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A AÇÃO PEDAGÓGICA NOS PROCESSOS DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM, NA ALFABETIZAÇÃO: IMPLICAÇÕES E DESAFIOS Andreia Hildebrando dos Santos Salmória - EPE Ortenila Sopelsa - UNOESC Resumo: Os resultados apresentados neste artigo são parte de uma pesquisa maior que teve como objetivo investigar a percepção das professoras dos três primeiros anos do ensino fundamental em relação aos processos do ensino e da aprendizagem no que tange a alfabetização. A pesquisa foi desenvolvida em três escolas da rede municipal de Campos Novos (SC), participaram três professoras de cada escola, sendo cada uma delas responsável por um dos três primeiros anos do Ensino Fundamental. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas semiestruturada, com o intuito de identificar aspectos relevantes ligados aos saberes e à prática, na concepção das professoras, dando vez e voz para que estas descrevessem o que acontece em relação ao tema em pauta. A partir da pesquisa foi possível identificar a importância e o valor de conhecer a realidade vivenciada pelo aluno, a interação do professor com os alunos e a família, a necessidade do planejamento e ações coletivas entre as professoras dos primeiros anos do Ensino Fundamental, incluindo também, o compromisso das políticas públicas para que efetivamente ocorra o ensino e a aprendizagem da leitura e da escrita, na alfabetização. Palavras-chave: Ensino. Aprendizagem. Alfabetização. Introdução A alfabetização é uma das etapas que contribui para a evolução intelectual do aluno, e é um processo contínuo que ocorre de maneira gradativa. Não basta apenas codificar e decodificar. O aluno precisa interpretar, compreender e assimilar o conteúdo para que efetivamente ocorra o ensino e a aprendizagem da leitura e escrita. No processo de alfabetização, professor e alunos ocupam papel de destaque, caminhando juntos na construção do conhecimento e objetivando os mesmos ideais. Durante esse percurso, é significativa a importância dada aos trabalhos desenvolvidos coletivamente, pois priorizam ações e posturas que desencadeiam interações entre os alunos, contribuindo, de forma expressiva, para o processo pedagógico, o qual também auxiliará na formação do aluno como sujeito ativo e pensante na sociedade. Conforme Ribeiro (2003, p. 91), alfabetização “é o processo pelo qual se adquire o domínio das habilidades de utilizá-lo para ler e escrever, ou seja, o domínio da tecnologia

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A AÇÃO PEDAGÓGICA NOS PROCESSOS DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM,

NA ALFABETIZAÇÃO: IMPLICAÇÕES E DESAFIOS

Andreia Hildebrando dos Santos Salmória - EPE

Ortenila Sopelsa - UNOESC

Resumo: Os resultados apresentados neste artigo são parte de uma pesquisa maior que teve como objetivo

investigar a percepção das professoras dos três primeiros anos do ensino fundamental em relação aos processos

do ensino e da aprendizagem no que tange a alfabetização. A pesquisa foi desenvolvida em três escolas da rede

municipal de Campos Novos (SC), participaram três professoras de cada escola, sendo cada uma delas

responsável por um dos três primeiros anos do Ensino Fundamental. A coleta de dados foi realizada por meio de

entrevistas semiestruturada, com o intuito de identificar aspectos relevantes ligados aos saberes e à prática, na

concepção das professoras, dando vez e voz para que estas descrevessem o que acontece em relação ao tema em

pauta. A partir da pesquisa foi possível identificar a importância e o valor de conhecer a realidade vivenciada

pelo aluno, a interação do professor com os alunos e a família, a necessidade do planejamento e ações coletivas

entre as professoras dos primeiros anos do Ensino Fundamental, incluindo também, o compromisso das políticas

públicas para que efetivamente ocorra o ensino e a aprendizagem da leitura e da escrita, na alfabetização.

Palavras-chave: Ensino. Aprendizagem. Alfabetização.

Introdução

A alfabetização é uma das etapas que contribui para a evolução intelectual do aluno, e

é um processo contínuo que ocorre de maneira gradativa. Não basta apenas codificar e

decodificar. O aluno precisa interpretar, compreender e assimilar o conteúdo para que

efetivamente ocorra o ensino e a aprendizagem da leitura e escrita.

No processo de alfabetização, professor e alunos ocupam papel de destaque,

caminhando juntos na construção do conhecimento e objetivando os mesmos ideais. Durante

esse percurso, é significativa a importância dada aos trabalhos desenvolvidos coletivamente,

pois priorizam ações e posturas que desencadeiam interações entre os alunos, contribuindo, de

forma expressiva, para o processo pedagógico, o qual também auxiliará na formação do aluno

como sujeito ativo e pensante na sociedade.

Conforme Ribeiro (2003, p. 91), alfabetização “é o processo pelo qual se adquire o

domínio das habilidades de utilizá-lo para ler e escrever, ou seja, o domínio da tecnologia –

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do conjunto de técnicas – para exercer a arte e ciência da escrita”. Nesse sentido,

alfabetização significa exercer e interpretar as práticas sociais da leitura e da escrita.

Compreender e interpretar sobre o significado da leitura e da escrita, mediante o letramento,

possibilitará o uso e as habilidades na construção do conhecimento.

Outro fator que possui importante papel no processo de desenvolvimento do aluno é a

família, pois é de suma importância que os pais acompanhem a vida escolar dos filhos

cotidianamente, isto é, reforcem as atitudes boas e corrijam os comportamentos inadequados.

É oportuno, portanto, destacar “a importância de se reconhecer as famílias como parceiras

ativas e essenciais na educação das crianças, ou seja, famílias e instituição precisam trocar

saberes e competências [...]”. (SANTA CATARINA, 2005, p. 63). Por isso, é primordial que

haja interação e diálogo entre escola e família.

Atualmente, com o Ensino Fundamental de nove anos1, os alunos iniciam a etapa da

alfabetização aos seis anos de idade e um dos grandes desafios do professor é trabalhar com a

alfabetização e o letramento em sala de aula. O Parecer nº 4/2008 (BRASIL, 2008) define a

obrigatoriedade da matrícula de crianças com seis anos de idade completos até o início do ano

letivo, no primeiro ano do ensino fundamental. Esse Parecer, também, ressalta que: “os três

anos iniciais são importantes para a qualidade da Educação Básica: voltados à alfabetização e

ao letramento, é necessário que a ação pedagógica assegure, nesse período, o

desenvolvimento das diversas expressões e o aprendizado das áreas de conhecimento.

Com a antecipação da entrada das crianças aos seis anos de idade no ensino

fundamental, o professor necessita rever, revisitar, refletir sua prática, a fim de possibilitar a

aprendizagem, pois são vários os fatores que influenciam nesse processo, entre eles à

diversidade presente na sala de aula. Precisa buscar alternativas variadas e viáveis ao processo

educacional. É fundamental que o professor disponibilize uma gama de instrumentos

pedagógicos e, assim, construa um ambiente alfabetizador adequado ao desenvolvimento das

capacidades e habilidades de cada aluno.

Freire (1978) enfatiza que a alfabetização não está relacionada ao método, mas a uma

concepção de alfabetização que oportuniza a democratização da cultura, a reflexão sobre o

mundo e o lugar do homem, sendo este o sujeito ativo do processo de aprendizagem.

1 A Lei 11.114/2005 tornou obrigatória a matrícula da criança aos seis anos de idade no ensino fundamental

e a Lei 11.274/2006 ampliou de oito para nove anos de duração. Sendo a faixa etária prevista: anos iniciais- 6 a

10 anos de idade; anos finais- 11 a 14 anos de idade.

Na rede de ensino municipal de Campos Novos (SC), o Ensino Fundamental de nove anos foi implantado

em 2007, para o primeiro ano, em 2008, para o segundo ano, em 2009 para o terceiro ano, sucessivamente.

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Nesse sentido, a presente pesquisa teve como objetivo investigar a percepção das

professoras dos três primeiros anos do ensino fundamental em relação aos processos do

ensino e da aprendizagem na alfabetização. Foi desenvolvida em três escolas da rede

municipal de Campos Novos (SC). Participaram três professoras de cada escola, sendo cada

uma delas responsável por um dos três primeiros anos do Ensino Fundamental. A coleta de

dados foi feita por meio de entrevistas semiestruturadas com as professoras envolvidas. Dar

vez e voz às professoras possibilitou-nos identificar aspectos relevantes ligados aos saberes e

à prática docente.

Neste artigo, identificamos e analisamos as principais dificuldades vivenciadas e ações

realizadas nos processos do ensino e da aprendizagem, pelas professoras envolvidas na

presente pesquisa.

ALFABETIZAÇÃO: UMA RELAÇÃO DE APRENDIZAGEM

A alfabetização é o processo em que o aluno se apropria do ensino e da aprendizagem.

A escola é o principal espaço para a busca do conhecimento, em que ocorre à intervenção

pedagógica, e a função do professor é ser um mediador do conhecimento. Com seu auxílio,

precisa acontecer a aprendizagem significativa dos alunos. No entanto, sabemos que não é

apenas na escola que o aluno aprende. O processo de alfabetização depende, também, do

ambiente familiar no qual o aluno está inserido, pois, mesmo antes de iniciar sua vida escolar

já possui conhecimento de leitura do mundo por meio de jornais, revistas, livros, mídia,

internet e até mesmo nas ruas (panfletos, placas de sinalização, entre outros), ou seja, os

símbolos e as letras que a criança vê podem não ter significado, mas, ao chegar à escola, o

contato com a linguagem escrita possibilita a ela compreensão sobre o significado das

palavras, isso decorre por intermédio das práticas de alfabetização que estimulam a leitura e a

escrita.

Alfabetizar é possibilitar que o aluno tenha conhecimento não só das letras, mas,

sobretudo, do significado, a fim de compreender o que está escrito, pois, mediante aquisição e

produção de conhecimento, são obtidas outras formas de linguagem. É importante

proporcionar ao aluno contato com diversos tipos de leitura, seja ela de qualquer texto e

gravuras, fazendo com que desperte sua imaginação e criatividade.

Portanto, o processo de alfabetização só ocorrerá quando o aluno souber ler, escrever,

interpretar e elaborar produções de texto simples ou complexo, com eficiência e qualidade.

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Esse processo tem seu início na alfabetização e estende-se por toda a vida, pois a

alfabetização não se esgota na aprendizagem da escrita, leitura, matemática, abrange todas as

linguagens, por isso que o papel do professor alfabetizador é de extrema importância. A

realização da alfabetização, em sentido amplo, depende da postura do professor, de sua

atitude em relação aos alunos nas mais diversas situações.

Segundo a Proposta Curricular do Estado (SANTA CATARINA, 2005, p. 7):

O que é possível renovar e enriquecer é o conteúdo da aprendizagem em um

processo interativo de comunicação que tenha infraestrutura atualizada de

informações e de tecnologias educacionais. Também é possível ampliar os espaços,

para que o processo de ensino-aprendizagem se dê de uma maneira aberta, em que

professor e alunos interajam com alegria na geração contínua do novo

conhecimento.

É de suma importância o professor ampliar seus conhecimentos e mediar os alunos, de

modo que estes exponham suas preferências, dificuldades ortográficas, interpretem e

produzam textos compreensíveis, tornando-se sujeitos ativos, autônomos e participantes no

mundo e no contexto social no qual estão inseridos.

O professor tem de refletir sobre sua ação pedagógica e analisar como se processa o

trabalho de alfabetização que é realizado na perspectiva do letramento. Conforme observam

Castanheira, Maciel e Martins (2009, p. 16):

Acreditar que é possível alfabetizar letrando é um aspecto a ser refletido, pois não

basta compreender a alfabetização apenas como a aquisição de uma tecnologia. O

ato de ensinar a ler e escrever, mais do que possibilitar o simples domínio de uma

tecnologia, cria condições para a inserção do sujeito em práticas sociais de consumo

e produção de conhecimento e em diferentes instâncias sociais e políticas.

No decorrer do ano letivo, o professor indaga-se, reflete, discute consigo mesmo e

depara-se com os desafios de trabalhar com a alfabetização, na grande diversidade da sala de

aula; isso significa ensinar diferente a ler e escrever para alunos diferentes. Refletir sobre as

ações pedagógicas no espaço da alfabetização é perceber em que medidas se articulam e se

entrelaçam as dimensões sociais, culturais e individuais, pois o conhecimento evolui e se

transforma de acordo com o movimento histórico de cada sociedade. Desse modo, também a

alfabetização e o letramento se desenvolvem de acordo com a dinâmica das relações

existentes na sala de aula, vinculados a vida dos alunos.

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Tendo em vista que as entrevistadas trabalham em escolas de periferia (bairro), cujos

alunos pertencem à estrutura de „família‟ diversificada2, muitos deles são filhos de analfabetos

ou semianalfabetos. Assim, é possível observar as implicações existentes e que norteiam os

grandes desafios enfrentados pelas professoras.

Para Vigotski (2003, p. 75):

Na base do processo educativo deve estar a atividade pessoal do aluno, e toda a arte

do educador deve se restringir a orientar e regular essa atividade. No processo de

educação, o professor deve ser como os trilhos pelos quais avançam livre e

independentemente os vagões, recebendo deles apenas a direção do próprio

movimento.

Na fase de alfabetização, a criança necessita de apoio, auxílio e orientação de um

adulto para aprender. Percebe-se então, a necessidade de o professor conhecer a realidade

social e cultural do aluno, a fim de contribuir para a alfabetização significativa para que o

aluno compreenda a importância de saber ler e escrever em nossa sociedade. Portanto, no

processo de alfabetização, as interações entre professores, família e alunos fazem a diferença.

A mediação das ideias e experiências com o outro pela palavra, pela autonomia de vez e voz,

traz a perspectiva de um trabalho diferenciado e repercute em ações que contribuem

significativamente no desenvolvimento da leitura e da escrita.

Durante nossas vivências enquanto professoras do Ensino Fundamental

observamos que, de maneira geral, os alunos apresentam dificuldades na leitura e escrita, uns

com mais intensidade do que outros, e as razões são as mais diversas possíveis.

Diante disso, consideramos relevante identificar como se desenvolvem os processos do

ensino e da aprendizagem na alfabetização, na concepção das professoras alfabetizadoras.

Nesse sentido, a professora B observou: mais especificamente na nossa realidade da

escola municipal, uma das dificuldades é a falta de acesso da criança às letras, ao mundo

escrito. Eles não têm livro. Os pais não têm isso em casa. Então, essa é uma das grandes

dificuldades, e porque não dizer até a principal, que acontece.

Em seu relato, a professora A assinalou: A principal dificuldade que sinto é a falta de

vivência leitora das crianças. Eles não foram acostumados. Os pais não leem, não têm esse

hábito. Quando eles vêm para a escola, eles não têm interesse, isso não é valorizado no meio

deles. Boa parte dos pais é analfabeta ou analfabeta funcional.

2 São famílias de pais separados, desempregados; em muitos casos, os alunos moram com os avós ou parentes, e

outros sofrem violências, diariamente, em casa.

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Segundo a concepção dessas professoras alfabetizadoras, o que está faltando é o

incentivo, por parte da família, ao aluno para o mundo da leitura. Porém esta é a realidade, na

maioria das famílias. De maneira geral, os pais não conhecem os mecanismos que levam os

filhos a aprendizagem formal. Para essas famílias, a função de alfabetizar seus filhos é da

escola.

Com relação a esse tema, Kramer (2010, p. 111-112) contribui ao enfatizar:

É verdade que as condições de vida da grande maioria das crianças das classes

populares são muito precárias, e a transformação dessa situação é urgente. É certo

que a escola não tem o poder de mudar essa situação. Mas, por outro lado, não é

possível continuar apenas reclamando das crianças. Será que não conseguimos

encontrar novas maneiras de trabalhar com essas crianças que aí estão? [...] Encontro

muitas dificuldades ao procurar agir dessa forma, mas acontece que estou cansada de

apenas acusar as crianças e suas famílias, pelos problemas que tem na escola.

Em razão dessa situação, o professor precisa conhecer a realidade vivenciada pelo

aluno e, com base nisso, o Projeto Político Pedagógico da escola contemplar tais

necessidades. Para tanto, é necessário um trabalho coletivo na escola, incluindo políticas

públicas de formação continuada tanto aos professores quanto aos familiares, assessoria

pedagógica e psicológica aos professores, alunos e familiares, uma vez que somos

conhecedores que o emocional e o intelectual são indissociáveis.

Diante disso, podemos verificar que as ações pedagógicas precisam contemplar as

necessidades dos alunos, e, no caso da criança que não tem auxílio dos pais, é a que mais

precisa da escola para se alfabetizar. Segundo Vigotski (2003, p. 105), “a criança reproduz e

assimila ativamente o que observa nos adultos, aprende as mesmas atitudes e desenvolve as

habilidades mais primordiais para a sua atividade futura”. Se, no grupo familiar, a criança não

tem hábitos de leitura, o professor precisa criar estímulos que façam com que esse aluno

aprenda a ler e a escrever, superando as dificuldades.

Por isso, é necessário que o PPP da escola contemple a orientação a ser oferecida aos

pais. Caso contrário, fica apenas no discurso e queixas que vêm se arrastando há muitas

décadas.

Referindo-se às dificuldades encontradas em sala de aula, algumas professoras

relataram sobre o ensino fundamental de nove anos. A professora D salientou: a principal

dificuldade é por causa da lei dos nove anos, a criança tem que se alfabetizar até o terceiro

ano. Então, eles estão passando no primeiro ano, não podem reprovar, no segundo também

não. Assim, muitos chegam ao terceiro ano, analfabetos.

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Nesse mesmo contexto, a professora F ressaltou: Isso se acentuou depois da mudança

dos nove anos. É a imaturidade da criança e como eles vêm chegando do infantil para o

primeiro ano, porque eles chegam aqui sem equilíbrio nenhum, eles não têm um pensamento

lógico. Eles falam todos juntos, porque é a característica de seis anos, a fala, a conversa.

Eles não têm noção da hora de escutar e a hora de falar, principalmente alunos que vem de

outras escolas. Estão defasados em relação a nossa escola.

Sabe-se que um dos objetivos do Ensino Fundamental obrigatório de nove anos é

oportunizar as crianças a permanência por mais tempo na escola, com uma aprendizagem de

qualidade e, consequentemente, a diminuição do fracasso e evasão escolar. Tal oportunidade

foi estendida para milhões de crianças pobres, o direito que algumas outras crianças já tinham.

A alfabetização e a aprendizagem dos alunos ocorrem de forma processual e efetiva

durante o primeiro, segundo e o terceiro ano. Nesse sentido, não adianta culpar o professor da

série anterior, é preciso, sim, observar o que é necessário fazer na realidade atual do aluno,

uma vez que não aconteceu durante o processo dos diferentes anos. Para tanto, o professor

precisa considerar em suas atividades docentes a diversidade, as particularidades etárias,

sociais e psicológicas e o ritmo próprio de cada um. Considerar, também, que a reprovação

nunca foi nem será sinônimo de aprendizagem.

De acordo com Seber (2009, p. 26), “o ritmo próprio de cada criança para aprender

pode variar tanto quanto a qualidade das estimulações propiciadas pelo meio social em que

ela cresce.” O professor precisa, então, buscar novas metodologias e teorias que deem conta

de tal diversidade em sala de aula, caso contrário, as dificuldades vivenciadas pelos alunos na

alfabetização se arrastarão durante toda vida escolar, ou seja, dos anos iniciais até o ensino

médio.

Enfatizamos a necessidade de o professor pensar em maneiras diversificadas de

trabalhar a alfabetização, com atividades organizadas de tal modo que a leitura e a escrita

tenham diferentes formas de representação infantil tanto lúdica como textual, como forma de

chamar a atenção dos alunos. Também, o professor necessita conhecer, avaliar e interagir com

as ideias e as ações que os alunos estão desenvolvendo durante a atividade de leitura e escrita.

Oportunizar alternativas viáveis que atendam às necessidades desses alunos, fazendo com

que, aos poucos, eles vão mudando sua maneira de agir, o momento certo de falar, de ouvir e

de brincar.

Diante dessa perspectiva, o professor alfabetizador pode entender o processo de

construção pessoal de cada um de seus alunos, interagindo com o mundo em que vive. Os

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alunos são também sujeitos ativos de aprendizagem, cabe ao professor o importante papel de

líder e facilitador desse processo, criando condições que favoreçam o ensinar e o aprender na

alfabetização.

Cagliari (1998, p. 188) enfatiza que “os alunos vão aprendendo que precisam cuidar

não só da ortografia, da clareza e da beleza gráfica das letras, mas também da maneira como

as palavras são colocadas no papel, dos sinais de pontuação e das demais marcas da escrita”.

Nesse sentido, enfatizamos mais uma vez a importância da mediação do professor. Ele

precisa estar atendo às diversidades e as diferenças existentes na sala de aula. Considerar,

também, a importância da interlocução entre as professoras dos primeiros anos do Ensino

Fundamental e sua formação continuada. Porém, vale retomar aqui as observações feitas pelas

professoras F e D, em relação ao Ensino Fundamental de Nove Anos e refletir sobre o que a

legislação do Ensino Obrigatório de Nove Anos, e as políticas públicas está de fato

contribuindo, na formação continuada dos professores em relação aos processos do ensino e

da aprendizagem na alfabetização.

Nessa direção Nóvoa (1995, p. 67), enfatiza que “a formação continuada precisa valorizar os

saberes de referência da profissão, a partir da reflexão que os docentes fazem sobre sua prática” Por

isso, os estudos, discussões e reflexões coletivas na escola se fazem necessárias.

Quando questionada sobre como desenvolve a ação pedagógica no processo de

alfabetização, a professora A falou: Eu procuro dar atividades que os alunos consigam fazer

dentro do contexto deles. Por exemplo, quando vamos trabalhar com números, procuro

explicar onde o número pode ser usado, para que eles associem. Então quando eles quiserem

calcular, quando eles quiserem escrever algum bilhetinho para a mãe, que precisam de

alguma coisa, saberão escrever. Então é procurando mostrar onde eles vão precisar e as

tarefas que eles fazem normalmente são nesse sentido, que tem a ver com a realidade deles.

A aprendizagem efetiva do aluno dar-se-á quando o professor na função de mediador

do conhecimento, buscar formas de ações que promovam a aprendizagem em sala de aula e

fora dela. A sala de aula é um espaço onde ocorrem as interações sociais, as trocas de

experiências, as descobertas e a construção do conhecimento. Tais ações precisam fazer parte

do contexto social dos alunos.

As atividades realizadas em sala de aula e a tarefa escolar, que a professora A destacou

estão relacionadas à língua portuguesa, matemática e articuladas ao contexto histórico-cultural

do aluno.

De acordo com Soares, Aroeira e Porto (2010, p. 31-32):

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Entra aí a perspectiva do letramento, fazendo com que o aluno exerça a condição de

ser alfabetizado [...]. O professor deve se questionar sobre como a criança aprende,

para que ele está se propondo a ensinar determinado conteúdo e a quem serve esse

conhecimento, tendo sempre como referência o aluno como ser cognitivo, afetivo,

social e cultural.

O professor ao fazer a articulação da teoria com a prática, bem como a relação com o

contexto do aluno, observando os fatores cognitivo, afetivo, social e cultural, melhorará a

prática pedagógica, e consequentemente o processo de alfabetização fluirá.

Nessa mesma questão, a professora C relatou: Faço um grupo com os alunos mais

adiantados. Com os que não sabem ler, faço uma leitura mais simples, para que aprendam.

Vale ressaltar, neste relato, que a professora C, identifica as dificuldades encontradas

no processo de alfabetização, contudo, pode-se mencionar que sua atitude é equivocada, uma

vez que deveria mesclar os dois grupos com alunos com dificuldades juntamente com os que

não as apresentam. Esta professora separa os alunos com dificuldade em um só grupo,

privando-os de estarem em um processo mais significativo de aprendizagem. E, ainda, aos

alunos com dificuldade proporciona uma leitura mais simples, isto é, mais superficial, o que

acarreta uma disparidade ainda maior das diferenças encontradas em sala de aula.

De acordo com Castanheira, Maciel e Martins (2009, p. 32), “o modo como o

professor conduz o seu trabalho é crucial para que a criança construa o conhecimento sobre o

objeto escrito e adquira certas habilidades que lhe permitirão o uso efetivo do ler e do

escrever”.

Ainda, em relação à ação pedagógica no processo de alfabetização, a professora F

narrou: [...] gosto de trabalhar em duplas ou em grupos. Em duplas, a criança que tem

dificuldades com a criança que já atingiu os objetivos, porque criança interagindo com

criança, aprende mais fácil. Às vezes explico e ela não entende, o coleguinha explica e ela

entende. Hoje, temos bastante material concreto: quebra cabeça, dominó, jogo de memória e

que auxiliam nas atividades de maneira lúdica. Então aquele grupo que já avançou vai

formar frases com o alfabeto móvel por exemplo. Aqueles que ainda não conhece as letras, eu

trabalho coletivamente, auxiliando-os para reconhecer a letra que ainda não conhecem.

A concepção da professora F é oposta a da professora C. Demonstra preocupação com

as dificuldades encontradas em sala de aula, no que tange a alfabetização. Elege o trabalho em

duplas ou em grupos, mesclando alunos com dificuldades com os que não as têm. Neste

sentido, conforme Vigotski (2003, p. 115), “as crianças podem imitar uma variedade de ações

que vão muito além dos limites de suas próprias capacidades. Numa atividade coletiva ou sob

a orientação de adultos, usando a imitação, as crianças são capazes de fazer muito mais

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coisas”. O aluno aprende individualmente, mas se a atividade for conduzida coletivamente, a

interação entre os pares será muito mais produtiva e assimilada por eles.

A professora F enfatiza a importância do uso de materiais concretos na fase da

alfabetização. Estudos mostram que o material concreto possibilita aos alunos estabelecerem

relações entre as situações experienciadas na manipulação de tais materiais e a abstração dos

conceitos estudados. O uso de material concreto propicia aulas mais dinâmicas, e possibilita a

construção de diferentes níveis de elaboração do conceito (PAIS, 2006).

Neste contexto, Vigostki (2003 p. 126) afirma que “é enorme a influência do

brinquedo no desenvolvimento de uma criança [...]. É no brinquedo que a criança aprender a

agir na esfera cognitiva”. Faz-se necessário frisar que as atividades lúdicas pedagógicas são

importantes nesse processo, desde que tenham interligação com o conteúdo a ser aprendido.

Outra questão importante foi o que a professora B relatou sobre como desenvolve suas

atividades de ensino: Primeiro costumo conhecer meu aluno, conhecer a família dele, ver de

onde vem, ou seja, o contexto onde vive. Depois converso sobre a importância de ler e

escrever para a vida deles. Trago jogos onde aparece muitas palavras, muitas letras. Tenho

trazido na sala de aula todos os dias, a roda de leitura. Inicialmente organizo a roda de

leituras, apresento livros diferentes, livros coloridos, mas sempre mostrando pra eles letras,

palavras, sempre visualizando. [...] Então eu cuido para que essas atividades sejam bem

amarradas com o interesse dos alunos, e as dificuldades que ainda tem. [...] Por exemplo,

ontem nós fizemos um bingo das palavras com sílabas simples e grafias simples. Eles

brincaram, jogaram, participaram do bingo com muito entusiasmo. Ao final da atividade, nós

trabalhamos um ditado. Através do ditado, eu já pude perceber o que é que eles tinham

assimilado e o que ainda não sabiam fazer.

Diante disso, a professora clarifica seu objetivo, que é primeiramente conhecer o aluno

e a realidade em que vive, ou seja, o que ele já conhece em relação à língua. Soares (2006,

p.20) corrobora enfatizando que “quando chega à escola, a criança já domina um determinado

dialeto da língua oral; esse dialeto pode estar mais próximo ou mais distante da língua escrita

convencional”. Este fator poderá interferir no processo de aquisição da língua escrita.

Neste sentido, a professora investiga por vários caminhos o que o aluno domina. E,

também, reforça a importância para os alunos de frequentar a escola e, ainda, o significado de

ser alfabetizado. De acordo com Cagliari (1998, p. 107):

Estar na escola é um fato que cria expectativas. Mas alguns alunos podem ter uma

visão muito restrita do que os espera. Por isso, é necessário que o professor, no

início do ano, converse com seus alunos para saber de suas experiências com relação

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ao trabalho escolar que terão pela frente. Mas é bom também perguntar aos alunos

quais são seus anseios. O que eles pretendem ler? O que eles pretendem escrever? O

que pretendem fazer no começo da alfabetização? O que eles pretendem fazer

depois, quando já souberem ler e escrever fluentemente? O que pretendem fazer

depois, quando saírem da escola já formados?

Vale citar aqui, o papel dessa professora quando relata os cuidados que tem para

preparar o ambiente escolar. É importante que se proporcione uma sala de aula atrativa, com

materiais didáticos pedagógicos coloridos, com várias formas, estilos distintos de letras que

estimulem a aprendizagem dos alunos de diferentes maneiras.

Nesse contexto o professor pode avaliar seu aluno de forma processual. “Avaliar a

aprendizagem, portanto, implica avaliar o ensino oferecido – se, por exemplo, não há a

aprendizagem esperada, significa que o ensino não cumpriu com sua finalidade: a de fazer

aprender”. (BRASIL, 2004, p. 56).

Outro ponto que as professoras apontam em relação às dificuldades enfrentadas na

ação pedagógica, deve-se ao fato das lacunas deixadas pela formação inicial. Sobre a sua

formação inicial, a professora A explicou: A graduação contribuiu muito teoricamente.

Embora uma das disciplinas tenha sido voltada à alfabetização, trouxe poucas contribuições

sobre a linguagem, na maioria, apenas conceitos e definições. Deveria haver mais leitura,

reflexão e discussão sobre o processo de apropriação de escrita, sobre como as crianças

aprendem.

Já a professora B relatou: A alfabetização deveria fazer parte de todos os anos do

curso de graduação. Acredito que apenas ler, conhecer a teoria sem correlação com a

prática não traz conhecimento pleno. Os professores de hoje mal sabem interpretar e

escrever. Deveria haver um trabalho que procurasse melhorar essas habilidades,na

graduação, pois se o professor não sabe produzir, como vai ensinar a produzir?

É imprescindível reconhecer o professor como um ator competente e sujeito ativo,

cercado de saberes, e que, em seu desempenho, cotidianamente, depara-se com situações

problemáticas para as quais não basta a simples aplicação de conhecimentos oriundos das

ciências da educação, ou de saberes específicos ao conteúdo que desenvolve em sua

disciplina. Para saná-las, o docente necessita de saberes que emergem das múltiplas interações

entre as fontes de seus saberes, que são de origem e natureza diversas (TARDIF, 2002).

Na concepção da professora B, muitos professores não dominam a interpretação e a

escrita. Consideramos tais fatores relevantes para a prática na alfabetização, pois segundo o

conceito da Proposta Curricular do estado (SANTA CATARINA, 2005), “estar alfabetizado é

saber ler, escrever e interpretar textos diversificados”. Portanto, alfabetizar é ensinar o aluno a

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ler, escrever e interpretar todos os símbolos e tipos de textos, desde os mais simples até os

mais complexos. É proporcionar ao aluno o sistema alfabético, ortográfico e sinais gráficos e,

ao mesmo tempo, oportunizar a utilização desses conhecimentos na leitura e escrita, no

contexto social do aluno.

De acordo com Kramer (2010, p. 98):

Alfabetizar não se restringe à decodificação e à aplicação de rituais repetitivos de

escrita, leitura e cálculo. A criança não compreende as situações que a rodeiam, não

identifica os objetos e se expressa de várias formas antes de falar? Similarmente,

diversas tentativas de produção da escrita e diversificadas experiências de ler

antecedem a leitura/escrita da criança.

Para que a alfabetização ocorra de fato, é primordial que o professor, em sua prática

pedagógica, explicite o significado de saber ler e escrever para a vida do aluno, uma vez que

nós, seres humanos, aprendemos e desenvolvemos tudo o que tem significado para nossas

vivências. O uso adequado dessa prática faz com que a criança veja a escrita e a leitura como

algo natural e necessário e não apenas um dever ou uma tarefa.

A professora A enfatizou a importância da leitura e da reflexão na aquisição da escrita.

Porém, se isso não é desenvolvido no curso de graduação, como a professora vai proporcionar

aos alunos a reflexão e a criticidade? Sabemos que a criticidade é um dos elementos

fundamentais para o desenvolvimento da autonomia.

Nóvoa (1995, p. 25) contribui quando assinala que “a formação inicial deve estimular

uma perspectiva crítico-reflexiva, que forneça aos professores os meios de um pensamento

autônomo e que facilite a dinâmica de autoformação participada”. Nesse sentido, na

graduação, os alunos necessitam de reflexão crítica, pois serão os responsáveis pelo

aprendizado de seus alunos, são eles os fios condutores desse processo.

Com base na concepção das professoras alfabetizadoras e à luz do referencial teórico,

gostaríamos de explicitar que, no processo de alfabetização, existem muitos desafios e

dificuldades enfrentadas pelos professores, contudo, faz-se necessário afirmar que o processo

de construção do conhecimento em relação à alfabetização é contínuo. Portanto, alfabetizar,

não é somente função dos professores dos três primeiros anos, mas de todos os envolvidos no

processo educativo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em princípio, cabe mencionar que é preciso entender a alfabetização como uma

atividade interdiscursiva e de interação, isto é, implica em refletir o conhecimento construído.

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Desta forma, procurou-se compreender de forma teórica como as professoras dos três

primeiros anos do ensino fundamental concebem os processos do ensino e da aprendizagem

na alfabetização. Entretanto, é importante mencionar que há uma relação indissociável entre

qualidade de ensino com as políticas públicas, formação inicial e continuada, preocupação e

comprometimento por parte dos professores e gestores da escola.

Nesse sentido, as professoras narraram sobre a formação inicial como de suma

importância para sua vida profissional. A maioria das professoras afirma que,

especificamente, no curso de Pedagogia, deveria ter mais atividades práticas em relação à

alfabetização. É importante que estas práticas façam parte de todas as séries, uma vez que

conhecendo o contexto dos alunos, o professor estará considerando o mundo que eles vivem e

que conhecimentos fazem parte de seus domínios. O fator trabalho em grupo é preponderante

na construção e socialização do que estão aprendendo em sala de aula, bem como

descentraliza o papel do professor, tornando-o mediador do conhecimento. Assim, diversificar

as estratégias de ensino é de suma importância, uma vez que se prioriza várias formas de

aprendizagem como também observam um mesmo objeto conhecimento sob várias óticas.

No que tange aos processos do ensino e da aprendizagem na alfabetização, foram

levantadas três dificuldades. A primeira revela a cultura do aluno, o qual não tem hábito de

ler, uma vez que não tem acesso a livros, jornais e revistas em casa. A segunda é a falta de

apoio da família, esta não ajuda as crianças nas tarefas escolares, sendo que, muitas vezes, os

pais são analfabetos funcionais. Assim, observamos a necessidade de interlocução entre

família e escola. Proporcionar aos alunos o contato com textos diversificados, bem como se

incentive o gosto pela leitura. Faz-se necessário, também, provocar debates e reflexões que

estimulem a aprendizagem significativa.

A terceira é o Ensino Fundamental de nove anos, ou seja, aumentou-se um ano no

ensino obrigatório, com o objetivo de melhorar o convívio escolar com mais oportunidades de

aprendizagem. Nesta pesquisa, as professoras não vislumbram a melhoria da qualidade de

ensino nesta modalidade, atribuem aos alunos despreparo cognitivo e psicomotor, bem como

culpam os professores dos anos anteriores por não desempenharem de forma satisfatória o seu

papel. Também relatam que o Ensino Fundamental de nove anos, não reprova nos dois

primeiros anos, e, que com a implantação dessa lei a criança inicia o primeiro ano ainda

imatura.

A partir das narrativas enfatizamos, que em nenhum momento as entrevistadas

relataram que as lacunas observadas nos alunos podem estar relacionadas aos processos do

ensino e da aprendizagem, ou seja: a) a formação inicial de professores. É importante destacar

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que a Universidade, mais especificamente o Curso de Licenciatura em Pedagogia, precisa se

preparar de acordo com a lei do ensino fundamental de nove anos; dar ênfase as questões

propriamente ditas da alfabetização; b) a formação continuada de professores. Analisar como

as políticas públicas oferecem tal formação na escola. Compreendemos que esta precisa ser

focada em conteúdos e práticas próprias da alfabetização, no sentido de instrumentalizar e dar

condições necessárias para que professores e alunos tenham êxito nas atividades de ensino. c)

cabe aos professores, também, perceber a diversidade existente em suas salas de aula. E, a

partir disso acompanhar e mediar cada caso conforme sua especificidade.

Evidenciamos, também, que a escola necessita proporcionar momentos de

socialização, troca de experiências entre as professoras, visto que nesta oportunidade, poderão

refletir, discutir e contribuir para compartilhar as práticas docentes que foram efetivadas com

sucesso e buscarem coletivamente alternativas para solucionar as dificuldades em sala de aula.

Cabe mencionar que algumas práticas evidenciadas na pesquisa são relevantes nos

processos do ensino e da aprendizagem na alfabetização. Segundo as professoras participantes

da pesquisa, elas consideram o contexto dos alunos, trabalham em grupo e diversificam as

estratégias de ensino.

É importante que estas práticas façam parte de todas as séries, uma vez que

conhecendo o contexto dos alunos, o professor estará considerando o mundo que eles vivem e

que conhecimentos fazem parte de seus domínios.

Enfatizamos que a presente pesquisa proporcionou-nos a compreensão da relevância

social em relação à alfabetização nos três primeiros anos do Ensino Fundamental, também

refletimos sobre o papel das políticas públicas e, ainda, dar voz às professoras alfabetizadoras

possibilitou momentos de socialização e de ímpar experiência. Enquanto professoras do

ensino fundamental e ensino superior percebemos o leque de dificuldades que envolvem o

ensinar, desde o número de alunos, suas diferenças e seus anseios. Tivemos a oportunidade de

perceber , como Freire que o conhecimento é inacabado, principalmente no que se refere ao

professor alfabetizador, pois alfabetizar não é somente saber ler e escrever, mas sim

interpretar a leitura e a escrita a partir do letramento.

Observa-se assim, a prioridade que as políticas públicas, os gestores, profissionais

envolvidos no processo do Ensino Básico e, nós professores pesquisadores do Ensino

Superior precisamos atribuir aos processos do Ensino e da Aprendizagem na alfabetização.

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