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6 Mídia e Judiciário no caso Elisa Samúdio É notório que mídia e poder judiciário atuam rotineiramente em um mesmo fato, porém, de formas completamente distintas. Enquanto uma utiliza de uma forma aberta e subjetiva de regras e valores, o outro utiliza uma legislação taxativa, com regras fechadas e princípios certos. A análise em comento será feita a partir da cobertura do possível assassinato de Elisa Samúdio, jovem que possuía um filho com o goleiro do Clube de Regatas Flamengo, Bruno Fernandes das Dores de Souza 146 , pelos meios de comunicação em massa mais procurados, principalmente pelo portal de notícias “globo.com” 147 , ainda mais no que concerne ao site de notícias G1. A intenção do presente é comparar os enunciados no âmbito judicial, mais precisamente no Tribunal do Júri, e no âmbito dos media, sobre o referido delito. Primeiramente, imperioso que se faça uma análise das informações veiculadas durante a cobertura do fato em comento, fazendo-se uma breve descrição do ocorrido. Posteriormente faz-se um paralelo entre a dimensão temporal da produção do discurso na mídia e dentro de um processo judicial. De um lado, o discurso de duração prolongada de uma marcha processual, sendo que tudo é previsível ante sua descrição prévia em lei 148 . De outro lado o discurso dos media, imediatista, de temporalidade curta a fim de dar a notícia o quanto antes, pouco previsível, eis que não há rito prévio a ser seguido. Esse contraponto é elucidativo para a análise da relação entre as duas instituições estudadas. É latente que, dentro do discurso jornalístico, possui mais valor a fase de investigações policiais, quando ainda não se fala em processo propriamente dito, pois sequer existe uma denúncia, ou mesmo foi dado ao réu o direito de defender- se, enquanto a trajetória judicial dá maior importância ao analisado durante o 146 Ver mais no Capítulo 5. 147 Vide informações no capítulo 1 e nota de rodapé número 5. 148 De acordo com o princípio da anterioridade da lei, assegurado pela Constituição Federal, em seu artigo 5º, XXXIX e pelo Código Penal em seu artigo 1º, aduz que somente poderá haver acusação, processamento e condenação se a lei descrever a conduta e seu processamento antes da ocorrência do fato.

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Mídia e Judiciário no caso Elisa Samúdio

É notório que mídia e poder judiciário atuam rotineiramente em um

mesmo fato, porém, de formas completamente distintas. Enquanto uma utiliza de

uma forma aberta e subjetiva de regras e valores, o outro utiliza uma legislação

taxativa, com regras fechadas e princípios certos.

A análise em comento será feita a partir da cobertura do possível

assassinato de Elisa Samúdio, jovem que possuía um filho com o goleiro do Clube

de Regatas Flamengo, Bruno Fernandes das Dores de Souza146, pelos meios de

comunicação em massa mais procurados, principalmente pelo portal de notícias

“globo.com”147, ainda mais no que concerne ao site de notícias G1.

A intenção do presente é comparar os enunciados no âmbito judicial, mais

precisamente no Tribunal do Júri, e no âmbito dos media, sobre o referido delito.

Primeiramente, imperioso que se faça uma análise das informações

veiculadas durante a cobertura do fato em comento, fazendo-se uma breve

descrição do ocorrido. Posteriormente faz-se um paralelo entre a dimensão

temporal da produção do discurso na mídia e dentro de um processo judicial. De

um lado, o discurso de duração prolongada de uma marcha processual, sendo que

tudo é previsível ante sua descrição prévia em lei148. De outro lado o discurso dos

media, imediatista, de temporalidade curta a fim de dar a notícia o quanto antes,

pouco previsível, eis que não há rito prévio a ser seguido. Esse contraponto é

elucidativo para a análise da relação entre as duas instituições estudadas.

É latente que, dentro do discurso jornalístico, possui mais valor a fase de

investigações policiais, quando ainda não se fala em processo propriamente dito,

pois sequer existe uma denúncia, ou mesmo foi dado ao réu o direito de defender-

se, enquanto a trajetória judicial dá maior importância ao analisado durante o

146 Ver mais no Capítulo 5. 147 Vide informações no capítulo 1 e nota de rodapé número 5. 148 De acordo com o princípio da anterioridade da lei, assegurado pela Constituição Federal, em seu artigo 5º, XXXIX e pelo Código Penal em seu artigo 1º, aduz que somente poderá haver acusação, processamento e condenação se a lei descrever a conduta e seu processamento antes da ocorrência do fato.

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processo penal, em busca da “verdade real dos fatos”149. Sendo assim, a imprensa

inverte o caminhar processual em sua lógica, atribuindo maior importância ao

inquérito.

O discurso da imprensa é destinado à massa, sendo assim, deve ser de fácil

compreensão e atraente aos olhos de todos, já o discurso jurídico é destinado

somente aos operadores e aos envolvidos naquele processo judicial, fazendo-se

restrito e de difícil compreensão aos que não participam dele.

Por lidar com assuntos sérios, como a restrição de liberdades individuais,

asseguradas pela Constituição Federal a todos os cidadãos brasileiros, o discurso

judicial deve ser descrito e estudado, revisado, de maneira estafante, para que gere

uma punição mais correta possível. Já os jornalistas não estão adstritos a normas

imperativas.

6.1

Caso Elisa Samúdio como chegara ao público

Em 2005 Bruno foi revelado pelo Clube Atlético Mineiro, ganhou

destaque, e em 2008 foi contratado pelo Clube de Regatas Flamengo como goleiro

titular. Bruno era campeão brasileiro e capitão do clube de futebol mais popular

do Brasil em 2009.

Outubro de 2009: Elisa Samúdio alega estar grávida do goleiro e ter

sofrido agressões e uma tentativa de aborto provocado, ela presta declarações em

frente a uma delegacia ao Jornal Extra, ainda alegando que Bruno a teria

ameaçado de morte, com uma arma na sua cabeça, caso fosse à delegacia ou a

qualquer outro lugar.

Março de 2010: Bruno, ao defender o seu companheiro de time, Adriano,

que estava sendo acusado de agressão contra a esposa, dá a seguinte declaração

pública “(...) Qual de vocês que é casado que nunca brigou com a mulher? Quem

nunca discutiu, que nunca até saiu na mão com a mulher, né cara? (...)”150.

149 Vide nota de rodapé número 31. 150 Entrevista veiculada na maioria dos jornais telemidiatizados e redes de internet. Ver mais em: http://www.youtube.com/watch?v=nY9sh3gwZA8

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Junho de 2010: o mundo acompanhava a copa do mundo de futebol da

FIFA151 em Johanesburgo, na África do Sul, toda a atenção está voltada ao

futebol. Porém, um caso conseguiu retirar toda a atenção da mídia e ofuscar a

atuação do que é tradição entre os brasileiros152, o desaparecimento de Elisa e seu

filho Bruno Samúdio de apenas quatro meses. Denúncia anônima alegara que ela

teria sido morta e enterrada no sítio do goleiro em Esmeraldas, Minas Gerais, e

suas roupas teriam sido queimadas no mesmo local.

A vítima é tida como ex-modelo, protagonista de filmes pornográficos e

ainda acostumada a casos amorosos com jogadores de futebol.

Dayanne, ex-esposa de Bruno Fernandes, é ouvida na delegacia de polícia

sobre a subtração do Bruninho, e liberada após prestar fiança. Alega-se que ela se

contradisse.

A criança foi encontrada no dia 25 do mesmo mês em Ribeirão das

Neves/Contagem na casa de pessoas desconhecidas. A criança teria sido entregue

por Dayanne a um funcionário de Bruno, que teria tentado se livrar da criança. O

bebê, de quatro meses, levado a um abrigo e posteriormente é entregue ao pai de

Eliza, que alega inclusive querer mudar o nome do menino após os

esclarecimentos153.

Policiais vão ao sítio, mas não adentram, pois não têm autorização judicial

para tanto. Já no dia seguinte, adentram e vasculham o local onde a vítima teria

sido vista pela última vez, detectam sangue em paredes e apreendem objetos.

Bruno é afastado do Clube em que trabalhava até o fim das investigações

que figurava como acusado de ser mandante do desaparecimento de Eliza.

Bruno, em entrevista a várias redes telejornalísticas, inclusive ao jornal O

Globo alega que a criança foi-lhe entregue por Macarrão, que alegou que Eliza

teria lhe entregue a criança a fim de resolver uns problemas pessoais. O goleiro

diz que espera que a Elisa apareça154.

O carro do Goleiro é periciado e encontradas três manchas de sangue de

Eliza e objetos pessoais dela. O Goleiro Bruno é declarado suspeito do

desaparecimento de Eliza.

151 Evento que ocorre de quatro em quatro anos de competição de futebol em nível mundial. 152 O futebol. 153 A criança tem o mesmo nome do pai, Bruno. 154 Entrevista veiculada em 01 de julho de 2010. Ver em: http://globotv.globo.com/infoglobo/o-globo/v/bruno-fala-sobre-o-sumico-de-amante/1685005/

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O sigilo telefônico de Eliza é quebrado, e sua família oferece recompensa

para quem der informações sobre o seu paradeiro.

Denúncia alega que o corpo da ex modelo estaria em um lago em Minas

Gerais, mas após buscas nada foi encontrado.

Julho de 2010: Muro da sede do Clube de Regatas Flamengo aparece

pichado atribuindo a Bruno Fernandes a qualidade de “assassino”.

O intitulado “Tio”, alegando que o filho de sua sobrinha, de 17 anos,

também primo de Bruno, disse ter participado do caso e estar tendo visões de

Eliza. Procura a Rádio Tupi a fim de narrar o acontecido. Aduz que o menor Jorge

teria ido a sua casa desesperado e alegou que ele e o Luiz Henrique Romão,

“Macarrão”, teriam levado a Eliza ao sítio de Bruno, no caminho teria acertado

por três vezes a cabeça da mulher com uma arma (“coronhada”), o que a teria

levado à morte. Posteriormente Bruno teria pago R$3.000,00 a Cleiton para

entregar o corpo a um traficante, que desossasse e sumisse com o cadáver.

O menor é ouvido na delegacia e relata um delito vil. Alega que estava

escondido no porta-malas do carro de Bruno, tendo rendido Eliza com uma arma,

sendo que ela reagiu e conseguiu tomá-la, pelo que recuperou a arma e desferiu as

coronhadas. Mas não foi essa a causa da morte de Eliza, porque ela desfaleceu e

foi levada ao sítio de Bruno. No dia seguinte, Sérgio chegou ao sítio para vigiar a

moça. Bruno teria chegado ao sítio e perguntou o que estava havendo, quando

Bruno pediu que Sérgio e Macarrão resolvessem o problema. No outro dia é que

Eliza foi levada a uma casa, onde teve os braços amarrados com uma corda e foi

estrangulada por Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola, um ex-

policial civil. Ainda segundo ele, após ter estrangulado Eliza, Bola pediu para que

todos deixassem o local. Após, seguiu em direção a um canil, carregando um saco

que alegou conter o cadáver esquartejado de Eliza. Alegou ainda que viu a mão de

Eliza ser jogada para cachorros da raça Rottweiler.

Sai o resultado da perícia que alega que Eliza teria tomado substância

abortiva quando da agressão no ano anterior.

O delegado Edson Moreira presta informações em uma coletiva de

imprensa155 afirmando que Bruno teria participado do delito, ainda dizendo que

155 Entrevista dada a muitas empresas do ramo da mídia. Ver mais em: https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&ved=0CDIQtwIwA

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houve sofrimento descomunal por parte de Elisa e que a intenção era também

matar a criança e que a materialidade do delito estaria indiretamente comprovada.

O Pai da Eliza, Luiz Samúdio, chora em frente às câmeras alegando perder

as esperanças quanto à vida dela, após depoimento do menor156.

Luiz Samúdio é acusado de abuso sexual de uma criança, sexo feminino,

em Foz do Iguaçu e fora condenado.

A mãe da suposta vítima alega que, após ter conhecimento do abuso

sexual por parte do pai, Eliza foi embora para São Paulo. Narrou ainda que

sempre mantinha contato com ela pelo telefone, e que teria tido sonhos sobre a

morte de sua filha, e que lutaria pela guarda de seu neto.

A guarda da criança foi transferida a mãe de Eliza, Sônia.

Ministério Público pede a prisão temporária de Bruno e de mais sete

pessoas, pelo que foi deferido pelo Judiciário e ainda a internação do menor.

Dayanne e mais quatro pessoas foram presas em Minas Gerais,

Sérgio Rosa Sales orienta a polícia em reconstituição do delito. Bruno

Fernandes é indiciado por sequestro.

Bruno e Luiz Henrique, o Macarrão, se apresentaram à delegacia e de

avião foram levados do Rio de Janeiro para Belo Horizonte. Uma gravação de

celular com declarações de Bruno, algemado, foram levadas à mídia onde aduz

que pediu a “Macarrão” para negociar um acordo, sendo que este o teria dito que

tinha dado um dinheiro à Eliza e esta lhe teria pedido para ficar com a criança a

fim de resolver uns problemas. Não sabia do fato, mas “não sabe o que teria dado

na cabeça do ‘Macarrão’”, e que dadas as circunstâncias não sabe mais se poderia

acreditar nele157.

Bruno chega à delegacia sob gritos de “assassino” por uma multidão

enfurecida. E o caso repercute na imprensa internacional.

Defesa alega que o goleiro está estarrecido e que nada tem a ver com o

fato em questão. Em sede policial, Bruno se cala.

A senha do computador de Eliza é divulgada como “Amor e ódio”.

A&url=http%3A%2F%2Fwww.youtube.com%2Fwatch%3Fv%3DaZtNrUB87CA&ei=03uDUuf6NpTnkAeQ3IHICQ&usg=AFQjCNEB4V-YSOEnWJZXa8cu7uCGpV_kOg 156 Ver mais em: http://www.youtube.com/watch?v=_k5Hh0EC5so 157 Reportagem da Rede Globo disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=uefw0BM68-Q

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São divulgadas fotos do goleiro em festas após o suposto homicídio,

incluindo a festa de Wagner Love158.

Várias buscas são feitas e corpo de Eliza não é encontrado, inclusive em

sítio do ex-polícial Marcos Aparecido, vulgo Bola.

É divulgada fotografia de Bruno com o uniforme prisional.

Marcos Aparecido afirma não conhecer Bruno.

Divulgada tatuagem no Luiz Henrique que declararia amor ao goleiro

Bruno e vídeos do ex-policial adestrando cães.

Justiça nega o pedido de liberdade dos suspeitos.

Família de Bruno se isola após as prisões, já a família de Eliza recebe o

Bruninho com festa em Mato Grosso.

Inquérito continua com oitivas de muitos funcionários de Bruno. Suposta

“amante” (Fernanda) de Bruno é chamada para depor, motivo pelo qual ele é tido

como possuidor de muitas mulheres.

Delegadas são afastadas das investigações após divulgação irregular de

vídeos.

Uma dentista, carioca, alega ser noiva do goleiro (Ingride, atual esposa).

Comerciantes alegam que faturam cerca de R$ 300,00 por dia com vídeos

pornográficos de Eliza.

Jornal americano diz que o caso Eliza Samúdio parece novela159.

Agosto de 2010: Bruno e os outros suspeitos são denunciados. E a

denúncia é recebida.

Suposta amante de Bruno é presa (Fernanda).

Feita a primeira audiência sobre a suposta agressão sofrida por Eliza no

Rio de Janeiro no ano anterior.

Outubro de 2010: exames comprovam que Bruno é realmente o pai do

filho de Eliza Samúdio.

Feita a primeira audiência sobre o caso Eliza Samúdio.

Novembro de 2010: Retomada a audiência no caso.

Bruno alega que o delegado teria pedido R$ 2 milhões para inocentá-lo.

Sobre o fato diz que Eliza lhe teria pedido R$ 50.000,00, chora ao falar sobre

158 Colega de Clube de Bruno. 159 New York Times, “Brazilian Goalie Is Charged in Ex-Lover’s Killing”, em 30 de junho de 2010.

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amizade com Macarrão, alegando ainda que este tinha muito ciúme dele. Falou

que Eliza teria ido embora do sítio dele de táxi.

Dezembro de 2010: Bruno é condenado no Rio de Janeiro por cárcere

privado, lesão corporal e constrangimento ilegal contra Eliza Samúdio, sobre o

caso levado à mídia por ela em 2009. O goleiro é condenado a cumprir 4 anos e 6

meses de prisão, o Macarrão foi condenado apenas por cárcere privado, com pena

de 3 anos.

São soltos quatro acusados, entre eles a ex-esposa do goleiro.

Abril de 2011: justiça determina que o goleiro pague pensão ao Bruninho

no valor de 17% do salário do goleiro.

Notícias afirmam que o ex-policial envolvido planejava a morte da juíza e

do delegado que atuaram no caso.

Denúncias alegam que juíza e advogado teriam pedido R$ 1,5 milhão para

liberar Bruno.

Maio de 2012: Bruno reconhece a paternidade do filho de Eliza.

Junho de 2012: a defesa tenta barrar exibição de documentário sobre

Bruno na justiça. Alega que o vídeo da série “Até que a Morte nos Separe”160,

exibido pelo canal de TV paga A&E161 acusava-o.

Agosto de 2012: Sérgio Rosa Sales, testemunha chave do processo, foi

encontrado morto em Belo Horizonte, teria sido perseguido e assassinado por dois

homens em uma motocicleta.

Novembro de 2012: Início do julgamento dos réus do Caso Eliza Samúdio

pelo tribunal do júri, porém, o processo foi desmembrado, tendo sido julgado

apenas Fernanda, a suposta amante do goleiro e Luiz Henrique Romão, e adiado o

julgamento de Bruno e os demais réus.

Imensa plateia se manifesta, sendo que existem inclusive cartazes contra a

violência contra a mulher. Promotor utiliza vídeo veiculado pela imprensa como

provas em acusação feita em plenário.

Fernanda e “Macarrão” foram condenados em júri popular. A primeira

pelo sequestro e cárcere privado de Eliza e do seu bebê a cinco anos, e o segundo

160 Série que versa sobre crimes passionais, de grande repercussão social, que teriam ocorrido no Brasil. 161 Canal de Televisão pago. Rede estadunidense.

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por homicídio triplamente qualificado e cárcere privado de Eliza a 15 anos de

reclusão.

Ventila-se a hipótese de acordo entre defesas e acusação de Macarrão e

Bruno.

Dezembro de 2012: ex-esposa do goleiro é absolvida do delito de calúnia

contra as delegadas do caso.

Janeiro de 2013: expedida a certidão de óbito de Eliza Samúdio, tendo

como causa da morte a asfixia.

Bruno é oficialmente desempregado, o seu contrato com o Clube de

Regatas Flamengo é encerrado.

Fevereiro de 2013: Jorge alega no programa Fantástico que Macarrão lhe

teria oferecido dinheiro em troca da morte da atual mulher de Bruno, Ingride,

mandou matar Bruninho e foi o verdadeiro mandante do crime, alegou também

não conhecer o “Bola”, mas desconfiava ser ele o autor da execução de Eliza

Samúdio.

Março de 2013: Julgamento de Bruno e Dayanne, quando houve

condenação em 22 anos e 3 meses àquele por homicídio triplamente qualificado,

sequestro e cárcere privado de Bruninho, e ocultação de cadáver e absolvição

desta.

6.2

Discurso Judicial e dos Media e suas Dimensões temporais

Conforme já aduzido, justiça e imprensa produzem as suas verdades em

ritmos diversos. Os jornalistas se preocupam, primeiramente, com a

transformação de fatos em notícias em espaços temporais muito pequenos para,

assim, assegurar a sua circulação diária, utilizando um código extremamente

aberto de valores. Já o judiciário caminha com certa morosidade, eis que existem

prazos a serem seguidos, devidamente tratados por leis anteriormente

estabelecidos.

Analisa-se a seguir o processo judicial contra Bruno e a cobertura da

notícia do caso Elisa Samúdio, para assim analisar as consequências das

diferenças do elo entre mídia e judiciário.

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6.2.1

Temporalidade no Discurso Jurídico

Qualquer que seja o processo judicial, cível, trabalhista ou criminal, deve

seguir uma sequência de prazos estabelecidos em lei. Muitos desses prazos podem

ser prolongados162, mas nunca suprimidos. Quando se fala em um procedimento

penal, o respeito com relação a esses prazos torna-se mais importante, pois se está

decidindo sobre a liberdade de um indivíduo. No que concerne ao Tribunal do

Júri, ainda deve ser tratado com maior cuidado e minúcia, pela gravidade do delito

julgado.

Retomam-se aqui pontos já tratados no capítulo 3, porém sob outra

perspectiva de análise, pois prima-se neste pelo rito processual, enquanto naquele

por produção de provas. O procedimento para julgar os crimes dolosos contra a

vida encontram-se do artigo 406 ao 497 do Código de Processo Penal.

Dada essa importância, somente poderá haver denúncia contra uma pessoa

se existirem nas provas colhidas indícios suficientes da materialidade do fato, ou

seja, provas de que aquele delito acontecem, e ao de autoria, ou seja, que o

denunciado possa mesmo ser o autor daquele delito. Ao recebimento da denúncia

pelo juiz, põe início a uma ação penal.

Estsas provas de autoria e materialidade são colhidas em sede policial, por

meio do inquérito policial, procedimento sigiloso, inquisitivo163, unilateral, de

natureza administrativa que possui a única exclusiva função de fornecer ao

Ministério Público informações para a feitura e oferecimento da denúncia e início

da demanda penal.

Assim, ao receber a notícia de um fato criminoso, no caso em questão de

crime doloso contra a vida, a autoridade policial, seja o delegado de polícia, tem o

dever de instaurar um inquérito e concluí-lo em 10 dias se o réu estiver preso e 30

dias se o réu estiver solto, em tese, pois, conforme já tratado, o prazo pode ser

elastecido a depender de peculiaridades do caso.

162 Em alguns casos, o Judiciário defere pedidos de dilação de prazo. 163 Em síntese, sistema que não adota a aplicação dos princípios do contraditório e ampla defesa, e que somente uma pessoa é encarregada de acusar e julgar.

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Após conclusão, o inquérito é encaminhado ao Juízo164, ficando à

disposição do Ministério Público que, entendendo existirem indícios suficientes

para iniciar um processo penal, oferece a denúncia. Sendo que, para isso, possui

um prazo de 5 dias se réu preso; e 15 dias se solto. Após, o juiz decide sobre o

recebimento dessa denúncia pondo início à ação penal, se afirmativo.

Recebida a denúncia, o acusado é intimado sobre os termos em que foi

denunciado e para apresentar resposta à acusação do prazo de 10 dias. Após, o

juiz decide sobre o prosseguimento do feito ou a absolvição sumária do réu. Se for

pelo prosseguimento do feito, o juiz designará audiência de instrução,

determinando a feitura das diligências requeridas pelas partes, no prazo de 10

dias. Na audiência serão ouvidas as testemunhas, produzidas as provas e

interrogado o réu. Em regra as teses de acusação e defesa deverão ser

apresentadas na mesma assentada, mas a lei prevê que também poderão ser

apresentadas no prazo de 5 dias sucessivos. Após o juiz poderá decidir no prazo

de 10 dias pela pronúncia ou não.

O Código de Processo Penal expõe que o prazo para a conclusão de toda

essa instrução será de 90 dias.

Para que haja prosseguimento, o réu deverá ser pronunciado, mas ainda

não se pode falar em condenação, e para isso precisa tão-somente de provas de

materialidade do fato e de indícios suficientes de autoria. Sendo que dessa decisão

cabe recurso no prazo de 5 dias para manifestação do desejo e mais 2 dias para a

apresentação de razões recursais, sucessivo para contrarrazões ministeriais. É

concluso ao juiz que decidirá se reforma de pronto ou encaminha à instância

superior, em 2 dias165.

Continuando pela pronúncia, intima-se o réu dessa. O juiz, assim, intima

as partes para em 5 dias sucessivos apresentarem as provas que serão utilizadas

em julgamento pelo tribunal do júri. Pelo que será designada a sessão de

julgamento em plenário.

A sessão em plenário é una, todos os atos são concentrados.

Com relação ao processo judicial que Bruno Fernandes das Dores de

Souza, entre outros, figura ainda hoje como réu, que tramitou na Vara de Tribunal

164 Foro ou Tribunal competente ao processamento e julgamento de certo pleito, além da administração do Judiciário daquela localidade. 165 “Recurso em sentido estrito”, artigo 581 ao 592 do Código de Processo Penal.

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do Júri da Comarca de Contagem/MG, os atos processuais foram praticados em

prazo bastante dilatados, porém, dentro da legalidade. Somente por curiosidade,

na data do julgamento pelo Tribunal do Júri, o caderno processual perfazia mais

de 16.528 laudas e 67 apensos, sem falar nos anexos apensados a ele.

Até o julgamento em plenário, já havia se passado dois anos, oito meses e

doze dias, pois tem-se que a notícia é recebida pela autoridade policial em 24 de

junho de 2010 e a sessão teve fim em 08 de março de 2013.

Minuciosamente, as datas que os atos processuais foram praticados foram

as seguintes. As investigações policiais ocorreram em 35 dias, do dia 24 de junho

de 2010 ao dia 29 de julho de 2010. A denúncia foi oferecida em 04 de agosto de

2010. Bruno, Luiz Henrique, Dayanne, Fernanda, Sergio, Elenilson, Wemerson e

Flávio foram denunciados por homicídio triplamente qualificado166 (motivo torpe,

asfixia, e dissimulação), sequestro e cárcere privado, ocultação de cadáver e

corrupção de menores. E Marcos Aparecido pelo homicídio triplamente

qualificado e ocultação de cadáver. A denúncia foi recebida na mesma data do

oferecimento, tendo todos os réus sido citados e respondido esta em tempo hábil.

Citado em 06 de agosto de 2010, por intermédio de seu advogado, Bruno

apresentou resposta à acusação, no dia 19 de agosto de 2010.

A Juíza, Dra. Marixa Fabiane Lopes Rodrigues decidiu em 20 de setembro

de 2010 pelo prosseguimento do feito.

As audiências de instrução e julgamento foram várias devido à quantidade

de crimes em análise, de testemunhas, de réus e complexidade do processo. A

primeira se deu em 06 de outubro de 2010, sendo que a última se deu apenas em

12 de novembro do mesmo ano, e mais inúmeras outras audiências foram

instruídas em outras comarcas por meio de carta precatória167.

As alegações finais foram apresentadas em forma de memoriais em tempo

correto, sendo a do Bruno apresentada em 06 de dezembro de 2010. A pronúncia

foi proferida em 17 de dezembro de 2010. Apenas Bruno, Luiz Henrique, Sérgio e

Marcos Aparecido foram pronunciados no homicídio. Os réus aviaram recurso em

sentido estrito, tendo o Bruno interposto em 22 de dezembro de 2010, com razões

em 10 de março de 2011, contrarrazões em ministeriais em 22 de abril do mesmo

ano.

166 Expressão popularmente adotada. 167 Instrumento para que se execute ato processual em comarca diversa da que se processa o feito.

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Acórdão em 10 de agosto de 2011 confirmando a pronúncia de Bruno. A

defesa de Bruno apresentou as provas a serem utilizadas em plenário no dia 21 de

setembro de 2012. Foi a júri em 04 de março de 2013, tendo sido considerado

culpado, condenado a 22 anos e 3 meses.

Com os lapsos temporais trazidos acima, fica claro que o processo judicial

de Bruno Fernandes seguiu um ritmo mais acelerado a princípio e posteriormente

teve um caminho mais vagaroso. Assim, cumpre-se dizer que não está fora da

legalidade ou eticidade, tais fatos são comuns no judiciário, ainda mais quando se

fala em Tribunal do Júri, procedimento moroso, com muitas fases e muitas

peculiaridades168.

Após a pronúncia, quando decidido que o réu irá para júri popular, inicia-

se um novo procedimento, muito mais minucioso que o primeiro. Novamente as

provas são produzidas, testemunhas são ouvidas, réu é interrogado, acusação e

defesa expõem seus pontos e existe novo julgamento. Sendo que este julgamento

deve ser o mais justo e imparcial possível, descabido de qualquer apelo social, por

isso os jurados devem ficar isolados, e completamente incomunicáveis durante

todos os dias de julgamento, o que neste caso perfizeram-se mais de 04 dias, com

início em 04 de março de 2013 e findando-se na madrugada do dia 08 do mesmo

mês e ano.

6.2.2

Temporalidade no discurso Jornalístico

O principal atributo da notícia é a efemeridade. Porém, tipos de notícias

possuem tempos de vida variados. Normalmente, uma notícia simplesmente

informa um fato que ocorreu, e caso tenha importância gerará mais indagações,

curiosidade acerca do fato, interesse em ter conhecimento mais completo sobre o

fato e suas circunstâncias. O fato deixa de ser notícia quando outro mais

interessante é trazido pela mídia e rouba a atenção por ser mais novo, importante

ou emocionante169.

Sendo assim, analisa-se o fluxo de matérias e a fase em que o processo

judicial se encontrava quando esse fluxo oscilava. Dessa feita, é fácil comprovar

168 Assunto tratado no capítulo 3. 169 (Pollak, 1989).

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que, em dois momentos judiciais, as matérias tiveram uma crescente, seja a fase

de investigação policial e a fase de julgamento pelo tribunal do júri.

Nas investigações policiais, de 24 de junho de 2010 até 29 de julho de

2010, o fato era manchete em todas as principais redes de notícia, não mais se

falava em outo assunto nem mesmo na copa do mundo de futebol, redes de notícia

pela internet postavam mais que de hora em hora o que ocorria no inquérito; em

noticiários televisionados, tal fato era o que mais se enfatizava, em 27 de junho do

mesmo ano, data em que a mídia obteve as principais informações sobre o fato, no

portal de notícias da Rede Globo, o G1, o título da matéria era: “polícia investiga

desaparecimento de ex-namorada do goleiro Bruno”.

No dia 07 de julho, a exemplo, dia da prisão do goleiro, nas publicações

do portal globo.com foram demasiadamente insistentes e diligentes. Os horários e

as notícias foram respectivamente: 01:02 “MP pede prisão temporária do goleiro

Bruno”; 07:17 “Ministério Público pede prisão temporária do goleiro Bruno”;

08:07 “Advogado nega versão de menor sobre desaparecimento de Eliza”; 08:58

“Justiça do RJ decreta prisão temporária do goleiro Bruno”; 09:26 “ Polícia

prende mulher do goleiro Bruno, diz advogado”; 11:22 “Justiça de MG também

pede prisão e Bruno já é foragido”; 11:24 “Bruno é considerado foragido, diz

delegado em MG”; 11:26 “Mulher do goleiro Bruno é presa em MG, diz

advogado”; 11:28 “Policiais deixam a casa do goleiro Bruno na Zona Oeste”;

11:29 “Policiais chegam à casa do goleiro Bruno na Zona Oeste”; 12:07 “Justiça

do Rio decreta a prisão de Bruno e Macarrão no caso Eliza”; 12:08 “Advogado de

Bruno afirma que não sabe onde ele está”; 12:35 “Advogado de Bruno vai entrar

com pedido de habeas corpus”; 13:28 “MP-RJ: ex-amante de Bruno morreu por

estrangulamento”; 14:08 “Polícia mineira procura corpo de Eliza em casa”; 14:52

“Polícia chega a casa onde estaria corpo de Eliza em MG”; 15:50 “Justiça libera

busca em casa onde estaria corpo de Eliza”; 16:08 “Disque-Denúncia do Rio

recebe 15 ligações sobre localização de Bruno”; 16:46 “Polícia entra em casa

onde estaria corpo de Eliza”; 17h02 “Juiz determina internação de adolescente

primo de Bruno”; 17:05 “Delegado diz que Bruno foi indiciado como mandante

do sequestro de Eliza”; 17:14 “Bruno é indiciado como mandante do sequestro de

Eliza”; 17:26 “Sangue encontrado no carro de Bruno é de Eliza”; 17:26 “Bruno

está na polícia do Rio e vai prestar depoimento”; 17:38 “Amigo de Bruno também

se entrega e será interrogado”; 17:50 “MPRJ diz que menor afirmou que Eliza

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morreu por estrangulamento”; 17:56 “Polícia fará acareação entre Bruno e

adolescente; 18:14 “Pai de Eliza Samúdio é hospitalizado em Belo Horizonte”;

18:45 “Delegado confirma que Bruno e Macarrão se entregaram à polícia”; 18:57

“Bruno e Macarrão deixam a Polinter do Rio”; 19:14 “Polícia entra na casa em

que estaria corpo de Eliza em MG”; 19:14 “MP denuncia Bruno por sequestro e

lesão contra Eliza”; 19:15 “Justiça emite mandado de busca em casa onde estaria

corpo de Eliza”; 19:16 “Advogado negocia encontro de Macarrão com a polícia”;

19:18 “Objetos encontrados no carro de Bruno são de Eliza, diz polícia”; 19:21

“Bombeiros fazem escavação em casa onde estaria corpo de Eliza”; 19:31

“Vestígios de sangue em carro de Bruno são de Eliza, diz polícia”; 19:34 “Bruno

chega à delegacia em meio a gritos de 'assassino'”; 20:04 “Exclusivo: JN mostra

depoimento de menor envolvido no caso Eliza”; 20:29 “Buscas em casa onde

estaria corpo de Eliza são suspensas, diz delegado”; 20:50 “Pai de Eliza responde

por estupro no PR”; 20:54 “Bruno e Macarrão chegam à Divisão de Homicídios

do Rio”; 21:34 “Bruno e Macarrão serão ouvidos separadamente na madrugada”;

22:04 “Goleiro Bruno do Flamengo entrega-se para a polícia”; 22:08 “’Esperanças

dela acabaram’, diz advogada da mãe de Eliza” 22:08 “Pai de Eliza diz que ficou

aliviado com a prisão de Bruno”; 22:44 “Advogado confirma que pai de Eliza

responde por estupro”; 22:53 “Bruno nega as acusações, diz advogado que

defende o goleiro”.

Do oferecimento da denúncia até a última audiência de instrução e

julgamento da judicium acusationes170, fase que durou três meses e oito dias,

houve uma queda no ritmo de coberturas sobre o fato, mesmo sendo o processo

regado a escândalos envolvendo advogados, delegados e juízes. A primeira

audiência teve início em 06 de outubro de 2010 e a última em 12 de novembro do

mesmo ano, sendo que o fluxo de manchetes não excedia dez diariamente, porém,

quando da oitiva de Bruno, no penúltimo dia de audiência, que durou quase onze

horas, existiram doze manchetes sendo que oito delas traziam em tempo real o que

Bruno informava sobre o caso Eliza Samúdio: no portal G1, às 12:21 “Bruno nega

sequestro, mas admite agressão contra Eliza”; 13:34, “Bruno se refere à

adolescente do caso Eliza como 'psicopata'”; 16:50, “Bruno afirma que Eliza

queria segui-lo o tempo todo”; 19:08 “Bruno nega relação com desaparecimento

170 Primeira fase de julgamento de crimes dolosos contra a vida.

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de Eliza”; 20:02 “Bruno alega que se sentiu ameaçado por delegado”; 20:38

“Bruno diz que 'jogadores famosos' viram Eliza em SP”; 21:27 “Bruno diz que

tinha que 'administrar ciúmes de Macarrão'”; 22:01 “Em juízo, Bruno diz que

mentiu sobre última vez que esteve com Eliza”; 22:17 “Juíza convoca Macarrão

depois de ouvir Bruno por quase 11 horas”.

Mesmo quando da decisão de pronúncia, pouco se falava do Caso Eliza

Samúdio, no máximo se tinham três manchetes sobre o fato em qualquer que

fosse o meio de comunicação naquele dia. A partir de 18 de dezembro de 2010, a

cobertura foi diminuindo com intensidade, a ponto de possuírem, no máximo, em

um mês a mesma quantidade que existia em um dia de inquérito. Em 2011 até

outubro de 2012, apenas se falava sobre o comportamento do goleiro dentro do

ambiente prisional e dos pedidos da defesa para a sua liberdade, supostas ameaças

de morte à juíza, ao promotor e ao assistente de acusação, decisão do tribunal que

confirmou a decisão de pronúncia, sobre reconhecimento da criança, uma carta

que Bruno teria escrito ao Macarrão, morte de um dos primos do goleiro, Sérgio

Rosa Sales, que foi assassinado na Grande Belo Horizonte, especulações sobre o

paradeiro do corpo de Eliza e informações sobre o julgamento.

Em novembro de 2012, houve uma crescente, pois, até então, o julgamento

em plenário de todos os acusados seria naquela data, com início aos 19 dias

daquele mês. Novamente, as informações eram prestadas quase que de hora em

hora, ao menos nos três primeiros dias. Dia 19 de novembro de 2013: às 09:24

“Curiosos se reúnem na entrada de fórum para júri do goleiro Bruno”; 11:35

“Caso Bruno: juíza que cuida do processo tem 12 anos de magistratura”; 11:47

“Advogados de réus do caso Bruno discutem por lugar no plenário”; 11:47 “'Vai

querer saber como mãe morreu', diz avó sobre o filho de Eliza e Bruno”; 11:49

“Bruno e mais 4 réus são julgados por morte e desaparecimento de Eliza”; 11:50

“Advogados de defesa e acusação debatem teses em frente ao fórum”; 11:51 “'Eu

tenho certeza de que ele vai ser absolvido', diz tia do goleiro Bruno”; 11:52 “Caso

Eliza teve 50 defensores; Bruno vai ao júri com 3º advogado diferente”; 11:53

“Começa julgamento de acusados no caso Eliza Samúdio”; 11:53 “Mãe de Eliza

Samúdio diz confiar na 'condenação de todos os réus'”; 11:55 “Entenda como

funciona o júri popular dos cinco réus no caso Eliza Samúdio”; 11:56 “Saiba

como fica o trânsito no entorno no Fórum de Contagem durante júri”; 11:57

“Júri sem cadáver decide a partir de indícios e testemunhas; veja casos”; 12:01

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“Ex-namorada de Bruno diz confiar na Justiça e evita 'pensar no passado'”;

12:02 “Lacuna na acusação pode dividir júri do caso Eliza; conheça pontos-

chave”; 12:25 “Protesto tem cruzes com nome de mortas em crimes passionais”;

13:10 “Advogado diz que vai abandonar julgamento do caso Bruno”; 13:29

“Filha de Bola usa camisa com foto do pai e de cães, mortos em 2010”; 14:48

“Advogado de Bruno diz que não abandona a defesa do goleiro”; 15:23

“Advogados de Bola e Macarrão abandonam júri do caso Eliza”; 17:07 “Júri do

caso Eliza Samúdio é formado por seis mulheres e um homem”; 17:07 “Após

defesa de Bola abandonar júri, sessão recomeça com quatro réus”; 17:07

“Macarrão passa mal e deixa plenário a pedido da defesa para se recuperar”;

17:25 “‘Não abandonei o homem, abandonei o plenário’, diz Quaresma”; 18:32

“Réus, Macarrão e Bola, deixam Fórum de Contagem, na Grande BH”; 18:58

“Defesa de Bola comemora permanência de Macarrão no júri”; 20:39 “Dispensa

do júri do caso Eliza Samúdio provoca pesar e alívio”; 21:59 “‘Não tinha motivo

para matá-la’, diz defensor de mãe de Eliza sobre Bruno”; 22:08 “No primeiro

dia, júri do caso Eliza fica com um réu a menos e define jurados”; 22:09 “Sem

algemas, Bruno alterna risos e expressão séria durante 1º dia de júri”.

Tal fluxo prosseguira até a data em que o júri com relação a Bruno foi

remarcado, sendo que apenas dois dos acusados foram julgados naquela

oportunidade.

Após tais fatos, houve uma redução novamente sobre notícias do processo,

sendo pouco comentado, até os preparativos para a sessão de julgamento do

goleiro Bruno, que se deu em 04 de março de 2013. Tal fato apagou os holofotes

para as investigações de outra tragédia que aconteceu em Santa Catarina171,

quando uma boate foi incendiada e muitas pessoas morreram, e outro julgamento

de grande repercussão, o do Gil Rugai172 que teria sido condenado pelo homicídio

do próprio pai.

O julgamento durou pouco mais que quatro dias, tendo a sentença sido

prolatada na madrugada do quinto dia. Em 04/03/2013, primeiro dia, à 01:13

“Dois policiais civis podem estar envolvidos no caso de Eliza Samúdio”; 07:00

171 Incêndio ocorrido na Boate Kiss em Santa Maria/SC, sendo considerada a maior tragédia brasileira em número de vítima em sinistros desta natureza, ocorrido na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013. 172 Gil Rugai fora condenado em 22/02/2013 pela morte do pai e madrasta, que teria ocorrido em 28/03/2004 em São Paulo.

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“Goleiro Bruno será julgado hoje (4) em Contagem (MG)”; 07:30 “Confira os

destaques do Bom Dia Brasil desta segunda-feira (4)”; 07:30 “Bom Dia Brasil -

Edição de segunda-feira, 04/03/2013”; 07:30 “Julgamento do goleiro Bruno

começa nesta segunda-feira (4) em Minas Gerais”; 07h52 “Advogado

criminalista comenta julgamento do caso Eliza Samúdio”; 08:00 “Bruno e a ex-

mulher do goleiro já estão no Fórum de Contagem”; 08:00 “Goleiro Bruno é

levado da penitenciária para o Fórum de Contagem, em Minas Gerais”; 08:14

“Goleiro Bruno e ex-mulher vão a julgamento pela morte de Eliza”; 08:19

“Começa nesta segunda-feira (4) o julgamento do goleiro Bruno”; 09:12 “Bruno

segue para o Fórum de Contagem às 07h45”; 10:00 “Começa o julgamento do

goleiro Bruno e da ex-mulher Dayanne Rodrigues”; 10:00 “Julgamento do goleiro

Bruno deve durar entre três e cinco dias”; 10:00 “Goleiro Bruno vai a júri popular

2,5 anos depois do desaparecimento de Eliza Samúdio”; 10:00 “Atestado de óbito

pode influenciar jurados no julgamento do goleiro Bruno”; 10:19 “FOTOS: Veja

imagens do júri do goleiro Bruno em Contagem”; 11:57 ““Atestado de óbito pode

influenciar jurados no julgamento”, diz advogado”; 12:00 “Mãe de Eliza Samúdio

faz apelo ao goleiro Bruno”; 12:10 “Veja no JH: Moradores de São Paulo passam

sufoco para se deslocar pela cidade no metrô”; 12:12 “Júri sem cadáver é decidido

por indícios e testemunhas; veja casos”; 12:14 “Homem preso à cruz protesta em

fórum onde será júri do caso Eliza”; 12:15 “Lacunas podem dividir júri do caso

Eliza Samúdio; entenda pontos-chave”; 12:27 “Saiba como fica o trânsito e a

segurança para júri do goleiro Bruno”; 13:13 “Julgamento do goleiro Bruno e da

ex-mulher dele começa no Fórum de Contagem”; 13:18 “Goleiro Bruno se

emociona e chora durante júri em Contagem”; 13:20 “Jornal Hoje - Edição de

segunda-feira, 04/03/2013”; 13:20 “'Fantástico' mostra ligação de outros dois

homens na morte de Eliza Samúdio”; 13:20 “Começa o julgamento do goleiro

Bruno e da ex-mulher dele”; 13:24 “Semana começa com tempo abafado na

Região Metropolitana de Belo Horizonte”; 13:28 “Goleiro Bruno e ex-mulher,

Dayanne Rodrigues, entram no plenário para serem julgados”; 13:39 “Goleiro

Bruno chora no primeiro dia de julgamento no Fórum de Contagem”; 13:54

“Começa em Minas o julgamento do goleiro Bruno e da ex-mulher dele”; 14:00

“Goleiro Bruno fica sem testemunhas no primeiro dia do julgamento”; 14:07

“Julgamento do goleiro Bruno deve durar uma semana”; 15:39 “Bruno e ex-

mulher Dayanne vão a júri popular por morte de Eliza Samúdio”; 15:46 “Edson

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Moreira fala sobre investigação de novos suspeitos do caso Eliza”; 15:54

“Advogado de Bruno vai alegar no júri que Eliza Samúdio não morreu”; 15:55

“Assistente de acusação acredita em acordo para confissão de Bruno”; 15:57 “

Pintada de vermelho, artista aproveita caso Eliza para protesto silencioso”; 15:58

“Goleiro Bruno chega ao Fórum de Contagem para júri do caso Eliza”; 16:01

“Saiba quem são os réus do caso Eliza; Bruno e ex vão a júri em MG”; 16:02

“Entenda como funciona o júri popular do goleiro Bruno no caso Eliza”; 16:44

“Com dispensa de testemunhas, júri de Bruno deve durar até quarta, diz TJ”;

17:00 “Começa o julgamento do goleiro Bruno e da ex-mulher, Dayane

Rodrigues”; 17:00 “Globo Notícia para o G1 - Edição da tarde de 04/03/2013”;

17:16 “Assistente de acusação acredita que choro de Bruno no júri seja ‘cena’”;

17:44 “Advogado de Bruno diz que não haverá acordo para confissão”; 18:18

“Bruno chora durante júri popular que decide se ele planejou morte de Eliza”;

18:21 “Após dispensas e ausências, Bruno fica sem testemunhas no júri em MG”;

18:27 “Veja os destaques do MGTV 2ª Edição desta segunda-feira (4)”; 18:40

“Começa o júri popular de Bruno e da ex-mulher Dayanne por morte de Eliza”;

18:41 “Cinco mulheres e dois homens julgarão goleiro Bruno e ex por morte de

Eliza”; 19:13 “MP aponta policial aposentado como novo suspeito no caso Eliza”;

19:25 “Família do goleiro Bruno que mora no Piauí assiste a julgamento e o

considera inocente”; 19:40 “Movimentação é grande no Fórum de Contagem no

1º dia de julgamento do goleiro Bruno”; 19:47 “Goleiro Bruno chora durante

julgamento em Contagem (MG)”; 19:51 “Goleiro Bruno chora no primeiro dia de

julgamento no Fórum de Contagem”; 19:54 “Delegada Ana Maria Santos é a

primeira a depor no júri popular em Contagem”; 20:30 “Começa o julgamento do

ex-goleiro Bruno em Minas Gerais”; 20:32 “Falta de testemunhas pode dar

margem ao adiamento do julgamento, diz especialista”; 21:35 “Goleiro Bruno

mostra sinais de apreensão em julgamento”; 22:00 “Goleiro Bruno e sua ex-

mulher vão a júri popular em Minas Gerais”; 23:18 “No 1º dia de júri, goleiro

Bruno chora e dispensa testemunhas”; 23:30 “Goleiro Bruno chora em primeiro

dia de julgamento em Minas Gerais”.

Nos segundo, terceiro e quarto dias de julgamento, as manchetes saíam

com a mesma intensidade, porém a partir da madrugada do dia 08/03 do mesmo

ano é que houve a maior crescente, quando foi proferida a sentença, sendo que por

uma ironia do destino, foi no dia da mulher. As manchetes tiveram o seu início à

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00:00 com a seguinte chamada: “Juíza define na madrugada desta quinta-feira (8)

o julgamento de Bruno e Dayanne”; 00:58 “Jurados se reúnem para decidir pena

de goleiro Bruno e sua ex-esposa”; 02:00 “Bruno é condenado e sua ex-mulher é

absolvida”; 03:00 “Defesa de Dayanne se diz satisfeita com o resultado do

julgamento”; 03:00 “Juíza condena Bruno a 22 anos e três meses de prisão”;

03:16 “'Estou muito chateado com o resultado', diz advogado de defesa do

goleiro Bruno”; 05:30 “Bruno é condenado a 22 anos e três meses de cadeia”;

06:30 “Bruno é condenado a 22 anos e três meses de prisão”; 07:00 “Júri

considera Bruno como o mandante do assassinato de Eliza Samúdio”; 08:02

“Bruno é condenado a 22 anos e 3 meses de prisão pela morte de Eliza”; 08:05

“Advogado criminalista analisa veredicto final do julgamento do caso Eliza

Samúdio”; 08:16 “Advogado fala das possibilidades de redução do tempo de

cárcere de Bruno”; 09:03 “Goleiro Bruno é condenado a 22 anos de prisão e

Dayanne é absolvida”; 09:03 “Ex-goleiro Bruno condenado a 22 anos de prisão

pela morte da ex-amante”; 09:12 “Ex-goleiro Bruno é condenado a 22 anos por

assassinato de Eliza”; 09:12 “Ex-goleiro Bruno é condenado a 22 anos por

assassinato de Eliza”; 09:57 “Chega ao fim julgamento do goleiro Bruno e da ex-

mulher Dayanne Rodrigues”; 10:00 “Mãe de Eliza Samúdio diz que vai recorrer

das sentenças do julgamento”; 10:00 “Especialista comenta resultado do

julgamento do goleiro Bruno”; 10:19 “Anúncio polêmico cita goleiro Bruno para

homenagear mulheres”; 10:58 “Fotos: julgamento do caso Eliza Samúdio em

MG”; 12:00 “Veja os destaques do Bom Dia Minas desta sexta-feira (8)”; 12:02

“Mãe de Eliza Samúdio quer pena maior para ex-goleiro Bruno”; 13:20 “Goleiro

Bruno é condenado a 22 anos pela morte de Eliza Samúdio”; 13:20 “Veja no JH:

Goleiro Bruno é condenado a 22 anos e três meses de prisão”; 13:29 “De cabeça

baixa, Bruno ouve sua sentença.”; 14:35 “Goleiro Bruno é condenado a 22 anos

pela morte de Eliza Samúdio”; 14:55 “Goleiro Bruno pode obter semiaberto 2

anos depois de Macarrão”; 15:01 “Goleiro Bruno é condenado a 22 anos e 3

meses; ex-mulher é absolvida”; 15:14 “Mãe de Eliza acredita que Justiça nunca

dará guarda do neto a Bruno”; 15:38 “Advogado diz que Bruno recebeu bem

notícia de condenação”; 15:41 “Promotor diz que vai recorrer para tentar pena

maior para Bruno”; 15:46 “Juíza acertou na fixação da pena de Bruno, avalia

integrante da OAB-MG”; 15:49 “Criminalista avalia condenação do goleiro

Bruno e detalhes do júri”; 15:50 “Quaresma afirma que houve acordo para

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redução de pena de Bruno”; 15:51 “Ex-advogado diz que Bruno nunca admitiu

morte de Eliza para ele”; 15:52 “Para mãe de Eliza Samúdio, justiça foi

‘parcialmente’ feita”; 15:54 “Bruno é condenado a 22 anos e 3 meses de prisão

pela morte de Eliza Samúdio”; 16:00 “Bruno poderá sair da prisão em três anos”;

16:01 “Promotor diz que Bruno pagou R$ 70 mil a Bola para matar Eliza”; 17:00

“Promotores querem que pena de Bruno seja aumentada”; 17:50 “A cada hora,

dez mulheres denunciam agressões pelo Ligue 180”; 19:06 “'Esse é o cara', diz

delegado do caso Eliza Samúdio sobre Bola”; 19:10 “Defesa recorre de sentença

que condenou Bruno a mais de 22 anos”; 19:42 “Advogados de defesa e acusação

não ficaram satisfeitos com a sentença do goleiro Bruno”; 21:18 “Bruno é

condenado a 22 anos, mas poderá voltar às ruas em cerca de 3”; 22:00 “Defesa e

acusação estão insatisfeitas com pena imposta ao goleiro Bruno”.

6.2.3

Comparação das temporalidades processual e midiática

Após detida análise nos ritmos em que imprensa e judiciário atuaram no

caso em questão, é notório que grande parte das notícias sobre o fato se deram em

uma fase em que ainda não havia o que se falar em processo judicial, seja a fase

de inquérito policial.

Após o recebimento da denúncia, quando tem início o processo judicial, as

notícias continuaram, mas em um ritmo bastante inferior, e à medida que o

processo marchava, as manchetes eram reduzidas, até um ponto em que não mais

era notícia, seja porque a imprensa já dera seu veredicto condenando socialmente

e moralmente Bruno, seja porque, durante as instruções processuais reafirmavam-

se as provas já produzidas em fase policial.

As notícias apenas voltaram a ser lançadas em grande número no dia do

julgamento pelo Tribunal do Júri, pois, nele se confirmaria o que a imprensa já

relatara.

Quanto à ênfase dada à fase policial, conclui-se que é tratada dessa forma

por ser a fase mais próxima ao acontecimento do delito, quando ainda estava

“ardente” o crime, e ainda quando da prisão dos acusados173, por isso atende

173 (Nucci, 2008, p. 102)

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melhor os requisitos de noticiabilidade jornalística, e ainda, aplica-se

completamente às necessidades organizacionais dos jornalistas em que

rotineiramente deve produzir notícia174.

Importante salientar que tanto a polícia quanto a imprensa são

independentes, ou seja, atuam per si, com meios próprios, desconhecidos do

público em geral, para que seja demonstrada a culpa dos que praticaram a conduta

ilícita. Também isto faz com que a imprensa dê maior atenção ao ocorrido em fase

policial que o acontecido em fase processual.

Ainda, principalmente por haver uma exigência por meio da população, e

porque a polícia exerce um papel de repressão e prevenção à prática de crimes e

violência, a fim de manter a ordem pública, aquela deve dar uma prestação de

contas, e o faz pela imprensa. Dessa forma, além da prestação de contas, a polícia

ganha apoio popular. Como uma via de mão dupla, a imprensa também precisa da

polícia como fonte de notícias, assim, as meras evidências colhidas como provas

policiais se transformam em “fatos”, antes mesmo que sejam consideradas provas

processuais.

A produção de prova processual é feita perante dois preceitos legais, sejam

o contraditório e a ampla defesa. As provas são questionadas e contraditadas a fim

de medir a sua veracidade e a confiabilidade, além de que é imperativo que se

juntem provas em contrário. Tendo em vista o imediatismo em que a imprensa

labora, não pode esperar para que sejam tais indícios degustados pelo judiciário.

Assim, a imprensa reproduz somente as conclusões policiais do fato.

A Imprensa volta os seus olhares para um potencial delito como um fato

de imenso valor noticioso, assim, o jornalista se interessa por divulgar o fato de

forma mais detalhista possível, e mais dramática, a fim de prender o seu público.

Como se estivesse sendo escrita, dia após dia, uma verdadeira estória. O jornalista

se vê como alguém que revela ao público algo ocultado dele, e que se não fosse

ele, nunca saberia. Como um personagem necessário, o jornalista elabora, a cada

manchete, um espetáculo, e assim, julga, acusa, penaliza, para que sejam

caracterizados os seus personagens.

Dessa feita, os casos de julgamento antecipado, denúncias descabidas,

violação de direitos e garantias fundamentais, antes mesmo de se falar em invasão

174 (Tuchman, 1980)

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por parte da imprensa em casos de competência exclusiva do judiciário, são a

resposta da comunicação e da relação entre dois sistemas diversos de produção de

verdade. Ao tratar do assunto, a imprensa dá maior valor ao inquérito policial que

ao processo judicial propriamente dito, pelo que inverte o sentido da marcha em

que a verdade jurídica é alcançada.

6.3

Dimensão Discursiva Jurídica

As exposições tratadas acima trazem uma série de conclusões sobre a

relação estabelecida entre a Imprensa e o Judiciário. É notória essa relação,

quando se demonstra o papel político que a Imprensa adotou no nosso país. Resta

claro que a imprensa não tem a intensão pura de tratar de justiça, mas de

reanalisar o fato de forma a exercer o seu papel.

Por ser técnico, o discurso jurídico tem prévia descrição legal. Ao

contrário, o discurso jornalístico deve ser o mais simples possível para que se

torne inteligível, pelo que se baseia em um “código” genérico175 em que somente

se prima pela narrativa. Isto é importante para o trabalho em questão, pois será

demonstrado que o jornalismo apropriou-se do discurso jurídico quando da

reconstrução no suposto assassinato da Eliza Samúdio pelo goleiro Bruno.

Conforme o princípio penal da intervenção mínima, principalmente por

envolver moral e liberdade, o direito penal somente deve tutelar os bens de maior

relevo, aqueles mais importantes à vida social, como, por um exemplo, a vida.

Para tanto, utiliza-se se preceitos primários e secundários do tipo penal, sejam a

descrição da conduta como delituosa e posteriormente a aplicação da pena

correspondente a ele. Sendo assim, a pena equivale a uma conduta coercitiva

àqueles que burlam um mandamento estatal para a proteção social.

Ademais, o Direito Penal possui um caráter subsidiário, também

tecnicamente chamado de ultima racio176, e somente pode ser acionado quando os

demais ramos do direito, seja civil, constitucional, administrativo, empresarial,

175 No sentido de serem normas pré-fixadas. 176 O Direito Penal, como última razão somente será invocado quando não se puder, de qualquer outra forma, resolver o conflito.

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tributário e outros, não são hábeis a fazer a repreensão dessa conduta e não trazem

a solução para a questão.

Nas palavras de Beccaria, no capítulo XLII de sua obra intitulada Dos

Delitos e Das Penas, dizia, “Para que cada pena não seja uma violência de um ou

de muitos contra um cidadão privado, deve ser essencialmente pública, eficaz,

necessária, a mínima das possíveis nas circunstâncias dadas, proporcionada aos

crimes, ditada pelas leis.”177.

Essas são as concepções clássicas do Direito Penal, que historicamente se

obtevem por uma resposta burguesa contra a dureza do sistema penal

absolutista178.

Porém, na década de 90, passou-se a primar por outro modelo de direito

penal no Brasil, completamente contrário ao modelo clássico, sendo que passou a

ser simbólico, promocional, completamente intervencionista. Foi promovido pela

chamada “esquerda punitiva” 179 do Legislativo brasileiro nesse decurso de tempo.

Isso fez com que o Direito Penal perdesse a sua característica subsidiária e

mínima, tornando-se imediatista, espetacularista e primário. Estudiosos do Direito

Penal chamam de Direito Penal Simbólico, que fora dissipado pela “esquerda

punitiva”, no movimento denominado “de Lei e de Ordem”. Nele patenteava-se a

criação de novos tipos penais e o aumento excessivo das penas como forma de

prevenir os delitos. Nesse ínterim foram criadas algumas leis, como: a Lei nº.

8.072/90, Lei de Crimes Hediondos, e a Lei nº. 9.034/95, Lei do Crime

Organizado entre outras180.

Analisadas as abrangências do Direito Penal, passemos à análise de crime.

Os adeptos da teoria tripartite181 (maior corrente) entende como crime um fato

típico, antijurídico e culpável. O agente pratica um fato que leve a um resultado

descrito previamente como crime, não está sob nenhum ato legitimado pelo

Estado, e estava em condições de entender estar praticando fato proibido, gerando

assim o dever do Estado de puni-lo182.

Os crimes são classificados a partir do bem jurídico em que tutelam,

como, por exemplo, o Código Penal que possui a seguinte disposição em títulos:

177 (2008, p.143) 178 (Batista, 1996, p.84) 179 (Karam, 1998) 180 (Batista, 1996, e Karam, 1998) 181 Teoria que adota como conceito analítico de crime o fato típico, anti-jurídico e culpável. 182 Aplicação do jus puniendi estatal.

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crimes contra a pessoa art. 121 ao 154, crimes contra o patrimônio art. 155 ao

183, crimes contra a propriedade imaterial, art. 184 ao 196, crimes contra a

organização do trabalho, art. 197 ao 207, crimes contra o sentimento religioso, art.

208 ao 212, crimes contra a dignidade sexual, art. 213 ao 234, crimes contra a

família, art. 235 ao 249, crimes contra a incolumidade pública, art. 250 ao 285,

crimes contra a paz pública, art. 286 ao 288, crimes contra a fé pública art. 289 ao

311, crimes contra a administração pública art. 312 ao 359.

No presente feito reza-se por um crime contra a pessoa, o que, nesse caso,

é de maior interesse. Sendo assim, estes são os crimes contra a vida: as lesões

corporais, os crimes da perclitação da vida e da saúde, a rixa, os crimes contra a

honra e os crimes contra a liberdade individual. Aqui, ainda se atenha aos crimes

contra a vida.

São, pelo Código Penal Brasileiro, crimes contra a vida, o homicídio em

todas as suas formas, induzimento, instigação, ou auxílio ao suicídio, infanticídio

e o aborto. Dentre estes, somente são de competência para julgamento pelo

Tribunal do Júri, os dolosos, ou seja, aqueles que o agente possuía a intenção livre

e consciente de fazê-lo ou assumiu o risco que tal resultado fosse produzido.

Ainda, apenas interessa ao presente feito o delito de homicídio, que pode

ser compreendido como “ocisão da vida de um homem, por outro homem”183.

Existem três formas do homicídio doloso, sejam: a simples, tratada do caput do

artigo, com pena de 06 a 20 anos; a chamada de privilegiada, tratada do parágrafo

primeiro do mesmo artigo, com uma redução de pena entre um sexto a um terço

sobre a pena do caput; e a forma qualificada tratada no parágrafo segundo com

todos os seus incisos, cuja a pena é de 12 a 30 anos. O homicídio culposo estampa

o parágrafo terceiro do artigo 121 do Código Penal e não é de competência do

Tribunal do Júri.

Sobre a pena do homicídio pode incidir a causa de diminuição denominada

privilégio se o delito for praticado por: relevante valor social, quando se prima por

um interesse da coletividade; relevante valor moral, quando o valor, embora seja

individual, levando-se em consideração o interesse do agente, é importante; ou

quando for praticado sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida injusta

provocação a vítima, quando o agente, completamente perturbado afetivamente,

183 (GRECCO, 2012, p.274)

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no “calor” da emoção, pratica a ação, após a vítima ter incorrido em mera

provocação injusta.

O homicídio é qualificado quando nas suas circunstâncias estão presentes

as características descritas nos incisos do parágrafo segundo do artigo 121 do

Código Penal, sejam: I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro

motivo torpe; II - por motivo fútil; III - com emprego de veneno, fogo, explosivo,

asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo

comum; IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso

que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; V - para assegurar a

execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime.

A primeira forma qualificada é o motivo torpe, sendo o motivo abjeto que

causa repugnância, nojo, sensação de repulsa pelo fato praticado pelo agente. É o

motivo reprovável moralmente, como a exemplo da paga e a promessa de

recompensa para a prática do crime.

Já o motivo fútil é aquele insignificante, fazendo com que a conduta do

agente seja desproporcional do ponto de vista de um homem médio. Como

exemplo, matar alguém que negue a entregar um copo de água.

O meio insidioso é aquele utilizado sem que a vítima tome conhecimento;

o meio cruel, aquele que causa sofrimento desnecessário à vítima; e o perigo

comum abrange um número indeterminado de pessoas.

A traição traduz-se em enganação; emboscada é também conhecida como

tocaia; dissimulação é quando a pessoa oculta a intenção homicida a fim de

facilitar o seu intento; ou qualquer meio que torne diminuída a forma de defesa do

indivíduo, como a exemplo matar quem dorme, ou quem está amarrado.

Quando se fala em assegurar a execução, ocultação, impunidade ou

vantagem de outro crime, tem por bem, ressalva-se que deve haver uma relação

do homicídio com outro delito, que pode ser outro delito de homicídio. Importante

salientar que, ao contrário do senso comum, a premeditação não qualifica o delito

de homicídio em si, podendo o juiz, ao aplicar a pena, observá-la. No que se

refere ao procedimento imprimido ao processamento judicial desses delitos, é

matéria processual penal. O Direito Processual Penal, assim como o Direito Penal,

é um ramo do direito público. Traz em seu bojo regras de procedibilidade,

marcha, e fim de um procedimento penal. Expondo, por isso, sobre as provas que

podem ser utilizadas nele.

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Para que haja a responsabilização de alguém por alguma prática tida como

criminosa, é necessário que durante um trâmite processual haja a colheita das

provas a fim de garantir uma punição correta e necessária, com provas concretas

de que o fato delituoso ocorrera realmente e que o acusado fora realmente o autor

do delito, ou seja, provas cabais de materialidade e autoria delitivas. Essa busca

pelas provas é incessante para que o juiz se convença do ocorrido para no

processo jugar com maior justeza, isto é a chamada busca pela verdade real dos

fatos.

Mesmo que no ponto 2.1 tenha-se explanado sobre a produção de prova

em processo Penal, mister se faz que esse assunto volte a comento, com a vertente

trazia a matéria aqui explanada. É na instrução processual que são colhidas as

provas, podendo elas serem produzidas pelas partes, por terceiros (no caso de

testemunhas, peritos, ...) ou pelo próprio juiz, em caso de dúvidas, a fim de chegar

a uma conclusão do que deveras ocorreu. Desta feita, provar e demonstrar a

verdade dos fatos é produzir uma certeza na consciência do julgador sobre a

materialidade do fato ou autoria delitiva, ou ainda sobre a existência de alguma

situação de relevo para a decisão judicial ou a resolução do processo.

Dentro de um processo penal, além da determinação do fato criminoso e

sua autoria, ainda existem circunstâncias que podem influenciar a

responsabilização penal de alguém, bem como na aplicação da pena. São essas as

circunstâncias, de ordens objetivas e subjetivas, como, por um exemplo, uma

legítima defesa, ou mesmo um privilégio. Por causa disso tudo, deve ser analisado

dentro do procedimento penal.

Com relação às provas, do latim probatio e probus, ideia de verificação,

exame, aprovação, ou confirmação, ideia de busca do conhecimento verdadeiro184.

Dentro do processo penal, há uma distinção entre prova e elemento informativo.

Prova é aquela colhida sob o crivo do contraditório e ampla defesa, ou seja,

durante o curso processual, e com a participação das partes e na presença de um

juiz. O elemento informativo é colhido em fase de investigação, sem a

necessidade de presença das partes, por isso não possui o mesmo valor.

As provas podem inclusive ser classificadas em diretas e indiretas. As

diretas são aquelas que dão conhecimento sobre o fato a partir de uma única

184 (LIMA, 2012, p. 819)

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operação inferencial, como, por exemplo, a testemunha que alega ter presenciado

o fato, o documento que comprova as alegações. Já as indiretas são aquelas

colhidas por no mínimo duas operações inferenciais, como, por exemplo, a

testemunha que viu o acusado sair do local com uma arma de fogo e a roupa suja

de sangue, mas não presenciou os disparos185.

As provas também podem ser classificadas reais ou pessoais. São reais as

provas documentais e materiais, como, por um exemplo, os laudos, auto de corpo

de delito, objetos para a prática do crime etc. São pessoais as que trazem

conhecimento de um sujeito, como exemplo a testemunha, o perito, o

reconhecimento, a acareação, o interrogatório do réu etc.

Como o princípio que vigora essa produção é o da busca da verdade real

dos fatos, não pode haver limitação dos meios de prova, pois a finalidade do

processo é o bem social e o interesse público, sendo que a obtenção dessa verdade

caminha para uma maior justeza na aplicação da lei. Sendo assim, não existe um

rol taxativo de provas, mas sim um exemplificativo, nos artigos 158 a 250 do

Código de Processo Penal.

Tendo em vista a determinação constitucional da presunção do estado de

inocência, e que o ônus da prova incumbe a quem alega, apresentada a denúncia,

pelo Ministério Público, este deve provar a materialidade do fato e a autoria

delitiva, bem como todas as circunstâncias por ele trazidas na inicial, seja causa

de aumento de pena, agravante, ou qualificadora.

À defesa cabe a demonstração de que os fatos não se deram como na

acusação ou sobre a existência de excludentes de tipicidade (erro de tipo, coação

física, princípio da insignificância e da adequação social, e teoria da atipicidade

conglobante), ilicitude (legítima defesa, estado de necessidade, exercício regular

do direito e estrito cumprimento do dever legal), culpabilidade (menor idade do

agente, doença mental, embriaguez, erro de proibição, coação moral irresistível e

obediência hierárquica) ou o afastamento da punibilidade (morte do agente;

anistia, graça, indulto; pela retroatividade de lei que não mais considera o fato

como criminoso; pela prescrição, decadência ou perempção; pela renúncia do

direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada; pela

retratação do agente, nos casos em que a lei a admite; pelo perdão judicial, nos

185 Idem (p.826)

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casos previstos em lei), bem como as minorantes, sejam causas de diminuição de

pena, atenuantes e privilégios.

A defesa também tem o dever de provar sobre a falta de materialidade do

fato, e as causas subjetivas em favor do réu. Porém, restando dúvidas quanto a

qualquer circunstância ou elemento do fato, prevalece a presunção do estado de

inocência e o in dubio pro reo, onde o réu deverá ser tido como inocente.

Passe-se então à análise de alguns dos meios de prova em específico. O

Código de Processo Penal elenca alguns desses meios em direito admitidas,

porém nesse atém-se apenas a examinar, mesmo que rapidamente, algumas, como

o interrogatório, as provas testemunhais e os exames de corpo de delito e outras

perícias.

O exame de corpo de delito é feito em todos os vestígios deixados pela

infração penal, não apenas no cadáver proveniente de um homicídio. O exame do

corpo de delito é uma espécie de perícia, sendo a mais importante do processo

penal. Mas não é a única, visto que pode haver, por exemplo, um exame de

sanidade mental do réu.

A perícia é produzida por pessoa com conhecimento técnico ou científico

nos vestígios deixados pela infração para a comprovação de materialidade,

autoria, circunstâncias ou condições do delito. Elas podem ser determinadas pela

autoridade que conduz o procedimento, ou seja, pelo delegado de polícia durante

o inquérito ou pelo juiz durante o processo, ou até mesmo requerida pelas partes.

Existem no direito penal os delitos que deixam vestígios186 e os que não

deixam, como, por exemplo, o crime de calúnia. Nos que deixam, o Código de

Processo Penal obriga que haja o exame de corpo de delito para que haja prova da

materialidade do fato, conforme artigo 158. Porém, caso essas provas

desapareçam, pode ser suprido pelos depoimentos testemunhais, conforme artigo

167187.

O Código de Processo Penal não prevê prazo para a feitura desse exame,

porém traça regras para a elaboração, principalmente quando se refere ao exame

cadavérico, trazendo algumas exigências, como a necessidade de fotografias no

encontro do cadáver.

186 Chamados de crimes não transeuntes (GOMES, 2007. p. 531). 187 Auto de corpo de delito indireto, vide ponto 8.1.

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Com relação ao interrogatório, é o momento processual por meio do qual o

juiz ou delegado ouve o acusado sobre a acusação que lhe é feita na denúncia ou

notícia do crime e sobre algumas informações subjetivas.

Todos os atos processuais são públicos, para que seja garantido inclusive

ao réu que os seus direitos serão respeitados e as provas serão colhidas de forma

legal, com algumas exceções previamente trazidas na lei, conforme artigo 5º, LX,

cumulado com artigo 93, IX da Constituição Federal188.

O interrogatório é personalíssimo, ou seja, somente o réu pode prestá-lo,

pessoalmente. Em fase judicial, deve ser prestado para um juiz, porém as partes

podem intervir também fazendo perguntas por meio dele, por força do princípio

do contraditório judicial. O réu não é obrigado a dar nenhuma informação sobre o

fato e pode permanecer em silêncio durante seu interrogatório, sem que isso seja

utilizado contra si, conforme artigo 5º, LXIII da Carta Magna.

Por força do mesmo artigo é dada ao réu a autodeterminação, ou seja, não

pode haver nenhum meio que o obrigue a expor sobre seus atos de forma diversa

da pretendida por ele. E, por esses motivos, além de um meio de prova, o

interrogatório também é tido como meio de defesa, eis que o Magistrado pode

servir-se de elementos colhidos nele para tirar conclusões sobre o fato. O réu pode

também negar-se a se expressar ou até mesmo negar a verdade pelo princípio

nemo tenetur se detegere189.

A confissão é a aceitação por parte do réu da imputação do ilícito penal

que lhe é feita, perante a autoridade policial ou judicial. É conhecida como

testemunho duplamente qualificado, pois é maléfico aos interesses de quem

confessa, no campo de vista objetivo e do ponto de vista subjetivo, vem do

próprio acusado e nunca de outrem.

Para que seja válida a confissão, é necessário que se façam presentes

alguns requisitos: deve ser feita perante autoridade competente; ser livre,

espontânea e expressa; versar sobre o fato principal; ser verossímil; ter

compatibilidade com as demais provas processuais. Em ditado popular é a rainha

das provas, o que não ocorre no processo penal, visto que se dissociada das

características acima expostas não obtém nenhuma validade, conforme artigo 197

do Código de Processo Penal.

188 Vide ponto 2.1. 189 Princípio que se traduz em: ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo.

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Ainda detém outras características, a confissão é retratável, ou seja, pode a

versão dos fatos ser modificada pelo acusado, e é divisível, ou seja, o acusado

pode confessar um fato e negar cometimento do outro, ou confessar todos os

delitos a ele atribuídos, bem como negar circunstâncias dos fatos.

Com relação à prova testemunhal, é mister esclarecer que testemunha é

uma pessoa desinteressada, capaz de depor perante autoridade sobre os fatos que

deram início ao ato processual, com informações percebidas por seus sentidos, e

que interessam à resolução de certa demanda. Assim, a prova testemunhal tem

como objetivo trazer ao processo dados que derivam do sistema sensorial da

pessoa que é intimada190 a depor.

Qualquer pessoa pode ser ouvida como testemunha, desde que possua

capacidade física para tanto, a incapacidade jurídica é irrelevante. Pode servir

como testemunha até mesmo os menores de 18 anos ou doentes mentais, desde

que tenha capacidade de interlocução.

Algumas são as principais características das provas testemunhais, como a

judicialidade (deve ser produzido perante uma autoridade judicial), oralidade

(deve ser prestado oralmente), objetividade (não pode emitir nenhum juízo de

valor, somente deve-se ater aos fatos, salvo circunstâncias processuais),

retrospectividade (somente sobre fatos passados e nunca a fatos futuros), e

individualidade (são ouvidas separadamente, evitando que as que já foram

ouvidas tenham contato com as que não foram).

Contrariamente ao tratado no interrogatório, a testemunha não tem o

direito de permanecer silente ou de faltar com a verdade sobre os fatos, salvo

algumas exceções191, pois a testemunha deve cumprir com a obrigação de

contribuir para a resolução do ato processual. A testemunha que não se faz

presente, mesmo que intimada ao ato processual, é conduzida coercitivamente à

presença do juiz. E além, a testemunha que mentir pode responder pelo delito de

falo testemunho (artigo 342 do Código Penal).

O depoimento testemunhal tem a natureza jurídica de prova,

principalmente por conta do compromisso que a testemunha presta em dizer a

verdade, e ante o contraditório judicial, em que as partes estarão presentes, e por

190 Chamada a um ato processual. Tratando-se de testemunha, tem o dever de comparecer, sob pena de responder pelo delito de desobediência, ou ser conduzida coercitivamente ao ato. 191 “Pessoas que em razão de função, ministério, ofício ou profissão, devam guardar segredo”. Vide artigo 207 do Código de Processo Penal.

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força do cross examination podem fazer as perguntas para as testemunhas

diretamente.

O reconhecimento é outro meio de prova, no qual uma pessoa identifica

outra pessoa ou objeto como já visto, perante autoridade policial ou judiciária,

respeitados procedimentos legais.

Conforme artigo 226 do Código de Processo Penal, primeiramente, a

pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada a descrever a pessoa

ou coisa que deva ser reconhecida. Após, a pessoa ou coisa, cujo reconhecimento

se pretender, será colocada, se possível, ao lado de outras que com ela tiverem

qualquer semelhança, convidando-se quem tiver de fazer o reconhecimento a

apontá-la.

Ainda outro meio probatório é a acareação. Ela é feita quando houver uma

divergência quanto informações prestadas por dois ou mais acusados,

testemunhas, ofendidos, já ouvidos, confrontando-as a fim de que seja obtido o

convencimento por parte do julgador sobre a verdade dos fatos. Acarear é pôr em

presença uma da outra, face a face, as pessoas que divergem em suas declarações.

Também do mesmo modo do reconhecimento, a acareação tem procedimento

trazido em lei. Porém, entende-se que ela dificilmente leva à solução de

divergência entre os relatos, sendo assim, que ela detém pouca eficácia.

Feitos tais apontamentos, conclui-se primeiramente que o discurso jurídico

é técnico e completamente científico, eis que advém de estudos pré-feitos, além de

que são exaustivamente tratados em textos legais, mesmo que mutáveis, ante a

constante alteração social e histórica, porém, mesmo assim, são estabelecidos

anteriormente ao fato tratado como delituoso.

A explicação para tamanha precisão e rigor, conforme já tratado, é

proveniente do princípio da subsidiariedade, em que o direito penal protege

somente os bens jurídicos de maior relevo. Também explica-se pelos princípios da

humanidade da pena192 e da presunção do estado de inocência193, eis que a

penalidade deve ser imposta somente quando houver certeza quanto ao delito e a

sua autoria. E a lei exigir uma condenação, a pena deve ser proporcional ao mal

192 Tal princípio está embasado no artigo 5º, XLVII, da Constituição Federal: “não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis.” 193 Princípio também estampado na Constituição Federal, artigo 5º, LVII: “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”.

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causado. Ainda levando em consideração que apenar criminalmente implica em

cercear a liberdade de outrem, que é um bem jurídico de grande importância.

Por ser um discurso pautado na busca constante à verdade real dos fatos, é

predominantemente documental, dando mais valor às provas materiais, sejam

dados objetivos, como as perícias, exames de corpo de delito, laudos, ou

subjetivos, como os depoimentos testemunhais.

6.4

Dimensão Discursiva Jornalística

Para alcançar o público, os jornalistas utilizam-se de um discurso que seja

compreensível por uma massa diversificada. Para tanto, parte-se do pressuposto

que se utiliza da narrativa.

Sendo assim, a narrativa não é vista apenas como forma de interpretação,

mas como uma arma poderosíssima. É por meio dela que os jornalistas se

legitimam autoridades morais e reais sabedores da realidade, articulam, reforçam

e constroem valores morais com a intensão de distinguir o que é certo do

errado194.

Assim, examina-se como os jornalistas se valeram dessa autoridade moral

no Caso Eliza Samúdio, utilizando-se da narrativa para dar sentido ao conjunto de

fatos que desencadeariam na morte de Eliza. Isoladamente, tais fatos não

formariam o melodrama tão bem quisto pela mídia, e que é o mais aceito pelo

público em geral.

A cobertura do caso em tela demonstra o exposto acima, não somente pelo

geral sentimento de indignação popular, mas também pelo suposto mandante do

delito se r uma celebridade internacionalmente conhecida.

Para dar um sentido ao acontecimento, os jornalistas utilizaram de uma

narrativa que negritava uma natureza monstruosa da situação e explicava

atribuindo a Bruno Fernandes essa natureza. Acompanhava-se cada passo durante

as investigações, processo, julgamento e até o cumprimento da pena. Tal

cobertura foi criada através de um perfil psicológico dos envolvidos na trama, e

não em dados processuais.

194 (Ettema e Glaser, 1998)

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Para melhor compreensão do tema proposto, é necessária uma análise

mais perfunctória acerca de narrativa e suas estruturas, além de sua utilização no

discurso jornalístico aplicado ao Caso Eliza Samúdio. Fazem-se tais análises no

Capítulo 6.

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