que foram passando os primeiros meses do governo Bush, os efeitos dessa mudana de conduta dos EUA foram sendo percebidos no Sistema Internacional. No que concerne aos casos citados, teve-se um retrocesso nas negociaes de paz na Irlanda do Norte e a intensificao dos conflitos entre israelenses e palestinos, com o desenvolvimento de uma sangrenta guerra na regio. Houve crticas no sentido de que os EUA estariam deixando de lado suas responsabilidades como principal Potncia internacional.

Os Estados Unidos da Amrica, desde sua fundao, tm defendido a liberdade e a democracia, defendido esse sistema poltico no seu pas e no mundo, principalmente quando se coloca como o maior exemplo de democracia do mundo. Seu sistema democrtico divide a eleio em duas partes, uma direta e outra indireta, possuindo entraves burocrticos que permitem o controle do resultado final das eleies pelo processo de voto indireto, por meio do chamado Colgio Eleitoral. Este rgo foi criado em 1787, logo aps a independncia, juntamente com a constituio, para evitar que a escolha do presidente ficasse merc do voto popular direto, garantindo o controle do poder pela elite poltica do pas, que temia novas revoltas sociais como a de Shays. Para manter o carter democrtico, as eleies diretas tm de acontecer e elas ocorrem, mas o Colgio Eleitoral quem d a ltima palavra. O caso mais recente de problemas que essa forma de democracia provocou foi a crise gerada pela eleio de George W. Bush, vitorioso sobre Al Gore, respectivamente dos partidos Republicano e Democrata.[...]. Continue a leitura deste texto de autoria do Prof. Lucas Kerr de Oliveira,

intitulado Democracia Terrorista: Um histrico do Imperialismo dos Estados Unidos da Amrica".

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Aps os acontecimentos de 11/09/2001, muda novamente o sentido de parte da PE dos EUA. Pelo discurso do prprio Presidente Bush, os norte-americanos estariam presentes onde quer que seus interesses pudessem ser ameaados, e buscariam aumentar sua atuao em todo o planeta. Mas mesmo a tendncia centrpeta dos EUA ps-11/09 era diferente da tendncia centrpeta do governo Clinton. A PE de Bush teve carter mais agressivo e militarista, de modo que o pas buscaria atuar junto Sociedade Internacional muito mais com imposio de sua vontade do que negociando nos fruns internacionais. De qualquer maneira, houve sensvel mudana na percepo do governo Bush sobre PE. O associacionismo internacional e o primado do indivduo Assim, ao estudarmos a Sociedade Internacional Contempornea, devemos ter em conta as especificidades do momento histrico em que ela se insere. Alm dessas caractersticas apresentadas, mais dois aspectos so importantes para compreendermos a Sociedade Internacional da atualidade: o associacionismo internacional e o primado do indivduo. Apenas para enfatizar, importante ter em mente que nunca o associacionismo foi to marcante nas relaes internacionais. Atualmente, pessoas formam grupos de influncia, grupos se estruturam em ONGs, as quais, por sua vez, se organizam em grandes movimentos internacionais. Tambm percebemos uma aproximao significativa entre pessoas de diferentes pontos do globo, sobretudo em virtude do desenvolvimento dos meios de transporte e, principalmente, dos meios de comunicao com destaque para a Internet. Assim, esses grupos se tornam Atores de destaque no cenrio internacional, to influentes quanto muitos Estados nacionais. Tambm o associacionismo pode ser percebido por meio da integrao entre as grandes empresas transnacionais, com a formao de grandes conglomerados em que os vnculos com o Estado onde se encontra a matriz perdem espao para os interesses econmicos em outras regies. Em outras palavras, cada vez menos essas empresas representam os Estados onde surgiram. Os Estados tambm se tm associado. Isso se reflete no aumento da cooperao internacional e da interdependncia entre os Atores estatais, com acordos de livre comrcio e a formao de grandes blocos econmicos. No sculo XXI, as barreiras entre as naes vizinhas caem, e antigos rivais tornam-se importantes aliados. Finalmente, na Sociedade Internacional Contempornea vive-se o primado do indivduo. Em nossos dias, a condio humana recebe maior ateno da comunidade internacional. As relaes internacionais no sculo XXI tm no ser humano, como ente individual, um Ator cada vez mais importante e influente. Da o destaque, no Direito Internacional, da Proteo Internacional aos Direitos Humanos. Ganha fora a ideia de que todos os homens e mulheres, independentemente de suas diferenas de nacionalidade, raa ou gnero, fazem parte de uma s humanidade. O Tribunal Penal Internacional um resultado disso.

Vistas essas caractersticas gerais da Sociedade Internacional, passemos, na prxima unidade, s especificidades das Relaes Internacionais do Sculo XXI.

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Esta unidade foi elaborada para que o cursista seja capaz de identificar as principais caractersticas da Sociedade Internacional Contempornea e seus efeitos nas Relaes Internacionais de nossos dias.

As questes objetivas propostas o auxiliaro no processo de reteno das informaes tratadas na Unidade. Para acess-las, busque, no menu "Avaliaes", as questes referentes a esta etapa de estudos. As questes so corrigidas automaticamente. Bons estudos!

Para auxili-lo a entender e refletir sobre o contedo estudado, responda atividade proposta! Acesse atravs do menu "Trabalhos/Redaes" a opo que corresponde Unidade I.

Antes de abordar a unidade seguinte, tenha certeza de que tal objetivo foi alcanado e de que voc capaz de lidar com os contedos que ele prope.

Unidade II - O Sistema Jurdico Internacional

Esta unidade trata do Sistema Jurdico Internacional. Aula Aula Aula Aula Aula Aula 1: 2: 3: 4: 5: 6: Origens e conceito Regras consolidadas Pessoas de DI O Atual Sistema Jurdico Internacional A Corte Internacional de Justia (CIJ) O Direito Internacional Humanitrio e o Tribunal Penal Internacional

Ao final da unidade, o cursista dever ser capaz de:

identificar as principais caractersticas do Sistema Jurdico Internacional em nossos dias; informar a respeito da importncia do Direito Internacional nas relaes internacionais; apresentar aspectos importantes do Direito Internacional Pblico na atualidade; informar sobre alguns novos ramos do Direito Internacional.

Em um curso de educao a distncia, o cursista tem um papel central no estabelecimento de uma relao de qualidade com o contedo proposto. Portanto, procure organizar-se para ter o melhor aproveitamento possvel do curso. Eis algumas sugestes: utilize o caderno, no Trilhas, para suas anotaes pessoais acerca do contedo. organize-se com relao ao tempo e seja disciplinado. realize as atividades propostas e explore todas as facetas do curso.

Tenha um bom aproveitamento!

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Origens e conceito

Para a boa compreenso das Relaes Internacionais, fundamental o conhecimento da estrutura e do funcionamento do Sistema Jurdico Internacional. Nesse sentido, convm deixar claro que so significativas as diferenas entre o Direito Internacional (DI) e o direito interno dos pases. Por exemplo, diferentemente do direito nacional, o DI no derivado de aes de um Poder Legislativo ou de qualquer outra autoridade central, mas sim da tradio costumeira e de acordos assinados pelos Estados. Tambm se distingue quanto sua aplicao/garantia de cumprimento (law enforcement): enquanto, no direito interno, a aplicao das normas faz-se por meio do poder e da autoridade do Estado, no DI, isso depende de reciprocidade ou de aes coletivas. Afinal, no h uma polcia planetria, e a aplicao da lei internacional baseia-se no prprio poder dos Estados de punir os transgressores, individual ou coletivamente. O DI possui vrias ramificaes; a maioria dos doutrinadores divide-o em Direito Internacional Pblico (DIP) e Direito Internacional Privado (DIPri). Trataremos neste mdulo apenas do DIP. J vimos que o Sistema Internacional composto por diversos subsistemas que se inter-relacionam. Dentre esses subsistemas, o Sistema Jurdico Internacional merece destaque. Afinal, o Direito existe a partir do momento em que o homem comea a viver em sociedade. O Direito Internacional, por sua vez, surge a partir do momento em que se constitui a Sociedade Internacional e evolui medida que evolui essa Sociedade. Portanto, a partir do momento em que surgem as Relaes Internacionais, surge tambm um Direito para regulamentar essas relaes entre os Atores internacionais. Nesse sentido, os primeiros tratados internacionais conhecidos remontam ao Antigo Egito. O direito, nas Relaes Internacionais, to antigo quanto o comrcio e a guerra. Claro que, medida que evolui a Sociedade Internacional, o Direito Internacional tambm evolui para adequar-se dinmica dessas mudanas. Por outro lado, ao mesmo tempo em que o DI reflete a realidade da Sociedade Internacional em que est inserido, esse direito tambm provoca mudanas nessa Sociedade. Exemplo disso so os efeitos dos tratados internacionais e at de alguns costumes em mudanas provocadas na conduta de Atores, especialmente no caso de proteo aos direitos humanos e condenao guerra como alternativa poltica. So vrias e diversificadas as definies de Direito Internacional. Para alguns autores, trata-se do conjunto de regras que determinam os direitos e deveres dos respectivos Estados em suas relaes mtuas. Para outros, o conjunto de normas que regulam as relaes internacionais dos Estados. Ambas as definies, em sentido estrito, desconsideram outras pessoas de Direito Internacional, como as Organizaes Internacionais e os indivduos. Para os fins de nosso Curso, conceituamos Direito Internacional como o conjunto de normas que regulam as relaes externas dos Atores que compem a Sociedade Internacional.

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Um aspecto de grande relevncia para a compreenso do DI: o maior fundamento desse direito o consentimento. Uma vez que os Estados so soberanos, no existindo qualquer autoridade superior a eles, os mesmos s estaro subordinados, de maneira geral, s regras s quais eles prprios concordaram em subordinar-se. Essa uma diferena importante entre DI e direito interno.

Uma vez que os Estados s esto obrigados a cumprir as normas de DI que eles prprios tenham concordado em cumprir, existe um princpio que fundamenta o DI: o pacta sunt servanda, que um brocado latino segundo o qual aquilo que foi pactuado para ser cumprido. Assim, os Estados s esto sujeitos s normas que eles prprios estabeleceram e, uma vez estabelecidas, esses Estados se obrigam a cumpri-las.

Em resumo, no Sistema Jurdico Internacional, os Estados soberanos no se subordinam seno ao Direito que livremente reconhecem e construram.

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Introduo Apesar de termos dito que os Estados s se vinculam s normas que eles prprios estabeleceram, h alguns princpios que, sendo comuns a todas as naes civilizadas, devem ser cumpridos por todos os Estados. Esses princpios, conhecidos como regras consolidadas do DI, estariam vinculados a um direito natural e tornaram-se imperativos no Sistema Jurdico Internacional, a partir da segunda metade do sculo XX.

Entre as regras consolidadas do Direito Internacional (DI), destacamos:

a igualdade jurdica dos Estados; o princpio da no interveno internacional em assuntos internos; o direito de autodeterminao dos povos; a proscrio do uso da fora; a condenao guerra como alternativa; as normas de proteo aos Direitos Humanos; a condenao da escravatura.

Foge ao escopo do presente curso o detalhamento desses princpios, aqui citados de maneira no excludente, para permitir que voc perceba que nada em direito absoluto e, mesmo no DI, h determinadas regras a que esto sujeitos todos os Estados, independentemente de tratados que tenham assinado. Falemos um pouco da norma internacional e das fontes do DI.

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Norma Internacional Diferentemente do que ocorre no direito interno, no Sistema Jurdico Internacional, as normas jurdicas so muito poucas em nmero. Ademais, so extremamente abstratas e no h hierarquia clara entre as normas jurdicas internacionais. Ressalte-se, ainda, seu processo lento de elaborao e sua relatividade (cada Estado desenvolve sua concepo e interpretao das mesmas normas).

Convm lembrar que no h tratado universal, ou seja, tratado que vincule todos, inclusive aqueles que no tenham aderido a ele. A obrigatoriedade das normas internacionais vem lentamente, e no de um golpe, e a sano no elemento inerente a essas normas. Finalmente, na Sociedade Internacional, no h uma autoridade comum para aplicar as sanes.

Talvez o que exista de mais prximo a um tratado universal seja a Carta da ONU, devido ao fato de a ela ter aderido das

praticamente

a totalidade

naes do mundo.

Incorporao da norma internacional ao direito interno A execuo de tratados internacionais e a sua incorporao ordem jurdica interna decorrem das particularidades do ordenamento legal de cada pas. No sistema adotado no Brasil, a incorporao resulta da conjugao de duas vontades homogneas: a do Congresso Nacional, que resolve, definitivamente, mediante decreto legislativo, sobre tratados, acordos ou atos internacionais (art. 49, I, da Constituio Federal), e a do Presidente da Repblica, que, alm de poder celebrar, no mbito da sua competncia privativa, esses atos de direito internacional (art. 84, VIII, da Constituio Federal), tambm dispe na condio de Chefe de Estado da competncia para promulg-los mediante decreto. Assim, na tradio nacional, a entrada em vigor de um tratado internacional obedece seguinte sequncia: assinatura do Presidente da Repblica ou de seu representante; aprovao pelo Congresso Nacional, mediante decreto legislativo; ratificao junto ao Estado ou ao organismo internacional respectivo; promulgao, mediante decreto do Poder Executivo, com publicao na imprensa oficial.

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Violao das normas Muitos desqualificam o Direito Internacional sob o argumento de que ele seria constantemente violado. Essa desqualificao cai por terra se considerarmos que isso ocorre tambm com as normas de direito interno, sem que ningum venha dizer que o direito interno de cada pas no tenha seu valor. Nesse sentido, importante ter em mente a ideia de que os Estados s violam o DI quando a vantagem disso maior que o custo, no contexto de sua poltica exterior. Trata-se, portanto, de uma relao custo/benefcio, que ser considerada no clculo da poltica externa na conduta dos Estados. Qual a importncia do DI, ento? Em primeiro lugar, convm lembrar que os Atores internacionais buscam seguir o DI na maior parte dos casos. So poucas as situaes em que se viola o DI. Afinal, os Estados necessitam da confiana dos demais Estados para realizarem sua prpria poltica externa. Da a necessidade de respeito ao DI: h interesse dos Estados de manterem as relaes internacionais atendendo a uma certa ordem. Alm disso, os Estados temem represlias (instrumentos de presso internacional). Portanto, no se pode esquecer os milhares de tratados internacionais e as centenas de costumes que so seguidos na Comunidade Internacional sem qualquer violao. Isso mostra que o DI tem funcionado, apesar de ocorrerem situaes em que os Estados o violam quando mais vantajoso faz-lo, no obstante terem que arcar com as consequncias. Hipteses que levam violao do Direito Internacional

Os Atores violam o DI se tal ato lhes trouxer mais vantagens que prejuzos. Por exemplo, quando o autor da violao pode colocar a sociedade internacional diante de um fato consumado que no seja suficientemente relevante para conduzir a uma guerra. Afinal, sanes de carter moral no o atingiro de modo efetivo. Exemplos de condutas com base nesses clculos foram a invaso do Tibet pela China, em 1951, tecnicamente bem-sucedida, pois foi alvo apenas de protestos da Comunidade Internacional, e a invaso do Kuwait pelo Iraque, em 1990, que culminou na I Guerra do Golfo, quando se apresentou reao completamente distinta dos demais Atores. As prprias instituies polticas internas tambm podem levar o Estado a cometer violaes. Exemplos disso so as situaes ocasionadas por guerras civis ou quebras da ordem institucional estabelecida.

O filme Kundum, de Martin Scorcese, retrata a vida do Dalai Lama, a invaso chinesa no Tibet e a fuga do lder religioso para o Nepal, onde vive at hoje Sua Santidade o 14. Dalai Lama Tenzin Gyatsong. Consulte a sinopse.

O Dalai Lama recebeu o Prmio Nobel da Paz, sob forte oposio do governo da China. Leia mais a respeito na biografia on-line do chefe do budismo tibetano.

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Fontes do Direito Internacional Fontes do DI so os modos pelos quais o Direito se manifesta. por meio da fonte jurdica que podemos localizar a lei aplicvel ao caso concreto. Enquanto, no direito interno, a lei origina-se de uma autoridade central legislativa ou ditatorial , no DI, ela fruto do consentimento dos Estados, uma vez que nenhuma soberania reconhece autoridade superior a ela prpria. De acordo com o Estatuto da Corte Internacional de Justia (ECIJ), as fontes do DI so os tratados, os costumes e os princpios gerais de direito. A jurisprudncia e a doutrina so meios auxiliares na determinao das regras jurdicas e, em alguns casos, a Corte faculta, sob certas condies, o emprego da equidade. Alm dessas fontes previstas no ECIJ, devem ser considerados, ainda, os atos unilaterais e as decises tomadas no mbito das Organizaes Internacionais. Ao contrrio do que acontece no direito interno, no h hierarquia entre essas normas, podendo um costume derrogar um tratado, e vice-versa. Entretanto, no se pode ferir os princpios gerais aceitos pela comunidade das naes por exemplo, um tratado no pode estabelecer regras que se choqu