5ª edição da newsletter do centro interpretativo do património da afurada
DESCRIPTION
No mês de março o destaque vai para as indústrias que marcaram presença no lugar da Afurada. Com a pesca como principal atividade económica, outros equipamentos e serviços nasceram para esta população e seus arredores.TRANSCRIPT
-
Afurada | ncora de IdentidadesCentro Interpretativo do Patrimnio da Afurada
5 Edio da newsletter do CIPA |Mensal | Maro 2015
Retratos da histria
3
Divulgao
4
Patrimnio(s)
2
Centro muito exemplicativo da vida da Afurada, da sua gente. O patrimnio deve
mostrado e guardado para o futuro. ParabnsTestemunho de Rui Ferreira Leite | livro de honra do CIPA, acessvel a todos
A 5 edio da publicao mensal do CIPA, pretende realar a importncia de algumas indstrias
no lugar da Afurada. O facto de ter a atividade piscatria como principal meio de desenvolvimento
econmico, social e cultural, obriga ou potencia a criao de novos equipamentos e novos servios.
Entre eles a indstria conserveira, Fbrica de Conservas Manuel Pereira Jnior,(Imagem de capa)
sobre a qual recai a nossa ateno com uma entrevista feita a Justina Oliveira, uma antiga funcionria
da fbrica. Nesta entrevista, iremos procurar relatar quais seriam as atividades e o ambiente vivido
durante as horas de trabalho.
Por outro lado, a Afurada no foi alheia a uma das indstrias mais representativas do concelho.
A cermica. Nesta rbrica, Nisa Flix, estudante da Faculdade de Letras da Universidade do Porto,
baseada na consulta de alguma bibliografia tece algumas consideraes sobre o assunto.
Poder conhecer melhor as realidades abordadas nesta edio numa visita ao CIPA onde dispe de
vrios recursos audiovisuais e um alargado nmero de peas expostas.
-
Neste grupo estavam pois os proprietrios
das principais fbricas de cermica de Vila
Nova de Gaia e do Porto, que ao comprarem
o terreno em questo pretendiam suprimir
a produo deste pequeno concorrente.
Uma segunda tentativa de implementao
nos terrenos da Afurada de uma fbrica de
cermica, ocorreu desde 1802, por parte
de Teixeira Pinto e Rebelo e de Joaquim
Teixeira e Sousa. Estes dois pretendiam
abrir uma fbrica de loua grossa,
semelhante quela produzida em Coimbra,
produto no produzido nas restantes
fbricas. A Junta do Comrcio nega-lhes a
licena de construo, dando como
justicao o facto de estes se quererem
apoderar do forno de cal que existia na
zona, construdo sob alada de Francisco
Almada Mendona. No existindo mais
notcias, cr-se que no passou de uma
tentativa fracassada.
No incio do sculo XX, em 1914, houve
uma outra tentativa de implementao fabril
na Afurada, empreendimento que no
passou do projeto. Foi Manuel Marques
Gomes, de Canidelo, quem requereu
autorizao para a construo de uma
f br ic a de produtos cerm icos ,
nomeadamente materiais de construo. No
projeto, a fbrica, de espaosas naves e
estrutura leve, seria estabelecida a mais de
300m das habitaes, como a lei impunha,
num cais junto ao rio Douro, de forma a
beneciar das facilidades de transporte.
Atualmente resta a memria de uma
indstr ia , projetada num ed if c io
denominado Cais do Cavaco.
Notas bibliogrcas:SOEIRO, Teresa [et. al.] A cermica portuense: Evoluo
empresarial e Estruturas edicadas. Portugalia. Nova
Srie, Vol. XVI, 1995, pp. 203-204.
MUSEU NACIONAL DE SOARES DOS REIS Itinerrio da
Faiana do Porto e Gaia. MNSR: Porto, 2001, pp. 82-83
MUSEU NACIONAL DE SOARES DOS REIS Itinerrio da
Faiana do Porto e Gaia, p. 82
SOEIRO, Teresa [et. al.] A cermica portuense: Evoluo
empresarial e Estruturas edicadas, p. 276
MUSEU NACIONAL DE SOARES DOS REIS Itinerrio da
Faiana do Porto e Gaia, p. 83
CIPA | 2
Patrimnio(s)
sob o clima pombalino que se assiste ao
despontar da indstria de cermica nas
cidades do Porto e em Vila Nova de Gaia,
fenmeno que cresceria durante o sculo
XIX. Este desenvolvimento cou a dever-se
procura originada pela expanso urbana
que necessitava agora de diversos materiais
de construo e de decorao exterior,
levando criao do plo cermico de Vila
Nova de Gaia, onde se situavam as fbricas
de cermica da Afurada. Foram diversas as
tentativas de implementao de fbricas de
cermica na Afurada. Contudo, parte
aquelas que nunca sairiam do projeto, as
restantes estavam desde o seu incio
condenadas ao fracasso.
Foi em 1789 que se ergueu a primeira
fbrica no Lugar de Lazareto, impulsionada
por Joaquim Ribeiro dos Santos. Durante
as invases francesas foram suspensos
todos os trabalhos e s em 1830 tornaria
a laborar, mas nunca atingindo grandes
dimenses. Novamente fechada por um
curto perodo, em 1867, um novo
proprietrio, Albino Maximiano Gomes de
Almendra, de Vilar do Paraso, em sociedade
com Manuel Rodrigues, este de Coimbres,
tentaria reabrir a respetiva fbrica. O
primeiro seria o scio capitalista, enquanto
o segundo ajudava com os seus
conhecimentos e trabalho na rea da
cermica. Esta tentativa no ter sido bem-
sucedida uma vez que, em 1871, o terreno
onde se situava a fbrica passa a ser
propriedade de Joo do Rio Jnior,
Antnio Rodrigues de S Lima, Toms Nunes
da Cunha, Joaquim Nunes da Cunha e ngelo
Silva Macedo.
A fbrica de Cermica da Afurada
Reservamos esta pgina a algumas consideraes cientcas sobre a temtica
que d o mote edio.
-
Direcionemos a ateno para a Fbrica das
Conservas de sardinha. Esta representou para
as mulheres da Afurada e regies envolventes
um dos principais postos laborais. Apesar da sua
localizao geogrca ser na freguesia de
Canidelo, vizinha da Afurada, optamos por lhe
dar destaque na newsletter pela relao direta
que tinha com o meio piscatrio e para as gentes
locais.
A Fbrica de Conservas Manuel Pereira
Jnior, nome original, iniciou a laborao em
1942 num edifcio projetado pelo Arq Antnio
Brito e Cunha tambm ele exportador em
Matosinhos. Nestas cronologias Portugal
exportava grandes quantidades de conservas.
Como complemento da atividade fabril foram
edicadas estruturas de apoio como o posto de
tratamento de redes de pesca e o posto de
energia eltrica e os estaleiros de Pereira
Jnior, para a reparao dos barcos da
conserva. A fbrica era abastecida pelas
embarcaes que descarregavam na Afurada e
nela chegaram a estar empregadas cerca de
300 pessoas, contudo a produtividade foi
caindo ao longo dos anos restando apenas 150
pessoas em 1957. No ano de 1988 a fbrica
termina o seu funcionamento.
Por forma a estabelecer uma ligao mais
forte com a comunidade da Afurada, e em parte
porque grande parte da mo-de-obra era
afuradense, esta empresa oferece Comisso
de Festas de S. Pedro da Afurada o mealheiro
mais alto. Desta forma, seria da sua
responsabilidade transportar o andor do
patrono S. Pedro pelo cortejo religioso, o que
no se veio a vericar porque apenas
pescadores tinham esse privilgio. Como forma
de compensao, o Presidente da Comisso
permitiu ao gerente da fbrica carregar a vara
de Juiz.
De modo a ter uma viso mais detalhada de
como era trabalhar na fbrica de conservas de
CIPA | 3
Retratos da Histria
sardinha, conversamos com a Dona Justina
Oliveira, uma antiga funcionria.
Iniciou a sua vida laboral na fbrica (14anos),
passando 2 anos mais tarde para a Fbrica da
Seca do Bacalhau, motivada pela ajuda a dar
famlia. Entrou para a indstria conserveira a
trabalhar na linha de processamento da
sardinha, conta-nos [] descarregvamos as
caixas das sardinhas, s vezes chegavam tarde
meia noite ou duas da manh. Depois era preciso
levar as sardinhas para o tino (tanque) para lhes
tirar a cabea e as tripas e passar para outro
para as lavar e estender nas grelhas j
limpinhas. Enchamos os carros com as
sardinhas e iam para o forno cozer a vapor [].
Eram tempos de muito trabalho e depois ganhava-
se pouco mas era o que havia. Trabalhvamos
muitas horas seguidas, havia dias em que
entravamos s 11h e saiamos depois das 02h,
dependia das camionetes. s vezes tocava a
sirene e a gente ia a correr para descarregar o
peixe em frente ao rio. Umas avisavam as outras,
porque nem todas ouviam o tocar, a mim era a
minha cunhada que me ligava para ir. E quando o
porto j estava a fechar e ns no
conseguamos entrar? A que era o desespero.
No tnhamos tempo para nos prepararmos, nem
refeies conseguia levar nestas alturas,
pegava-se em qualquer coisa. Mas isto no era
sempre assim, tambm tnhamos horrios xos, e
ai j levvamos umas batatas cozidas com couves,
s vezes o peixe ou a carne nem v-lo que no
havia em casa. Mas partilhava-se. O ambiente era
bom. certo que s vezes aconteciam alguns
ditos e no ditos. O pior eram os supervisores
que andavam a controlar as cabeas no ar, ou
seja quem falava e no trabalhava. Havia uma
mulher a controlar, essa que era, gritava l
de cima 'Oh meninas, olha'a conversa'. Mas ainda
cam, algumas amizades at hoje desses tempos.
Ao longo da entrevista, a Dona Justina foi
recordando com saudade algumas histrias
entre colegas mas tambm da dureza do
trabalho e das diculdades da altura. No nal
de contas restam as lembranas de muitas
colegas com as quais hoje pode partilhar
memrias nos passeios que se fazem beira rio
quando o sol convida.
Hoje em dia, grande parte da fbrica j no
existe sicamente. Depois do seu abandono
cou sujeita destruio atravs do processo
natural e tambm por parte de quem por l
passou . Sendo v i s ta como um loc al
potencialmente perigoso, as obras de
requalicao da zona ribeirinha removeram
quase na totalidade o edifcio. Resta o cais e um
edifcio em runas.
Contando com a colaborao de vrias pessoas, destinamos este espao a uma
opinio ou trabalho cientico a ttulo pessoal.
fbrica das Conservas | Justina Oliveira
Estaleiros da fbrica
-
Divulgao
CIPA | 4
Tema da prxima edio:
Pesca | O estado atual
Quando se fala de uma faixa etria mais
jovem deparamo-nos com outras
coloraes, sendo que o verde e o
azul sero provavelmente as cores
predominantes nos locais. Estas cores
que ganham vida e brilho por alturas
das festas em honra em S. Pedro, mais
concretamente no cortejo religioso.
A estas peas deve juntar-se um xaile.
No s os de tecido grosso, que
certamente seriam um prtico e bom
agasalho para as manhs frias na venda
do peixe mas tambm os utilizados em
ocasies especiais como os encontros
para o fado que sempre e realizaram na
Afurada. O CIPA dispes de vrios
conjuntos de vesturios expostos das
mais diversas formas para que o
visitante possa no s apreciar a
riqueza dos tecidos e dos padres mas
para que lhes possa tocar, sentir as
texturas e entender a riqueza visual
que lhes est inerente.
Com base no mote desta edio,
decidimos eleger como pea do ms, um
conjunto de vesturio feminino de que
dispe o CIPA. Isto porque foi da
mulher que se falou quando da anlise
da Fbrica de Conservas Manuel
Pereira Jnior.
As afuradenses so facilmente
reconhecveis atravs do seu traje,
nelas no pode faltar o avental, ainda
que no saiam para vender. Saia avental
leno e algibeira. Peas que so
transversais a outras comunidades
piscatrias, mas que alm do seu
sentido prtico no dia-a-dia se junta a
simbologia que indica o seu meio de
subsistncia. Simbologia que tambm
est presente nas cores. Por norma,
vemos a faixa etria mais velha com
cores escuras, na maioria dos casos
preto, por luto ao marido ou aos
lhos que podero ter perdido a vida
no mar.
Objeto do ms | Roupa feminina
Pedra furada > Furada > Afurada | 28/02 - 30/05
O CIPA convida todos os leitores a
visitar a exposio Pedra furada >
Furada> Afurada estrias e
histrias de uma comunidade. Alm
da riqueza pictrica presente
atravs de 24 obras de pintura, esta
exposio dispe de dois espaos
que procuram dar a conhecer
melhor a envolvente histria desta
comunidade. Entre os dois balces
poder encontrar peas da Fbrica
do Cavaco, como azulejos, pratos e
canecas ricamente decoradas e
oferecidas a ex funcionrios.
Esta exposio estar presente no
CIPA at ao prximo dia 30 de Maio.
Page 1Page 2Page 3Page 4