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  • Exu do Brasil:tropos de uma identidade afro-brasileira

    nos trpicos

    Vagner Gonalves da Silva

    Universidade de So Paulo

    RESUMO: Neste artigo pretendo discutir alguns significados do orix Exuno candombl e na umbanda, os dois modelos mais conhecidos das religi-es de origem africana no Brasil. Argumento que esta divindade permiteuma leitura da cultura brasileira pelo seu carter de mediador cultural.Exu teria na sociedade brasileira um papel fluido, de um no lugar, o queo torna um bom princpio para pensarmos alguns temas importantes daidentidade nacional, como o sincretismo e a miscigenao brasileiros.

    PALAVRAS-CHAVE: Exu, candombl, umbanda, identidade brasileira.

    Introduo

    Neste artigo pretendo discutir alguns significados do orix Exu no can-dombl e na umbanda, os dois modelos mais conhecidos nacionalmen-te das religies de origem africana no Brasil. Argumento que Exu, devi-do ao seu carter de mensageiro, uma espcie de mediador cultural,fornecendo metforas potentes para se pensarem as relaes entre os gru-pos tnico-raciais que compem a sociedade brasileira. Ou, mais exata-mente, um tropo por meio do qual podemos refletir sobre os confli-tos e as alianas existentes nessas relaes.1

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    Tendo como pano de fundo as anlises sobre as dicotomias da socie-dade brasileira, como as de Gilberto Freire (1981) e Roberto DaMatta(1985), Exu representaria, com sua mitologia associada aos reinos daspassagens, das rotas, dos cruzamentos, a possibilidade de continuidadeentre o espao pblico e o privado, ou a prpria problematizao noplano simblico destas dicotomias.

    As associaes entre o Exu fon-ioruba, de carter flico, jocoso e irre-verente, e o diabo da tradio catlica medieval permitem discutir opapel do desejo e do castramento, da ordem e da desordem, da regra edo desvio, do cerceamento e da liberdade na constituio da tica e damoral dos praticantes dos cultos afro-brasileiros, em particular, e da po-pulao, em geral. A sociedade brasileira, se podemos interpret-la comocarnavalizadora, nos termos de Bakhtin (1999), encontra em Exu umcone potencialmente expressivo destes valores e crenas. Entretanto,discuto que o carter agregador e disruptivo de Exu admite v-lo tam-bm como uma possibilidade de romper ou questionar estas dicotomias.Nesse sentido, meus argumentos se beneficiam de ideias relativas circularidade hermenutica ou cultural, desenvolvidas por autores comoMikhail Bakhtin (1999) e Carlo Ginzburg (1987), entre outros.

    Outro aspecto importante na abordagem proposta refere-se ao fluxodas continuidades e das rupturas entre imaginrio africano e afro-brasi-leiro na construo da imagem de Exu. A bibliografia clssica usualmenteanalisa o processo de demonizao de Exu. Considerarei este aspecto,mas tambm demonstrarei a importncia do processo de exuzio dodemnio cristo e sua feminizao por meio da figura da Pombagira,uma verso feminina de Exu cultuada sobretudo na umbanda. Exu ePombagira, o casal de sexualidade icnica, seres das encruzilhadas, coin-cidentemente so os que aproximam e distanciam os diferentes sistemasreligiosos brasileiros: catolicismo, candombl, umbanda, quimbanda e,mais recentemente, neopentecostalismo.2

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    Exu nas encruzilhadas do Atlntico

    Na frica ocidental, entre os fon-ioruba, Lgba ou Exu um deus men-sageiro. Senhor da fertilidade e do dinamismo, participou da criao domundo e dos homens. o guardio da ordem e, por ser um trickster,tambm da desordem. temido, respeitado e saudado sempre em pri-meiro lugar. cultuado num pedao de pedra (laterita), num montculode terra em forma de cabea humana de onde se projeta um grande falo(og), ou numa esttua antropomrfica enfeitada por bzios. Do topode sua cabea pende para trs uma trana em forma de pnis, faca ou deoutra face. Em sua mo leva o cajado, tambm em forma de falo, queele usa para se movimentar. Recebe como sacrifcio o sangue de animais(bodes, galos pretos, ces e porcos) e libaes de bebidas alcolicas eazeite de dend. Seu culto se realiza preferencialmente nas encruzilha-das e nos pontos limtrofes das casas (lugar de passagem) e nos merca-dos (lugar de trocas)

    Com a chegada do cristianismo frica, a partir do sculo XVI, Exufoi interpretado negativamente como um Prapo negro e seu cultoconsiderado demonaco. Os animais que lhe eram sacrificados foramassociados ao diabo, pintado nas gravuras europeias como um serantropomrfico (com chifres, rabo e patas de porco ou bode) ou umco negro. Exu comia em sacrifcio na frica os corpos dos animaisque davam corpo ao diabo imaginado na Europa. Um dos resultadosdesse crculo vicioso hermenutico foi o uso do termo Exu comotraduo da palavra Demnio, na verso ioruba da Bblia, e Iblis eShaitan, na verso ioruba do Alcoro (Dopamu, 1990, p. 20).

    No sculo XIX, Exu continuou sendo condenado, desta vez pela cr-tica da modernidade que se colocava contra o pensamento mgico pre-sente, sobretudo nas religies de possesso, de consagrao de deuses-objetos (animistas) e de exaltao do corpo, da msica e da dana

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    para expressar o sagrado. Religies que no passaram pelo processo dasecularizao, burocratizao e desmagizao foram vistas como espe-cialmente antagnicas ao desenvolvimento da modernidade, mesmo quecincia e religio tenham se constitudo como esferas autnomas.

    Exu sintetiza, assim, a encruzilhada tica e moral da Europa oci-dental que, na Idade Mdia, via seus prprios demnios espalhados pe-los quatro cantos do mundo e, no sculo XIX, teve de transitar entre aracionalidade e o pensamento mgico-religioso, o expansionismo e ocomunitarismo, a modernidade e a tradio, absolutizando definiesrelativas do bem e do mal, da cincia e da f.

    Exu assume diferentes faces no Brasil

    Concepes

    No Brasil, devido escravido e converso obrigatria ao catolicismo,o Exu assumiu vrias faces, ora prevalecendo seu aspecto de deus men-sageiro e ordeiro, ora seu aspecto de trickster e promotor do caos social.

    No primeiro caso, ele foi associado aos agentes mediadores do cato-licismo, como Jesus, Virgem Maria, santos, anjos e mrtires. Em Cubaele foi associado ao Menino Jesus.3 No Brasil, a Santo Antnio (o mr-tir que anda apoiado em um cajado), So Gabriel (anjo anunciador),So Benedito (santo negro que deve sair em primeiro lugar nas procis-ses para que no chova) e So Pedro (o porteiro que carrega as chavesdo cu). Estes santos catlicos e Exu tm em comum a tarefa de abrir oscaminhos que levam os homens a Deus ou aos orixs. No segundo caso,Exu foi associado ao diabo e aos espritos dos mortos, chamados de en-costos ou eguns, que perturbam as pessoas, fechando-lhes o cami-

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    nho, e por isso devem ser despachados (mandados embora) em rituais delimpeza espiritual.

    Quando incorporam nas sesses de umbanda, a religio afro-brasi-leira com maior nmero de adeptos no Brasil,4 esses Exus se apresentamcom nomes de demnios extrados da Bblia, como Exu Belzebu e ExuLcifer, ou nomes relativos aos domnios que regem, como Exu 7 En-cruzilhadas, Exu Porteira, Exu Cemitrio, Exu Catacumba, Exu Cavei-ra, Exu da Lama, Exu do Lodo, Exu da Sombra. Estes Exus, e sua versofeminina, chamada de Pombagira, reproduzem no Brasil contempor-neo as representaes do diabo, presentes nas gravuras europeias da Ida-de Mdia e nas histrias de mistrio e terror divulgadas no incio dosculo XX. E se no candombl existe menos de uma dezena de avataresde Exu (Eu Tiriri, Exu Lon, Exu Marab etc.), na umbanda h legiescom dezenas deles.

    Exu Belzebu Exu Lcifer

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    Altar de Exu e Pombagira Santurio da Umbanda, So Paulo.Foto: Vagner Gonalves da Silva

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    Segundo a teoria do disfarce e do sincretismo, os deuses africanostiveram de ser escondidos por debaixo das roupas dos santos cristospara evitar a represso e, com o tempo, acabaram sendo confundidosuns com os outros. Argumento, entretanto, que estes Exus-Demniosmantm uma continuidade com a concepo africana de Exu e diferen-as em relao concepo crist do demnio. Considerando o papelativo tambm da agncia africana nesse processo de contato cultural,parece-me que o Exu-Demnio muito mais africano do que sua faceaparenta. Em primeiro lugar, porque esses Exus-Demnios continuamsendo seres da mediao, tal como o Exu africano. Alguns de seus no-mes foram extrados da Bblia, mas a grande maioria faz referncia aospontos de passagem (encruzilhadas, porteiras), de intercesso entre omundo dos vivos e dos mortos (cemitrios, catacumbas, caveiras), aosestados intermedirios da matria (lodo, lama, sombra), ou duplicidadedas coisas (sua capa preta de um lado e vermelha de outro, como ochapu bicolor que Exu usa). Ele tambm um mediador entre distin-tos universos mticos e sociais, um ser duplo que traz em si as partesmediadas.

    Na primeira imagem abaixo, Xoroque, Exu-Ogum, ele se mostra me-tade So Jorge (branco) e metade demnio (negro ou mestio). comose So Jorge (o bem) no pudesse ser o que se no fosse o drago (omal) que ele vence, assim como o senhor no constri o mundo coloni-al seno pela fora da mo de obra escrava. A segunda imagem, ExuDuas Cabeas, mostra que a identidade de gnero constrastiva: homense mulheres no se definem seno na relao de uns com os outros. E,por fim, a terceira imagem, Xoroque-Caboclo-Exu, mostra a miscigena-o como formadora da sociedade brasileira: um indgena, negro oumestio usa cocar, e um branco ou negro tem a cor de pele vermelha,cor tanto de Exu como do diabo.

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    Vale lembrar, ainda, que a concepo do Exu Duas Cabeas da um-banda no estranha cosmologia africana. Na verdade, uma das carac-tersticas mticas de Exu ter dupla face, com uma ele olha para frente ecom outra, para trs.

    Em segundo lugar, Exus-Demnios podem fazer tanto o bem (re-solver problemas de doena, justia, falta de emprego, amoroso etc.)quanto o mal (promover separaes de casal, destruir pessoas etc.). Elesfazem o que lhe pedem. Nesse sentido, o demnio cristo por meio doExu africano deixa de representar o mal absoluto e pode voltar a ser oanjo antes de sua queda do paraso. Ou seja, Exu no o diabo, e odiabo no Exu, mas ambos podem estabelecer relaes que ampliemseus significados originais, ao mesmo tempo em que adquirem novossignificados. Se, por um lado, houve uma demonizao do Exu africa-no, por outro, houve uma exuzao do diabo bblico introduzindo orelativismo africano no maniquesmo cristo do bem e do mal.

    Lideranas tradicionalistas do candombl, algumas comprometidascom o processo de reafricanizao e/ou descatolizao das religies

    Xoroque, Exu-Ogum: Exu Duas Cabeas: Xoroque-Caboclo-Exu:dualidade religiosa dualidade de gnero diversidade tnica

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    (Silva, 1995), tm criticado essa viso catlica de Exu e promovidouma recuperao ou neo-orixalizao do panteo afro-brasileiro deorigem jeje-nag. Contribui para esse processo a divulgao crescenteno Brasil de textos e imagens sobre o culto dos orixs e voduns na fricaocidental e o intercmbio entre sacerdotes brasileiros, cubanos e africa-nos. Como resultado disso, as raras iniciaes para Exu tm se tornadomais frequentes. E havendo um maior nmero de filhos iniciados, emfestas pblicas do candombl, possvel v-lo paramentado com cha-pu em forma cnica, saia em tiras nas cores vermelha e preta, bordadas

    Dualidade de Exu na fricaFonte: http://cti.itc.virginia.edu/~bcr/africanjpegs/Yoruba/Yoruba_Eshu_staff2.jpg

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    com bzios, e o basto flico na mo. Ou ainda vestido com roupasrsticas de palha e at mesmo com roupas brancas mais luxuosas. Mui-tas destas indumentrias e insgnias reproduzem o figurino de fotos deExus africanos que tm se tornado imagens cannicas do culto e que,indiretamente, tm promovido uma articulao de prticas religiosaslocais em mbito nacional ou internacional nas duas margens do Atln-tico Negro.

    Altares

    No Brasil, Exu cultuado na entrada dos terreiros (templos), num as-sentamento5 coletivo no cho e ao ar livre, sobre o qual so feitas asoferendas, pois nada pode ser iniciado sem que ele seja saudado em pri-meiro lugar e receba sua parte. Sua funo proteger a casa contra ener-gias negativas e favorecer a dinmica dos ritos que ali ocorrem. Essesaltares podem ter diferentes formas e expressar distintos conceitos deacordo com o rito praticado.

    Em alguns terreiros, esse altar um montculo de terra preparadaritualmente, que vai crescendo de tamanho medida que recebeoferendas de sangue de animais, azeite de dend, alimentos, moedas etc.

    Em outros terreiros, este altar pode exibir representaes antro-pomrficas de Exu, em cujo falo as oferendas de azeite de dend soderramadas.

    Alm deste altar coletivo, Exu cultuado em assentamentos indivi-duais, que so consagrados por ocasio da iniciao dos adeptos e guar-dados num cmodo comum, o quarto de Exu. Cada iniciado possuiassim um Exu particular que o protege e o ajuda a manter o dinamismoe a comunicao com o seu orix.

    As imagens mais antigas de assentamentos de Exu datam dos anos1930, quando foram publicadas as primeiras etnografias mais

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    abrangentes sobre o tema. Descries anteriores narram que esses assen-tamentos eram feitos de um bolo de argila amassada com sangue de aves,azeite de dend e infuso de plantas, formando uma cabea, com osolhos e a boca feitos por bzios. Aos poucos esses assentamentos foramadquirindo a forma de um corpo humano, como se v na sequncia defotos abaixo, da esquerda para a direita, retratando esttuas de Exupublicadas em intervalos de aproximadamente uma dcada. Na terceirafoto, vemos que as protuberncias da cabea do Exu variam de uma for-ma flica para o formato de dois chifres (como se o falo original houves-se se duplicado). Esse falo tambm observado nas cabeas feitas deareia e cimento dos Exus (Elegus) cubanos que exibem uma pequenahaste pontiaguda (geralmente feita de prego) saindo da testa.

    Assentamento de Exu (ferro e barro) na entrada do Terreirode Me Wanda e Og Gilberto, So Paulo.

    Foto: Vagner Gonalves da Silva, 2008

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    Exu do terreiro de Pai Rosendo,

    Recife (Fernandes, 1937,

    p. 97)

    Exu-Bara.

    Foto da Prefeitura

    de Recife (Bastide, 1945,

    p. 161)

    Bombojiras Exus.

    Foto: Gregrio Alencar

    (Valente, 1955, fig. 29)

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    A imagem a seguir provavelmente a primeira de uma esttua deExu no Brasil. O falo na cabea e nas mos mostra sua correspondnciacom as esttuas de Exu na frica.

    Com o incio da produo de esttuas feitas em ferro forjado, a ima-gem de Exu com chifres, rabo e segurando um cetro tornou-se bastantepopular.

    Artur Ramos (1940, fig. 40)

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    Nesta imagem publicada em 1937, a lana de Exu tem sete pontas(significando os sete caminhos) e um revlver pendurado. A presenadesta arma de fogo pode indicar a funo de guardio da ordem e dosespaos (uma espcie de policial) e a de promotor da desordem, possi-velmente relacionado ao mundo da rua, da criminalidade, da subversoe do perigo.

    Com o passar do tempo, o corpo antropomrfico de Exu assumiu aforma cilndrica, numa provvel referncia ao falo, e o cetro, a forma de

    Exu Sete Caminhos.Fonte: Carneiro, 1937, fig. 4

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    um garfo de trs pontas (tridente), para o Exu masculino, e de duas pon-tas, para a sua verso feminina, a Pombagira. Essas esttuas proliferaramnos terreiros, tornando-se, atualmente, as mais conhecidas dentro e forada religio.

    Exu masculino e feminino.Museu de Arqueologia e Antropologia da USP.

    Foto: Rita Amaral, 2001

    Para muitos este cetro influncia do tridente diablico. Entretanto,representaes de Exu portando chifres tambm so encontradas nafrica ocidental, ao menos desde a primeira metade do sculoXIX (Maupoil, 1943), estando associadas aos smbolos de poder efecundidade.

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    Alm de ser cultuado no terreiro, Exu louvado em espaos pbli-cos, como encruzilhadas, matas, cemitrios, pedras, em estradas de ter-ra, na areia das praias, ao p de rvores, em mercados pblicos, na en-trada de lojas etc. So lugares limtrofes ou de passagem.

    Um dos casos mais conhecidos de culto a Exu em espao pblico odo Mercado Municipal de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. O mer-cado foi construdo por escravos no sculo XIX e em seu centro, conta atradio oral, um assentamento de Bar (Exu) teria sido enterrado noencontro dos quatro corredores. Atualmente, os adeptos das religiesafro-brasileiras quando vo ao mercado para comprar produtos religio-sos deixam uma moeda sobre o local deste assentamento. Tambm osiniciados devem fazer um passeio ao mercado aps a cerimnia de inici-ao e comprar alguns dos alimentos que so vendidos nas lojas paragarantir prosperidade e fartura. Diz-se que Exu come tudo o que a bocacome e, por isso, quem o louva nunca deixar de ter o que comer.

    Segundo o mito, Exu movimenta-se no tempo e no espao (pelosquatro pontos cardeais) por meio do basto que carrega. A encruzilha-da, por ser o encontro de todos os caminhos, um dos espaos prefe-renciais para a realizao de suas oferendas.6 Na umbanda, costuma-seafirmar que as encruzilhadas em forma de X (4 pontas) so destinadasa Exu, e aquelas em forma de T (trs pontas), Pombagira.

    A Pombagira um Exu feminino que desafia a ordem patriarcal dasociedade brasileira por meio da no aceitao da subordinao da mu-lher aos papis domsticos tradicionais de esposa e me. Como mulherda rua e no da casa, a Pombagira, no esteretipo da prostituta, ques-tiona o lar, a famlia, a maternidade e o casamento como as nicas pos-sibilidades de ao da mulher ou de expresso do feminino. Ela se utili-za da diferena anatmica (pnis e vagina) associada ao sexo biolgico(macho e fmea) e aos papis de gnero (masculino e feminino) para

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    questionar, atravs da jocosidade e da licenciosidade (como se fosse umtrickster de saia), o poder social que instaura as relaes de dominao.

    Caneca de Pombagira.Terreiro de Me Val, So Paulo.

    Foto: Vagner Gonalves da Silva, 2007

    Lgba, guardio das casas emAbomey (Benim).

    Fonte: Pierre Verger, 1981,Fotografia 37

    A caneca acima, esquerda, usada por uma Pombagira um exem-plo desse questionamento ou inverso. A borda desta caneca, como umavagina, revela um pnis que no a penetra, mas, ao contrrio, vem dedentro para fora. Esse vaso com o pnis no lado de dentro, utilizadopor um Exu feminino no Brasil, parece ser uma verso invertida domonte com o falo do lado de fora do Exu masculino na frica, comose v na foto acima, direita.

    A nfase mtica na simbologia do falo e da vagina parece ter sidoreelaborada nas formas do tridente e dos lugares de oferenda, cujas li-nhas aludem ao corpo humano em sua diferenciao por gnero. Nafigura abaixo, apresento as variaes dos garfos (de trs e duas pontas),na primeira linha, e das encruzilhadas (em forma de x e em t), nasegunda linha. Notem que elas esto de acordo com a variao dos cor-pos masculinos e femininos, na terceira linha.

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    Pnis e chifres postos sobre a cabea podem expressar, portanto, noapenas a subjugao catlica de Exu ao Diabo, mas o encontro destasmitologias que utilizam a linguagem do baixo corporal para produzirmitos que vinculam poder, corpo, sexualidade e transformao.

    Os garfos, por serem snteses das ideias de encontro, transio, pas-sagem e sexualidade, tornaram-se potentes smbolos transnacionais doorix e esto presentes tambm nos pontos riscados desta divindade.Os pontos riscados so emblemas elaborados pelos Exus para seidentificarem quando incorporam em seus filhos, sobretudo nas sessesde umbanda. Normalmente, os Exus riscam o ponto e acendem velassobre eles para construir um centro de fora para a realizao de opera-es mgicas.

    A forma do tridente fornece o padro tambm para a fabricao dasferramentas de Exu,7 indicando inclusive o orix a quem ele serve demensageiro.

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    As ferramentas acima representam Exu (n. 1) e seu irmo, OgumXoroqu (n. 2), divindade da guerra e do ferro forjado. Nesta ferramen-ta, v-se que os tridentes pertencentes a Exu sobrepem-se espada deOgum e aos vrios instrumentos usados no trabalho agrcola (p, arado,enxada) e na forja do ferro (martelo, alicate). Ambos, Exu e Ogum, re-presentam o fogo transformador.

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    A ferramenta de Oxumar (n. 3), divindade de origem jeje, mostra arelao com a cobra e o arco-ris. Duas hastes sinuosas representam ascobras e sete hastes horizontais curvadas representam as sete cores doarco-ris. Na ferramenta do Exu (n. 4) que serve como mensageiro deOxumar, cinco tridentes foram acrescidos s representaes das cobras,sendo que dois deles foram unidos por uma haste horizontal curvadarepresentando o arco-ris. A simetria horizontal e vertical, sugerida pe-las duas ferramentas, indica, alm da ligao entre esses orixs, as cone-xes entre direita-esquerda, leste-oeste, alto-baixo, norte-sul.

    Exu faz arte, dana no carnaval e se torna cone nacional

    Entre os smbolos atuais mais lembrados da cultura brasileira, dentro efora do pas, esto: samba, carnaval, capoeira, candombl, feijoada, cai-pirinha, mulata e futebol. Porm, at as primeiras dcadas do sculo XX,o samba era considerado msica lasciva, a capoeira, uma expresso daviolncia fsica dos negros malandros, e o candombl e a umbandaeram tidos como feitiaria, curandeirismo e magia negra. Muitos deseus praticantes foram presos. A feijoada, por ser feita com as carnesrejeitadas pelos senhores de escravos, era vista como resto. A passagemdestes smbolos de origem negro-africana para smbolos nacionais glo-rificados pelo Estado e pelo povo em geral foi um processo de conflito enegociao ocorrido em vrios contextos histricos, econmicos e pol-ticos. No nvel das classes populares, esse compartilhamento de valoresentre os diferentes grupos tnicos j existia, mas somente a partir dosanos 1930, sob o governo de Getlio Vargas, poca em que o Rio deJaneiro era a capital federal, que muitos destes smbolos urbanos foramescolhidos e transformados para representar o Brasil. Nesse perodo, o

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    Estado transformou a capoeira em ginstica nacional, apoiou os desfilescarnavalescos, e o samba foi eleito como a msica de integrao nacional.No exterior, Carmem Miranda reforou esta imagem cantando sambavestida de baiana, um traje estilizado das mes de santo do candombl.

    Walt Disney, quando esteve no Rio de Janeiro na dcada de 1940,foi seduzido pela imagem de um pas festivo, alegre, amante das coresvivas, das comidas apimentadas, extico e sensual. Produziu, para re-presentar o Brasil, o Jos (ou Z) Carioca, um papagaio verde e ama-relo, falante, alegre, porm preguioso, ou seja, um expert na arte deencontrar um jeitinho para sobreviver sem trabalhar, ou o famosomalandro carioca.

    Na umbanda, o esprito desse malandro, bomio amante da noite eda rua, que geralmente morre assassinado por faca ou tiro numa brigapor mulher, dvida de jogo ou outro vcio, cultuado como Z Pilintra.Esta entidade um tipo de Exu urbano, das zonas porturias e das reasde meretrcio, assim como as Pombagiras. Veste-se, entretanto, com pa-let, cala e sapatos brancos e gravata e leno vermelhos. Sua vestimentaimpecvel uma forma de ludibriar sua condio de pobre e marginalsocial e chamar a ateno para si como sujeito que no tem propria-mente um lugar na estrutura social excludente da sociedade brasileira.Z Carioca assim uma personificao inocente do malandro carioca,portanto, do Z Pilintra, como se v em suas imagens.

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    Gravura famosa de Z Pilintra,em frente aos Arcos da Lapa,

    zona bomia do Rio de Janeiro

    Z Carioca,desenho de Walt Disney

    Grafite de Z Pilintra sob o Minhoco, rea degradada de So Paulo.Foto: Vagner Gonalves da Silva, 2011

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    O Exu, devido ao seu carter ambguo, tem servido como leimotivpara representar os dilemas da sociedade brasileira, entre a incorporaodos valores culturais da herana africana e a excluso social dos negros.O escritor Mario de Andrade, ao escrever o clssico livro Macunama(1928), conta a histria do heri sem nenhum carter que nasce pre-to retinto, filho de uma ndia, e depois se torna branco. Macunama o trickster afro-indgena, um Exu caboclo.

    Jorge Amado, o mais conhecido escritor brasileiro, escolheu o mun-do do candombl como inspirao para sua obra, e Exu foi designadopor ele para ser o guardio dela. Um assentamento deste orix foi feitona entrada da Fundao Casa de Jorge Amado, no Largo do Pelourinho,em Salvador, local onde foi posta uma escultura de Exu feita pelo artistaplstico Tati Moreno.

    Jorge Amado e sua mulher. Ao fundo desenhos de Exu, de Caryb,smbolo da Fundao que zela pela obra do escritor.

    Fonte: http://www.jorgeamado.org.br/?page_id=53&lang=pt

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    Oferendas a Exu por ocasio das comemoraes de 100 anos donascimento do escritor Jorge Amado.

    Largo do Pelourinho, Salvador. Foto: Vagner Gonalves da Silva, 2011

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    E muitos artistas acabaram por retratar Exu em suas esculturas, foto-grafias, gravuras. Muitas destas obras esto hoje expostas em espaospblicos, galerias de arte ou museus.

    E por ser este anti-heri um contestador da ordem, senhor das ruas,tornou-se tambm o padroeiro do carnaval. As oferendas a ele devemser feitas antes de os grupos carnavalescos desfilarem. E as escolas desamba o colocam sempre na comisso de frente, pois assim ele vai abrin-do o caminho e protegendo o desfile.

    Exu Comisso de Frente da Escola de Samba Mocidade Alegre, 2003.Foto: Vagner Gonalves da Silva

    Enfim, Exu a chave deste dilogo de longa durao entre as cosmo-logias africanas, americanas e europeias que, desde o sculo XVI, fluemumas nas outras. A demonizao do Exu e a orixalizao do demnio,ou suas mediaes, expressariam, assim, as leituras recprocas de univer-sos culturais em contato.

    A mestiagem no apenas gera seres hbridos biologicamente, mastambm os faz hbridos culturalmente. Desejo, repulsa, fascnio pelo

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    extico e medo do feitio so alguns dos sentimentos que estes corposhbridos passaram a despertar na sua condio simultnea de margi-nais sociais (como o Z Pilintra e a Pombagira) e de reconhecidos agen-tes da transformao do mundo por meio de um suposto e privilegiadomanuseio de ferramentas mgicas. Imagens de seres meio-a-meiofornecem, portanto, uma boa metfora de uma sociedade que se v comoresultante do trnsito transatlntico de corpos e culturas que modela-ram um mundo unido e dividido, nico e mltiplo. , pois, na capaci-dade de interagir ou dividir, de provocar o consenso ou o dissenso, dejuntar os opostos ou separar os pares, de obedecer ou subverter as regrasque Exu, em suas inmeras faces, exprime o seu poder no Brasil.

    Notas

    1 Este artigo uma verso resumida de alguns argumentos que desenvolvo mais am-plamente em livro que estou preparando sobre o culto de Exu no Brasil. Uma ver-so levemente modificada dele, Brazils Eshu: At the Crossroads of the BlackAtlantic, sair como captulo de uma coletnea organizada por George Chemeche,intitulada Eshu: The Divine Trickster.

    2 Para atingir o objetivo proposto, pretendo utilizar observaes de campo (sobreritos, mitos, oferendas, msicas, danas etc.) realizadas em cidades brasileiras, comoSo Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Salvador e So Lus, ao longo de minhaspesquisas sobre as religies afro-brasileiras, mas especialmente no mbito da pes-quisa Do Afro ao Brasileiro, Religio e Cultura Nacional, patrocinada pela Fapespe atualmente pelo CNPq.

    3 Jesus o mensageiro por excelncia de Deus, enviado ao mundo para salvar oshomens. Ningum chega ao Pai seno por mim, disse ele, segundo os Evange-lhos (Joo, 14, p. 6).

    4 No Brasil, a umbanda e o candombl so os dois modelos mais conhecidos de reli-gies afro-brasileiras. Entre as inmeras diferenas entre elas destaco o panteo.No candombl h um nmero menor de entidades cultuadas, restrito s entidades

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    de origem africana, como orixs (ioruba) voduns (fon-jeje) e inquices (bantos). Naumbanda, alm destas entidades, cultuam-se divindades nacionais, como cabo-clos espritos indgenas e pretos-velhos espritos de ex-escravos (Silva, 1994).

    5 Assentamento uma reunio de objetos (pedras, potes, ferramentas etc.) escolhi-dos em funo de suas cores, formas, texturas etc. que, aps serem sacralizados pormeio de banhos de ervas e sacrifcios de animais, expressam o que o orix em umsistema material e visvel, intimamente conectado com as categorias abstratas dosentido humano.

    6 Sobre o simbolismo da cruz para os povos de tradio bantu, ver Robert FarrisThompson, 1981.

    7 Ferramenta o nome pelo qual se conhecem os ferros de um determinado orixque sintetizam seus atributos, como o arco e a flecha para Oxossi, o tridente paraExu etc. Geralmente so vendidos no mercado de produtos religiosos e sacralizadosno interior dos terreiros.

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    KEY-WORDS: Exu, candombl, umbanda, Brazilian identity.

    Recebido em junho de 2012. Aceito em setembro de 2012.

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