6800838 gilberto freyre uma leitura critica

Upload: lindervalmonteiro

Post on 07-Aug-2018

220 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/20/2019 6800838 Gilberto Freyre Uma Leitura Critica

    1/14

    ~ ~ ~ ~ ~  

    \\ \\}

    f oGV

    ~  

    ~ ~   (:; .

     

    6

    to

    GlLBERTO

    FREYRE:

    UlviA LEITURA

    CRfTICA

    Esta exposicao

    sed dividida

    em tres modules

    distintos

    e

    inter

    deperrdentes,

    o primeiro

    abrangc

    os

    C?lltCXroS

    social, economico e

    politico,

    nos

    quais

    surge a

    obra

    de Cilberro Freyre, datada de

    1933.

    Nesse

    mesmo

    perfodo, paralelamente,

    surgem

    ourras obras

    serninais

    sobre

    a cultura brasileira, como Raizes do Brasil de Sergio Buarque de

    Holanda

    (I 936), e Formacao do Brasil contempor/ineo de Caio Pra-

    do Jt 1nior (1942), trabalhos que registram expressivas mudancas no

    pensamento social brasileiro, e que, ao lado de ourras

    transforrna

    coes sociais,

    politicas

    e econornicas, conferem enorme riqueza e sig-

    niftcado hisrorico

    a

    decade de 1930.

    Quesrionamenro relevante

    diz respeito

    :IS razoes pelas

    quais

    surgem, nesse mornenro,

    obras

    tao substantivas, capirais e din.trni-

    cas,

    obras

    que

    deslocam

    as visoes e as

    interpreracoes

    ate enrao vigen-

    tes da cultura brasileira.

    Ainda no prirneiro

    t6pico,

    p r o c u r ~ t e m o s  caracrerizar os con

    textos

    cultural,

    social e

    politico

    do

    periodo,

    rnostrando 0

    horizonre

    de ideias

    ernergentcs

    ao

    \ongo

    das

    decadas

    de

    1920, 1930

    e

    1940.

    Consideraremos essas tres

    decadas

    em conjunto, rrarando-as

    como

    uma unica unidade

    de analise, em face da

    sernelhanca

    e

    continui

    dade presentes

    nos

    debates

    esteticos,

    politicos

    e hisroricos,

    muiros

    dos quais surgem nos

    an os 20 e se

    prolongam ate

    mais ou

    menos

    os

    anos

    40, so se modiftcando, efetivarnenre, a

    partir

    da chamada

    no

    va gera

  • 8/20/2019 6800838 Gilberto Freyre Uma Leitura Critica

    2/14

    teo rica de sua obra,

    buscando

    esclarecer, ao rnenos em pane, sua

    postura

    episternologica e seus

    diilogos

    teoricos,

    com

    vista

    a com

    prce nsfio do

    modo

    como

    0

    aurar elabora e desenvolve inovacoes e,

    assirn, consegue organizar mewdolog icamente seu uabalho.

    No terceiro modulo, discutirernos

    Casa grande & senzala

    in

    cluindo, nessa fase, cornentarios sobre 0 prefacio do

    autor a

    pri

    meira edicao

    (1933), onde Gilbeno

    Freyre apresenca

    sua

    obra

    aos

    leirores e a sociedade em geral.

    Digno

    de desraque e 0 faro de 0

    autor

    escrever urn novo preficio a cada nova edicao, 0   constitui

    precioso material de investigacao, inclusive

    porque

    e e vai modifi

    cando algumas de suas posicoes, procedendo a constantes autocrfti

    cas de seu trabalho.

    Entretanto,

    segundo nossa avaliacao, 0 primeiro

    preficio continua

    sendo

    0 mais irnportante, pois e por meio dele

    que

    0

    autor, alern de apresentar sua obra asociedade brasileira, mar

    ca

    pcsicao

    especifica no campo intelectual.

    o contexte cultural e historico das decadas de 1920,

    1930 e 1940

    Esse periodo e

    extremamente

    rico para 0 pais, na

    medida

    em

    que caracteriza grande efervescencia na culrura brasileirt1tJ.omenro

    em que ocorrem importances e significativas transformac;:6es na es

    rrutura social e no plano de ideias, No, entanto, pO( ser muito

    b r n ~

    gente a d i s ~ u s s o   das v.irias dirnensoes dos acontecirnentos sociais,

    destacaremos apenas algumas questoes, fares e proposicoes discursi

    vas,

    que

    nos

    pareceram

    mais

    irnportantes

    acornpreensao

    de

    Gil

    berro

    Freyre e de Casa grande &

    senzala.

    Como supone reorico a cornpreensao do periodo historico,

    nos valeremos do conceito de

    episteme

    'elaborado por Michel

    Fou

    cault,

    exaustivamcnrc

    discutido em rqueologia do saber (1972), e

    em s p

    alauras

    e

    as

    coisas

    (1981).

    De forma breve, e

    possfvel

    afirmar

    que

    tal conceito se refere

    ao conjunro de saberes existentes em deterrninado

    momenta

    his

    136

    torico demarcado por urn a priori historico

    especffico.rque

    organiza

    e torna possive a existen cia de varies discu rsos e pratica s sociais.

    Surgem, naquelas decadas, novas narrativas, em particular dis

    cursos, cujos objetos sao a nacao e a identidade nacional.jiercebidas

    ern suas realizacoes rnateriais e concretas, nos planes artlstico, his

    torico e econornico.

    Acrediramos

    que esse aspecto seja

    0

    primeiro para me hor en

    tender Gilberto Freyre, isto e,

    por

    que

    0

    autor e levado a ter preoeu

    pacoes tao incisivas, tao obsessivas com

    0

    Brasil, ou com os famosos

    retratos do pais

    que

    surgem nesse momento.

  • 8/20/2019 6800838 Gilberto Freyre Uma Leitura Critica

    3/14

    sive as do proprio Gilberto Freyre, alern de Sergio Buarque, Alceu

    Amoroso Lima, Mario de Andrade e ranros outros. Percebe-se

    certa

    perplexidade,

    certa

    nostalgia, e

    um

    desencantarnento em relacao a

    Europa.

    Na decada de 1920 ha, portamo, uma nitida ruptura na historia

    da culrura brasileira.

    Com

    0 Movimento Modernists, ha uma ruptura

    na criacao estetica, literatura, nas artes plasricas e na musica.

    No

    plano

    politico, a

    ruptura

    se da

    com

    a Revolucao de

    1930

    e

    a instauracao da Repu blica Nova. Surge, nesse periodo, uma van

    guarda

    inrelectual que vai revolucionar as ideias acerca do

    papel

    do

    intelectual e de sua atuacao na sociedade. Chamamos de vanguarda

    aquele grupo que promove um estranharnento da norma e que as

    sume uma

    atitude

    de disranciarnenro em face dos codigos em vigor

    na criacao esterica, na polltica e em todos os dominios da cultura

    (Santiago, 1975).

    Esses intelecruais

    sentemnecessidade

    de agir concretarnente,

    no sentido de organizar a cultura, pois eles se seritern responsaveis

    por

    essa organizacao.

    No

    Brasil, isso se

    torna

    caracterlsrico: os in

    telecruais assumem a postura de falar em

    nome

    do povo. 0

    povo

    sempre, e ate esse

    memento,

    e consideraJo como Lim infante, ou

    seja, aquele que nao fab, por isso

    e

    preciso que alguem °repre

    serite. Dai ;> ideia de rnissao, de organizacao da sociedade e de

    nacao que os rnodernistas vao compartilhar, lancando-se em tra

    balhos concretes, como

    0

    da criacao de um

    conjunto

    enorrne de

    instituicoes culrurais.

    Quem

    sao os inrelectuais mais proerninentes desse periodo?

    Evidenrernenre,

    Gilberto

    Freyre e

    um

    dos que se

    destacam.

    Ele

    par

    ticipa do

    Movimento Modernists, mantern

    relacoes de arnizade e

    troca ideias con; importances representantes dos modernistas que

    estao no Rio de Janeiro, e tarnbern em Recife: Sergio Buarque de

    Holanda, Manuel Bandeira, Juaquim Inojosa, Sergio Milliet, Ro

    drigo de Melo Franco de Andr ade, Paulo Prado, Paulo Duarte, Afonso

    r i n o ~  

    de Mello Franco, Alceu Amoroso Lima, Portinari, Prudente

    de Morais

    Neto,

    Lucio

    Costa

    e

    muitas

    outros.

    138

    Por meio das irleias geradas no interior do

    Movimento Mo

    dernista, os intelectuais se auto-atribuern 0 papel de demiurgos, de

    herois civilizadores da nacao. Naquele momenta, preocupam-se com

    todas as dirnensoes da cultura e da politica.

    Podemos

    afirrnar que se

    constirui efetivamente

    ali

    uma intelligentsi

    no Brasil, nurn contexte

    de

    reriovacao

    e aspiracao a reformas econ6micas, sociais e politicas.

    Essa intelligentsi revolucioria 05 canones esreticos, coritesta a cul

    tura

    do

    minante,

    busca as ralzes da

    cultura

    brasileira, desespera-se

    pelo arraso cultural do pais, interroga-se sobre as esi ruturas da so

    ciedade, procura sua identidade social e tenta estabelecer urna ponte

    entre a

    modernidade

    e a modernizacao do pais, porque parecia con

    figurar-se

    um

    abismo

    entre

    essas duas dimensoes, 0

    que

    gerava pro

    funda inquietacao, ou seja, se

    0

    pais esta se modernizando, em que

    medida podera, ao lado disso, atingir a modernidade? (Martins, 1985).

    o inrelectua] s e m p r ~   nutriu um cerro "cornplexo de culpa",

    por ser letrado provindo da elite, num pais de analfabetos. Sempre

    se deteve em

    p r e O C I J p ~ O e S  

    com as charnadas quesioes sociais. Nas

    decadas de 1920 e 1930, como ja co mentarnos, 0 intelectual se

    imbui da vocacao, da missao de

    organizar

    0 Brasil, de organizar a

    cultura e, principalrnenre, de identificar e de construir urna identi

    clade nacional que

    Fosse

    autentica, que

    Fosse

    enraizada na propria

    hisroria brasileira.

    o

    Modernismo, como

    movimento cultural, acompanhou 0

    processo de rnodernizacao, de modificacao das relacoes sociais, e

    tornou

    possfvel

    a instauracao de uma

    modernidade

    em nosso pen

    sarnento social. Desde

    entao,

    cornecou-se a considerar a sociedade

    brasilei ra a partir das categorias de cuI tura e de hist6ria, baseadas

    em criterios universalistas e racicnais, em oposicao as ideias de raca,

    de natureza ou geografia e sua inf1uencia sobre a pcpulacao.

    Delineando 0

    horizonte cultural em

    que Gilberto

    Freyre es

    tava inserido,

    compreendemos melhor

    sua necessidade de se deslo

    car da ciiscussao sobre r a ~ a   e dizer: nao e

    por

    l eio da mas sim

    da

    cultura que

    temos

    de pensar no Brasil. lsso foi uma enorme

    r e v o l u ~ a o  

    no pemamenta social bras ileir o, di ta naq uele

    momen

    to.

    E

    deixar de pensar em

    n a ~ a o  

    por

    meio

    da ideia de e passar a

    39

    "  

  • 8/20/2019 6800838 Gilberto Freyre Uma Leitura Critica

    4/14

    ve-Ia pela ideia de historia, de culrura, de

    uma

    razao universal,

    que

    nos, brasileiros, rarnbern deveriamos possuir.

    No

    livro Casn grande 6 senzala e

    nitido

    0 gosro que

    Cilberro

    Freyre tern pela pnlavra civili zacao . E

    nao

    e  l ele, todos

    naquele

    memento tem essa profunda adrniracao pela ideia de civilizacao.

    M:irio de

    Andrade

    a uriliza, assim como Carlos Drummond, Sergio

    Buarquc c Afonso Arinos.

    Todos des procuram

    elaborar a ideia de

    um a civilizacao brasileira . Na verdade, usar 0 conceito de civili

    zacao

    como

    culrura reflete urna sinrese origiml do

    pensamento

    so

    cial brasileiro, j;i que absorve a ideia de ciuilizaiiio da rradicao

    fran-

    cesa e a ideia de cultura da tradicao alerna (Elias, 1990). Isso nos

    parece rnuito rlpico do

    pensamento

    social brasileiro,

    diferentemente

    dos

    pensamentos

    frances, alernao e arnericano.

    f

    evidente que essa

    atitude implicou tambern uma

    reavaliacao da relacao

    individuo-so

    ciedade-Esrado, pois era preciso desvendar e dinarnizar as insrituicoes

    exisrentes, e criar novas, que dessem maior consisr encia ao recido so

    cial, que requer mecanismos firrnes de mediacao entre os individuos.

    Entao,

    0

    que signiflcava ser moderno, e como aringir a rno

    dernidade? Em seu livro

    Brasilidade modernista (978),

    Eduardo Jar

    dim de Moraes afirrna

    que

    duas vias erarn cogitadas para se atingir a

    rnodernidade. A prirneira, irnediatista, muiro ripica do prirneiro

    mo

    menta

    do

    Movimento Modernista

    (1917 a 1924), em que a rnoder

    nidade era tida

    como

    urna

    ordern

    universal, aqual se reria acesso de

    forma irnediara e

    simultfinea,

    pela simples

    adocao

    de procedirnenros

    considerados

    modernos.

    Assim, participariamos do

    concerto

    das

    nacoes cultas . Essa

    e uma

    frase

    que

    tarnbern ficou famosa, e diz

    respeiro

    a

    sensacao de

    que

    0

    nosso relogio estava atrasado em re

     

    ao relogio universal; a

    s n s ~ o  

    de que nos ainda nao par

    ticipavamos do conjunto das na

  • 8/20/2019 6800838 Gilberto Freyre Uma Leitura Critica

    5/14

    ocupados com a quesrao e escrevem obras seminais na busca de

    considerada nao rnais

    como

    "ornamenro" da expressao lircraria, mas

    cornpreensfio do Brasil de seu tempo e do passado historico.

    como oonsrituinte dessa mesmu expressao. Assim, ser moderno irn

    A esse respeito e interessante verificar entre os rnodernistas,

    plica disposicao de formular juizos racioriais, enterida-se universals,

    inclusive Gilberta Freyre, a

    existencja

    da ideia cle revelacao, qua ndo

    e buscar ideritificar as leis da realidade empirica, ou seja, os proces

    em contaro com 0 passado colonial brasileiro. omo exernplo, te

    sos concrerarnenre exisrenres, a partir de pesquisas, e nao de conjec

    mos Lucio Costa, citado pOl Cilberro Freyre no primeiro prefacio

    ruras ou de inrerpretacoes reriradas de modelos europeus.

    da edicao de

    Casa

    grande 6-

    senzala.

    Segundo ele, Lucio Costa Bcou

    . E irnportante acentuar que, antes de 1930, havia Luna grande

    encanrado, como se rivesse tido uma especie de

    revela

  • 8/20/2019 6800838 Gilberto Freyre Uma Leitura Critica

    6/14

    universal. que derive, no enranro, de siruacces singulares, construi

    das pelo povo, enrcndido pela culrura

    como

    rode concreto, como

    fonte de aurenticidade. Ate enrao, era

    como

    se 0

    pOV8

    brasileiro nao

    cxisrisse,

    como se Fosse apenas uma

    populacao incapaz

    de

    produzir

    culrura, Sequer era cogitada a ideia de cultura brasileira: a discussao

    girava em como da ideia da constituicao de uma raca brasileira. 0

    deslocamenro do

    conceito

    de

    raca

    para

    0

    de

    cultura

    registra urn

    ponto

    culruinanre

    do que

    esramos charnando

    de modernidade no

    pensarnento

    social brasileiro.

    Como

    os demais

    modernisras,

    Gilberte Freyre procma

    idenri

    flcar a autenrica cul tura brasileira, desven dando 0

    modo

    de ser da

    sua

    hisroria,

    mas nao

    nurna

    atitude nosralgica de simples volta ao

    passado,

    e sim m oderna, pOlS era preciso

    identificar

    urn futuro para

    essa mesma

    culrura

    brasileira. Tal

    caracrerisrica tarnbern

    diferencia

    os ruodernistas da geraC;Jo anterior, dos rom.Inricos, dos positivistas,

    OIl

    ate dos "neocolcniais" nurua tentativa de volta nostalgica, pro

    curando irnitar e recoristruir

    0

    passado

    .

    Diferenremente, os modernistas querem volrar ao passado pa

    ra descobrir um futuro para 0 Brasil: a perspectiva e diferente, des

    prerendiarn encoritrar

    passado para

    encorirr.ir

    as ra izes

    hisroricas

    da

    cultura

    brasileira, a especificidade

    hisrorica

    do nosso processo de

    coristituicao, para que se pudesse chegar ao universal no futuro. 0

    passado nao e considerado como origem a ser reproduzida, mas

    como descobrimento de novas possibilidades do

    vir

    ser Daf a

    preocupacfio d'? Giibcrto for eyre com a ideia de urna civilizacao ibe

    rica cxrcnsiva a roda a America Latina. Segundo sua conviccao, te

    mos

    J

    possibilidade de ser

    uma

    civilizacao, tern os trac;os de unive r

    salidade, enrao poderemos ter urn futuro; temos viabilidade como

    nacao. Essa consrrucao da terr.poralidade brasileira pela reinterpre

    tac;:ao do passado e futuro e muito importance naquele mornenro.

    o gruflo dos ncocoloni.lis era re,Jrescntad, pel  arquitero e cdrico de arte Jose

    Mariano Filho, basral1te nuanre na Elcola Nacional de Belas Anes e que de

    fendia a p r e s e r v a ~ l o   do passadoe 0 retorno :1 arquitetura colonial, como haviasido

    outrora.

    144

    • J

    E

    interessante observar como se dao os movirnenros das ideias.

    Gilberto Freyre vai privilegiar os seculos XVl e XVll, considerados

    como 0

    tempo

    da origem, como 0 germe e 0 lugar de nascirnenro

    da

    nacao,

    Entao, a

    nacao

    brasileira, segundo de, teria surgido no

    Nordeste, nos seculos'XY1 e

    XVII.

    Ele acredita nesse fato, e vai

    pesquisar

    situacoes

    empiricas que 0

    cornprovern.

    Ja urn outro grupo

    de modernistas, especialmente os niineiros e paulistas, vai idenrifi

    car a origem da cultura brasileira no seculo XYII1, no perfcdo Bar

    raco, em Minas Gerais, e vai pesquisar rudo sobre

    0

    barroco rni

    neiro. Este grupo pode ser

    representado

    por Mario de Andrade,

    Rodrigo de Melo Franco de Andrade, Carlos Drummond de An

    drade

    e

    Sergio Buarque de Holanda, que, mais tarde, organizam 0

    Service do Patrirnonio Hisrorico e Artistico Nacional (1937).

    o projeto dos

    modernistas,

    e igualmeme 0 de Gilberte Frey

    re, era rnostrar 0 lado autenrico da nacao,

    conferir-lhe

    visibilidade,

    por meio de suas manifestacoes culturais. Alguns vao destacar, co

    mo

    trace

    de originalidade, a nossa arquirerura barroca. Ja

    Gilberte

    Freyre (I993) afirmava: E a culinaria; sao os doces; e a forma de

    -',

    relacionamento; e a Casa Grande e a Semala; e a construcao de urn

    sistema autonorno, como eo sistema escravocrata, latifundiario, pa

    triarcal, enfirn; sao processos sociais

    concretes,

    ernpfricos, capazes

    de serem idenrificados por qualquer pessoa 0 que constirui a culrura

    brasileira" (prefacio

    a

    1a edicao de

    Casa

    grande 6-senzala

    A valorizacao do passado e da tradicao ocorre a partir da ela

    boracao do seu significado, 0 que se rclaciona dirctarnente

    a

    con

    cepcao de hisroria. Epor isso que estamos falando de modernidade.

    t

    interessante que

    0 Modernismo

    no Brasil. diferememente de al

    gumas rendencias das vanguardas europeias que valorizam 0 futuro,

    o progresso, especialmente 0 futurismo de Marinetti, vat se voltar

    para

    0

    passado, buscando recupera-lo.:Segundo acrediravarn, ser rno

    derno nao era

    romper

    definirivamence com 0 passado e com a tra

    dicao, muito pelo contrario, era incorporar a t r a d i ~ a o Mas, como

    dissemos, nao em uma atitude passadista, nostalgica, e sim pen

    sando em construir 0 futuro. Eles tinham

    uma

    concepc;ao muito

    propria de tradi

  • 8/20/2019 6800838 Gilberto Freyre Uma Leitura Critica

    7/14

    no prefacioa  reuistn I 925). Emartigo sobre

    0

    rema,preconizava

    nao uma tradi

  • 8/20/2019 6800838 Gilberto Freyre Uma Leitura Critica

    8/14

    o

    bra

    rnais signiflcltivo que ocorre nas decadas em analise,

    como

    ja charnarn os a aren cao , e volrarnos a repetir, e 0 debate em

    torno das nocoes de raca e culrura.

    E

    urn debate renso, cujas

    con

    rroversias serao exrrcruarnenre fecundas para a culrura brasileira. Ra

    c a

    dcixa de ser urna categoria exp1icativa da realidade nacional, e

    cultura passa a ser considerada a categoria capaz de revelar nossa

    multiplicidade.

    Decorre

    dai a irnporrancia da ideia de

    cultura

    por

    que, corn ral categoria analftica,

    tornou-se

    possivel emender as dife

    rcncas cllit urais c socia is, a partir de urn redo. Esse todo

    compona

    a

    difcrcl1ciaC;JO que af se acornoda, p0rque a ideia de raca separa, nao

    congrcga: ra

  • 8/20/2019 6800838 Gilberto Freyre Uma Leitura Critica

    9/14

    areas do saber, durante a

    ultima

    merade do seculo

    XIX

    e as prirnei

    ras decadas do sec ulo XX.

    Essa nova perspectiva

    adotada

    por

    Gilberto

    Freyre, que esra

    mos chamando de perspectivismo, e a nao-elirninacao do expedi

    enre subjetivo fazem

    com que 0

    autor rente

    penetrar

    no

    mundo

    que

    descreve,

    partindo

    da ernpatia, por meio da qual

    procura

    aperceber

    se da

    mesma

    realidade, uma realidade total, contornando-a e

    con

    siderando-a sob varios pontos de vista complernentares. Segundo.

    palavras de

    Gilberto

    Freyre, ele se coloca no

    ponto

    de vista

    do

    hornern, do adulro, do branco, masrambern do me nino, da rnulher,

    do indigena, do negro, do afeminado e do escravo". 0 auror

    pro

    cura se colocar do ponto de vista de cada urn desses p e r s o n a g e n ~  

    sociais, para tenrar, por urn processo de empatia, cornpreende-los

    na sua mteireza.

    Gilberto Freyre rent a organizar e co nstruir 0 que se pode cha

    mar, e

    outros

    autores tern

    chamado,

    de urn

    merodo relaciopaL Do

    ponto

    de vista da episcemologia, Gilberto Freyre compartilha a ideia

    segundo

    a qual a existencia de uma

    natureza hurnana

    significava

    0.

    exisrencia de urna cultura. Enrao, nao exisre

    uma

    natureza

    humana

    que possa ser esrudada pelas ciencias narurais,

    porque

    a natureza

    hurnana

    significa cultu ra, 0 que

    e proprio

    do

    hornem

    e

    0

    que

    e

    tipico de sua natureza 0 faro de ele rer cultura. A dirnensao

    cultural e revelada, de forma contundenre, pelos atos do trabalho e

    da fala, pois

    des

    supoern necessariarnente a interacao social e a exis

    rencia de urn c6digo

    compartilhado.

    Esta e a base da cultura: a

    exisrencia da linguagem, a

    construcao

    de regras e

    normas

    sociais e

    de urn processo produtivo, a capacidade de modificacao

    de

    meio

    ambience, a capacidade de comunica

  • 8/20/2019 6800838 Gilberto Freyre Uma Leitura Critica

    10/14

    Nesse senrido, Gi oerto Freyre vai promover em seu tempo

    urna profunda inovacao merodologica. Segundo 0 historiador Asa

    Briggs (J 981), tal inovacao se deve ao faro de Freyre ter assimilado

    ramo a Ancropologia quanro a Psicologia, arriculando, desse modo,

    a Hisroria com as Ciencias Sociais.

    No arrigo "Ciiberro Freyre e

    0

    escudo da hisroria social", Asa

    Briggs afirma

    0

    modo peculiar de Freyre em seu fazer cientifico:

    Viu as configuraer6es da hisroria como urn He nry James viu a es

    rrurura da novels: urn ser vivo, uno e continuo. Em cada uma das

    panes ha Jlgo de cada urna das ourras partes".

    Essa ideia concern a perspecriva da roralidade. Assim, 0 tra

    balho cienrifico evisro como se fosse uma novela, urn romance em

    que as parres sc inrer-relacionarn. Freyre assinalou

    0

    elernento prous

    t iario na sua obra, como ja foi diro, no preficio da edicao inglesa de

    Casa grande &

    scnzala ern que argumenta que procura entender

    0

    cararer e a formacao do brasileiro a partir da retina dornestica da

    casa grande. Isso

    e

    totalmenre inovador. Segundo

    0

    proprio Gil

    berra Freyre, "csrudando a vida domesrica dos antepassados, sen

    rime-nos aos poucos a nos corirernplar,

    e

    outro rneio de procurar 0

    rempo perdido".

    Ourro

    rraero

    muiro imporranre do rrabalho de Gilberto Freyre

    refere-se ao faro de

    0

    auror introduzir, na pesquisa historica, novas

    fonres de dad os empiricos. Dessa forma, ele pesquisa jornais, foro

    grafias, diaries inrimos, iivros de etiqueras rcceiras culinarias, res

    tamenros, enfirn, regisrros do coridiano da vida social.

    Casa grande 6-senzala eurn livre que possui ritrno proprio, pes

    SOJ]

    e intirno, dado pelo rempo singular daquela experiencia de vida. E

    Cilberro Freyree antes de rude, um escriror criativo, senslvel ao ruido,

    ao cheiro, a

    o r ~

    e

     

    cor, ao alllor e ao odio, ao riso e ao choro,

    sobrerudo JOS ecos c as premonier6es. Ele gOSta muito de falar nos

    fJnrasmas, que aindJ hoje sobrevivem nas casasgrandes e nas senzalas.

    o

    auror faz uma hoa descrierao do imaginario magica, ainda hoje pre

    sence no Nordeste. Especifica deralhes que nunca ninguem havia pen

    sado em rerratar a discurir na historia so;:;ial, como a fato de enter

    152

    rar as escravos nas casas gran des e a formacao de urn imaginario

    fantasmatico, condicionador de praticas sociais espedficas.

    Em

    Sobrados e moc mbos 1936),

    Gilberto Freyre escreve algo

    que nos parece rambern apropriado para

    Casa

    gr nde

    senzala 0

    que nos leva a discutir

    uma

    coisa irnporrante. que e a ideia de de

    mocracia racial. Ele diz:

    o objetivo principal deste trabalho eestudar os processos de

    subordinac;:ao

    e ao mesmo tempo de

    acornodacao

    e concilia

     

    ao

    de uma racr

    a

    com outra, da fusao

    de

    varias

    religioes e tra

    dicoes culturais numa unica, que caracteriza a transtcao do

    patrjarcado

    rural brasileiro para

    0

    urbane.

    Em

    Sobrados

    e

    mocambos 0

    autor fala explicitamente na exis

    tencia de urna democracia racial, quando afirma: 0 Brasil, em 1936,

    talvez estivesse se transform ando numa cada vez maior democracia

    racial, caracterizada

    pOI

    uma quase unica cornbinacao de diversi

    dade e unidade".

    t 0

    conceito de cultura que the perrnite pensar

    sobre a diversidade e a unidade

    combinadas

    Segundo nossa interpreta

  • 8/20/2019 6800838 Gilberto Freyre Uma Leitura Critica

    11/14

    portancia ao cornplexo produtivo e econornico, 0 que nao e ver

    dade. Em realidade, ele

    tenta complernentar

    esse ponto de vista com

    outras dimens6es sociais, e arenas nao compartilha do pressuposro

    segundo 0

    qual os processos

    econornicos determinam

    os demais

    2.S

    pectos da sociedade.

    £ evidente que Gilberto Freyre da enorme imporrancia aos

    fatores

    econornicos e

    dernograficos. Alias, ele parte dessa explicacao

    para entender

    Casa

    grande

    senzala quando

    ;dlrma:

    No

    Brasil as

    relacoes entre os brnncos e

    ra

  • 8/20/2019 6800838 Gilberto Freyre Uma Leitura Critica

    12/14

    CHICO, esracionado, JO cont rario,

    acredita

    que ha urn processo de

    continuidade, que gJrJT1te a possibilidade de mudanca na sociedade

    brasileira.

    Assim, 0 auto r vi conrinuidade, C O ~ a rnudanca, nurna

    ourra perspcctiva, nio como ruptura, como 0

    marxismo prcpunha,

    IlUS como movimenro

    de

    rransformacocs graduJis.

    Essa especie de

    :11lL11gJ111J rrazida

    COI11

    ;1 miscigenacao e a

    forma

    de organizacao das

    G SaS

    ,grandes e

    scnz.ilas

    garanrem

    conrinuidade que

    vai

    gerando mu

    danca. Por esse

    motive,

    podc-se ler em sua obra a mcdulacao de urn

    parriarcado

    rural

    ;1

    urn

    parriarcado urbane

    c,

    ainda,

    a urn

    patriar

    cado industrial.

    Enflm, urna

    leirura

    conrernporanea

    pode

    rriostrar

    como a

    sociedade

    brasileira continua presa aos

    marcos

    historicos do

    personalismo

    familiar patriarcal e privatista

    que

    a

    formaram.

    o ponro

    central de sua reflexao e a familia,

    unidade

    social

    concrera,

    que

    de descreve em detalhes,

    sempre

    focalizando as cir

    cunsrancias objerivas da sobrevivcncia da comunidade

    portuguesa

    no Brasil. 0 auro r se

    propoc

    a

    compreender

    a familia em uma perspec

    riva relacional. A partir dos rclacionamenros hornem-rnulher,

    rnarido

    esposa, pai-filhos, mae-filhas, ele descreve tudo em terrnos de

    inter

    relacao,

    0 que descor

    tina

    urna interessante narrativa sobre 0

    Brasil,

    do ponto de vista da familia. Nao

    constroi

    uma

    tipologia

    da familia

    brasileira, senao de urn caso hisroricamente concreto, a familia por

    tuguesa, vivendo em isolamento,

    dentro

    de

    uma ordem

    social patriar

    cal, com visiveis traces feudais,

    com

    urn

    modo

    de

    producao

    agraria

    tradicional e ja incorporado ao sistema capiralista inrernacicnal, 0 que

    genva

    conrradicocs espccificas, relacionadas ao

    modo

    de vida.

    A famili a ql \e ele des creve vive

    nurna socicdade

    colonial, mui

    to distanre do

    habitat

    socio-hisrorico de sua

    origem.

    Ela vive,

    por

    tanto,

    urria siruac.io de rensao e pressao,

    juntamer.re com

    a

    subrnis

    sao a

    pad

    roes

    autoritarios

    e parriarcais,

    e

    isso explica a necessidade

    da

    solidariedade, que

    se tornou um valor importante na

    organi

    zac;ao do

    complexo

    casa

    grande

    e semd.la. Por

    que

    paniu da famflia?

    rorque no estagio inicial da sociedade brasileil'a, a familia era a pri

    meira

    e

    ll11ica unidade

    social estave!,

    segundo

    palavras do

    proprio

    Gilbeno

    Freyre.

    156

    Freyre vai

    rentar

    rnostrar a 'import:l!1cia da familia como

    uni

    dade

    social

    capaz

    de

    organizar

    a scciabilidade da

    enrao

    nascenre

    sociedade

    brasileira. Ele

    procura mostrar que

    a

    sociedade

    brasileira e

    unica

    e indivisfvel, e

    que

    essa unidade e essa

    indivisibilidade

    foram

    garantidas grac;as ao sistema patriarcal, grac;as

    a

    familia,

    a

    religiao.

    Ou

    seja,

    procura

    descrever valores e instituicoes sociais em seu

    pro

    cesso de

    fundaruenracao.

    os quais van

    garanr:ndo organicidade

    aos

    processos sociais

    que permitiram

    dois seculos de

    estabilidade

    aos

    regimes

    patriarcal

    e escravocrata no Brasil.

    Na

    verdade, ernbora Gilberto Freyre adrnirasse

    Joaquim Nabuco

    profundamenre, segundo

    inrerpretacao de Jose

    Guilherme Merquior

    (1981), ele

    foi

    0

    mais

    complete anri-Rui

    Barbosa, ou antigerac;ao

    ~ 8 7

    porque

    ele desejava

    construir uma

    Ciencia Social e urna forma

    de literarura

    modernas,

    contra 0 jurisdicismo parnasiano. Queria

    imaginar urna regiao e uma tradicao, contra 0 abstracionismo historico

    e social do nosso progressismo republicano, e revoltava-se contra 0

    liberalismo classico em politica. Entao, 0 seu dialogo mais assiduo e

    essencial

    tinha sempre

    sido

    com

    a tradicao, inflnitamente mais literaria

    do

    que

    cientitica, do ensaisrno verde-amarelo, de

    UlT

    Joaquim Nabuco

    e Oliveira Lima, de urn Euclides da Cunha, de Craca Aranha, de [oao

    Ribeiro, e ate do

    historiador

    Sergio Bu arque de

    Holanda.

    Porranto,

    a sua reinregracao do Brasil

    procurava

    ser erninenre

    mente

    universalista,

    ancorada

    no

    conceito

    de rradicao,

    como

    algo

    move! e ativo, como j:i

    discutimos

    anteriormente.

    Nao

    se podem

    ignoral as criticas feitas a Gilberto Freyre,

    sendo

    a mais

    comum

    a

    que diz respeito

    ao seu

    narcisismo,

    em perpetua identificacao com

    seus

    pr6prios antepassados,

    alern de urn cerro

    ufanismo

    idealizador

    do Brasil como uma sociedade

    harmoniosa.

    Casa

    grande &

    senzaLa leirura

    conrernporanea

    de uma

    obra da.ssica

    Enderec;ando nossa discussao ao

    ultimo

    t6pico,

    procuraremos

    abordar 0 primeiro prefacio de 1933, para propor

    uma leitura con

     

    157

  • 8/20/2019 6800838 Gilberto Freyre Uma Leitura Critica

    13/14

    ternporanea da obra classica de Gilberto Freyre. Nesse senrido, gos

    tariamos de fazer alguns cornentarios sabre 0 prefacio ja aludido.

    o primeiro ponto para

    0

    qual pretendemos

    chamar

    a arencao

    e que ali aparece rnuiro clararnente a angusria dos intelectuais da

    quele rnornenro, traduzida pelo sentido de missao que eles se aut o

    atribuiam. Gilberto Freyre expressa essa preocupacfio quando afirma:

    Era como se tudo dependesse de mim e dos da minha gera

  • 8/20/2019 6800838 Gilberto Freyre Uma Leitura Critica

    14/14

    sobre a sociedade brasileira que, da casa grande, cria-se 0 Esrado.

    Uma releirura conrernporanea da obra de Freyre perrnite perceber

    urn modo especlfico de irnbricamenro, r o Brasil,

    entre

    a

    ordem

    publica e a ordem privada.

    Na sociedade brasileira, sempre Ioi pred.ria a existencia de

    instituicoes

    inrerrnedidrias,

    capazes de fomenrar a organizac;:ao da

    sociedade civil. Alern disso, observa-se ainda hoje a privatizacao do

    poder pelas familias parriarcais. E essa ordem privada da casa gran-

    de que se esrende para a ordem publica.

    Urn

    imponanre carninho

    de invesrigacao, suscirado

    por uma

    leitura atualizada de Gilberro Freyre, refere-se ae relacionamenro

    entre a ordem da familia e a ordem do Estado. Nossa hip6tese e a

    de

    que

    deve haver muira proximidade na l6gica dessas duas ordens,

    no que se refere :10 modo de ccnduta familiar-patriarcal e ao modo

    de aruacao polirica no interior do Estado. 0 modo de ser de rais

    condutas e informado por uma moral privada.

    A riqucza de sugestoes conridas em asa grande

    6-

    senzala leva

    nos a considerar pertinente analisar hoje a cultura brasileira

    por

    meio das rnanifestacoes de uma moral escravista, que sup6e relacoes

    sociais hierarquizadas,

    dan

    icas. Essa dimer.sao revela

    0

    carater fa

    miliar e privado, ainda presenre na

    culrura

    brasileira.

    Como uma

    conseqiiencia da nossa formacao historica, indica

    que

    os grupCls so

    ciais criam nor mas paniculares de inreracao e relacoes com outros

    grupos e

    dao como

    urn suposto a lcgitimidade

    publica

    e universal

    de riorrnas co nstru idas de forma particular e privada. Oaf a difi

    culdade de a culrura brasileira norrnatizar e universalizar as normas

    juridico-legais.

    Urn ultimo ponro refere-se a certas crfticas enderecadas a Gil-

    berto Freyre, especialmenre aquelas que.o consideram conservador

    por ter

    proposro

    urna visao de conrinuidade da scciedade brasileira,

    represenrada pela familia parriarcal que rnantern a capacidade de

    deter m udancas mais esrrururais, Oevemos proceder a urna leitura crf

    rica e

    conremporanea

    da obra de Cilberro Freyre e buscar urn afas

    tarnento dos preconceiros mais recoirentes, A aritude mais adequada,

    160

    dianre de uma obra classica

    como

    essa, e problematizar, reconstruir

    e desconstruir os percursos teoricos e ernpiricos ali presentes.

    Para concluir, rerneremo-nos as ideias sugeridas' por Ferreira

    Costa

    (I992), no artigo "Vertentes democratio.s em Gilberto Freyre

    e Sergio Buarque".

    A argurnenracao do auror mC,stra a existencia de duas verten- '

    ,

    res no

    pensamenro

    social brasileiro: a primeira apresenta urn carater

    .J

    autoritario e sugere que a organizac;:ao da sociedade brasileira

    cleve'

    passar pela organizacao do Estado. A segunda, representada por Gil

    berto Freyre e Sergio Buarque de Holanda, prop6e conhecer a reali

    dade brasileira, nao a partir do Estado, mas a partir da pr6pria so

    ciedade., .'

    A segunda verrenre implica uma perspectiva dernocratica, pois

    parte do pressuposco de que a sociedade e constitulda de forcas

    vivas, de processos dinamicos de sociabilidade, de formas de repre

    ;'

    senracao sirnbolica, constiruidas historicamente, e que deposi.taram

      1,\:

    r,

    ~ ~ ~ r ~ ~ r ~ s

    por

    sua vez transfiguradas em traces da

    identidade

    cul

     

    1\.)

    .I

    rural brasileira,

    apontando igualmente

    a sua possibilidade cie con

    'dnua

    transformacao.

    161